Ao chegar à Terra de Canaã, se deparou com alguns povos que
passaram a concorrer pela posse da nova terra. Alguns deles, como os filisteus,
se tornaram inimigos mortais dos judeus.
Padre José Inácio Medeiros, CSsR - Instituto
Histórico Redentorista
Vivendo no sul da Mesopotâmia, na região da Caldéia, o povo
judeu vagava em meio a outras civilizações, algumas bem mais desenvolvidas do
que ele. Ao chegar à Terra de Canaã, se deparou com alguns povos que passaram a
concorrer pela posse da nova terra. Alguns deles, como os filisteus, se
tornaram inimigos mortais dos judeus, mas sua existência somente é conhecida
por causa das narrativas bíblicas.
Uma inimizade duradoura
Assim contam as sagradas Escrituras, no Primeiro Livro de
Samuel:
Davi, contudo, pensou: Algum dia serei morto por Saul.
É melhor fugir para a terra dos filisteus. Então Saul
desistirá de procurar-me por todo o Israel, e escaparei dele. Assim, Davi e os
seiscentos homens que estavam com ele foram até Aquis, filho de Maoque, rei de
Gate. Davi e seus soldados se estabeleceram em Gate, acolhidos por Aquis. Cada
homem levou sua família, e Davi, suas duas mulheres: Ainoã, de Jezreel, e
Abigail, que fora mulher de Nabal, de Carmelo. Quando contaram a Saul que Davi
havia fugido para Gate, ele parou de persegui-lo. Então Davi disse a Aquis: Se
eu conto com a tua simpatia, dá-me um lugar numa das cidades desta terra onde
eu possa viver. Por que este teu servo viveria contigo na cidade real?
Naquele dia Aquis deu-lhe Ziclague. Por isso, Ziclague pertence aos reis
de Judá até hoje. Primeiro Livro de Samuel, capítulo 27,
versículos de 1 a 6.
De Josué até Jeremias, o Antigo Testamento descreve os
filisteus como inimigos mortais dos hebreus. Eles são apresentados como
guerreiros que combatem e humilham cruelmente os israelitas, oferecendo ao deus
Dagan todos os bens que são saqueados.
Numa das muitas lutas travadas entre os dois povos, os
cadáveres degolados do rei Saul e de seus filhos foram expostos diante das
muralhas da cidade de Beth Shean. Porém, foi grande a vingança dos israelitas.
Segundo a narrativa bíblica, o povo inimigo sofreu moléstias, ulcerações e
chagas atribuídas como castigo do Deus Javé, dos judeus.
Nos tempos em que pastoreava as ovelhas de seu pai, Jessé,
Davi foi o protagonista de um célebre embate, em que demonstrou ao amedrontado
exército israelita que bastava uma funda para dobrar a força filisteia,
encarnada no gigante Golias.
Outro personagem conhecido desta luta foi Sansão que,
escolhido de Deus, viveu a amarga experiência de que nem sempre é vantajoso
desposar uma mulher da tribo inimiga.
Origem e organização dos filisteus
O termo “filisteu” tem origem no vocábulo hebraico
“plishtim”. Na verdade, não se tratava de um povo, mas sim de um confederação
de pelo menos cinco cidades-estado diferentes cujos originários vieram do Mar
Egeu, se estabelecendo ao leste do Mar Mediterrâneo, no século XIII a.C.
As primeiras referências aos filisteus são encontradas em
alguns escritos egípcios dos reinados dos faraós Mineptah e Ramsés III. Ao que
tudo indica, este povo estava integrado aos chamados “povos do mar” também
designados como “povos habitantes das ilhas” ou também “povos do norte”. Num
vasto ciclo de invasões, devastaram a ilha de Chipre e a cidade de Ugarit, no
norte da atual Síria, levando à queda dos Hititas. Segundo alguns historiadores
esse ciclo de invasões sinaliza o fim da Idade do Bronze.
As filisteus constituíram várias cidades-estado que,
localizadas na costa sul do mar são também conhecidas como pentápole filistina.
Eles dominaram os Cananitas ao se estabelecerem vindos da
cidade de Kefitiu, localizada na atual Turquia, então conhecida como Ásia
Menor. A pentápole daria origem ao núcleo da atual Palestina.
Depois de muito lutar, no século X a.C., a unificação das
tribos israelitas sob o comando do rei Davi, levou ao enfraquecimento dos
filisteus que também sofreram a dominação de povos mais fortes e organizados
como os assírios e os babilônios.
Suas cidades desapareceram após os ataques realizados pelo
rei Nabucodonosor, no século VI a.C. Estas cidades, cada uma delas governada
por um “senhor”, não voltaram a ser edificadas nem habitadas pelos filisteus,
que a partir de então deixam de ser mencionados em documentos da época ou
posteriores. Por volta do século VII a.C. os relatos sobre o povo se tornam
escassos, até que não se encontra mais nenhuma notícia.
O conflito continua
Não fossem as narrativas bíblicas os filisteus seriam muito
menos conhecidos como acontece com inúmeros povos desta e de outras épocas. Mas
os escritores sagrados falam deles sempre em referência à rivalidade com os
judeus. Tanto assim que gozam da inglória fama de incultos e bárbaros e a
palavra filisteu tem sempre uma conotação pejorativa. Os achados
arqueológicos mais recentes ajudaram a trazer mais luz sobre a cultura
filistina ou filistéia, comprovando um avançado grau de organização que comprova
que a tribo sabia se portar como povo civilizado.
Inimigos jurados do povo judeu no passado, os filisteus
controlaram um território que hoje em dia corresponde ao centro e sul de
Israel e à Faixa de Gaza, razão pela qual a rivalidade continua como atestam o
continuado conflito entre Israel e os Palestinos.
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