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domingo, 2 de novembro de 2025

Quando a dor apaga quem somos

mrmohock | Shutterstock

Talita Rodrigues - publicado em 30/09/25

Quando a vida apaga o brilho: redescobrindo a centelha que resiste.

Avida tem um jeito cruel de nos testar. No começo, somos cheios de brilho, sonhos e esperança. Mas, conforme os anos passam, algumas dores se acumulam. Decepções, perdas, traições, ciclos que se repetem. Cada ferida deixa uma marca, cada golpe tira um pedaço. E sem perceber, algo dentro de nós, vai morrendo.

A alegria se torna um eco distante. O que antes fazia o coração vibrar agora já não faz diferença. O riso é raro, os olhos já não brilham como antes. Você se olha no espelho e não se reconhece. Onde foi parar aquela pessoa cheia de vida? O que sobrou de quem você era?

A essência, aquela centelha única que nos torna quem somos, parece ter se apagado. Você se acostuma a sobreviver, mas não a viver. Aprende a carregar o peso dos dias, a vestir um sorriso vazio, a dizer “está tudo bem” quando, na verdade, nada está.

E o mais doloroso é perceber que ninguém realmente vê. O mundo segue o seu curso enquanto você se perde dentro de si mesma. O silêncio vira o seu refúgio, porque explicar a dor parece impossível.

Mas mesmo na escuridão, há uma esperança silenciosa. Porque se um dia você brilhou, essa luz ainda existe em algum lugar. Talvez fraca, talvez escondida, mas sempre viva. E quem sabe, um dia, depois de tantas quedas, você encontre força para reacendê-la.

A esperança como semente de renascimento:

A dor tem a capacidade de nos transformar profundamente, mas não de nos definir para sempre. Muitas vezes, acreditamos que nossa luz se apagou, quando, na verdade, ela apenas se escondeu atrás das sombras das experiências difíceis. Assim como a semente precisa ser enterrada na escuridão da terra antes de florescer, nós também, em meio às perdas e quedas, podemos reencontrar uma nova forma de existir.

No silêncio da alma, quando tudo parece vazio, uma voz suave insiste em nos chamar para o alto. É a lembrança de que a vida não se limita à dor, mas é atravessada por um sentido maior. Essa esperança, que muitas vezes se confunde com fé, nos lembra que não caminhamos sozinhos, e que há uma Presença que continua acreditando em nós, mesmo quando já não acreditamos mais.

Talvez essa seja a verdade mais difícil de aceitar: a vida pode apagar o nosso brilho por um tempo, mas nunca consegue destruí-lo por completo. Ele continua ali, como uma chama pequena, aguardando o sopro certo para voltar a arder. E, quando esse momento chega, não é mais o mesmo brilho inocente do começo — é uma luz amadurecida, marcada pela dor, mas também pela resistência.

É nessa luz renovada que descobrimos que a vida tem um propósito maior do que imaginávamos. Que cada queda pode nos aproximar de algo mais profundo, mais verdadeiro, mais eterno. E assim, mesmo depois da noite mais escura, podemos reencontrar a claridade. Porque, no fim, o brilho não vem apenas de nós — mas da força que nos sustenta e nunca nos abandona.

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Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/09/30/quando-a-dor-apaga-quem-somos/

Na missa pelos mortos pede-se a salvação da alma de quem morreu, diz padre

Padre Anderson Alves | Facebook Seminário Diocesano de Petrópolis (ACI Digital)

Por Natalia Zimbrão

2 de nov de 2025 às 07:30

A Igreja Católica comemora hoje (2), da de finados, todos os fiéis defuntos. Rezar e celebrar missas por quem já morreu é uma tradição da Igreja. Na missa pelos mortos, o fiel “deve buscar acima de tudo a salvação da alma do fiel falecido” e, “com confiança, entregar aquela alma à misericórdia de Deus, suplicar o perdão dos seus pecados, o alívio das penas devidas às suas faltas”, disse à ACI Digital, em 2023, o padre Anderson Alves, da diocese de Petrópolis (RJ). Portanto, não se trata apenas de agradecer pela vida da pessoa que morreu ou consolar os entes queridos que ficaram.

“Quem o faz com fé, já tem o consolo da mesma fé. Os sacerdotes buscam, nesse momento, fortalecer a fé pascal dos fiéis. Certamente podem agradecer a Deus pelas boas obras do fiel. Mas devem também suplicar o perdão das suas falhas e pecados, confiantes na misericórdia divina”, acrescentou o sacerdote, que é diretor espiritual do seminário diocesano Nossa Senhora do Amor Divino e professor de Filosofia e Teologia Moral na Universidade Católica de Petrópolis (UCP).

O padre Alves destacou que “a Igreja é um mistério de comunhão” e a missa pelos mortos “pretende fortalecer a comunhão”, pois, por ela, “os falecidos necessitados de purificação são auxiliados; e os seus amigos e parentes vivos são confortados, são fortalecidos na fé no mistério pascal de Cristo, que ilumina o mistério da morte do cristão”. “O cristão acredita nas palavras de Jesus: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente’ (Jo 11, 25-26). A vitória de Cristo sobre a morte é o início da vida eterna do cristão”, acrescentou.

Segundo o sacerdote, rezar pelos mortos “supõe, evidentemente, a crença católica no juízo particular, que ocorre logo após a morte do fiel”. “A morte é a separação de corpo e alma. O corpo vai para o sepulcro e a alma sobrevive, por graça de Deus, independentemente do corpo. Essa alma é julgada pela verdade divina. As almas que estiverem na perfeição da caridade, alcançam imediatamente a comunhão com Deus, chamado então de Céu. As que morrerem com uma caridade imperfeita, ou seja, com alguns apegos ao pecado e às realidades terrestres, precisarão de uma última purificação, num estágio chamado então de ‘purgatório’. As nossas orações e o sacrifício da missa ajudam a purificar esses nossos irmãos”, disse.

O Catecismo da Igreja Católica diz em seu parágrafo 1.051 que, “ao morrer: cada homem recebe, na sua alma imortal, a sua retribuição eterna, num juízo particular feito por Cristo, Juiz dos vivos e dos mortos”. Portanto, disse o padre Alves, “é melhor evitar a afirmação de que o fiel falecido ‘já está no céu’”.

Para ele, pode ser que quem faça esta afirmação tenha “o intuito de consolar maior do que o de recordar a doutrina completa da Igreja”. “Talvez esteja movido pelos sentimentos da ocasião, ou talvez não tenha recebido um conhecimento exato da doutrina católica. A Escatologia é uma disciplina teológica que estuda esses temas e foi muito descuidada nos últimos anos, infelizmente, nas faculdades e seminários católicos”, disse.

O sacerdote destacou que “só podemos dizer” que o morto “já está no céu” em relação aos “santos canonizados pela Igreja”. “É certo que no início da Igreja, por um período, o santo era declarado como tal por aclamação popular. E um fiel pode ter a convicção de que algum falecido já esteja no céu. Muitos tiveram essa crença, por exemplo, durante o funeral de João Paulo II e Bento XVI e declaravam ‘santo súbito’. Mas só podemos ter a certeza de que um irmão esteja mesmo no Céu quando a Igreja declara a sua santidade, após um processo de canonização, algo que já ocorreu com João Paulo II e esperamos ocorrer logo com Bento XVI”, disse.

O padre Anderson Alves disse ainda que “é fato que a alma não perde a sua memória, não fica adormecida, sem consciência”. Por isso, “se um fiel falece em santidade”, ele “pode encontrar-se com outros santos, inclusive seus parentes, no Céu”; e, “se falece e vai para o purgatório, pode se recordar de outros fiéis vivos e falecidos”.

“O fato é que nós esperamos que todos se salvem, embora saibamos por fé que nem todos se salvem. A Igreja nos dá a certeza dos santos, mas não tem um catálogo dos condenados. Podemos esperar, portanto, encontrar nossos parentes e falecidos no céu e, enquanto vivemos, podemos rezar por isso e trabalhar pela salvação deles, para que esse desejo se realize. Se será realizado, só Deus o sabe”, disse.

Falta uma catequese sobre a morte

Para o padre Anderson Alves, atualmente, “falta uma catequese, uma meditação, uma reflexão maior sobre o tema dos chamados novíssimos (que falam das realidades últimas): a morte, o juízo particular, o inferno, o céu e o purgatório”.

“Infelizmente o discurso eclesial se secularizou muito nos últimos anos; tendemos a falar de política, de questões sociais, de meio ambiente, de violências, ofensas e mortes, de tantos temas nas nossas assembleias, que praticamente nos esquecemos de falar da nossa maior certeza: que todos morreremos um dia”, disse.

Ele lembrou que, “depois da morte, seremos julgados e receberemos o que tivermos buscado na nossa vida: uma vida eterna com Deus, um uma vida eterna sem Deus”. “Não há meio termo, esses são os dois únicos destinos eternos do homem”, porque “o purgatório é um estado provisório”, ressaltou.

“A cada momento, em cada ato humano, escolhemos livremente o nosso destino eterno. Isso não deve nos aterrorizar, mas deve nos tornar muito conscientes, muito responsáveis e zelosos para com o nosso tempo, com a nossa alma, com a caridade, que cobre uma multidão de pecados”, declarou.

O padre recordou as palavras de santo Tomás de Aquino, que definiu o pecado como “‘aversio a Deo et conversio ad creaturas’ (aversão a Deus e conversão às criaturas)”. “Em cada ato humano estamos escolhendo: se nos convertemos a Deus ou às criaturas. E como não podemos servir a dois senhores, se nos convertemos a Deus, não teremos criaturas como o nosso fim último. Se nos convertemos às criaturas e abandonamos a Deus, corremos o risco de nos perdermos para sempre. Devemos então nos recordar das palavras de Jesus: ‘O que adiante um homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?’ (Mc 8, 36)”, disse.

Respondendo se a Igreja mudou sua posição sobre a morte e passou a valorizar mais a manutenção e a promoção da vida do que a preparação para a vida eterna, o padre disse que não. “Pode ter ocorrido certa mudança circunstancial no discurso eclesial, como citei anteriormente, que pode dar a entender tal mudança. Mas não é possível manter a vida para sempre. Nossa maior certeza, é que somos mortais, que o nosso tempo está se esgotando, que o mais importante é decidirmos por Deus, afastando-nos do amor idolátrico pelas criaturas”.

“Evidentemente, o homem é composto de corpo e alma e temos o dever moral de cuidar do nosso corpo e da nossa alma. Devemos buscar cuidar da nossa vida, da nossa saúde, para podermos servir a Deus por muitos anos sobre essa vida, colaborando com a salvação de muitos. Também devemos ter caridade e cuidar da vida dos nossos irmãos”, disse.

Ao mesmo tempo, destacou o padre, “o nosso grande desejo deve ser o de ver a Deus, com o nosso corpo”. “A Igreja não poderá jamais deixar de promover a vida da alma. Como santo Tomás de Aquino dizia, seguindo santo Agostinho: ‘Como a alma é a vida do corpo, a caridade é a vida da alma’. E disse também são João da Cruz: ‘Ao entardecer da vida, seremos julgados pelo amor’. É isso o único que realmente conta”, concluiu.

*Natalia Zimbrão é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É jornalista da ACI Digital desde 2015. Tem experiência anterior em revista, rádio e jornalismo on-line.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/56615/na-missa-pelos-mortos-pede-se-a-salvacao-da-alma-de-quem-morreu-diz-padre

IGREJA: "A fé, na verdade, ilumina tudo com uma nova luz...(Parte 1/3)

São Pedro Apostólo em frente à Basílica (Fleepik)

IGREJA

Arquivo 30Dias nº 01 - 1998

"A fé, na verdade, ilumina tudo com uma nova luz... e, portanto, guia a inteligência em direção a soluções plenamente humanas."

Uma conversa com o Cardeal Pio Laghi, Prefeito da Congregação para a Educação Católica.

editado por Giovanni Cubeddu Um diálogo com o Cardeal Pio Laghi

Os Padres do último Concílio Ecumênico, em sua constituição pastoral Gaudium et Spes, declararam: " A fé ilumina tudo com uma nova luz... e assim guia a mente para soluções plenamente humanas". Quando faltam a simplicidade e a gratuidade da fé, a criatividade das mentes daqueles que ainda professam ser crentes também tende a faltar. Assim, acabamos falando demais e de forma muito genérica sobre cultura, de um jeito que é, no mínimo, enfadonho. Mas é raro encontrar evidências de intuição, pensamento e discernimento verdadeiramente criativos e inteligentes. Em suma, é como se Giacomo Leopardi, em vez de escrever poesia, tivesse apenas planejado obras poéticas...

Sobre esses temas, convidamos o Cardeal Pio Laghi, Prefeito da Congregação para a Educação Católica, para um diálogo franco e cordial com o 30Giorni. 

Teologia: muitos mestres, poucas testemunhas

30GIORNI: Após décadas de questionamento aberto aos dogmas e aos fatores fundamentais da instituição eclesiástica, parece que uma teologia e uma cultura formalmente ortodoxas são hegemônicas na Igreja (nos seminários, faculdades de teologia e universidades católicas). No entanto, parece-nos que, entre tantos professores e teólogos formalmente ortodoxos (e em carreiras eclesiásticas), é muito difícil – para não dizer impossível – encontrar pessoas que também testemunhem, em seu trabalho teológico e cultural, a simplicidade do amor a Jesus Cristo. Todos, evidentemente, falam de Cristo, mas, para usar as palavras de Charles Péguy, "o que é grave é o fato de ser uma tese". Não uma presença real à qual se possa, antes de tudo, dizer "Jesus" de joelhos, mas apenas uma tese teológica correta. 

Para nós, este parece ser o ponto de julgamento mais radical sobre a situação atual. Vocês não acham que esse perigo mortal está generalizado? Em uma entrevista anterior ao 30Giorni , discutimos o documento " Presença da Igreja na universidade e na cultura universitária" . Esse documento expressava a preocupação de que – em seu confronto com a ciência e a cultura – a Igreja pudesse se tornar uma academia, quando a presença da Igreja, precisamente, "deve oferecer a possibilidade efetiva de um encontro com Cristo"...

PIO LAGHI: A perspectiva indicada pela pergunta capta claramente um ponto-chave na verificação da autenticidade e adequação de qualquer iniciativa dentro da Igreja e, consequentemente, de toda a atividade realizada por seminários, faculdades de teologia e universidades católicas. Cada obra, cada gesto, cada palavra do crente individual, bem como da Igreja, deve encontrar sua justificação última, seu significado, unicamente em sua capacidade de "expressar" a presença de Jesus, de revelar Sua oferta de salvação. Nada na Igreja deve ir além do testemunho, além da voz da Esposa respondendo ao amor de seu Esposo. Contudo, embora este continue sendo um critério essencial de discernimento para estabelecer a validade do que os cristãos fazem, não é fácil torná-lo a base para um juízo sobre a capacidade real de indivíduos e instituições de expressar a simplicidade da fé. Não conhecemos as características da figura geral para podermos fazer afirmações seguras sobre traços individuais.

Dito isso, é certamente possível detectar uma tendência a se esconder atrás de uma teologia formalmente ortodoxa e de uma cultura cristã, mas, ao mesmo tempo, também se observam inúmeros sinais encorajadores apontando na direção oposta. Não se passaram muitos anos desde que Hans Urs von Balthasar denunciou a divisão artificial que surgiu no Ocidente entre teologia e santidade. Hoje, pode-se dizer que a necessidade de superar a oposição entre "teologia na escrivaninha" e "teologia de joelhos" — para usar a conhecida expressão do teólogo suíço — é percebida por muitos, especialmente pela geração mais jovem de seminaristas, professores e estudantes. É necessário levar isso em consideração e promover o desenvolvimento dessas sementes positivas. Não se pode tirar conclusões precipitadas. Isso corre o risco de fomentar uma espécie de suspeita em relação ao mundo acadêmico, à pesquisa rigorosa e paciente, à inteligência, como se estes não fossem mais capazes de serem permeados pela mensagem do Evangelho. Em vez disso, devemos continuar a trabalhar para que a universidade, permanecendo verdadeiramente uma universidade, ofereça a possibilidade real de um encontro com Cristo. 

Homologação Cultural

30 DIAS: Outro perigo que parece estar presente na atual situação eclesial é a tentativa de impor uma cultura única, a tentativa de hegemonia cultural a qualquer custo e, portanto, o perigo da homologação cultural. Em vez de estarmos unidos nas coisas necessárias, nos dogmas ( in necessariis unitas), …), e livres em empreendimentos culturais (em hipóteses e escolhas culturais), parece-nos que se busca uma uniformidade cultural. O que, portanto, não é cultura autêntica. A cultura, sendo a consciência crítica e sistemática de uma experiência, é por sua natureza fruto da criatividade pessoal. Enquanto isso, hoje, o que um escritor inteligente e atípico, Gianni Baget Bozzo, em seu livro O Futuro do Catolicismo: A Igreja depois do Papa Wojtyla (Casale Monferrato, Piemme, 1997), chama de "ideologia conciliar", em sua versão moderada, parece dominante. Essa ideologia é exatamente o oposto da letra e do espírito, por exemplo, das duas constituições dogmáticas do Concílio Ecumênico Vaticano II, Lumen Gentium Dei Verbum.

Paradoxalmente, poderíamos dizer que hoje é possível até mesmo colocar certos dogmas (como o pecado original) entre parênteses, desde que se seja culturalmente moderado.
Você não acha que essa falta de liberdade na cultura, essa tentativa de um projeto cultural uniforme, pode ser perigosa? (Estamos falando de uma falta de liberdade que não é teórica, mas prática.)

Você não acha que essa falta de liberdade (de pluralismo teológico e cultural legítimo) nas hipóteses e escolhas culturais representa um perigo para a própria fé, por que há uma tendência a confundir a unidade necessária no essencial com aquilo que é eminentemente livre e contingente?

LAGHI: Em uma cultura dominada pelo "politicamente correto", é bastante compreensível que haja tentativas, mesmo dentro da esfera eclesiástica, de impor um modelo cultural uniforme. Tentam fazer com que todos concordem com a seguinte questão: "Qual o sentido de se aproximar dos outros, buscar comunicação, diálogo?" Nesse sentido, poderíamos falar de uma espécie de "hegemonia cultural" para o nosso tempo. Em resposta, acredito que devemos cultivar a convicção de que essa visão "moderada", aparentemente favorável ao surgimento da liberdade, é na verdade sufocante. Criar uma sinfonia, onde as vozes individuais sejam simultaneamente autônomas e afinadas, exige o reconhecimento de um Centro que impulsiona a vida, um Coração pulsante. É este Centro que é indicado pelos dogmas da Igreja, e é a este Centro que devemos nos referir se quisermos nos tornar culturalmente fecundos, crescer em liberdade e desenvolver um pluralismo teológico saudável. É um horizonte sempre aberto, um chamado constante. O verdadeiro perigo, talvez, seja deixar de reconhecer que o risco que você destacou existe. 

Fonte: https://www.30giorni.it/

Papa no Dia de Finados: não ficar preso a lágrimas de nostalgia, mas alcançar Jesus com esperança

Papa Leão XIV, 02/11/2025 (Vatican Media)

Antes do Angelus, na Praça São Pedro, Leão XIV encorajou a "não ficar preso ao passado e às lágrimas de nostalgia", e nem "lacrados ao presente, como num túmulo", mas ao futuro que vem de Jesus, do "nosso estar com Cristo" que "ilumina o destino de cada um de nós": "Ele nos chama pelo nome, prepara-nos um lugar, liberta-nos do sentido da impotência com o qual corremos o risco de renunciar à vida". A própria visita ao cemitério precisa ser "um convite à memória e à esperança" na ressureição.

https://youtu.be/pzmLrIjhGVQ

Andressa Collet - Vatican News

Neste Dia de Finados, em que a Igreja recorda o fiéis já falecidos, o Papa Leão XIV encorajou os peregrinos presentes na Praça São Pedro para a oração mariana do Angelus a "não ficar preso ao passado e às lágrimas de nostalgia", e nem ao presente "como num túmulo", mas ao futuro que vem de Jesus, do "nosso estar com Cristo" e da esperança na ressureição, que "ilumina o destino de cada um de nós". E cada um "tem o seu lugar, brilhando em toda a sua unicidade", recordou o Pontífice por ocasião do mistério celebrado na Solenidade de Todos os Santos de sábado, 1º de novembro: "uma comunhão de diferenças que, por assim dizer, alarga a vida de Deus a todos os filhos e filhas que desejaram fazer parte dela".

Neste domingo, 2 de novembro, portanto, a Comemoração de todos os fiéis defuntos "nos aproxima ainda mais do mistério", continuou o Papa:

"Conhecemos interiormente a preocupação de Deus em não perder ninguém, sempre que a morte parece nos fazer perder para sempre uma voz, um rosto, um mundo inteiro. Na verdade, cada pessoa é um mundo inteiro. O dia de hoje, portanto, é um dia que desafia a memória humana, tão preciosa e tão frágil. Sem a memória de Jesus – da sua vida, morte e ressurreição – o imenso tesouro de cada vida fica sujeito ao esquecimento. Porém, na memória viva de Jesus, mesmo aqueles de quem ninguém se lembra, mesmo aqueles que a história parece ter apagado, emergem na sua dignidade infinita."

A oração mariana do Angelus na Praça São Pedro com o Papa Leão XIV   (@Vatican Media)

Leia aqui a íntegra das palavras do Papa Leão XIV

A esperança de Jesus nos liberta do passado de lágrimas

Por isso, disse Leão XIV, "os cristãos recordam desde sempre os defuntos em cada Eucaristia e, até ao dia de hoje, pedem que os seus entes queridos sejam mencionados na oração eucarística. Desse anúncio nasce a esperança de que ninguém se perderá". A própria visita ao cemitério, continuou o Papa, "onde o silêncio interrompe o frenesi de tantos afazeres", precisa ser "um convite à memória e à esperança", como todos nós professamos no Credo, de esperar "a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir":

“Não fiquemos presos ao passado, às lágrimas da nostalgia. Nem tampouco estejamos lacrados ao presente, como num túmulo. Que a voz familiar de Jesus nos alcance, e alcance a todos, porque é a única que vem do futuro. Ele nos chama pelo nome, prepara-nos um lugar, liberta-nos do sentido da impotência com o qual corremos o risco de renunciar à vida.”

Os fiéis presentes na Praça São Pedro para rezar o Angelus com o Papa   (@Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Fiéis Defuntos

Fiéis Defuntos (A12)
Fiéis Defuntos

Para todos os povos da humanidade, seja qual for a origem, cultura e credo, a morte continua a ser o maior e mais profundo dos mistérios. Mas, para os católicos, tem o gosto da esperança. Esse é o mistério pascal de Cristo: morte e ressurreição. Ele nos garantiu que para quem crê, for batizado e seguir Seus ensinamentos, a morte é apenas a porta de entrada para desfrutar com Ele a vida eterna no Reino do Pai.

Enquanto para todos os homens a morte é a única certeza, para os católicos ela é a primeira de duas certezas. A segunda é a ressurreição que nos leva a aceitar o fim da vida terrena com compreensão e consolo. Para nós, a morte é um passo definitivo em direção à colheita dos frutos que plantamos aqui na Terra.

A Igreja nos ensina que as almas em purificação podem ser socorridas pelas orações dos fiéis. Assim, este dia é dedicado à memória dos nossos antepassados e entes que já partiram. Encontramos a celebração da missa pelos mortos desde o século V, com origem anterior, nos mosteiros beneditinos, por iniciativa de São Odilão abade.

Um dos mais belos Dogmas da Igreja é o da “Comunhão dos Santos”. Dessa maneira entendemos que os que estão no Céu, na feliz morada com Deus para sempre, os que se purificam no Purgatório, e nós, que ainda caminhamos pelas estradas deste mundo, formamos um só corpo. Por esse motivo, podemos e devemos rezar pelos que partiram, pois nossas orações são eficazes para ajudá-los a mais rapidamente chegarem à casa definitiva do Pai.

 A oração pelas almas do Purgatório é grande obra de caridade, pois elas já não podem, por si mesmas, nada mais fazer pela atenuação dos seus pecados; e os sofrimentos do Purgatório, como nos é ensinado pela Igreja, é maior do que qualquer provação espiritual e material desta vida. Estas almas têm o consolo de saberem que serão salvas, mas nossas orações podem abreviar suas penas. Uma vez no Céu, elas também rezarão por nós.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R.
Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A recordação dos fiéis defuntos nos projeta para o futuro. Nossa fé fala-nos de Esperança, a grande palavra-chave desse dia. Trata-se do anseio que todo homem tem de ter a verdadeira felicidade, a felicidade duradoura, sem máculas e sem fim. Essa felicidade só se pode dar no encontro definitivo com Deus, que é a essência do Amor e do Belo. A missão de Jesus, revelada nos Evangelhos, é de dar a vida eterna a todos os que creem em Seu nome.

Oração:

Eterno Pai, ofereço-Vos o Preciosíssimo Sangue de Vosso Divino Filho Jesus, em união com todas as Missas que hoje são celebradas em todo o mundo; por todas as Santas almas do Purgatório, pelos pecadores de todos os lugares, pelos pecadores de toda a Igreja, pelos de minha casa e de meus vizinhos. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 1 de novembro de 2025

História de Santa Maria de Cléofas

Santa Maria de Cléofas (Cruz Terra Santa)

Santa Maria de Cléofas

Origens

Santa Maria de Cléofas é uma tia de Jesus citada nos Evangelhos. A forma como ela é chamada, Maria “de Cléofas” é uma referência ao seu marido chamado Cléofas. Em algumas versões ele é chamado de Cléopas ou de Clopas, mas trata-se da mesma pessoa. Cléofas Alfeu era irmão de São José e Maria de Cléofas era irmã da Virgem Maria segundo algumas tradições. Santa Maria de Cléofas acompanhou Jesus desde a gravidez da Virgem Maria até sua morte e ressurreição. É, portanto, uma testemunha ocular e preciosa dos fatos relativos à História da Salvação.

A confusão com os chamados “irmãos de Jesus”

Santa Maria de Cléofas e seu marido tiveram três filhos mencionados nos Evangelhos: Simão, Tiago Menor, José e Judas Tadeu. Eles foram muitas vezes confundidos como sendo “irmãos do Senhor”, mas, na realidade, eram primos. É que nas línguas semíticas não existe uma palavra para designar “primo” e outros graus de parentesco. Por isso, parentes como tios e primos são chamados de irmãos.

Testemunha

Santa Maria de Cléofas vivia em Nazaré com sua família e, provavelmente, tinha sua casa ao lado da casa de Nossa Senhora, como era o costume das famílias naquele tempo. Por isso, ela certamente acompanhou a Virgem Maria em todos os momentos do Mistério de Cristo. Como tia, carregou Jesus no colo, amparou-o, encantou-se com a bondade do sobrinho e alegrou-se ao ver seus filhos seguindo os passos de Jesus.

Presente nos Evangelhos

Os Evangelhos atestam Santa Maria de Cléofas acompanhando Jesus em várias passagens. Encontramo-la fiel no sofrimento, aos pés da cruz de Jesus, ao lado da Virgem Maria:

Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena". (Jo 19,25) São  Mateus confirma esta presença (Mateus 27, 56 e 61). Depois, na madrugada do domingo da ressurreição (Mt 28,1).

São Marcos relata a presença de Santa Maria de Cléofas aos pés da Cruz (Mc 15, 40 e 47) e também que Santa Maria de Cléofas foi uma das testemunhas da ressurreição de Cristo:

"E passado o sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo (...) O mensageiro divino anunciou às piedosas mulheres: Por que procuram o vivo entre os mortos?" (Mc 16,1 e seguintes).

E depois, muito provavelmente, ela e seu marido Cléofas estiveram no Cenáculo no dia de Pentecostes quando o Senhor enviou o Espírito Santo, dando início à Igreja.

Apoio a Nossa Senhora

Santa Maria de Cléofas foi, sem dúvida, um apoio humano para a Virgem Maria. Na alegria e na tristeza ela é citada nos Evangelhos. Seus filhos certamente cresceram como irmãos de Jesus na pequena aldeia de Nazaré, que tinha, no máximo, 500 habitantes. É admirável sua fidelidade aos pés da cruz de seu sobrinho Jesus, e na alegria da ressurreição, quando ela e outras mulheres foram ao túmulo para ungir o corpo do Mestre e acabaram encontrando-o vivo, ressuscitado. Por tudo isso, Santa Maria de Cléofas pode ser chamada carinhosamente de padroeira das tias, pois ela foi tia amada e presente na vida de Jesus.

Oração a Santa Maria de Cléofas

Ó Deus, que destes a Santa Maria de Cléofas a graça de ser irmã de Nossa Senhora, cunhada de São José e tia de Jesus, presente em todos os momentos da vida dele, dai também a nós a graça de sermos presentes junto às nossas famílias, sejam as de laços consanguíneos, sejam as de laços afetivos. Por Cristo, nosso Senhor, amém. Santa Maria de Cléofas, intercedei por nós. Ajuda-nos na relação com nossas famílias e abençoe nossos entes queridos. Santa Maria de Cléofas, rogai por nós.”

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

Catequese por ocasião do 60º aniversário da Declaração conciliar Nostra aetate

Crédito: Opus Dei

Por ocasião do sexagésimo aniversário da declaração conciliar Nostra Aetate, o Papa Leão XIV nos lembra que "O verdadeiro diálogo está enraizado no amor, único fundamento da paz, da justiça e da reconciliação".

29/10/2025

Estimados irmãos e irmãs, peregrinos na fé e representantes das diferentes tradições religiosas! Bom dia, bem-vindos!

No centro da reflexão de hoje, nesta Audiência geral dedicada ao diálogo inter-religioso, desejo colocar as palavras do Senhor Jesus à samaritana: "Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade" (Jo 4, 24). No Evangelho, este encontro revela a essência do autêntico diálogo religioso: um intercâmbio que se estabelece quando as pessoas se abrem umas às outras com sinceridade, escuta atenta e enriquecimento recíproco. É um diálogo que nasce da sede: a sede de Deus pelo coração humano e a sede humana de Deus. No poço de Sicar, Jesus supera as barreiras de cultura, gênero e religião. Convida a samaritana a uma nova compreensão do culto, que não se limita a um lugar em particular – “nem nesta montanha, nem em Jerusalém” – mas que se realiza em Espírito e verdade. Este momento capta o núcleo do diálogo inter-religioso: a descoberta da presença de Deus, além de todas as fronteiras, e o convite a procurá-lo juntos com reverência e humildade.

Há sessenta anos, no dia 28 de outubro de 1965, o Concílio Vaticano II, com a promulgação da Declaração Nostra aetate, abriu um novo horizonte de encontro, respeito e hospitalidade espiritual. Este Documento luminoso ensina-nos a encontrar os seguidores de outras religiões não como estranhos, mas como companheiros de viagem no caminho da verdade; a honrar as diferenças, afirmando a nossa humanidade comum; e a discernir, em qualquer busca religiosa sincera, um reflexo do único Mistério divino que abraça toda a criação.

Em particular, não devemos esquecer que a primeira orientação da Nostra aetate foi para o mundo judaico, com o qual São João XXIII tencionava restabelecer a relação original. Assim, pela primeira vez na história da Igreja, devia adquirir forma um tratado doutrinal sobre as raízes judaicas do cristianismo que, nos planos bíblico e teológico, representasse um ponto de não retorno. "O povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à descendência de Abraão. Com efeito, a Igreja de Cristo reconhece que os primórdios da sua fé e eleição já se encontram, segundo o mistério divino da salvação, nos patriarcas, em Moisés e nos profetas" (NA, 4). Assim a Igreja, "lembrada do seu comum patrimônio com os judeus, e levada não por razões políticas, mas pela religiosa caridade evangélica, deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de antissemitismo, seja qual for o tempo em que isto sucedeu e seja quem for a pessoa que isto promoveu contra os judeus" (ibid.). Desde então, todos os meus predecessores condenaram o antissemitismo com palavras claras. E assim também eu confirmo que a Igreja não tolera o antissemitismo e o combate, por causa do próprio Evangelho.

Hoje podemos olhar com gratidão para tudo o que foi realizado no diálogo judaico-católico nestas seis décadas. Isto não se deve apenas ao esforço humano, mas à assistência do nosso Deus que, segundo a convicção cristã, é em si mesmo diálogo. Não podemos negar que neste período houve também desentendimentos, dificuldades e conflitos que, no entanto, nunca impediram a continuação do diálogo. Também hoje não devemos permitir que as circunstâncias políticas e as injustiças de alguns nos desviem da amizade, sobretudo porque até agora conseguimos realizar muito.

O espírito da Nostra aetate continua iluminando o caminho da Igreja. Ela reconhece que todas as religiões podem refletir "um raio da verdade que ilumina todos os homens" (n. 2) e procuram respostas para os grandes mistérios da existência humana, de tal modo que o diálogo deve ser não apenas intelectual, mas profundamente espiritual. A Declaração convida todos os católicos – bispos, clero, pessoas consagradas e fiéis leigos – a participar sinceramente no diálogo e na colaboração com os seguidores de outras religiões, reconhecendo e promovendo tudo o que é bom, verdadeiro e santo nas suas tradições (cf. ibid.). Hoje isto é necessário em praticamente todas as cidades do mundo onde, devido à mobilidade humana, as nossas diversidades espirituais e de pertença são chamadas a encontrar-se e a conviver fraternalmente. A Nostra aetate recorda-nos que o verdadeiro diálogo afunda as suas raízes no amor, único fundamento da paz, da justiça e da reconciliação, ao mesmo tempo que rejeita com firmeza todas as formas de discriminação ou perseguição, afirmando a igual dignidade de todos os seres humanos (cf. NA, 5).

Portanto, caros irmãos e irmãs, sessenta anos após a Nostra aetate, podemos perguntar-nos: o que podemos fazer juntos? A resposta é simples: agir juntos. Mais do que nunca, o nosso mundo precisa da nossa unidade, amizade e colaboração. Cada uma das nossas religiões pode contribuir para aliviar o sofrimento humano e cuidar da nossa casa comum, o nosso planeta Terra. As nossas respectivas tradições ensinam a verdade, a compaixão, a reconciliação, a justiça e a paz. Devemos reafirmar o serviço à humanidade, em todos os momentos. Juntos, devemos vigiar contra o abuso do nome de Deus, da religião e do próprio diálogo, assim como contra os perigos representados pelo fundamentalismo religioso e pelo extremismo. Devemos abordar também o desenvolvimento responsável da inteligência artificial porque, se for concebida como alternativa ao humano, ela pode violar gravemente a sua dignidade infinita e neutralizar as suas responsabilidades fundamentais. As nossas tradições têm uma imensa contribuição a oferecer para a humanização da técnica e, por conseguinte, para inspirar a sua regulamentação, em defesa dos direitos humanos fundamentais.

Como todos nós sabemos, as nossas religiões ensinam que a paz começa no coração do homem. Neste sentido, a religião pode desempenhar um papel essencial. Devemos restituir a esperança à nossa vida pessoal, às nossas famílias, bairros, escolas, aldeias, países e ao nosso mundo. Esta esperança fundamenta-se nas nossas crenças religiosas, na convicção de que um mundo novo é possível.

Há sessenta anos, a Nostra aetate trouxe esperança ao mundo depois da segunda guerra mundial. Hoje somos chamados a refundamentar esta esperança no nosso mundo devastado pela guerra e no nosso ambiente natural degradado. Colaboremos, pois se estivermos unidos tudo é possível. Façamos com que nada nos divida. E, neste espírito, desejo manifestar mais uma vez a minha gratidão pela vossa presença e amizade. Transmitamos este espírito de amizade e colaboração também à geração futura, porque é o verdadeiro pilar do diálogo.

E agora, detenhamo-nos um momento em oração silenciosa: a oração tem o poder de transformar as nossas atitudes, pensamentos, palavras e ações.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/catequese-por-ocasiao-do-60o-aniversario-da-declaracao-conciliar-nostra-aetate/

A vida não obedece os nossos planos

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Reportagem local - publicado em 06/12/16 - atualizado em 31/10/25

Independentemente de qual seja a perda que você vivencia nesse momento, lembre-se deste valioso conselho.

Existe uma expressão que diz “Quando penso que sei todas as respostas, a vida vai e muda as perguntas”; e é assim mesmo, quando menos esperamos tudo muda e as coisas tomam rumo muito diferente. Assim o é quando nos deparamos com as perdas, afinal nunca contamos com elas, não é mesmo? Perda da saúde, de entes queridos por morte ou separação, de confiança, de emprego, de sossego… Isso em relação a nós mesmos como também às pessoas que convivem conosco. Acontecimentos assim burlam nossos planos e são capazes de provocar grande insegurança, tristeza e desarmonia.

Mas o fato é que não se pode fugir das intemperanças e todos passam por momentos assim; a vida não obedece aos nossos planos e, não raras vezes, precisamos nos adequar às novas realidades. Lidar com perdas é uma das grandes dificuldades do ser humano, no entanto elas estão sempre acontecendo, fazendo parte da vida de casa um. O mais sábio, pois, e encarar a superação como um desafio constante e poderoso, capaz de nos mostrar novas oportunidades e meios diferentes de reencontrar o equilíbrio de nossas emoções. Fazer dos reveses alavanca que nos faça abandonar a zona de conforto e ir ao encontro de possibilidades diferentes é o que promove amadurecimento e evolução.

Facilita encontrar a superação quando entendemos que nada é eterno, tudo é passageiro e momentâneo, exceto nossa alma. É primordial, pois, nos livrar do apego, do desejo de manter tudo e todos. É preciso encarar a realidade de que um dia as situações e, até mesmo as pessoas se transformam e, por mais doloroso que isso possa ser, precisamos aceitar e reformular nossas vidas a partir disso. A aceitação e consequente adaptação faz parte do entendimento de que não tem mais jeito, que ocorreu mesmo a perda e a vida precisa continuar. Não estou dizendo que seja simples, longe disso; estou afirmando que é possível e que essa é, ainda, a forma menos dolorosa de encarar os fatos.

Independentemente de qual seja a perda que você vivencia nesse momento, lembre-se de manter a serenidade, não permitindo que o abalo seja ainda maior, dominando a sua mente. Procure equilibrar suas emoções de forma a aceitar o que não pode mudar e seguir em frente levando o aprendizado que certamente o fará mais forte diante dos torvelinos da vida. Encare a doença, a separação, o fim e qualquer revés como oportunidade de reflexão e mudança; certamente isso fará de você uma pessoa mais madura e preparada para a vida em toda a sua complexidade. Afinal, existem muitas alegrias a serem vivenciadas que não podem ser desvalorizadas ou preteridas.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2016/12/06/a-vida-nao-obedece-os-nossos-planos/

Descartes

Cultura do descarte (ISCF)

DESCARTES

31/10/2025

Dom Juarez Albino Destro
Bispo Auxiliar de Porto Alegre (RS)

Não, não me refiro ao famoso René Descartes, mundialmente conhecido pela frase que, certamente, já escutamos em algum momento da vida: “Penso, logo existo” (em latim: Cogito, ergo sum). O filósofo e matemático francês viveu entre os anos 1596 e 1650. Autor do “Discurso sobre o Método”, publicado em 1637, seu pensamento deu origem à Filosofia Moderna. Evidência, análise, síntese, enumeração, racionalismo, conhecimento… 

Justamente no dia em que eu estava concluindo a leitura – agradável – da autobiografia do papa Francisco, Esperança, naquela parte onde faz referência à sua última Encíclica, a quarta de seu pontificado de 12 anos, com o título em latim: Dilexit nos, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo, as notícias não paravam de chegar – desagradáveis – sobre as consequências da chamada “Operação Contenção”, em nossa querida e bela São Sebastião do Rio de Janeiro. “Ver avós chorarem sem que isso seja intolerável só pode ser sinal de um mundo sem coração”, afirmava o papa, referindo-se ao escândalo com o qual se confrontava “demasiadas vezes em demasiadas viagens, em demasiadas audiências, num mundo dilacerado por conflitos devastadores” (p. 348). Nas fotos estampadas no dia seguinte ao que ocorreu naquele conflito nos Complexos da Penha e do Alemão, impossível não se emocionar, sentir um “nó na garganta”, imaginando o choro daquela gente, pais, mães, avós, filhos… Intolerável! E os mortos? Anjos ou demônios? Certamente veremos “juízes” de ambos os lados! 

No sábado celebraremos a Solenidade de Todos os Santos, um dia para recordarmos nossa vocação, nosso chamado à santidade. Os santos e santas são os nossos numerosos intercessores. A eles costumamos pedir que interceda a Deus por nós. Como lemos no Apocalipse, um dos livros da Bíblia, trata-se de “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Quem são esses? São os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,9.13-14). A Igreja nos propõe os exemplos dos santos para chegarmos a Deus. Mas, por sermos seus filhos e filhas, somos todos chamados à santidade! Desde as primeiras páginas da Bíblia, de várias maneiras, percebemos este chamado: “Anda na minha presença e sê perfeito” (Gn 17,1); “Antes da fundação do mundo Deus nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1,4). E o Papa Francisco, falecido há pouco mais de seis meses, dentre tantos belos escritos deixados, presenteou-nos também com uma Exortação Apostólica sobre o chamado à santidade no mundo atual: Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exultai). Nesse documento ele nos recorda que não devemos pensar que os santos sejam apenas aquelas pessoas já beatificadas e canonizadas: “Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra” (GEx 14). E o Papa Francisco nos encoraja: “Não tenhas medo […] de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça” (GEx 34). Nessa frase ele acaba nos dando uma definição do que seja santidade: o encontro da nossa fragilidade com a força da graça de Deus! Em outras palavras, o encontro do humano com o divino! Isso nos dá um alento e nos estimula a praticar, no dia a dia, as bem-aventuranças proferidas por Jesus (cf. Mt 5,1-12): desapego, paciência, mansidão, misericórdia, pureza de coração, paz, justiça, alegria, ousadia, ardor… Desafios! 

No domingo faremos memória de todos aqueles que já passaram por essa vida e que estão vivos em outra dimensão. Alimentamos, claro, uma saudável saudade em relação aos nossos entes queridos que já não se encontram entre nós. No entanto, fazer memória dos falecidos é também ocasião para recordarmos que a morte é certa para todos e que podemos melhor projetar nossa vida, dando espaço para refletir sobre o autêntico sentido da vida. A morte, pois, ensina-nos a viver! E Deus é o Deus da vida, não é um Deus de mortos, mas de vivos, lemos em São Marcos (12,27). O Texto Conclusivo de Aparecida, a 5ª Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, de 2007, tratando dessa questão, afirmou que devemos “neutralizar a cultura da morte com a cultura cristã da solidariedade” (DAp 480), pois não queremos “andar pelas sombras da morte” (DAp 350), mas, sim, no caminho da vida, pois “a vida é presente gratuito de Deus, dom e tarefa que devemos cuidar desde a concepção, em todas as suas etapas, até a morte natural, sem relativismos” (DAp 464). O Dia de Finados, portanto, junto à memória de nossos entes queridos chamados à eternidade, nos ensina, mais uma vez, o valor da vida. E nos convoca a repudiar todo e qualquer sinal de morte em nossa vida. 

Na Exortação Apostólica do papa Leão XIV, Dilexi Te, sobre o amor para com os pobres, refletindo sobre as estruturas de pecado que criam pobreza e desigualdades extremas (n. 90-98), assim afirma: “Embora não faltem diversas teorias que tentam justificar o estado atual das coisas ou explicar que a racionalidade econômica nos exige esperar que as forças invisíveis do mercado resolvam tudo, a dignidade de cada pessoa humana deve ser respeitada já agora, não só amanhã, e a situação de miséria de tantas pessoas, a quem é negada esta dignidade, deve ser um apelo constante à nossa consciência” (n. 92). “A falta de equidade é a raiz dos males sociais. Com efeito, muitas vezes constata-se que, de fato, os direitos humanos não são iguais para todos” (n. 94). 

Certamente, mesmo sem ser mencionado ou compreendido, Descartes, o filósofo racionalista, com seus métodos de conhecimento, será bastante utilizado nas evidências análises, sínteses, enumerações do massacre histórico de São Sebastião do Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2025. Mas, o título deste singelo artigo quer fazer referência a um outro significado da palavra “descarte”, que nos foi aprofundada pelo saudoso papa Francisco, desde, ao menos, 2015, há 10 anos, com a sua primeira Encíclica, a Laudato Si’, sobre o cuidado da Casa Comum, a Ecologia Integral. Nas páginas finais do livro Esperança, sua autobiografia lançada no início deste ano, lemos: “Na era da inteligência artificial, não podemos esquecer que a poesia e o amor são essenciais para salvar a humanidade” (p. 349). E, querendo indicar um antídoto ou espécie de remédio para as pessoas que não amam, ou mantém um ódio inconsciente, Francisco afirma que “o oposto mais comum ao amor de Deus, à compaixão de Deus, à misericórdia de Deus é a indiferença. Para aniquilar um homem ou uma mulher, basta ignorá-los. A indiferença é uma agressão. A indiferença pode matar. O amor não tolera indiferença” (p. 357). 

A cultura do descarte, que diz respeito não apenas aos alimentos e aos bens de consumo, mas, antes de tudo, às pessoas que são marginalizadas por sistemas tecnoeconômicos em cujo centro, mesmo sem percebermos, muitas vezes não está mais a humanidade, mas seus produtos, essa cultura do descarte só pode ser superada pela educação à fraternidade e à solidariedade concreta, recorda Francisco (p. 358). 

Que não fiquemos indiferentes aos tantos descartes que fazemos em nosso dia a dia, uma cultura que, de modo urgente, deve mudar. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Leão XIV: Newman, Doutor da Igreja, luz para as novas gerações

Papa Leão XIV na Solenidade de Todos os Santos 2025 (Vatican Media)

Na Solenidade de Todos os Santos, o Papa Leão XIV inscreveu São John Henry Newman entre os Doutores da Igreja e, por ocasião do Jubileu do Mundo Educativo, o nomeou co-padroeiro, com Santo Tomás de Aquino, de todos os agentes que participam no processo educativo. A celebração foi realizada neste sábado, 1º de novembro, na Praça São Pedro.

Vatican News

Na manhã deste sábado, 1º de novembro, Solenidade de Todos os Santos, o Papa Leão XIV presidiu a celebração da Santa Missa na Praça São Pedro, na qual inscreveu São John Henry Newman entre os Doutores da Igreja e, ao mesmo tempo, por ocasião do Jubileu do Mundo Educativo, o nomeou co-padroeiro, com Santo Tomás de Aquino, de todos os agentes que participam no processo educativo. Até hoje os Doutores da Igreja são 37, entre os quais 4 mulheres, com São John Newman serão 38.

O mais novo Doutor da Igreja, São John Henry Newman   (@Vatican Media)

Inspirar as novas gerações

O Papa Leão apresentou o novo Doutor da Igreja afirmando: "a imponente estatura cultural e espiritual de Newman servirá de inspiração para as novas gerações com o coração sedento de infinito, disponíveis a realizar, através da pesquisa e do conhecimento, aquela viagem que, como diziam os antigos, nos faz passar per aspera ad astra, ou seja, através das dificuldades até aos astros".

Escolas: laboratórios de profecias

Depois de afirmar que a vida dos santos testemunha-nos que é possível viver com paixão na complexidade do tempo presente sem deixar de lado o mandato apostólico, dirigindo-se aos educadores e às instituições educativas disse: “o Jubileu é uma peregrinação na esperança e todos vós, no vasto campo da educação, sabeis bem o quanto a esperança é uma semente indispensável! Quando penso nas escolas e nas universidades, penso nelas como laboratórios de profecia, onde a esperança é vivida e continuamente narrada e reproposta”.

Evangelho das Bem-aventuranças

Leão falou em seguida sobre o sentido do Evangelho das Bem-aventuranças hoje proclamado. “As Bem-aventuranças trazem consigo uma nova interpretação da realidade. São o caminho e a mensagem de Jesus educador. À primeira vista, parece impossível declarar bem-aventurados os pobres, aqueles que têm fome e sede de justiça, os perseguidos ou os que promovem a paz. Mas o que parece inconcebível na gramática do mundo, enche-se de sentido e luz na proximidade do Reino de Deus”. Continuando sobre o tema disse ainda: “As Bem-aventuranças não são um ensinamento entre tantos: são o ensinamento por excelência. Da mesma forma, o Senhor Jesus não é um entre tantos mestres, é o Mestre por excelência. Mais ainda, é o Educador por excelência. Nós, seus discípulos, encontramo-nos na sua escola, aprendendo a descobrir na sua vida, ou seja, no caminho por Ele percorrido, um horizonte de sentido capaz de iluminar todas as formas de conhecimento”. 

Não ao pessimismo

“Os desafios atuais podem parecer, por vezes, superiores às nossas forças, mas não é assim”, afirmou o Santo Padre reiterando, “não permitamos que o pessimismo nos vença!”. Citando o Papa Francisco recordou suas palavras sobre o pessimismo quando afirmava que “devemos trabalhar juntos para libertar a humanidade da escuridão do niilismo que a rodeia e que é, talvez, a doença mais perigosa da cultura contemporânea, pois ameaça ‘anular’ a esperança”. A referência à noite que nos rodeia, disse o Papa, recorda-nos um dos textos mais conhecidos de São John Henry, o hino “Luz terna, suave, leva-me mais longe”. Nessa linda oração, percebemos que estamos longe de casa, que temos pés vacilantes, que não conseguimos decifrar claramente o horizonte. Mas nada disso nos detém, porque encontrámos o nosso Guia: Luz terna, suave, no meio da noite, leva-me mais longe”.

Tarefa da educação

É tarefa da educação oferecer esta Luz Terna àqueles que, de outra forma, poderiam permanecer aprisionados pelas particularmente insidiosas sombras do pessimismo e do medo” reiterou Leão. “Por isso, gostaria de vos dizer: desarmemos as falsas razões da resignação e da impotência e façamos circular no mundo contemporâneo as grandes razões da esperança”. Encorajando os presentes: “Encorajo-vos a fazer das escolas, das universidades e de todas as realidades educativas, mesmo informais e de rua, limiares de uma civilização de diálogo e paz”.

Percurso educativo

São John Henry escreveu: “Deus criou-me para lhe prestar um serviço específico. Confiou-me uma tarefa que não confiou a outros. Tenho uma missão: talvez não a chegue a conhecer nesta vida, mas ela ser-me-á revelada na vida futura”. “Nestas palavras”, disse o Papa, “encontramos expresso, de um modo esplêndido, o mistério da dignidade de cada pessoa humana e também o da variedade dos dons distribuídos por Deus” Explicando em seguida:

A vida ilumina-se não porque somos ricos, bonitos ou poderosos. Ela ilumina-se quando uma pessoa descobre dentro de si esta verdade: sou chamado por Deus, tenho uma vocação, tenho uma missão, a minha vida serve para algo maior que eu próprio!” (...) “Não o esqueçamos: no centro dos percursos educativos não devem estar indivíduos abstratos, mas pessoas de carne e osso, especialmente aquelas que parecem não render, segundo os parâmetros de uma economia que exclui e mata. Somos chamados a formar pessoas, para que brilhem como astros em toda a sua dignidade”. Concluindo em seguida: “Portanto, podemos afirmar que a educação, na perspectiva cristã, ajuda todos a tornarem-se santos. Nada menos do que isso”.

“Rezo para que a educação católica ajude cada um a descobrir a sua vocação à santidade. Santo Agostinho, que São John Henry Newman tanto apreciava, disse uma vez que todos nós somos companheiros de estudo com um único Mestre, cuja escola se encontra na terra, mas cuja cátedra está no céu.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF