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terça-feira, 12 de agosto de 2025

A pedido de Leão XIV, dom Orani permanece mais 2 anos à frente da Arquidiocese do Rio

Cardeal Orani Tempesta com Papa Leão XIV Cardeal Orani Tempesta com Papa Leão XIV (Vatican Media)

O Papa manifestou reconhecimento e gratidão pelo serviço prestado por Dom Orani ao longo destes anos e pediu que continue conduzindo o Povo de Deus com serenidade, generosidade e zelo pastoral.

A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro informa que, no dia 7 de agosto de 2025, o Santo Padre, Papa Leão XIV, acolheu a renúncia apresentada por seu arcebispo metropolitano, cardeal Orani João Tempesta, O.Cist., ao governo pastoral desta Igreja Particular, conforme as normas do Direito Canônico, utilizando a fórmula “nunc pro tunc”.

Ao mesmo tempo, o Santo Padre determinou que o cardeal permaneça à frente da Arquidiocese por mais dois anos, até a nomeação de seu sucessor.

O Papa manifestou reconhecimento e gratidão pelo serviço prestado por dom Orani ao longo destes anos e pediu que continue conduzindo o Povo de Deus com serenidade, generosidade e zelo pastoral.

O cardeal acolheu a decisão com espírito de comunhão e renovado compromisso, convidando todo o clero, religiosos, religiosas e fiéis leigos a se unirem em oração e renovado ardor missionário, especialmente neste tempo de júbilo em que a Arquidiocese celebra seu jubileu de 450 anos.

*Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

PAULO VI: Cartas de misericórdia (Parte 1/2)

Giovanni Battista Montini durante seus anos na Secretaria de Estado. Ao fundo, uma de suas cartas dirigidas a Dom Orione pedindo assistência aos padres falecidos | 30Giorni.

Arquivo 30Dias n. 07/08 - 2001

6 de agosto de 1978 • Paulo VI morre em Castel Gandolfo

Cartas de misericórdia

A correspondência, iniciada em 1928, entre Giovanni Battista Montini, então jovem funcionário da Secretaria de Estado, e Dom Orione, sobre a ajuda a ser dada a alguns sacerdotes em dificuldade.

por Flávio Peloso

Aos que ostentavam as dolorosas estatísticas das crescentes deserções sacerdotais em todo o mundo, o Cardeal Ottaviani respondeu observando que, mesmo entre os apóstolos de Jesus, um em cada doze fracassava. E também para Ottaviani, se a primeira reação a um padre que "caía" era de indignação, a misericórdia imediatamente se impunha, virtude que só quem entrou nas coisas de Deus pode compreender e viver. Virtude própria daqueles que experimentam e creem na graça vitoriosa de Deus. A misericórdia, aliás, brilhara por meio de exemplos repletos de santa concretude na ajuda, redenção e orientação de padres em dificuldade, então chamados de "lapsi". Desde as primeiras décadas do século XX, figuras ilustres e santas se movimentaram discretamente nessa obra dos "Bons Samaritanos": Dom Luís Orione, que havia estabelecido uma rede de solidariedade, São João Calábria, e o Servo de Deus, Padre Mário Venturini, que se interessou concretamente pelos padres que haviam se afastado de sua vocação. A um bispo que lhe confiou um padre pobre, rejeitado por todos, Dom Orione respondeu: " Não recuso laborem , mas agora já tenho mais de cinquenta irmãos nossos que se afastaram de uma forma ou de outra. O Santo Padre me encorajou neste trabalho e me deu conselhos cheios de iluminada sabedoria, e assim, cardeais e bispos, e com a ajuda divina, muitos se reabilitaram, e têm razão."

Entre as congregações fundadas por Dom Orione, Dom Calabria e Padre Venturini, uma espécie de pacto de solidariedade foi estabelecido na década de 1950 para melhor auxiliar esses padres em dificuldade. "Sem dúvida, este tipo de trabalho é muito necessário, e é bom que o Senhor inspire muitos a empreendê-lo", escreve Padre Venturini. "Desde os primeiros anos do meu sacerdócio", escreve o Padre Calabria, "procurei aproximar-me destes nossos pobres irmãos, ajudando-os a regressar ao dulcíssimo coração de Jesus. Esta obra é, sem dúvida, muito querida a Jesus, mas, ao mesmo tempo, é igualmente delicada e complexa."

Nos documentos do Arquivo Geral "Dom Orione", encontra-se uma copiosa e comovente correspondência mantida pelo Beato Orione sobre a questão e a "gestão" destes delicados casos sacerdotais (ver Mensagens de Dom Orione 3/2001). Há também uma longa e inédita troca de cartas entre Dom Orione e Monsenhor Giovanni Battista Montini, o futuro Paulo VI.

O renomado fundador e o jovem monsenhor

O jovem e promissor Dom Giovanni Battista Montini ingressou na Secretaria de Estado em 1923. Após um breve período na Nunciatura de Varsóvia, em 1925 foi nomeado assistente eclesiástico nacional da FUCI. Uma correspondência manuscrita de Dom Montini, descoberta no Arquivo "Dom Orione", em Roma, data desse período. Consiste em uma dúzia de cartas endereçadas ao Beato Dom Luigi Orione (1872-1940), com início em 1928. Quase todas elas tratam da assistência e orientação de padres "falecidos".

Dom Orione, naqueles anos, já era conhecido por ser um "Bom Samaritano" — Buonaiuti lhe deu esse epíteto — por muitos padres que passavam por crises de pensamento durante os anos do modernismo, ou de fidelidade sacerdotal, ou enfrentavam outros problemas da vida.

Dom Luís Orione | 30Giorni.

A primeira carta de Monsenhor Montini a Dom Orione, datada de 27 de dezembro de 1928, trata da assistência a um padre necessitado. "Peço-lhe, pela misericórdia de Nosso Senhor, que faça com que o ex-padre *** seja acolhido em uma de suas casas em Roma. Ele havia deixado o hábito e a vida sacerdotal após dezesseis anos de bom ministério paroquial."

Monsenhor Montini já havia conhecido Dom Orione em um encontro dos Amigos do Pequeno Cottolengo, em Gênova, em 18 de março de 1927. Ficou cativado. "Ele falava com uma franqueza tão simples", recordou mais tarde, "tão despojada, mas tão sincera, tão afetuosa, tão espiritual, que tocou meu coração também, e fiquei impressionado com a transparência espiritual que emanava daquele homem simples e humilde." Monsenhor Montini alude a esse mesmo encontro em seu discurso a Dom Orione em seu novo cargo: "Não sei se o senhor se lembra de mim: conheci-o em Gênova, quando realizou uma reunião para o seu trabalho há quase dois anos: eu estava com Franco Costa [mais tarde bispo, assistente geral da Ação Católica]. Mas certamente me lembro da sua gentileza, e é isso que me dá a esperança de não ter recorrido em vão a um amigo dos pobres como o senhor."

Além desse motivo para compartilhar seus sentimentos, sua iniciativa é movida simplesmente pela caridade sacerdotal: "Não tenho responsabilidade, nem qualquer autoridade, exceto a de alguém que reza por um irmão que encontrei por acaso. Ele ainda é muito jovem, tem boa ética de trabalho e parece disposto a fazer qualquer coisa para escapar da situação terrível em que se encontra há vários dias: ele estava em uma instituição que, cansada de tê-lo sob seus cuidados, apesar das orações de Monsenhor Canali e do vicariato, o expulsou. Agora ele está em um hotel, tentado pela pobreza e pelo abandono, com pensamentos desesperados."

Dom Orione comunicou imediatamente, no dia 29 de dezembro, a Dom Montini sua disposição de atender seu pedido, pedindo apenas maiores informações e garantias quanto ao sacerdote que precisava ajudar.

"Venerabilíssimo Dom Orione, Monsenhor Canali agradece a caridade que demonstra para com o Sr. ***", escreveu novamente Monsenhor Montini em 4 de janeiro de 1929. "Creio poder assegurar-lhe, de consciência tranquila, as condições que impôs para a sua aceitação; isto é, o correto comportamento do Sr. ***, a sua vontade de voltar a trabalhar bem pela causa do Senhor e a sua disposição de manter em segredo a sua condição de padre até que seja (se possível) reabilitado. Não tenho conhecimento de que ele tenha estado nas Marcas: ele concorda em ir para lá, embora preferisse permanecer em Roma para poder levar o seu caso adiante junto do Santo Ofício; mas, confiante de que, se necessário, o senhor também poderá ajudá-lo nesta boa advocacia, ele partirá de bom grado assim que o senhor lhe der instruções precisas. Não posso expressar o bem que a sua carta me fez também: a exasperação deste pobre homem e a impossibilidade de o tirar da sua situação difícil deixaram-me muito triste. Esperemos que o seu trabalho seja o primeiro a se beneficiar disso." bons benefícios deste trabalho de caridade. […] Ele é alguém que precisa ser tratado com força e amor e posto para trabalhar duro, assim ele deseja."

Fonte: https://www.30giorni.it/

O que o novo presidente da Polônia significa para o país e para a Europa cristã

Karol Nawrocki. | Imagem principal, domínio público/ fundo da bandeira: via Unsplash

Por Solène Tadié*

7 de ago. de 2025

A posse do presidente Karol Nawrocki ontem na Polônia encontra o país em uma encruzilhada.

Católico praticante e conservador, filiado ao partido Lei e Justiça (PiS, na sigla em polonês), Nawrocki foi eleito em um segundo turno acirrado no início de junho. Embora a presidência polonesa seja em grande parte simbólica, o cargo pode se tornar especialmente importante em momentos de polarização.

A eleição de Nawrocki ocorreu depois de meses de crescentes tensões culturais e políticas sob a administração liberal do primeiro-ministro Donald Tusk, no poder desde dezembro de 2023, e sinaliza não só uma potencial recalibração do poder, mas também uma disputa renovada sobre a identidade política, moral e espiritual da Polônia.

As duas rodadas de votação ocorreram em 18 de maio e 1º de junho e Nawrocki venceu por uma margem apertada, com 50,89% dos votos, contra seu oponente liberal Rafał Trzaskowski, que obteve 49,11%.

A Polônia tem um sistema parlamentarista no qual o poder executivo é exercido principalmente pelo primeiro-ministro e pelo Conselho de Ministros. O presidente, embora detenha poderes executivos limitados, mantém importantes prerrogativas constitucionais, como o direito de vetar leis, nomear altos funcionários e influenciar a política externa e de segurança.

Um eleitorado dividido

A ascensão de Nawrocki ao poder levanta a questão de qual papel uma presidência que reivindica uma identidade cristã e conservadora pode desempenhar num país caracterizado tanto por intensa polarização política quanto por um cenário religioso em mudança.

Embora a Polônia continue sendo um dos países mais católicos da Europa, a secularização se intensificou fortemente nos últimos anos, particularmente depois da crise da covid-19. Essa mudança, porém, não é uniforme nem definitiva. Assim, o resultado dessa presidência não reflete apenas tensões internas, mas repercute em debates europeus mais amplos em torno do futuro da fé, das identidades nacionais e da perenidade dos valores tradicionais numa sociedade em rápida evolução.

Segundo Grzegorz Górny, importante jornalista católico, a presidência de Nawrocki pode marcar um ponto de inflexão importante.

“O direito de veto pode, na verdade, ser uma ferramenta poderosa”, disse ele à EWTN. Para anular veto presidencial, a coalizão que apoia o primeiro-ministro precisaria de uma maioria de três quintos (60%) no Sejm (o parlamento polonês), o que atualmente ela não tem.

O jornalista enfatizou que o governo de Tusk planejava apresentar um projeto de lei para legalizar o aborto no ano passado e sinalizou novas leis visando a Igreja, como uma decisão de reduzir pela metade o número de horas alocadas para aulas de catequese católica em escolas públicas, parte de um esforço mais amplo para reformular o papel do cristianismo na vida pública polonesa.

“O governo planejou implementar rapidamente uma revolução cultural e moral — a vitória de Karol Nawrocki frustrou esses planos”, disse Górny.

Mais confrontador que Duda

Marek Matraszek, consultor político experiente e familiarizado com assuntos públicos poloneses e europeus, acredita que Nawrocki pode ter um impacto político maior do que seu antecessor Andrzej Duda — não por causa do poder institucional, mas devido ao temperamento e posicionamento político.

"Duda era visto como cauteloso e conciliador; Nawrocki é mais direto, mais combativo", disse ele à EWTN. Para Matraszek, o tom incomumente pessoal de sua rivalidade com Tusk, moldado por ataques acirrados na campanha, sugere um estilo político mais confrontador. Nawrocki, ex-boxeador amador, pode de fato trazer uma posição mais firme à presidência.

Segundo Matraszek, ele também poderia tentar internacionalizar questões como o Estado de Direito e a liberdade de imprensa, usando sua plataforma para desafiar a trajetória do governo tanto na Europa quanto no exterior.

A assertividade de Nawrocki surge num momento em que Tusk enfrenta crescente pressão política. Desde a eleição, Tusk tem sido colocado em dúvida não só pela oposição, mas também por sua própria base política, por não ter concretizado as reformas sociais prometidas. Uma pesquisa feita poucos dias antes da posse de Nawrocki mostrou que cerca de metade dos poloneses acredita que Tusk deveria renunciar.

Em 11 de julho, o primeiro-ministro pediu um voto de confiança no Sejm, dizendo que seu governo estava enfrentando “desafios maiores” depois do resultado presidencial.

Mudanças nas divisões e desafios para a Igreja

Além da dinâmica jurídica e institucional, a batalha em curso também é de natureza cultural e geracional. Górny destacou um acontecimento inesperado: o apoio a Nawrocki entre eleitores jovens.

“Foi uma grande surpresa”, disse ele, “que a maioria dos jovens apoiasse candidatos de direita. Trzaskowski só recebeu 12% dos votos no primeiro turno”.

Nesse contexto, Matraszek disse que a sociedade polonesa não está mais nitidamente dividida em linhas ideológicas tradicionais e que duas polarizações sobrepostas estão emergindo. Uma permanece horizontal — entre visões de mundo liberais e conservadoras. A outra, que ele chama de "polarização vertical", opõe o establishment político às crescentes forças antielite. Esse eixo atravessa as linhas partidárias e tem críticas à Igreja institucional, cada vez mais vista por alguns como parte da ordem estabelecida.

Ambos os analistas reconhecem que a Igreja também está enfrentando desafios crescentes.

Górny observou uma tendência dupla entre os jovens: enquanto alguns se afastam sob a influência da cultura consumista, outros gravitam em direção a um novo conservadorismo não-confessional.

“Até recentemente, o catolicismo estava no cerne da identidade conservadora”, disse ele. “Agora, vemos a ascensão de uma direita secular focada em patriotismo, história e segurança nacional, mas distante da Igreja”.

Górny destacou, em particular, a ascensão do Partido Confederação — um movimento secular, patriótico e antissistema — entre eleitores mais jovens.

Matraszek confirmou essa mudança e falou também sobre uma nuance: “A frequência à igreja está diminuindo, mas olhando mais de perto, especialmente entre os jovens de 18 a 29 anos de idade, já há um pequeno, mas notável, renascimento da identidade cristã — particularmente entre os jovens. Não se trata só de religião institucional, mas de uma redescoberta da cultura e do significado cristãos”.

A questão do aborto não parece ter tido um impacto significativo no resultado da eleição, ao contrário do que muitos observadores esperavam. Embora a mídia ocidental frequentemente aponte o aborto como uma divisão central na política polonesa, tanto Górny quanto Matraszek minimizaram sua importância desta vez.

“O tema esteve praticamente ausente”, disse Górny. “Até os três principais candidatos de direita expressaram sua oposição ao aborto em casos de estupro, e isso quase não gerou polêmica”.

Matraszek falou sobre o porquê: “Nawrocki foi cauteloso em não fazer do aborto uma questão central da campanha, sabendo que isso poderia mobilizar a esquerda. Ele prometeu vetar qualquer liberalização, mas evitou desencadear reações emocionais negativas”.

Implicações continentais

Então, o que representa a presidência de Nawrocki? Para Górny, é uma espécie de baluarte contra a arrogância ideológica e um sinal de que a alma cristã da Polônia está longe de se extinguir. Para Matraszek, é também um momento de acerto de contas: uma oportunidade de reconectar os valores católicos com uma geração mais jovem desiludida tanto pelo progressismo agressivo quanto pela rigidez institucional.

Nos próximos anos, a capacidade de Nawrocki de moldar o debate na Polônia — por meio de autoridade moral, vetos estratégicos e potencial alcance internacional — será observada de perto.

Em jogo está mais do que o equilíbrio do poder interno. A Polônia está na vanguarda dos debates europeus mais amplos sobre identidade política e continuidade espiritual. Suas disputas culturais e mudanças geracionais em curso — marcadas tanto pela secularização quanto por sinais de renovação — oferecem um estudo de caso revelador das tensões que moldam muitas sociedades ocidentais.

Com a posse de Nawrocki como presidente, a direção futura do país poderá continuar a repercutir muito além de suas fronteiras.

*Solène Tadié é correspondente europeia do National Catholic Register. Ela é franco-suíça e cresceu em Paris (França). Depois de se formar em jornalismo pela Universidade Roma III, ela começou a fazer matérias sobre Roma e o Vaticano para a Aleteia. Ingressou no L’Osservatore Romano em 2015, onde trabalhou sucessivamente na seção francesa e nas páginas culturais do jornal italiano. Ela também colaborou com várias organizações de mídia católicas de língua francesa. Solène é bacharel em filosofia pela Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63983/o-que-o-novo-presidente-da-polonia-significa-para-o-pais-e-para-a-europa-crista

Pais: lúcidos, amorosos e testemunhas de esperança

A influência do comportamento dos pais na vida dos filhos (Canção Nova)

PAIS: LÚCIDOS, AMOROSOS E TESTEMUNHAS DE ESPERANÇA

06/08/2025

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

Festejar o Dia dos Pais é reavivar sempre no seio da Igreja e da comunidade familiar uma vocação e missão sublime e transcendente pela sua relevância humana e cristã. Exige não só valorizar e reconhecer a sua presença e função mas ajudar a descobrir e aprofundar a lucidez e a visão desta missão insubstituível.  

Lucidez que implica responsabilidade e comprometimento em acompanhar e fazer acontecer o desenvolvimento integral e harmonioso dos filhos, bem como despertar os valores e virtudes que possibilitarão tal crescimento.  

Não significa só escolher uma escola, supervisionar o plano de estudos e a formação intelectual como um todo, mas investir na educação dos sentimentos, valores e atitudes, e tudo aquilo que faz emergir um bom coração, uma pessoa que anseia servir e amar, um ser humano inteiro, que será um bom cristão e um cidadão irrepreensível como afirma São Paulo.  

Não será como se pretendia erroneamente num passado não muito longínquo um iniciador sexual dos filhos, mas quem apresentará por experiência própria, o respeito, reconhecimento, complementariedade, empatia para com as nossas irmãs mulheres.  

Claro que como dizia José Mujica, neste momento crítico que estamos vivendo, ensinará como faziam nossos avós a ter vergonha na cara, a ser sempre honesto e sincero custe o que custar e a tratar bem e de forma igualitária a todas as pessoas não discriminando a ninguém.  

Desta forma testemunhará pela maneira de ser, a esperança, descortinando ideais e sonhos que inspirarão a seus filhos a serem melhores, mais justos e fraternos, construtores atuantes de uma sociedade mais equitativa, inclusiva, pacífica e harmoniosa, onde caibam todos/as.  

Alguns podem dizer que tudo isto é utópico ou irreal, mas esquecem o valor da graça e das promessas feitas por Deus aos pais, e que o caminho do bem e do amor é sempre o mais belo e frutuoso e o que nos levará ao céu. Deus seja louvado! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Deus também tem esperança

Palco em Tor Vergata durante a Vigília do Jubileu dos Jovens  (@Vatican Media)

"Na verdade, é na aurora que se desponta a percepção do Ressuscitado. A aurora de um novo dia, sempre é sinal de esperança. Cristo Vitorioso nos dá a esperança de vencer a cada dia que passa, onde o outro nos desperta para o olhar para o Ressuscitado. Cada dia, um novo dia, uma nova perspectiva, um novo começo, um despontar de uma nova realidade."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

"Deus também tem esperança", é a reflexão que Pe. Gerson Schmidt* nos propõe no início desta semana. Novamente o sacerdote gaúcho inspira-se nos escritos do cardeal Raniero Cantalamessa OFMCap.  Sua afirmação de que “Deus também espera” é provocadora e teologicamente rica, pois em termos clássicos, Deus é plenitude, ato puro, sem necessidades ou carências — logo, não esperaria ou teria fé como os humanos. Mas Cantalamessa usa uma a linguagem da fé em sentido relacional, atribuindo a Deus sentimentos humanos para expressar Seu envolvimento conosco. Nesse sentido, dizer que Deus “espera” ou “tem esperança em nós” é uma forma profunda de expressar que Ele confia, aguarda livremente nossa resposta de amor e fidelidade.

"Santo Agostinho, no comentário sobre a Primeira Carta de São João[1], intitulado “o amor cobre uma multidão de pecados”, fala que “estamos correndo, portanto, e é para a pátria que corremos. Mas, se perdemos a esperança de chegar, falhamos por nossa própria falta de esperança. No entanto, aquele que deseja que cheguemos, para nos ter consigo na pátria, nos alimenta no caminho”. Pois é Deus que alimenta em nós a esperança, para que não esmoreçamos na caminhada diária. 

As virtudes teologais são tratadas por dois grandes poetas: Dante Alighieri e Charles Péguy. Péguy diz que “a fé vê apenas aquilo que é, mas a esperança vê o que será. A caridade ama apenas o que é; A esperança ama o que será”. Cardeal Raniero Cantalamessa escreve em seu livro intitulado “Fé, esperança e caridade – as três graças do Cristianismo”, que Deus também espera. Pode parecer estranho que até Deus conheça a esperança, porque Ele tudo é, em plenitude.

A caridade é recíproca, porque Deus nos ama e nós o amamos. Mas não é assim necessariamente com a fé e a esperança. Nós temos fé e esperança em Deus, mas Deus pode ter fé e esperança em nós? E a resposta é que Deus tem muita confiança e fé em nós, mais do que nós nele, porque confiou-nos, desde o início, toda a criação. Jesus mesmo disse que haverá mais alegria no céu por um só pecador que se converte, do que por 99 justos que não precisam de conversão (cf. Lc 15,7). Claro que isso é uma alegoria, porque como deve uma ovelha pesar na balança tanto quanto todas as restantes juntas e a contar mais é precisamente aquela que fugiu e criou mais problemas?

A explicação que Cantalamessa considera mais conveniente é esta: “ao perder-se esta ovelha, tal como filho pródigo, fez tremer o coração de Deus. Deus temeu perdê-los para sempre, ser forçado a condená-los e a privar-se deles eternamente. Este medo faz brotar a esperança em Deus e a esperança uma vez realizada provocou a alegria e a festa”. E diz o poeta Péguy: “Cada conversão do ser humano é o coroar de uma esperança de Deus”.

A condição que torna a possível esperança é o fato de não vermos o futuro; não sabemos o que ele nos reserva e, portanto, há espaço em nós para esperança. Em Deus que conhece o futuro, a condição que torna possível uma forma de esperança é que Ele não quer e, em certo sentido, não pode realizar o que deseja sem o nosso consentimento. A liberdade humana explica a existência da esperança em Deus. Deus aguarda nossa conversão. Nosso Deus é um Deus que não quer a morte do injusto, mas que ele mude de comportamento e viva (cf. Ez 33,11). Não quer a morte do corpo, muito menos a morte eterna da alma. Se a morte da alma ocorrer, uma coisa é certa: não foi Deus quem a quis e a decidiu.  A vontade de Deus é que “todos sejam salvos”, conforme professa a segunda carta de São Paulo a Timóteo(2,4).

No documento final do Sínodo (2021-2024) que tratou sobre o tema da “sinodalidade”, aponta algumas reflexões sobre a esperança. No número 13 do documento diz que “na manhã de Pentecostes, encontramos três discípulos: Maria de Magdala, Simão Pedro, o discípulo que Jesus amava. Cada um deles procura o Senhor à sua maneira, cada um tem o seu papel na aurora da esperança. Maria Madalena é movida por um amor que a leva primeiro ao túmulo. Avisados por ela, Pedro e o Discípulo Amado dirigem-se para o túmulo; o Discípulo Amado corre com a força da juventude, procura com o olhar de quem sente primeiro, mas sabe dar lugar ao mais velho a quem foi confiada a tarefa de guia; Pedro, oprimido por ter negado o Senhor, aguarda o encontro com a misericórdia da qual será ministro na Igreja. Maria permanece no jardim, ouve chamar pelo seu nome, reconhece o Senhor que a envia para anunciar a sua ressurreição à comunidade dos discípulos. É por isso que a Igreja a reconhece como Apóstola dos Apóstolos. A dependência recíproca entre eles encarna o coração da sinodalidade”.

Na verdade, é na aurora que se desponta a percepção do Ressuscitado. A aurora de um novo dia, sempre é sinal de esperança. Cristo Vitorioso nos dá a esperança de vencer a cada dia que passa, onde o outro nos desperta para o olhar para o Ressuscitado. Cada dia, um novo dia, uma nova perspectiva, um novo começo, um despontar de uma nova realidade.

Nesse mesmo documento das conclusões finais da “escuta sinodal”, lemos assim: “A Igreja existe para testemunhar ao mundo o acontecimento decisivo da história: a ressurreição de Jesus. O Ressuscitado traz a paz ao mundo e dá-nos o dom do seu Espírito. Cristo vivo é a fonte da verdadeira liberdade, o fundamento da esperança que não engana, a revelação do verdadeiro rosto de Deus e o destino último do homem”[2].

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
________________

[1] SANTO AGOSTINHO DE HIPONA, Tract. 1,5-6: SCh 75,124-126, Séc. V.
[2] PAPA FRANCISCO, XVI ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS, “Por uma Igreja Sinodal, comunhão, participação e missão”, Documento Final, CNBB, n. 14, p.25.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Por que Jesus se transfigurou?

Stig Alenas | Shutterstock

Philip Kosloski - publicado em 06/08/25

Com a Transfiguração, Jesus quis fortalecer a fé de seus discípulos, que liderariam a Igreja após sua morte.

Com a Transfiguração, Jesus quis fortalecer a fé de seus discípulos, que liderariam a Igreja após sua morte.

Durante a vida de Jesus na terra, ele realizou muitos milagres que foram testemunhados por grandes multidões. No entanto, houve um milagre que ele revelou apenas a um pequeno grupo de seus apóstolos (três deles, para ser exato). Ele revelou-lhes sua glória celestial e permitiu que vislumbrassem a beleza de sua luz.

Por que Jesus fez isso?

Catecismo da Igreja Católica explica que a Transfiguração reforçou a fé dos principais apóstolos, aqueles que liderariam a Igreja após sua morte:

“Por um momento, Jesus mostra a sua glória divina, confirmando assim a confissão de Pedro. Mostra também que, para «entrar na sua glória», tem de passar pela cruz em Jerusalém” (CIC 555).

“A transfiguração de Cristo tem por fim fortalecer a fé dos Apóstolos em vista da paixão: a subida à «alta montanha» prepara a subida ao Calvário. Cristo, cabeça da Igreja, manifesta o que o seu Corpo contém e irradia nos sacramentos: «a esperança da Glória»”(CIC 568).

São Tomás de Aquino ecoa esse raciocínio em sua Summa Theologiae: 

“Era apropriado que Ele mostrasse a Seus discípulos a glória de Sua clareza (que deve ser transfigurada), para a qual Ele configurará aqueles que são Seus …”

É preciso lembrar que a Transfiguração de Jesus não foi feita apenas para esses três apóstolos, mas depois de ser compartilhada com todos os discípulos de Jesus, tornou-se um incentivo para todos os cristãos:

“A Transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa de Cristo, «que transfigurará o nosso corpo miserável para o conformar com o seu corpo glorioso» . Mas lembra-nos também que temos de passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus»” (CIC 556). 

Tudo na vida de Jesus tinha um grande propósito, e a Transfiguração pode nos ajudar ainda hoje a olhar para a glória que nos espera após a Paixão desta vida.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/08/06/por-que-jesus-se-transfigurou/

Papa: “A Eucaristia celebra-se não só no altar, mas também na vida quotidiana”

Audiência Geral, 06/08/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

Leão XIV iniciou, nesta quarta-feira, 06/08, um novo ciclo de catequeses, dedicado à reflexão sobre o mistério pascal e a importância espiritual de se preparar para o encontro com Cristo. "O verdadeiro amor – recorda-nos o Evangelho – é dado antes mesmo de ser correspondido. É um dom antecipado. Não se baseia no que recebe, mas sim no que deseja oferecer.", afirmou.

https://youtu.be/8RNRhnPtFBk

Thulio Fonseca – Vatican News

“Irmãos e irmãs, bom dia!”

Com essas palavras proferidas em português, o Papa iniciou a Audiência Geral desta quarta-feira, 6 de agosto, realizada na Praça São Pedro. Leão XIV deu continuidade às reflexões sobre o itinerário jubilar e propôs uma nova etapa de meditações sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus. O Pontífice sugeriu aos fiéis uma leitura espiritual do verbo “preparar”, a partir de um trecho do Evangelho de Marcos.

“Continuamos a nossa caminhada jubilar para descobrir o rosto de Cristo, em quem a nossa esperança toma forma e substância”, afirmou o Papa. E, partindo do episódio evangélico em que os discípulos perguntam a Jesus onde desejava celebrar a Páscoa, Leão XIV destacou a importância dos pequenos detalhes: “No primeiro dia dos Ázimos, quando se imolava a Páscoa, disseram-lhe os seus discípulos: ‘Onde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a Páscoa?’” (Mc 14,12).

Segundo o Papa, “a resposta de Jesus parece quase enigmática: ‘Ide à cidade, e virá ao vosso encontro um homem carregando uma bilha de água’ (v. 13)”. E prosseguiu explicando que os elementos aparentemente banais da cena – como o homem com o cântaro ou a sala no andar superior – revelam uma realidade mais profunda: “Com efeito, é exatamente assim. Neste episódio, o Evangelho revela-nos que o amor não é fruto do acaso, mas de uma escolha consciente. Não é uma reação simples, mas uma decisão que exige preparação.”

Deus sempre nos precede

O Papa ressaltou que a imagem da “sala já pronta no andar superior” mostra como Deus se antecipa às nossas necessidades: “Antes mesmo de percebermos que precisamos de ser acolhidos, o Senhor já preparou um espaço para nós, onde nos podemos reconhecer e sentir seus amigos.” Esse espaço, segundo o Santo Padre, é o nosso próprio coração, muitas vezes vazio, mas chamado a ser preenchido pela presença divina:

“Jesus não enfrenta a sua paixão pelo destino, mas pela fidelidade a um caminho que abraçou e percorreu com liberdade e cuidado. É isso que nos consola: saber que o dom da sua vida vem de uma intenção profunda, não de um impulso imediato.”

Neste caminho, destacou o Pontífice, “a graça não elimina a nossa liberdade, mas desperta-a. O dom de Deus não anula a nossa responsabilidade, mas torna-a fecunda.”

Celebrar a Eucaristia na vida quotidiana

Leão XIV advertiu para a tentação de confundir os preparativos com ativismo ou expectativas vazias. Preparar-se para celebrar esta ação de graças não significa fazer mais, mas deixar espaço. Significa remover o que é pesado, baixar as nossas exigências, deixar de cultivar expectativas irrealistas:

“Ainda hoje, como então, há uma ceia a preparar. Não se trata apenas da liturgia, mas da nossa disponibilidade para participar num gesto que nos transcende. A Eucaristia celebra-se não só no altar, mas também na vida quotidiana, onde é possível experimentar tudo como oferta e ação de graças.”

Para o Papa, a cena do Cenáculo revela o verdadeiro amor de Cristo, que prepara um banquete mesmo diante da traição e da negação dos discípulos: “Enquanto eles ainda não compreendiam, enquanto um estava prestes a traí-lo e outro a negá-lo, Ele preparava uma ceia de comunhão para todos.”

Preparar a Páscoa da vida

O Papa também fez um convite concreto aos fiéis e peregrinos: “Também nós somos convidados a ‘preparar a Páscoa do Senhor’. Não só a Páscoa litúrgica, mas também a Páscoa das nossas vidas.” E sugeriu uma reflexão:

“Que espaços da minha vida preciso de reorganizar para estar pronto para acolher o Senhor? O que significa ‘preparar’ para mim hoje? Talvez signifique renunciar a uma exigência, deixar de esperar que o outro mude, dar o primeiro passo. Talvez signifique ouvir mais, agir menos ou aprender a confiar no que já foi predisposto.”

Mistério de um amor infinito

Ao concluir a catequese, Leão XIV sublinhou que, se aceitamos o convite para preparar o lugar da comunhão com Deus e uns com os outros, iremos descobrir que estamos rodeados de sinais, encontros e palavras que nos indicam aquela sala espaçosa e já pronta, onde o mistério de um amor infinito, que nos sustenta e sempre nos precede, é incessantemente celebrado. E completou:

“Que o Senhor nos conceda ser humildes preparadores da sua presença. E, nesta disponibilidade diária, cresça em nós aquela confiança serena que nos permite enfrentar tudo de coração aberto. Pois, onde o amor estiver pronto, a vida pode verdadeiramente florescer.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Dom Vital: A hospitalidade nos séculos IV e V

Solidariedade (Vatican News)

É importante perceber a atuação da Igreja nos séculos IV e V através dos bispos, sacerdotes, leigos e leigas, os santos padres que deram um bom testemunho assumindo atitudes acolhedoras para o povo simples, pobre que vinha de longe em relação às suas comunidades.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá - PA.

A acolhida é um dom divino e é também um dos compromissos dos fiéis seguidores e seguidoras do Senhor Jesus, uma vez que Ele quer ser amado por todas as pessoas mas sobretudo por aquelas mais necessitadas, porque nelas Ele se faz presente (cfr. Mt 25, 40). Nós estamos passando por muitas guerras, fome, violências de modo que muitas pessoas necessitam migrar para outros países ou comunidades. É importante perceber a atuação da Igreja nos séculos IV e V através dos bispos, sacerdotes, leigos e leigas, os santos padres que deram um bom testemunho assumindo atitudes acolhedoras para o povo simples, pobre que vinha de longe em relação às suas comunidades.

A face do nosso Salvador

São Gregório de Nissa, bispo do século IV afirmou a presença do Senhor Jesus na face de pessoas nuas e sem teto. Às portas de muitos fiéis existia uma multidão de prisioneiros, e dentre estes, não faltavam estrangeiros e emigrantes que estendiam a mão para uma ajuda. Muitos deles se refugiavam nas grutas, mas também encontravam pessoas de boa vontade que os alimentavam. Em relação à bebida, tomavam as águas nas fontes como os animais[1].

Desde o princípio não era assim

São Gregório de Nissa tinha presente a vida primitiva quando Deus criou tão bem as coisas e as pessoas (cfr. Gn 1). Esta vida errante e selvagem não foi assim desde o princípio, mas era consequência das desventuras, das injustiças, e dos sofrimentos humanos[2]. Por isso o bispo convocava as pessoas para que o jejum realizado ajudasse aquelas pessoas. A generosidade fosse dada aos infelizes, pessoas mais necessitadas. As coisas poupadas ao seu estômago fossem concedidas ao faminto, porque um justo temor de Deus produziria a igualdade.

O Verbo eterno de Deus

São Gregório também dizia que as melhorias das coisas não fossem só belas conversas para modificar a vida de quem estivesse na miséria, mas sim houvesse a caridade, o amor. Um bom desejo que viria do coração para se tornar realidade pela ação humana visasse o amor para com os pobres. O Verbo eterno de Deus dê a eles a casa, a cama, a mesa, através da palavra dos servos, servas, porque com os bens que a pessoa teria, procurasse aquilo que mais servisse aos mais pobres[3].

A pessoa também era pobre

O Nisseno afirmava que ainda que a pessoa dissesse que também ela era pobre, ela deveria dar aquilo que tem para pessoas mais pobres, porque Deus não pede além das próprias forças. Se uma pessoa desse um pão, outra ajudasse com uma bebida, um outro ainda concedesse uma roupa, um pouco de solidariedade libertar-se-iam alguma ou mais pessoas, das desgraça, dos sofrimentos do qual muitas passavam. As moedas da viúva foram bem consideradas pelo Senhor porque ela deu muito mais do que os outros (cfr. Lc 21, 1-4)[4].

O rosto do Senhor

São Gregório convidava as pessoas para não desprezar os pobres que estivessem no chão como se não merecessem nada. Eles estavam naquela situação porque pediam ajuda para quem tivessem mais condições de vida. Eles possuíam uma dignidade pelo fato de que eles revestiram a face do nosso Salvador[5].

O benefício da hospitalidade

Evágrio Pôntico, monge do século IV dizia que a hospitalidade trazia benefícios seja para a pessoa que necessita, seja para quem a recebe. Como a pessoa não mostraria bondade e caridade para com o irmão por ele ser membro da caridade portadora de Cristo? Se uma pessoa vier a fazer-lhe uma visita, seja caritativa para com ela, porque trata-se da visita do Senhor. O monge afirmava que não se podia dizer que as visitas das pessoas fossem um incômodo, mas era uma ajuda na luta contra a falange do Adversário porque unidos pelo vinculo da caridade, afastaremos o mal e transferiremos o fruto do trabalho das nossas mãos no tesouro da hospitalidade[6].

O colírio de Deus

O monge Evágrio também afirmou que o hóspede e o pobre são o colírio de Deus (cfr. Ap 3,18). Quem os acolhe recuperará logo a vista[7]. O Deus que seguimos e adoramos quer o bem de todas as pessoas, sobretudo dos pobres e dos marginalizados. A Sagrada Escritura tem presente a predileção do Senhor para as pessoas que são mais necessitadas.

O estrangeiro e o peregrino

São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, nos séculos IV e V dizia que os santos eram estrangeiros e peregrinos neste mundo em vista do Reino dos céus. Abraão declarou-se ser uma pessoa estrangeira e peregrina porque ele saiu de uma terra distante para fazer a vontade de Deus (cfr. Gn 12,1). O rei Davi também disse que era estrangeiro e peregrino como todos os seus pais (cfr. Sl 38,13). Os santos habitavam em tendas e compravam com o seu dinheiro as sepulturas aparecendo de uma forma clara que eram estrangeiros, pois eles não tinham local onde sepultar os seus mortos. O Senhor disse a Abraão de abandonar a sua terra e de ir numa terra estrangeira (cfr. Gn 12,1). Desta forma ele praticou a virtude humana da hospitalidade, preparando-se para a vida divina através da hospitalidade e da caridade fraterna[8].

Nós vimos as manifestações dos autores cristãos, os padres da Igreja que elaboraram aspectos da hospitalidade cristã, tendo como ponto essencial Jesus Cristo que veio do Pai e pedia aos seus discípulos, discípulas a acolhida de muitas pessoas. Nós somos chamados a viver a Palavra de Deus que nos chama à conversão de vida, assumirmos obras de caridade para um dia participarmos do Reino dos céus.  

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[1] Cfr. Omelie sull’amore per i poveri 1,4-5,7 di Gregorio de Nissa. In: “Non dimenticate L´ospitalità”. Antologia dai Padri della Chiesa. Milano, Paoline, 2022, pgs. 106-107

[2] Cfr. Idem, pg. 107.

[3] Cfr. Ibidem, pg. 107.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 107.

[5] Cfr. Ibidem, pg. 108.

[6] Cfr. A Eulogio 24 di Evagrio Pontico. In: “Non dimenticate L´ospitalità”. Antologia dai Padri della Chiesa, pgs 112-113.

[7] Cfr. Sentenze spirituali 14. In: Idem, pg. 114.

[8] Cfr. Omelie sulla Lettera agli Ebrei 24,2 di San Giovanni Crisostomo. In: Idem, pg. 131. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Oito dados sobre a Transfiguração do Senhor

Transfiguração do Senhor | WikimediaCommons

Por Redação central*

6 de ago. de 2025

Este artigo reúne oito dados que todo católico deve saber sobre a festa da Transfiguração do Senhor, celebrada hoje (6).

1. Transfiguração significa "mudança de forma"

A palavra "transfiguração" provem das raízes latinas trans ("através") e figura ("forma, aspecto"). Portanto, significa uma mudança de forma ou aparência.

Foi o que aconteceu com Jesus no evento conhecido como a Transfiguração: sua aparência mudou e se tornou gloriosa.

2. O Evangelho de Lucas prediz a Transfiguração

No Evangelho de Lucas 9, 27, no final de um discurso aos doze apóstolos, Jesus misteriosamente acrescenta: “Em verdade vos digo: dos que aqui se acham, alguns há que não morrerão, até que vejam o Reino de Deus".

Isso costuma ser tomado como uma profecia de que o fim do mundo ocorreria antes da morte da primeira geração de cristãos. No entanto, a frase "reino de Deus" também pode se referir à "expressão externa do reino invisível de Deus".

O reino está encarnado no próprio Cristo e, portanto, poderia ser "visto" se Cristo o manifestasse de uma maneira incomum, inclusive em sua própria vida terrena, como foi o evento da Transfiguração.

O papa emérito Bento XVI afirmou que Jesus "argumentou de forma convincente que a colocação dessa frase imediatamente antes da Transfiguração a relaciona claramente a esse evento".

"A alguns, isto é, aos três discípulos que acompanham Jesus à montanha, é prometido que presenciarão pessoalmente a vinda do Reino de Deus ‘no poder’”, acrescentou.

3. A Transfiguração foi testemunhada pelos três discípulos principais

A Transfiguração ocorreu na presença dos apóstolos João, Pedro e Tiago, os três discípulos principais.

O fato de Jesus ter permitido apenas três de seus discípulos presenciarem o evento pode ter provocado a discussão que rapidamente ocorreu sobre qual dos discípulos era o maior (Lucas 9, 46).

4. Não se sabe exatamente onde ocorreu a Transfiguração

São Lucas declara que Jesus levou os três à "montanha para rezar". Costuma-se pensar que esta montanha é o Monte Tabor, em Israel, mas nenhum dos evangelhos a identifica com exatidão.

5. A Transfiguração serviu para fortalecer a fé dos apóstolos

Segundo o Catecismo da Igreja Católica numeral 568: “A Transfiguração de Cristo tem por finalidade fortificar a fé dos apóstolos em vista da Paixão: a subida à ‘elevada montanha’ prepara a subida ao Calvário. Cristo, Cabeça da Igreja, manifesta o que seu Corpo contém e irradia nos sacramentos ‘a esperança da Glória’".

6. O Evangelho de Lucas é o que dá mais detalhes deste acontecimento

São Lucas menciona vários detalhes sobre a Transfiguração que outros evangelistas não fazem. Por exemplo, observa que isso aconteceu enquanto Jesus estava rezando; menciona que Pedro e seus companheiros "tinham-se deixado vencer pelo sono; ao despertarem, viram a glória de Jesus e os dois personagens em sua companhia". Também menciona que Pedro sugeriu a criação de tendas enquanto Moisés e Elias se preparavam para partir.

7. A Aparição de Moisés e Elias representa a Lei e os Profetas.

Moisés e Elias representam os dois principais componentes do Antigo Testamento: a Lei e os Profetas.

Moisés foi o doador da Lei e Elias foi considerado o maior dos profetas.

8. A sugestão de São Pedro foi errônea

O fato de que a sugestão de Pedro ocorra quando Moisés e Elias estão se preparando para partir revela um desejo de prolongar a experiência da glória. Isso significa que Pedro está se centrando no incorreto.

A experiência da Transfiguração tem como objetivo sinalizar os sofrimentos que Jesus está prestes a experimentar. Está destinado a fortalecer a fé dos discípulos, revelando-lhes a mão divina que está trabalhando nos acontecimentos que Jesus sofrerá.

Pedro erra o alvo e quer ficar na montanha, ao contrário da mensagem que Moisés e Elias expuseram.

Como aparente repreensão disso, ocorre uma teofania: “Veio uma nuvem e encobriu-os com a sua sombra; e os discípulos, vendo-os desaparecer na nuvem, tiveram um grande pavor. Então, da nuvem saiu uma voz: ‘Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o!’".

Publicado originalmente em National Catholic Register.

*A Agência Católica de Informação - ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/52784/oito-dados-que-deve-saber-sobre-a-transfiguracao-do-senhor

Transfiguração do Senhor

Transfiguração do Senhor (Vatican News)

A festa da Transfiguração recorda a dedicação das Basílicas do Monte Tabor, celebrada desde o fim do século V.

Vatican News

Esta festa é posterior à da Exaltação da Cruz (14 de setembro), da qual depende a sua data, marcada para 6 de agosto, 40 dias antes da Exaltação da Cruz. A festa começou a ser celebrada, também no Ocidente, a partir do século IX, quando foi inserida no calendário romano pelo Papa Calisto III, em 1457: uma ocasião histórica pela feliz recordação da vitória contra os Turcos, ocorrida no ano anterior, que ameaçavam seriamente o Ocidente.

O ponto central da festa, naturalmente, é o mistério da Transfiguração: a visão do venerável “Ancião” no trono de fogo e a aparição do “Filho do Homem” (Cf. primeira leitura).

«Passados uns oito dias, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e subiu ao monte para rezar. Enquanto rezava, seu rosto se transformou e as suas vestes se tornaram resplandecentes de brancura. Eis que dois personagens falavam com ele: eram Moisés e Elias, que apareceram envoltos em glória, e falavam da morte dele, que se havia de cumprir em Jerusalém. Entretanto, Pedro e seus companheiros tinham-se deixado vencer pelo sono; ao despertarem, viram a glória de Jesus e os dois personagens em sua companhia. Quando estes se apartaram de Jesus, Pedro disse: “Mestre, é bom estarmos aqui! Podemos levantar três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias!”. Ele não sabia o que estava dizendo. Enquanto ele ainda falava, veio uma nuvem e os encobriu com a sua sombra. Vendo-os entrar na nuvem, os discípulos tiveram um grande pavor. Então, da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho muito amado; ouvi-O!”. Quando a voz cessou, Jesus ficou sozinho. Os discípulos calaram-se e não disseram a ninguém o que tinham visto naqueles dias» (Lc 9, 28-36).

A montanha

“Conduziu-os à parte a uma alta montanha”: “A montanha - recorda o profeta Isaías - é a casa do Senhor, que se eleva acima dos montes” (Is 2,2; Mq 4,1). Esta subida à montanha evoca outras "subidas" e outras experiências da manifestação de Deus: o monte Horeb/​​Sinai (Ex 3,1; 24,12-18), a subida e descida de Moisés (Cf. Ex 19,24), a experiência de Elias (cf. 1 Reis 19,8ss). Sobre o monte, Jesus revela aos seus três discípulos que a sua vida é muito mais profunda do que "viam" e "sabiam". A experiência da Transfiguração é um acontecimento de oração, como Lucas recorda: “Jesus subiu ao monte para rezar”. Naquele contexto, Jesus mostra ser uma só coisa com o Pai (Cf. Jo 10,30). Naquele diálogo, onde “suas vestes eram resplandecentes de brancura”, Jesus revela ser a Luz do mundo (Cf. Jo 12,46).

Moisés e Elias

Apareceram Moisés e Elias conversando com Jesus”: Elias, pai dos profetas, e Moisés, custódio da lei, representam toda a história do Antigo Testamento. Moisés teve o dom de receber, várias vezes, as manifestações de Deus. Por esta sua intimidade e amizade com Deus, seu rosto brilhava (Cf. Ex 34,29-35). Todavia, sabemos que Moisés também era esperado: "O Senhor, teu Deus, te suscitará dentre os teus irmãos um profeta como eu: é a ele que devereis ouvir" (Dt 18,15). Assim, Moisés também foi aquele que pediu a Deus: "Mostrai-me vossa glória" (Ex 33,18), e Deus lhe respondeu: “Não poderás ver a minha face... e continuar a viver" (Ex 33,20- 23). Mas, finalmente, com Jesus, sobre a montanha, Moisés pode ver a glória de Deus, que é o próprio Jesus Cristo, o "Senhor da glória" (1 Cor 2,8), sobre quem "brilha o esplendor da glória de Deus" (2 Cor 4,6): Jesus é o novo Moisés. Ao lado de Moisés, Elias, pai dos profetas, que também subiu à montanha, ouviu Deus como “o murmúrio de uma leve brisa/vento fino" (1 Reis 19,12). Ele é a síntese ideal de toda a multidão de profetas, que se concluiu com João Batista, o último dos profetas, o "novo Elias" (Cf. Mt 11,14). A presença de "Elias e Moisés"! Jesus devia "revelar-se" aos discípulos, mas há também um dado mais "humano": o próprio Jesus precisava confrontar-se com a "sua partida" (paixão – morte - ressurreição), mas sabia que não podia falar disso aos seus discípulos, porque não iriam entender. Então, escolheu dois "amigos" de grande calibre, dois amigos da Escritura: um modo com o qual Jesus sugere, a mim e a cada um de nós, que em dado momento, devemos saber escolher em quem confiar e com quem confrontar, porque nem tudo está ao alcance de todos. Os amigos da Escritura, como também os Santos, que a Igreja nos indica como "amigos e modelos de vida", podem nos ajudar, com seus escritos e exemplos, para compreender o sentido da vida e a dar-lhe uma justa orientação.

A nuvem

Veio uma nuvem luminosa do céu...”: a experiência do Êxodo continua sendo o pano de fundo: a marcha cansativa do povo no deserto, guiado por uma nuvem (Ex 13,21ss); a nuvem sobre o Monte Sinai (Ex 19,16); a nuvem que acompanhava "o tabernáculo" (Ex 40,34-35), que guardava "a Lei" de Deus; enfim, a nuvem que desceu sobre Jesus, que disse: "Os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai, em espírito e verdade" (Jo 4,23); assim, nem montanhas e nem tabernáculos especiais serão mais necessários.

Eis o meu Filho muito amado... ouvi-O”: na hora de ser batizado, somente Jesus ouviu a voz do céu (Cf. Mc 1,11); agora, porém, esta mesma voz foi ouvida também pelos discípulos. Ouvi-O: é o eco do Shemá, "Ouve, Israel" (Dt 6,4) e das palavras de Moisés: "O Senhor, teu Deus, te suscitará dentre os teus irmãos um profeta como eu: é a ele que devereis ouvir" (Dt 18,15). A voz na montanha indica que, agora, somente Jesus deverá ser ouvido: Ele é a Palavra viva, a Palavra de vida e da verdade (Cf. Jo 14,6).

“É bom estarmos aqui...”

Pedro não conseguia entender tudo, mas sabia uma coisa: "É bom estarmos aqui" (Lc 9,33). Trata-se do impulso humano: quantas experiências “lindas” nós também vivemos, a ponto de nos deixarmos arrastar e dizer “façamos três tendas…”, “paremos o tempo”. Porém, corremos o risco de fazer apenas experiências emocionais, que nos tornam incapazes de “descer da montanha”, onde reina a concretude da vida. Jesus ensina-nos que a escuta ativa é o ápice da experiência: "Ouvi-O". Não podemos permanecer sob a ditadura das emoções: elas são necessárias, claro, mas não suficientes; servem ​​para acalentar, dar novo impulso e coragem... mas, somos bem mais superiores que as emoções. “É a escuta que define o discípulo – recorda B. Maggioni. - Não se trata de ser originais, mas servidores da verdade. A escuta é feita de obediência e esperança; requer inteligência para compreender, mas também coragem para decidir, porque a Palavra te envolve e te arranca de ti mesmo”. Ela dá o que o coração busca: "Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa" (Jo 15,11). “Senhor, é bom estarmos aqui!”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF