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domingo, 17 de maio de 2020

ESTUDOS BÍBLICOS: O LIVRO DE JÓ (4/6)

Tradução do espanhol por: Pe. André Sperandio
SEGUNDA SESSÃO DE DISCURSOS (15,1–21,34)

SEGUNDO DISCURSO DE ELIFAZ (15,1-35)

No início (4S), Elifaz mostrava-se mais respeitoso, agora, no entanto, muda de tom. Jó não fala com prudência, pior, está completamente alucinado. Sua própria boca, língua e lábios, todos os órgãos da fala (5s) o condenam. Continuando seu ataque contra a pretensa sabedoria de Jó, Elifaz sarcasticamente lhe pergunta se ele é um místico ou um antigo sábio (cf. Ez 28,11-19), engendrado de uma maneira especial antes da criação (7). A mesma imagem, com palavras quase idênticas, é aplicada em Pr 8,25b à figura personificada da sabedoria de Deus. Será que Jó teria tido acesso ao Conselho de Deus? (8). A ironia está em que justamente aí, no Conselho de Deus, é que os problemas começam para Jó. Elifaz inclui-se a si próprio entre os sábios e anciãos (10). O versículo 10b sugere que Jó talvez não fosse tão avançado em idade, como comumente é retratado. Se depois irá gerar filhos e filhas, pode-se deduzir que agora conte meia idade. Elifaz apela para a tradição antiga (17s;. Cf. 8.8), e lança uma série de advertências sobre o destino dos malvados (17-35), concluindo com um proverbial comentário sobre a futilidade da insensatez (30-35).

RESPOSTA DE JÓ A ELIFAZ (16,1–17,16)

Jó fica impaciente. Queria que seus amigos estivessem em seu lugar para lhes administrar o mesmo «remédio». Em linguagem típica de Lamentações (cf. Sl 22,7-9,13s;. 17,22) fala de perseguição por parte de seus inimigos. Às vezes seus pensamentos divagam entre o céu e a terra, ora dirigindo-se a Deus, ora a seus amigos. Jó não reage com expressões de arrependimento, mas com gestos de dor e tristeza (16,15;. Cf. 1,20) daqueles que sentem a morte se aproximando (16,18-17,2). Existia uma crença no Antigo Testamento de que o sangue de uma vítima inocente clamava aos céus por justiça – como por exemplo, o sangue do justo Abel (Gn 4,10) -. Jó espera que depois que a morte tenha fechado seus lábios, o seu sangue siga clamando. Antes, esquecido por seus amigos, buscava um árbitro entre ele e Deus; agora espera por uma testemunha, um intercessor lá de cima (16, 19), provavelmente um membro da Corte Celestial que, ao contrário do que fez Satanás, interceda em seu favor. O texto hebraico de 17,3-10, não está bem claro; Parece que Jó pede a Deus que permita a algum dos seus conselheiros ocupe-se de sua defesa, como se dá nos tribunais (Gn 38,17;. Dt 24,6-17). Mas não há nenhum. Definitivamente ele se tornou o escárnio de todos; seu destino é a vergonha. Abandonado, sozinho, achincalhado, seus pensamentos se voltam para a morte (17,11-16), apresentada com uma série de imagens negativas: região dos mortos (17,13-16), trevas (17,13), corrupção e vermes (17,14), pó (17,16).

SEGUNDO DISCURSO DE BILDAD (18,1-21)

Depois de algumas breves palavras de reprovação, Bildad começa uma longa descrição sobre o destino dos ímpios (cfr. 15, 20-35). Usa seis termos, ao que parece, de gíria com significados meio obscuros. Alusões à tenda destruída (14b-15) ou a morte sem descendência (16-19) provavelmente repercute as aflições de Jó do primeiro capítulo. Naquele tempo, não havia nenhuma esperança de vida após a morte; a sobrevivência que se poderia aspirar era o nome preservado na memória dos descendentes. Sem eles, era como se a pessoa nunca tivesse existido e não podia imaginar destino pior (18s).

RESPOSTA DE JÓ A BILDAD (19,1-29)

Jó começa com uma pergunta típica das lamentações: «Até quando?». As «dez vezes» do versículo 3 deve ser tomado no sentido de «frequentemente, repetidamente». Embora textualmente não fique muito claro, os versículos 4s. implicam: «mesmo que eu seja culpado, este é um problema meu, e tu não tens o direito de te alegrar às custas do sofrimento alheio». Como para manifestar persistência, Jó novamente afirma que Deus está lhe tratando injustamente (6), fazendo notal às vezes a sua boa conduta para com Deus(7-14). Não apenas Deus o abandonou, mas também os seus amigos e familiares (13-22). Ele está sozinho e envergonhado. O sentido preciso do versículo 10 não é tão claro, mas deve significar algo como «fui reduzido a tal extremo que apenas sigo vivendo». Solitário e já beirando a morte, Jó se agarra à última esperança que lhe resta para reivindicar a sua causa (23-29). Quer que sua confissão de inocência seja esculpida em pedra para que fale por ele depois de sua morte (23s). Logo depois (25-27) quer tentar outro tipo de reclamação, mas qual?, como? Estamos diante de um dos versículos mais famosos e difíceis do livro (25). O «Defensor», algo como o nosso «promotor de Justiça» - era um ofício da sociedade tribal que trazia consigo a obrigação de defender e proteger os membros mais fracos da família. Embora suas funções fossem várias (cf. Lv 25,23s;. 47-55; Dt 25,5-10; Rt 4,1-6), a primeira era manter a unidade vital da família ou da tribo. Jó havia acabado de dizer que todos os seus amigos e aliados lhe haviam esquecido; agora se agarra ao último fio de esperança: quem sabe não tenha restado ainda algum familiar por aí que apareça agora, apresente-se ao tribunal e ateste a sua inocência. Quem é esse Defensor? Alguns comentaristas opinam que é Deus; outros, de forma mais convincente, afirmam que se trata de uma terceira pessoa que, com Jó, enfrenta aquele que é, ao mesmo tempo, juiz, promotor e carrasco, isto é, Deus. Mas quando isso aconteceria? São Jerônimo em sua tradução da Vulgata – de onde Hendel tomou inspiração para o seu Messiah – afirma que isso acontecerá no dia da ressurreição, mas esta versão é contrária a posição mantida ao longo do livro: não há vida após a morte (cfr. 14,10-22). Jó parece se agarrar a um possível resgate de última hora, enquanto ainda está vivo. Este é, pelo menos, o seu maior desejo (26b). Dado a natureza confuso do texto, qualquer interpretação é uma tentativa. Jó termina com uma advertência – e previsão: os que persistem em condená-lo acabarão finalmente por serem submetidos, eles próprios, a juízo (28s;. Cf. 42,7-9).

SEGUNDO DISCURSO DE SOFAR (20,1-29)

Como Elifaz (15,17-35), e Bildad (18,5-21), Sofar se apressa a descrever o destino dos malvados. Para responder a Jó, Sofar se apoia, seguindo o estilo sapiencial, tanto em sua reflexão pessoal (2) como na tradição transmitida pelos antepassados ​​(4). Os malvados ignoram a Deus e aos seus mandamentos, e se colocam eles mesmos no lugar de Deus. São orgulhosos e arrogantes (6), mas perecerão para sempre com seu próprio esterco (7). Falando de injustiça social (15-19), diz que a avareza os leva a oprimir aos pobres e necessitados (17-22). Mas a alegria da riqueza ilícita não é duradoura, pois Deus, qual terrível guerreiro, acometerá contra o malvado com toda a extensão de suas armas cósmicas (23-28). Se, de fato, Jó está experimentando a ira de Deus, o que mais se pode esperar? Este é o destino dos ímpios (29).

RESPOSTA DE JÓ A SOFAR (21,1-34)

Este discurso de Jó constitui, de fato, uma resposta aos argumentos dos seus amigos, entrando assim num autêntico diálogo com eles. Contém numerosas referências (demais para se refletir sobre todas aqui) ao que foi dito acima. Se os seus amigos não podem lhe oferecer o benefício do silêncio (13,5), que pelo menos prestem ouvidos ao que está dizendo, pois não rdt´s falando de generalidades, mas de seu próprio sofrimento pessoal (5s). Os últimos argumentos dos amigos focam o destino dos malvados. Jó os retoma e os rebate: os malvados não sofrem, mas pelo contrário, a maior parte deles prospera e morre feliz. Além disso, zombam de Deus! (14). Era crença comum daquela época que os efeitos do pecado eram prolongados através de suas famílias a descendentes. Isso pode até ser verdade, diz Jó, mas é injusto. O que peca deve sofrer ele mesmo o seu castigo. O que vai acontecer depois que morrer já não lhe importa muito (18-21). Mas não, os maus não sofrem, pelo contrário, prosperam e morrem felizes. É assim que tem sido sempre as coisas e assim é que serão. Os inúteis conselhos dos seus amigos não são nada mais que mentiras (34). Assim termina a segunda rodada de discursos.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF