Por Hannah Brockhaus*
6 de julho de 2025
A imponente vila papal de Castel Gandolfo, palácio
fortificado do século XVII às margens do lago Albano, no sul da Itália, recebe
um convidado de honra hoje (6) tarde, depois de 12 anos vazia.
O papa Leão XIV chegou hoje a esse refúgio de verão papal —
que fica a cerca de 40 km do centro de Roma, capital da Itália — por volta das
17h (meio-dia no horário de Brasília), onde deve ficar até 20 de julho. Depois,
retornará de 15 a 17 de agosto, para o feriado prolongado italiano da festa da
Assunção de Nossa Senhora.
Ele será, assim, o décimo sexto papa a ficar em Castel
Gandolfo. Ao contrário de seus antecessores, no entanto, o papa não se
hospedará no palácio apostólico de Castel Gandolfo, mas sim na Villa Barberini:
uma das três vilas que compõem o complexo (o palácio papal, a Villa Barberini e
outra vila usada para administração), onde trabalham cerca de 50 pessoas,
muitas das quais vivem no local com suas famílias.
Leão XIV já visitou esse lugar — tradicionalmente escolhido
como residência de verão pelos papas desde por volta do século XVII — em duas
ocasiões: em 29 de maio, quando visitou o Borgo
Laudato si' e o palácio papal, e na última quinta-feira (3), quando voltou para
verificar o estado das obras da Villa Barberini, que, com suas dependências e
jardins, será reservada para sua estadia.
Segundo o Vatican News, serviço oficial de
informações da Santa Sé, o Antiquarium, que fica no térreo do
edifício, permanecerá fechado ao público. O espaço, que abriga valiosos achados
arqueológicos descobertos na área entre 1841 e 1931, estava até agora na lista
de espaços museológicos que o papa Francisco decidiu abrir em 2016, depois de
sua estadia no Vaticano no verão italiano daquele ano. O papa argentino visitou
Castel Gandolfo três vezes, mas nunca se hospedou lá.
No entanto, Francisco não foi o único papa a tomar essa
decisão. A vila papal foi inaugurada no início do século XVII pelo papa Urbano
VIII, membro da família Barberini. Em 10 de maio de 1626, ele passou sua
primeira noite em Castel Gandolfo. Dos 31 papas que o sucederam, 15 se
recusaram a passar tempo fora do Vaticano.
Inocêncio X foi o primeiro bispo de Roma da lista de papas
que se recusaram a passar tempo fora do Vaticano. Em seus quatro séculos de
existência, o palácio papal de Castel Gandolfo ficou entre 1870 e 1929. Essas
seis décadas de abandono começaram com o fim dos Estados Pontifícios e
terminaram quando o ditador italiano Benito Mussolini reconheceu a Santa Sé
como sua legítima proprietária, com a assinatura do Tratado de Latrão.
Pio XI passava seis meses por ano em Castel
Gandolfo
Pio XI, eleito papa em fevereiro de 1922, foi atraído
rapidamente pelo luxo palaciano da vila, um contraponto perfeito ao calor
sufocante de Roma. Ele a amava tanto que passava seis meses por ano lá.
Entre as salas privadas que estão abertas ao público há nove
anos como parte do museu inaugurado pelo papa Francisco está o quarto onde o
venerável papa Pio XII e o papa são Paulo VI morreram.
Marcantonio Pacelli, avô de Pio XII, fundou o L'Osservatore
Romano, jornal oficial da Santa Sé, e toda a família, em geral,
desfrutou de uma frutífera relação bancária e cultural com a Santa Sé. São
Paulo VI foi eleito papa em 1963 e canonizado em 2018, junto com o arcebispo de
San Salvador, El Salvador, Óscar Arnulfo Romero, assassinado por esquadrões da
morte enquanto celebrava uma missa em 1980.
50 crianças nasceram na cama do papa entre janeiro e
junho de 1944
Há outros fatos interessantes sobre Castel Gandolfo. Bento
XVI passou a noite de 28 de fevereiro de 2013, quando renunciou ao papado, no
mesmo quarto onde dois papas morreram. Cerca de 40 crianças também nasceram lá
entre janeiro e junho de 1944. Naqueles meses sombrios da Segunda Guerra
Mundial, o venerável papa Pio XII, cujo nome de batismo é Eugenio Pacelli,
transformou a vila papal em refúgio para cerca de 12 mil desalojados que fugiam
dos bombardeios.
Famílias italianas ficaram tão gratas por terem conseguido
se abrigar dos bombardeios que deram a alguns dos recém-nascidos os nomes de
Eugênio ou Pio, em homenagem ao então papa.
O ingresso para o museu de Castel Gandolfo pode ser
adquirido no site dos Museus do Vaticano. Ele dá acesso à
galeria no primeiro andar do museu, que contém retratos de todos os papas do
século XVI até os dias atuais, ou às salas no segundo andar, onde acontecia o
cotidiano dos papas.
Também é possível visitar a biblioteca particular, que
testemunhou o momento em que Bento XVI entregou ao papa Francisco, seu
sucessor, uma caixa branca com documentos sobre males que atingem a
Igreja.
Turistas também podem visitar a capela particular; o Salão
dos Suíços, em que soldados faziam guarda; a Sala do Consistório, na qual o
colégio dos cardeais se reunia quando o papa estava lá, e a Sala do Trono.
Os grandes jardins de
Castel Gandolfo, que ocupam 550 mil m² de terreno — 110 mil m² a mais que toda a Cidade do Vaticano
— foram projetados pelo artista italiano
Gian Lorenzo Bernini. É uma paisagem bucólica que também tem uma
fazenda de gado, com vacas produzindo cerca de 600 litros de leite por dia, e
uma granja. O espaço também tem o Borgo Laudato si', inaugurado em fevereiro de 2023,
destinado a atividades educacionais e sociais para a formação integral.
*Hannah Brockhaus é jornalista correspondente da CNA em Roma
(Itália). Ela cresceu em Omaha, no estado americano de Nebraska e é formada em
Inglês pela Truman State University no Missouri (EUA).
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