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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Santo Agostinho e a Rocha de Mateus 16, 18

S. Agostinho | Vatican News

Por José Miguel Arraiz.

Traduzido por Rafael Rodrigues. 

INTRODUÇÃO

Um leitor que está debatendo a questão do primado de Pedro com um pastor evangélico, enviou-me uma pergunta sobre a posição de Santo Agostinho sobre a interpretação de Mateus 16, 18. Em um blog protestante que encontrou, por exemplo, se reproduzem algumas citações de Agostinho para dar a impressão de que como ele interpretava que a rocha sobre a qual a Igreja está construída é a fé, não o próprio Pedro, que isso de alguma forma envolve uma rejeição do primado petrino.

Sobre este tópico, já tratei brevemente em outro post: Pedro, A Rocha (Testemunhos Patrísticos), agora eu vou complementar o que eu escrevi lá.

UMA ANÁLISE SOBRE O PENSAMENTO AGOSTINIANO

Primeiro: É verdade que Santo Agostinho disse em várias ocasiões que a rocha sobre a qual está construída a Igreja era a fé em Cristo que é o Filho de Deus. Embora seja comum ver que os pais da igreja tinham duas interpretações como complementares e não excludentes. Agostinho tem algum texto que parece vê-los como exclusivas e inclinando-se quer por uma ou outra. Uma análise mais detalhada desses textos também revela que ele usou ambas as interpretações alternadamente de maneira contemporânea, o que dificulta a questão.

Alguns textos onde a rocha sobre a qual está construída a Igreja são: Sermão 147,3; 270,6; 295,2; Comentário sobre o Salmo 60.3; Tratados sobre o Evangelho de São Lucas 124,5.

Alguns que adere à interpretação católica tradicional é que Pedro é a Rocha: Carta 53,2; O batismo contra os donatistas VII 43,85; Tratados Sobre o Evangelho de São João 11.5; Comentários sobre os Salmos 103 II s.3.2; s.2 30 II, 5; 39.25; 55,15; 63.4.

Esclarece o assunto no pensamento de Santo Agostinho a ideia de que Pedro simboliza a Igreja e sua unidade por causa da primazia que teve entre os apóstolos. Elas podem ser vistas, entre outros, nos seguintes textos: Sermões 75,10; 76; 137,3; 149,7; 244,1; 270,2; 295,1.2.4; Comentários sobre os Salmos 103 III 2; 108,1; Tratados Sobre o  Evangelho de São João7, 14; 50.12; 118,4; 124,5.

Mas o que importa é que, em última análise, em sua última declaração sobre o assunto em suas Retratações (I 21.1) ele faz a menção das duas opiniões sem se inclinar sobre uma ou outra e acaba deixando o leitor a escolher o ajuste mais preciso.

Em meu primeiro livro contra Donato mencionei em algum lugar uma referência ao apóstolo Pedro como ‘a igreja está fundada sobre ele como uma rocha’. Esta interpretação também soa em muitos lábios nas linhas de bênção de Santo Ambrósio, na qual falando de sua própria casa, ele diz: Quando ele canta, a rocha da Igreja absolve pecado. Mas eu me lembro que, frequentemente, explicou as palavras de Nosso Senhor a Pedro: ‘Sobre esta pedra edificarei a minha igreja’, de modo que deve ser entendida como referindo-se a confissão do próprio Pedro quando disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, no sentido de que Pedro tinha sido nomeado rocha, levou a figura da Igreja, que é construída sobre esta pedra e recebeu as chaves do reino dos céus. A partir do que foi dito sobre ele não disse “Você é Rocha,” mas “Tu és Pedro”, pois a pedra era Cristo, tendo sido confessado por Simão (e como toda a Igreja confessa), que foi chamado Pedro. Qual dessas interpretações é correta, decida o leitor”.  (Retratações, I, 21)

Em segundo lugar: Deve-se observar que, para compreender a posição de Santo Agostinho a respeito do primado de Pedro não deve ser limitada apenas aos textos onde comenta Mateus 16, 18, mas todos os seus comentários como um todo, que falam claramente de seu principado entre os apóstolos, ideia que se repete no Batismo contra os donatistas II 1.2 e 4.13 I contra Juliano. Para ele, a própria sé de Pedro, em Roma, é uma garantia da verdade e da Igreja apostólica de Cristo (Contra a Carta Fundamental dos maniqueístas 4,5, 53,2 Carta; 43,3,7). Ele também reconhece que a sua autoridade é definitiva (Sermão 131,10). Uma obra onde o assunto em questão é amplamente tratado é: Agostino. . Trapé, La Sedes Petri in S. Agostino, en Miscellanea A. Piolanti II, Lateranum, Nova Series, an. XXX (Roma 1964).

Portanto separar-se da Sé de Pedro é para ele se separar da Igreja, e, portanto, afirma que os donatistas (cismáticos da época) não têm cátedra, tendo sido separados da de Pedro, “in qua una cathedra unitas ab om nibus servaretur”; nem possuem o “Anjo” do batismo, unidos também as outras cátedras autênticas; nem o Espírito Santo, que é o espírito de caridade; ou a fonte de água viva, ou o selo de santificação (Sancti Optati Afri Milevitani episcopi de schismate donatistarum libri septem. I. III, 6-8 cc Ed Hurter… Patrum opuscula selecta X Oeniponti, 1870). A posição de Santo Agostinho, a este respeito não foi a única, mas compartilhado pelo cristianismo, uma vez que sempre foi considerado uma ruptura com a igreja local unida a Roma como uma ruptura com a Igreja universal, como sancionam os Concílios de Elvira (ano 306, can.53) , Arles (314, can.16) , Nicéia ( 325 dC, can.5), Antioquia (ano 341, can.5 -6), Sardica (ano 343, can.13) (Mansi, 2.14 , 2.473 , 2,669-670 , 2,1309-1312 , 3:16-17).

Veritatis Splendor

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF