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segunda-feira, 20 de março de 2023

A fé sobrenatural

A fé sobrenatural | Opus Dei

A fé sobrenatural

A fé é uma virtude sobrenatural que capacita o homem a assentir firmemente a tudo o que Deus revelou.

03/01/2015

1. Noção e objeto da fé

O ato de fé é a resposta do homem a Deus que Se revela (cf. Catecismo, 142). “Pela fé, o homem submete completamente sua inteligência e sua vontade a Deus. Com todo o seu ser, o homem dá seu assentimento a Deus revelador” (Catecismo, 143). A Sagrada Escritura chama este assentimento de “obediência da fé” (cf. Rm 1, 5; 16, 26).

A virtude da fé é uma virtude sobrenatural que capacita o homem – ilustrando sua inteligência e movendo sua vontade – a assentir firmemente a tudo o que Deus revelou, não por sua evidência intrínseca, mas pela autoridade de Deus que revela. “A fé é primeiramente uma adesão pessoal do homem a Deus; é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o assentimento livre a toda a verdade que Deus revelou” (Catecismo, 150).

2. Características da fé

– “A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele (cf. Mt 16, 17). Para dar a resposta da fé é necessária a graça de Deus” (Catecismo, 153). Não basta a razão para abraçar a verdade revelada; é necessário o dom da fé.

– A fé é um ato humano. Ainda que seja um ato que se realiza graças a um dom sobrenatural, “crer é um ato autenticamente humano. Não contraria nem a liberdade nem a inteligência do homem confiar em Deus e aderir às verdades por Ele reveladas” (Catecismo, 154). Na fé, a inteligência e a vontade cooperam com a graça divina: “Crer é um ato do entendimento que assente à verdade divina por determinação da vontade movida por Deus mediante a graça”[1].

– Fé e liberdade. “O homem deve responder a Deus, crendo por livre vontade. Por conseguinte, ninguém deve ser forçado contra sua vontade a abraçar a fé. Pois o ato de fé é por sua natureza voluntário” (Catecismo, 160)[2]. “Cristo convidou à fé e à conversão, mas de modo algum coagiu. Deu testemunho da verdade, mas não quis impô-la pela força aos que a ela resistiam” (ibidem).

– Fé e razão. “Apesar de a fé estar acima da razão, jamais pode haver desacordo entre elas. Posto que o mesmo Deus que revela os mistérios e comunica a fé fez descer no espírito humano a luz da razão, não poderia negar-Se a Si mesmo, nem o verdadeiro contradizer jamais ao verdadeiro”[3]. “Por isso, se a pesquisa metódica, em todas as ciências, proceder de maneira verdadeiramente científica, segundo as leis morais, na realidade nunca será oposta à fé: tanto as realidades profanas quanto as da fé originam-se do mesmo Deus” (Catecismo, 159).

Carece de sentido tentar demonstrar as verdades sobrenaturais da fé; por outro lado, pode-se provar sempre que é falso tudo o que pretende ser contrário a essas verdades.

– Eclesialidade da fé. “Crer” é um ato próprio do fiel enquanto fiel, isto é, enquanto membro da Igreja. Aquele que crê assente à verdade ensinada pela Igreja, que custodia o depósito da Revelação. “A fé da Igreja precede, gera, conduz e alimenta nossa fé. A Igreja é a mãe de todos os crentes” (Catecismo, 181). “Ninguém pode ter a Deus por Pai se não tem a Igreja por mãe”[4].

– A fé é necessária para a salvação (cf. Mc 16, 16; Catecismo, 161). “Sem a fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11, 6). “Aqueles que sem culpa própria não conhecem o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus de coração sincero e procuram em sua vida, com a ajuda da graça, fazer a vontade de Deus, conhecida através do que lhes dita a consciência, podem conseguir a salvação eterna”[5].

3. Os motivos de credibilidade

“O motivo de crer não é o fato de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligíveis à luz de nossa razão natural. Cremos 'por causa da autoridade de Deus que revela e que não pode nem enganar-se nem enganar-nos'” (Catecismo, 156).

Entretanto, para que o ato de fé fosse conforme com a razão, Deus quis dar-nos “motivos de credibilidade que mostram que o assentimento da fé não é de modo algum um movimento cego do espírito”[6]. Os motivos de credibilidade são sinais certos de que a Revelação é palavra de Deus.

Estes motivos de credibilidade são, entre outros:

– a gloriosa ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, sinal definitivo de sua Divindade e prova certíssima da veracidade de Suas palavras;

– “os milagres de Cristo e de Seus santos (cf. Mc 16, 20; At 2, 4)” (Catecismo, 156)[7];

– o cumprimento das profecias (cf. Catecismo, 156), feitas sobre Cristo ou pelo próprio Cristo (por exemplo, as profecias sobre a Paixão de Nosso Senhor; a profecia sobre a destruição de Jerusalém etc.). Este cumprimento é prova da veracidade da Sagrada Escritura;

– a sublimidade da doutrina cristã é também prova de sua origem divina. Quem medita atentamente nos ensinamentos de Cristo pode descobrir, em sua profunda verdade, em sua beleza e em sua coerência, uma sabedoria que excede a capacidade humana de compreender e de explicar o que é Deus, o que é o mundo, o que é o homem, sua história e seu sentido transcendente;

– a propagação e a santidade da Igreja, sua fecundidade, sua estabilidade “são sinais certos da Revelação, adaptados à inteligência de todos” (Catecismo, 156).

Os motivos de credibilidade não são ajuda apenas a quem não tem fé para superar os preconceitos que obstaculizam o recebimento dela, mas também a quem tem fé, confirmando-lhe que é razoável crer e afastando-o do fideísmo.

4. O conhecimento de fé

A fé é um conhecimento: faz-nos conhecer verdades naturais e sobrenaturais. A aparente obscuridade que experimenta o crente é fruto da limitação da inteligência humana ante o excesso de luz da verdade divina. A fé é uma antecipação da visão de Deus “face a face” no Céu (1Cor 13, 12; cf. Jo 3, 2).

A certeza da fé: “A fé é certa, mais certa que qualquer conhecimento humano, porque se funda na própria palavra de Deus, que não pode mentir” (Catecismo, 157). “A certeza que dá a luz divina é maior do que a que dá a luz da razão natural”[8].

A inteligência ajuda o aprofundamento na fé. “É característico da fé o crente desejar conhecer melhor Aquele em quem pôs sua fé e compreender melhor o que Ele revelou; um conhecimento mais penetrante despertará por sua vez uma fé maior, cada vez mais ardente de amor” (Catecismo, 158).

A teologia é a ciência da fé: ela se esforça, com a ajuda da razão, por conhecer melhor as verdades que se possuem pela fé; não para torná-las mais luminosas em si mesmas – o que é impossível –, porém mais inteligíveis para o crente. Este afã, quando é autêntico, procede do amor a Deus e vai acompanhado pelo esforço por aproximar-se d'Ele. Os melhores teólogos têm sido e serão sempre santos.

5. Coerência entre fé e vida

Toda a vida do cristão deve ser manifestação de sua fé. Não há nenhum aspecto que não possa ser iluminado pela fé. “O justo vive da fé” (Rm 1, 17). A fé atua pela caridade (cf. Gl 5, 6). Sem as obras a fé está morta (cf. Tg 2, 20-26).

Quando falta esta unidade de vida e se transige com uma conduta que não está de acordo com a fé, esta, necessariamente, debilita-se e corre o perigo de perder-se.

Perseverança na fé: A fé é um dom gratuito de Deus. Mas, podemos perder este dom inestimável (cf. 1Tm 1, 18-19). “Para viver, crescer e perseverar até o fim na fé, devemos alimentá-la” (Catecismo, 162). Devemos pedir a Deus que nos aumente a fé (cf. Lc 17, 5) e que nos faça “fortes in fide” (1Pe 5, 9). Para isto, com a ajuda de Deus, é preciso fazer muitos atos de fé.

Todos os fiéis católicos estão obrigados a evitar os perigos para a fé. Entre outros meios, devem abster-se de ler as publicações que sejam contrárias à fé ou à moral – tanto se as tem assinaladas expressamente o Magistério, como se o adverte a consciência bem formada –, a menos que exista um motivo grave e se deem as circunstâncias que tornem essa leitura inócua.

Difundir a fé: “Não se acende uma luz para pô-la debaixo de um alqueire, mas sobre um candeeiro... Brilhe assim vossa luz diante dos homens” (Mt 5, 15-16). Recebemos o dom da fé para propagá-lo, não para ocultá-lo (cf. Catecismo, 166). Não se pode prescindir da fé na atividade profissional[9]. É preciso informar toda a vida social com os ensinamentos e o espírito de Cristo.

Francisco Díaz

Bibliografia básica

Catecismo da Igreja Católica, 142-197.

Leituras recomendadas

São Josemaria, Homilia Vida de fé, em Amigos de Deus, 190-204.


[1] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, II-II, q. 2, a. 9.

[2] Cf. Concílio Vaticano II, Declar. Dignitatis humanae, 10; CIC, 748, §2.

[3] Concílio Vaticano I: DS 3017.

[4] São Cipriano, De catholicae unitate Ecclesiae: PL 4,503.

[5] Concílio Vaticano II, Const. Lumen gentium, 16.Concílio Vaticano II, Const. Lumen gentium, 16.

[6] Concílio Vaticano I: DS 3008-3010; Catecismo, 156.

[7] O valor da Sagrada Escritura como fonte histórica totalmente confiável pode ser estabelecido com provas sólidas: por exemplo, as que se referem à sua antiguidade (vários dos livros do Novo Testamento foram escritos poucos anos depois da morte de Cristo, o que dá testemunho de seu valor), ou as que se referem à análise do conteúdo (que mostra a veracidade dos testemunhos).

[8] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, II-II, q. 171, a. 5, ad 3.

[9] Cf. São Josemaria, Caminho, 353.

Papa Francisco: “o caminho para sermos felizes é a simplicidade”

Papa Francisco com membros da União Nacional Italiana Atrações Intinerantes
(Vatican Media) 

O Santo Padre recebeu na manhã desta segunda-feira, no Vaticano os membros da União Nacional italiana Atrações itinerantes.

Silvonei José – Vatican News

“Caros irmãos e irmãs, avancem em seu trabalho itinerante! Em um mundo onde muitas vezes respiramos um clima cinzento e pesado, vocês nos lembram que o caminho para sermos felizes é a simplicidade”: foi o que disse o Papa Francisco recebendo na manhã desta segunda-feira, no Vaticano os membros da União Nacional italiana Atrações itinerantes.

Após agradecer as palavras do presidente da Associação, o Santo Padre recordou que a pandemia os impediu de realizar suas atividades habituais, viajando de praça em praça com suas atrações. Sei que a Fundação Migrantes tem estado perto de vocês, - disse Francisco – “encorajando-os a seguir em frente com espírito de fé e esperança. Agora, graças a Deus, vocês puderam retomar suas atividades”.

O Pontífice reafirmou que a Igreja continua a acompanhá-los na proclamação do Cristo Salvador, que viajou por cidades e vilarejos levando a todos a alegre proclamação do Reino de Deus.

Vocês também cooperam em um sentido amplo na proclamação do Evangelho - destacou o Papa -, por causa da alegria que levam às pessoas com suas atrações. “É por isso que vos encorajo a manter sempre o coração e a vida abertos a uma perspectiva de fé, que nasce do encontro com Cristo, presente e em ação em sua Igreja”, disse.

O Santo Padre sublinhou que detendo-se com seus carrosséis nas cidades, “vocês oferecem às crianças e adultos momentos de descontração, distraindo-os um pouco das preocupações que assolam a vida cotidiana. A felicidade de uma criança em um carrossel é uma imagem de alegria limpa que pertence à memória de cada família”.

A sensação de alegria e de festa que se espalha brota da criatividade e fantasia, - disse ainda o Papa Francisco - não segue os modelos artificiais e conformista que circulam na mídia; alimenta-se não pela busca de sensações sempre novas, mas pela simplicidade e genuinidade que se pode respirar em um parque de diversões.

“Caros irmãos e irmãs, avancem em seu trabalho itinerante! Em um mundo onde muitas vezes respiramos um clima cinzento e pesado, vocês nos lembram que o caminho para sermos felizes é a simplicidade; e também uma forma de diversão ao ar livre e em companhia: o oposto do que vemos cada vez mais hoje, todos sozinhos com seu telefone celular ou seu computador”.

Francisco destacou que eles convidam as pessoas a sair, a se encontrarem na praça, a se divertirem juntas, por isso agradeceu as pessoas presente por isso. E concluiu: “e agradeço-lhes porque, afinal, vocês nos lembram que não fomos feitos apenas para trabalhar, mas também para a festa, e Deus se alegra quando celebramos juntos como irmãos na simplicidade”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 19 de março de 2023

Em que se resume a Lei e os profetas?

DyziO | Shutterstock
Por Julia A. Borges

Na Grécia antiga, dizia-se: “matas, morre”. Entenda:

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento.” (Mt 5, 17-19).

A análise da passagem acima remete à época do Antigo Testamento, na qual a Lei era o conjunto de normas e prescrições aos quais os judeus deveriam fazer pleno cumprimento, ou, de forma mais pragmática, o que não se devia fazer. Já a menção aos profetas seriam os exemplos a serem seguidos a fim de impulsionar o povo a agir em conformidade com o bem moral revelado na Lei. E sob ela havia partes diferentes dentre as quais a lei natural, inscrita no coração do homem pelo próprio Criador e manifesta através dos Dez Mandamentos, e também uma série de práticas e cumprimentos que deveriam ser seguidos nas esferas jurídicas e também cerimoniais à época dos antigos hebreus.

Lei de Talião

A par disso, é de grande valia reportar-nos a períodos remotos nos quais a lei pujante era praticada através do Código de Hamurabi que ficou conhecida como a lei de Talião, que previa a punição do criminoso de forma semelhante ao crime cometido. Na Grécia antiga, dizia-se: “matas, morre”.

Acerca do pensamento contemporâneo, seria mais ou menos o que é conhecido como a terceira lei de Newton, ou seja, toda ação corresponde a uma reação de igual intensidade, mas que atua no sentido oposto. Isaac Newton percebeu que a toda ação correspondia uma reação. A descoberta científica vai além da física pura e aplicada, e basta olhar para o lado (e talvez para dentro de si também) que se percebe a insistência em se fazer cumprir a lei do retorno.

Talvez o leitor esteja a pensar que essa referida lei é excelente, afinal, dessa forma, ocorre a justiça, a qual tanto a sociedade persegue, ou diz almejar. Entretanto, não se trata de abolir as leis ou pregar um mundo anarquista onde cada uma possa agir segundo a sua própria vontade ou segundo seus próprios parâmetros. Até porque se esse caminho fosse seguido, entrar-se-ia em um verdadeiro caos.

Nova Aliança

É fato que a justiça deve ser entendida e almejada, assim deve-se viver e conviver em sociedade. Mas a graça que recebemos todos os dias não é pela justiça, afinal qual é o nosso mérito ao ser digno de tamanha benevolência? Somos agraciados única e exclusivamente por causa do amor de Deus. E se somos chamados a ser a Sua imagem, assim também devemos agir para com os nossos irmãos. 

Com o advento da Nova e Eterna Aliança de Cristo Jesus, as normas acerca dos rituais e também da esfera jurídica foram ultrapassadas e aperfeiçoadas pelo Salvador que as sintetizou na Lei do amor (cf. Jo 13, 35; 15, 12), mas que dessa vez não fora mais escrita em tábuas de pedras, mas gravadas no coração dos homens.

É a lei da misericórdia a qual Jesus nos convida a seguir – “Sejam misericordiosos, assim como o Pai de vocês é misericordioso. “Não julguem e vocês não serão julgados. Não condenem e não serão condenados. Perdoem e serão perdoados.” (Lucas 6: 36-37).

É também a Lei do perdão que Cristo nos convida seguir: “Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus respondeu: “Eu digo a você: Não até sete, mas até setenta vezes sete.”(Mateus 18:21-22).

É tempo de quaresma, é tempo de virar pó, de morrer para a carne, para as coisas mundanas e para a justiça da ação e reação. É tempo de olhar para as coisas do alto, de se deixar queimar pelo fogo do Espírito Santo, de mergulhar em águas profundas e perceber que ao cumprir a Lei do Amor, não se corre o risco de entrar na prisão do egoísmo, da ira; na prisão do pecado.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Da Mesopotâmia à China

Povos da Mesopotâmia | Brasil Escola/UOL

Da Mesopotâmia à China

Como a fé em Jesus Cristo chegou até a China pela Ásia Central no primeiro milênio, graças a uma Igreja que a maioria desconhece.

de Lorenzo Cappelletti

A surpresa de Marco Polo, quando encontrou cristãos nas longínquas terras chinesas, é a mesma que se apodera ainda hoje da maior parte dos cristãos no Ocidente, quando ouve falar da existência de comunidades cristãs presentes desde a mais distante Antiguidade a leste das fronteiras do Império Romano, no interior dos vastos territórios da Ásia Central, da Pérsia e até da Índia e da China. São comunidades um pouco apressadamente chamadas de nestorianas, pois na época do Concílio de Éfeso (431), que condenou o patriarca constantinopolitano Nestório, ficaram fiéis à tradição teológica antioquena, da qual provinha Nestório, contra o extremismo da corrente teológica alexandrina (mostrando visão de futuro, pois, é forçoso dizer, esta estava levando a desvios monofisistas). Mesmo porque já antes do Concílio de Éfeso, essas comunidades tinham pretendido tomar distância da Igreja de Estado romana. Desde o início do século III, esses cristãos tinham um patriarca seu ( katholikos), com sede em Selêucia-Ctesifonte, às margens do Tigre, cuja autonomia nasceu da necessidade de mostrar a independência desses cristãos em relação ao Império Romano, que constituía havia séculos o inimigo por excelência do mundo persa. Mais que um distanciamento em nível dogmático, em outras palavras, sua autonomia tendia a evitar incompreensões e perseguições.

O berço dessa Igreja siro-oriental (denominação que, pelo que dissemos até aqui, condiz mais com sua natureza que “nestoriana”) foi a região noroeste da Mesopotâmia, área de fronteira entre o Império Romano e o Persa. Desde a metade do século II se estabeleceram nessa região, que bem cedo se estendeu para o oriente, comunidades cristãs ligadas à Igreja de Antioquia, Igreja de caráter pluralista e aberto ao mundo pagão, como sabemos pelos próprios Atos dos Apóstolos.

Quando os persas, no século IV, ocupam a parte da região mesopotâmica sujeita a Roma, as deportações, também de cristãos, fazem crescer as comunidades cristãs do Oriente persa. Estas se desenvolverão, apesar de alguns períodos de perseguição entre os séculos IV e V, não apenas dentro do Império Persa, mas também a leste dele.

A cidade de Herat, que infelizmente vemos vez por outra nos jornais apenas pelo fato de serem o quartel-general do contingente italiano no Afeganistão, foi sé arquiepiscopal a partir de 585. Da mesma forma, outras cidades e regiões de nome mítico e exótico foram sedes de comunidades cristãs que floresceram ao longo da rota da seda. Merw, a atual Mary, no Turcomenistão, considerada a porta da Ásia, já era sé episcopal e rica em mosteiros no século IV. Samarcanda e Tashkent, no Uzbequistão, na região além do rio Oxus (o atual Amu Darya), foram o lugar de encontro com os sogdianos, mercadores nômades que, por sua vez, levaram o cristianismo para o Extremo Oriente. De fato, a sua língua, que era usada em toda a Ásia Central para as trocas e o comércio, tornou-se também o meio de comunicação que permitiu ao cristianismo chegar no final do século VI a algumas tribos turco-mongóis do Altai e depois, a partir do oásis de Turfan, ao território chinês, indo até a capital imperial Chang an.

Atualmente, os herdeiros da tradição siro-oriental, que tem em comum o siríaco como língua litúrgica, são os caldeus católicos do Iraque e do Irã (cerca de 700 mil no total), em plena comunhão com Roma desde 1553, guiados pelo patriarca da Babilônia dos Caldeus (Bagdá), e a Igreja assíria do Oriente (menos de 300 mil fiéis), que não está em plena comunhão com Roma e até pouco tempo atrás era chamada “nestoriana”, mas com a qual foi firmada em 11 de novembro de 1994 uma declaração comum concernente a profissão da fé em Jesus Cristo e, ainda mais recentemente (20 de julho de 2001), estabeleceram-se orientações para a admissão à eucaristia, de modo a promover uma crescente comunhão entre a Igreja caldeia e a Igreja assíria do Oriente. Podem também ser considerados pertencentes à tradição siro-oriental os quase quatro milhões de siro-malabarenses da costa ocidental da Índia.
Sem querermos ser professorais, talvez valha a pena propor algumas indicações bibliográficas muito simples, pelo fato de a questão envolver temas e lugares extremamente distantes do nosso horizonte habitual e, com isso, corrermos o risco de nos perder. Um breve panorama sobre a atualidade das Igrejas do Oriente pode ser encontrado numa obra de Ronald Roberson, The Eastern Christian Churches. A Brief Survey, que em 2008 chegou a sua sétima edição e contém também uma rica bibliografia. E, se o leitor quiser um manual em italiano de caráter histórico sobre o tema, podemos sugerir a obra em três volumes de Giorgio Fedalto, Le Chiese d’Oriente, ou então Le Chiese d’Oriente. Identità, patrimônio e quadro storico generale, de Filippo Carcione, ambos de meados da década de 1990. Mais propriamente sobre a história que liga a Antioquia apostólica à China, é possível consultar La via radiosa per l’Oriente, de Matteo Nicolini-Zani, de 2006. “De fato, não é possível isolar o cristianismo que floresceu na China no primeiro milênio de sua origem médio-oriental e de seu percurso de expansão centro-asiática” (p. 20). Recentemente (2008), com organização de Ilaria Ramelli, foram publicados (acompanhados de rica bibliografia) os Atti di Mar Mari, ou seja, o relato da primeira evangelização da Mesopotâmia, por obra de Mari, discípulo de um dos setenta discípulos do Senhor. Concluindo poderíamos indicar o livro do cardeal Etchegaray, Vers les chrétiens en Chine, vus par une grenouille au fond d’un puits (2005), no qual fala das suas quatro viagens à China.

Como perdoar coisas aparentemente imperdoáveis?

Antonio Guillem | Shutterstock
Por Carlos Padilla Esteban

A pessoa que não perdoa continua sendo escrava de quem a ofendeu.

Há pecados terríveis. Quantos assassinatos. Quanta corrupção. Às vezes, penso que há coisas que me parecem imperdoáveis. Como perdoar o assassino de um ente querido? Ou a infidelidade de alguém que eu amo? Para mim parece impossível.

Para o homem é impossível, é verdade. Mas não para Deus. Eu carrego ofensas que não consegui perdoar. Elas me parecem imperdoáveis. Em algumas ocasiões, creio que isso acontece pela magnitude da ofensa, pelo dano causado.

Outras vezes, pela atitude de quem me ofendeu uma ou mil vezes e acha que fez bem. Nunca se arrepende, nunca pede perdão. Essa atitude, para mim, é imperdoável.

Porém, creio que o problema é mais meu que do daquele que me ofendeu. Guardo rancores na alma por ofensas que, talvez, quem me ofendeu já tenha esquecido. Ou nunca soube. Não é consciente do que eu guardo na lembrança. Eu mantenho minha postura. Não perdoo. Não é justo.

A ofensa e a raiva

Quando me lembro da ofensa, fico indignado novamente. Quase como se aquilo estivesse acontecendo agora mesmo, outra vez. O mesmo sentimento de raiva, de ira. A cólera me cega. Mas eu não perdoo. Porque não me parece justo perdoar tudo. Acho que há coisas imperdoáveis. Há pessoas que não merecem o perdão.

Se estamos magoados, a via de saída passa por aceitar e perdoar. Perdoar mostra que nós somos donos de nosso bem estar e deixamos de ser vítimas do outro. Sem esse domínio nossa mente irá, uma ou outra vez, até esse lugar de sofrimento, repetirá o “por que comigo?”, “como se atreveu?”. Os pensamentos serão como um martelo constante, e os sentimentos de raiva, frustração e tristeza não serão controlados. Como um verme, seus próprios pensamentos consumirão as entranhas de  eu ser e você ficará esgotado, sem energia.”

Não quero que isso aconteça em minha alma. Mas sempre ocorre quando não estou disposto a perdoar. Não é que eu não consiga fazê-lo. É que não quero. Não me parece educativo para o que ofende. Ele não receberia o pagamento proporcional ao mal causado. Não haveria justiça. Não pode ser.

Não ser escravo de quem te magoou

E continuo sofrendo, porque o ódio e a raiva consomem minha alma. Vou afundando na minha própria lama. Encho-me de veneno e de amargura. Não quero perdoar para sair dessa encruzilhada. Continuo ofendido. Que não pensem que eu já esqueci. Continuo sendo o escravo de quem me magoou. Ele segue tendo domínio sobre mim. Sem saber.

Creio que esse não seja o caminho. Muitas pessoas me dizem que não estão dispostas a perdoar a quem lhes ofendeu. Não querem. Isso me surpreende. Estão cheias de ódio. Guardam raiva ao recordar a ofensa. Magoam-se. Não perdoam.

Talvez o Evangelho me motive a querer perdoar. É um primeiro passo para sair da prisão da minha própria raiva. É só o começo de um caminho difícil, mas que sempre começa com um desejo, o desejo de perdoar de coração.

Hoje, vejo as ofensas que guardo e me pergunto se as perdoei. Talvez, no meu interior, guardo ofensas não esquecidas, não perdoadas. Quero que Deus me presentei o desejo de perdoar. De perdoar a quem me ofendeu. Sete vezes. Setenta vezes sete.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa: Peçamos a graça de nos maravilhar com os dons de Deus

Papa Francisco - Ângelus | Vatican News

"Como o cego, será que sabemos ver o bem e agradecer os dons que recebemos? Somos testemunhas de Jesus ou espalhamos críticas e suspeitas?" Estas foram algumas das perguntas feitas por Francisco aos fiéis no Angelus dominical.

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

Aos milhares de peregrinos presentes na Praça São Pedro, o Papa comentou o Evangelho deste IV Domingo de Quaresma, recomendando vivamente aos fiéis que leiam a narração do gesto de Jesus que doa a vista a um homem cego de nascença (cf. Jo 9,1-41). 

Este episódio, afirmou Francisco, mostra como Jesus age e como procede o coração humano: há o coração bom, tíbio, medroso e corajoso, como demonstram os protagonistas da narração. Ninguém acolhe de bom grado o prodígio de Jesus, com exceção do cego. Os vizinhos são céticos, os escribas e os fariseus se opõem, enquanto os pais do homem curado temem as autoridades religiosas. 

Em todas estas reações, explica o Papa, emergem corações fechados diante do sinal de Jesus: ou porque procuram um culpado ou não sabem se maravilhar, ou porque não querem mudar, bloqueados pelo medo.

O único que reage bem é o cego: feliz em poder ver, ele testemunha o que lhe aconteceu na maneira mais simples: "Eu era cego e agora vejo". Agora, livre no corpo e no espírito, ele dá testemunho de Jesus, deixando para trás o gosto amargo da marginalização, da indiferença e do desprezo. 

"Esta é a dignidade de uma pessoa nobre, de uma pessoa que sabe que foi curada e se restabelece, renasce."

E nós, como agimos?

O Papa então faz uma série de perguntas:

"Como o cego, será que sabemos ver o bem e agradecer os dons que recebemos? Somos testemunhas de Jesus ou espalhamos críticas e suspeitas? Somos livres diante dos preconceitos ou nos associamos àqueles que espalham negatividade e fofocas?"

E mais: Como acolhemos as pessoas que têm limitações, sejam físicas, como este cego, sejam sociais, como os mendicantes que encontramos na rua?

Francisco concluiu convidando os fiéis a pedirem ao Senhor a graça de nos maravilhamos todos os dias com os dons de Deus e de ver as várias circunstâncias da vida, mesmo as mais difíceis de aceitar, como oportunidades para fazer o bem, como Jesus fez com o cego. 

"Que Nossa Senhora nos ajude nisto, junto com São José, um homem justo e fiel."

O silêncio de São José e a Quaresma

joscreative I Shutterstock
Por Hozana

São José orienta-nos a viver intensamente a Quaresma - tempo que a Igreja nos propõe uma mudança de vida.

É fato e notório a todos os cristãos, sejam católicos ou não, que os Evangelhos sinóticos são Cristocêntricos, isto é, foram escritos com o objetivo de a anunciar a vinda, morte e ressurreição de Jesus. Por esta razão, tudo mais que ocorre ao longo destes textos sagrados ficam em “segundo plano”, são relatos que acrescentam as ações de Nosso Senhor, mas não as sobrepõem. Isto se nota, por exemplo, quando São João Batista diz: “Importa que Ele (Jesus) cresça e que eu diminua” (Jo 3,30). Neste sentido vê-se que há um silêncio total de São José. Não há um versículo sequer em que ele diz uma palavra.

Ora, o que se pode aprender de um homem que nada fala?

Quando nos silenciamos, abrimo-nos à possiblidade da auto-escuta, da reflexão. E, nas correrias do dia a dia, infelizmente não dispomos de muito tempo pra isto, né?

Daí a importância de reservamos um tempo para o silêncio e aprendermos com São José que, no seu silêncio, orienta-nos a viver intensamente o período da Quaresma, tempo que a Igreja nos propõe para mudança de vida.

A Santa Igreja, Mãe educadora, inicia a Quaresma na quarta-feira de Cinzas com o Evangelho de São Mateus (Mt 6,1-6;16-18), orientando-nos como bem viver este período: esmola, oração e jejum.

Virtudes de São José

Mas, o que estas orientações da Igreja têm a ver com as virtudes de São José?

Vejamos.

Dar esmola é um ato de bondade. É capaz de reconhecer no pobre o próprio Jesus: “Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes”. (Mt 25,40) É, sobretudo, um ato de caridade. Qual foi a esmola de São José? Sua própria vida. Deu-se inteiramente a Maria e a Jesus.

Para a oração é necessária a “fundamento da esperança, uma certeza a respeito do que não se vê” (Hb 11,1). É fazer a coisa certa, sempre andar na vontade de Deus. Como o justo é aquele que dá a Deus o que devido, cumpre os preceitos e a vontade de Deus, São Tiago nos recorda que “a oração do justo tem grande eficácia” (Tg 5,16). São José era íntimo de Deus ao ponto de lhe aparecer um anjo em sonhos (Mt 1,20) enquanto pensava na gravidez de Nossa Senhora. Veja bem, ele apenas pensava, e não julgava. Portanto, um homem justo, de fé, de oração

Para se fazer o Jejum é necessário ter Fortaleza, a capacidade de manter-se firme diante de dificuldades. E, sejamos sinceros: jejuar nem sempre é fácil. Afinal, o corpo reclama a falta de alimentos. Por isto ela é acompanhada da Prudência, a capacidade de escolher bem e decidir pelo bem em qualquer circunstância. E aqui faz-se importante notar que o jejum pode não ser apenas do alimento, mas também das ações como, por exemplo, o jejum da língua, pois “a língua, porém, nenhum homem a pode domar. É um mal irrequieto, cheia de veneno mortífero.” (Tg 3,8). Foi graças a Prudência de São José que ele não difamou Maria. Manteve sua fortaleza inabalável, uma vez que não duvidou, mas acreditou.

São José e a Quaresma

Nessa Quaresma, convido você a meditar com os mistérios da vida de São José. Na rede social de oração Hozana, você encontrará o Terço Abençoado de São José. Ele é um complemento harmonioso à devoção mariana e contribui para nossa maior compreensão acerca do grande mistério que é o plano da salvação do povo de Deus. O Terço Abençoado de São José é fruto da oração e do grande amor do padre Luiz Roberto Di Lascio para com São José. Clique aqui para rezar o Terço de São José!

São José: pai na ternura, obediência, coragem e no acolhimento

Aprendamos com o Sumo Pontífice, o Papa Francisco, sobre este silencioso São José, pai adotivo de Jesus e nosso:

“Em São José temos a figura do PAI AMADO, sempre amado pelos cristãos, como esposo de Maria e pai de Jesus, grande homem a quem podemos recorrer nos tempos de aflição, como acorreram àquele José, filho de Jacó e governador no Egito, abaixo apenas do Faraó (Gn 41, 55). Temos nele, pai de Jesus, o “cardo” ou dobradiça que divide Antigo e Novo Testamento”.

São José e o Menino Jesus
Renata Sedmakova | Shutterstock

São José também é PAI NA TERNURA e o menino Deus pôde ver naquele homem bondoso os primeiros traços da ternura de Deus, um Deus que é terno, amoroso, generoso, que compreende nossas fraquezas e nos convida a caminhar em seu amor, deixando-nos conduzir por Ele, que sempre está a esperar por nós, como o pai misericordioso do filho pródigo (Lc 15, 11-32), enquanto muitas vezes nos deixamos contagiar pela dureza do filho mais velho.

Foi PAI NA OBEDIÊNCIA, dispondo-se a aceitar as orientações divinas e a difícil missão – por amor a Deus, a Maria e ao nascituro menino – de tornar-se chefe da Sagrada Família e guardião dos maiores tesouros da humanidade. Com coragem e solicitude, ele, cuja bondade impediu de condenar Nossa Senhora, angustiado pela gravidez incompreensível, a toma por esposa ao saber donde provinha a criança que estava para nascer, e assim também foge para o Egito e depois vai a Nazaré, na Galileia. Enquanto servo submisso ao Pai do Céu, também lhe coube ensinar ao menino Deus a importância de serem os filhos submissos e respeitosos, honrando seus pais, observando as leis de Deus e dos homens e exercendo a paternidade de forma exemplar.

São José também foi PAI NO ACOLHIMENTO. Ciente de que a criança gestada por Nossa Senhora era o filho de Deus e de todas as responsabilidades que enfrentaria, inclusive em seu Santo Matrimônio, vivido em plena castidade, como antecipação daquele amor que existe plenamente no Céu, onde as pessoas não se casam nem se dão em casamento, acolhe sua amada sem impor condições e acolhe como seu aquele filho que lhe foi confiado. Não age como alguém resignado, mas assume a missão com maestria, exemplar como pai e como esposo.

Coragem e trabalho

Ainda temos em São José um PAI COM CORAGEM CRIATIVA, com constantes iniciativas para superar as dores e adversidades, como vemos em muitos pais sofridos em nossos tempos, que com dignidade e empenho, “tiram leite de pedras” para que suas famílias sobrevivam, como fez esse grande santo, para em meio a tantas viagens, à Belém por ordem imperial, ao Egito para fugir da perversidade de Herodes ou a Nazaré para se estabelecer, empenhar sua vida e seu labor de carpinteiro no sustento dos seus.

Daí concluímos que também no esposo de Maria temos um PAI TRABALHADOR, carpinteiro honesto e dedicado que ensinou ao Nosso Senhor sua profissão e a dignidade do trabalho honrado, que deve tirar o suor do rosto e colocar o pão à mesa, dar paz, conforto e segurança à família. Quantos em nossos dias não tem um trabalho ou o tem de forma indigna e imoral para custear injusta opulência de poucos. Mesmo assim, não podem desanimar os trabalhadores que encontram no operário São José, um patrono fiel e intercessor dedicado.

Por último, mas não menos importante, vemos em São José um PAI NA SOMBRA, exercendo seu papel dignamente e propiciando o crescimento do Menino Deus para Sua própria Missão: o sustentou, o amou, o ensinou, esteve com ele até seu último instante. Essa paternidade que não é um exercício de posse, mas sinal daquela paternidade suprema encontrada em Deus que também nos dá a liberdade de filhos e filhas, mas espera que, em tributo ao Seu Amor, trilhemos o caminho correto.

Por Wellington de Almeida Alkmin, pelo Hozana

Fonte: https://pt.aleteia.org/

São José, esposo de Maria

São José e o Menino Jesis | A12
19 de março
São José, esposo de Maria

José era descendente da casa real de Davi, e dele conhecemos apenas as referências dos Evangelhos. Residia em Nazaré e era carpinteiro (um termo genérico, em Grego, designando trabalhadores manuais e/ou relacionados à construção civil). Maria havia-lhe sido prometida em casamento: “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo.” (Mateus 1:18-19).

O costume judeu na época era de que os noivos, antes da celebração das bodas, podiam já conviver; ora, José e Maria haviam feito voto de castidade, e a gravidez de Maria o deixou confuso. Mesmo sem duvidar da pureza Dela, sabia que o filho não era seu, e neste caso a lei judaica previa que as adúlteras fossem apedrejadas até a morte. Para evitar isto, José decide fugir em segredo, de modo a que ele fosse culpado, diante da lei, de abandonar a esposa grávida, o que protegeria Maria. Ela, por outro lado, certamente inspirada pelo Espírito Santo, e por humildade, não quis revelar que havia concebido por Deus, como a Escolhida para Mãe do Salvador, confiando em Deus para o que quer que acontecesse.

De fato, “Eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em um sonho, dizendo: 'José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que Nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois Ele salvará o Seu povo dos seus pecados'. (...) José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em sua casa sua mulher” (Mt 1,21-24).

Estas são as primeiras das Sete Dores e Alegrias de São José, uma oração proposta pela Igreja: 1. Pensar em abandonar Maria / A visão do Anjo Gabriel em sonho. Perto do tempo previsto do nascimento de Jesus, por um decreto de recenseamento do imperador romano, eles foram para Belém, onde Maria deu à luz ao Menino Jesus: 2. Ver o Menino nascer numa gruta fria / O louvor dos anjos, pastores e reis Magos. Como lhe havia sido dito em sonho, Jesus é circuncidado e recebe o nome: 3. A dor da circuncisão de Jesus / A honra de dar-Lhe o nome.

A Lei obrigava ao resgate ritual dos primogênitos e à purificação das mães, de que tanto Jesus quanto Maria estavam naturalmente isentos, mas a Sagrada Família, para dar exemplo e para evitar escândalo, foi ao Templo conforme o costume. Não sendo ricos, ofertaram o mínimo previsto, um par de pombinhos: 4. A profecia de Simeão de dor para Maria e Jesus / A previsão de Ana da Redenção por Jesus.

Em novo sonho, o anjo preveniu José que Herodes queria matar o Menino Jesus e mandou-o levar a família para o Egito: 5. A dor do desterro para o Egito / A queda dos ídolos de seus pedestais. Após quatro anos, o anjo lhe avisa da morte de Herodes e do perigo de Arquelau, ordenando a volta a Israel: 6. A dor de não poder voltar para Jerusalém /A volta para Nazaré. De volta à pátria, a Sagrada Família, conforme a Lei, todos os anos vai ao Templo em Jerusalém para celebrar a Páscoa, e com 12 anos Jesus Se deixa lá ficar na volta – as caravanas eram separadas em homens e mulheres, e José e Maria criam que seu filho estava com o outro; assim, no terceiro dia de marcha, voltam aflitos a Jerusalém, encontrando-O no Templo a ensinar os doutores da Lei: 7. A perda de Jesus no Templo / O reencontro entre os doutores. Esta é a última vez que José é mencionado nas Sagradas Escrituras, e assume-se que faleceu antes de Jesus iniciar a Sua vida pública.

A missão de São José incluiu a proteção de Maria e Jesus, dar a Ele a descendência de Davi (necessário, para cumprir as promessas; segundo a Lei e perante a sociedade, José garante que Jesus é filho de Davi) e o nome próprio, educá-Lo e mantê-Lo, ensinar-Lhe um ofício. Dar-lhe o amor, a segurança e a orientação de um pai, como todo filho necessita. Por exercer esta indispensável providência, José (como Jesus e Maria) também tem uma imagem no Antigo Testamento, José do Egito, filho de Jacó, que proveu aos necessitados (“Ide a José, e fazei tudo que ele vos disser”, cf Gen 41,55).

A dignidade de José só está abaixo da de Deus e de Maria. A ele Deus confiou Suas riquezas: Jesus e Maria, portanto é o único homem à Sua altura, e por isso chamado na Bíblia de Justo, o que a Igreja entende como um grau máximo de santidade. Como esposo e pai adotivo, o chefe da Sagrada Família, a ele serviam e obedeciam a Mãe de Deus e o próprio Deus Encarnado, que quis obedecer-lhe. Assim como Nossa Senhora, José, por desígnio divino, recebeu a mais alta responsabilidade e honra possível a um ser humano, a guarda e o cuidado de Cristo Redentor, mas, também como Ela, disse livremente “sim” à sua missão; por isso é, de todos, o varão mais digno da humanidade.

Recebe deste modo o culto especial de protodulia (dulia é o culto devido a Deus, hiperdulia o devido a Maria), o primeiro a ser venerado na hierarquia dos Santos. É verdade que Jesus disse, “(...) de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”, o que significa que João, último representante da promessa do Antigo Testamento, é o maior dentre os antigos, mas, a partir da Encarnação, José está muito acima dele.

Santo Agostinho, Doutor da Igreja, compara os outros santos às estrelas, mas São José ao Sol. Ainda dois aspectos da dignidade de São José: o divino lar que ele dirigia com autoridade de pai foi o berço da Igreja nascente, pois Maria é Mãe de Jesus e portanto do Seu Corpo Místico; e une em si e na sua santidade tanto a realeza de legítimo sucessor de Davi quanto a humildade servil do trabalhador comum, algo que compartilha com o próprio Jesus. Reinar é servir, a Deus e aos irmãos.

Se Jesus recorreu a José, quanto mais nós, pecadores. Em outras palavras, quando José apresenta a Cristo a necessidade de algum devoto seu, Ele também no Céu obedece a Seu pai terreno, como obedece a Maria Sua Mãe, nossos dois maiores intercessores. Pois em função da missão e predestinação de São José e da Virgem Maria, que requeriam uma santidade total, Deus lhe concedeu todas as graças, e tem diante de Deus privilégios únicos. Isto foi revelado a Santa Águeda; e Santa Teresa de Ávila testemunha que nunca lhe pediu nada que não fosse atendido: ao contrário de outros santos, padroeiros de causas específicas, São José socorre em tudo.

A Igreja teve, portanto, extremo cuidado para que São José fosse honrado como convém. As mesmas indulgências, concedidas pela Igreja a quem faz com as devidas disposições o mês de Maria (maio), são concedidas a quem faz o mês de São José (março); como os sábados são dedicados a Maria, as quartas-feiras a são a ele; da mesma forma que há uma devoção especial às sete dores e aos sete gozos de Maria, há também uma devoção especial às sete dores e aos sete gozos de São José; da mesma forma que para Maria, existem para ele rosários, coroinhas ladainhas, orações, jaculatórias e hinos, a fim de honrá-Lo e invocá-Lo; a Igreja pede que se diga nas invocações “Jesus, José e Maria”, sem separá-los.

Embora os primeiros registros devocionais a São José sejam do ano 800, sua figura ficou escondida nos primeiros séculos do cristianismo, para que se firmasse melhor a origem divina de Jesus. Mas já na Idade Média São Bernardo, Santo Alberto Magno e São Tomás de Aquino lhe dedicaram tratados. Desde então, seu culto cresce continuamente, como deve ser.

Inúmeras são as exaltações a São José. Ele é padroeiro e guarda da Igreja Católica; padroeiro, intercessor, advogado e modelo das famílias cristãs, modelo para os pais; patrono dos carpinteiros, operários e trabalhadores, e da justiça social; patrono dos moribundos e das almas atribuladas; terror dos demônios, que dele fogem quando invocado; patrono de várias dioceses e lugares. Várias imagens veneradas de São José receberam uma coroação canônica por um Papa; seu nome está no cânon da missa, imediatamente após o da Virgem Maria; e tem seu nome nas três outras orações eucarísticas. A festa de 19 de março normalmente cai no meio da Quaresma, por isso a Igreja abre neste dia uma exceção litúrgica e celebra com paramentos brancos a sua festa, retirando o roxo penitencial.

 Em muitas imagens de São José ele carrega um lírio, símbolo da sua castidade e pureza, dom de quem vive unido a Jesus – “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8). Em antigas representações ele tem a aparência de um idoso, prática piedosa mas completamente errada e até perniciosa: São José foi casto por opção de santidade, como a Virgem Maria, e não por senilidade.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

O nome José significa em Hebraico “Deus acrescenta”, ou, “cumula de bens”. Aceitando a sua missão, São José cumula a Humanidade dos maiores bens possíveis, Maria e Jesus, portanto seu papel é primordial na História da Salvação: nada mais há para acrescentar. Devemos, sim, é limitar-lhe o exemplo de silêncio e obediência, silêncio na alma para ter pronta obediência a Deus. Nem uma única palavra sua foi registrada nos Evangelhos, sinal de que, se obedecemos como o Senhor nos pede, nenhum alarde é preciso, mas apenas os louvores necessários, como nas poucas palavras de Maria. Em nenhuma Igreja, mesmo que consagradas a outros santos, devem faltar as imagens de Maria e José, bem como, óbvia e necessariamente, o Crucifixo e imagens de Jesus. Se o nome de José está no cânon da Missa, em destaque, também fisicamente a sua figura deve ser venerada. É preciso pedir sempre a este intercessor supremo. Santa Ágata, numa revelação, esclarece que muitos vão lamentar não lhe terem pedido as graças, principalmente espirituais, de que necessitam. Por isso, assim como quando os egípcios carentes de alimentos imploravam ao Faraó que lhes desse comida, e este lhes dizia: “Ide a José”, hoje, quando os povos são invadidos por um neopaganismo que nega a Deus e a Seu Cristo, que abandona a Igreja e a ataca; quando o sensualismo toma conta das mentes e dos meios de comunicação; e as misérias humanas afloram em toda parte, inclusive na Igreja, mais ainda devemos clamar: socorrei-nos São José, dai-nos o alimento da Salvação que vem do Pão do Céu, e que a vós em tudo atende!

Oração:

Glorioso São José, filho diletíssimo do Pai, esposo da Mãe do universo, pai de Nosso Senhor Jesus Cristo – que a vós nada pode negar, intercessor perpétuo e efetivo diante da Santíssima Trindade, cuidai de nós como o fizestes com a Sagrada Família, protegendo-nos de todos os males, educando-nos na Fé, ensinando-nos a trabalhar como o Senhor deseja, e protendo o Corpo Místico de vosso Filho, a Igreja, que abraçais com o mesmo carinho dedicado ao Menino Jesus; provede o necessário alimento do nosso espírito, as vestes de pureza de que precisamos para entrar e estar em vossa Casa, e especialmente velai pelas famílias, hoje tão atormentadas pelos demônios e pelos enganos mundanos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que é vosso Filho, e Nossa Senhora, vossa infinitamente amada esposa. Amém.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF