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sexta-feira, 28 de abril de 2023

Mitos litúrgicos (6/16)

Basílica de Santo Agostinho em Roma | Presbíteros

Mitos litúrgicos

Mito 14. “A comunhão tem que ser em duas espécies”

Não tem.

Embora a Comunhão sob duas espécies tenha um significado simbólico expressivo (Redemptionis Sacramentum, n.100), a Santa Igreja tem a justa preocupação de evitar heresias e profanações, e por isso só permite a Comunhão sob duas espécies em casos particulares e sob rígidas determinações.

Por isso que o Sagrado Magistério, no Concílio de Trento (séc. XVI), definiu alguns princípios dogmáticos á respeito da Comunhão Eucarística sob as duas espécies; princípios estes que foram expressamente relembrados na Redemptionis Sacramentum (n. 100). Assim definiu o Concílio de Trento (n. 930-932): “Por nenhum preceito divino [os fiéis] estão obrigados a receber o sacramento da Eucaristia sob ambas as espécies, e que, salva a fé, de nenhum modo se pode duvidar que a comunhão debaixo de uma [só] das espécies lhes baste para a salvação. (…) Nosso Redentor, como ficou dito, instituiu na última ceia este sacramento e o deu aos Apóstolos sob as duas espécies, contudo devemos confessar que debaixo de cada uma delas se recebe Cristo todo inteiro e como verdadeiro sacramento.”

Partindo desses princípios, e da justa preocupação de evitar profanações, a Santa Igreja estabeleceu que somente em casos particulares seria ministrada a Sagrada Comunhão aos féis sob a aparência do vinho. Nesse sentido, afirma a Instrução Redemptionis Sacramentum (n. 101) que “para administrar aos fiéis leigos a sagrada Comunhão sob as duas espécies, devem-se ter em conhecimento, convenientemente, as circunstâncias, sobre as que devem julgar, em primeiro lugar, os Bispos diocesanos. Deve-se excluir totalmente quando exista perigo, inclusive pequeno, de profanação das sagradas espécies.”

A seguir, a mesma Instrução aponta as formas pela qual a Sagrada Comunhão sob duas espécies pode ser administrada (n. 103): “As normas do Missal Romano admitem o princípio de que, nos casos em que se administra a sagrada Comunhão sob as duas espécies, o Sangue do Senhor pode ser bebido diretamente do cálice, ou por intinção, ou com uma palheta, ou uma colher pequenina.”

Em públicos maiores, tenho presenciado que normalmente a Comunhão Eucarística se por dá intinção, isto é, tomando-se o Corpo de Nosso Senhor na aparência do pão e intingindo-se na aparência do vinho. A mesma Instrução ordena que, para se ministrar a Sagrada Comunhão desta forma, “usam-se hóstias que não sejam nem demasiadamente delgadas nem demasiadamente pequenas e o comungante receba do sacerdote o sacramento, somente na boca.” (n.103) E ainda: “Não se permita ao comungante molhar por si mesmo a hóstia no cálice, nem receber na mão a hóstia molhada. No que se refere à hóstia que se deve molhar, esta deve ser de matéria válida e estar consagrada; estando absolutamente proibido o uso de pão não consagrado ou de outra matéria.” (n. 104) Infelizmente, tem se tornado “moda” uma espécie da Comunhão “self-service”, onde, com o Corpo de Nosso Senhor na aparência do pão na mão, o próprio fiel comungante faz a intinção na aparência do vinho. Pelas normas litúrgicas, em toda a preocupação que a Santa Igreja tem pelo manuseio do Corpo de Deus, esta prática é absolutamente ilícita, como fica claro no parágrafo acima. Mais ainda: esta irregularidade é apontada na mesma Instrução dentro da listagens dos “atos sempre objetivamente graves” por atentar contra a dignidade do Santíssimo Sacramento (n. 173).

 Fonte: https://presbiteros.org.br/

Como confiar a São José nossos sonhos e nossas angústias profissionais

Public domain
Por Hozana

Ninguém dorme bem quando a preocupação é o trabalho e, sobretudo, a falta dele. As contas a pagar, as despesas da casa, a saúde da família, e por aí vai... Imagina então se o chefe da família tem por missão cuidar de Jesus e Maria. Dá pra dormir em paz com uma família desta pra cuidar? Pois para São José dormia. Por quê? A resposta é simples.

Ao longo do Antigo Testamento diversas pessoas foram visitadas por Deus (ou seus anjos) em sonhos: Jacó, José (filho de Jacó), Moisés, Salomão, dentre outros. No Novo Testamento ninguém teve tanto a Santíssima visita em sonhos como São José, pai adotivo de Jesus.

Dos sonhos de São José, dentre tantos ensinamentos, três se destacam:

1. Oração. Em nenhum momento há uma palavra sequer proferida por São José no Novo Testamento. Apesar do silencio exterior, era um homem de profunda intimidade com Deus. Nele prefiguram as palavras de Jesus: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, te recompensará” (Mt 6,6). No oculto, isto é, no silêncio. Sobre a recompensa… Patrono da Igreja, Pai nutrício de Jesus, Esposo castíssimo de Maria, dentre tantos outros títulos que lhe foram conferidos.

2. Ação. São José não sonhava por sonhar. Quando o Anjo Gabriel lhe apareceu em sonhos, sabia quem ele era intimamente e, por isto, tinha certeza das atitudes que tomaria ao acordar, o que lhe rendeu o título de fiel protetor de Jesus e Maria.

3. Trabalho. Trouxe em si a regra de São Bento: “ora et labora” (ora e trabalha). Sejamos sinceros. Ninguém dorme bem quando a preocupação é o trabalho e, sobretudo, a falta dele. As contas a pagar, as despesas da casa, a saúde da família, e por aí se vai. Imagina então se o chefe da família tem por missão cuidar de Jesus e Maria. Dá pra dormir em paz com uma família desta pra cuidar? Pois para São José dormia. Por quê? A resposta é simples. Confiança em Deus. Ele já tinha no seu coração as palavras que um dia seu Filho diria: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6,33s). São José, ao ver e receber sonhos, demonstrou a plena obediência a esses sonhos, e tornou os sonhos uma realidade de vida e para vida.

Entregar nossos sonhos a São José

Por tudo isto podemos nos voltar a este pai amorosíssimo e a ele entregar nossos sonhos, e porque não, também nossas angústias, doenças, dores, esperança de emprego. Ainda que não tenhamos uma imagem de São José dormindo, façamos como o Santo Padre, Papa Francisco:

“Eu gostaria de dizer a vocês também uma coisa muito pessoal. Eu gosto muito de São José porque é um homem forte e de silêncio. No meu escritório, eu tenho uma imagem de São José dormindo, e dormindo ele cuida da Igreja. Quando eu tenho um problema ou uma dificuldade, eu o escrevo em um papelzinho e o coloco embaixo da imagem de São José, para que ele sonhe sobre isso. Isso significa: para que ele reze por este problema” (encontro com as famílias Filipinas em Manila, em janeiro de 2015).

Assim, certos e seguros da proteção deste pai, com confiança entreguemos a ele nossos sonhos e angústias profissionais, rezando a belíssima oração do Papa Leão XIII.

Oração

A vós, SÃO JOSÉ, recorremos em nossa tribulação, e depois de termos implorado o auxílio de vossa SANTÍSSIMA ESPOSA e cheios de confiança, solicitamos também o vosso patrocínio. Por esse laço sagrado de caridade que vos uniu à VIRGEM IMACULADA, MÃE de DEUS, e pelo amor paternal que tivestes ao MENINO JESUS, ardentemente vos suplicamos que lanceis um olhar benigno sobre a herança que JESUS CRISTO conquistou com Seu Sangue, e nos socorrais nas nossas necessidades com o vosso auxílio e poder.

Protegei, ó guarda providente da SAGRADA FAMÍLIA, o povo eleito de JESUS CRISTO. Afastai para longe de nós, ó Pai Amantíssimo, a peste, o erro e o vício que aflige o mundo. Assisti-nos do alto do Céu, ó nosso Fortíssimo Sustentáculo, na luta contra o poder das trevas, e assim, como outrora salvastes da morte a vida ameaçada do MENINO JESUS, defendei também agora a Santa IGREJA de DEUS, conta as ciladas dos seus inimigos e contra toda a adversidade.

Amparai a cada um de nós com o vosso constante patrocínio, a fim de que, a vosso exemplo e sustentados com o vosso auxílio, possamos viver virtuosamente, piedosamente morrer e obter no Céu a eterna bem-aventurança. Amém.

São José, rogai por nós.

Reze conosco essa novena de São José Operário e confie a ele todos os seus sonhos e angústias profissionais (clique aqui para se inscrever).

Wellington de Almeida Alkmin, pelo Hozana

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa em Budapeste: cidade de história, de pontes e de santos

Papa Francisco cumprimenta a Presidente Katalin Novák em sua segunda visita à Hungria  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

No primeiro dia de sua viagem à capital da Hungria, Papa Francisco ressaltou os valores cristãos testemunhados pelo povo até os dias de hoje. Em seu discurso às autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, relembrou a história, o simbolismo das pontes e a vida dos santos, da cidade "chamada a ser protagonista do presente e do futuro".

Irmã Grazielle Rigotti, ascj - Vatican News

É o primeiro dia da visita do Papa Francisco à "pérola do Danúbio". O Pontífice partiu esta manhã para a capital da Hungria, Budapeste, cidade que fica às margens do rio Danúbio, que divide a cidade em duas partes.

A acolhida

Ao chegar à capital, o Papa foi acolhido por algumas autoridades civis e locais e duas crianças com trajes típicos e lhe foi oferecido pão e sal, como símbolos de acolhida. Na Europa Central costuma-se acolher o Sucessor de Pedro com este presente, como aconteceu também em 2021 em Bratislava durante a visita do Papa Francisco à Eslováquia. O pão em sinal do trabalho partilhado do homem e o sal, símbolo da hospitalidade como o sal do evangelho. Formando ainda um corredor, acenando com bandeiras com as cores da Hungria e do Vaticano, havia um grupo de crianças e adolescentes. Após o breve momento de apresentação e de acolhida, dirigiu-se para o Palácio Sándor, residência oficial do Presidente da República da Hungria desde janeiro 2003.

Neste local, após a cerimônia de acolhida no ingresso do palácio, houve um momento de encontro privado, troca de presentes e apresentação da família da presidente Katalin Novák ao Santo Padre. Logo após, encontraram-se com o Primeiro Ministro da República da Hungria, Victor Orbán, e se dirigiram ao antigo Mosteiro Carmelita, onde hoje funciona a sede do governo húngaro. 

Deus o trouxe até nós

Na Sala Maria Teresa, do palácio Sándor, estavam reunidas cerca de 200 pessoas, entre autoridades políticas, religiosas, corpo diplomático, e representantes da sociedade civil e da cultura. Ali, palavras de acolhida foram proferidas pela presidente húngara: "Bem-vindo! em húngaro diz: Isten hozta!  O que significa literalmente: Deus o trouxe até nós!", disse a presidente, que iniciou sua saudação expressando seu contentamento e desejo pela paz, vendo na visita do Santo Padre um momento de graça. "A visita de Vossa Santidade a Budapeste é "kairos”. A hora e o lugar certo para se encontrar, para tocar os sinos, para proclamar uma paz justa. Deus reúne na hora certa e infunde força naqueles que confiam no poder do amor, da unidade e da paz."

Presidente Novák relembrou com gratidão a visita de São João Paulo II no momento em que o país passava por grandes dificuldades, após a queda do comunismo, bem como neste momento, a visita de Francisco vem em um momento difícil para a Hungria e para a Europa. "Nós, húngaros, podemos tocar quase com as mãos a devastadora realidade da guerra", afirmou a presidente quando apresentava, em seu discurso, a realidade do país que tem acolhido mais de um milhão e meio de refugiados da guerra na Ucrânia. 

"Quando estas rosas florescerem nos jardins do Vaticano, pedimos-lhe que pense com bondade em todos aqueles, incluindo os pobres, pessoas que procuram apoio, e também em nós, húngaros, a quem Vossa Santidade oferece alimento espiritual, traz alegria e esperança com a vossa visita e com o vosso serviço", agradeceu a presidente húngara, comentando o presente que foi entregue ao Santo Padre: mudas de rosas que recordam a história de Santa Isabel da Hungria.

Um lugar central na história

O Papa iniciou seu discurso aos presentes na sala do Mosteiro Carmelita ressaltando as qualidades históricas da capital: Budapeste, "não é apenas uma capital elegante e viva, mas ocupou também um lugar central na história: testemunha de significativas viradas ao longo dos séculos, é chamada a ser protagonista do presente e do futuro", sublinhou Francisco.

Ressaltando pontos importantes e significativos da capital, o Pontífice ressaltou particularmente três aspectos marcantes: o fato de ser uma cidade com uma rica em história, simbolicamente marcada por pontes, e terra de muitos santos.

"Como esquecer 1956? E, durante a II Guerra Mundial, a deportação de dezenas e dezenas de milhares de habitantes, com a restante população de origem judaica encerrada no gueto e sujeita a numerosos massacres. Num tal contexto, houve muitos justos valorosos – penso no Núncio Angelo Rotta –, muita resiliência e grande empenho na reconstrução, de modo que hoje Budapeste é uma das cidades europeias com maior percentagem de população judaica, o centro dum país que conhece o valor da liberdade e que, depois de ter pago um alto preço às ditaduras, traz consigo a missão de guardar o tesouro da democracia e o sonho da paz", destacou o Papa relembrando os dolorosos conflitos ocorridos no país.

Sendo um de seus objetivos na viagem a promoção da paz, deu ênfase também a este apelo em seu discurso: "ora a paz não virá jamais da prossecução dos próprios interesses estratégicos, mas de políticas capazes de olhar ao conjunto, ao desenvolvimento de todos: atentas às pessoas, aos pobres e ao amanhã; e não apenas ao poder, aos lucros e às oportunidades do presente", e questionou: "pensando também na martirizada Ucrânia, onde estão os esforços criativos de paz?"

Como um segundo ponto de destaque, o fato de a cidade ter como símbolo as pontes que contém, Francisco apresentou a harmonia e a unidade que daí podem derivar. Citando a própria Constituição húngara, que afirma que «A liberdade individual só se pode desenvolver na colaboração com os outros», alertou sobre o perigo dos populismos autorreferenciais: "tal é o caminho nefasto das «colonizações ideológicas», que eliminam as diferenças, como no caso da chamada cultura do género, ou então antepõem à realidade da vida conceitos redutores de liberdade, quando por exemplo se alardeia como conquista um insensato «direito ao aborto», que é sempre uma trágica derrota."

“É a prática do amor que leva à felicidade suprema. (Santo Estêvão)”

Por fim, o Papa fez memória de tantos santos que nasceram em terras húngaras e inspiram a cidade "marcada pela santidade". "É a prática do amor que leva à felicidade suprema", dizia Santo Estêvão, rei da Hungria, e um dos baluartes da fé católica no país. 

"É um grande ensinamento de fé: os valores cristãos não podem ser testemunhados com rigidez e isolamento, porque a verdade de Cristo inclui mansidão e gentileza segundo o espírito das Bem-aventuranças. Aqui se radica aquela bondade popular húngara, subjacente a certas expressões da linguagem comum, tais como «jónak lenni jó [é bom ser bom]» e «jobb adni mint kapni [é melhor dar do que receber]», destacou Papa Francisco.

Por fim, o Papa alertou sobre a necessidade de uma profícua colaboração entre Estado e Igreja, mas que "para ser fecunda, necessita de salvaguardar bem as devidas distinções", e pediu a proteção dos santos e beatos, filhos de terras húngaras, confiando a eles o futuro do país: "a eles quero confiar o futuro deste país, que me é tão querido. E enquanto vos agradeço por terdes escutado tudo o que tinha em ânimo partilhar, asseguro a minha solidariedade e a minha oração por todos os húngaros, com um pensamento especial para todos aqueles que vivem fora da pátria e quantos encontrei na vida e me fizeram muito bem. Isten, áldd meg a magyart [ó Deus, abençoai os húngaros]!"

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Ele se deixa ver e tocar para que reconheçam a realidade de sua carne

A Incredulidade de Thomas, Caravaggio, Bildergalerie, Potsdam-Sanssouci (30Giorni)

Arquivo 30Dias - 04/2009

Ele se deixa ver e tocar para que reconheçam a realidade de Sua carne

Nos sermões do tempo Pascal Agostinho repete muitas vezes que tu és o próprio Cristo que quis eliminar qualquer dúvida dos apóstolos em resposta à realidade da Sua ressurreição. Entrevista com Nello Cipriani, professor do Instituto Patrístico Augustinianum.

Entrevista com Nello Cipriani de Lorenzo Cappelletti

“Resurrexit tertia die
sicut apostoli,
suis etiam sensibus,
probaverunt”
(Agostinho, De civitate Dei XVIII, 54, 1) Nestes dias de Páscoa, conversamos com Padre Nello Cipriani a respeito de como Jesus, deixando-se ver e tocar, quis dar Ele mesmo testemunho aos apóstolos da realidade de sua ressurreição. 

Em que obra de Agostinho se comenta mais amplamente a ressurreição do Senhor em seu corpo verde?

CIPRIANI: Agostinho fala do tema em vários textos, mas sobretudo nos muitos sermões do tempo pascal, em que Agostinho rezava todos os dias. Nesses sermões são tratados diferentes aspectos do mistério da ressurreição dos mortos. O que mais impressiona é que Agostinho procura fazer entender aos fiéis que é o próprio Cristo que quis tirar as dúvidas dos apóstolos, que pensavam que vendíamos um fantasma: “Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em teu coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! Apalpai-me e vede”, diz o Senhor ( Lc 24, 38s). E Agostinho, quase in persona Christi , comenta, no Sermão 237: “Se vos parece pouco observar-me, estende-me à mão. Se você parece capaz de me observar e também não de você, apenas me toque, apalpai-me. Ele realmente não disse só que tocou, mas contou-os a apalpá-lo e a tateá-lo. Que vossas mãos verificam, se vossos olhos vos enganam. Toque-me e veja. Que as mãos vos sirvam de olhos. Mas apalpar e ver o quê? Que um fantasma não tem carne e osso, como você vê. Incorreste [Agostinho usa aqui um “tu” genérico] no mesmo erro dos discípulos: emenda-te com eles! Errar é humano, é verdadeiro. Até mesmo Pedro e os apóstolos o fizeram: acreditavam estar vendo um fantasma. Mas não persistiram nesse erro. Para que tu saibas que era totalmente falso o que não tinhas coração, o médico não os deixou ir embora assim, mas, aproximar-se, aplicado-lhes ou remédio. Afaste-se das feridas do coração e, com a finalidade de curar as feridas do coração, trate o seu corpo enquanto ele se cura”.

São palavras que nos permitem compreender, melhor do que muitos raciocínios, qual é o vosso próprio Senhor, a quem deixais ver e tocar, que constituem os apóstolos testemunhas da sua ressurreição.

CIPRIANI: Outro sermão ( Sermão 242 ), Agostinho responde a uma crítica de Porfírio, filósofo neoplatônico do século III autor do Contra os cristãos. Este, entre muitos argumentos contra o cristianismo, também defendia um discurso contra a ressurreição dos corpos, o que, para um neoplatônico, é algo absolutamente inaceitável. Porfírio tentou criticar o relato evangélico de Lucas, apresentando um dilema específico: ou Cristo ressuscitado pediu de comer porque especificou como e, então, não tinha um corruptível, ou, se não especificou comer, por que teria pedido? Agostinho responde citando em primeiro lugar as palavras de Jesus ressuscitado: “'Tendes o que comer? Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado e um favo de mel. Tomou-os, então, e comeu-os, e desejo-lhes o que sobrou [assim soava o texto latino que Agostinho tinha nas mãos]' (cf. Lc24, 41s). Eis a objeção que nos fazem: se o corpo resscita incorruptível, por que Cristo Senhor pos-se a comer? De fato, lestes que ele comeu. Mas talvez o mínimo que você tem fome? Comer foi um gesto demonstrativo de seu poder, não de uma necessidade que tinha”. Um pouco mais adiante, Agostinho responde a outra objeção, que diz que, se ressuscitamos sem defeitos, não é possível entender por que o Senhor preserva as cicatrizes das feridas; Agostinho disse que o gesto de Senhor também neste caso, “foi um gesto de poder, não de necessidade. Quis ressuscitar assim, quis demonstrar-se assim a alguns que duvidavam [ sic resurgere voluit, sic se voluit quibusdam dubitantibus exhibere]. A cicatriz do ferimento permanece em sua carne, eu sirvo para curar a ferida da descrença".

Agostinho refuta os hereges. Episódio das “Histórias agostinianas” de Ottaviano Nelli, afresco da segunda metade do século XIV, igreja de Santo Agostinho, Gubbio, Perugia (30Giorni)

Ele assume as razões já expostas no Sermão 237 . Não é, portanto, uma falta, não é uma necessidade que o Senhor tira para pedir qualquer coisa por vir, mas a sua vontade de atestar isso mesmo, podemos dizer, a sua ressurreição.

CIPRIANI: É claro que o corpo ressuscitado não especifica como: é espiritual; o ressuscitado não tem mais fome. Mas Cristo quis dar a prova para convencer os discípulos da realidade da ressurreição. Um outro sermão, o Sermão 246 , se assemelha um pouco ao Sermão 237 . Como já vimos, no Evangelho de Lucas ( Lc24, 38s) Cristo disse: “Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em seu coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! Apalpai-me e vejo”. E Agostinho comenta: “Acaso já tinha ascendido ao Pai quando ele diz: 'Apalpai-me e vede'? Deixa-se tocar por seus discípulos, ou melhor, não apenas tocar, mas apalpar, para dar um fundamento à fé na realidade de sua carne, na realidade de seu corpo [ut fides fiat verae carnis veri corporis . De fato, o fundamento da realidade desvia evidenciar-se também por meio do tato do homem [ ut exhibeatur etiam tactibus humanis solidas veritatis]. Deixa-se, então, toque pelas mãos dos discípulos”. Depois, nenhuma referência da mulher a esse Senhor mandou que não tocasse, porque não tinha ascendido a isto, Agostinho disse: “Que incongruência é essa? Os homens só podiam tocá-lo aqui na terra, enquanto as mulheres o poderiam tocar depois que ascendesse ao céu? Mas o que significa tocar, sem criar? Com a fe, tocamos Cristo. E é melhor não tocá-lo com as mãos e tocá-lo com a fé que se sente com as mãos e não me faz lembrar os parágrafos da Cidade de Deus , não finais do livro XVIII, em que Agostinho examina a fabula, sábios de cabelo adotados (ironizados por Agostinho), que dizem que foram as artes mágicas de Pedro que permitem o desenvolvimento e progresso do cristianismo.

CIPRIANI: Diante da objeção de que o cristianismo nada mais é do que fruto da magia, Agostinho rebate dizendo que o cristianismo nasceu e se desenvolveu pela graça divina: o superna gratia factum esse (cf. De civitate Dei XVIII, 53, 2). A propósito disso, no Sermão 247 , também do período Pascal, em que comenta a aparição do Senhor aos discípulos na noite da Páscoa, com as portas fechadas (cf. Jo 20, 19ss), Agostinho escreve: “Alguns ficam tão perturbados com esse fato, que vacilam, ou quase, levantando, contra os milagres realizados por Deus, os preconceitos de suas argumentações [ aferentes contra miracula divina praeiudicia ratiocinationum suarum]. Nós raciocinamos assim: se fosse corpo, se fosse carne e ossos, se o que ressuscitou do sepulcro nada mais era senão o mesmo que tinha sido suspenso ao patíbulo, como pode passar através de portas fechadas? Se fosse impossível, é preciso concluir que não aconteceu. Se, pelo contrário, o cabelo pudesse fazê-lo, como foi possível? Se compreendemos a forma, não é mais um milagre; por outro lado, se você não se considera um milagre, está prestes a negar a ressurreição do sepulcro. Dirige o pensamento aos milagres realizados por teu Senhor desde o início; explica-me o porquê de cada um. O homem não interfere e uma Virgem concebe. Explica-me como uma virgem pode experimentar sem o concurso do elemento masculino. Onde falha a razão, é aí que a fé foi construída. Vês, portanto, um milagre na concepção do Senhor, mas ouves outro, ainda, no parte: dá à luz como virgem e continua virgem. Desde aí, portanto, bem antes que ressuscitasse, o Senhor, ao nascer, já passou por portas fechadas”. Enfim, o poder divino é a verdadeira causa da ressurreição. Se deixarmos de lado o poder e a ação de Deus, qualquer milagre é inconcebível, mas nunca uma ressurreição do Senhor.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Cardeal Paulo Cezar Costa é escolhido representante da CNBB junto ao CELAM

Cardeal Paulo Cezar Costa - Arcebispo de Brasília/DF (cnbb)

CARDEAL PAULO CEZAR COSTA É ESCOLHIDO REPRESENTANTE DA CNBB JUNTO AO CONSELHO EPISCOPAL LATINO AMERICANO (CELAM)

O arcebispo de Brasília (DF), cardeal Paulo Cezar Costa, foi escolhido pela 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como o representante brasileiro no Conselho Episcopal Latino Americano e Caribenho (Celam). A escolha foi feita na manhã desta quinta-feira, 27 de abril, nono dia do encontro do episcopado, em Aparecida.

O episcopado também elegeu o suplente de dom Paulo no organismo continental: o bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e atual secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado.

Biografia

Dom Paulo Cezar Costa nasceu em Valença (RJ) em 20/07/1967. Possui Graduação em Teologia pelo Instituto Superior de Teologia da arquidiocese do Rio de Janeiro (1991), Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universitas Gregoriana (1998) e Doutorado em Teologia pela Pontifícia Universitas Gregoriana (2001).

Foi ordenado Presbítero aos 05 de dezembro de 1992. Atuou como vigário, pároco, reitor de seminário e contribuiu como perito da Comissão Episcopal de Doutrina da CNBB. Também foi membro do Instituto Nacional de Pastoral e coordenador do departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; diretor do Departamento de Teologia da PUC-Rio; professor e diretor do Instituto de Filosofia e Teologia Paulo VI; professor do Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro; e Professor da Escola Teológica São Bento (ETSB).

Em 2010, foi nomeado pelo Papa Bento XVI como bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde desempenhou diversas funções. Em junho de 2011, teve seu nome divulgado como membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da CNBB. Na realização da JMJ Rio2013, atuou como diretor administrativo.

Em 22 de junho 2016, foi nomeado sétimo bispo da diocese de São Carlos (SP) pelo Papa Francisco. Sua posse canônica ocorreu no dia 6 de agosto 2016, na Catedral de São Carlos. Neste quadriênio, o cardeal Costa foi responsável pelo Setor Universidades na Comissão Episcopal para a Cultura e a Educação da CNBB, antes da nomeação para Brasília, foi membro do Conselho Permanente da Conferência pelo Regional Sul 1. Na Santa Sé, é membro da Pontifícia Comissão para América Latina.

No dia 21 de outubro de 2020, o Papa Francisco escolheu dom Paulo Cezar Costa como arcebispo da arquidiocese de Brasília (DF). Sua posse ocorreu no dia 12 de dezembro, numa cerimônia restrita, por conta da pandemia, na Catedral de Brasília.

Em 30 de maio de 2022, o Papa Francisco anunciou o nome de dom Paulo entre os 21 novos membros do Colégio de Cardeais da Igreja Católica. Sua criação como cardeal foi no Consistório do dia 27 de agosto do mesmo ano e recebeu o título de cardeal-presbítero de São Bonifácio e Santo Aleixo.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Uma oração maravilhosa para quem não sabe rezar

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Por Patricia Navas González

Quer rezar, mas não sabe o que dizer durante a oração? Essa prece pode te ajudar a parar de olhar para seus defeitos e se concentrar mais no amor e na misericórdia de Deus.

Quando você descobre suas próprias misérias, as de sua família, de sua comunidade ou as do seu país, é muito reconfortante se voltar a Deus e experimentar sua misericórdia e amor incondicionais. Mas essa mudança de foco – de mim para Ele – nem sempre é fácil.

Uma boa opção é ir a uma igreja e sentar-se ou ajoelhar-se diante de um sacrário para rezar.

Nesse momento, entretanto, pode acontecer de você não saber o que dizer, como acontecia com o Irmão Rafael Arnaiz Barón, um monge trapista que costumava lutar contra “demônios” que queriam desanimá-lo na fé. Ele expressou seus sentimentos em relação à oração e às lutas internas na seguinte prece:

Oração

“Senhor, não sei o que estou fazendo aqui…. Nada… Bem, eu não sei fazer nada…Gostaria de rezar… Não sei… Mas não importa. Não rezo, pois não sei rezar.

Senhor, não sei o que faço aqui… mas estou contigo e isso me basta. E eu sei que tu estás aqui, na minha frente. Senhor, gostaria de te ver…Mas até quando, Senhor? Como posso resistir? Sou fraco, sou preguiçoso, sou pecador, não sou nada.

Mas, Senhor, eu gostaria de te ver, mesmo sabendo que não mereço. Quantas vezes me coloco diante de Ti e meus primeiros movimentos são envergonhados… Senhor, Tu sabes por que. Mas, Senhor, como és bom!

Depois de me ver, eu te vejo e, ao contemplar a tua misericórdia que não me rejeita, a minha alma se consola e se alegra.

Penso que te ofendi e que, apesar disso, tu me amas e me permites estar em tua presença… Senhor, deixa-me chorar minhas faltas, mas dá-me um coração grande, muito grande, para poder retribuir um pouco, ainda que muito pouco, o imenso amor que tens por mim”.

Quem foi Rafael Arnaiz?

Na verdade, São Rafael Arnaiz era um místico, e tinha a capacidade de expressar sua união com Deus de uma maneira muito próxima.

A diabetes o obrigou a levar uma vida trapista um pouco diferente da dos demais: às vezes tinha que deixar o mosteiro e exigia certa atenção de sua comunidade.

Talvez a doença o tenha ajudado a compreender plenamente que a santidade não é perfeccionismo, e a manter uma alegria e um senso de humor excepcionais.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Mitos litúrgicos (5/16)

Basílica de Santo Agostinho em Roma | Presbíteros

Mitos litúrgicos

Mito 13: “É errado comungar na boca e de joelhos”

Não é.

A norma tradicional para receber o Corpo de Nosso Senhor, mantida como a única forma lícita por muitos séculos, é que se receba diretamente na boca e estando de joelhos, como sinal de reverência e adoração.

Após o Concílio Vaticano II, Roma permitiu, devido ao pedido de algumas conferências episcopais, que em alguns locais os fiéis que desejassem pudessem receber o Corpo de Nosso Senhor na mão. Por outro lado, os documentos oficiais da Santa Igreja recomendaram que o costume de comungar na boca fosse conservado, e proíbem expressamente que os sacerdotes e demais ministros neguem o Corpo de Nosso Senhor diretamente na boca a quem deseja receber desta forma.

A instrução Memoriale Domini, publicada pela Sagrada Congregação para o Culto Divino em 1969, afirma que, se na antigüidade, em algum local foi comum a prática dos fiéis receberem o Corpo de Nosso Senhor na mão, houve nas normas litúrgicas um amadurecimento neste sentido para que se passasse a receber o Corpo de Nosso Senhor diretamente na boca. Diz o documento: “Com o passar do tempo, quando a verdade e a eficácia do mistério eucarístico, assim como a presença de Cristo nele, foram perscrutadas com mais profundidade, o sentido da reverência devida a este Santíssimo Sacramento e da humildade com a qual ele deve ser recebido exigiram que fosse introduzido o costume que seja o ministro mesmo que deponha sobre a língua do comungante uma parcela do pão consagrado.”

Mas quais são as vantagens que há em receber o Corpo de Nosso Senhor diretamente na boca? O mesmo documento fala de duas: a maior reverência à Sua Presença Real e a maior segurança para que não se percam os fragmentos do Seu Corpo. Assim ele afirma: “Essa maneira de distribuir a santa comunhão deve ser conservada, não somente porque ela tem atrás de si uma tradição multissecular, mas sobretudo porque ela exprime a reverência dos fiéis para com a Eucaristia. Esse modo de fazê-lo não fere em nada a dignidade da pessoa daqueles que se aproximam desse sacramento tão elevado, e é apropriado à preparação requerida para receber o Corpo do Senhor da maneira mais frutuosa possível. Essa reverência exprime bem a comunhão, não “de um pão e de uma bebida ordinários” (São Justino), mas do Corpo e do Sangue do Senhor, em virtude da qual “o povo de Deus participa dos bens do sacrifício pascal, reatualiza a nova aliança selada uma vez por todas por Deus com os homens no Sangue de Cristo, e na fé e na esperança prefigura e antecipa o banquete escatológico no Reino do Pai” (Sagr. Congr.. dos Ritos, Instrução Eucharisticum Mysterium, n.3) Por fim, assegura-se mais eficazmente que a santa comunhão seja administrada com a reverência, o decoro e a dignidade que lhe são devidos de sorte que seja afastado todo o perigo de profanação das espécies eucarísticas, nas quais, “de uma maneira única, Cristo total e todo inteiro, Deus e homem, se encontra presente substancialmente e de um modo permanente” (Sagr. Congr. dos Ritos, Instrução Eucharisticum Mysterium, n. 9); e para que se conserve com diligência todo o cuidado constantemente recomendado pela Igreja no que concerne aos fragmentos do pão consagrado.”

As normas litúrgicas são bem claras em afirmar que “os fiéis jamais serão obrigados a adotar a prática da comunhão na mão.” (Notificação da Sagrada Congregação para o Culto Divino, de Abril de 1985). Aqueles que comungam na mão precisam atentar, ainda, para que não se percam pequenos fragmentos da Hóstia Consagrada, nos quais também Nosso Senhor está presente por inteiro – isto seria, de fato, uma profanação. Também se permitiu, em alguns locais, que se receba o Corpo de Nosso Senhor estando em pé. Mas da mesma forma que a Sagrada Comunhão na mão, isto se permitiu como uma concessão à regra tradicional, afirmando-se que os que desejarem receber o Corpo de Nosso Senhor ajoelhados, em sinal de adoração, são livres para fazê-lo. É o que afirma a Sagrada Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos:

“A recusa da Comunhão a um fiel que esteja ajoelhado, é grave violação de um dos direitos básicos dos fiéis cristãos. (…) Mesmo naqueles países em que esta Congregação adotou a legislação local que reconhece o permanecer em pé como postura normal para receber a Sagrada Comunhão, ela o fez com a condição de que os comungantes desejosos de se ajoelhar não seria recusada a Sagrada Eucaristia. (…) A prática de ajoelhar-se para receber a Santa Comunhão tem em seu favor uma antiga tradição secular, e é um sinal particularmente expressivo de adoração, completamente apropriado, levando em conta a verdadeira, real e significativa presença de Nosso Senhor Jesus Cristo debaixo das espécies consagradas. (….) Os sacerdotes devem entender que a Congregação considerará qualquer queixa desse tipo com muita seriedade, e, caso sejam procedentes, atuará no plano disciplinar de acordo com a gravidade do abuso pastoral.” (Protocolo no 1322/02/L) Tal intervenção foi reiterada em 2003.

Também a instrução Redemptionis Sacramentum, instrução publicada pela mesma congregação em 2004, determina (n. 91): “Qualquer batizado católico, a quem o direito não o proíba, deve ser admitido à sagrada Comunhão. Assim pois, não é lícito negar a sagrada Comunhão a um fiel, por exemplo, só pelo fato de querer receber a Eucaristia ajoelhado ou de pé.”

 Fonte: https://presbiteros.org.br/

Pe. Jihad Youssef: cristãos do Oriente Médio estão em risco de extinção

O superior da comunidade monástica fundada na Síria pelo jesuíta Paolo Dall'Oglio  (Agenzia Romano Siciliani)

O monge da comunidade monástica de Khalil Allah, no Mosteiro de Deir Mar Musa, esteve presente em simpósio realizado em Chipre pelos 10 anos de exortação apostólica de Bento XVI 'Ecclesia in Médio Oriente'. Ele falou da necessidade de uma estratégia evangélica para que os fiéis ainda se sintam 'filhos daquela terra'.

Francesca Sabatinelli - Nicósia

Se continuar assim, no Oriente Médio, na Síria, Líbano, Palestina, Jordânia, restarão "poucos cristãos de museu". As palavras do Pe. Jihad Youssef são pedradas, mas o monge as pronuncia com calma e lentamente. Ele vem da Síria, e desde 1999 pertence à Comunidade Monástica Khalil Allah, no Mosteiro Dei Mar Musa em Nebek, fundada pelo jesuíta Paolo Dall'Oglio, do qual não se há notícias desde 2013.

O Pe. Jihad participou do Simpósio "Enraizados na Esperança", organizado pela ROACO e que terminou no domingo (23), por ocasião do aniversário de 10 anos da exortação apostólica de Bento XVI "Ecclesia in Médio Oriente". Em Nicósia, onde aconteceram as atividades, sobre análise dos palestrantes e participantes esteve a própria existência do Cristianismo do Oriente Médio que, para Abuna Jihad, apesar de se dizer que não é pessimista, está de fato em risco de "extinção".

A necessidade de uma estratégia evangélica

Para os cristãos que permanecem hoje no Oriente Médio é o mesmo que uma condenação, continua o monge, "porque ninguém quer ficar lá, a grande maioria quer emigrar para o paraíso europeu, para o paraíso americano, para o paraíso australiano". A pergunta que Jihad, e como ele provavelmente todos os cristãos do Oriente Médio se fazem hoje, é como é possível permanecer "sem uma visão e sem uma estratégia evangélica", que não seja diplomática, que não só sirva para sobreviver, "mas para viver bem e ser filhos daquela terra como sempre fomos", daí também a pesada pergunta sobre as relações ecumênicas, entre católicos, ortodoxos e protestantes, mas também entre cristãos e muçulmanos.

O exemplo e a profecia do Padre Dall'Oglio

Hoje as pessoas não acreditam mais nos profetas, nas profecias, é a outra consideração amarga do Padre Jihad, mas existem, mesmo que permaneçam desconhecidos, sem serem atendidos. Assim como profeta foi o Padre Paolo Dall'Oglio "que por nós não morre, não sabemos se ele está morto, se está vivo", e que deu o exemplo. "Ninguém é infalível, ninguém é perfeito, mas há profetas e profetisas por toda parte, deve-se procurá-los, escutar a novidade do seu testemunho, e não temê-los". Aquelas novidades que, acrescenta ele, não são nada de novo, mas "são sempre aquelas coisas antigas que devem ser atualizadas e respeitadas".

Gugerotti: a Santa Sé está ao lado dos cristãos do Oriente Médio

A Páscoa acaba de ser celebrada, inclusive na Síria "Ele ressuscitou com o poder do Espírito Santo". Para aquele país, porém, a ressurreição só pode acontecer "se a comunidade internacional a ajudar, caso contrário já estamos abaixo de zero". Hoje, o sírio não tem horizontes à sua frente, seus pensamentos todos os dias, continua a Jihad, estão voltados "para o gás, para o pão, para o diesel para o aquecimento, para como conseguir medicamentos na farmácia; somos um povo que pensa no estômago, na sobrevivência", há necessidade de uma política internacional honesta, baseada na ética e "não em compromissos e cálculos de mesa", pois só "se o mundo não nos ajudar, e sem seguir seus próprios interesses, nós não conseguiremos". O que, conclui o monge, é quase impossível, "mas nós queremos, e o impossível não é realmente impossível".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A paciência de ser

Páscoa: tempo de reviver (faculdadevicentina)

A PACIÊNCIA DE SER

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

O Ressuscitado cumpriu a promessa de paz! A paz esteja convosco – é a saudação repetida no encontro do Senhor com os seus discípulos.

A vitória sobre a morte estava retirando toda escuridão do coração e da vida! A sombra que havia se espalhado pelo mundo, finalmente encontra uma luz que tem força e brilho suficientes para dissipá-la.

Todos devem se aquecer nesta luz! A Igreja não pode começar sem esse testemunho. João cobre o lapso de tempo de oito dias num texto rápido. Tomé não estava na primeira aparição, mas oito dias depois estava, quando Jesus apareceu novamente.

Jesus já havia indicado o caminho ao dizer: Eu vos dou a paz, não como o mundo a dá! Eu vos dou a paz.

No meio das turbulências do mundo, turbulência experimentada por Deus encarnado, e por todos nós, como hoje, naquele tempo também, as desigualdades eram mais acentuadas. Juízes iníquos se corrompiam contra os pobres e indefesos. Privilegiados aumentavam, ainda mais, os seus privilégios. Lacunas eram criadas na lei e julgamentos injustos condenavam inocentes, como bem conhecemos.

Nessa forja ardente Jesus perambulou pelo mundo e anunciou que paz era o bem maior.

A paz oferecida emerge como um insuportável ato de coragem. Um convite a não se render ao mal, a não se dobrar diante das tempestades. Ela é uma invocação para resistir no bem e anunciar um ano de graça no meio da escuridão do mundo.

A Paz guardada até a Ressurreição eclode nestes dias. Jesus Ressuscitado introduz a nova saudação no encontro conosco. De fato, João nos transmite que, estando fechada as portas, por medo dos Judeus, onde corações aflitos se escondiam, Jesus pôs-se no meio deles e disse: a paz esteja convosco!

Mas não é o Jesus que eles conheciam, era o Senhor. Agora Ele pode dar a paz! A derrota da morte é a porta espalancada que nos fez sair da escuridão. Com Ela a grande esperança foi concluída e realizada no mundo.

Após encontrar a paz a missão se tornou viável. Estando em paz é possível anunciar um reino impossível para os corações feridos.

A tentação de apressar Reino destrói todo a sua assertividade. A vontade tem que se acostumar a não ter pressa.

Na paciência e no frio da noite o coração é refeito, e com ele a vida inteira. Estar em paz é o que permite um esperar produtivo. Controle e espera produtiva são os filhos da paz, a paz que Jesus dá.

Após essa dádiva começa a Missão. Erradicada da vida o medo da morte, erradica-se também a tentação de apressar o Reino de Deus.

A paz produz a paciência de ser! Ser cristão, portanto, nasce dessa paz encontrada e nunca mais perdida.

É um caminhar lento pelas veredas entre o joio e a terra que rola ladeira abaixo nos deslizamentos das encostas.

Em paz, com a paz que ninguém pode tomar, pode-se caminhar pelas encostas da vida, cujo campo está todo semeado de coisas boas e menos boas, misturando-se pelo peregrinar paciente que atura a autonomia do mundo.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Dom Luiz Fernando: do Papa à Igreja no Brasil, a ajuda que chega à África

Dom Luiz Fernando Lisboa com o Papa Francisco em visita ad Limina no Vaticano, em 2022 (Vatican News)

O arcebispo brasileiro que esteve por quase 20 anos em Pemba, em Moçambique, primeiro como missionário e depois como bispo, está de volta ao Brasil desde 2021. O coração, porém, ainda bate pela África, "com quem temos uma dívida impagável". A Igreja no Brasil tem ajudado recebendo seminaristas africanos. Uma preocupação em nível internacional que foi despertada "quando o Papa começou a falar da guerra de Cabo Delgado e as ajudas cresceram", afirma dom Luiz Fernando Lisboa ao Vatican News.

Andressa Collet - Vatican News

A missão continua a mesma, "mas a mudança de continente diz muito", afirma dom Luiz Fernando Lisboa em entrevista a Silvonei José durante os trabalhos da edição de número 60 da Assembleia Geral da CNBB - a segunda presencial após a pandemia - que termina na sexta-feira, 28 de abril, em Aparecida/SP. O arcebispo brasileiro está a frente da diocese de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, desde fevereiro de 2021, numa "Igreja bem estabilizada a partir das comunidades eclesiais de base e dos círculos bíblicos". Anteriormente, porém, ele esteve por quase 20 anos, como missionário e depois como bispo, em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, em Moçambique, uma "cidade culturalmente muito bonita e com uma Igreja viva e jovem, mas num ambiente de muito sofrimento", contou dom Luiz, já que vive uma onda de violência e ataques a cristãos com a insurgência islâmica que começou em 2017:

"Não só por causa da pobreza em si - Moçambique é um dos 10 países mais pobres do mundo, e eu estava na região mais pobre que é a região norte -, mas estamos também enfrentando uma guerra terrorista por causa de recursos naturais e uma guerra que já fez mais de 6 mil mortos e 1 milhão de deslocados. Então era um trabalho muito diferente da Igreja. Para ter uma ideia, nós tínhamos lá na Caritas, antes da guerra, 5 pessoas e nós passamos para 80 pessoas, tamanho a quantidade de trabalho e de recursos com que nós tivemos que lidar para atender as pessoas da guerra."

Dom Luiz Fernando Lisboa durante a assembleia destes dias em Aparecida (Vatican News)

O apelo de dom Luiz: não esquecer as guerras da África

O arcebispo brasileiro de coração africano foi quem denunciou ao mundo os ataques sofridos em Cabo Delgado, que continuam atualmente no norte de Moçambique e por toda África, alertou dom Luiz:

"As pessoas continuam ainda vivendo debaixo de lonas, nos quintais, vivendo de favor. As ajudas internacionais que no início, depois que o Papa entrou, digamos assim, na guerra, começou a falar da guerra de Cabo Delgado, as ajudas cresceram. Mas depois que começou a guerra entre Ucrânia e Rússia as atenções se voltaram para lá e agora há uma escassez de recursos, inclusive na Igreja, porque os recursos diminuíram muito. O apelo que eu faço é que nós não esqueçamos as guerras da África que são cerca de 30: das 50 guerras atuais no mundo cerca de 30 são na África, e a guerra de Cabo Delgado é uma daquelas muito triste que tem provocado essa saída, esse êxodo das pessoas das suas aldeias, dos seus distritos, das suas cidades e em busca de salvar a própria pele."

A sede da população de Cabo Delgado, comentou o arcebispo, além daquela por dignidade mesmo vivendo com tão pouco, é por Deus. A Igreja, assim, se tornou cada vez mais presente no país, sendo inclusive "uma voz forte para denunciar a guerra, porque no início os dirigentes queriam escondê-la". Com essa atuação, também veio a perseguição:

"Então, essa foi um pouco a preocupação do Papa Francisco ao nos transferir, preocupado também com a integridade e com a vida. Eu espero que o Papa Francisco, que a Igreja através do Dicastério para o Desenvolvimento Humano, continue se preocupando com aquela realidade e que nós também aqui, a partir do Brasil, possamos olhar para aquela realidade."

“Nós temos uma dívida impagável com a África, e eu pretendo falar cada vez mais isso para os meus irmãos bispos daqui do Brasil para que a gente continue ajudando e apoiando naquilo que a gente pode a Igreja africana que é a Igreja que mais cresce neste momento. A Igreja católica cresce mais na África neste momento e precisa do nosso apoio e da nossa ajuda.”

Dom Luiz Fernando Lisboa durante a assembleia destes dias em Aparecida (Vatican News)

Do Brasil, a ajuda na formação da Igreja africana

O arcebispo conta, enfim, que está feliz no Brasil, mas sente saudade da África "quase todos os dias", tanto que fala sempre com missionários de lá. Mesmo assim, dom Luiz é persistente com a missão que leva no coração de continuar ajudando a Igreja africana:

"Eu pedi ao dom Walmor que recebesse em Belo Horizonte dois seminaristas estão ali estudando. E agora estou tentando trazer outros, tanto para a minha diocese para que eu possa colher tanto para uma outra diocese mineira que também já se propôs a receber. É uma forma de nós ajudarmos a Igreja africana, ajudando na formação dos seus membros. A experiência que eles têm aqui, a vivência da nossa Igreja no Brasil, os ajuda depois a serem pessoas também ativas e a proporem a não continuar em uma pastoral de conservação, mas procurar envolver mais as pessoas, envolver as comunidades faz uma boa diferença.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF