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sábado, 31 de dezembro de 2022

Simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor - Bento XVI, o grande

Bento XVI | Vatican News

SIMPLES E HUMILDE TRABALHADOR NA VINHA DO SENHOR: BENTO XVI, O GRANDE.

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

Ao apresentar-se ao mundo como novo Pontífice, assim se dirigiu ao povo o Papa Bento XVI: “Depois do grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor”. O Papa emérito Bento XVI, o grande, despediu-se hoje, último dia do ano de 2022, de nosso tempo e voltou para a casa do Pai. Acompanhamos com as orações para que esteja junto de Deus na glória e agradecemos a Deus pela sua missão entre nós. Permanecerá seu exemplo, seus escritos, seu legado.

Na homilia na basílica de São João de Latrão, em 7 de maio de 2005, o grande Papa Bento deu sinais claros de que estava a serviço da Palavra de Deus que é única, mas chega até nós por dois canais: a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 74-100). Em outras palavras, o Papa é o guardião primeiro e zeloso do patrimônio da fé e não o seu dono. Afirma ele, então, com palavras marcantes: “O poder conferido por Cristo a Pedro e aos seus sucessores é, em sentido absoluto, um mandato para servir. O poder de ensinar, na Igreja, obriga a um compromisso ao serviço da obediência à fé. O Papa não é um soberano absoluto, cujo pensar e querer são leis. Ao contrário: o ministério do Papa é garantia da obediência a Cristo e à Sua Palavra. Ele não deve proclamar as próprias ideias, mas vincular-se constantemente a si e à Igreja à obediência à Palavra de Deus, tanto perante todas as tentativas de adaptação e de adulteração, como diante de qualquer oportunismo. […] O Papa tem a consciência de que está, nas suas grandes decisões, ligado à grande comunidade da fé de todos os tempos, às interpretações vinculantes que cresceram ao longo do caminho peregrinante da Igreja. Assim, o seu poder não é superior, mas está a serviço da Palavra de Deus, e sobre ele recai a responsabilidade de fazer com que esta Palavra continue a estar presente na sua grandeza e a ressoar na sua pureza, de modo que não seja fragmentada pelas contínuas mudanças das modas”.

Estamos próximos de mais um Curso para os Bispos aqui no Rio de Janeiro, e é impossível não recordar que o primeiro conferencista foi exatamente o então Cardeal Ratzinger, depois o Papa Bento XVI. Marcou o início de nosso Curso, que, sem dúvida, neste ano terá uma bela homenagem a ele.

Notemos que, antes, na Missa para o início do ministério petrino, Bento XVI já dizia: “O meu verdadeiro programa de governo é não fazer a minha vontade, não perseguir ideias minhas, pondo-me, contudo, à escuta, com a Igreja inteira, da palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por Ele, de forma que seja Ele mesmo quem guia a Igreja nesta hora da nossa história. […] ‘Apascenta as minhas ovelhas’, diz Cristo a Pedro, e a mim, neste momento. Apascentar significa amar, e amar quer dizer também estar prontos para sofrer. Amar significa: dar às ovelhas o verdadeiro bem, o alimento da verdade de Deus, da palavra de Deus, o alimento da sua presença, que ele nos oferece no Santíssimo Sacramento. Queridos amigos, neste momento eu posso dizer apenas: rezai por mim, para que eu aprenda cada vez mais a amar o Senhor. Rezai por mim, para que eu aprenda a amar cada vez mais o seu rebanho vós, a Santa Igreja, cada um de vós singularmente e todos vós juntos. Rezai por mim, para que eu não fuja, por receio, diante dos lobos. Rezai uns pelos outros, para que o Senhor nos guie e nós aprendamos a guiar-nos uns aos outros”.

A escolha do nome definia a sua admiração ao Papa Bento XV (1914-1922) e o seu amor a São Bento de Nursia, patriarca dos monges do Ocidente, assim como demonstrava os rumos do seu pontificado. Deixemos que o próprio Bento XVI nos fale: “Neste primeiro encontro, gostaria antes de tudo de falar sobre o nome que escolhi ao tornar-me Bispo de Roma e Pastor universal da Igreja. Quis chamar-me Bento XVI para me relacionar idealmente com o venerado Pontífice Bento XV, que guiou a Igreja num período atormentado devido ao primeiro conflito mundial. Ele foi um profeta corajoso e autêntico de paz e comprometeu-se com coragem infatigável primeiro para evitar o drama da guerra e depois para limitar as consequências nefastas. Nas suas pegadas, desejo colocar o meu ministério a serviço da reconciliação e da harmonia entre os homens e os povos, profundamente convencido de que o grande bem da paz é antes de tudo dom de Deus, dom frágil e precioso que deve ser invocado, tutelado e construído dia após dia com o contributo de todos” (Audiência Geral, 27/04/2005).

E prossegue: “Além disso, o nome Bento recorda também a extraordinária figura do grande ‘Patriarca do monaquismo ocidental’, São Bento de Núrsia, co-padroeiro da Europa juntamente com os santos Cirilo e Metódio e as mulheres santas, Brígida da Suécia, Catarina de Sena e Edith Stein. A expansão progressiva da Ordem beneditina por ele fundada exerceu uma influência enorme na difusão do cristianismo em todo o Continente. Por isso, São Bento é muito venerado também na Alemanha e, em particular, na Baviera, a minha terra de origem; constitui um ponto de referência fundamental para a unidade da Europa e uma forte chamada às irrenunciáveis raízes cristãs da sua cultura e da sua civilização. Deste Pai do Monaquismo ocidental conhecemos a recomendação deixada aos monges na sua Regra: ‘Nada anteponham absolutamente a Cristo’ (Regra 72, 11; cf. 4, 21). No início do meu serviço como Sucessor de Pedro peço a São Bento que nos ajude a manter firme a centralidade de Cristo na nossa existência. Que ele esteja sempre no primeiro lugar nos nossos pensamentos e em cada uma das nossas atividades!” (idem).

No seu pontificado, Bento publicou, além de quatro exortações apostólicas – “Ecclesia in Medio Oriente”, “Africae múnus”, “Verbum Domini” e “Sacramentum Caritatis” –, além das cartas apostólicas, constituições apostólicas e três encíclicas: “Deus caritas est”, “Spe salvi” e “Caritas in veritate”. Na primeira, recorda que “‘Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele’ (1 Jo 4, 16). Estas palavras da I Carta de João exprimem, com singular clareza, o centro da fé cristã: a imagem cristã de Deus e também a consequente imagem do homem e do seu caminho. Além disso, no mesmo versículo, João oferece-nos, por assim dizer, uma fórmula sintética da existência cristã: ‘Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem’ […]. Num mundo em que ao nome de Deus se associa às vezes a vingança ou mesmo o dever do ódio e da violência, esta é uma mensagem de grande atualidade e de significado muito concreto” (n. 1).

Na segunda lembra, a partir de Rm 8,24, que é na esperança que fomos salvos. “A ‘redenção’, a salvação, segundo a fé cristã, não é um simples dado de fato. A redenção é-nos oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho” (n. 1). Já na terceira e última encíclica do seu pontificado, Bento XVI se volta para a Doutrina Social da Igreja com a Caritas in veritate. Aí o Papa constata, de modo muito oportuno, que “a caridade é amor recebido e dado; é ‘graça’ (cháris). A sua nascente é o amor fontal do Pai pelo Filho no Espírito Santo. É amor que, pelo Filho, desce sobre nós. É amor criador, pelo qual existimos; amor redentor, pelo qual somos recriados. Amor revelado e vivido por Cristo (cf. Jo 13,1), é ‘derramado em nossos corações pelo Espírito Santo’ (Rm 5,5). Destinatários do amor de Deus, os homens são constituídos sujeitos de caridade, chamados a fazerem-se eles mesmos instrumentos da graça, para difundir a caridade de Deus e tecer redes de caridade” (n. 4).

E continua: “A esta dinâmica de caridade recebida e dada, propõe-se dar resposta a doutrina social da Igreja. Tal doutrina é ‘caritas in veritate in re sociali’, ou seja, proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade; é serviço da caridade, mas na verdade. Esta preserva e exprime a força libertadora da caridade nas vicissitudes sempre novas da história. É ao mesmo tempo verdade da fé e da razão, na distinção e, conjuntamente, sinergia destes dois âmbitos cognitivos. O desenvolvimento, o bem-estar social, uma solução adequada dos graves problemas socioeconômicos que afligem a humanidade precisam desta verdade. Mais ainda, necessitam que tal verdade seja amada e testemunhada. Sem verdade, sem confiança e amor pelo que é verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a atividade social acaba à mercê de interesses privados e lógicas de poder, com efeitos desagregadores na sociedade, sobretudo numa sociedade em vias de globalização que atravessa momentos difíceis como os atuais” (n. 5).

Por fim, quando, em 11/02/2013, Bento XVI renunciou ao múnus petrino, surgiram muitas especulações e era o ano da JMJ no Rio de Janeiro, sede que ele mesmo escolheu para esse grande evento. Sobre a renúncia reporto um texto de nosso irmão aqui do Regional Leste 1, D. Rifan: “Um grande desapego do alto cargo e influente posição, declarando-se apenas um humilde servidor, uma profunda humildade, não se julgando necessário e reconhecendo a própria fraqueza e incapacidade, de corpo e de espírito, para exercer adequadamente o ministério petrino, e ao pedir perdão – ‘peço perdão por todos os meus defeitos’. (Por trás da renúncia, 19/02/2013, online).

Bento XVI, depois da renúncia, agiu sempre na discrição e na obediência ao único legítimo sucessor de Pedro, o Papa Francisco. Afirmou Bento: “O Papa é um só, Francisco” (Vatican.news, 27/06/2019, online). Da parte do Papa Francisco nunca faltou, nas visitas e nas palavras, carinho e respeito para com o Papa emérito e sua última missão de ser, a partir do mosteiro Mater Ecclesiae, uma voz orante que ajuda a sustentar a Igreja. Disse o Santo Padre, em sua Audiência do dia 28 de dezembro último, sob calorosos aplausos dos peregrinos: “Uma oração especial pelo Papa emérito Bento 16, que no silêncio está sustentando a Igreja. Recordemos, ele está muito doente, pedindo ao Senhor que o console e o sustente neste testemunho de amor à Igreja até o fim”. E logo depois foi visitar Bento XVI onde, segundo dizem, ministrou-lhe a unção dos enfermos.

Pessoalmente tenho que agradecer, sem mérito nenhum de minha parte, ao Papa Bento XVI a minha nomeação para Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará em 13 de outubro de 2004 a e a minha nomeação para Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro a 27 de fevereiro de 2009.

Não poderia deixar de tributar meu sincero agradecimento pela sua escolha pessoal para que, após a jornada em Madrid, de que a Jornada Mundial da Juventude – JMJ – 2013 – fosse celebrada no Rio de Janeiro. Ele não pode estar conosco, mas o Papa Francisco colheu a alegria, o entusiasmo e o calor humano dos milhares e milhares de jovens que encheram a Praia de Copacabana para escutar o Sucessor de Pedro. Eu, como monge cisterciense, sempre tive uma sintonia espiritual com o precioso tesouro espiritual que foi o Magistério e o Pontificado do Papa Bento XVI, um magno e sumo pastor, em especial pelo seu nome, já que os cistercienses seguem a Regra de São Bento.

A notícia divulgada nesta manhão do último dia do ano de 2022 é para nós uma oportunidade de um grande exame de consciência no ano que termina e de nos colocarmos disponíveis para o novo ano que se inicia, agora com o olhar retrospectivo de um grande homem de Deus que partiu e que serviu à Igreja como “simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Ao me deslocar para Roma nestes dias para suas exéquias recordo com carinho dos vários encontros pessoais que tivemos com ele e, em especial, seu grande amor à Igreja e à Cristo que marcou sua vida e missão. Para mim são profundas as palavras do ministério do Papa Bento XVI: Cooperatores veritatis!”. Sempre busquemos ser, com Cristo, cooperadores da Verdade do Evangelho! Agora no céu, suplicamos, que o Papa Bento XVI junto de Deus interceda por todos nós que o amamos e continuamos reverenciando a sua obra, o seu pontificado, e o seu sorriso discreto e amável, uma das maiores obras teológicas e pastorais de todos os tempos. Descanse em paz! Deus lhe pague pelo seu testemunho de construtor de pontes, sem jamais renunciar a verdade da fé católica e apostólica.

Onde a Sagrada Família viveu no Egito?

Rembrandt | Octave 444 | CC BY-SA 4.0
Por Philip Kosloski

Jesus provavelmente deu seus primeiros passos não em Belém ou em Nazaré, mas sim no Egito.

É fácil esquecer que uma parte da primeira infância de Jesus foi passada bem longe de Belém e da Terra Santa. Forçada ao exílio pelo rei Herodes, a Sagrada Família fugiu para o Egito e lá viveu durante alguns anos.

É fascinante pensar nesse tempo na vida de Jesus. Será que Ele viu as antigas pirâmides? Será que admirou o grande rio Nilo?

Antes de falarmos dos possíveis locais do exílio de Jesus no Egito, vamos primeiro recordar a narrativa de Mateus:

“Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em so­nhos a José e disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar”. José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito. Ali permaneceu até a morte de Herodes para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: Do Egito chamei meu filho (Os 11,1)”.

Mateus 2,13-15.

Os historiadores tendem a discordar quando se trata da data da morte do rei Herodes. A maioria dos estudiosos aponta para 4 a.C., enquanto alguns afirmam que ele morreu bem depois, em 1 d.C. Qualquer que tenha sido a data real, a tradição local afirma que a Sagrada Família viveu no Egito durante cerca de quatro anos.

É intrigante imaginar Jesus dando seus primeiros passos e dizendo suas primeiras palavras não em Belém ou em Nazaré, mas sim no Egito!

De acordo com as tradições locais, a primeira parada da Sagrada Família foi em Farma, ao leste do rio Nilo. Depois eles continuaram até Mostorod, uma cidade ao norte do Cairo. Há uma nascente perto da cidade que, segundo a piedade popular, surgiu após a sua chegada.

Eles teriam ainda parado em Sakha, local de uma rocha que teria uma impressão do pé do Menino Jesus.

Seguindo em frente, passaram por Wadi El Natroun antes de chegar aos arredores do Cairo. Naquele ponto há um lugar onde, dizem, uma árvore deu sombra à Sagrada Família.

José, Maria e Jesus certamente viram as antigas pirâmides do Egito enquanto prosseguiam a sua viagem, possivelmente parando para admirar aquela tão surpreendente vista.

A família no exílio continuou então para o Velho Cairo e até Maadi, onde teriam subido a um barco rumo a Deir El Garnous e, depois, Gabal Al-Teir.

O principal local de permanência foi Gebel Qussqam. Acredita-se que eles tenham ficado ali durante cerca de seis meses. Antes de voltar para casa, teriam parado em Assiut e, finalmente, voltaram para a Terra Santa.

O povo copta egípcio tem grande orgulho deste capítulo tão especial da vida de Jesus e se sente particularmente próximo da Sagrada Família, que caminhou e viveu entre eles durante os primeiros anos de Jesus quando criança.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

“Aprendei a fazer o bem: buscai o direito.” (Is 1,17)

Cidade Nova

“Aprendei a fazer o bem: buscai o direito.” (Is 1,17) | Palavra de Vida Janeiro 2023

Confira a Palavra de Vida Janeiro 2023 nos formatos texto, podcast, vídeo e baixe agora o PDF.

publicado em 29/12/2022

A Palavra de Vida do mês de janeiro encontra-se no primeiro capítulo do profeta Isaías. A frase foi escolhida como lema para a Semana de Oração pela Unidade Cristã1. Os textos das celebrações foram preparados por um grupo de cristãos de Minnesota, nos Estados Unidos2. A questão do direito, da justiça é um tema candente. As desigualdades, as violências e os preconceitos crescem no terreno de uma sociedade que tem dificuldades em testemunhar uma cultura de paz e de unidade.

Os tempos de Isaías não eram muito diferentes dos nossos. As guerras, as rebeliões, a busca da riqueza, do poder, a idolatria, a marginalização dos pobres tinham levado o povo de Israel a perder o rumo certo. O profeta convoca seu povo com palavras muito duras para um caminho de conversão, indicando a via para retornar ao espírito original da aliança que Deus fez com Abraão.

“Aprendei a fazer o bem: buscai o direito.”

O que significa aprender a fazer o bem? Precisamos assumir a disposição de aprender. Isso exige um esforço da nossa parte. Na caminhada do dia a dia, sempre temos algo a compreender, a melhorar; podemos recomeçar quando erramos.

O que significa buscar o direito? A justiça é como um tesouro que deve ser procurado, desejado, é o objetivo de nossa ação. Praticar a justiça nos ajuda a aprender a fazer o bem. É saber captar a vontade de Deus, que é o nosso bem.

Isaías oferece exemplos concretos. As pessoas que Deus mais prefere, por serem as mais indefesas, são os oprimidos, os órfãos e as viúvas. Deus convida seu povo a cuidar concretamente dos outros, especialmente daqueles que não estão em condições de fazer valer os próprios direitos. As práticas religiosas, os ritos, os sacrifícios, as orações não lhe agradam se tudo isso não for acompanhado pela busca e pela prática do bem e da justiça.

“Aprendei a fazer o bem: buscai o direito.”

Esta Palavra de Vida nos provoca a ajudar os outros, a ter um olhar atento, socorrendo concretamente os necessitados. Nosso caminho de conversão exige isso: abrir o coração, a mente, os braços, especialmente para aqueles que sofrem.

“O desejo e a busca da justiça estão desde sempre inscritos na consciência do homem, foram colocados pelo próprio Deus no seu coração. Mas, apesar das conquistas e dos progressos alcançados ao longo da história, como ainda está longe a plena realização do projeto de Deus! As guerras que são travadas ainda hoje, assim como o terrorismo e os conflitos étnicos, são o sinal das desigualdades sociais e econômicas, das injustiças, do ódio. [...] Sem amor, sem respeito pela pessoa, sem atenção às suas necessidades, os relacionamentos pessoais podem até mesmo ser corretos, mas também podem tornar-se burocráticos, incapazes de dar soluções satisfatórias às exigências humanas. Sem o amor jamais existirá justiça verdadeira, partilha de bens entre ricos e pobres, respeito pela singularidade de cada homem e de cada mulher e pela situação concreta na qual se encontram.”3 

“Aprendei a fazer o bem: buscai o direito.”

Viver para o mundo unido é assumir as feridas da humanidade por meio de pequenos gestos que podem ajudar a construir a família humana.

Um dia, o professor argentino Juan [nome fictício] encontra por acaso o diretor do instituto onde tinha lecionado e que o tinha demitido alegando um pretexto qualquer. Quando o diretor o reconhece, tenta evitá-lo, mas Juan vai ao seu encontro. Pergunta-lhe pelas novidades, e o diretor lhe conta as dificuldades daquele último período. Diz que agora mora em outra cidade e está procurando trabalho. Juan se oferece para ajudá-lo e no dia seguinte conta para seus conhecidos a notícia de que está procurando emprego para uma pessoa. A resposta não demora. Quando o diretor recebe a notícia da oferta de um novo trabalho, mal consegue acreditar! Aceita o trabalho, profundamente agradecido e comovido pelo fato de que justamente a pessoa que um dia ele havia demitido tivesse demonstrado interesse concreto para com ele.

Também Juan recebe o “cêntuplo”: justamente naquele momento lhe oferecem dois trabalhos que ele sempre tinha desejado, desde quando havia entrado na universidade. Também ele fica maravilhado e sensibilizado por esse amor concreto de Deus4.

1) No hemisfério Norte, todos os anos, a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) termina no dia 25 de janeiro, festa da conversão de são Paulo. No hemisfério Sul, a celebração vai do domingo em que se festeja a Ascensão até o domingo de Pentecostes (em 2023 será de 21 a 28 de maio). É um convite a manter vivo o empenho pelo diálogo ecumênico durante o ano todo. 

2) Em Mineápolis, cidade mais populosa do Estado de Minnesota, foi morto George Floyd em 2020. O evento deu início a um movimento para a eliminação de toda forma de discriminação racial.

3) LUBICH, C., Palavra de Vida, novembro de 2006.

4) Extraído e readaptado de “Il Vangelo del giorno”, Città Nuova, ano VIII, n° 1, janeiro-fevereiro de 2022.

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Afinal, quem foi São Silvestre?

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31 de dezembro
São Silvestre

Sim, porque este não é apenas o nome de uma corrida de rua...

São Silvestre, nascido em Roma no ano 285, se tornou o 33º Papa da Igreja Católica no dia 31 de janeiro de 314, sucedendo São Melquíades.

Foi sob o seu pontificado que o imperador romano Constantino decretou o fim da brutal perseguição contra os cristãos, que tinha marcado de sangue os primeiros séculos da Igreja. Aliás, São Silvestre foi um dos primeiros santos canonizados que não sofreram o martírio.

A propósito da conversão de Constantino, a tradição narra que ele teria tido uma visão antes da batalha da Ponte Mílvio, em 312: confira o resto dessa história aqui. No entanto, existe outra versão, segundo a qual o imperador teria lepra e, assim que São Silvestre o batizou por imersão numa piscina, viu-se instantaneamente curado. Praticamente não existem fundamentos para esse relato alternativo, pois Constantino foi batizado no final da vida pelo bispo Eusébio, de Nicomédia.

Sob o papado de São Silvestre, com o estabelecimento da autoridade da Igreja, foram construídos alguns dos primeiros grandes monumentos cristãos, como a Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, e as primitivas basílicas de São João de Latrão e de São Pedro, em Roma, além das igrejas dos Santos Apóstolos em Constantinopla.

São Silvestre enviou emissários pontifícios para o representarem no sínodo de Arles (314) e no primeiro Concílio de Niceia (325), convocados ambos por Constantino. A ausência do Papa, que até hoje é motivo de debate, se deveu possivelmente a razões de saúde.

São Silvestre faleceu em 31 de dezembro de 335, aos 50 anos de idade, encerrando assim um pontificado de 21 anos de duração. Foi sucedido pelo brevíssimo pontificado de São Marcos Papa, que durou apenas 8 meses e meio.

O último dia de dezembro, que também tinha sido a data da sua eleição ao papado, foi ainda a data da sua canonização e é a data da sua festa litúrgica.

É em homenagem ao santo do dia que a famosa corrida de rua que acontece todos os anos em São Paulo leva o nome de “Corrida de São Silvestre“.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Um Papa entre dois tempos

Bento XVI | Vatican News

Durante toda sua vida, Bento XVI procurou, investigou, perguntou; também como Pontífice os seus discursos e as suas homilias são caracterizadas por esta constante busca. Por este motivo gerou animados debates, talvez principalmente, dentro da própria Igreja.

Vatican News

“Eu já não pertenço ao mundo antigo, mas o novo, na realidade, não começou ainda”: palavras do Papa emérito, Bento XVI, sobre si mesmo. Esta frase se encontra no livro “Últimas conversações” (com Peter Seewald). Um Papa entre dois tempos: assim se definira na ocasião. Acrescentando depois que só na posteridade, tem-se condições de reconhecer a avaliar os tempos e as mudanças dos tempos.

Na realidade, é a segunda frase que impressiona: “O mundo novo, na realidade, não começou ainda”. É virtude de Joseph Ratzinger, teólogo, cardeal e Papa, não se contentar com definições que estabeleçam o que seja “novo”. Durante toda sua vida procurou, investigou, perguntou; também como Pontífice os seus discursos e as suas homilias são caracterizadas por esta constante busca. Por este motivo gerou animados debates, talvez principalmente, dentro da própria Igreja.

Uma das últimas homilias do Papa Bento XVI exprime este conceito de modo maravilhoso e definitivo: quando fala dos Reis Magos em busca do rei recém-nascido. “Os homens que então partiram rumo ao desconhecido eram, em definitiva, pessoas de coração inquieto; homens inquietos movidos pela busca de Deus e da salvação do mundo; homens à espera, que não se contentavam com seus rendimentos assegurados e com uma posição social provavelmente considerável, mas andavam à procura da realidade maior. Talvez fossem homens eruditos, que tinham grande conhecimento dos astros e, provavelmente, dispunham também duma formação filosófica; mas não era apenas saber muitas coisas que queriam; queriam sobretudo saber o essencial, queriam saber como se consegue ser pessoa humana. E, por isso, queriam saber se Deus existe, onde está e como é; se Se preocupa conosco e como podemos encontrá-Lo. Queriam não apenas saber; queriam conhecer a verdade acerca de nós mesmos, de Deus e do mundo. A sua peregrinação exterior era expressão deste estar interiormente a caminho, da peregrinação interior do seu coração. Eram homens que buscavam a Deus e, em última instância, caminhavam para Ele; eram indagadores de Deus”. (Homilia, 6 de janeiro de 2013, Epifania do Senhor). As mesmas palavras Joseph Ratzinger poderia usá-las para si mesmo.

Consideremos a questão do Concílio: a sua aplicação está longe de ser completada e seria prejudicial não continuar a indagar e a aplicá-la. “A hermenêutica da reforma”, “hermenêutica da renovação da continuidade” tinha definido Papa Bento, opõem-se à “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura”.

Muitos de seus pensamentos continuarão em nossas reflexões: suas inspirações permanecerão conosco. Como teólogo, cardeal e Papa, tinha feito a sua parte para que “o novo” fosse descoberto. Apesar de todos seus livros, seus discursos e suas contribuições, foi um homem irrequieto até o fim. Na homilia citada, pronunciada por ocasião do fim de seu pontificado, o Papa emérito fala da peregrinação interior da fé que se exprime substancialmente na oração. Uma oração que nos desperta de uma falsa acomodação e que quer comunicar a inquietação para com Deus e a inquietação para com o próximo. Viveu essa inquietação até o fim, na oração, no retiro, mas com solidez.

A sua frase sobre o mundo velho e o novo, escritas no livro “Últimas conversações” é profética. Apresenta-se a nós de modo inocente, como muitas outras coisas ditas pelo Papa, principalmente nos seus textos espirituais e nas suas homilias. Porém esta frase tem uma dinâmica teológica e espiritual. Os tempos mudam, isso é irreversível: nem reinventando o “velho” em versão “nova” – como agradaria muito aos tradicionalistas – nem na invenção de um “novo” que não considere a tradição e a evolução.

Bento XVI, o Papa emérito, demonstrou que tinha uma avaliação de si mesmo bastante equilibrada, porque colocava-se entre duas épocas, mas sem se deixar ligar a uma ou a outra. A mudança: isso é o que ele viveu e onde se reconhece. Por isso foi um Papa da transição?

Só por isso não. Exatamente porque foi a transição, seus sinais permanecerão além da sua morte. As transições são importantes. Joseph Ratzinger representa a Igreja que, a partir do Concílio, retomou a sua estrada. Joseph Ratzinger marcou seu sigilo à transição eclesial, mas principalmente à transição papal. A Igreja poderá se nutrir por muito tempo com o seu exemplo, com suas palavras, com seus escritos. Vivia entre dois tempos, mas permanecerá conosco.

Morre Bento XVI, "humilde trabalhador na vinha do Senhor"

Bento XVI | Vatican News

Papa emérito morreu às 9h34 deste sábado, 31 de dezembro. O funeral será na quinta-feira, 5 de janeiro, às 9h30 locais na Praça São Pedro, presidido pelo Papa Francisco.

Vatican News

Comunicado do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni:

“Com pesar informo que o Papa Emérito Bento XVI faleceu hoje às 9h34, no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. Assim que possível, serão enviadas novas informações.”

Desde quarta-feira passada, quando o Papa Francisco afirmou que seu predecessor estava muito doente, fiéis do mundo inteiro se uniram em oração pela saúde do Papa emérito. Bento XVI tinha 95 anos e vivia no Mosteiro Mater Ecclesiae desde sua renúncia ao ministério petrino, em 2013.

O corpo do Papa emérito estará na Basílica de São Pedro para a saudação dos fiéis a partir da segunda-feira, 2 de janeiro. O funeral será na quinta-feira, 5 de janeiro, às 9h30 locais na Praça São Pedro, presidido pelo Papa Francisco.

Ainda de acordo com o diretor da Sala de Imprensa, Bento XVI recebeu a unção dos enfermos na quarta-feira, ao final da missa celebrada no Mosteiro e na presença das "Memores Domini", que há anos o assistem diariamente.

A biografia de Bento XVI

Joseph Ratzinger recebeu a Ordenação Sacerdotal em 29 de junho de 1951. Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o arcebispo de München e Freising. Em 28 de maio seguinte, recebeu a sagração episcopal. Paulo VI criou-o cardeal no Consistório de 27 de junho desse mesmo ano.

Vatican News

O cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, nasceu em Marktl am Inn, Diocese de Passau (Alemanha), no dia 16 de abril de 1927 (Sábado Santo), e foi batizado no mesmo dia. O seu pai, comissário da polícia, provinha duma antiga família de agricultores da Baixa Baviera, de modestas condições econômicas. A sua mãe era filha de artesãos de Rimsting, no lago de Chiem, e antes de casar trabalhara como cozinheira em vários hotéis.

Passou a sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da fronteira com a Áustria, a trinta quilômetros de Salisburgo. Foi neste ambiente, por ele próprio definido “mozarteano”, que recebeu a sua formação cristã, humana e cultural.

O período da sua juventude não foi fácil. A fé e a educação da sua família prepararam-no para enfrentar a dura experiência daqueles tempos, em que o regime nazista mantinha um clima de grande hostilidade contra a Igreja Católica. O jovem Joseph viu os nazistas açoitarem o pároco antes da celebração da Santa Missa.

Precisamente nesta complexa situação, descobriu a beleza e a verdade da fé em Cristo; fundamental para ele foi a conduta da sua família, que sempre deu um claro testemunho de bondade e esperança, radicada numa conscienciosa pertença à Igreja.

Até o mês de setembro de 1944 esteve alistado nos serviços auxiliares anti-aéreos.

Recebeu a Ordenação Sacerdotal em 29 de junho de 1951.

Um ano depois, começou a sua atividade de professor na Escola Superior de Freising.

No ano de 1953, doutorou-se em teologia com a tese “Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho”. Passados quatro anos, sob a direção do conhecido professor de teologia fundamental Gottlieb Söhngen, conseguiu a habilitação para a docência com uma dissertação sobre “A teologia da história em São Boaventura”.

Depois de desempenhar o cargo de professor de teologia dogmática e fundamental na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising, continuou a docência em Bonn, de 1959 a 1963; em Münster, de 1963 a 1966; e em Tubinga, de 1966 a 1969. A partir deste ano de 1969, passou a ser catedrático de dogmática e história do dogma na Universidade de Regensburg, onde ocupou também o cargo de Vice-Reitor da Universidade.

De 1962 a 1965, prestou um notável contributo ao Concílio Vaticano II como “perito”; viera como consultor teológico do Cardeal Joseph Frings, Arcebispo de Colônia.

A sua intensa atividade científica levou-o a desempenhar importantes cargos ao serviço da Conferência Episcopal Alemã e na Comissão Teológica Internacional.

Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o Arcebispo de München e Freising. A 28 de maio seguinte, recebeu a sagração episcopal. Foi o primeiro sacerdote diocesano, depois de oitenta anos, que assumiu o governo pastoral da grande arquidiocese bávara. Escolheu como lema episcopal: “Colaborador da verdade”; assim o explicou ele mesmo: “Parecia-me, por um lado, encontrar nele a ligação entre a tarefa anterior de professor e a minha nova missão; o que estava em jogo, e continua a estar – embora com modalidades diferentes –, é seguir a verdade, estar ao seu serviço. E, por outro, escolhi este lema porque, no mundo atual, omite-se quase totalmente o tema da verdade, parecendo algo demasiado grande para o homem; e, todavia, tudo se desmorona se falta a verdade”.

Paulo VI criou-o cardeal, do título presbiteral de “Santa Maria da Consolação no Tiburtino”, no Consistório de 27 de junho desse mesmo ano.

Em 1978, participou no Conclave, celebrado de 25 a 26 de agosto, que elegeu João Paulo I; este nomeou-o seu Enviado especial ao III Congresso Mariológico Internacional que teve lugar em Guayaquil (Equador) de 16 a 24 de setembro. No mês de outubro desse mesmo ano, participou também no Conclave que elegeu João Paulo II.

Foi Relator na V Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos realizada em 1980, que tinha como tema “Missão da família cristã no mundo contemporâneo”, e Presidente Delegado da VI Assembleia Geral Ordinária, celebrada em 1983, sobre “A reconciliação e a penitência na missão da Igreja”.

João Paulo II nomeou-o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, em 25 de novembro de 1981. No dia 15 de fevereiro de 1982, renunciou ao governo pastoral da arquidiocese de München e Freising. O Papa elevou-o à Ordem dos Bispos, atribuindo-lhe a sede suburbicária de Velletri-Segni, em 5 de abril de 1993.

Foi Presidente da Comissão encarregada da preparação do Catecismo da Igreja Católica, a qual, após seis anos de trabalho (1986-1992), apresentou ao Santo Padre o novo Catecismo.

A 6 de novembro de 1998, o Santo Padre aprovou a eleição do Cardeal Ratzinger para Vice-Decano do Colégio Cardinalício, realizada pelos Cardeais da Ordem dos Bispos. E, no dia 30 de novembro de 2002, aprovou a sua eleição para Decano; com este cargo, foi-lhe atribuída também a sede suburbicária de Óstia.

Em 1999, foi como Enviado especial do Papa às celebrações pelo XII centenário da criação da diocese de Paderborn, Alemanha, que tiveram lugar a 3 de janeiro.

Desde 13 de novembro de 2000, era Membro honorário da Academia Pontifícia das Ciências.

No dia 6 de fevereiro de 2013, durante o Consistório Ordinário Público para a canonização de alguns Santos, anunciou a decisão de renunciar ao ministério petrino com estas palavras: “Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro”.

O seu pontificado se concluiu em 28 de fevereiro de 2013.

Em seguida, Bento XVI foi morar na Cidade do Vaticano, junto ao Mosteiro “Mater Ecclesiae”, como Papa Emérito.

Na Cúria Romana, foi Membro do Conselho da Secretaria de Estado para as Relações com os Estados; das Congregações para as Igrejas Orientais, para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para os Bispos, para a Evangelização dos Povos, para a Educação Católica, para o Clero, e para as Causas dos Santos; dos Conselhos Pontifícios para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e para a Cultura; do Tribunal Supremo da Signatura Apostólica; e das Comissões Pontifícias para a América Latina, “Ecclesia Dei”, para a Interpretação Autêntica do Código de Direito Canónico, e para a revisão do Código de Direito Canónico Oriental.

Entre as suas numerosas publicações, ocupam lugar de destaque o livro “Introdução ao Cristianismo”, uma compilação de lições universitárias publicadas em 1968 sobre a profissão de fé apostólica, e o livro “Dogma e Revelação” (1973), uma antologia de ensaios, homilias e meditações, dedicadas à pastoral.

Grande ressonância teve a conferência que pronunciou perante a Academia Católica Bávara sobre o tema “Por que continuo ainda na Igreja?”; com a sua habitual clareza, afirmou então: “Só na Igreja é possível ser cristão, não ao lado da Igreja”.

No decurso dos anos, continuou abundante a série das suas publicações, constituindo um ponto de referência para muitas pessoas, especialmente para os que queriam entrar em profundidade no estudo da teologia. Em 1985 publicou o livro-entrevista “Informe sobre a Fé” e, em 1996, “O sal da terra”. E, por ocasião do seu septuagésimo aniversário, publicou o livro “Na escola da verdade”, onde aparecem ilustrados vários aspectos da sua personalidade e da sua obra por diversos autores.

Recebeu numerosos doutoramentos “honoris causa”: pelo College of St. Thomas em St. Paul (Minnesota, Estados Unidos), em 1984; pela Universidade Católica de Eichstätt, em 1987; pela Universidade Católica de Lima, em 1986; pela Universidade Católica de Lublin, em 1988; pela Universidade de Navarra (Pamplona, Espanha), em 1998; pela Livre Universidade Maria Santíssima Assunta (LUMSA, Roma), em 1999; pela Faculdade de Teologia da Universidade de Wroclaw (Polônia) no ano 2000.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

O sentido da Sagrada Família

Jesus foi acolhido por Maria e também por José num contexto
familiar, da Sagrada Família | Vatican News

A Sagrada Família colocou a presença do Filho de Deus na família humana. Este fato valorizou as ações que a família faz e também da família que o Senhor deseja de cada um de nós. Ela é dom de Deus e é também missão. A Igreja é chamada a estar com todas as famílias, a rezar por elas, para que vivam na paz e no amor e um dia glorifiquem a Deus Uno e Trino na eternidade. A Sagrada Família acompanhe e abençoe a todas as famílias do mundo inteiro.

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)

Após o Natal celebra a Igreja a Sagrada Família, de Jesus, Maira e José. É uma festa expressiva porque diz respeito à família humana na qual viveu o Filho de Deus, tendo como pais adotivos, Maria e José. A encarnação do Verbo ocorreu num contexto familiar. Assim como Jesus estava sempre no seio do Pai e junto com o Espírito Santo, ele entrou na realidade humana pela família. A família é fundamental para a vida humana e para a salvação. A salvação é sempre dada como iniciativa de Deus, da qual exige a participação humana num contexto familiar, comunitário e social.

A família vem do latim família, cujo significado é doméstico, um conjunto de pessoas ligadas entre si por uma relação de convivência, de parentesco, de afinidade[1]. Nós dizemos que a família é projeto de Deus, no qual a nossa vida dar-se-á a graça da vida eterna. Rezemos pela unidade de nossas famílias, para que haja a fraternidade, o amor e menos violência sobretudo contra as mulheres, contra as pessoas idosas e assim todas vivam o espírito de unidade e de amor como ocorreu na Sagrada Família de Nazaré. Os Papas e o magistério realçam sempre a unidade nas famílias. Em nível de CNBB estamos celebrando o ano vocacional, rezando pelas vocações e também pela vocação à vida matrimonial. A seguir, nós veremos algumas considerações importantes a partir da Sagrada Escritura e dos primeiros escritores cristãos sobre a festa da Sagrada Família.

José acolheu Maria, como sua mulher

Jesus foi acolhido por Maria e também por José num contexto familiar, da Sagrada Família. O evangelista Mateus falou que o anjo do Senhor apareceu em sonho para José dizendo que Maria estava grávida por obra do Espírito Santo. O anjo ressaltou para Ele para não temer de tomar Maria como sua mulher, sua esposa pois o que fora gerado nela era ação do Espírito de Deus. Ela daria à luz um filho e ele poria o nome de Jesus, pois ele salvaria o seu povo dos seus pecados. Portanto Jesus é o Salvador. Ela conceberia um filho cujo nome seria também Emanuel, cujo significado é Deus conosco. Quando José despertou do sono, José fez tudo conforme o anjo do Senhor lhe disse e acolheu Maria como sua mulher ( Mt 1, 19-24).

 José e Maria acolheram o Filho de Deus na carne

São Cromácio de Aquiléia, bispo no século IV afirmou que José e Maria acolheram o Filho de Deus na realidade humana. Quando eles estavam em Belém para fazerem o registro, Maria deu a luz o filho primogênito. Ela o enfaixou e depôs na manjedoura porque não havia lugar para eles na hospedaria (Lc 2,7). As coisas foram colocadas em evidência pelo nascimento do Verbo de Deus como Primogênito da Virgem porque era o primeiro e único a nascer dela, e era também o Unigênito do Pai, porque foi o único gerado pelo Pai, desde sempre. É essencial perceber a humildade do Filho de Deus por causa do ser humano, sendo colocado na manjedoura, aquele que com o Pai reina nos céus e é envolto em faixas aquele que concede a veste da imortalidade, mostra-se pequeno no corpo aquele que é sublime e poderoso[2].

A alegria pelo nascimento do Verbo de Deus é de toda a humanidade

São Cromácio ainda disse que o anjo comunicou aos pastores uma grande alegria porque nasceu para eles o Salvador, Cristo Senhor, na cidade de Davi (Lc 2,11). A alegria não seria somente dos pastores, mas também aos anjos de Deus. A Escritura disse que em seguida juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste dizendo: ´Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz a todos por ele amados´ (Lc 2,13--14). Era conveniente que ao nascimento de um Rei assim poderoso se alegrassem não somente os seres humanos, mas também os anjos, porque ele era o Criador dos seres humanos, mas também o Criador dos anjos e o Deus de todo o poder[3].

O dia eterno de unidade com a humanidade

Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V afirmou que a encarnação do Verbo iniciou um dia sem o seu fim na realidade humana, familiar. Aquele único Verbo de Deus, a vida, a luz dos seres humanos era então o dia eterno. Assim a família humana foi enriquecida com a presença do Filho de Deus na Sagrada Família. Aquele dia da unidade com a carne humana tornou-se como um esposo que sai do quarto nupcial (Sl 18,6). Desta forma aquele que nasceu lembra o eterno nascido da Virgem, porque o eterno nasceu da Virgem, consagrando o cotidiano da existência humana[4].

A mesma pessoa, Jesus Cristo, Deus e Homem

São Leão Magno, papa no século V, ressaltou a unidade da pessoa do Verbo de Deus como Filho de Deu e Filho do Homem. Cristo Senhor subsistiu na unidade da pessoa: sendo Filho de Deus pelo qual os seres humanos foram criados, tornou-se ele também Filho do Homem mediante a assunção da carne, com o fim de morrer como disse o Apóstolo pelos pecados por todos e ele ressurgiu para a justificação de todos (Rm 4,25)[5]. Desta forma a sua unidade com a família humana foi total, para reconciliá-la com Deus e com a humanidade.

A importância da Sagrada Família na Família humana

Santo Ambrósio, bispo de Milão, final do século IV, colocou também na festa da Sagrada Família, a Família humana. Simeão, o ancião que esperou o Senhor, recebeu o menino Jesus, em seus braços na presença de Maria e de José. Outras pessoas e personagens viram o Salvador como os anjos, os pastores, mas também os idosos e os justos receberam o testemunho do nascimento do Senhor. Todas as idades testemunharam que uma virgem deu à Luz, uma mulher estéril teve um filho, um mudo falou, Isabel profetizou, os magos adoraram, um menino pulou de alegria, uma viúva louvou a Deus, um justo esteve na espera[6].

A alegria de Simeão

Santo Ambrósio disse também que Simeão esperou ver o Messias prometido, o Ungido do Senhor, ao recebeu em suas mãos o Verbo de Deus e o agarrou entre os seus braços da sua fé, de modo que não veria mais a morte, porque viu a vida. Assim se a profecia é negada aos incrédulos, mas não aos justos (cfr. 1 Cor 14,22), eis que também Simeão profetizou que o Senhor Jesus veio para a ruína e para ressurreição de muitos (Lc 2,34), para fazer a divisão entre os justos e os injustos, segundo os merecimentos e para dar-nos como juiz verdadeiro e justo, seja a pena seja a graça da vida eterna segundo as ações de caridade e de amor[7].

A Sagrada Família colocou a presença do Filho de Deus na família humana. Este fato valorizou as ações que a família faz e também da família que o Senhor deseja de cada um de nós. Ela é dom de Deus e é também missão. A Igreja é chamada a estar com todas as famílias, a rezar por elas, para que vivam na paz e no amor e um dia glorifiquem a Deus Uno e Trino na eternidade. A Sagrada Família acompanhe e abençoe a todas as famílias do mundo inteiro.

[1] Cfr. Famiglia. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 570.

[2] Cfr. Cromazio di Aquileia. Sermone 32,2. In: Ogni Giorno con i Padri della Chiesa. A cura di Giovana della Croce. Presentazione di Enzo Bianchi. Milano, Paoline, 1996, p. 399.

[3] Cfr. Idem, Sermone 32,5. In: Idem, pg. 400.

[4] Cfr. Agostino d´Ippona. Sermone188,2. In: Idem, pg 403.

[5] Cfr. Sermone 10 (30), Sul Natale Del Signore 10, 5. In: Leone Magno. I Sermoni del Ciclo Natalizio, a cura di Elio Montanari, Mario Naldini, Marco Pratesi. Bologna, Edizioni Dehoniane Bologna, 2007, pg. 213.

[6] Cfr. Ambrogio. Exp. In Luc., 2,58-60. In: I Padri vivi. Commenti Patristici al Vangelo dominicale, Anno B, a cura di Marek Starowleyski. Roma, Città Nuova Editrice, 1984, pg. 31.

[7] Cfr. Idem, pg. 31.

O Arquivo Secreto Vaticano

Uma vista do depósito do Arquivo Secreto | 30Giorni
Arquivo 30Dias - 03/04 - 2012

O Arquivo Secreto Vaticano

por Roberto Rotondo

Quando se fala de Arquivo Secreto Vaticano, fala-se do moderno Arquivo da Santa Sé fundado por Paulo V perto do ano 1610, na sede situada no Pátio Belvedere onde se encontra até agora, porém com dimensões bem maiores. Mas a história dos arquivos dos romanos pontífices afunda em tempos bem mais remotos, ligando-se à origem, à natureza, à atividade e ao desenvolvimento da própria Igreja.

O patrimônio documentário conservado nos grandes depósitos abrange um período cronológico de cerca de doze séculos (do século VIII ao século XX). Constituído por mais de seiscentos fundos arquivísticos, estende-se por oitenta e cinco quilômetros lineares de estantes, colocadas, algumas delas, no Bunker, um local de dois andares, construído no subsolo do Pátio da Pigna dos Museus do Vaticano. Desde que o Papa Leão XIII, em 1881, abriu suas portas aos estudiosos, o Arquivo Secreto Vaticano tornou-se um dos centros de pesquisas históricas mais importantes e célebres do mundo. Para aprofundar a sua história e evolução, indicamos o livro Archivio Secreto Vaticano, curado pelo monsenhor Sergio Pagano (ed. Gangemi, 2000). No ensaio é explicada a longa história de como foi formado o Arquivo, os arquivos que armazenou, as vicissitudes e os deslocamentos (como nos anos que ficaram nas salas do Castelo Sant’Ângelo ou a mudança forçada do arquivo por ordem de Napoleão e a sua sucessiva volta a Roma).

Os historiadores que solicitam a consulta do Arquivo são centenas em todo o mundo, porém, o Arquivo tem também uma sua atualidade do ponto de vista jornalístico, como observou alguns anos atrás o famoso vaticanista Benny Lai, escrevendo que o Arquivo permite aprofundar o conhecimento das estruturas e do método de trabalho dos departamentos do Vaticano, penetrando na sua intimidade. A correspondência diplomática entre a Secretaria de Estado e os núncios apostólicos, além do valor dos temas tratados, com efeito, ilumina o modo de pensar e de agir que o decorrer dos anos substancialmente não modificou. Além disso, a consulta dos documentos conservados no Arquivo não serve apenas para esclarecer problemas históricos, grandes ou pequenos que sejam, para estudar vários aspectos das fases da formação da civilização ocidental ou a perene questão de fundo das relações entre a Igreja e o Estado; às vezes, a partir de antigos papéis, que muitos se obstinam a considerar um passado morto, emergem fatos humanos que o tempo não conseguiu apagar.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF