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domingo, 6 de março de 2022

O centro da confissão não é o nosso pecado, mas a misericórdia de Deus

A volta do filho pródigo, Rembrandt, água-forte, Pierpont  Morgan 
LibraryNova York
Arquivo 30Dias - 01/02, 2012
No final de janeiro, junto ao santuário da Santa Casa de Loreto, realizou-se o terceiro simpósio para os penitenciários organizado pelo Centro de Estudos Lauretanos. Publicamos alguns trechos do pronunciamento de dom Gianfranco Girotti, bispo regente da Penitenciaria Apostólica, publicado no L’Osservatore Romano de 28 de janeiro. “Fico sempre impressionado com o comportamento que o Santo Cura d’Ars tinha para com os vários penitentes. Os que vinham ao seu confessionário atraídos por uma íntima e humilde necessidade do perdão de Deus, encontravam nele o encorajamento para se imergir na ‘torrente da divina misericórdia’ que arrastava tudo com o seu ímpeto. E se alguém ficava aflito ao pensamento da própria fraqueza e inconstância, com temor de futuras recaídas, ele lhes revelava o segredo de Deus com uma expressão de tocante beleza: ‘O bom Deus sabe tudo. Antes mesmo da sua confissão, já sabe que você pecará novamente e todavia lhe perdoa. Como é grande o amor do nosso Deus que chega até a esquecer voluntariamente o futuro, só para nos perdoar!’. Sabemos que o Cura d’Ars, no seu tempo, soube transformar o coração e a vida de muitas pessoas, porque conseguiu fazer-lhes perceber, com a capacidade de ouvir, o amor misericordioso do Senhor. O que mais importa na celebração do sacramento da Reconciliação é o encontro pessoal com Cristo Salvador e, nele, com o Pai misericordioso. Nesta perspectiva talvez devemos rever muitos sedimentos e acréscimos relativos a certos modos de entender e de celebrar o sacramento da Reconciliação. Não é verdade que às vezes a confissão assume o aspecto de um tribunal de acusação, mais do que de uma festa do perdão? Não é verdade que algumas vezes o diálogo penitencial assume tons inquisitórios ou mesmo pouco delicados? Um certo modo de entender o sacramento da Reconciliação levou, com efeito, a superestimar unilateralmente o momento da acusação e da lista dos pecados, com o resultado de relegar em segundo plano aquilo que – ao invés – é absolutamente central ao ouvir os pecados, ou seja, o abraço abençoado do Pai misericordioso. Muitas vezes nós consideramos primeiro o pecado e depois a graça. Mas ao invés, antes de tudo há o gratuito de Deus, há o seu amor misericordioso, sem limites. No centro da celebração sacramental não está o nosso pecado, no centro do sacramento está a misericórdia de Deus, que é infinitivamente maior do que cada um dos nossos pecados [...]. 
O sacramento da Penitência não é uma ‘psicanálise’; é um sacramento, um sinal eficaz de perdão a quem está arrependido, não a quem decidiu submeter-se à análise ou a um tratamento da sua psique. O confessor sabe que só Deus percebe até o fundo do coração e que o objetivo juízo e o dom da misericórdia pertencem a Ele, que originariamente absolve e de cuja graça o confessor é somente o portador. Aquilo que mais importa não é a análise e a confissão, mas o arrependimento que reside na alma [...]. 
É preciso lembrar sempre que o confessor nunca deve manifestar espanto, qualquer que seja a gravidade dos pecados confessados pelo penitente; jamais deve pronunciar palavras que soem como uma condenação à pessoa, e não ao pecado, jamais deve inculcar terror no lugar de temor; jamais deve indagar sobre aspectos da vida do penitente, cujo conhecimento não seja necessário para a avaliação dos seus atos; jamais deve usar termos que firam mesmo apenas a delicadeza do sentimento, mesmo se, falando propriamente, não violam a justiça e a caridade; jamais um sacerdote deve mostrar-se impaciente e ciumento do seu tempo, mortificando o penitente com o convite a apressar-se (com exceção da hipótese em que a confissão seja feita com inútil verbosidade) [...]. 
Concluindo, ‘acolhida e verdade’ deveriam distinguir a atitude do confessor – que é juiz, médico e mestre por conta da Igreja – naquele que é um momento de reconciliação com Deus. E cada sacerdote que vai a um confessionário deve ser imagem da benevolência de Cristo, porque, colocando o penitente em relação com o coração misericordioso de Deus, através do seu rosto bondoso e amigo, ele redescubra com alegria e confiança este sacramento e compreenda cada vez mais que o amor que Deus tem por nós não se detém diante do nosso pecado, não recua diante das nossas ofensas”.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF