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sexta-feira, 15 de maio de 2020

ESTUDOS BÍBLICOS: O LIVRO DE JÓ (2/6)

Tradução do espanhol por: Pe. André Sperandio

PRÓLOGO (1,1–2,13)

Um prólogo em prosa composto de cinco cenas alternadas entre o céu e a terra abre o livro apresentando o cenário e seus personagens. De um começo tranquilo e feliz passa rapidamente para o sofrimento e a confusão.

PRIMEIRA CENA – NA TERRA (1,1-5)

A figura de Jó parece ser a de um velho e lendário herói da fé (cfr. Ez 14,14-20). Uz está, certamente, localizada no vasto território que se desenrola a oeste do rio Jordão, mas é difícil precisar sua localização. Embora nosso herói não pertença ao povo de Israel é, no entanto, um modelo de vida virtuosa. O seu «temor de Deus» não é mera emoção servil, mas o fruto de uma fé obediente. No contexto teológico dos livros sapienciais, o temor de Deus é o princípio da sabedoria (cf. Jó 28, 28; Pr 1, 7, 9,10.) É a garantia de uma vida longa e feliz (Pr 3, 13-18). Assim, Jó é abençoado, bem como os seus filhos, gado e servos.

SEGUNDA CENA: NO CÉU (1,6-12)

O Senhor, como um rei que preside a sua corte, aparece rodeado pelos «filhos de Deus», os seus servos e cortesãos, entre os quais se encontra Satanás. Nem aqueles são os anjos da nossa teologia cristã, nem este é o diabo. Satanás, «o adversário» é o nome do ofício que desempenha, ou seja, de vagar pela terra em missão de espionagem. Deus está orgulhoso da integridade de Jó, mas Satanás mostra-se cético, e diante de toda a corte celestial sugere que Jó é um homem virtuoso e justo simplesmente por conta do que tem. Se viesse a perder tudo permaneceria ele o mesmo? No contexto de uma cultura de honra e vergonha, Deus, que estava sendo julgado em seu prestígio, permite que Satanás submeta Jó à prova.

TERCEIRA CENA: NA TERRA (1,13-22)

Em rápida sucessão vão chegando mensageiros que anunciam desastres. Forças destruidoras, naturais e humanas, que se aliam e se lançam sobre Jó, despojando-o de todos os seus bens. Com gestos dramáticos típicos de desespero e arrependimento, Jó rasga suas vestes, raspa sua cabeça (Is 15,2; Jr 7,29) é se lança ao chão. Porém, quando abre seus lábios é sempre para bendizer a Deus. A honra do Senhor está a salvo e Satanás vai sendo derrotado em sua insinuação.

QUARTA CENA: NO CÉU (2,1-6)

O Corte Celestial entra de novo em cena. O que Jó defende, ao longo de todo o livro, é claro para todos: não há nenhuma conexão entre a sua vida virtuosa e os seus sofrimentos. Satanás replica com um provérbio tão enigmático que não nos deixa saber o que ele quer propor. Parece insinuar uma aposta: se Jó for atacado em seu próprio corpo, certamente que irá proferir blasfêmias contra Deus.

QUINTA CENA: NA TERRA (2,7-13)

Jó é atacado por uma terrível e repulsiva enfermidade cuja descrição é demasiado genérica para ser diagnosticada. A tradição bíblica sapiencial reconhece e elogia a mulher sábia (Pr 31,10-31), mas a mulher de Jó só lhe dá conselhos estúpido. Não obstante, Jó não será levado a proferir blasfêmias, «apesar de tudo isso Jó não pecou com seus lábios» (10). Três amigos recebem a notícia da situação de Jó e, movidos de compaixão, reúnem-se lá em suas terras distantes – que não é possível localizar com precisão – e partem para levar conforto ao amigo. Ao chegar, vendo o estado de Jó, também eles explodem em lamentações e, juntando-se a ele, sentam-se ao seu lado na poeira em silêncio. E assim chega ao seu final o prólogo. O cenário está completo: Jó, sentado na poeira; Deus do céu, olha atentamente. Façam suas apostas! O que dirá Jó? A audiência: Deus, os amigos e nós, e nós, os leitores, esperamos ansiosamente.

MONÓLOGO DE JÓ: LAMENTAÇÃO (3,1-26)

A proverbial «paciência de Jó» termina dramaticamente aqui para não reaparecer mais; numa onda de lamentos lançados sobre todos e sobre ninguém (3,1-10) Jó amaldiçoa o dia e a noite. Não amaldiçoa Deus, mas o dia em que nasceu e a noite em que foi concebido, desejando que esse dia se tornasse noite e aquela noite que fosse apagada do calendário. A tradução e significado do versículo 8 são incertos.

DESEJO DE MORRER (3,11-19)

Jó invocou as trevas; agora invoca também a morte. Aparecem aqui as duas características das lamentações: o «por quê» (Cf Sl 22,2), que implica «não compreendo que seja assim»; e a fixação no «eu» (cfr. Sl 77,1-6). Diante de sofrimento tão intenso é difícil olhar para fora de si mesmo. Jó anseia pela morte, a que torna todos iguais, para encontrar repouso.

LIVRA-ME DEUS! (3,20-26)

O grito de «Por quê?» aparece novamente no verso 23b, mas desta vez com um forte acento irônico. Em 1,10, Satanás havia reprovado a Deus por ter «cercado» Jó, sua casa e seu trabalho de bênçãos; Aqui, Jó usa a mesma palavra para lamentar-se por estar sendo agora encurralado por Deus.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF