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sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

A PIEDADE MARIANA DE SÃO JOÃO PAULO II

Besign

“Totus Tuus ego sum”, “Sou completamente Teu”. Foi esse o lema escolhido por João Paulo II para o seu pontificado e, nos quase 27 anos em que esteve à frente da Igreja, ele testemunhou a importância da devoção mariana em nossas vidas e renovou em nossos íntimos a sólida piedade mariana.

Em suas viagens pastorais, era comum se reservar um espaço para poder visitar os Santuários e Basílicas dedicados a Nossa Senhora. Entre outras, ele visitou a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, no México; o Santuário de Fátima em Portugal; o Santuário de Jasna Góra em Czestochowa, na Polônia; o Santuário da Bem-Aventurada Virgem Maria do Santo Rosário de Pompéia; a Basílica de Nossa Senhora de Lourdes, na França, e a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em nosso país. Em todas essas ocasiões, de joelhos, São João Paulo II, em profunda oração, se dirigiu a Nossa Senhora, afirmando: “Mulher, eis o teu filho!” (Jo 20,26)

A origem da devoção e da piedade mariana na vida de Karol Wojtyla está relacionada à Polônia. Vejamos o seu testemunho: “A veneração à Mãe de Deus, na sua forma tradicional, recebi-a da família e da paróquia de Wadowice. Lembro-me que, na igreja paroquial, havia uma capela lateral dedicada à Mãe do Perpétuo Socorro, aonde iam pela manhã, antes do início das aulas, os estudantes do ginásio. O escapulário de Nossa Senhora do Carmo eu o recebi, aos 10 anos, e ainda agora o trago. Houve um tempo em que, de certa forma, pus em discussão o meu culto por Maria, temendo que se dilatasse excessivamente e acabasse comprometendo a supremacia do culto devido a Cristo. Foi então que veio em minha ajuda o livro de São Luís Maria Grignion de Montfort, o ‘Tratado da verdadeira devoção à Virgem Maria’. Nele encontrei a resposta às minhas perplexidades. Sim, Maria aproxima-nos de Cristo, conduz-nos a Ele, com a condição de que se viva o seu mistério em Cristo”. (Dom e mistério).

Ainda explanando sobre a sua devoção à Virgem Maria, Karol Wojtyla nos disse em Aparecida: “A devoção a Maria é fonte de vida profunda, é fonte de compromisso com Deus e com os irmãos. Permanecei na escola de Maria, escutai a sua voz, segui os seus exemplos. Ela nos orienta para Jesus: ‘Fazei o que Ele vos disser’. E, como outrora em Caná da Galileia, encaminha ao Filho as dificuldades dos homens, obtendo d’Ele as graças desejadas. Rezemos com Maria e por Maria: Ela é sempre a “Mãe de Deus e nossa!” (Homilia do Santo Padre João Paulo II em Aparecida, em julho de 1980).

Essa foi uma constante lição de João Paulo II: A autêntica devoção mariana é, em sua essência, cristocêntrica, radicada profundamente no Mistério trinitário de Deus. “A função maternal de Maria para com os homens, de modo algum obscurece ou diminui esta única mediação de Cristo”. (Redemptoris Mater, 22)

Como transbordamento de seu amor a Nossa Senhora, o Papa João Paulo II nos brindou com o Ano Mariano (1987-1988) e com o Ano do Rosário (outubro de 2002-outubro de 2003), além de duas importantes fontes de estudo de cunho mariano: a Carta Encíclica “Redemptoris Mater” e a Carta Apostólica “Rosarium Virginis Mariae”. E em diversas homilias, ele sempre se dirigiu à Mãe do Nosso Redentor. Em sua última viagem a Lourdes, em agosto de 2004, ele nos orientou: “A Imaculada Conceição de Maria constitui o sinal do amor gratuito do Pai, a expressão perfeita da redenção levada a cabo pelo Filho, o ponto de partida de uma vida totalmente disponível à ação do Espírito”. (Homilia do Santo Padre na solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria em Lourdes). Outras lições de seu pontificado: aprender a olhar para Maria para junto dela aprender a viver em profunda união com Cristo e ainda, conhecer os dogmas marianos e se empenhar em sua defesa.

Diante da possibilidade de novos e sangrentos confrontos mundiais, João Paulo II recorreu à poderosa intercessão de Nossa Senhora. Aos 13 de maio de 1982, ele renovou a consagração do mundo a Nossa Senhora de Fátima, feita quatro décadas antes pelo seu predecessor, Pio XII. “À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus! Diante de Vós, Mãe de Cristo, diante de Vosso Coração Imaculado, desejo eu, hoje, juntamente com toda a Igreja, unir-me com o nosso Redentor nesta sua consagração pelo mundo e pelos homens, a qual só no seu coração divino tem o poder de alcançar o perdão e de conseguir a reparação. Oh, Coração Imaculado! Ajudai-nos a vencer a ameaça do mal que tão facilmente se enraíza nos corações dos homens de hoje e que, nos seus efeitos incomensuráveis, pesa já sobre a nossa época e parece fechar os caminhos do futuro! Da fome e da guerra, livrai-nos! Da guerra nuclear, de uma autodestruição incalculável e de toda espécie de guerra, livrai-nos! Quero dirigir-vos ainda uma oração especial, ó Mãe que conheceis as ansiedades e as preocupações dos vossos filhos. Suplico-vos, em imploração ardente e dorida que interponhais a vossa intercessão pela paz no mundo”. (Ato de confiança e de consagração à Nossa Senhora de Fátima). Com esse ato de consagração, notamos a sua atitude de entrega total a Maria, pois “A Virgem Maria está constantemente presente nesta caminhada de fé do povo de Deus em direção à luz!” (Redemptoris Mater, 35) Com os olhos da fé, vislumbramos o alcance desse ato de confiança e as inúmeras graças que posteriormente Deus derramou sobre o mundo.

Com São João Paulo II, reavivamos a certeza de que Maria é uma graça singular que Deus nos concede. “A maternidade de Maria que se torna herança do homem é um dom: um dom que o próprio Cristo faz a cada homem pessoalmente” (Redemptoris Mater, 45). Com São João Paulo II, aprendemos a contemplar o Rosário. “O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade. O Rosário, quando descoberto no seu pleno significado, conduz ao âmago da vida cristã, oferecendo uma ordinária e fecunda oportunidade espiritual e pedagógica para a contemplação pessoal, a formação do Povo de Deus e a nova evangelização”. (Rosarium Virginis Mariae, 2 e 3). Com João Paulo II, de modo especial, renasceu a necessidade da família rezar unida. “Sede fiéis àqueles exercícios de piedade mariana tradicionais na Igreja: a oração do Angelus, o mês de Maria e, de maneira toda especial, o Rosário. Quem dera renascesse o belo costume outrora tão difundido, hoje ainda presente em algumas famílias brasileiras, da reza do terço em família.” (Homilia em Aparecida em julho de 1980). E ainda, com João Paulo II aprendemos a ver Maria como a Mulher eucarística. “Maria está presente, com a Igreja e como Mãe da Igreja, em cada uma das celebrações eucarísticas. Recebemos o dom da Eucaristia, para que a nossa vida, à semelhança da de Maria, seja toda ela um Magnificat!” (Ecclesia de Eucharistia, 57 e 58).

Diante da Madona Negra de Jasna Góra, a Padroeira da Polônia, Wojtyla nos disse: “Seja Maria exemplo e guia no nosso trabalho quotidiano e difícil. Ajude cada um a crescer no amor a Deus e aos homens, a construir o bem comum da Pátria, a introduzir e consolidar a justa paz nos nossos corações e nos nossos ambientes”. (Discurso do Papa João Paulo II aos fiéis reunidos no Santuário Mariano da Virgem de Jasna Góra em junho de 1999).

E no Brasil, diante da Virgem Negra de Aparecida, ele rezou por todos nós: “Ó Mãe! Acolhei em vosso coração todas as famílias brasileiras! Acolhei os adultos e os anciãos, os jovens e as crianças! Acolhei também os doentes e todos aqueles que vivem na solidão! Não cesseis, ó Virgem Aparecida, pela vossa presença, de manifestar nesta terra que o Amor é mais forte que a morte, mais poderoso que o pecado! Não cesseis de mostrar-nos Deus, que amou tanto o mundo a ponto de entregar o seu Filho Unigênito, para que nenhum de nós pereça, mas tenha a vida eterna! Amém! (Oração do Papa João Paulo II na Basílica de Nossa Senhora Aparecida em julho de 1980).

Era tão profundo o amor de Karol Wojtyla por Nossa Senhora que, em seu testamento, ele nos diz: “Sinto cada vez mais profundamente que me encontro totalmente nas mãos de Deus e me ponho continuamente à disposição de meu Senhor, encomendando-me a Ele em sua Imaculada Mãe”.

Com o olhar da fé, podemos vislumbrar sob o pontificado de João Paulo II o manto azul de Maria que o protegeu não somente no atentado de 1981, mas em todos os momentos, em que ele, inspirado pelo Espírito Santo, conduziu a Igreja. Com essa certeza, podemos também afirmar que “o Papa encontrou o reflexo mais puro da misericórdia de Deus na Mãe de Deus. Ele, que havia perdido a sua mãe quando era muito jovem, amou ainda mais a Mãe de Deus. Escutou as palavras do Senhor crucificado como se estivessem dirigidas a ele pessoalmente: ‘Aqui tens a tua Mãe!’ E fez como o discípulo predileto: acolheu-a no íntimo de seu ser. Totus Tuus! E da mãe aprendeu a conformar-se com Cristo. Confiamos tua querida alma à Mãe de Deus, tua Mãe, que te guiou cada dia e te guiará agora à glória eterna de seu Filho, Jesus Cristo Senhor Nosso. Amém! (Homilia do Cardeal Ratzinger na Missa de exéquias de João Paulo II).

São João Paulo II, intercedei por nós, para que possamos permanecer na escola da Virgem Santa Maria, servindo a Deus e à Igreja com a generosidade da fé, com o testemunho da esperança e com a força transformadora da caridade.

Aloísio Parreiras
(Escritor e membro do Movimento de Emaús)

Arquidiocese de Brasília

Mais de 50 agências católicas fazem um balanço da crise na Síria e Iraque

Missa da Páscoa de 2018 em igreja de Damasco  (ANSA)

A emergência humanitária, o drama dos refugiados, a fuga dos cristãos de seus locais de origem: estes são alguns dos temas abordados no quarto encontro promovido pelo Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral. Uma reflexão sobre os problemas que afetam as populações da Síria, Iraque e países vizinhos.

Da Sala de Imprensa da Santa Sé

“Qualquer esforço - pequeno ou grande - feito para favorecer o processo de paz é como colocar um tijolo na construção de uma sociedade justa, que se abra ao acolhimento e onde todos possam encontrar um lugar para viver em paz”.

Este é o encorajamento que o Papa Francisco dirigiu, em mensagem de vídeo, aos participantes do encontro sobre a crise humanitária na Síria e no Iraque, promovido pelo Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral. O encontro, realizado na modalidade online na tarde de quinta-feira, 11, em linha com as recomendações sanitárias para a pandemia Covid-19, contou com a participação de cerca de cinquenta organismos católicos, representantes de episcopados locais e de instituições eclesiais e Congregações religiosas que atuam na Síria, Iraque e países vizinhos, bem como os núncios apostólicos da região.

O quarto encontro das agências católicas foi aberto por Dom Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados, que leu o discurso do cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, impossibilitado de participar pessoalmente.

No discurso introdutório, o cardeal Pietro Parolin reconhece que a situação geral da região é "caracterizada pela crise econômica, agravada pelo bloqueio político ou mesmo pela crise institucional e, mais recentemente, pela pandemia Covid-19".

Diante desta situação “de absoluta gravidade”, que “suscita sérias preocupações”, o purpurado encoraja a todos a dar prosseguimento “aos projetos no Iraque, na Jordânia e na Turquia”, mas pede um empenho particular na Síria e no Líbano.

É sobretudo a Síria, devastada por quase dez anos de conflito, que concentra as reflexões do secretário de Estado. “Hoje, mais do que nunca - insiste - não devemos diminuir a atenção para as necessidades da população, devemos renovar como Igreja o nosso compromisso caritativo junto aos mais frágeis e necessitados, também promovendo ações inovadoras, sem esquecer a formação dos nossos operadores, quer profissional como espiritual".

Mas o é também o Líbano, "atingido pelo colapso do sistema financeiro, pela crise socioeconômica e pela explosão do porto de Beirute", onde se faz urgente "um forte compromisso não só para a reconstrução, mas também para o sustento das escolas católicas e dos hospitais, dois pilares da presença cristã no país e em toda a região”.

As quatro sessões do encontro - situação político-diplomática; a Igreja na Síria e no Iraque; a questão do retorno e dos migrantes e pessoas deslocadas; e agências católicas: da emergência ao desenvolvimento - foram pontuadas por intervenções e debates.

A primeira foi aberta pelo arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados, que traçou um resumo da situação sócio-política no Oriente Médio, em particular no que diz respeito ao Iraque, Síria, Líbano, Turquia e Jordânia. Diante das "tensões e conflitos" que atravessam a Região, o prelado manifestou a esperança de que os "recentes acordos de Abraão" possam favorecer "uma maior estabilidade"; e que os vários desafios no terreno, "desde os humanitários até os políticos", sejam "enfrentados com sinceridade e coragem".

“Cada vez que as dioceses, as paróquias, as associações, os voluntários ou simples indivíduos trabalham para apoiar os abandonados ou necessitados - concluiu Dom Paul Richard Gallagher, assegurando o constante empenho da Santa Sé pela paz - o Evangelho adquire uma nova força de atração".

Neste contexto, o cardeal Mario Zenari, núncio Apostólico na Síria, ofereceu, mais uma vez, o seu testemunho pessoal sobre as consequências humanas e materiais da crise no país, um drama que, segundo fontes das Nações Unidas, ainda atinge 11 milhões. pessoas que necessitam de assistência.

A situação das comunidades cristãs residentes nos países afetados pela guerra esteve no centro do pronunciamento do cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais. Diante da "ferida" da emigração, que atinge sobretudo os jovens, o purpurado fez votos que seja feito todo o possível para evitar um "Oriente Médio monocromático que em nada refletiria sua rica realidade humana e histórica". Nesta vasta região existem homens e mulheres que desejam “regressar à própria terra” para “reconstruir seus sonhos”, também aproveitando as possíveis oportunidades da crise existente.

“Os cristãos são chamados, como todos os cidadãos - acrescentou o cardeal Leonardo Sandri - a contribuir para o nascimento de uma nova Síria, um novo Iraque, de acordo com a própria identidade consagrada nos princípios da não violência, do diálogo, do respeito pela dignidade humana, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, pluralismo, democracia, cidadania, Estado de direito, separação entre religião e Estado”.

A questão dos migrantes e pessoas deslocadas foi abordada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi.

A concluir o encontro, refletindo sobre o papel das agências católicas e como elas podem promover a transição da fase de emergência para a do desenvolvimento integral, o cardeal Peter K.A. Turkson, prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, e o secretário-geral da Caritas Internationalis, Aloysius John.

O purpurado sublinhou como “é necessário dar às pessoas um sinal de esperança concreta, para permitir a elas que regressem aos seus respectivos países e poder viver em segurança”. O secretário-geral da Caritas Internationalis, por sua vez, descreveu a ajuda material que a Organização oferece "para apoiar, acompanhar e defender" as "vítimas inocentes" dos conflitos, especialmente um "grande número de minorias cristãs que são as mais vulneráveis​​". Um compromisso que não se limita a uma simples resposta diante da emergência, mas é também um acompanhamento para o futuro, para a autonomia e para uma vida digna.

São três as propostas da Caritas Internationalis: a revogação imediata das sanções, para aliviar o sofrimento da população local e permitir que as organizações humanitárias respondam às necessidades urgentes relacionadas com a aproximação do inverno e a pandemia de Covid-19; um aumento dos recursos financeiros a serem alocados para programas de ajuda para reconstruir o tecido social e responder às necessidades das comunidades locais; um maior apoio aos programas de organizações da sociedade civil que visam fornecer ajuda humanitária e promover a reabilitação e o desenvolvimento.

Vatican News

Por que a cristandade europeia foi tão importante para a fé

María Paola Daud | Aleteia
por Thomas Storck

O florescimento de uma cultura autenticamente cristã não aconteceu por acidente.

Hilaire Belloc é famoso (ou infame, para alguns) por uma afirmação de seu livro “A Europa e a Fé”: “A fé é a Europa e a Europa é a fé” [1].

É claro que Belloc, como qualquer homem inteligente, sabia muito bem que esta afirmação não era literalmente verdadeira, pelo menos não no sentido estatístico: havia milhões de católicos fora da Europa e milhões de não católicos na Europa. Este é o caso ainda hoje, inclusive mais do que quando Belloc escreveu. Mas existe um sentido em que essa afirmação é verdadeira: a Europa é o lugar em que, por providência de Deus, a fé teve tempo e espaço para se desenvolver intelectual e culturalmente até formar a cristandade, o sinal externo e visível do trabalho interno e invisível de Deus nas almas humanas.

Embora a órbita cultural da Igreja tenha incluído originalmente partes da África e da Ásia, e apesar de muitos dos primeiros e mais importantes Padres e teólogos da Igreja serem do norte da África ou do Oriente Médio, essas áreas foram até certo ponto cortadas do contato com o resto do mundo católico depois das invasões maometanas.No caso da África setentrional latina, a Igreja acabou por desaparecer de todo. A Europa se tornou, assim,o único lugar onde, mesmo em meio a muitas dificuldades, a vida católica pôde se desenvolver de forma mais ou menos natural e própria. É correto dizer, neste sentido, que “a fé é a Europa e a Europa é a fé”, porque foi somente no Velho Continente que a vida social e cultural católica teve a chance de amadurecer, dando ao continente uma unidade cultural que provavelmente não teria se constituído sem a cristandade.

Expressão cultural

Essa manifestação social e cultural exterior da fé católica sempre foi característica da Igreja. Salvo em casos de perseguição, o normal foi o estabelecimento de uma ordem social católica, a ponto de darmos por incontestável o número imenso de expressões intelectuais, literárias, artísticas, musicais, arquitetônicas e de outras manifestações da fé católica que nasceram dentro da cristandade. Mas há um elemento adicional e quase sempre necessário nesta expressão externa da fé: o aspecto político. Desde o reconhecimento inicial da Igreja pelo Imperador Constantino através do Edito de Milão, a Igreja católica desfrutou de uma relação complexa com os vários poderes políticos do mundo. Antes de Constantino, a Igreja era objeto de perseguição por parte do governo romano.

Com o Edito de Milão, porém, tudo mudou. O governo se tornou, em certo sentido, patrono e protetor da Igreja. Que esse vínculo teve um lado negativo, ninguém pode negar. Mas que foi o meio providencial para proteger a Igreja e permitir o desenvolvimento da civilização cristã é igualmente inegável. É desconcertante avaliar certas instâncias particulares dessa complexa relação com os poderes do mundo, relação muitas vezes positiva e negativa ao mesmo tempo.O necessário, considero eu, é evitar tanto a condenação integral dessa relação quanto o não reconhecimento ou a minimização dos seus aspectos negativos.

Ao avaliar os prós e contras da relação política que muitos governantes mantiveram com a Igreja ao longo dos séculos, devemos lembrar que, sem esse tipo de proteção,as culturas católicas dificilmente teriam conseguido se desenvolver. Deixo para abordar a situação contemporânea mais adiante; falando do passado, porém, até algumas centenas de anos atrás, os triunfos militares ou políticos de poderes anticatólicos acarretavam geralmente a perseguição contra a Igreja, a destruição das manifestações externas de vida católica e, muitas vezes, a morte lenta da fé na vida privada dos indivíduos.

Mártires

A célebre afirmação de Tertuliano de que “o sangue dos mártires é semente da Igreja” se mostrou verdadeira em vários contextos, mas não pode ser considerada um axioma aplicável acriticamente a todos os tempos e lugares. Nas terras conquistadas pelos muçulmanos ou nas partes da Europa que abraçaram o protestantismo, a Igreja foi submetida a diferentes graus e tipos de perseguição e, em alguns casos, o organismo católico foi reduzido a nada. Isto salienta que, qualquer que seja o dano provocado pela proteção do Estado à Igreja, continua sendo verdade que ela também proporciona o espaço necessário para que a Igreja e a vida católica existam e se desenvolvam. A triste situação da Igreja na Europa católica é tomada muitas vezes como “prova” de que, em última análise, a proteção oficial faz mais mal do que bem, mas, comparando-se a Europa latina de hoje com terras outrora católicas como a Escandinávia e a Ásia Menor, podemos concluir que mais de uma opinião é possível.

Houve na Europa cristã uma sucessão de poderes políticos que ofereceram esse patrocínio até o século XIX, embora de modo cada vez menos consistente à medida que os séculos passavam: o Império Romano, tanto ocidental quanto oriental; o Império Franco de Carlos Magno; a maioria dos reinos europeus durante a Idade Média; a Espanha dos Habsburgo, juntamente com o Sacro Império Romano, e, por último, a França. Durante esse tempo, é claro, a Igreja perdeu grandes partes da Europa na revolta protestante, quase ao mesmo tempo em que começava a expansão católica para o Novo Mundo e para partes da Ásia e da África.

América Latina

Necessariamente, a vida católica nessas regiões derivou da vida católica europeia. Em uma região, particularmente, houve tempo e recursos suficientes para a criação de uma verdadeira nova província da cristandade: a América Latina, onde surgiu uma cultura católica barroca, certamente transplantada da Europa em suas linhas principais, mas desenvolvida em um novo ambiente e entre novos povos.

Christopher Dawson escreveu:

“Nenhum lugar exibe a vitalidade e a fecundidade da cultura barroca melhor do que o México e a América do Sul, que experimentaram um rico florescimento de estilos regionais de arte e arquitetura, alguns com influência indígena considerável. Este poder da cultura barroca de assimilar influências exteriores é um dos seus traços característicos,que a distingue nitidamente da cultura e do estilo artístico do âmbito anglo-americano” [2].

Este poder assimilador do barroco espanhol foi tão grande que, no tocante à música,outro estudioso chegou a afirmar:

“É muito difícil, na Bolívia, no Peru e no Equador, separar os elementos musicais de origem indígena dos de tradição europeia… Os elementos das duas culturas se combinaram para formar unidades inseparáveis” [3].

A América Latina, por um lado, ofereceu espaço para o desenvolvimento cultural católico, mas, por outro, como todas as terras recém-descobertas ou colonizadas, continuou a depender política e intelectualmente da Europa.

Já na Europa, como observei antes, países importantes e cada vez mais poderosos tinham se desligado da unidade católica. A Inglaterra protestante, junto com a Holanda e,durante um tempo, com a Suécia, passou a ser a central europeia de destruição da civilização católica. Esses países se tornaram não só rivais políticos e militares das potências católicas, mas erigiram um modelo alternativo de vida cultural ocidental que tem exercido um poderoso apelo intelectual.

Estados Unidos

Os Estados Unidos se transformaram, posteriormente, na base mundial da cultura protestante. Belloc escreveu a respeito: “A força da cultura protestante encontra-se agora fora da Europa, nos Estados Unidos” [4]. Essas várias potências protestantes trabalharam para conquistar porções de territórios católicos no mundo todo, com o envio de missionários protestantes para a América Latina e outros países católicos.Eles têm contribuído para a destruição da fé e da cultura católica, mas, talvez mais significativo do que isso, têm oferecido um modelo alternativo de cultura ocidental que apela fortemente ao materialismo moderno. O crescente poderio e riqueza industrial deste modelo oferece argumentos espúrios a seu favor, resumidos por Belloc nas seguintes palavras:

“A Igreja Católica é falsa porque as nações de cultura católica têm decrescido de forma constante em riqueza material e em poder, contrastando com as nações de cultura anticatólica, ou, neste caso particular, de cultura protestante” [5].

Embora hoje em dia nem a Grã-Bretanha nem os Estados Unidos tenham qualquer interesse, como nações, na teologia protestante, ambos continuam se opondo reflexivamente aos interesses católicos ou a quaisquer remanescentes de cultura católica no mundo atual. Aliás, parte do sentimento anti-hispânico de tantos anglo-americanos, inclusive católicos, tem raiz no sentimento de superioridade cultural da civilização protestante.

Em termos gerais, a civilização protestante ainda existe hoje como força de apoio (não me refiro ao protestantismo como religião, mas à cultura protestante); já um poder católico, neste sentido, não existe. Com a exceção parcial e frágil de alguns países latino-americanos [6], a cultura da Igreja católica não têm verdadeiras propostas políticas hoje. No final do século XIX, o papa Leão XIII e outros pensadores católicos de vasta visão perceberam que a Igreja não poderia mais depender de príncipes católicos para garantir apoio externo. Tanto no campo cultural quanto no político, passaria a ser a massa do povo católico, residente cada vez mais em regimes democráticos e com voz em seus governos, quem constituiria o apoio externo da Igreja. E esse novo arranjo pareceu funcionar razoavelmente bem. O último terço do século XIX e a primeira metade do século XX foram um dos períodos mais brilhantes do pensamento e das letras católicas, da filosofia, dos esforços dos papas Pio X a Pio XII para concretizar o potencial da liturgia como escola de vida cristã. Apesar das interrupções causadas pelas duas guerras mundiais, o pensamento católico exerceu influência política em mais de um país;houve partidos políticos católicos, oficiais ou não; e alguns regimes se dedicaram, mais ou menos conscientemente, a realizar um programa católico de políticas públicas; mesmo nos países protestantes,a vida popular católica florescia em grande variedade de associações e instituições e os católicos chegaram a exercer considerável influência no processo político.

Infelizmente, na segunda metade do século XX, a Igreja infligiu a si mesma, de modo deliberado e incompreensível, um grave ferimento. Os documentos conciliares como tais, apesar de algumas ambiguidades, não são problemáticos; mas parece haver uma razoável percepção de que a condução do Concílio Vaticano II e, mais ainda, a sua aplicação e o pós-concílio provocaram um desastre pastoral, intelectual e institucional para a Igreja. Como resultado desse desastre, a vida católica popular que já existia foi destruída em grande parte. A cultura católica é muito mais ampla do que simplesmente a recepção dos sacramentos e da catequese,mas depende de elementos formais de vida católica,sem os quais ela não pode durar.

É difícil, assim, imaginar qualquer saída desta nossa situação atual, já que tanto o lado formal quanto o popular da vida católica foram afetados. Como podemos responder a esta situação em que a Igreja não goza do apoio de nenhum governo poderoso nem exerce um entusiasmo vasto e leal no povo católico? Em circunstâncias assim, como manter, alimentar e estendera Igreja e a vida católica?

Tradição

Infelizmente, as medidas que podem ser sugeridas para esse fim parecem muito inadequadas. Uma liturgia bela e historicamente enraizada; o cultivo deliberado de uma consciência da tradição intelectual católica, incluindo a ênfase na doutrina social da Igreja; escolas católicas novas ou restauradas em todos os níveis; educação popular constante através da mídia…Estes estão, para mim, entre os meios principais possíveis e com esperança de sucesso. Mas nenhum deles é fácil de desenvolver.Além disso, dos que já foram iniciados, muitos estão mais do que contaminados por influências externas:nos EUA, por exemplo, há contaminação vinda de compromissos fatais com a visão de mundo do liberalismo clássico por parte de católicos incapazes de distinguir entre a visão católica da ordem social e a visão do liberalismo clássico, simplesmente porque este último parece estar em desacordo com a trajetória de um liberalismo mais recente e, obviamente, prejudicial. Que ambas as formas de liberalismo estão enraizadas nos mesmos erros é coisa aparentemente impossível de entender para muitos.

Eu não tenho grandes esperanças para o futuro imediato. No longo prazo, não há dúvida nem deve haver medo, pois Jesus Cristo é a cabeça da Igreja e a Igreja é o seu Corpo Místico. Quanto tempo significa esse “longo prazo”? Seja pouco, seja muito, o fato é que não está em nossas mãos. Enquanto isso, o sucesso não deve ser a regra da nossa atividade, mas sim a fidelidade: fidelidade ao mandado que o Fundador deu à Igreja de sair para o mundo e pregar o Evangelho a toda criatura.

[1] Rockford: TAN, [1920] 1992, pág. 2.
[2]  The Dividing of Christendom; Garden City: Image, 1967, pág. 162.
[3]  Bruno Nettl, Folk and Traditional Music of the Western Continents; Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 2ª ed., 1973, pág. 191.
[4] The Two Cultures of the West, in Essays of a Catholic; Rockford: TAN [1931] 1992, pág. 244.
[5] Survivals and New Arrivals; Londres: Sheed & Ward, 1939, pág. 80.
[6] Quando a Argentina escolheu a data de 25 de março como Dia da Criança Ainda Não Nascida, para simbolizar a sua rejeição ao aborto, o presidente Carlos Menem escreveu aos chefes de Estado de todos os países latino-americanos,além de Espanha, Portugal e Filipinas, convidando-os a aderir. Ele observou que “as raízes históricas comuns dos nossos países nos unem não só em questões de linguagem, mas também na compreensão do homem e da sociedade baseada na dignidade fundamental da pessoa humana” (Catholic World News, 25/03/1999). É um eco do antigo status do mundo hispânico em seu papel de baluarte geopolítico do catolicismo.

Aleteia

Como os Reis magos, olhemos para os céus!

Guadium Press
O mês de dezembro nos convida a levantar a cabeça para o alto e contemplar as estrelas.

Redação (10/12/2020 09:22Gaudium Press) São Francisco de Sales ensina que as dificuldades da vida são vencidas olhando para o céu. À semelhança dos antigos navegadores que se guiavam mais pelas estrelas do que por mapas ou aparelhos, também o homem deve orientar-se pelas luzes celestes, mais do que pela inconstância ou violência das ondas.

A Igreja condena a astrologia e por isso não vamos cair aqui no erro de querer interpretar o movimento dos corpos celestes para dar-lhe algum significado. Porém, a alma contemplativa sabe ver na natureza reflexos do Criador e de sua Providência. Observando as maravilhas do mundo ao redor, somos convidados a pensar em Deus e em sua ação no curso da História.

Neste mês de dezembro, o último do conturbado ano de 2020, o céu está cheio de manifestações extraordinárias.

Primeiramente, um espetáculo aberto a todo o mundo: a chuva de meteoros Geminídeos. Chamado pelos especialistas de “rei das chuvas de meteoros”, o fenômeno será avistado entre os dias 13 e 14. Aqueles que estiverem em lugares mais escuros, poderão contemplar um chuvisco amarelo, verde e azul nos céus.

Já o segundo acontecimento celeste será privilégio de poucos, pois um eclipse solar total só acontece a cada 18 meses, e é visível em pequenas partes do globo. Desta vez, os galardoados serão os argentinos e os chilenos. O eclipse ocorrerá também no dia 14.

Por fim, perto deste triste Natal, no dia 21, contemplaremos um evento que nem sequer nossos bisavós ou tataravós puderam ver: Saturno e Júpiter parecerão estar quase próximos um do outro, fundindo-se numa única bola luminosa. É claro que a aproximação se dá apenas do nosso ponto de observação, ou seja, da Terra. Mas para os entusiastas das maravilhas do Universo, é um fenômeno raríssimo: a última vez que os dois planetas estiveram tão próximos foi em 1623!

O que estes acontecimentos celestes têm a ver conosco? Em que nos interessam estes fatos de cunho científico?

É conhecida a passagem do evangelho de São Mateus em que Jesus fala dos fatos que precederão os dias de aflição: sinais aparecerão no céu (Mt 24,29).

Nada de previsões apocalípticas ou milenaristas! Não. Mas sempre será verdade que Deus Se comunica ao homem através destes meios extraordinários. Ele faz brilhar no céu uma estrela, anunciando seu nascimento. Ele escurece de repente a terra em plena tarde, no dia do Calvário.

Também hoje Deus nos fala. Discreto, quase num sussurro, Ele nos convida a elevar as vistas para o céu no fim do trágico ano de 2020. O que Nosso Senhor quer nos dizer?

Carentes de verdadeiros líderes, homens fortes e crentes em Deus, fomos sacudidos neste ano por toda sorte de tempestades. Não há quem nos indique os rumos, e aqueles que tentam fazê-lo, parecem mais querer nos levar para o fundo dos mares do que nos conduzir ao porto da salvação. Enquanto uns nos impedem de se reunir para adorar a Deus, outros cruzam os braços e nada dizem. Ficamos, então, ao sabor das ondas, carentes de chefes.

Entretanto, como aos antigos navegantes, Deus nos convida a olhar para o céu, porque os astros nos guiarão. Ele não abandona seu povo. Cedo ou tarde, uma estrela brilhará nos céus do mundo para nos conduzir aos pés de Jesus, sob o olhar de Maria, como outrora aconteceu aos Reis magos.

Por Paulo da Cruz

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S. Gregório de Nissa: Vida de Macrina (Parte 2/3)

S. Gregório de Nissa
Veritatis Splendor

Basil morre depois de uma nobre carreira

Enquanto isso, Basil, o famoso santo, fora eleito bispo da grande igreja de Cesaréia. Ele promoveu Pedro à sagrada ordem do sacerdócio, consagrando-o em pessoa ao cerimonial místico. E desta maneira um avanço adicional em direção à dignidade [974 C] e à santidade foi feito em suas vidas, agora que a filosofia fora enriquecida pelo sacerdócio.

Oito anos depois disso, o renomado Basil partiu dos homens para viver com Deus, para a dor geral de sua terra nativa e de todo o mundo. Agora, quando Macrina ouviu as notícias sobre a calamidade em seu distante retiro, afligiu-se, de fato, na alma, por tão grande perda como ela não se sentiria por uma calamidade, pois como não ser levada ao sofrimento, que muitas vezes foi sentido até mesmo pelos inimigos da verdade?

Mas, como dizem, o teste do ouro somente acontece depois de várias fornadas, então, se qualquer impureza escapar à primeira fornalha, ele pode ser separado na segunda, e outra vez na última de todas quando a impureza do metal fundido puder ser removida ? consequentemente é mais acurado testar o ouro puro se a cada fornada não mostrar nenhuma impureza. Assim acontecia também no caso dela (de Macrina).

Quando seu nobre caráter fora testado  por essas difíceis aproximações de dificuldades, em cada sentido o metal de sua alma  provava ser puro e imaculado. O primeiro teste foi a perda do irmão (Naucratius), o segundo, a morte de sua mãe, o terceiro ocorreu quando a grande glória da família, o grande Basil, foi removido da vida humana. Assim ela permaneceu, como uma invencível atleta sem a sabedoria alquebrada pelo assalto dos infortúnios.

Gregório decide visitar sua irmã

No nono mês ou pouco mais tarde após este desastre, um sínodo de bispos reuniu-se na Antioquia, no qual também tomamos parte. E quando nos dispersamos, cada um indo para casa antes que o ano acabasse, então eu [976 A], Gregório, senti desejo de visitar Macrina. Pois um longo período transcorrera em que as visitas foram impedidas pela distração com os problemas que suportei, estando constantemente voltado para fora do meu país pelos líderes da heresia. E quando eu avaliei o tempo decorrido durante o qual as aflições nos impediram de encontrar-nos face a face, não menos que oito anos, ou muito próximo desse período, pareciam ter passado.

Agora, quando eu havia cumprido a maior parte da viagem e estava a um dia de distância, uma visão apareceu-me num sonho e encheu-me com ansiosas antecipações do futuro. Parecia-me que carregava relíquias de mártires em minhas mãos: um luz veio delas, tal como [976 B] vinda de um espelho claro quando é colocado voltado para o sol, de forma que meus olhos foram cegados pelo brilho dos raios. A mesma visão voltou-me ao espírito vividamente três vezes aquela noite. Eu não podia entender claramente o enigma do sonho, mas vi infortúnio para minha alma e observei cuidadosamente a fim de julgar a visão pelos acontecimentos.

Quando aproximei-me do retiro no qual Macrina levava sua vida angélica e celestial, perguntei, em primeiro lugar, a um dos servos sobre meu irmão, se estava em casa. Ele nos contou que este havia saído havia quatro dias, e entendi, o que de fato era o caso, que ele havia ido encontrar-nos por outro caminho. Então perguntei sobre a grande senhora. Ele disse que ela estava muito doente, e eu fiquei mais impaciente para continuar e completar o resto da viagem, por uma certa ansiedade e um medo premonitório do que estava vindo furtivamente [976 C] e me inquietando.

Gregório vem ao mosteiro e encontra Macrina em seu leito de morte

Mas quando eu cheguei ao verdadeiro mosteiro já havia rumores anunciando a minha chegada para a irmandade. Então toda a companhia de homens correu de seus cômodos para nos encontrar, porque era costume deles honrar os amigos indo encontrá-los. Mas a associação das virgens na ala feminina esperava modestamente na igreja pela nossa chegada.

Porém, quando as orações e as bênçãos haviam acabado, e as mulheres, depois de reverentemente inclinarem suas cabeças para recebê-las, retiraram-se para seus próprios aposentos, e nenhuma delas ficou conosco. Eu adivinhei a explicação: a abadessa não estava com elas. Um homem levou-me para casa onde estava a minha grande irmã, e [976D] abriu a porta. Então entrei naquela morada sagrada.

Encontrei-a terrivelmente aflita com sua fraqueza. Ela não estava deitada numa cama ou leito, mas no chão; um saco tinha sido estendido numa tábua e outra tábua apoiava sua cabeça, tão ideal como um travesseiro, sustentando os tendões de seu pescoço de maneira inclinada e segurando-o confortavelmente. Quando ela me viu próximo à porta, ela ergueu-se pelos cotovelos, mas não pôde vir encontrar-me. Sua força tinha sido drenada pela febre.

Mas, ao colocar suas mãos no chão e inclinar-se do estrado o máximo que podia, ela mostrou o respeito [978A] devido à minha posição. Então, ela levantou sua mão para Deus e disse: ?Este favor Vós também me concedeste, oh, Deus, e não privou-me do meu desejo, porque Vós comoveste o teu servo para visitar aquela feita pela Vossa mão.?

Temendo afligir o meu espírito, ela deteve seus gemidos e fez grandes esforços para ocultar, na medida do possível, a sua dificuldade para respirar. E de todas as maneiras  tentava ser alegre, tomando a precedência em uma em conversa amigável, e nos dando a oportunidade de fazer perguntas. Quando ao longo da conversação mencionou-se o grande Basil, minha alma entristeceu-se e meu rosto ficou abatido.

Mas estava ela tão longe de sentir a minha aflição [978 B], que tratou a menção ao santo como uma oportunidade ainda para uma filosofia mais elevada, discutindo vários assuntos, inquirindo sobre os problemas humanos e revelando na conversa o objetivo divino associado aos desastres. Além disso, discutiu sobre a vida futura.
 Como se ela estivesse inspirada pelo Espírito Santo, pareceu-me que minha alma, pelo auxílio de suas palavras, era elevada da natureza mortal e colocada no santuário celeste.

E assim como aprendemos na história de Job que o santo foi atormentado em todas as partes de seu corpo com desconfortos por causa da deteriorização de seus ferimentos, e mesmo dessa forma não permitiu que dor [978 C] afetasse o poder da sua razão, ao contrário, apesar das dores corporais, não diminuiu suas atividades nem interrrompeu os sublimes sentimentos de seu discurso, similarmente eu vi o caso desta grande mulher.

A febre estava drenando-lhe as forças e conduzindo-a à morte, mas ela refrescava seu corpo como se ele estivesse com frescor e então mantinha sua mente desimpedida na contemplação das coisas celestes, de nenhuma maneira prejudicada por sua terrível fraqueza. E se minha narrativa não se estendesse por uma extensão inconsciente eu contaria tudo em ordem, como ela melhorava quando discursava para nós sobre a natureza da alma e explicava a razão da vida na carne, e porque o homem foi feito, e porque ele era mortal, e a origem da morte e a natureza da viagem da morte para a vida outra vez. Em tudo o que [978D] ela contava, sua história era clara e ordenada, como se inspirada pelo poder do Santo Espírito, e mesmo o fluxo da sua linguagem era como uma fonte cuja água fluía ininterruptamente.

Macrina dispensa Gregório para ele descansar

Quando nossa conversa havia acabado, ela disse: ?É hora, irmão, de descansares teu corpo por enquanto já que este está exausto com a grande labuta da tua viagem.?

E embora eu considerasse um grande e genuíno descanso encontrá-la e ouvir suas palavras nobres, ela queria tanto que tive de obedecer a minha senhora, encontrei uma bela árvore que me aguardava nos jardins vizinhos, e descansei à sombra do caminho das vinhas.

Mas era impossível ter algum sentimento de [980 A] satisfação quando meu espírito estava aflito com sombrias antecipações porque a visão secreta de meu sonho parecia agora estar revelada a mim pelo que vi. Pois a imagem que havia visto era de fato verdadeira ? as relíquias de um santo mártir que havia morrido em pecado, mas agora resplandecia com o  poder que residia no Espírito. Expliquei isto para um dos que me ouviram contar o sonho anteriormente.

Estávamos, como se pode supor, num estado desanimador, esperando tristes ocasiões quando Macrina de algum modo adivinhando o nosso estado de espírito, nos enviou um mensageiro com novidades mais animadoras, e solicitou-nos para ficar com boa disposição e ter melhores esperanças por ela porque estava sentindo uma mudança para o melhor. Isso não foi dito agora para enganar, mas a mensagem [980 B] era de fato verdadeira embora não soubéssemos naquele momento.

Pois na verdade, tal como um corredor que havia ultrapassado seu adversário e já se encontrava próximo do fim do estádio, tal como se ele se aproximasse do assento do juiz e visse a coroa da vitória, rejubila-se interiormente como se já houvesse atingido seu objetivo e anunciasse sua vitória aos seus simpatizantes, entre os espectadores ? em tal estado de espírito ela também nós dizia para dividir melhores esperanças para ela pois ela já olhava para o prêmio da chamada ao Céu, e tudo pronunciando as palavras do apóstolo: Daqui em diante está guardada para mim a coroa da justiça que o justo Juiz me dará porque eu lutei um bom combate, terminei o caminho, mantive a fé.?

De acordo, sentindo-nos felizes com as boas [980 C] novas, começamos a apreciar a visão que se colocavam ante nós. Elas eram muito variadas e os arranjos davam grande prazer na medida em que a grande senhora era cuidadosa mesmo nessas insignificâncias.

Gregório revê Macrina, que conta os acontecimentos de sua infância

Mas quando a vimos outra vez, pois ela não nos permitia passar o tempo sozinhos na ociosidade, começou a contar-nos sua vida passada, começando pela infância, e descrevendo tudo em ordem como numa história. Ela contou tanto o quanto podia lembrar-se da vida de nossos pais, e os acontecimentos que ocorreram antes e depois do meu nascimento.

Mas seu objetivo em todas as partes era a gratidão a Deus porque ela descrevia nossos pais não do ponto de vista da reputação que tinham aos olhos de seus contemporâneos devido às suas riquezas, mas como um exemplo da bênção divina.

Os pais de meu pai tiveram seus bens confiscados por serem cristãos. Nosso avô  materno [980 D] foi morto pela ira imperial, e todas as suas possessões transferidas para outros donos. No entanto, suas vida abundaram tanto na fé que ninguém era nomeado acima deles naqueles tempos. E além disso, depois que sua herança foi dividida em nove partes de acordo com o número de filhos, a parte de cada um aumentou tanto pela bênção de Deus que as rendas de cada filho excederam a prosperidade dos pais.

Mas quando chegaram à própria Macrina, ela não conservou nada das coisas que lhe foram atribuídas na divisão eqüitativa entre irmãos e irmãs, porém toda a sua parte foi entregue aos homens da Igreja de acordo com o mandamento divino. Além disso, sua vida tornou-se tal pelo auxílio divino que suas mãos nunca cessaram de trabalhar de acordo com o mandamento. Ela nunca procurou por ajuda de nenhum ser humano, nem a caridade deu-lhe a oportunidade de uma existência confortável.

Nunca os suplicantes foram em direção contrária, mas ela jamais apelou por ajuda, porém Deus secretamente abençoava as pequenas raízes dos seus bons trabalhos até que crescessem como uma poderosa fruta.

Como eu contasse minhas próprias dificuldades e tudo pelo que passei, primeiro meu exílio pelas mãos do Imperador Valenciano por causa da  fé, e depois a confusão na Igreja, que convocou-me para conflitos e julgamentos, minha grande irmã disse: ?Tu não cessarás de ser insensível às bênçãos divinas? Não remediarás a ingratidão da tua alma? Não compararás a tua posição com aquela dos nossos [982 B] pais?

E ainda, com relação às coisas do mundo, nós pudemos gabar-nos de sermos bem nascidos e pensar que viemos de uma família nobre. Nosso pai era muito estimado como jovem pelo seu conhecimento; de fato sua fama estabeleceu-se por todas as cortes de lei da província. Subseqüentemente, embora ele ultrapassasse a todos em retórica, sua reputação não se estendeu além de Ponto. Mas ele estava satisfeito em ter a fama em sua própria terra.?

?No entanto tu,? ela disse, ?é renomado em cidades, povos e países. Igrejas citam-te como um aliado e dirigente, e não vês a graça de Deus em tudo isso? Falhas em reconhecer a causa de tais bênçãos, que foram as preces de nossos pais, preces que agora estão elevando-te cada vez mais para cima, tu que tens uma pequena ou nenhuma capacidade para tal sucesso??

Assim ela falou, e desejei que a duração do dia se estendesse além, que ela nunca cessasse de encantar nossos ouvidos com a sua doçura. Mas a voz do coro estava nos convocando para o serviço noturno, e me enviando à igreja, (ficando) a grande dama mais uma vez isolada para rezar a Deus. E assim ela passou a noite.

Os acontecimentos do dia seguinte: as últimas horas de Macrina

Mas quando o dia raiou, estava claro para mim pelo que tinha visto que era o derradeiro limite da sua vida na carne já que a febre consumira toda a sua força. Porém, ela, considerando a fraqueza de nossas mentes, planejava como nos distrair de nossas tristes antecipações, e mais uma vez com aquelas suas lindas palavras dissipou o que havia do sofrimento de seu espírito com [982 D] uma curta e difícil respiração.

Muitas, em verdade, e variadas foram as emoções de meu coração com o que vi. Porque a natureza estava me afligindo e me fazendo triste, apenas como era esperado já que eu não podia mais ter esperanças de ouvir tal voz outra vez. Nem estava ainda reconciliado com o pensamento de perder a glória comum da nossa família, mas minha mente, como se inspirada por esse espetáculo, imaginou que ela realmente ficaria acima da sorte comum.

Pois mesmo no seu último suspiro não encontrou nada a duvidar na esperança da Ressurreição, nem mesmo temeu a partida desta vida, mas com a mente elevada continuou a discutir até o seu último suspiro as convicções que havia formado desde o início sobre esta vida ? tudo isso me pareceu mais que humano. Mais parecia como se algum anjo tivesse adquirido a forma humana com um tipo de encarnação para quem isso não era nada [984]. Um estranho para quem a mente permaneceria sem perturbação uma vez que não tinha nenhum parentesco ou apego por essa vida da carne, e então a carne não levava a mente a pensar nas suas aflições.

Portanto, acho que ela revelou para os circunstantes aquele divino e puro amor pelo noivo invisível, que ela mantinha escondido e alimentado em locais secretos da alma, e proclamou a secreta disposição do seu coração de correr em direção a Ele, a quem desejava, aquele com quem ela poderia rapidamente estar, livre das correntes do corpo. Porque em toda a verdade seu caminho foi dirigido em direção à virtude e nada mais poderia alterar a sua atenção.

A prece de morte de Macrina

[984 B] A maior parte do dia havia agora passado, e o sol estava declinando em direção ao oeste. Sua ânsia não diminuiu, mas ao aproximar-se de seu fim, como se discernisse a beleza do Noivo mais claramente, apressou-se em direção ao Amado com grande avidez.

Tais pensamentos ela proferiu, não mais para nós que estávamos presentes, mas para Ele em pessoa a quem fitava fixamente. Seu leito foi virado em direção ao leste; e cessando de conversar conosco, falou dali em diante para Deus em oração fazendo súplicas com as mãos e sussurrando com uma voz baixa, de forma que nós podíamos apenas ouvir o que era dito. Tal era a sua prece; não temos dúvidas que atingiu [984C] Deus, e que ela, também, estava ouvindo a Sua voz:

?Vós, Oh Senhor, nos libertastes do medo da morte. Vós fizestes o fim desta vida o começo para nós da verdadeira vida. Por uma estação descansastes nossos corpos no sono e acordastes-nos de novo na última trombeta. Destes nossa terra, que ocupastes com vossas mãos para manter a terra em segurança. Um dia tirareis de novo o que houvestes dado, transfigurando com imortalidade e graça nossos repugnantes e mortais traços. Salvastes-nos da maldição e do pecado, tendo tornado ambos para nossa causa.

Quebrastes as cabeças do dragão que se apoderou de nós com suas mandíbulas, no abismo escancarado (aberto) pela desobediência. Mostrastes-nos o caminho da ressurreição, quebrando os portões do inferno, e arruinou quem tem poder na morte ? o diabo. Destes um sinal para aqueles que vos temem no símbolo da Cruz Sagrada, [984 D] para destruir os adversários e salvar nossas vidas. Oh, Deus eterno, a quem estive ligada desde o ventre de minha mãe, Aquele a quem minha alma amou com todas as suas forças, Aquele a quem dediquei minha carne e meu espírito, da juventude até agora ? destes-me um anjo de luz para conduzir-me para o lugar de refrescamento, onde é a água do repouso, no seio dos Pais Sagrados. Vós que quebraste a espada flamejante e restaurastes para o Paraíso o homem que foi crucificado convosco e implorou vossos perdões, lembrai-vos de mim, também, em vosso reino; porque eu também fui crucificada convosco, tendo pregado minha carne na cruz por medo de Vós, e de Vossos julgamentos tive medo.

Não deixeis que o terrível abismo me separe de vossos eleitos. Não deixeis [986 A] o caluniador postar-se contra mim no caminho; nem deixeis meus pecados serem encontrados ante Vossos olhos, se em qualquer coisa pequei em palavra ou ação ou pensamento, deixei perdido pela fraqueza da nossa natureza. Oh Vós que tem o poder na terra para perdoar os pecados, perdoai-me para que eu seja revigorada e possa ser encontrada diante Vós quando eu abandonar meu corpo, sem manchas em minha alma. Mas possa a minha alma ser recebida em Vossas mãos pura e imaculada, como um oferecimento diante Vós.?

Quando disse estas palavras, ela selou seus olhos, boca e coração com a cruz. E gradualmente, sua língua calou-se com a febre, não pôde mais articular palavras, e sua voz desvaneceu-se, e somente pelo tremor de seus lábios e o mover de suas mãos, percebíamos que estava rezando.

Enquanto isso a noite chegou e uma lamparina [986 B] foi trazida. Imediatamente ela abriu a órbita de seus olhos e olhou em direção à luz, claramente desejando repetir a oração de ação de graças ao acender das luzes. Mas sua voz falhou e ela preencheu sua intenção no coração e pelo mover de suas mãos enquanto seus lábios movimentavam-se em simpatia com seu desejo interior.

Mas quando ela terminou o agradecimento, e sua mão voltou-se para o rosto para fazer o sinal que significava o fim da prece, deu um último e profundo suspiro e fechou juntamente sua vida e sua prece.

Gregório realiza os últimos ofícios

[986 C] E agora que ela estava sem respirar e quieta, lembrando a ordem que ela havia dado em nosso primeiro encontro, dizendo-me que ela desejava suas mãos postas nos olhos, e que os ofícios costumeiros do corpo fossem feitos por mim, eu coloquei suas mãos, entorpecidas pela doença, em sua face santificada, para que não parecesse que eu negligenciava o seu pedido. Pois seus olhos não necessitavam nada para compô-los, estando cobertos graciosamente pelas pálpebras, tal como acontece no sono natural. os lábios estava confortavelmente fechados e as mãos postas reverentemente sobre o peito, e todo o corpo tinha automaticamente ficado na posição correta, e de forma alguma precisavam da ajuda de assentadores.

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Papa Francisco: Todos devemos contribuir ao respeito pelos Direitos Humanos

Imagem referencial. Papa Francisco no Vaticano.
Foto: Daniel Ibáñez / ACI Prensa

Vaticano, 10 dez. 20 / 10:21 am (ACI).- O Papa Francisco indicou que “cada um é chamado a contribuir com coragem e determinação ao respeito dos Direitos Humanos fundamentais de cada pessoa”.

Assim indicou o Santo Padre em 10 de dezembro, por ocasião do 72º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH), adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, em Paris.

Em mensagem enviada por meio de sua conta oficial no Twitter @Pontifex_pt, o pontífice recordou o ensinamento de Jesus na passagem do Evangelho de São Mateus ao capítulo 25 para destacar a importância de respeitar os direitos humanos das pessoas "invisíveis", isto é, de "quem tem fome e sede, quem está nu, doente, estrangeiro ou detido".

Cada um é chamado a contribuir com coragem e determinação ao respeito dos #DireitosHumanos fundamentais de cada pessoa, especialmente daquelas "invisíveis": de quem tem fome e sede, quem está nu, doente, estrangeiro ou detido (Mt 25,35-36).

O texto do Evangelho comentado pelo Papa Francisco refere-se ao ensinamento de Jesus sobre o Juízo Final (São Mateus 25,34-40) no qual as pessoas justas herdarão o Reino que “vos foi preparado desde o início do mundo” porque deram de comer ao faminto, de beber ao sedento, acolheram o peregrino, vestiram a quem estava nu, visitaram os doentes e os presos.

Em 25 de novembro, o Santo Padre também escreveu que é necessário que todos "façam muito mais pela dignidade de cada mulher", pois as mulheres são muitas vezes "ofendidas, espancadas, violentadas, levadas à prostituição".

Nesse sentido, em 1º de janeiro de 2020, o Papa rejeitou a violência sofrida por muitas mulheres no mundo e destacou que “toda a violência infligida à mulher é uma profanação de Deus”.

Na ocasião, o Santo Padre lamentou que as mulheres "sejam continuamente espezinhadas, espancadas, violentadas, obrigadas à prostituição e a privar a vida que trazem no seio”.

Da mesma forma, em 10 de dezembro de 2018, o Santo Padre incentivou ir contracorrente para proteger os direitos humanos no mundo e citou “os nascituros aos quais são negados o direito de vir ao mundo, naqueles que não têm acesso aos meios indispensáveis para uma vida digna, nos que são excluídos de uma educação adequada, naqueles que são injustamente privados do trabalho ou forçados a trabalhar como escravos, nos que estão detidos em condições desumanas, nos que sofrem torturas ou não têm a possibilidade de se redimir, nas vítimas de desaparecimentos forçados e suas famílias”.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF