LÁGRIMAS DA CASA COMUM
25/06/2025
Cardeal Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
“Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente; precisamos de
uma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos
mutuamente a olhar em frente. Como é importante sonhar juntos! Sozinho,
corre-se o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é junto que se
constroem os sonhos” (Papa Francisco).
Na tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do
Sul em maio de 2024, nos tornamos testemunhas e participantes da, talvez, maior
onda de solidariedade da história recente do Brasil. Após aquela tragédia,
distintos setores da sociedade manifestaram-se publicamente sobre a necessidade
de investimentos para proteger cidades e populações de semelhantes situações.
Não faltaram manifestações sobre a liberação de auxílio financeiro ao Estado e
aos municípios. Também não faltaram promessas sobre a construção de casas para
quem tudo perdeu.
Passaram-se 13 meses e as chuvas voltaram intensas!
Desabrigados; estradas e pontes destruídas! Novamente, os mesmos discursos:
“choveu acima da média”; “infelizmente, não se pode prever este tipo de
situação”; “estamos empenhados em ir ao encontro de quem necessita de auxílio”.
Certamente, tais observações têm sua razão de ser. No entanto, há de se
reconhecer: o tempo urge. A burocracia, a morosidade e, talvez, a falta de
transparência em alguns setores colaboram para a morosidade diante do que
necessita ser feito.
Até um passado não muito distante, se falava da “sociedade
do cansaço”. Atualmente, se fala da “sociedade do medo”! De fato, não faltam
sinais de que o medo está presente em amplos setores da sociedade. E são,
sobretudo, os mais pobres que sentem no cotidiano tal situação. Não bastasse a
falta de trabalho, segurança, transporte digno, acesso à educação com
qualidade, agora, mais uma vez, o medo de que a natureza produza nova
tragédia.
“A natureza chora dores de parto”, afirma S. Paulo.
Cientistas de distintos países têm alertado para a necessidade de atenção
particular para com o meio ambiente. Não faltam expressões da sociedade –
também da comunidade de fé! – que negam a necessidade de respeito, cuidado e
promoção do meio ambiente. Expoentes da fé cristã – e, de modo especial, o Papa
Francisco! – se fizeram voz das lágrimas da natureza. Os discípulos e
discípulos do Homem de Nazaré têm a missão de cuidar, promover e proteger a
Casa Comum. Ela é obra divina! Não basta se lamentar do acontecido ou do modo
de proceder do poder público. Urge que cada um colabore para deixar o mundo um
pouco melhor para as futuras gerações. A colaboração passa por atitudes como,
por exemplo, seleção do lixo, cuidado para manter ruas, esgotos, arroios e
bueiros limpos. Pode parecer pouco; no entanto, se cada um se empenhar por
colaborar, todos certamente poderemos sonhar com dias melhores.
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