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terça-feira, 19 de maio de 2020

ESTUDOS BÍBLICOS: O LIVRO DE JÓ (6/6)

Tradução do espanhol por: Pe. André Sperandio

JURO QUE SOU INOCENTE! (31,1-40)

Duas vezes citado diante de Deus para que comparecesse em juízo e respondesse às acusações contra ele (13,13-19; 23,2-7); Jó pronuncia agora um longo juramento de inocência. Pede a Deus, em primeiro lugar, que, o pese na balança da justiça, ou seja, numa balança «fiel», verdadeira (6). Apresenta em seguida, um resumo das suas condutas, rigorosamente morais. O texto é às vezes um tanto quanto é incerto, mas podemos citar, pelo menos, as seguintes seções: 1. Falsidade e engano (5-8). 2. luxúria e adultério (9-12). 3. Direitos dos escravos (13-15). Jó não só tratou be, aos escravos, mas a todos, homens e mulheres que para ele são iguais, criaturas de um mesmo Criador (cf. Pr 14:31; 17,5; 22,2; 29,13). 4. Mau-trato aos pobres e necessitados (16-23). 5. Idolatria (24-28) -O versículo 25 se refere ao ídolo da riqueza e do dinheiro; os versículos 26s são uma advertência contra as religiões pagãs circunvizinhas, adoradores do sol e da lua. 6. Ódio contra os inimigos (20-30) - A maldição contra os inimigos é comum nos salmos de lamentações (cf. Sl 29,23-29), mas Jó não havia amaldiçooado a ninguém. 7. Hospitalidade (31-33) - Nas sociedades antigas, a hospitalidade para com os estrangeiros era um valor sagrado e um dever. 8. Hipocrisia (33s) Novamente Jó centra-se em suas atitudes de integridade pessoal. 9. Exploração da terra (38-40) – Face à crise ecológica que hoje enfrentamos, a preocupação do Antigo Testamento pela a integridade da criação deve nos fazer pensar. Jó deu conta de todas as relações que tecem a vida humana: com Deus, consigo mesmo, com os outros – amigos, inimigos, servos, pobres e necessitados - e com o meio ambiente. Tudo isso entra no conceito bíblico de justiça. E pela última vez, Jó reafirma sua inocência (35-37).

DISCURSOS DE ELIÚ (32,1–37,24)

Jó conclui sua defesa pedindo uma resposta a Deus. O que vai acontecer agora? E, quando menos espera, surge em cena um intruso chamado Eliú. Trata-se de um jovem revoltado que, aparentemente, esteve ouvindo todo o debate e não pode conter-se mais. Irritado com o que acabara de ouvir, quer ainda botar mais lenha naquela fogueira (32,19). E o faz com quatro discursos que, ainda que não tragam nenhuma novidade, manifesta sua convicção, paixão e verborragia.

PRIMEIRO DISCURSO DE ELIÚ 32,1-33,33.

Apesar de sua juventude, Eliú se acha no dever de falar. A sabedoria nem sempre, - ou não necesariamente -, não está associada tem a ver com a idade, pois é um dom do espírito/sopro de Deus (32,8-18). Ao contrário dos outros dois amigos, o jovem chama Jó pelo nome (33,31). Depois de um longo preâmbulo (32, 6-B-33.7), entra finalmente no assunto. Jó reivindicou sua inocência, afirmando que Deus estava lhe tratando como a um inimigo, ignorando seus gritos de socorro. Pois bem, Jó está equivocado (33,12). Deus fala, mas jó é que, provavelmente, não tenha o escutado. E fala, seja por meio de sonhos e pesadelos ou através da enfermidade, para advertir o pecador e trazê-los de volta ao caminho da vida (33,14-22). Eliú também cita ainda um mediador celestial, membro da corte de Deus (33.23), o que vem em socorro dos pecadores que se arrependem. Jó desejou ardentemente um mediador (16,19-22), mas certamente esperava dele outra coisa.

SEGUNDO DISCURSO DE ELIÚ (34,1-37)

Depois de censurar os amigos, Eliú empreende uma longa defesa da justiça e da equidade de Deus (10-29). Deus vê tudo e é ele quem dita a sentença. Aquele que se afasta de Deus só pode culpar-se a si mesmo (24-27). Como os amigos, da primeira rodada de discursos, o jovem sugere a Jó o que ele deve dizer para manifestar seu arrependimento (31s). Os versículos finais (34-37) são duros e cruéis, - e irrelevantes -, como aqueles que saíram da boca dos amigos.

TERCEIRO DISCURSO DE ELIÚ (35,1-16)

Eliú continua a desenvolver o tema da grandeza e da transcendência de Deus. Os oprimidos clamam a Deus, mas ele parece não escutá-los. Deus, porém, escuta e responderá, mas os que por clamam é que se encontram fechados em si mesmos e não esperaram o tempo suficiente (14). É a resposta simplista e banal de sempre para proteger «nossas» idéias acerca de Deus.

QUARTO DISCURSO DE ELIÚ (36,1–37,24)

A primeira parte do discurso (36,1-21) é a continuação da discussão das sessões anteriores. Os destinos do justo e do malvado são submetidos novamente à revisão. A segunda parte (36,22-37,13) louva a grandeza do Criador. Seu poder, sabedoria e conhecimento estão acima da nossa capacidade de compreensão (36.26). Eliú centra-se no dom divino da chuva (36,27-37,13): Será que Jó está çevando em conta as maravilhosas obras de Deus? (37,14). Em todo o Antigo Testamento, as «maravilhas de Deus» dizem respeito às grandes obras que realizou quando libertou Israel da escravidão no Egito. Na tradição sapiencial, as maravilhas de Deus são as obras da criação. Eliú lança uma série de perguntas a Jó que, é claro, sempre tem como resposta um «não» (37,15-21). Por mais sábios que sejamos, jamais poemos responsabilizar Deus. Tudo o que podemos fazer é «teme-lo» - adora-lo e reverencia-lo -, e nisso consiste o princípio da sabedoria (28,28). Eliú é um figurante na cena, uma simples figura de transição. Suas observações anteriores trataram das discussões que Jó teve com seus amigos; agora volta-se para adiante, centrando cada vez mais em Deus, terminando com a descrição da tempestade e mais uma série de questões que pretendem humilhar Jó. O Senhor irá falar a partir da tempestade com uma lista de questões semelhantes.

DISCURSOS DO SENHOR (38,1–42,6)

Agora é o Senhor, que esteve ouvindo e tomando notas (35.13), quem fala. Os amigos achavam que Deus não precisava falar. Jó, pelo contrário, sim; pediu a Deus, ou uma lista de obrigações (penitências) ou uma sentença. Todos ficam chocados. O Senhor entra como um a mais no debate e responde com dois discursos (38,1-40,2, 40,6-41,26). Jó, por sua vez, responde brevemente com dois outros (40, 3-5; 42,1-6). O Senhor não responde a nenhuma das questões colocadas; na realidade, suas palavras oferecem apenas uma série de contra-questões destinadas a tirar Jó do seu pequeno mundo, abrindo-lhe um horizonte mais amplo.

PRIMEIRO DISCURSO DO SENHOR (38,1-40,2)

Deus fala a partir da tempestade. Agora é a vez de Deus perguntar e de Jó responder. Jó é convidado a entrar no mistério primordial do cosmos. Em primeiro lugar, a fundação da terra é descrita como uma casa construída de acordo com um plano detalhado de arquitetura (38,4-7). Em seguida, sob a ordem do Criador, surge o mar que é revestido e circunscrito por seus limites cósmicos. E o que dizer da manhã (38,12-15), quando a claridade reúne todas as cores e lança sua luz sobre as ações dos malvados? Jó será capaz de compreender as águas primordiais ou as fontes da luz? (38,16-20). No versículo 38.21 podemos perceber um toque da ironia divina. Depois de discorrer sobre a estrutura básica do cosmos, o Senhor volta aos mistérios que envolve o universo, especialmente os fenômenos da natureza (38,22-30). Os interesses de Deus vão muito além do pequeno mundo de preocupações humanas de Jó. Seu poder criador manifesta a sua providência - na antiguidade, muitos acreditavam que o destino humano estava escrito nas estrelas. Em seguida são mencionadas as constelações celestes (38,31-33). Pode Jó produzir a chuva e envolver-se a si mesmo com nuvem da tempestade como num manto? (38,34s). Verdadeiramente o Senhor criou tudo com sabedoria (38,33-38; cf. Pr 3,18-20; 18,22-30; Sl 104,24). O resto do discurso é dedicado ao mundo animal (38,39-39,30). Cinco pares de animais silvestres são mencionados: Os leões e os corvos (38,39-41); as cabras montesas e as cervas (39,1-4); jumento montês e o boi selvagem (39,5-12); o avestruz e o cavalo de guerra (39,13-25); o falcão e águia (39,26-30). Na cultura do Oriente Médio, todos esses animais foram associados com imagens negativas (demônios, caos, deserto). O Senhor é quem sugere que não só cuida desses animais, mas que também estão sob seu o controle, e isso é uma bênção para a humanidade. Assim terminam as duas partes do primeiro discurso com o qual o Senhor responde a acusação de Jó de que não há nenhum plano ou providência no mundo.

RESPOSTA DE JÓ AO SENHOR (40,3-5)

O Senhor faz uma pausa para recuperar o fôlego e dar a Jó oportunidade de responder. Antes Jó havia mencionado como as pessoas cobriam a boca com as mãos ante suas palavras como sinal de respeito (29.9). Agora é ele que cobre respeitosamente a sua boca. Jó não confessa qualquer pecado, é simplesmente inundado ante o mistério de Deus e do universo.

SEGUNDO DISCURSO DO SENHOR (40,6-41,26)

O Senhor lança um novo desafio a Jó: é mesmo necessário que condenes a Deus para afirmar tua inocência? (40,8). E no que segue, apresenta a descrição de dois grandes monstros: Beemot (40,15-24) e, mais extensivamente, Leviatã (40,25-41,26). Os especialistas querem identifica-los com o hipopótamo e o crocodilo - e assim os temos traduzido -, porém, na cultura do Oriente Médio, são também mitos/símbolos do caos primordial que o Senhor, tendo-os criado, mantém sobre eles domínio e controle. Estamos, provavelmente, diante de uma mescla de mitologia e zoologia. Deus desafia Jó: Quem os seguraria pela frente, e lhe furaria as ventas para nelas passar cordas? Podes tu captura-los? (40,24). Eles se exibem pelo mundo, afrontando e atacando, de modo a fazer com que tudo volte ao caos. Contudo, Deus não os destrói, antes, controla-os.

RESPOSTA DE JÓ AO SENHOR (42,1-6)

Finalmente, Jó reconhece o poder e os desígnios de Deus e admite que vão além de sua capacidade de compreensão. Antes, Jó sabia sobre Deus através dos ensinamentos da tradição. Agora, submerso no mistério, tem um conhecimento mais direto Dele, e renega tudo o que tinha falado. Estarian mostrando arrependimento por seus supostos pecados? Certamente que não, pois a Deus não se serve com mentiras. Jó pode ter ido longe demais em sua ânsia por compreender, porém seu sofrimento não é consequência do pecado. O que realmente agora compreende é a fragilidade e os limites da condição humana ( [6] «pó e cinza»).

EPÍLOGO (42,7-17)

O livro chega ao seu final com um epílogo em forma de prosa e que se desenvolve em três cenas: 1. Deus censura Elifaz e seus dois companheiros: «Não falastes corretamente de mim, como Jó, meu servo» (7). E isto é tão irônico quanto importante. Para dar ainda mais ênfase, é repetido no versículo seguinte. Os amigos precisam pedir perdão a Jó se quizerem evitar o castigo. Jó concede o que pedem e Deus aceita que seja assim. 2. Além da honra, Deus devolve a Jó as suas propriedades (10s), ainda que este não tenha feito qualquer menção ou pedido a esse respeito. Familiares e amigos vêm agora dar-lhe verdadeiro consolo. 3. Por fim, Deus o abençoa (12-17), devolvendo-lhe o gado (duas vezes o que possuia antes), uma família com sete filhos e três filhas, cujos nomes refletem seu apelo: Jemimah (Paloma), Keziah (Acácia) e Keren-happuch (Azabache*). Jó morre feliz, cheio de anos e cercado pelos filhos até a terceira geração.

REFERÊNCIA BIBLIOGÁFICA:
Autor desconhecido | Retirado de: http://www.bibleclaret.org/bibles/lbnp/AT/44Job.doc | Acesso em 28/10/2014 | Pastoral Bible Foundation | # 8 Mayumi St. U.P. P.O. Box 4 Diliman 1101 Quezon City, PHILIPPINES | Tel: (632) 921-3984, Fax: (632) 921-7429 Website: www.bible.claret.org | Email: cci@claret.org | or contact our new office in Los Angeles, California: 2500 Wilshire Blvd Suit 105 | Los Angeles, CA 90057 | TE: 1-888-989-4528, 213-251-8161 | FAX: 213-387-7860 | Email: pbf@claret.org
NOTA
*Azabache: mineral negro e brilhante, duro, compacto e leve, que é uma variedade de carvão utilizado para fazer jóias ou ornamentos.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF