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domingo, 26 de fevereiro de 2023

A antiga história de Nabot se repete cotidianamente (3/3)

Abel assassinado pelo seu irmão Caim. Catedral de Monreale (século XII), Palermo, Itália

Arquivo de 30Dias – 04/2009

A antiga história de Nabot se repete cotidianamente

Assim inicia Santo Ambrósio a sua obra De Nabuthae, que toma o nome do mísero que contrariou o então potente do trono.

O retrato mais antigo de Santo Ambrósio, que remonta ao séc. V. Detalhe do mosaico da Capela de São Vítor, na Basílica de Santo Ambrósio em Milão

de Lorenzo Cappelletti

A herança de Cristo

Mas “o pobre e glorioso Nabot”, como o chama o artigo de L’Osservatore Romano citado acima, é também alguma outra coisa, ou melhor, é também alguma outra coisa. Nabot não é apenas a imagem do pobre de Israel. Na sua recusa de ceder a vinha (“O Senhor me livre de ceder-te a herança dos meus pais”), Nabot é também a imagem do guardião do depositum fidei. Durante a batalha que o opôs aos arianos, Ambrósio lembrava Nabot a respeito deste propósito: “O santo Nabot defendeu as suas vinhas mesmo com o preço do seu sangue. Se ele não cedeu/traiu (non tradidit) a sua vinha, nós cederemos a Igreja de Cristo? [...] Se ele não cedeu a herança dos pais, eu cederei a herança de Cristo? Longe de mim ceder a herança dos pais, ou seja de Dionísio que morreu no exílio por causa da fé, a herança de Eustórgio, a herança de Mirocle, e de todos os santos bispos precedentes. A minha resposta foi a de um bispo; o imperador que faça o que está em poder de um imperador. Poderia me tirar a vida antes que a fé” (Lettera 75a, ou seja Contra Auxentium de Basilicis do ano 386).
Dois sucessores de Ambrósio, que depois subiram ao trono de Pedro, quiseram imitar o santo bispo de Milão na guarda da vinha do Senhor, que é juntamente a guarda do pobre e do depositum fidei: Pio XI (Achille Ambrogio Damiano Ratti) e Paulo VI (Giovanni Battista Montini). Ambos, como Ambrósio, homens de vasta cultura, ambos provenientes de ricas famílias, ambos levantando a voz como pobres e para os pobres, ambos com condições de fazer política sem objetivo político. Ambos lembraram Santo Ambrósio em seu magistério social. Pio XI – que, na Quadragesimo anno, relevou com os tons proféticos do santo doutor que “à liberdade do mercado subentrou a hegemonia econômica, à avidez do lucro seguiu-se a desenfreada ambição de predomínio e toda a economia se tornou horrendamente dura, cruel, atroz”; e que única era a fonte donde jorrava” de um lado o nacionalismo ou o imperialismo econômico; do outro não menos funesto e execrável o internacionalismo bancário ou imperialismo internacional do dinheiro, cuja pátria é lá onde está o lucro” – abria esta encíclica “seguindo a advertência de Santo Ambrósio que dizia ‘não haver algum dever maior do que o de agradecer’”. Segundo aquele convite constante à oração (não tinha dito Santo Ambrósio “rezeis, vós que possuís apenas isso, coisa que é mais preciosa do que o ouro e a prata”?) que não é o último motivo de tocante consolação quando se lêem os outros seus documentos sociais: a pequena e comovente Impendent Charitas, que implora, na Festa dos Anjos da Guarda de 1931, de vir ao encontro dos sofrimentos dos menores ao aproximar-se de um inverno de fome; a não muito mais extensa Charitate Christi compulsi, de maio do ano seguinte, encíclica social toda dedicada à oração e às obras de penitência: “E qual objeto poderia ser mais digno da nossa oração e mais correspondente à pessoa adorável d’Aquele que é o único ‘Mediador entre Deus e o homem, o homem Jesus Cristo’, do que implorar a conservação na terra da fé no único Deus vivo e verdadeiro?”.
Paulo VI, que se possível era ainda mais conforme ao grácil e culto Ambrósio, quis se referir precisamente ao seu De Nabuthae no número 23 da Populorum progressio: “Sabe-se com qual firmeza os Padres da Igreja esclareceram qual deveria ser o comportamento daqueles que possuem para com aqueles que são necessitados: ‘Não é dos teus bens’, diz Santo Ambrósio, ‘que fazes dons ao pobre; tu não fazes que devolver aquilo que os pertence. Pois te aproprias daquilo que é dado em comum para o uso de todos. A terra é dada a todos, e não apenas aos ricos’. É como dizer que a propriedade privada não constitui para ninguém um direito incondicionado e absoluto. Ninguém está autorizado a reservar para seu uso exclusivo aquilo que supera a sua necessidade, quando aos outros faltam o necessário. Numa palavra, ‘o direito de propriedade não deve jamais ser exercitado em detrimento da utilidade comum, segundo a doutrina tradicional dos Padres da Igreja e dos grandes teólogos’. Onde houver um conflito ‘entre direitos privados adquiridos e exigências comunitárias primordiais’, deve o poder público ‘preocupar-se em resolvê-lo, com a participação ativa das pessoas e dos grupos sociais’”.
Havia uma vez homens pobres e gloriosos...

Fonte: http://www.30giorni.it/

Jacó, o abençoado

Jacó, o abençoado | revistaavemaria

JACÓ, O ABENÇOADO

Pe. Nilton Cesar Boni, cmf

A narrativa histórica de Jacó está em Gênesis, dos capítulos 27 a 37, e não é fácil de ser interpretada, pois está cheia de contradições.

Etimologicamente, Jacó significa “o segurará pelo calcanhar”. Ele era filho de Isaac com Rebeca e sua mãe orquestrou um plano para que tomasse o lugar de seu irmão gêmeo Esaú na progenitura e fosse abençoado antes. No entanto, com a descoberta da fraude, Esaú decide matá-lo. Para que não se cometesse mais um fratricídio a exemplo de Caim e Abel, sua mãe pediu a Jacó que fugisse para a casa de Labão. No caminho, Jacó teve um sonho e pela primeira vez encontrou o Senhor, que lhe dirigiu um chamado especial: “Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai e o Deus de Isaac; darei a ti e à tua descendência a terra em que estás deitado. Tua posteridade será tão numerosa como os grãos de poeira no solo. Estou contigo, para te guardar onde quer que fores, e te reconduzirei a esta terra, e não te abandonarei sem ter cumprido o que te prometi” (Gn 28,13-15).

Antes desse sonho, Jacó não tinha nenhuma importância, era apenas o neto de Abraão e estava inserido no contexto da aliança e da promessa. Deus invadiu o sono de Jacó e se manifestou. Deus foi misericordioso com Jacó mesmo nos conflitos com a família e foi preparando a volta do patriarca para Canaã e a reconciliação com seu irmão, Esaú.

Jacó percorre um caminho de lutas e acertos. Na sua noite escura de oração e encontro com o Senhor, entende que sua vocação é formar o povo de Deus. Na mudança de nome de Jacó para Israel (“aquele que luta com Deus”), assume a nova identidade a serviço do povo. A experiência de ser abençoado é a garantia de que sua vida tem um sentido e sua missão é guiada por aquele que o transformou.

Podemos dizer que Jacó representa o arquétipo das pessoas que durante a vida lutam com Deus em busca de respostas e, mesmo nas penas e revoltas, o Senhor não desistiu de amá-lo, assim como não nos deixa sozinhos.

Deus tem um propósito para cada um de seus filhos e fará de tudo para assegurar sua bênção, mesmo que a liberdade humana escolha caminhos errados que afastam da graça. O Pai amoroso tratará de resgatar os perdidos, dando-lhes uma nova identidade e a posse de um novo horizonte. Deus vai trabalhando no coração, lapidando-o até o momento do encontro com o passado e a reconciliação plena que culminará em outro ritmo existencial.

“Nós também, como Jacó, somos mendigos de bênçãos. Mas hoje corremos o risco de perder a capacidade espiritual de compreender que as grandes bênçãos se escondem dentro das feridas feitas na carne das nossas relações. ‘Jacó chegou são e salvo à cidade de Siquém, na terra de Canaã (Gn 33,18)’” (Luigino Bruni, O perdão é luta abençoada).

As lutas de Jacó desencadearam a formação do povo de Israel. Sua numerosa descendência (doze filhos) formou as doze tribos, encerrando o tempo dos patriarcas bíblicos e abrindo o tempo das novas comunidades.

Fonte: https://revistaavemaria.com.br/

Papa manifesta sua proximidade às vítimas das chuvas em São Paulo

Papa Francisco | Vatican News

59 pessoas morreram e dezenas ainda estão desaparecidas. Francisco garante sua oração e dirige palavras de afeto às vítimas.

https://youtu.be/MXlIXfZk-mw

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

“Faço chegar minha proximidade, faço chegar a certeza da minha oração. Que Deus os abençoe muito e que Jesus os acompanhe e os console. E que a Virgem os proteja.”

Com estas palavras e sua bênção, o Papa manifestou sua proximidade às vítimas das chuvas no litoral norte de São Paulo. 59 pessoas morreram e ainda há desaparecidos.

A mensagem foi gravada na manhã desta sexta-feira (24/02) na audiência aos moderadores de Movimentos e novas Comunidades. Estavam representados o movimento dos Focolares, Shalom, Novos Horizontes, Emanuel e Fazenda da Esperança.

Foi justamente frei Hans Stapel quem pediu a mensagem a Francisco em vista de um evento que ocorrerá amanhã (25/02) em Aparecida.

Trata-se do show beneficente no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, no Santuário Nacional, com o Padre Alessandro Campos.

O objetivo é arrecadar fundos para o Hospital Maternidade Frei Galvão - uma iniciativa do projeto + Visão + Esperança e a Fazenda da Esperança.

Eis os dados para quem puder ajudar:

Hospital Maternidade Frei Galvão Frei Galvão 

CNPJ 51.612.828/0001-31

Banco Bradesco 

Ag 0415

Cc 068069-9

Chave pix celular 

12981701302

Brasil: cinemas abrem pré-venda de ingressos para “Coração de Pai”

corazondepadre.es

Documentário sobre São José será exibido nos dias 4, 6 e 7 de março em mais de 100 salas pelo Brasil.

Os devotos de São José já podem comemorar e garantir seu lugar no cinema para assistir ao documentário “Coração de Pai”, que será exibido em mais de 100 salas em todo Brasil, nos dias 4, 6 e 7 de março. As redes Cinemark e Kinoplex já estão com pré-venda de ingressos para o filme.

Para quem participa de comunidades, movimentos da Igreja ou pastorais, vale muito à pena organizar uma turma para ir ao cinema. Os benefícios são muitos! Desde a companhia dos amigos até os descontos, que chegam a 50% do valor da bilheteria do dia. Lembrando que, neste caso, para ter direito à meia-entrada, é necessário formar um grupo com, pelo menos, 30 pagantes.

A seguir, confira as cidades com pré-vendas liberadas. O link direciona para a página da rede de cinema.

CINEMARK (DIAS 4,6 E 7 DE MARÇO): Aracaju / Barueri / Belo Horizonte / Betim / Bragança Paulista / Brasília / Campinas / Campo Grande / Cuiabá / Curitiba / Florianópolis / Foz do Iguaçu / Goiânia / Guarulhos / Londrina / Natal / Niterói / Osasco / Porto Alegre / Recife / Ribeirão Preto / Rio de Janeiro / Salvador / Santo André / Santos / São Caetano do Sul / São José dos Campos / São José dos Pinhais / São Paulo / Taguatinga / Taubaté / Uberlândia / Varginha / Vila Velha

https://www.cinemark.com.br/filme/coracao-de-pai-sao-jose

KINOPLEX (6 E 7 DE MARÇO): Brasília / Campinas / Campo Grande / Fortaleza / Goiânia / Maceió / Manaus / Rio de Janeiro / São Paulo.

https://www.kinoplex.com.br/filmes/sinopse/coracao-de-pai-sao-jose/4714

Confira outros cinemas e regiões em: coracaodepai.com.br

Produzido pela Goya Producciones e filmado em diversos países, “Coração de Pai” traz testemunhos de pessoas que foram agraciadas com a intercessão do santo, recebendo milagres que passam por curas impossíveis, recomposição de matrimônios desfeitos e conversões radicais.

A distribuição no Brasil acontece pelas mãos da Kolbe Arte, que vem se consolidando no país por trazer e promover produções com temáticas de interesse do público católico. Entre elas estão “Madre Tereza: Amor Maior Não Há”, “O Santo de Todos – A vida e missão de Santo Antônio Maria Claret” e “Purgatório”.

“Coração de Pai” é o terceiro filme de uma trilogia que inclui “Coração Ardente” – também distribuído pela Kolbe Arte – e “Fátima – o último mistério”.

Sinopse

O documentário “Coração de Pai” é uma viagem em busca dos vestígios de São José. Em aproximadamente um ano de pesquisa, foram selecionados depoimentos atuais e extraordinário de pessoas simples, marcadas pela ação do santo em suas vidas.

O percurso levou a lugares pouco conhecidos, como Cotignac na França ou Tuscania na Itália, onde São José apareceu no passado. Na Espanha comprovou-se a presença especial de São José em Toledo, em Ávila e em Barcelona, onde as filmagens aconteceram tanto no templo da Sagrada Família, como no Santuário de São José da Montanha.

O documentário destaca a especial ‘ação’ de São José em nossos dias, justificada pela atual crise da figura paterna e pela necessidade de reconstruir a unidade familiar. A figura do Patriarca tem sido fortalecida pelos últimos Papas, desde Pio IX, que o nomeou Patrono da Igreja, até Francisco, que declarou 2021 como o Ano Jubilar de São José. Francisco revelou que coloca aos pés de sua imagem pedacinhos de papel com as intenções que lhe são confiadas.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Reflexão para o I Domingo da Quaresma (A)

Evangelho do domingo | Vatican News

No Evangelho, Jesus, o Homem Perfeito, a verdadeira imagem do Pai, vence o Mal ao manter-se submisso ao Pai e mostrar-se um homem livre.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

Começamos a Quaresma com um texto que nos possibilita refletir sobre o projeto de Deus a respeito do ser humano. O livro do Gênesis nos apresenta o homem sendo criado como o ponto alto de toda a criação, como imagem e semelhança de Deus. Exatamente por isso ele deverá proceder como superior a tudo e não se deixar influenciar por nenhuma qualidade de qualquer coisa criada, deverá permanecer sempre livre!

É nesse exato momento que entra o a perversão do Mal ao provocar no homem o forte e imperioso desejo de experimentar a fruta proibida, ao ponto de apequenar-se  cedendo às  qualidades olfativas e visuais da fruta em detrimento da orientação do Criador.

Foi o primeiro ato em que o ser humano demonstrou que abria mão de sua liberdade para satisfazer seus instintos, sua curiosidade e, tragicamente, querer ser igual a Deus. Deixou de se reconhecer criatura, homem, vindo da terra, do humus e querendo, com seu próprio poder chegar a ser onipotente. O ser humano trocou a humildade pela soberba, eis o primeiro pecado.

No Evangelho, Jesus, o Homem Perfeito, a verdadeira imagem do Pai, vence o Mal ao manter-se submisso ao Pai e mostrar-se um homem livre. Não será a comida, a satisfação de suas necesidades biológicas que irá submetê-lo às propostas do Mal; nem a tentação do orgulho, da vaidade, do ser renomado, do ser famoso, do prestígio irá fazê-lo aceitar a imposição de Satanás e nem a sedução do poder o derrotará em sua fidelidade ao Pai.

Para nós, a ação de Jesus, sua postura, nos interpela quando em nossa vida somos tentados a satisfazer nossas necessidades naturais, nossos desejos de prestígio e nossa sede de poder. Olhemos para o Homem Perfeito, a Imagem Visível do Deus Invisível, e suas respostas serenas às perturbadoras tentações.

No trecho da Carta aos Romanos, São Paulo nos fala sobre os modos de vida de Adão e de Cristo. O primeiro, como vimos no início de nossa reflexão, mostrou-se fraco. Contudo, essa debilidade foi herdada por todos nós, seus descendentes. Somos conscientes de que titubeamos e fracassamos diante das tentações.

Em Cristo temos exatemente a realização da vocação da natureza humana, ser superior a tudo sendo imagem de Deus, sendo livre!

Mais ainda, não podemos comparar a graça de Deus ao pecado de Adão, nos fala o Apóstolo. Se “pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida em uma situação de pecado, assim também, pela desobediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça”, que é ser plenamente livre e plenamente unida a  Deus.

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Ator Mark Wahlberg dá entrevista poderosa: “Eu não nego a minha fé”

Today | Youtube
Por Cerith Gardiner

Protagonista do filme "Padre Stu" se declara entusiasmado com a Quaresma deste ano.

O popular ator e produtor norte-americano Mark Wahlberg concedeu nesta semana uma entrevista ao portal Today, na qual falou sobre a Quarta-Feira de Cinzas e testemunhou a sua própria vivência da fé católica, do jejum e de como ajudar os filhos na relação com Deus. Wahlberg, aliás, é pai de quatro crianças.

A entrevista aconteceu na própria Quarta-Feira de Cinzas e foi chamativo observar que o ator já tinha ido à Missa naquela manhã antes mesmo do início do programa – que começa cedo.

Mais impressionante ainda foi assistir à abordagem apaixonada do ator no tocante à fé. De fato, quando questionado sobre a importância da fé na sua vida, Wahlberg reagiu com visível espontaneidade ao declarar: “Ah, é tudo!”.

O ator afirmou que não quer impor a sua fé aos outros, mas também não está disposto a negá-la. É um testemunho particularmente revigorante no mundo de Hollywood, onde declarar-se abertamente católico pode comprometer a carreira de um artista. Por outro lado, Wahlberg se torna particularmente inspirador ao respeitar pessoas de todas as esferas da vida e da religião ao mesmo tempo em que vive a própria fé com liberdade.

O seu entusiasmo por Deus também é cativante – como no momento em que afirmou que tinha acordado na Quarta-Feira de Cinzas “com o mesmo entusiasmo do Natal”. No entanto, ele destacou que a nossa fé também implica “desafiar as pessoas a serem versões melhores de si mesmas” – e é nisto que a Quaresma pode chegar a nos “reiniciar” a cada ano.

Ao final da entrevista, Mark Wahlberg contou como encoraja os filhos a segui-lo na fé: “de uma forma natural”, guiada pelo exemplo; sem gerar pressão, mas provocando neles o desejo de praticar a religião.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

PREPARAÇÃO PARA O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO (2/6)

Matrimônio | Presbíteros

CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA

PREPARAÇÃO PARA O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

I

A IMPORTÂNCIA DA PREPARAÇÃO PARA O MATRIMÔNIO CRISTÃO

9. Ponto de partida para um itinerário de preparação para o matrimônio é o conhecimento de que o contrato conjugal foi assumido e elevado pelo Senhor Jesus Cristo, na força do Espírito Santo, a sacramento da Nova Aliança. Associa os cônjuges ao amor oblativo de Cristo Esposo pela Igreja, Sua Esposa (cf. Ef 5, 25-32) tornando-os imagem e participantes deste amor, faz deles um louvor ao Senhor e santifica a união conjugal e a vida dos fiéis cristãos que o celebram, dando origem à família cristã, igreja doméstica e « primeira célula vital da sociedade », (Apostolicam Actuositatem, 11) e « santuário da vida » (EV 92 e também nn. 6, 88, 94). O sacramento é, portanto, celebrado e vivido no coração da Nova Aliança, isto é, no mistério pascal. É Cristo, Esposo no meio dos seus (cf. Gratissimam Sane, 18; Mt 9, 15), que é fonte de todas as energias. Os casais e as famílias cristãs, por isso, não estão isolados nem abandonados.

Para os cristãos o matrimônio, que tem a sua origem em Deus criador, implica além disso uma verdadeira vocação e um particular estado e vida de graça. Tal vocação, para ser amadurecida, requer uma preparação adequada e especial, e é um caminho específico de fé e de amor, tanto mais que esta vocação é dada ao casal para o bem da Igreja e da sociedade. E isto com todo o significado e força de um empenho público, assumido diante de Deus e da sociedade, que vai além dos limites individuais.

10. O matrimônio, como comunidade de vida e de amor, quer como instituição divina natural, quer como sacramento, não obstante as dificuldades presentes, conserva sempre em si uma fonte de energias formidáveis (cf. FC 43), que, com o testemunho dos esposos, se pode tornar uma Boa Notícia, e contribuir fortemente para a nova evangelização e assegurar o futuro da sociedade. Tais energias precisam todavia de ser descobertas, apreciadas e valorizadas, pelos próprios esposos e pela comunidade eclesial na fase que precede a celebração do matrimónio e que constitui a preparação para ele.

Há numerosíssimas dioceses no mundo, empenhadas em descobrir formas de fazer uma cada vez mais conveniente preparação para o matrimônio. São muitas as experiências positivas que foram transmitidas ao Conselho Pontifício para a Família e que, sem dúvida, se vão consolidando cada vez mais e trarão um auxílio válido, se conhecidas e valorizadas pelas Conferências Episcopais e por cada Bispo na pastoral das Igrejas locais.

O que aqui se chama Preparação compreende um amplo e exigente processo de educação para a vida conjugal, a qual deve ser considerada no conjunto dos seus valores. Por isso, a preparação para o matrimônio, se se considerar o momento psicológico e cultural atual, representa uma necessidade urgente. De facto, é educar para o respeito e a proteção da vida, que no Santuário das famílias se deve tornar uma verdadeira e própria cultura da vida humana em todas as suas manifestações e estados para aqueles que fazem parte do povo da vida e para a vida (cf. EV 6, 78, 105). A própria realidade do matrimónio é tão rica que requer primeiramente um processo de sensibilização a fim de que os noivos sintam a necessidade de se preparar. A pastoral familiar oriente, por isso, os seus melhores esforços para que tal preparação seja de qualidade, recorrendo também a subsídios de pedagogia e psicologia de sã orientação.

Em outro documento, recentemente publicado (8 de Dezembro de 1995) pelo Conselho Pontifício para a Família e intitulado Sexualidade humana: verdade e significado. Orientações educativas em família, o mesmo Conselho vai ao encontro das famílias na sua tarefa de formação dos filhos sobre a sexualidade.

11. Finalmente, tornou-se mais impelente a solicitude da Igreja em ordem a esta questão, pelas circunstâncias atuais – a que nos referimos acima – nas quais se constatam, por um lado, a recuperação de valores e de aspectos importantes do matrimónio e da família e se reconhece o florescimento de testemunhos felizes de inúmeros cônjuges e famílias cristãs. Por outro lado, aumenta o número daqueles que ignoram ou recusam as riquezas do matrimónio com um tipo de desconfiança que chega a duvidar ou repelir os seus bens e valores (cf. GS 48). Hoje observamos, alarmados, a difusão de uma « cultura » ou de uma mentalidade desconfiada em relação à família como valor necessário para os esposos, para os filhos e para a sociedade. Há atitudes e medidas, comtempladas nas legislações, que não ajudam a família fundada sobre o matrimónio e negam até mesmo os seus direitos. De facto, uma atmosfera de secularização tem-se difundido em diversas partes do mundo e arrasta especialmente os jovens submetendo-os à pressão de um ambiente de secularismo no qual se acaba por perder o sentido de Deus e, por consequência, perde-se também o sentido profundo do amor esponsal e da família. Não será negar a verdade de Deus, fechar a própria fonte e manancial deste íntimo mistério? (cf. GS 22). A negação de Deus, nas suas diversas formas, implica muitas vezes a recusa das instituições e das estruturas que pertencem ao desígnio de Deus, começado a concretizar-se desde a Criação (cf. Mt 19, 3ss). Desta maneira, tudo é concebido como fruto da vontade humana e ou de consentimentos que podem mudar.

12. Nos países em que o processo de descristianização está mais difundido, é evidente a preocupante crise dos valores morais e, em particular, a perda da identidade do matrimônio e da família cristã e, portanto, do próprio sentido do noivado. Ao lado destas perdas está a crise de valores no interior da família, para a qual contribui um clima de permissivismo difuso, mesmo legal. Isto é incentivado não pouco pelos meios de comunicação social que exibem modelos contrários como se fossem verdadeiros valores. Forma-se assim um contexto aparentemente cultural que se oferece às novas gerações como alternativa à concepção da vida conjugal e do matrimónio, ao seu valor sacramental e à sua ligação com a Igreja.

Fenômenos que confirmam esta realidade e que reforçam a dita cultura estão ligados a novos estilos de vida que desvalorizam as dimensões humanas dos contraentes, com desastrosas consequências para a família. Entre estes, recorda-se aqui o permissivismo sexual, a diminuição do número de matrimónios ou o adiá-los continuamente, o aumento dos divórcios, a mentalidade contraceptiva, o difundir-se do aborto voluntário, o vazio espiritual e a insatisfação profunda que contribuem para a difusão da droga, do alcoolismo, da violência e do suicídio entre os próprios jovens e os adolescentes.

Em outra áreas do mundo, as situações de subdesenvolvimento, até à extrema pobreza, à miséria, assim como a presença de elementos culturais adversos ou alheios à visão cristã, tornam difícil e precária a própria estabilidade da família e o constituir-se de uma profunda educação para o amor cristão.

13. A agravar a situação contribuem as leis permissivas, com toda a força para forjar uma mentalidade que fere a família (cf. EV 59), em matéria de divórcio, aborto, liberdade sexual. Muitos meios de comunicação (1) difundem, e colaboram para estabelecer um clima de permissividade e formam uma contextura que impede aos jovens o crescimento normal na fé cristã, a ligação com a Igreja e a descoberta do valor sacramental do matrimónio e das exigências que derivam da sua celebração. É verdade que uma educação para o matrimónio foi sempre necessária, mas a cultura cristã permitia uma mais fácil colocação e assimilação dela. Hoje, isto é, às vezes, mais trabalhoso e mais urgente.

14. Por todas estas razões, Sua Santidade João Paulo II, na Exortação Apostólica Familiaris Consortio – que recolhe os frutos do Sínodo sobre a Família, de 1980 indica que « a preparação dos jovens para o matrimónio e para a vida familiar é necessária hoje mais do que nunca » (FC 66) e urge « promover melhores e mais intensos programas de preparação para o matrimónio, a fim de eliminar, o mais possível, as dificuldades com que se debatem tantos casais, e sobretudo para favorecer positivamente o aparecimento e o amadurecimento de matrimónios com êxito » (ibid.).

Na mesma linha, e a fim de responder de modo orgânico às ameaças e exigências do momento presente, é oportuno que as Conferências Episcopais se apressem a publicar « um Diretório para a pastoral da família » (ibid.) Nele sejam procurados e delineados os elementos considerados necessários para uma pastoral mais incisiva que tenda a recuperar a identidade cristã do matrimônio e da família, a fim de que a própria família chegue a ser uma comunidade de pessoas ao serviço da vida humana e da fé, célula primeira e vital da sociedade, comunidade crente e evangelizadora, verdadeira « Igreja doméstica, centro de comunhão e de serviço eclesial » (ibid.) « chamada a anunciar, celebrar e servir o Evangelho da vida » (EV 92, e também nn. 28, 78, 79, 105).

15. Dada a importância do tema, o Conselho Pontifício para a Família, tomando conhecimento das diversas iniciativas que surgiram nesta linha da parte de não poucas Conferências Episcopais e de muitos Bispos diocesanos, convida a prosseguir com renovado empenho neste serviço pastoral. Eles prepararam um material útil para dar um contributo à preparação do matrimónio e para o acompanhamento da vida familiar. Em continuidade com as diretivas da Sé Apostólica, o Conselho Pontifício propõe estes pontos de reflexão referidos exclusivamente a uma parte do citado Diretório: aquela que se refere à preparação para o sacramento do Matrimónio. Pode assim servir para melhor delinear e desenvolver os aspectos necessários à preparação adequada para o matrimônio e para a vida da família cristã.

16. A Palavra de Deus, viva na tradição da Igreja e aprofundada pelo Magistério, sublinha que o matrimônio implica para os esposos cristãos a resposta a uma vocação de Deus e a aceitação da missão de serem sinal do amor de Deus para todos os membros da família humana, sendo participação da aliança definitiva de Cristo com a Igreja. Assim, os esposos tornam-se cooperadores do Criador e Salvador no dom do amor e da vida. Por isso a preparação para o matrimónio cristão pode-se classificar como um itinerário de fé, que não termina com a celebração do matrimónio mas que continua em toda a vida familiar, e assim a nossa prospectiva não se encerra no matrimónio como ato, no momento da celebração, mas como estado permanente. É também por isso que a preparação é uma « ocasião privilegiada para que os noivos descubram e aprofundem a fé recebida no baptismo e alimentada com a educação cristã. Desta forma reconhecem e acolhem livremente a vocação de seguir o caminho de Cristo e de se pôr ao serviço do Reino de Deus no estado matrimonial » (FC 51).

Os Bispos têm consciência da necessidade urgente e indispensável de propor e articular itinerários de formação específica, no quadro de um processo de formação cristã que seja gradual e contínuo (cf. OCM 15). Não será inútil, de facto, recordar que uma verdadeira preparação é orientada para uma consciente e livre celebração do Matrimônio. Mas esta celebração é fonte e expressão de implicações mais empenhativas e permanentes.

17. Resulta da experiência de muitos pastores e educadores que o período do noivado possa ser tempo de descoberta recíproca, mas também de aprofundamento da fé e, por isso, tempo de especiais dons sobrenaturais para uma espiritualidade pessoal e interpessoal; infelizmente, para alguns este período, destinado à maturação humana e cristã, pode ser perturbado por um uso irresponsável da sexualidade que não chega à maturação do amor esponsal. E, assim, alguns chegam a uma espécie de apologia das relações pré-matrimoniais.

Um feliz resultado do aprofundamento na fé dos noivos é também condicionado pela sua formação precedente. Por outro lado, o modo como é vivido este período terá certamente uma influência sobre a vida futura dos cônjuges e da família. Daqui a importância decisiva do auxílio que é oferecido aos noivos pelas respectivas famílias e por toda a comunidade eclesial. Isto é também motivo de oração; significativa a este propósito é a bênção dos noivos prevista no De benecditionibus (nn. 195-214), onde se lembram os sinais deste empenho inicial: o anel, a troca recíproca de presentes, ou outros costumes (nn. 209-210). É preciso no entanto reconhecer a densidade humana do noivado, evitando encará-lo de maneira banal.

Por isso, seja a riqueza do matrimônio como a do Sacramento do Matrimónio, seja o relevo decisivo que assume o período do noivado, hoje muitas vezes prolongado por vários anos (com as dificuldades de diversos tipos que tal situação implica), são razões para requererem uma solidez particular desta formação.

18. Segue-se que a programação diocesana e paroquial – com planos pastorais que privilegiam a pastoral familiar, a qual enriquece o conjunto da vida eclesial – supõe que a tarefa formativa encontre o seu espaço adequado e o seu desenvolvimento e que, entre as dioceses e no âmbito das Conferências Episcopais, as melhores experiências possam ser verificadas e comunicadas numa troca de experiências pastorais. Resulta portanto também importante conhecer as formas de catequese e de educação que são dadas aos adolescentes, sobre os vários tipos de vocações e sobre o amor cristão, os itinerários que são elaborados pelos noivos, as modalidades com que são inseridos nesta formação os casais de esposos mais amadurecidos na fé e as melhores experiências, a fim de criar um clima espiritual e cultural idóneo para os jovens que se preparam para o matrimônio.

19. No processo de formação, conforme é recordado também na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, é necessário distinguir três etapas ou momentos principais na preparação para o matrimónio: remota, próxima e imediata.

As metas particulares próprias de cada etapa serão atingidas se os noivos além das qualidades humanas fundamentais e as verdades de fé basilares – conhecerem também os principais conteúdos teológico-litúrgicos que percorrem as diferentes fases da preparação. Por consequência os noivos, num esforço de conformar a sua vida com esses valores, conseguirão aquela formação que os dispõe para a vida de cônjuges.

20. A preparação para o matrimónio deve inscrever-se na urgência de evangelizar a cultura – permeando-a nas raízes (cf. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, 19) – em tudo aquilo que se refere à instituição do matrimônio: fazer penetrar o espírito cristão nas mentes e nos comportamentos, nas leis e nas estruturas da comunidade onde vivem os cristãos (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2105). Esta preparação, quer implícita quer explícita, constitui um aspecto da evangelização, e assim se pode aprofundar a força da afirmação do Santo Padre: « A família é o coração da Nova Evangelização » (…). A própria preparação « compete primariamente aos cônjuges, chamados a serem transmissores da vida, apoiados numa consciência sempre renovada do sentido da geração, enquanto acontecimento onde, de modo privilegiado, se manifesta que a vida humana é um dom recebido a fim de, por sua vez, ser dado » (EV 92).

Para além dos valores religiosos, o matrimônio, como fundamento da família, difunde sobre a sociedade abundantes bens e valores que reforçam a solidariedade, o respeito, a justiça e o perdão nos relacionamentos pessoais e coletivos. Por sua vez a família, fundada sobre o matrimônio, espera da sociedade « ser reconhecida na sua identidade e aceite na sua subjetividade social » (Gratissimam Sane, 17), e tornar-se assim « coração da civilização do amor » (ibid. 13).

Toda a diocese se deve empenhar nesta tarefa e dar-lhe o devido apoio. O ideal seria criar uma Comissão diocesana para a preparação para o matrimónio, integrando um grupo para a pastoral familiar composto de casais de esposos com experiência paroquial, de movimentos, de peritos.

Tal Comissão diocesana teria a tarefa da formação, do acompanhamento e da coordenação, em colaboração com centros, a vários níveis, empenhados neste serviço. A Comissão, por sua vez, deveria ser formada por redes de equipas de leigos escolhidos colaborando para a preparação em sentido amplo, e não só nos cursos. Deveria servir-se da ajuda de um coordenador, normalmente presbítero, em nome do Bispo. No caso de coordenação ser confiada a um leigo ou a um casal, seria oportuna a assistência de um presbítero.

Tudo isto deve entrar no âmbito organizativo da diocese, com as suas estruturas correspondentes, como possíveis zonas a que é anteposto um Vigário Episcopal e vigários forâneos

Alfonso Card. López Trujillo
Presidente do Conselho Pontifício
para a Família

+ S.E.R. Mons. Francisco Gil Hellín
Secretário

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Ucrânia: cerca de 500 edifícios religiosos foram destruídos no último ano

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Igreja ucraniana destruída durante a guerra
Por J-P Mauro

Tropas russas também tomaram prédios religiosos para fazê-los de bases militares e postos de comando, aponta relatório.

Um relatório do Institute for Religious Freedom (“Instituto para a Liberdade Religiosa”), uma organização independente de direitos humanos com sede em Kiev, avaliou a destruição de locais religiosos na Ucrânia. O relatório apontou cerca de 500 prédios e locais de culto danificados devido à guerra. Além disso, o número estimado de edifícios que sofreram danos quase dobrou desde o último relatório do IRF, em julho de 2022. 

O relatório destacou que 494 edifícios religiosos foram danificados durante o conflito. Entre eles, estão igrejas cristãs, mesquitas e sinagogas, embora a destruição tenha sido desproporcionalmente direcionada aos cristãos. 

Na divisão por região, a área ocupada de Donetsk ficou no topo da lista, com danos registrados em 120 locais religiosos. A região de Luhansk veio em seguida, com mais de 70 locais de culto destruídos. A capital Kiev teve 70 prédios religiosos danificados. 

Embora o relatório observe que as regiões com os locais religiosos mais danificados tendem a ser aquelas que sofreram mais batalhas, o país inteiro sentiu o poder destrutivo dos ataques aéreos e dos drones. A IRF também destacou que forças russas tomaram prédios religiosos para fazê-los de bases militares e postos de comando. 

Ainda de acordo com o relatório, a Igreja Ortodoxa Ucraniana sofreu o maior dano, com 143 igrejas destruídas. Os ucranianos têm maioria ortodoxa, portanto este grupo tem o maior número de edifícios religiosos.

Ao todo, as comunidades evangélicas perderam 170 igrejas. A Igreja Católica Greco-Ucraniana teve 17 locais de culto destruídos e a Igreja Católica Romana perdeu 12 prédios.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Tudo o que possuímos é um dom de Deus, diz papa Francisco

Membros da "Pro Petri Sede" entregam um retrato ao papa
Francisco / Vatican Media
Por Almudena Martínez-Bordiú

Vaticano, 24 Fev. 23 / 02:30 pm (ACI).- “Tudo o que possuímos é dom de Deus e devemos deixar-nos iluminar por Ele na gestão dos bens recebidos”, disse o papa Francisco hoje (24), na audiência aos membros da Associação "Pro Petri Sede", fundada a partir da condecoração de mérito militar concedida pela Santa Sé na Segunda Guerra de Independência da Itália.

Durante o seu discurso aos membros desta associação, que estão em peregrinação em Roma, Francisco disse que "ainda hoje vocês são testemunhas da generosidade e da caridade que animaram o coração de seus predecessores, que não tiveram medo de dar a vida por amor à Igreja".

“Hoje, não é menos urgente o chamado a doar-se por amor aos irmãos: muitos deles sofrem com a guerra, a violência, a exclusão, a pobreza material e espiritual”, disse.

O papa Francisco falou da Quaresma como “um tempo propício que nos chama à conversão para passar da escravidão do egoísmo à liberdade de amar e servir a Deus e aos irmãos”.

Para o papa, “o seu espírito, fonte de generosidade, sempre nos impelirá a doar aos necessitados, a combater a pobreza com o que Ele nos doa”.

“Porque o Senhor nos dá em abundância para que possamos doar”, disse o papa.

Francisco terminou exortando os presentes a “fazer o bem a todos, dedicando tempo para amar os pequenos e indefesos, os abandonados e desprezados, os discriminados e marginalizados”.

Fonte: https://www.acidigital.com/

A Campanha da Fraternidade 2023 e os primeiros Escritores cristãos

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Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V falou da necessidade da realização da caridade. Esta não se faz só através das palavras como diz João (1 Jo 3,8). Ele diz: “O teu irmão passa fome, vive na necessidade; talvez aguarde com ansiedade a tua ajuda; Ele não tem nada e você tem; é teu irmão: Você e ele foram redimidos juntos pelo sangue de Cristo. Por isto tenhas misericórdia dele se possuis bens deste mundo”.

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)

A Quaresma está em andamento bem como a Campanha da Fraternidade 2023 sobre a fome. A quaresma nos prepara para o mistério pascal da paixão, morte de ressurreição de Jesus e a Campanha envolve-nos em políticas públicas para que a sociedade e a Igreja fiquem sensibilizadas diante do flagelo da fome em vista de ações caritativas, boas em favor das pessoas famintas em unidade com a prática de Jesus, pela compaixão e pela ação. É preciso assumir a ordem de Jesus que é dar a comida aos que mais precisam: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). É importante fazer uma análise de alguns padres, primeiros escritores cristãos os quais comentaram a respeito da fome que atingiam muitas pessoas das comunidades onde viviam os ministros, as suas ações em favor dos pobres e dos necessitados.

A caridade dada aos pobres

Tertuliano, Padre da Igreja nos séculos II e III falou da ajuda que a comunidade prestava aos pobres e famintos. A comunidade vivia a sua fé unida a uma prática de vida. Ela se reunia para proclamar as leituras da Sagrada Escritura, seguidas das admoestações do presidente da comunidade; após estas coisas havia o momento da entrega dos bens, alimentos, que cada um trazia consigo. Tertuliano falava de uma caixa comum na qual as pessoas depositavam as coisas e os coordenadores da comunidade, bispos, sacerdotes e lideranças se responsabilizavam pelo destino justo de tudo aquilo que era oferecido. O teólogo africano trouxe um dado muito importante; a piedade, significando a moral e a fé, a prática de vida, manifestadas em Cristo Jesus. Quando o teólogo africano falava destas coisas ele tinha presente uma concepção teológica ligada à objetividade das coisas; o amor ao necessitado e aos que passavam fome. Por isto ele dizia que a sua comunidade de Cartago, as pessoas que traziam o dinheiro e alimentos à celebração comunitária eram em vista da caridade ao próximo”[1].

Misericórdia e generosidade

São Basílio de Cesaréia, bispo, do século IV, dizia em suas regras pastorais, junto aos seus fiéis para serem misericordiosos e generosos para com aqueles e aquelas que não tinham os meios necessários para as suas vidas, porque muitas vezes os pobres eram colocados sob acusação, ou seja, eram criticados pelas pessoas que tinham o poder econômico ou político. Deste modo ele insistia para que qualquer coisa que alguém tivesse a mais do necessário para viver, fosse dado a eles em beneficência, segundo o preceito do Senhor, através da pregação do Precursor, João Batista que exortava a todos aqueles que tivessem duas túnicas, doassem as pessoas uma para quem não a tivesse e a quem possuísse comida fizesse o mesmo, através da partilha com os mais necessitados (Lc 3,11). A palavra de Deus também se concretizava pela exortação de São Paulo aos Coríntios que diz que todas as coisas que a pessoa possui é dom de Deus (1 Cor 4,7)[2].

O trabalho dignifica o ser humano

São Basílio também teve presente à necessidade do trabalho para ganhar o pão de cada dia. Ele seguia São Paulo que exortava a todos para o trabalho para assim a pessoa ir para frente e louvar a Deus (2 Ts 3,10-12). Quem tem a possibilidade de trabalhar ajude as pessoas mais necessitadas. No entanto quem não quisesse trabalhar não era julgado merecedor de comer (2 Ts 3,10). Como São Paulo, o bispo afirmou que se deve prestar socorro aos débeis e que há mais alegria em dar do quem em receber (At 20,35). São Paulo ainda disse que as pessoas deixassem de roubar e fizesse um trabalho honesto com as suas mãos para ter coisas para serem dadas a quem está na necessidade (Ef 4,28)[3]. O trabalho é fundamental diante da problemática do desemprego, do pobre que passa por necessidades, de modo que se ele tiver algum trabalho tem condições de trazer para a sua casa alimento para os seus familiares.

 Aquilo que vai além do necessário

São Basílio dizia que deveria ter moderação na mesa sem que não se ultrapassasse os confins do necessário. Este é o limite a quem acolhe as pessoas que iriam às casas dos fiéis, sabendo que o abuso é o gasto que vai além do necessário. Ainda que seja o alimento de um dia, no entanto, se estiver bom é usado para as pessoas, mesmo àquelas que vêm de longe. O alimento, como dom de Deus não pode ser desperdiçado pelo luxo, pois ele sacia a fome dos famintos ou de pessoas necessitadas de alimento[4]. O fato é que quem aprecia o luxo não vive bem porque faz desperdício de muitas coisas possibilitando o aumento das injustiças no meio onde as pessoas vivem.

A fome, uma enfermidade espantosa

São Basílio ainda dizia que a fome é uma enfermidade espantosa, pois representa a maior das desventuras humanas; é aquela que possui o fim mais miserável de todas[5]. Ele também fez uma análise das mortes que aconteciam na existência humana; aquelas que se sucediam com a espada em caso de guerra; outras tinham como conseqüência a fé professada e, portanto eram martirizados; outros morriam no fogo ou mesmo sofriam o naufrágio. Todas estas formas de morte, ainda que indesejáveis à vida humana tivessem uma característica própria: a sua rapidez. A fome, ao invés levava consigo uma situação lenta, um sofrimento prolongado. São Basílio chamava-a de doença que se instala no corpo humano de uma forma escondida, pois ela tem como fim uma morte eminente e sempre em atraso. Ela vai consumindo a umidade natural, esfriando a temperatura corpórea. Tudo isto leva à diminuição do peso da pessoa, e atenua as suas forças de uma forma gradativa[6].

São Basílio não queria fazer uma poesia sobre a fome, mas ele dava uma especificação a uma realidade que atingia a muitas pessoas do mundo antigo e de suas comunidades cristãs. Ele dizia que o ser humano vem desfigurado, sendo que a condição de quem sofre a fome é uma negação da imagem de Deus (Gn 1,26), do qual o ser humano participa como dom e como missão. A justificação é dada pelo fato que as características pessoais são modificadas e com o tempo não são mais as mesmas; a pele perde o seu colorido atraente e a cor rósea do sangue vai desaparecendo. A própria proteção natural feita através da carne na pele e nos ossos diminui com o tempo por causa da magreza; os joelhos não possuem mais a força que antes eram presentes porque falta na pessoa faminta o sustento da comida; assim a voz torna-se débil, fraca; os olhos inertes e fundos não manifestam uma vida saudável porque com um estômago vazio, a pessoa necessitada não possui mais a gordura necessária às vísceras. Assim ela reduz o ritmo dos seus passos para não gastar mais forças e o seu sustento corporal è mantido em pé pelos ossos das costelas[7].

A doação aos pobres

São Basílio também dizia que o pão que a pessoa retinha pertence à pessoa faminta, o manto que a pessoa guarda no armário é de quem de fato estaria nu; os sapatos que estão apodrecendo na casa pertencem ao descalço; o dinheiro enterrado é do necessitado. Muitas coisas poderiam ser feitas para socorrer a quem mais precisa, sobretudo os pobres e os famintos[8]. Percebe-se então a convicção de Basílio em relação à realidade da fome que era necessário realizar ações caritativas para favorecer os pobres e aqueles que passam a situação da fome.

Esforço à prática do bem comum

São João Crisóstomo, bispo dos séculos IV e V exortava os seus fiéis ao esforço e a prática do bem. O cristão olha o outro com fé para dar-lhe uma ajuda quanto necessária às suas carências materiais. O fato decisivo é que tanto a vida prometida como a punição serão eternas. Enquanto a pessoa está no tempo, é chamada a realização de coisas portadoras da verdadeira vida. O Bispo Crisóstomo fazia uma ligação da fome com o pão espiritual, o pão do Senhor dado para todos. A eucaristia, o dom de Deus descido do céu, possui como conseqüência “dar de comida ou bebida ou vestir alguém”, porque o recebimento do Senhor no pão eucarístico impulsiona o cristão para o outro, ao “necessitado”, e ver nele a presença de Cristo. São estas as coisas dignas daquela mesa[9], na qual somos chamados a participar ativamente com fé e com amor.

A prática da caridade

Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V falou da necessidade da realização da caridade. Esta não se faz só através das palavras como diz João (1 Jo 3,8). Ele diz: “O teu irmão passa fome, vive na necessidade; talvez aguarde com ansiedade a tua ajuda; Ele não tem nada e você tem; é teu irmão: Você e ele foram redimidos juntos pelo sangue de Cristo. Por isto tenhas misericórdia dele se possuis bens deste mundo” [10]. O bispo de Hipona insistia junto aos seus fiéis pela ajuda dada, para que a palavra de Jesus de dar de comer aos que tem fome fosse assumida na prática (Mt 14,16). A pessoa seguidora de Jesus não levaria só o nome como um orgulho pessoal, mas o demonstra pelos fatos isto é pela caridade fraterna sobretudo aos que sofrem fome. Jesus teve compaixão da multidão faminta de modo que ele fez o milagre da multiplicação dos pães e ele nos ensina a agir diante da realidade das pessoas que passam pelo flagelo da fome com misericórdia e com ações caritativas.

 Notas:

[1] Cfr. Tertuliano. Apologético, 39, 7. Tradução : Luis Carlos Lima Carpinetti. São Paulo, Paulus, 2021, pgs. 151-152.

[2] Cfr. Regole morali 48, 1-2. In: Basilio di Cesarea. La cura Del povero e l´onore della ricchezza. Testi dalle regole e dalla omelie, a cura di Luigi Pizzolato. Milano, Paoline, 2013, pg. 165.

[3] Cfr. Idem48, 7, pg. 171-173.

[4] Cfr. Idem20,3, pg. 193.

[5] Cfr. Omelia in tempo di fame, PG 31,322s. In:  Giordano Frosini. Il pensiero sociale dei Padri. Brescia, Queriniana, 1996, pg. 35.

[6] Cfr. Idem, pg. 35

[7] Cfr. Idem, pgs. 35-36.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF