Translate

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

S. DÂMASO I, PAPA

ArqSP

Dâmaso era espanhol, mas não se descarta que ele possa ter nascido em Roma, no ano 305. Culto e instruído, ocupou o trono da Igreja de 366 a 384. Foi considerado um dos mais firmes e valentes sucessores de Pedro. Sem temer as ameaças e protecionismos imperiais, demitiu de uma só vez todos os bispos que mantinham vínculo com a heresia ariana, trazendo estabilidade à Igreja através da unidade, da obediência e respeito ao papa de Roma.

Sua eleição foi tumultuada por causa da oposição. Houve até luta armada entre as facções, vitimando cento e trinta e sete pessoas. Mas, ao assumir, o então papa Dâmaso I trouxe de volta a tradição da doutrina à Igreja, havendo um florescimento de ritos, orações e pregações durante seu mandato. Devem-se a ele, por exemplo, os estudos para a revisão dos textos da Bíblia e a nova versão em latim feita pelo depois são Jerônimo, seu secretário.

Em seu governo, a Igreja conseguiu uma nova postura e respeito na sua participação na vida pública civil. Os bispos podiam escrever, catequizar, advertir e condenar. Esse papa sabia como ninguém fazer-se entender com os impérios e reinados e conseguia paz para que a Igreja se autogerisse. Foi uma figura digna do seu tempo, pois conviveu com grandes destaques do cristianismo, como os santos: Ambrósio, Agostinho e Jerônimo, só para citar alguns.

Além de administrador, era, também, um poeta inspirado pelas orações e cânticos antigos e um excelente arqueólogo. Graças a ele as catacumbas foram recuperadas, com o próprio papa percorrendo-as para identificar os túmulos dos mártires e dar-lhes as devidas honras. Nesse mesmo local exaltou os mártires em seus famosos "Títulos", ou seja, epigramas talhados nas pedras pelo calígrafo Dionísio Filocalo, com os lindos poemas que escrevia especialmente para cada um.

Dâmaso I escolheu, pessoalmente, o túmulo no qual gostaria que fossem depositados seus restos mortais. Na cripta dos papas, localizada nas Catacumbas de São Calisto, ao término dos seus escritos em honra deles, deixou registrado: "Aqui, eu, Dâmaso, gostaria que fossem depositados meus espólios. Mas temo perturbar as piedosas cinzas dos mártires".

Ao morrer, em 384, com quase oitenta anos, foi sepultado num solitário e humilde túmulo na via Andreatina, que ele, discreto, preparara para si. Santo papa Dâmaso I é venerado no dia 11 de dezembro.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

As profecias de Isaías

Guadium Press
Ao longo do período litúrgico do Advento, temos escutado várias leituras do livro do Profeta Isaías. Qual é o aspecto mais importante de suas profecias?

Redação (09/12/2020 11:06Gaudium Press) Grandiosa é a cena da visão que teve Isaías, no ano 740 antes de Cristo. Deus está sentado num elevado trono, no Templo; junto d’Ele, os Serafins cantam: “Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama sua glória!” A este brado, as portas estremecem em seus gonzos e o recinto enche-se de fumaça.

Ele grita: “Ai de mim! Estou perdido porque sou um homem de lábios impuros, e, entretanto, meus olhos viram o Senhor dos exércitos!” Um dos serafins, porém, aplica-lhe na boca uma brasa viva, dizendo: “Tendo esta brasa tocado teus lábios, teu pecado foi tirado, e tua falta, apagada”. Nesse instante, ouve ele a voz do Senhor que pergunta:

— Quem enviarei Eu? E quem irá por nós?

— Eis-me aqui, enviai-me — prontificou-se ele. Deus o enviou, e ele transmitiu com fidelidade a palavra do Altíssimo para o povo eleito e todas as nações da terra.

Oito séculos antes, ele anunciou com tantos pormenores a vinda do Messias, que um comentarista chega a afirmar: “Isaías escreveu antecipadamente o Evangelho”.

“Apóstolo” e “Evangelista”

Quase nada relata a Escritura Sagrada sobre a vida de Isaías. Sabe-se apenas que era de nobre família, casou-se e teve, pelo menos, dois filhos aos quais deu nomes carregados de mistério e simbolismo: Sear-Iasub (Um-resto-voltará) e Maher-Shalat-Hash-Baz (Pronto-saque-próxima-pilhagem).

Entretanto, suas palavras e seu nome ressoam em incontáveis passagens do Novo Testamento. Tudo quanto dizem os outros profetas sobre o Reino universal de Deus, a ser instaurado pelo Messias, está de alguma forma contido no livro de Isaías, Profeta messiânico por excelência.

De todos os profetas — são 17 os que deixaram obra escrita — nenhum fez o relato completo da vinda do Redentor. Cada um deu sua contribuição parcial para a formação do grandioso conjunto. Seus oráculos se fizeram ouvir sobretudo sob os reis de Judá e na época do Cativeiro de Babilônia, mas a obra só ficou concluída com Malaquias, o derradeiro dos profetas.

E quando no deserto o Precursor indicou aos judeus “o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo” (Jo 1,29), ficou dita a última palavra: estava presente o Simbolizado, Jesus de Nazaré; as expressões simbólicas não mais tinham razão de ser.

Entretanto, quem mais contribuiu para a construção desse magnífico edifício profético foi Isaías, a ponto de poder ele ser considerado o profeta messiânico por excelência.

Tudo quanto havia de bom na humanidade clamava a Deus, implorando a vinda do Redentor. Isaías exprime, em forma de oração, esse ardente desejo: “Derramai das alturas, ó Céus, o vosso orvalho, e as nuvens façam chover o Justo; abra-se a terra e brote a felicidade e ao mesmo tempo faça germinar a justiça” (45, 8).

E é ele ainda quem declara que Jesus será da estirpe de Davi, cujo pai era Jessé: “Um ramo novo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor (…) o rebento de Jessé, posto como estandarte para os povos, será procurado pelas nações e gloriosa será sua morada” (11, 1-10).

Narração antecipada do Evangelho

Quando o Arcanjo Gabriel saudou a Virgem Maria na humilde casa de Nazaré, cumpriu-se uma das mais importantes profecias de Isaías: “Uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco” (7, 14).

Em termos poéticos, anuncia ele, com oito séculos de antecedência, a entrada do Messias neste mundo: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz” (9, 1).

Previsão cujo cumprimento São João comprova em seu Evangelho, empregando os mesmos vocábulos: “A luz resplandece nas trevas (…) a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem” (Jo 1, 5 e 9).

São Lucas relata como o próprio Jesus confirma que em sua Pessoa Divina se cumpriam os oráculos desse grande profeta:

Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo seu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor’. E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir” (Lc 4, 16-21 – Is 61, 1-2).

Não menos categóricas são suas previsões a respeito da Paixão e Morte do Salvador: “Ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades (…) como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador, Ele não abriu a boca. Por um iníquo julgamento foi arrebatado. (…) ao morrer, achava-se entre malfeitores” (53, 5-9).

Ao ler tudo isso, não se pode deixar de concordar com a afirmação de um comentarista: “Isaías escreveu antecipadamente o Evangelho”.

Aspecto importante das profecias

Entretanto, as profecias não se limitam à vinda do Filho de Deus, sua Paixão, Morte e Ressurreição. Elas abrangem também a fundação e a expansão de sua Igreja, construída sobre a rocha inabalável. Deve ela, entretanto, resplandecer muito mais, na terra inteira. São bem ilustrativos, a este respeito, os dois trechos abaixo, de Isaías:

No fim dos tempos, acontecerá que a montanha da casa do Senhor estará colocada no cume das montanhas. Todos as nações acorrerão para ela, e virão numerosos povos, dizendo: Vinde, subamos à montanha do Senhor, à casa do Deus de Jacó; ele nos ensinará seus caminhos, e nós trilharemos as suas veredas” (2, 1-3).

O profeta se vale da realidade conhecida (o monte do Templo, em Jerusalém), como símbolo para exprimir aquilo que lhe é revelado: na era messiânica, a montanha da casa do Senhor (a Igreja Católica) estará estabelecida “no cume das montanhas”, isto é, colocada em posição de ser vista e reconhecida por todas as nações da terra. Pelo esplendor de sua luz, ela atrairá a si todos os povos e lhes ensinará o caminho da salvação.

Mais adiante, novo oráculo mostra o imenso amor de Deus pela sua Igreja, a qual Ele recobrirá dos mais preciosos ornamentos da santidade, simbolizados da seguinte forma:

Eis que eu alinharei tuas pedras e te edificarei em pedras de jaspe, sobre alicerces de safira. Farei tuas portas de cristal, e de pedras preciosas todo o teu recinto. Todos os teus filhos serão instruídos pelo Senhor” (54, 11-13).

De que modo, e quando, se cumprirão por inteiro essas profecias? Não se referem elas ao triunfo do Imaculado Coração anunciado por Nossa Senhora em Fátima?

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 36 Dezembro 2004. Ir. Mariana Morazzani Arráiz,EP.

https://gaudiumpress.org/

6 orações a São José muito especiais para este Ano de São José

Zvonimir Atletic | Shutterstock
São José e a Sagrada Família
por Francisco Vêneto

Para rezar neste ano dedicado pelo Papa Francisco ao santo esposo de Nossa Senhora, pai adotivo de Jesus e padroeiro da Igreja.

6 orações a São José muito especiais para este Ano de São José: aqui vão algumas sugestões de preces específicas para momentos e intenções que você possa ter ao longo deste ano dedicado pelo Papa Francisco ao grande e santo esposo de Nossa Senhora, pai adotivo de Jesus e padroeiro da Igreja Católica (8 de dezembro de 2020 a 8 de dezembro de 2021).

6 orações a São José

1 – A antiga oração a São José que é “conhecida por nunca ter falhado”

Esta oração foi encontrada nos primórdios do cristianismo. Em 1505, foi enviada pelo Papa ao imperador Carlos, quando ele estava indo para a batalha de Lepanto. Segundo a tradição, quem ler esta oração, ouvi-la ou guardá-la consigo nunca morrerá de morte súbita nem se afogará, nem será atingido por veneno ou cairá nas mãos do inimigo, nem será queimado em qualquer fogo ou rendido na batalha. A tradição também convida a rezá-la durante nove manhãs por qualquer intenção. Ela é conhecida por nunca ter falhado.

Ó São José, cuja proteção é tão grande, tão forte e tão imediata diante do trono de Deus, a vós confio todas as minhas intenções e desejos. Ajudai-me, São José, com a vossa poderosa intercessão, a obter todas as bênçãos espirituais por intercessão do vosso Filho adotivo, Jesus Cristo Nosso Senhor, de modo que, ao confiar-me, aqui na terra, ao vosso poder celestial, Vos tribute o meu agradecimento e homenagem. Ó São José, eu nunca me canso de contemplar-Vos com Jesus adormecido nos vossos braços. Não ouso aproximar-me enquanto Ele repousa junto do vosso coração. Abraçai-O em meu nome, beijai por mim o seu delicado rosto e pedi-Lhe que me devolva esse beijo quando eu exalar o meu último suspiro. São José, padroeiro das almas que partem, rogai por mim! Amém.

2 – Oração para pedir que São José seja seu protetor

Esta breve oração consta no “Manual de São José”: é uma prece para pedir que ele interceda diariamente por você.

Ó São José, esposo da Virgem Mãe de Deus, a mais gloriosa advogada de todos os que estão em perigo ou em sua derradeira agonia e a mais fiel protetora de todos os servos de Maria, vossa amada esposa! Na presença de Jesus e Maria, a partir deste momento, eu vos escolho como meu poderoso patrono e advogado, a fim de que obter a graça de uma morte feliz. Decido firmemente e pretendo nunca vos abandonar, nem dizer ou fazer qualquer coisa contra a vossa honra. Recebei-me, portanto, como vosso servo constante e recomendai-me à proteção constante de Maria, vossa amada esposa, e às eternas misericórdias de Jesus, meu Salvador. Ajudai-me em todas as ações da minha vida. Agora ofereço-me à glória maior e eterna de Jesus e Maria, bem como à vossa. Amém.

3 – Oração a São José para pedir proteção contra o mal

O Papa Leão XIII escreveu uma encíclica sobre São José e, no final, compôs uma oração ao pai adotivo de Jesus, pedindo sua ajuda na proteção contra o mal. Eis esta oração:

A vós, São José, recorremos em nossa tribulação e, depois de ter implorado o auxílio de vossa Santíssima Esposa, cheios de confiança solicitamos o vosso patrocínio. Por esse laço sagrado de caridade, que vos uniu à Virgem Imaculada, Mãe de Deus, pelo amor paternal que tivestes ao Menino Jesus, ardentemente vos suplicamos que lanceis um olhar benigno para a herança que Jesus conquistou com o Seu sangue, e nos socorrais em nossas necessidades com o vosso auxílio e poder. Protegei, ó Guarda providente da Divina Família, a raça eleita de Jesus Cristo. Afastai para longe de nós, ó Pai amantíssimo, a peste do erro e do vício. Assisti-nos do alto do céu, ó nosso fortíssimo sustentáculo, na luta contra o poder das trevas; assim como outrora salvastes da morte a vida do Menino Jesus, assim também defendei agora a Santa Igreja de Deus contra as ciladas de seus inimigos e contra toda adversidade. Amparai a cada um de nós com o vosso constante patrocínio, a fim de que, a vosso exemplo, e sustentados com o vosso auxílio, possamos viver virtuosamente, morrer piedosamente e obter no céu a eterna bem-aventurança. Assim seja.

4 – Oração a São José para quando você for viajar

Ó São José, que acompanhastes Jesus e Maria em todas as viagens e que fostes chamado de patrono de todos os viajantes, acompanhai-nos neste caminho que estamos prestes a fazer. Sede nosso guia e protetor; olhai por nós; preservai-nos de todos os acidentes e perigos para a alma e o corpo; auxiliai-nos em nosso cansaço e ajudai-nos a santificá-lo oferecendo-o a Deus. Fazei-nos sempre cientes de que somos estrangeiros peregrinos neste mundo e que o céu é o nosso lar verdadeiro, e ajudai-nos a perseverar no caminho que para lá nos conduz. Pedimo-vos em especial que nos protejais e ajudeis na última grande viagem do tempo à eternidade, para que, sob a vossa orientação, possamos chegar ao reino da felicidade e da glória, para ali repousar eternamente convosco na companhia de Jesus e Maria. Amém.

5 – Oração a São José pela proteção dos filhos

Ó glorioso São José! Foi a vós que Deus confiou os cuidados de Seu Filho unigênito nos muitos perigos deste mundo. Nós vos pedimos que tomeis sob a vossa proteção especial os filhos que Deus nos deu. Através do santo Batismo, eles se tornaram filhos de Deus e membros da Sua santa Igreja. Nós os consagramos hoje a vós! Que, por meio desta consagração, eles possam também tornar-se vossos filhos adotivos. Guardai-os, guiai os seus passos na vida, formai os seus corações segundo os corações de Jesus e Maria. São José, que sentistes a tribulação e a preocupação dos pais quando o Menino Jesus esteve perdido, protegei os nossos queridos filhos no tempo e para a eternidade. Sede seu pai e conselheiro. Fazei-os, como Jesus, crescer em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens. Preservai-os da corrupção do mundo e dai-nos um dia a graça de nos unirmos no Céu para sempre. Amém.

6 – Oração a São José para dormir em paz

Ó querido São José, eu decido, todas as noites, antes de fechar os olhos para o sono, recitar estas aspirações: Jesus, Maria e José, ofereço-vos meu coração e minha alma. Jesus, Maria e José, socorrei-me na minha última agonia. Jesus, Maria e José, que minha alma respire em paz convosco. Amém.

Aleteia 

NA SIMPLICIDADE DE UMA MANJEDOURA

Ehow
por Dom Severino Clasen
Arcebispo de Maringá (PR)

“Vamos a Belém, ver este acontecimento que o Senhor nos revelou” (Lc 2,15).

A ação litúrgica, no mês de dezembro, está recheada de enfeites, novenas e esperanças. O mundo comercial tem ofertas mercadológicas para saturar as ruas, casas comerciais, chegando a exaustão. Dentro de tanta convulsão, convocamos as pessoas de fé, celebrar com alegria a festa de aniversário do nascimento de Jesus.

No dia 25 de dezembro, em tempo de pandemia, isolamento social, limite de fiéis nas igrejas, celebraremos o santo Natal.

Silenciosamente, Deus se manifesta ao mundo, nascendo numa estrebaria com a presença de animais.

Deus se encarna na simplicidade de uma manjedoura, distante dos poderosos, mudo para os falsos profetas que agridem pastores, portadores da paz, da esperança e da justiça.

Natal é tempo de olhar para dentro de si mesmo e deixar ecoar o grito dos pastores na forma dos pobres, índios, negros, enfermos, minorias oprimidas de nossa sociedade. A canção natalina se fará ouvir somente pela harmonia interior, consciência madura e equilibrada que o Papa Francisco nos aponta em Fratelli Tutti, “o essencial de uma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra em que cada uma nasceu ou habita” (n.1).

Esta é a verdadeira mensagem natalina. Descobrir a simplicidade do Menino Deus que vem sem alardes e fanfarras ao mundo, deve ser experimentado no seio da família, através do diálogo como os pastores, comunicando que o rumo é Belém, “vamos ver o que lá aconteceu”. O brilho da estrela, ergue os olhos ao infinito para contemplar as maravilhas de Deus no coração de todas as pessoas, sentindo a ternura de Maria que dá à luz da justiça, faz os Reis magos retornar por outro caminho, aproxima dos animais e da criança recém-nascida, nos ensinando a relação amorosa com toda a obra criada.

Natal é tempo de conversão e alerta para nos aproximarmos dos mais necessitados, do respeito pela vida, da união na família, no cuidado pela ecologia e pela fraternidade universal e social.

Natal de verdade supera preconceitos, elimina pensamentos vingativos, educa para o olhar sem julgamentos, desprezo e egoísmo. Natal preparado pela oração, meditação, acolhimento da Palavra de Deus devolvendo para as pessoas batizadas a alegria original da fé cristã e despertando nos pagãos e incrédulos que há sinais de bondade no seio da humanidade que busca a luz apontando novo rumo para uma sociedade em pandemia, regida pelas falsas notícias e pelo ódio.

Os pastores, provavelmente, não tinham o hábito de frequentar as sinagogas, mas foram os primeiros a receber a notícia do Menino Jesus. Eles deixaram a lida de pastores e foram rumo a Belém: “os pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido, deitado na manjedoura. Tendo-o visto, contaram o que lhes fora dito sobre o menino. E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam” (Lc 2,16-17).

Que o nosso final de ano, exaustos de espera de novos tempos, superação da pandemia, nos encha também de alegria. Busquemos no silêncio do lar, através da oração, da orientação da nossa mãe Igreja, o sabor da percepção de celebrar a vinda de Deus para toda a humanidade.

Deixemo-nos tomar pela alegria, visto e sentido em primeiro lugar pelos pastores, e nos aproximemos de Maria e José, pessoas simples, sem preconceito, para descobrir que o Menino Jesus, deve ser encontrado no nosso coração e acalentando nossa vida de ternura, serenidade, da fraternidade universal.

Deixemo-nos conduzir pela estrela de Belém e assumamos, através de nossa fé, o compromisso para melhorar nossas relações na família e na comunidade.

Rezemos pelas famílias que perderam entes queridos, vítimas da Covid-19 e tenhamos um Natal de paz e uma ano de esperança em 2021.

Que seja essa a fonte de alimento para um Feliz Natal e Ano de 2021 com as bênçãos do Menino de Belém.

CNBB

A SENHORA DO ADVENTO

ArqBrasília

Nesse período litúrgico do Advento, Maria, a Santíssima Virgem do Advento, nos convida a percorrer o itinerário que irá nos conduzir em direção ao mistério da Encarnação do Verbo de Deus. É desejo de Maria que todos e cada um de nós, juntos a Ela, descubramos com renovado ardor o valor inexcedível do conhecimento do amor de Cristo.

Em nossa preparação para o Natal, é sempre bom e necessário querer ter o privilégio de se aproximar de Belém, do presépio do Menino Deus, amparados pela humildade e pelos exemplos de virtudes que encontramos no autêntico culto a Maria e, por isso, nós queremos elevar os nossos olhares suplicantes para  Nossa Senhora, para que Ela nos demonstre quais são os requisitos necessários para se viver a  regeneração espiritual e moral que nos faz testemunhas credíveis das maravilhas operadas por Deus, no nosso tempo e em nossa história.

Nesse itinerário espiritual que nos conduz em direção ao Presépio de Belém, Maria, a doce e singela Virgem do Advento, nos faz perceber que a caridade e a piedade, alimentadas na fecunda fonte da Sagrada Escritura e da reta participação nos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, nos colocam em pleno contato com os mananciais de uma sólida vida espiritual, solidíssimo fundamento em que se há de alicerçar nossa caminhada na fé e na santidade.

Iluminados pela Luz provinda de Belém, sentimos no coração a grata e imperiosa incumbência de bradar que “a notícia do nascimento de Jesus representa o grande sinal da benevolência divina para com os homens. No divino Redentor, contemplado na pobreza da gruta de Belém, pode-se divisar um convite a nos aproximar, com confiança, d’Aquele que é a esperança, d’Aquele que é a esperança da humanidade”. (Papa João Paulo II, “L’Osservatore Romano, Ed. Port., n.º 47”). A Santíssima Virgem Maria não se cansa de interceder por nós diante de Nosso Senhor Jesus Cristo. Demonstremos a Ela que, graças à sua poderosa intercessão, estamos mantendo a graça, a paz e o amor de Deus em nossas almas e, consequentemente, em união com o nosso Redentor, não temos medo ou receios de enfrentar com grandeza de ânimo as obrigações de nossas vidas de batizados e de membros do Corpo Místico de Cristo.

Contemplando as atitudes e os gestos de amor demonstrados pela Virgem do Advento, descobrimos, à luz da fé, a geografia espiritual da terra santa de Belém, que é fecunda em conquistas de desprendimento, gestos de serviço e de obras de misericórdia. Em Belém, terra de pastores, temos a plena convicção de que, diante de Deus, ninguém é estrangeiro, pois nos reconhecemos filhos de um mesmo Pai! Em Belém, terra-pão, degustamos o valor insubstituível da Eucaristia, que imprime em nosso ser um maior sentido de Deus e de tudo aquilo que é sagrado em nossas vidas e incrementa um maior apreço pela Igreja, como instituição de Salvação, mediante os sacramentos, sinais sensíveis da graça que Jesus Cristo, em Seu amor, nos legou!

É vital que manifestemos nossa adesão à geografia de Belém por meio da prática, sem reservas, da virtude da caridade e do constante empenho em conquistar novos discípulos para o Reino de Deus! Maria, a Virgem do Advento, é também a Mãe da Igreja, que nos faz perceber que ser um cidadão, um homem ou uma mulher redimidos pelo Menino Deus que nasceu em Belém, é saber ser um profeta, um sacerdote e um rei que, na prática e na concretização da virtude da esperança, demonstra com coerência que “é grande em nós o desejo de que a Igreja de Deus seja qual Jesus a quer: una, santa, toda encaminhada à perfeição a que Ele a chamou e de que a tornou capaz”. (Papa Paulo VI, “Encíclica Ecclesiam Suam, n.º 19”).

Quanto maior for o tempo que dedicarmos à nossa preparação para o Natal, maior será a nossa convicção de que Maria, a Mãe de Cristo, nos torna integralmente acessível o compêndio do Advento. Ela própria pode e deve ser reconhecida como o compêndio do Advento; afinal, quem se preparou da melhor forma para servir ao Senhor? Quem melhor vivenciou a realidade da graça por amar sem reservas ao Messias esperado? Quem, sem titubear, soube dizer “sim!” e permanecer nessa doação incondicional?

Se soubermos auscultar o que a Santíssima Virgem Maria nos diz, perceberemos que na vida da fé não existem práticas de devoção exclusivamente masculinas ou femininas e que na preparação do Natal, não só as mulheres, mas também todos os homens, são chamados a participar da organização das novenas e da montagem dos presépios. Nesse sentido, caso alguém nos interrogue porque um homem participa de novenas e da montagem de um presépio, questione-o: “Quem te disse que fazer novenas não é varonil? Serão varonis essas devoções, sempre que as pratique um varão com espírito de oração e penitência!” (São Josemaría Escrivá, “Caminho n.º 574”). Como homens e mulheres, seres humanos resgatados pelo nosso Redentor, salmodiemos: “A Verdade brotou da terra!” (Sl 84,12). Como homens e mulheres, imagem e semelhança de Deus, declaremos que “todo aquele que em seu coração crê para obter a justiça, concebe a Cristo. Quem, com suas palavras, o confessa pela boca, para alcançar a Salvação, dá à luz a Cristo!” (Santo Agostinho, “Sermão 191,4”)

Para concluir, quero mais uma vez convidá-los a voltar os olhos e a alma para Nossa Senhora, a dulcíssima e amada Virgem do Advento, invocando, com renovada e filial confiança, a sua poderosa mediação e intercessão em favor da paz no mundo e da concretização da justiça em todos em povos e nações! Em silêncio, no fundo do fundo da nossa alma, rezemos a antífona do Advento, suplicando: “Ó santa Mãe do Redentor, porta do céu, estrela do mar, socorre o teu povo, que anela por ressurgir. Tu que, acolhendo a saudação do anjo na admiração de toda a criação, geraste o teu Criador. Mãe sempre virgem, tem piedade de nós, pecadores!”

Aloísio Parreiras

(Escritor e membro do Movimento de Emaús)

Arquidiocese de Brasília

S. Gregório de Nissa: Vida de Macrina (Parte 1/3)

S. Gregório de Nissa
Veritatis Splendor

Para o monge Olímpio:

Introdução

[960A] A forma desse volume, se alguém pode julgar pelo título, é aparentemente epistolar, mas este volume excede o de uma carta, estendendo como faz na extensão de um livro. Minha apologia deve ser que o assunto no qual tu me ofereceste escrever é maior do que pode ser condensado nos limites de uma carta.

Tenho certeza que tu não esqueces do nosso encontro, quando, no meu caminho para Jerusalém, no prosseguimento de um voto, para ver as relíquias da permanência do Senhor na carne e nas marcas atuais. Eu te procurei na cidade de Antioquia, e tu deves lembrar-te de todas as diferentes conversas que tivemos, pois não era usual que o nosso encontro fosse silencioso, quando a sua sagacidade fornecia tantos assuntos para a conversa. Como sempre acontece nesses momentos, a [960B] conversa fluiu até que nós viemos a discutir a vida de algumas pessoas famosas.

Nesse caso, foi uma mulher que nos forneceu o nosso assunto; se, de fato, ela devia ser uma mulher de estilo, eu não sei se é conveniente designá-la pelo seu sexo, a quem ultrapassou tanto o seu sexo. Nosso interesse por ela não foi baseado na narrativa de outros, mas nossa conversa foi uma descrição acurada daquilo que aprendemos pela experiência pessoal, nem precisava ser autorizada por estranhos. Nem mesmo a referida virgem era desconhecida no nosso círculo familiar para fazer necessário aprender as maravilhas da sua vida através dos outros, mas ela veio dos mesmos pais que nós sendo então que falaremos da primeira fruta ofertada, porque ela foi a primeira nascida do útero de minha mãe.

Então, tu decidiste que a história de sua nobre carreira vale a pena ser contada para evitar que tal vida seja desconhecida no nosso tempo, e que o registro de uma mulher que cresceu [960C] pela filosofia para a maior elevação da virtude humana passando pelas sombras do esquecimento inútil, eu acho por bem obedecer a ti e, em poucas palavras, como eu posso melhor contar a história dela de uma maneira não meditada e num estilo simples.

Os pais de Macrina

O nome da virgem era Macrina; ela foi assim chamada por seus pais depois de uma famosa Macrina algum tempo antes na família do pai da nossa mãe que tinha confessado a Cristo [962A] como um bom atleta no tempo das perseguições. Este, de fato, era o seu nome para o mundo externo, aquele usado pelos seus amigos. Mas outro nome tinha sido dado a ela privadamente como resultado de uma visão antes do seu nascimento neste mundo. Porque, de fato, sua mãe era tão virtuosa que ela havia sido guiada em todas as ocasiões pela vontade divina.

Particularmente, ela amava tanto um modo de vida puro e sem mancha que ela não queria se casar. Mas desde que ela perdeu ambos os pais, e ela havia desabrochado na sua beleza de juventude e, a fama da sua boa aparência estava atraindo muitos pretendentes e havia muito perigo nisso, se ela não tivesse um companheiro de boa vontade, ela poderia sofrer algum fato não desejado, vendo que alguns homens, inflamados pela sua beleza, estavam prontos para seqüestrá-la, por causa disso ela escolheu para seu marido um homem que era conhecido e aprovado pela seriedade de sua conduta e assim ganhou o protetor de sua vida.

O nascimento de Macrina

No seu primeiro parto ela se tornou mãe de Macrina. Quando veio a hora devida, as dores agudas do parto terminaram, ela adormeceu e parecia estar carregando em suas mãos aquilo que ainda estava em seu útero. E alguém com forma e brilho mais esplêndido que um ser humano apareceu e dirigiu-se à criança que ela estava carregando pelo nome de Thecla, que Thecla, eu quero dizer, que é tão famosa entre as virgens.

Depois de fazer isto e testemunhar isso três vezes, ele partiu da sua vista e deu a ela um parto fácil, de maneira que, naquele momento, ela acordou do sono e viu seu sonho realizado. Agora, esse nome era usado apenas em segredo. Mas [962C] parece-me que a aparição não fala tanto para guiar a mãe para a escolha certa do nome, mas para prever a vida da jovem criança e para indicar pelo nome que ela deveria seguir o modo de vida do nome.

A infância de Macrina

Bem, a criança foi educada. Embora ela tivesse a sua própria ama-seca, ainda como regra sua mãe tomou os seus cuidados com suas próprias mãos. Depois de passado o estágio da infância, ela mostrou-se com talento para aprender e os seu poderes naturais foram mostrados em todo o estudo no qual seus pais julgaram dirigi-la. A educação da criança era tarefa da mãe. Ela não utilizou, no entanto, o método mundano de educação o qual utiliza a prática do uso de poesia como meio de treinamento nos primeiros anos da crianças.

Seu contrato de casamento

Preenchendo seu tempo com estas e ocupações similares, e atingindo então uma considerável proficiência no trabalho da lã, a menina em crescimento atingiu seu décimo segundo ano, a idade quando o florescimento da adolescência começa a aparecer. Com relação a isso, é digno de nota que a beleza da menina não podia ser ocultada, apesar dos esforços para escondê-la. Nem em todo o campo, parece, existia algo tão maravilhoso quanto a sua beleza, em comparação com a das outras.

Tão justa era ela que mesmo as mãos dos pintores não podiam fazer justiça à sua [964B] graça; a arte, que inventa todas as coisas e tenta as grandes tarefas, mesmo como modelar uma imitação e figuras dos corpos celestes, não poderia reproduzir com precisão a beleza de sua forma. Em conseqüência, um grande enxame de pretendentes, propondo casamento, ajuntavam-se ao redor de seus pais. Mas seu pai, um homem astuto, com reputação de tomar boas decisões, retirou do resto um jovem relacionado à família, que acabara de deixar a escola, de bom nascimento e notável equilíbrio, e decidiu dar sua filha em contrato de casamento a ele, tão logo ela fosse madura o suficiente.

Nesse meio tempo, ele desenvolveu grandes esperanças, e ofereceu a seu futuro sogro sua fama em falar em público como se fosse um de seus dons; ele exibia o [964C] poder da sua eloqüência em controvérsias forenses em favor dos erros dos culpados.

A morte de um jovem

Mas a inveja cessou essas brilhantes esperanças jogando para longe o pobre rapaz da vida. Agora, Macrina não era ignorante ao esquema de seu pai, mas quando o plano formado para ela foi despedaçado pela morte do jovem, ela disse que a intenção de seu pai era equivalente ao casamento e decidiu permanecer solteira daí em diante, como se a intenção tivesse realizado o fato.

E, de fato, a sua determinação foi mais firme do que poderia ser esperado para a sua idade. Por que quando seus pais traziam-lhe propostas de casamento, como sempre acontecia devido ao grande número de pretendentes que vinham atraídos pela fama de sua beleza, ela dizia que era absurdo e contra a lei não ser fiel ao casamento que havia sido arranjado para ela por seu pai, mas ser compelida a considerar outro; porque na natureza das coisas havia apenas um casamento, como há um nascimento e uma morte.

Ela persistiu que o homem que havia estado ligado a ela pelo [964D] arranjo de seus pais não estava morto, mas que ela considerava que ele vivia para Deus, graças à esperança da ressurreição que estava somente ausente, não morto; era errado não manter a fé com o noivo que estava longe.

Macrina decide nunca deixar sua mãe

Com tais palavras, repelindo aqueles que tentavam fazê-la mudar de idéia, ela manteve a sua boa resolução em salvaguarda e resolveu não se separar de sua mãe em nenhum momento da vida. De maneira que sua mãe dizia sempre que ela havia carregado o resto de suas crianças na sua barriga por um tempo definitivo, mas que ela criou sempre Macrina, porque, de alguma maneira ela sempre carregou Macrina consigo. Mas a companhia da filha não era infrutífera, nem um fardo para a mãe.

Porque eram válidas muitas daquelas atenções e trabalhos servis recebidos de sua filha [966A], e os benefícios eram mútuos. Porque a mãe tomava conta da alma da menina e a menina tomava conta da alma da mãe, e em todos os aspectos preenchia os serviços requeridos, chegando mesmo a preparar as refeições para sua mãe com suas próprias mãos. Não que ela fizesse disso a sua atividade principal. Mas depois que ela havia ungido suas mãos pelo desempenho de tarefas religiosas porque julgou que o zelo por isto era consistente com os princípios de sua vida no tempo que foi deixado, ela preparava comida para sua mãe com sua própria labuta.

E não apenas isso, mas ela ajudava sua mãe a manter o seu fardo de responsabilidade. Por que ela tinha quatro irmãos e cinco irmãs e pagava taxas para três governos diferentes porque sua propriedade estava espalhada em vários distritos. Em conseqüência [966B], sua mãe estar distraída com várias ansiedades, porque o seu pai tinha nesta época partido dessa vida. Por todos esses problemas, ela dividia a labuta de sua mãe, dividindo seus cuidados com ela e iluminando a sua pesada carga de sofrimentos.

No mesmo momento, graças à proteção de sua mãe, ela estava vivendo sua própria vida sem culpa, de modo que o olhar de sua mãe direcionou e testemunhou tudo o que ela fez; e também por sua própria vida instruiu grandemente sua mãe, levando-a para a mesma marca, quero dizer, aquela da filosofia, e gradualmente conduzindo-a para a vida imaterial e mais perfeita.

Basil retorna da universidade

Quando a mãe tinha providenciado excelentes casamentos para as outras irmãs, como era melhor em cada caso, o irmão de Macrina, o grande Basil, retornou depois de seu longo período de [966C] educação, já um hábil retórico. Ele estava envaidecido além da medida com o orgulho da oratória e desprezava os dignitários locais, superando em sua própria avaliação todos os homens de liderança e posição.

No entanto, Macrina o tomou pela mão, e com tal rapidez levou-o também em direção à marca da filosofia, que ele renunciou às glórias deste mundo e desprezou a fama ganha pelo discurso, e desertou disso para a sua vida ocupada onde a labuta de um é feita com as mãos de outro.

Sua renúncia à propriedade foi completa, para que nada devesse impedir a vida de virtude. Mas, de fato, sua vida e os atos subseqüentes, pelos quais tornou-se renomado por todo o mundo e colocou-o à sombra de todos aqueles que haviam ganho renome por sua virtude, iria [966D] necessitar de uma longa descrição e de muito tempo. Mas eu devo desviar minha história para a sua tarefa determinada.

Agora que todas as desordens da vida material haviam sido removidas, Macrina persuadiu sua mãe a desistir da vida comum e todo o estilo de vida ostentoso e os serviços domésticos aos quais ela estava acostumada antes, e trouxe a ela o seu ponto de vista para aquele das massas, e partilhou a vida das servas, tratando todas as suas escravas e criados como se eles fossem irmãos e pertencessem à mesma condição social que ela.

Mas, nesse ponto, eu gostaria de inserir um pequeno parênteses à minha narrativa e não deixar de relatar tal questão como a que se segue, na qual o sublime caráter da donzela é exibido.

A história de Naucratius

Segundo de quatro irmãos, de nome Naucratius, que veio logo depois do grande Basil, superava o resto em dons naturais, em beleza física, força, rapidez e habilidade para aprimorar sua mão para qualquer coisa. Quando [968A] ele atingiu seu vigésimo primeiro ano e havia dado tal demonstração de seus estudos ao falar em público que toda a audiência no teatro estava emocionada, ele foi guiado pela Divina Providência para desprezar tudo que já estava ao seu alcance e, levado por um irresistível impulso, retirou-se para uma vida de solidão e pobreza. Ele não levou nada consigo, somente si mesmo, salvo aquele de seus servos chamado Chrysapius, que o seguiu por causa da afeição que ele tinha para com o seu patrão e a intenção que havia formado de levar a mesma vida.

Então, ele viveu por si mesmo, tendo encontrado um lugar solitário às margens do rio Íris, um rio fluindo através do centro do Ponto. Ele nasce realmente na Armênia, passa através de nossas partes e descarrega sua corrente no [968B] Mar Negro. Próximo dali, um jovem encontrou um lugar com um crescimento luxuriante de árvores e um vale, debaixo do qual havia um ninho de passarinhos projetando-se sobre a massa de uma montanha.

Ali ele vivia longe, afastado dos barulhos da cidade e das desordens que cercavam as vidas, tanto do soldado quanto do advogado das cortes da lei. Tendo então se libertado do atordoamento de cuidados que impedem o homem de uma vida mais alta, com suas próprias mãos, ele procurou alguns idosos que estavam vivendo na pobreza e debilidade, considerando apropriado para seu modo de vida fazer de tal trabalho seu cuidado.

Então, o generoso jovem ia em expedições de pesca, e como ele era um perito em todo tipo de esporte, ele fornecia comida por todos os meios para os seus gratos clientes. E, ao mesmo tempo, por tais exercícios, estava domesticando sua própria humanidade.

Além disso, alegremente ele também obedecia aos desejos de sua mãe sempre que ela pedia. E então, dessas duas maneiras, ele guiou sua vida, [968C] a natureza de sua juventude pelas labutas e cuidado assíduo com sua mãe, e, além de manter os mandamentos divinos, estava viajando para a casa de Deus.

Deste modo, completou o quinto ano de sua vida como filósofo, pelo qual fez sua mãe feliz, tanto pelo modo no qual adornou sua própria vida pela continência, e pela devoção de todos os seus poderes para fazer o desejo dela que o criou.

A trágica morte de Naucratius

Então, caiu sobre a mãe uma dolorosa e trágica aflição, arquitetada, eu acho, pela adversidade, que trouxe problemas e tristeza para a família. Porque ele foi arrebatado repentinamente da vida. Nenhuma doença prévia lhes havia preparado para a desgraça, nem nenhuma dos usuais e conhecidos infortúnios trouxeram a morte para o jovem. [968D] Tendo iniciado uma das expedições pela qual ele fornecia as coisas necessárias para os idosos, ele foi trazido para a casa morto, juntamente com aquele Chrysapius, com quem dividia a sua vida. Sua mãe estava longe, três dias distante da cena da tragédia. Alguém veio a ela contando as más notícias.

Embora ela fosse perfeita na virtude, a natureza dominou-a como faz com os outros. Pois ela desmaiou. E, em um momento, perdeu a fala e a respiração, já que a razão lhe falhou sob o desastre, e ela foi jogada ao solo pelo assalto das marés do mal, como alguns nobres atletas batidos por uma inesperada desgraça.

Macrina, aquela que deu amparo à sua mãe

E agora, a virtude da grande Macrina foi exibida. Enfrentando o desastre com [970A] espírito racional, ela se preservou do colapso, e se tornou o suporte na fraqueza de sua mãe, elevando-a do abismo da dor, e, por sua própria firmeza e imperturbabilidade, ensinou à alma de sua mãe a ser corajosa. Em conseqüência, sua mãe não foi oprimida pela aflição, nem se comportou de maneira ignóbil e de modo feminino, como gritar à calamidade, ou rasgar seu vestido, ou lamentar sobre o problema, ou principiar cantos fúnebres com melodias pesarosas.

Pelo contrário, ela resistiu aos impulsos da natureza, e se aquietou tanto por reflexões que lhe ocorreram espontaneamente, como por aquelas que eram aplicadas por sua filha para curar a doença. Pois então, a nobreza do espírito de Macrina foi visível mais que tudo; já que [970B] a afeição natural a estava fazer sofrer. Pois ele era um irmão, e um irmão favorito, que havia sido arrebatado de tal forma pela morte.

No entanto, conquistando a natureza, ela tanto sustentou sua mãe com seus argumentos que ela, também, ergueu-se superior ao seu sofrimento. Além do que, a elevação moral sempre mantida pela vida de Macrina deu à sua mãe a oportunidade de rejubilar-se pelas bênçãos que possuía mais do que a dor do que havia perdido.

Mãe e filha fazem mais progressos na vida ascética

Quando os cuidados de conduzir uma família e as ansiedades por sua educação e estabelecimento na vida tiveram um fim, e a propriedade, uma causa freqüente do conhecimento mundano, tinha sido em sua maior parte dividida entre os filhos, então, como eu disse acima, a vida da virgem tornou-se o guia de sua mãe e conduziu-a para este filosófico e espiritual [970C] modo de vida.

E, afastando-a de todos os luxos costumeiros, Macrina continuou dirigindo a mãe a adotar o seu próprio ideal de humildade. Induziu-a a viver em pé de igualdade com o séquito de servas, também partilhava com elas a mesma comida, o mesmo tipo de cama em todas as necessidades da vida, sem nenhuma consideração com as diferenças de posição social.

Assim era o modo de suas vidas, tão grande a altura de sua filosofia, e tão sagrada sua conduta dia e noite faz a descrição verbal inadequada. Pois somente como almas livres do corpo pela morte são salvas dos cuidados desta vida, eram suas vidas removidas muito longe de todas as preocupações terrenas e ordenadas com a visão de imitar a vida angélica. Pois nem raiva ou inveja, ódio ou orgulho foi observado em seu meio, nem nada desta natureza, já que elas abandonaram todos os desejos vãos por honra e glória, todas as vaidades, arrogâncias e similares. A continência era o seu luxo, e a obscuridade a sua glória.

Pobreza, e a retirada de todas as materialidades supérfluas de seus corpos como poeira era a sua riqueza. De fato, todas as coisas que os homens perseguem obstinadamente em suas vidas, não eram nada, elas podiam facilmente dispensar. Tudo foi deixado, exceto o cuidado com as coisas divinas e a incessante ladainha de orações e hinos, co-extensivas no tempo, praticadas noite e dia. De forma que, para elas, significava trabalho, e o resto era assim chamado trabalho. O que as palavras humanas podem te fazer pretender com uma vida como esta, uma vida na fronteira entre natureza humana e espiritual?

Pois que a natureza esteja livre das fraquezas humanas é mais do que pode ser esperado da humanidade. Mas estas mulheres não alcançaram a natureza angélica e imaterial apenas na medida em que (estas) apareciam em forma corporal, e estavam contidas numa estrutura humana, e eram dependentes dos órgãos dos sentidos. Talvez alguns pudessem mesmo ousar dizer que a diferença não lhes estava em desvantagem, já que, ao viver num corpo e ainda ter semelhanças com seres imateriais, elas não haviam sido submetidas ao peso do corpo, mas suas vidas eram exaltadas aos céus e [972B] caminhavam para o alto na companhia dos poderes do céu.

O período coberto por este modo de vida não foi curto, e com um lapso de tempo seus sucessos aumentaram, como sua filosofia cresceu continuamente mais purificada com a descoberta de novas bênçãos.

Pedro, o irmão mais novo

Macrina foi ajudada principalmente por seu irmão Pedro para atingir o grande objetivo de sua vida. Com ele, as angústias da mãe cessaram, pois ele foi o último nascido na família. De imediato, recebeu os nomes de filho e órfão, porque quando entrou nesta vida seu pai passou do tempo dela.

Porém, a mais velha da família, assunto da nossa história, levou-o logo após o nascimento para uma ama de leite, que criou-o e educou-o [972C] num sublime sistema de treinamento, exercitando-o desde a infância nos estudos sagrados para não dar à sua alma a ociosidade que o levaria às coisas vãs. Assim, tendo sido todas as coisas para o jovem ? pai, professora, tutora, mãe, doadora de todos os bons conselhos ? ela produziu tais resultados que, antes que a idade da puerícia tivesse passado, quando ele ainda estava despindo o primeiro florescimento da tenra juventude, aspirou à alta marca da filosofia.

E, graças ao seus dons naturais, ele possuía talento em toda arte que envolvia trabalho manual, de forma que, sem nenhuma orientação, atingiu um completo e acurado conhecimento de tudo o que as pessoas comuns aprendem com tempo e dificuldade. Desdenhando ocupar [972D] seu tempo com estudos do mundo, e tendo em sua (própria) natureza um instrutor suficiente em todos os bons conhecimentos, e sempre procurando como modelo tudo o que era bom, avançou para tal altura de virtude que, em sua vida subseqüente, ele não pareceu nada inferior ao grande Basil.

Mas, neste momento, com sua mãe e irmã, ele estava cooperando completamente com elas na busca da vida angélica. Uma vez, quando uma severa fome ocorreu e as multidões de todos os quarteirões estavam freqüentando o retiro onde elas moravam, dirigidas pela fama de sua benevolência, a bondade de Pedro supriu com uma tal abundância de comida que o deserto parecia uma cidade por causa do número de visitantes.

A morte da mãe

[974A] Foi por volta dessa época que a mãe morreu, honrada por todos e foi para Deus, deixando sua vida nos braços de seus dois filhos. É  válido dar as palavras de bênção que ela transmitiu a seus filhos, mencionando cada um dos ausentes com uma lembrança amorosa, de maneira que nenhum foi desprovido da bênção e encomendou especialmente a Deus em suas orações aqueles que estavam presentes com ela.

Pois quando aqueles dois sentavam próximo a ela em cada lado da cama, ela os tocou com suas mãos e pronunciou essas orações a Deus com suas palavras agonizantes: ?Para Ti, ó Senhor, eu dou o fruto do meu útero ambos tanto como as primícias quanto os décimos. Pois o meu mais velho é a primícia e o meu último nascido é o décimo. Cada um é santificado por Ti pela Lei, e eles são oferendas votivas para ti. Portanto, deixe Tua santificação [974B] descer sobre meu primeiro e meu décimo.?

Enquanto ela falava, indicava por gestos sua filha e filho. Então, após cessar a bênção, ela deixou de viver, tendo primeiramente ordenado a seus filhos colocar seu corpo no sepulcro de seu pai. Mas eles, após cumprirem a ordem, mantiveram-se fiéis à filosofia com ainda mais sublime resolução, até mesmo esforçando-se contra sua própria vida e eclipsando seu registro prévio pelos seus sucessos subseqüentes.

Portal Veritatis Splendor

NOSSA SENHORA DE LORETO

Nossa Senhora de Loreto 

Trata-se de uma Casa com apenas três paredes, aberta ao mundo e a todas as pessoas. Assim se apresenta a Santa Casa de Nazaré, sob um precioso revestimento de mármore renascentista, a qual, segundo a tradição, foi transportada, "por ministério angélico", em uma rua pública em Loreto. Esta casa terrena, onde a Virgem Maria recebeu o anúncio do Anjo Gabriel e viveu, com Jesus e José, é testemunho do evento mais importante da história: a Encarnação.

Casa de Maria, da Sagrada Família e de todos os homens

As pesquisas históricas, arqueologias e científicas parecem confirmar a sua autenticidade, sancionada, pela primeira vez, em 1310, com a Bula do Papa Clemente V.
Estudos recentes demonstram que as pedras do edifício foram elaboradas segundo o uso dos Natabeus, conhecido na Galileia no tempo de Jesus. Especialistas confirmam que os incisos em grafites nestas pedras são claramente de origem judaico-cristã, e que a argamassa utilizada é desconhecida na construção de edifícios na região italiana das Marcas.
Além do mais, cinco cruzes em tecido, pertencente provavelmente aos Cruzados, e alguns restos de um ovo de avestruz, símbolo do mistério da Encarnação, foram encontrados entre os tijolos da construção da Santa Casa, cujo perímetro corresponde perfeitamente com a dimensão dos alicerces que permaneceram em Nazaré.
Mas, por que só três paredes? Com toda a probabilidade, elas faziam parte da Casa da Virgem, a antecâmara em alvenaria, que dava acesso à parte posterior da gruta, escavada na rocha, ainda hoje venerada na Basílica da Anunciação em Nazaré.

Transportada pelas mãos dos Anjos

Muitos continuam a se questionar como tenha acontecido o transporte desta relíquia descoberta, que, a olho nu, não parece ser reconstruída, apesar do incêndio desastroso de 1921; aquela catástrofe causou a destruição de parte da decoração pictórica do Santuário e do quadro de madeira original da Senhora Negra.
Segundo a tradição, em 1291, após a expulsão dos Cruzados da Palestina, as paredes da Casa de Nazaré foram transportadas, pela primeira vez, à cidade de Ilíria, na atual Croácia e, em seguida, a Loreto, uma pequena cidade no centro da Itália.
Uma crônica de 1465, narrada por Teramano, diz: "... depois que o povo da Galileia e de Nazaré trocou a religião de Cristo por aquela de Maomé, os Anjos tiraram a mencionada igreja daquele lugar e a transportaram para a Eslavônia. Lá, porém, não foi honrada como convinha à Virgem Maria... Por isso, os Anjos a tiraram daquele lugar e a levaram, por via marítima, até o território de Recanati".
Muitos, hoje, tendem a aceitar a hipótese, avaliada pelo antigo Código “Chartularium culisanense”, segundo a qual os Anjos da tradição, à qual é atribuído o transporte, se referiam à nobre família bizantina de Épiro, chamada Angeli, que, no século XIII, salvou a venerável igrejinha, via marítima, da fúria dos Sarracenos.
No entanto, o perfeito estado de montagem e conservação das pedras manteve viva uma interpretação do transporte, aberta ao sobrenatural.

Uma Casa no caminho de todo homem

Causa perplexidade a colocação da Casa de Maria em uma “rua pública”. "Neste aspecto - disse Bento XVI, ao visitar Loreto em 2012 – consiste a mensagem singular desta Casa: não é uma casa particular, mas aberta a todos, situada nos caminhos de todos. Com efeito, estamos a caminho de outra Casa: a Cidade Eterna"!

Vatican News

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF