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quinta-feira, 7 de agosto de 2025

O que o novo presidente da Polônia significa para o país e para a Europa cristã

Karol Nawrocki. | Imagem principal, domínio público/ fundo da bandeira: via Unsplash

Por Solène Tadié*

7 de ago. de 2025

A posse do presidente Karol Nawrocki ontem na Polônia encontra o país em uma encruzilhada.

Católico praticante e conservador, filiado ao partido Lei e Justiça (PiS, na sigla em polonês), Nawrocki foi eleito em um segundo turno acirrado no início de junho. Embora a presidência polonesa seja em grande parte simbólica, o cargo pode se tornar especialmente importante em momentos de polarização.

A eleição de Nawrocki ocorreu depois de meses de crescentes tensões culturais e políticas sob a administração liberal do primeiro-ministro Donald Tusk, no poder desde dezembro de 2023, e sinaliza não só uma potencial recalibração do poder, mas também uma disputa renovada sobre a identidade política, moral e espiritual da Polônia.

As duas rodadas de votação ocorreram em 18 de maio e 1º de junho e Nawrocki venceu por uma margem apertada, com 50,89% dos votos, contra seu oponente liberal Rafał Trzaskowski, que obteve 49,11%.

A Polônia tem um sistema parlamentarista no qual o poder executivo é exercido principalmente pelo primeiro-ministro e pelo Conselho de Ministros. O presidente, embora detenha poderes executivos limitados, mantém importantes prerrogativas constitucionais, como o direito de vetar leis, nomear altos funcionários e influenciar a política externa e de segurança.

Um eleitorado dividido

A ascensão de Nawrocki ao poder levanta a questão de qual papel uma presidência que reivindica uma identidade cristã e conservadora pode desempenhar num país caracterizado tanto por intensa polarização política quanto por um cenário religioso em mudança.

Embora a Polônia continue sendo um dos países mais católicos da Europa, a secularização se intensificou fortemente nos últimos anos, particularmente depois da crise da covid-19. Essa mudança, porém, não é uniforme nem definitiva. Assim, o resultado dessa presidência não reflete apenas tensões internas, mas repercute em debates europeus mais amplos em torno do futuro da fé, das identidades nacionais e da perenidade dos valores tradicionais numa sociedade em rápida evolução.

Segundo Grzegorz Górny, importante jornalista católico, a presidência de Nawrocki pode marcar um ponto de inflexão importante.

“O direito de veto pode, na verdade, ser uma ferramenta poderosa”, disse ele à EWTN. Para anular veto presidencial, a coalizão que apoia o primeiro-ministro precisaria de uma maioria de três quintos (60%) no Sejm (o parlamento polonês), o que atualmente ela não tem.

O jornalista enfatizou que o governo de Tusk planejava apresentar um projeto de lei para legalizar o aborto no ano passado e sinalizou novas leis visando a Igreja, como uma decisão de reduzir pela metade o número de horas alocadas para aulas de catequese católica em escolas públicas, parte de um esforço mais amplo para reformular o papel do cristianismo na vida pública polonesa.

“O governo planejou implementar rapidamente uma revolução cultural e moral — a vitória de Karol Nawrocki frustrou esses planos”, disse Górny.

Mais confrontador que Duda

Marek Matraszek, consultor político experiente e familiarizado com assuntos públicos poloneses e europeus, acredita que Nawrocki pode ter um impacto político maior do que seu antecessor Andrzej Duda — não por causa do poder institucional, mas devido ao temperamento e posicionamento político.

"Duda era visto como cauteloso e conciliador; Nawrocki é mais direto, mais combativo", disse ele à EWTN. Para Matraszek, o tom incomumente pessoal de sua rivalidade com Tusk, moldado por ataques acirrados na campanha, sugere um estilo político mais confrontador. Nawrocki, ex-boxeador amador, pode de fato trazer uma posição mais firme à presidência.

Segundo Matraszek, ele também poderia tentar internacionalizar questões como o Estado de Direito e a liberdade de imprensa, usando sua plataforma para desafiar a trajetória do governo tanto na Europa quanto no exterior.

A assertividade de Nawrocki surge num momento em que Tusk enfrenta crescente pressão política. Desde a eleição, Tusk tem sido colocado em dúvida não só pela oposição, mas também por sua própria base política, por não ter concretizado as reformas sociais prometidas. Uma pesquisa feita poucos dias antes da posse de Nawrocki mostrou que cerca de metade dos poloneses acredita que Tusk deveria renunciar.

Em 11 de julho, o primeiro-ministro pediu um voto de confiança no Sejm, dizendo que seu governo estava enfrentando “desafios maiores” depois do resultado presidencial.

Mudanças nas divisões e desafios para a Igreja

Além da dinâmica jurídica e institucional, a batalha em curso também é de natureza cultural e geracional. Górny destacou um acontecimento inesperado: o apoio a Nawrocki entre eleitores jovens.

“Foi uma grande surpresa”, disse ele, “que a maioria dos jovens apoiasse candidatos de direita. Trzaskowski só recebeu 12% dos votos no primeiro turno”.

Nesse contexto, Matraszek disse que a sociedade polonesa não está mais nitidamente dividida em linhas ideológicas tradicionais e que duas polarizações sobrepostas estão emergindo. Uma permanece horizontal — entre visões de mundo liberais e conservadoras. A outra, que ele chama de "polarização vertical", opõe o establishment político às crescentes forças antielite. Esse eixo atravessa as linhas partidárias e tem críticas à Igreja institucional, cada vez mais vista por alguns como parte da ordem estabelecida.

Ambos os analistas reconhecem que a Igreja também está enfrentando desafios crescentes.

Górny observou uma tendência dupla entre os jovens: enquanto alguns se afastam sob a influência da cultura consumista, outros gravitam em direção a um novo conservadorismo não-confessional.

“Até recentemente, o catolicismo estava no cerne da identidade conservadora”, disse ele. “Agora, vemos a ascensão de uma direita secular focada em patriotismo, história e segurança nacional, mas distante da Igreja”.

Górny destacou, em particular, a ascensão do Partido Confederação — um movimento secular, patriótico e antissistema — entre eleitores mais jovens.

Matraszek confirmou essa mudança e falou também sobre uma nuance: “A frequência à igreja está diminuindo, mas olhando mais de perto, especialmente entre os jovens de 18 a 29 anos de idade, já há um pequeno, mas notável, renascimento da identidade cristã — particularmente entre os jovens. Não se trata só de religião institucional, mas de uma redescoberta da cultura e do significado cristãos”.

A questão do aborto não parece ter tido um impacto significativo no resultado da eleição, ao contrário do que muitos observadores esperavam. Embora a mídia ocidental frequentemente aponte o aborto como uma divisão central na política polonesa, tanto Górny quanto Matraszek minimizaram sua importância desta vez.

“O tema esteve praticamente ausente”, disse Górny. “Até os três principais candidatos de direita expressaram sua oposição ao aborto em casos de estupro, e isso quase não gerou polêmica”.

Matraszek falou sobre o porquê: “Nawrocki foi cauteloso em não fazer do aborto uma questão central da campanha, sabendo que isso poderia mobilizar a esquerda. Ele prometeu vetar qualquer liberalização, mas evitou desencadear reações emocionais negativas”.

Implicações continentais

Então, o que representa a presidência de Nawrocki? Para Górny, é uma espécie de baluarte contra a arrogância ideológica e um sinal de que a alma cristã da Polônia está longe de se extinguir. Para Matraszek, é também um momento de acerto de contas: uma oportunidade de reconectar os valores católicos com uma geração mais jovem desiludida tanto pelo progressismo agressivo quanto pela rigidez institucional.

Nos próximos anos, a capacidade de Nawrocki de moldar o debate na Polônia — por meio de autoridade moral, vetos estratégicos e potencial alcance internacional — será observada de perto.

Em jogo está mais do que o equilíbrio do poder interno. A Polônia está na vanguarda dos debates europeus mais amplos sobre identidade política e continuidade espiritual. Suas disputas culturais e mudanças geracionais em curso — marcadas tanto pela secularização quanto por sinais de renovação — oferecem um estudo de caso revelador das tensões que moldam muitas sociedades ocidentais.

Com a posse de Nawrocki como presidente, a direção futura do país poderá continuar a repercutir muito além de suas fronteiras.

*Solène Tadié é correspondente europeia do National Catholic Register. Ela é franco-suíça e cresceu em Paris (França). Depois de se formar em jornalismo pela Universidade Roma III, ela começou a fazer matérias sobre Roma e o Vaticano para a Aleteia. Ingressou no L’Osservatore Romano em 2015, onde trabalhou sucessivamente na seção francesa e nas páginas culturais do jornal italiano. Ela também colaborou com várias organizações de mídia católicas de língua francesa. Solène é bacharel em filosofia pela Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63983/o-que-o-novo-presidente-da-polonia-significa-para-o-pais-e-para-a-europa-crista

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF