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sexta-feira, 22 de julho de 2022

A Igreja Católica no Canadá

Santuário Mariano (Canadá) | Guadium Press

Inserida em um contexto multirreligioso e multiétnico, a Igreja Católica canadense é a maior denominação religiosa do país. Os batizados católicos são 44% da população, seguidos por protestantes de várias denominações (quase um terço da população). Os ortodoxos são menos de 2%. Depois estão presentes várias minorias religiosas, incluindo muçulmanos (3%), judeus (1%), budistas (1%), hindus (1%).

As origens

A fé católica chegou ao Canadá após a descoberta desses territórios pelos europeus no século XVI. Em 7 de julho de 1534 um sacerdote francês que acompanhava o explorador Jacques Cartier celebrou a primeira Missa nas praias da península de Gaspé, na então Nova França.

A colonização começou com a fundação da cidade de Québec em 1608 e Ville Marie, hoje Montreal, em 1642. Muitas congregações religiosas francesas enviaram homens e mulheres, iniciando um intenso trabalho missionário entre as populações autóctones formadas por quatro grandes povos: os Hurons e os Algonquians em territórios colonizados, os Sioux, a leste, e os Inuit, ao norte.

Um papel de destaque foi desempenhado pelos jesuítas que se voltaram em particular para as tribos Huron, entre os quais suas missões prosperaram no século XVII. Seu trabalho missionário foi muito frutífero, como destaca o testemunho de Kateri Tekakwitha, (1656-1680), a primeira Santa indígena da América do Norte, canonizado por Bento XVI em 21 de outubro de 2012 e depois proclamada Padroeira do Meio Ambiente juntamente com São Francisco de Assis.

A conquista inglesa do Canadá na metade do século XVIII marcou uma fase delicada para a Igreja Católica. No entanto, após as dificuldades iniciais, o caminho para a convivência civil foi rápido e quando na Inglaterra os católicos tiveram seus direitos civis reconhecidos na primeira metade do século XIX, o catolicismo pôde se difundir livremente nos territórios de língua inglesa.

Em 1841, o Ato de União deu pleno reconhecimento legal à Igreja no Canadá, cuja vitalidade também é testemunhada pelo nascimento de várias ordens religiosas. Também as Igrejas de Rito Oriental desempenharam um papel importante no desenvolvimento da Igreja Católica no Canadá, especialmente na parte ocidental do País onde se registaram grandes migrações da Europa do Leste, nomeadamente da Ucrânia. Hoje a Igreja ucraniana é a maior Igreja Oriental presente em Canadá. Outras comunidades de rito oriental reúnem os eslovacos, os armênios, os greco-melquitas, os maronitas, os caldeus e os siro-malabares e siro-malancares.

O país foi visitado por São João Paulo II três vezes: em 1984, em 1987 e finalmente em 2002, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude em Toronto.

A Igreja canadense hoje: desafios e problemas

Inserida em um contexto multirreligioso e multiétnico, a Igreja Católica canadense é a maior denominação religiosa do país. Os batizados católicos são 44% dos população, seguidos por protestantes de várias denominações (quase um terço da população). Entre estes últimos, predominam os fiéis pertencentes à Igreja Unida (que desde 1925 reúne congregacionistas, metodistas e dois terços dos presbiterianos), seguidos por anglicanos, luteranos, batistas e pentecostais. Os ortodoxos são menos de 2%. Depois estão presentes várias minorias religiosas, incluindo muçulmanos (3%), judeus (1%), budistas (1%), hindus (1%).

O desafio da secularização

A complexidade e o pluralismo religioso, étnico e cultural marcam fortemente portanto este país, em cuja história não faltaram tensões e conflitos, o que teve um efeito profundo no “modo de ser” da Igreja Católica no Canadá, em suas relações com outras Igrejas e denominações religiosas e com a sociedade canadense como um todo. Uma sociedade que, como todo o Ocidente, sofreu uma marcada secularização.

De fato, a partir da década de 1960, houve um progressivo afastamento dos fiéis da Igreja e o declínio das vocações, especialmente em Ontário e no berço do catolicismo canadense: Québec. A Igreja nesta província perdeu o papel de centro de influência religiosa e cultural que deteve por algumas décadas. Um indicador disso é a evolução do sistema escolar, que assumiu uma fisionomia cada vez mais laica, além de outras escolhas políticas, em franco contraste com a doutrina católica.

O Canadá, de fato, provavelmente hoje é a realidade mais 'avançada' entre as sociedades ocidentais na experimentação de novas formas sociais, culturais e jurídicas. Reprodução assistida, clonagem humana, o status da família e do matrimônio, a eutanásia e o suicídio assistido: sobre estes temas no centro do debate político nestes nas últimas duas décadas no país, a Igreja tem feito ouvir repetidamente e com força a sua voz, nomeadamente por meio da seu Organismo para a Família e a Vida (OCVF).

Ao compromisso da Igreja na questão da proteção da vida, desde a concepção até a morte natural, junta-se àquela em favor da família natural fundada na união entre o homem e mulher. Neste contexto se insere sua oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo (legal desde 2005), bem como à prática da barriga de aluguel (legal desde 2017 somente na forma gratuita) e a promoção da ideologia de gênero nas escolas.

O compromisso com a paz, o meio ambiente e os direitos humanos

Mas a Igreja no Canadá sempre esteve muito presente também em outros temas fortes como a paz mundial, o desarmamento, o desenvolvimento sustentável, o meio ambiente, a justiça social, a defesa dos direitos das populações nativas canadenses, imigrantes e refugiados e de todos os excluídos da sociedade de bem-estar. Um compromisso assumido pela Comissão episcopal para a Justiça e a Paz juntamente com a Comissão Permanente para o Desenvolvimento e a Paz. Desde 2010, este último organismo atua como interface entre a CECC e o OCCDP, a Organização católica canadense fundada em 1967 com o duplo objetivo de oferecer ajuda ao desenvolvimento aos países mais pobres, aos refugiados e às vítimas de guerras e desastres natural, bem como sensibilizar os católicos canadenses sobre essas questões.

Não menos intenso o compromisso em defesa dos direitos humanos: inúmeras denúncias e apelos dos bispos para que o Canadá faça ouvir a sua voz em favor dos cristãos perseguidos e por todas as vítimas de perseguições, guerras e violência no mundo.

A Igreja canadense compartilha também as crescentes preocupações da sociedade civil com o meio ambiente. Para ajudar os fiéis a refletir e contribuir para a construção de uma nova cultura ambiental, em 2013 o Comissão de Justiça e Paz disponibilizou para dioceses e paróquias um pequeno compêndio de oito grandes temas abordados no ensino mais recente da Igreja sobre o meio ambiente: a criação à imagem de Deus; a ordem intrínseca da Criação; a relação entre "ecologia humana" e "ecologia ambiental"; a responsabilidade do homem para com a criação; a solidariedade; a Criação e a espiritualidade e as respostas necessárias aos problemas ambientais de hoje.

Publicado antes da Encíclica do Papa Francisco Laudato si’ sobre o cuidado da casa comum, o documento é acompanhado de várias citações significativas retiradas de mensagens, discursos, homilias e Encíclicas do Papa São João Paulo II e de Bento XVI.

Sempre no contexto da defesa do meio ambiente e dos direitos humanos, os bispos do Canadá intervieram em várias ocasiões na questão da exploração mineral em países do Sul do mundo (no qual muitas empresas canadenses também estão envolvidas), denunciando os danos e injustiças ambientais e afirmando que a atividade econômica deve ser sempre realizada com respeito aos direitos humanos e ao ambiente.

Preocupação com as Primeiras Nações

Em relação às questões internas, a Igreja canadense tem há anos uma particular preocupação pastoral pelos povos indígenas (Primeira Nações, Inuit e Métis) que ainda hoje pagam as consequências da colonização europeia. Se na história da evangelização destas populações numerosos são os exemplos de missionários e bispos comprometidos com a defesa dos direitos dos ameríndios, uma parte da Igreja tornou-se corresponsável pelo sofrimento infligido pelos colonos europeus.

Responsabilidades reconhecidas pelos bispos que assinaram a Declaração de Nações Unidas 2007 sobre os direitos dos povos indígenas, com especial referência à liberdade religiosa. O caso das escolas residenciais indígenas é particularmente doloroso. Por mais de um século elas abrigam mais de 150 mil crianças indígenas tiradas à força de suas famílias para serem educadas na cultura europeia, no contexto das políticas de assimilação conduzidas pelo governo canadense.

Depois do clamor suscitado no verão de 2021 com a descoberta no terreno de algumas antigas escolas residenciais católicas dos restos mortais de algumas crianças indígenas, a Conferência Episcopal solicitou formalmente perdão pelo mal causado ​​e se empenhou em colaborar com os líderes das Primeiras Nações para apurar a verdade, bem como para financiar caminhos de cura e reconciliação.

Neste contexto, se insere a visita ao Vaticano - programada para se realizar inicialmente em dezembro de 2021, mas adiada devido à Covid – de uma delegação formada por sobreviventes, bispos e líderes indígenas para se encontrarem com o Papa Francisco.

A recordar que a Igreja Católica canadense vem há algum tempo apoiando ativamente a causa das Primeiras Nações pelo reconhecimento de seus direitos (a começar por aquele à terra e acesso aos recursos naturais do país) por meio de um intenso trabalho de denúncia, educação e conscientização da opinião pública. Soma-se a tudo isso os numerosos programas promovidos em colaboração com a Assembleia das Primeiras Nações (ANP) para melhorar as condições dos povos indígenas. Às First Nations é dedicada uma seção especial do site da CECC-CCCB.

O diálogo com outras Igrejas e confissões religiosas

Neste, como em outros âmbitos, a Igreja Católica trabalha em estreita colaboração com outras comunidades cristãs, por meio do Conselho Canadense de Igrejas, do qual passou a fazer parte de forma permanente em 1997, mas também com outras confissões religiosas presentes no Canadá com as quais existem relações baseadas no respeito mútuo e valores de convivência e solidariedade.

A colaboração e solidariedade com as outras comunidades religiosas é um dos frutos mais visíveis do empenho da Igreja canadense com a promoção do diálogo ecumênico e inter-religioso iniciado durante o Concílio Vaticano II, com a participação em 1965 no diálogo teológico católico-ortodoxo norte-americano e continuado com o nascimento de uma Comissão Anglicana-Católica em 1971, com aquela para o diálogo com a Igreja Unida em 1974 até aquela com os bispos ortodoxos canadenses em 2001, sem esquecer o Grupo de trabalho judaico-cristão, ativo desde 1977.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF