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quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Os princípios da Doutrina Social da Igreja (I)

Doutrina Social da Igreja (paulinos)

OS PRINCÍPIOS DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA (I)

Dom Wilson Angotti
Bispo de Taubaté (SP)

“Se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão as trevas” (Mt 6,23). 

Consideraremos aqui os “princípios” da Doutrina Social da Igreja (DSI), o que equivale a dizer os eixos ou as temáticas centrais que são abordados nos diversos documentos do Magistério da Igreja. Nos documentos de DSI, não encontraremos uma lista desses princípios; eles são elaborados por aqueles que os estudam e identificam os temas recorrentes ou que se destacam pela importância. Por isso, pode haver listas com mais ou menos princípios. Nesta nossa abordagem nos serviremos de uma sistematização (veja ao final*) que enumera doze princípios, os quais passaremos a apresentar a partir de agora. 

1º Princípio: A ordem social está subordinada à ordem moral, estabelecida por Deus.  

A ordem que há de vigorar na sociedade é essencialmente moral (…). Esta ordem moral – universal, absoluta e imutável nos seus princípios – tem a sua origem e fundamento em Deus verdadeiro, pessoal e transcendente” (Papa João XIII, Pacem in Terris, 37-38).  

Com isso, a Igreja acredita e proclama que a ordem social não acontece simplesmente em decorrência do aperfeiçoamento da organização econômica, jurídica, social e política, por melhor que seja. A justiça social não será alcançada numa sociedade materialista, competitiva e consumista. A Igreja acredita e ensina que a ordem social desejada só poderá acontecer quando as pessoas que compõem o corpo social se orientarem por valores ético-religiosos, quando se orientarem pela fé; é desta ordem moral que a Igreja fala. Se não existir essa referência ao transcendente corrompe-se a cultura e nas relações entre as pessoas valerá a lei do mais forte, que imporá suas regras privilegiando uns em detrimento de outros. Somente orientada por valores éticos e transcendentes o ser humano será capaz de construir uma sociedade mais justa, fraterna e solidária. 

2º Princípio: A dignidade da pessoa humana. 

“… aumenta a consciência da eminente dignidade da pessoa humana, por ser superior a todas as coisas e os seus direitos e deveres serem universais e invioláveis. É necessário, portanto, tornar acessíveis aos homens todas as coisas de que necessita para levar uma vida verdadeiramente humana…” (Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, 26).  

A dignidade da pessoa humana é base de todo desenvolvimento da Doutrina Social da Igreja e, por isso, foi tratada mais detidamente no tema passado. A dignidade da pessoa está fundamentada na consciência de que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus. Devido a esta visão de fé, o conceito de pessoa foi enriquecido pelo cristianismo. Em muitas culturas da antiguidade mulheres e escravos eram considerados como “coisas” e contados entre as posses de seus senhores, que tinham sobre eles direito de vida e de morte. Com o cristianismo todos os seres humanos (homens, mulheres, crianças, nascituros, escravos, estrangeiros, inimigos…) passaram a ser considerados como pessoa digna de direitos e deveres.  

3º Princípio: A solidariedade. 

A solidariedade que une todos os seres humanos e os torna membros de uma só família, impõe, aos países que dispõem com exuberância de meios de subsistência, o dever de não permanecerem indiferentes diante das comunidades políticas cujos membros lutam contra as dificuldades da indigência, da miséria e da fome…” (Papa João XXIII, Mater et Magistra, 154).  

A solidariedade é um dos princípios base da concepção cristã em relação à organização social e política. Não se trata de um sentimento de vaga compaixão diante dos males sofridos por tantas pessoas; mas é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem, sobretudo daqueles que são mais fragilizados. Isso é compromisso fundamental do cristão, que deve ver o outro como irmão. O dever de solidariedade é o mesmo tanto para as pessoas como para os povos. A solidariedade é instrumento para a paz. É apresentada pela Igreja como uma terceira via que visa superar o capitalismo individualista e o marxismo coletivista. 

4º Princípio: O bem comum. 

Todos os indivíduos e corpos intermediários (como associações e sindicatos) devem contribuir para o bem comum (…). A realização do bem comum constitui a total razão de ser dos poderes públicos” (Papa João XXIII, Pacem in Terris, 53). “O individualismo suprime o bem comum, a solidariedade a ele conduz” (Papa Pio XI, Quadragesimo Anno, 49). “O bem comum pressupõe o respeito pela pessoa humana … exige dispositivos de bem-estar e segurança social … como a família; … o bem comum requer a paz social, isto é, a estabilidade e a segurança de uma certa ordem que não se realiza sem uma atenção particular à justiça distributiva …” (Papa Francisco, Laudato Si, 157). 

O bem comum, como a própria expressão indica, é o bem de todos, o bem a que todos têm direito e não só o bem de alguém em particular ou de algum grupo de privilegiados. O bem comum deriva da igualdade e dignidade de todas as pessoas e é um imperativo moral para todos, especialmente, para o cristão, que se rege pelo custoso mandamento do amor, que nos leva a buscar o bem dos outros como se fosse o próprio. O bem comum é a razão de ser do estado e da política que, por isso, estão obrigados a promovê-lo.  

(O tema dos Princípios da DSI continua) 

(*) Dicionário de Doutrina Social da Igreja, Luiz Carlos Lessa, Ed. LTR.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Os impactos da revolução digital na saúde mental das crianças: um alerta aos pais

Oksana Shufrych/Shutterstock

Por Igor Precinoti

Muitos estudos já estão demonstrando que o vício digital em crianças e adolescentes está relacionado a déficit de atenção, hiperatividade, ansiedade, irritabilidade e depressão. Entenda:

Após o lançamento da primeira geração de iPhone, pela Apple, em 2007, uma revolução digital foi observada e os aparelhos celulares e tablets passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas, influenciando quase todos os aspectos da vida humana.

O termo “era digital” foi cunhado para designar este período histórico da sociedade, no qual a tecnologia e a comunicação digital desempenham um papel fundamental na sociedade. 

À medida que os dispositivos digitais foram se tornando mais essenciais para as atividades diárias, alguns problemas também começaram a ser observados. Em muitos países, transtornos relacionados ao uso de dispositivos eletrônicos têm se tornado um problema sério para a saúde mental. 

Vários estudos encontraram forte relação entre o uso de mídias digitais e outros transtornos como depressão e ansiedade, incluindo o vício digital. Este problema é tão importante que a Associação Americana de Psiquiatria incluiu o “distúrbio de jogos na Internet” (abarcando jogos on-line e off-line) no DSM-5 (um manual de transtornos mentais) e a OMS o reconheceu oficialmente como uma doença médica.

Sabendo dos riscos decorrentes do uso de aparelhos digitais, é importante dar atenção às crianças que, cada vez mais, estão utilizando celulares e tablets. Como as mentes dos jovens ainda estão imaturas, são mais vulneráveis e, portanto, com maior tendência ao vício digital. 

Muitos estudos já estão demonstrando que o vício digital em crianças e adolescentes está relacionado a déficit de atenção, hiperatividade, ansiedade, irritabilidade e depressão.

Em 2018, Hermawati publicou um estudo no qual descobriu que crianças menores de 2 anos que usavam mais de 3 horas de tela por dia apresentavam sintomas semelhantes ao autismo, atraso na fala, falta de atenção e irritabilidade (Early electronic screen exposure and autistic-like symptoms. Intractable Rare Dis. Res. 2018).

O maior problema, neste caso, está no fato de que os transtornos decorrentes do uso de aparelhos eletrônicos e digitais são pouco divulgados e ainda é ignorado pela grande mídia. Esta falta de informações faz com que os próprios pais entreguem tablets e celulares às crianças sem saber dos riscos relacionados a este uso. Fato semelhante acontecia no passado quando, por falta de informação, muitos pais ofereciam cerveja ou ensinavam seus filhos a fumar.

A pandemia agravou muito a situação, os casos de dependência digital explodiram com o afastamento social. E muitos jovens que tinham pouco ou nenhum acesso às telas, foram obrigados a assistir aulas e a participar de reuniões de modo on-line.

Mas e agora? Como resolver este impasse, pois os tablets e os celulares são uma realidade cada vez mais presente? Como excluir os filhos deste meio onde todos os outros colegas da mesma idade estão de olho nas telas?

A primeira atitude a ser tomada é a busca de informações: os pais devem ler a respeito e, se possível, conversar com o pediatra sobre esta questão. 

Para quem precisa de alguma orientação a respeito, vale a pena conhecer as recomendações sobre o uso de telas da American Academy of Child & Adolescent Psychiatry (Academia Americana de Psiquiatria em Crianças e Adolescentes):

• Menores de 18 meses: Evite outros momentos de tela além de bate-papo por vídeo chamadas.

• Idade de 18 a 24 meses: Encontre programação de alta qualidade (Educativos) e assista ou jogue junto.

• De 2 a 5 anos: Limite o uso da tela a uma hora por dia de programas de alta qualidade. Aos finais de semana, limite de 3 horas por dia.

Vale ressaltar que tão importante quanto o controle do tempo de uso, os pais e responsáveis também devem se atentar ao conteúdo, pois as consequências decorrentes da exposição infantil a conteúdo violento, criminoso, sexual, entre outros são graves. 

É importante entender que existe um risco real e que os pais são responsáveis pela saúde e segurança dos filhos. Tal qual nenhum pai ou mãe permitiria que o filho fumasse ou usasse drogas só porque “todos os colegas estão usando”, esta não pode ser a justificativa para permitir o uso de telas pelas crianças sem nenhum controle de uso.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A fé de sempre!

A fé nos coloca em ação (Canção Nova)

A fé de sempre!

6 de outubro de 2023

Por Danilo Ribeiro

Imagine um homem de 40 anos chamado João e seu pai, Francisco, de 60 anos.

Os dois estão na mesma casa e recebem a visita de um terceiro.

Durante o período de visita, Julia, a visitante, começa a olhar o álbum de fotos da família e vê uma foto de João quando ainda era um bebê, com apenas três dias de vida.

Julia pega essa foto em suas mãos, mostra para Francisco e pergunta:

— Como o senhor pode ter certeza de que este bebê é o João que agora tem 40 anos e é tão diferente? Como sabe que substancialmente são a mesma pessoa?

Francisco então responde:

— Eu tenho absoluta certeza de que são substancialmente a mesma pessoa porque eu o vi crescer, dia após dia e ano após ano. Eu acompanhei o desenvolvimento dele e por isso sei que são a mesma pessoa.

Agora imagine que João pudesse fazer uma viagem no tempo e retornar para o momento daquela foto, 40 anos atrás.

Ao chegar, encontraria seu pai ainda jovem, com 20 anos de idade e então se dissesse ao senhor Francisco que ele é o bebê João que ele segura em seus braços, certamente Francisco acharia aquilo um grande absurdo e não acreditaria.

Mas João foi preparado para tal reação do seu pai e levou consigo um amontoado de fotos organizadas, onde podia mostrar, sem dizer uma única palavra, ao senhor Francisco as fotos do bebê com um dia, com dois dias, com três dias, com um mês, com três meses, com seis meses, com um ano, com dois anos, com quatro anos e assim sucessivamente até que chegasse às fotos de João com 40 anos.

Mesmo sem ter ouvido nenhum argumento de João, o senhor Francisco ficaria conturbado com como aquilo poderia ser possível e teria certeza de que o bebê João e o homem João de 40 anos eram a mesma pessoa.

Disso concluímos que pelo menos uma das formas para que alguém possa ter plena convicção de que um ente é substancialmente o mesmo em potência que aquele ente já desenvolvido em ato, é necessário que tenha acompanhado ou possa perceber com seus sentidos todo o desenvolvimento daquele ente.

Da mesma forma, podemos dizer que absolutamente toda a fé da Igreja Católica hoje é substancialmente a mesma fé crida e ensinada por todos os apóstolos, nas escrituras e na tradição.

Cada um dos pontos doutrinários ensinados e reconhecidos de forma dogmática pela igreja católica hoje é a fé cristã de todas as épocas.

Os dogmas marianos, o purgatório, a intercessão dos santos, a transubstanciação… Tudo isso sempre existiu em potência, no depósito da fé da igreja desde seu fundamento há pouco mais de dois mil anos.

Hoje temos em ato tudo aquilo que sempre existiu em potência.

E como posso atestar que isso é verdadeiro, mesmo que para as impressões de um ou outro indivíduo dos dias atuais isso seja absurdo?

Se você quer atestar por si mesmo, faça o que João fez com suas fotos.

Estude a história do cristianismo, veja com seus próprios olhos o desenvolvimento da doutrina cristã em todas as épocas, leia citações de doutrinas que foram se desenvolvendo desde o embrião até o que é hoje tido como dogma de fé.

Após ter feito uma breve investigação desses fatos, verá então que o cristianismo bíblico dos apóstolos, dos pais da igreja, dos santos no decorrer dos séculos e a fé católica de hoje são substancialmente a mesma fé.

Esse é certamente o primeiro passo a ser tomado antes de qualquer crítica à Santa Igreja Católica.

Fonte: https://www.veritatis.com.br/

Papa no Dia contra a Pena de Morte: não pode ser usada como justiça de Estado

XXI Dia Mundial contra a Pena de Morte é celebrado anualmente em 10 de outubro (Vatican Media)

"O direito à vida é ameaçado" onde se pratica a pena capital, que "não constitui uma dissuasão", não oferece justiça e alimenta a vingança. É o que o Papa Francisco escreveu em um post no X com a conta @Pontifex por ocasião da data. O porta-voz da Anistia Internacional da Itália, Riccardo Noury: "cada vez menos países aplicam execuções, mas que estão aumentando".

Leone Spallino - Vatican News

"O direito à vida é ameaçado onde se continua a praticar a pena de morte. A pena de morte não pode ser utilizada por uma pretensa justiça de Estado, pois não constitui uma dissuasão, nem oferece justiça às vítimas, mas alimenta apenas a sede de vingança. #EndDeathPenalty". Foi o que o Papa escreveu na conta @Pontifex_pt na rede social X, por ocasião do XXI Dia Mundial contra a Pena de Morte.

Os dados coletados em 2022 testemunham uma tendência dramática: embora tenha havido uma diminuição no número de países que ainda aplicam a pena de morte, houve um aumento acentuado em relação ao ano anterior, cerca de 53%, das execuções, especialmente quando realizadas por condenações relacionadas a drogas. A esse aumento é dedicado o tema da data celebrada neste 10 de outubro e escolhido pela Anistia Internacional, como explica o porta-voz italiano Riccardo Noury: "infelizmente, as execuções ligadas a esse tipo de crime estão aumentando. Alguns países, como o Irã e a Arábia Saudita, já aplicam a pena de morte para crimes relacionados a drogas há muito tempo e em maior escala, mas agora outros, como Cingapura, também estão seguindo esse mau exemplo".

No país do sudeste asiático, de fato, mais de 10 execuções foram registradas nos últimos 12 meses. "É uma questão, a da pena de morte ligada a delitos de drogas", acrescenta Noury, "que apresenta enormes críticas do ponto de vista da falta de direito internacional e que, acima de tudo, na prática, mostra sua completa ineficácia: não pode ser considerada uma política séria para combater o tráfico de drogas ou seu uso".

Em 2022, houve 883 sentenças de morte executadas em 20 estados do mundo, o número mais alto dos últimos 5 anos. "Olhando para os números parciais", acrescenta o porta-voz da Anistia, "o país mais preocupante pelo uso mais do que diário da pena de morte para uma série de crimes é o Irã, onde, nos primeiros nove meses de 2023, as execuções totalizaram mais de 530. É muito provável, portanto, que este ano seja muito pior do que o anterior.

Noury acrescenta que mesmo na Arábia Saudita o número de execuções foi definitivamente alto, acima de 100, enquanto nos Estados Unidos o número por execução já é maior do que em 2022. "Quando tivermos todos os dados completos", indica o porta-voz italiano, "surgirá outro ano negro, o que vai contra a tendência das medições feitas nos últimos anos".

A situação global

Em um momento de extrema tensão em nível internacional, com a disseminação de conflitos e violência, existe o risco de que alguns estados reflitam sobre a reintrodução da pena de morte. Não parece haver nenhuma conexão direta e imediata no momento, explica Noury, "mas está claro que em situações de conflito armado sempre há alguém que pensa que a reintrodução da pena de morte pode ser uma boa ideia. Fala-se disso novamente na Rússia e há algum tempo também se fala disso em Israel. A história nos diz que, quando a pena de morte foi usada em contextos de guerra, ela criou novos mártires e novas tensões, portanto, é de se esperar que esse cenário nunca venha a se concretizar."

A pena de morte não está presente de maneira uniforme no mundo: na Europa, o único país que ainda a aplica é Belarus, enquanto no continente americano apenas os Estados Unidos continuam a usá-la, embora não em todo o país. A Anistia mantém o foco no continente asiático em particular. "Se a Europa, a Oceania e a América estão quase completamente livres da pena de morte", continua Noury, "a África e a Ásia apresentam as situações mais críticas. A China, por exemplo, usa a pena de morte em grande escala, mas é muito difícil ter dados precisos sobre o país."

No entanto, se a tendência global de execuções estiver aumentando, há elementos que são um bom presságio. Em 2022, o Cazaquistão, Papua Nova Guiné, República Centro-Africana e Serra Leoa aboliram a pena de morte para todos os crimes, e a Guiné Equatorial e o Zimbábue para crimes comuns. "A situação apresenta luzes e sombras", conclui Riccardo Noury, "o número de estados que não aplicam a pena de morte nunca foi tão alto. Ao mesmo tempo, infelizmente, os poucos países que executam sentenças de morte o fazem em números cada vez maiores."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São João XXIII

São João XXIII (comshalom)

Por Rodrigo Santos

São João XXIII, um pastor com visão profética sobre seu rebanho

Por sua proximidade com o povo e sua bondade com os mais pobres, ficou conhecido como o “Papa bom”.

10 outubro 2023

Seu nome de batismo é Ângelo Giuseppe Roncalli. Nascido em Sotto Il Monte, em 25 de novembro de 1881, foi o quarto de 13 irmãos de uma família de camponeses. Pediu ingresso no seminário aos 11 anos, em 1892, e já ali começou a redigir seus escritos espirituais, prática que manteve consigo até sua morte. Em 1896 foi admitido na Ordem Franciscana Secular. 

Entre 1901 e 1905 Roncalli foi aluno do Pontifício Seminário Romano, após conseguir uma bolsa de estudos da diocese de Bergamo. Nesse período, ainda cumpriu um ano de serviço militar. Recebeu a ordenação sacerdotal em 1904, e no ano seguinte se tornou secretário do então bispo de Bergamo, Giácomo Maria Radini Tedeschi.  Em 1944, o Papa Pio XII o nomeou Núncio Apostólico em Paris, tornando-o representante da Santa Sé na França.

No fim da guerra, Roncalli ajudou os prisioneiros e promoveu a volta da vida religiosa na França, visitando santuários e participando de festas populares e manifestações religiosas. Um de seus destaques era sua simplicidade, mesmo nos assuntos diplomáticos mais complexos. Ele era conhecido por agir como um sacerdote em todas as situações, dedicando sempre um tempo à oração e à meditação. Em 1953, Roncalli se tornou cardeal pelas mãos do Papa Pio XII e passou a trabalhar em Veneza como Patriarca local.

Obediência e Paz

Cinco anos depois, com a morte de Pio XII, foi eleito Papa, dia 28 de outubro de 1958, adotando o nome de João XXIII e escolhendo como lema papal “Obediência e Paz”. O conclave durou quatro dias e foram realizadas 11 votações. Durante seu pontificado, que durou menos de cinco anos, cultivou a imagem de bom pastor, cordial, simples e atento às necessidades dos fiéis. 

Escreveu oito encíclicas e ficou conhecido por ter permitido a modernização da vida no Vaticano e intensificação das relações diplomáticas do Pontificado com os líderes políticos mundiais. Estabeleceu relação com os líderes soviéticos e contribuiu para reduzir a tensão entre comunistas e cristãos. Além disso, criou uma Comissão para a Unidade Cristã para tecer laços amistosos com as igrejas protestantes e ortodoxas. 

Como todo grande santo com intuições proféticas, São João XXIII, incomodou muito uns e levou alegria e esperança a outros. Era um pastor dócil às propostas sempre novas do Espírito de Deus, tanto que foi responsável por convocar o tão fecundo e frutuoso Concílio Vaticano II, atualizando os recursos da Igreja no anúncio de Jesus Cristo. Esse ato é considerado o prelúdio que preparou a Igreja para os desafios próprios do século XXI. Tanto que foi convocado por ele tendo se passado apenas dois meses do início de seu pontificado. 

Animou os bispos de todo o mundo, no sentido de promover a adaptação da Igreja aos novos tempos, de modo a transmitir a mensagem de Cristo com uma linguagem mais compreensível para todos. Essas decisões foram muito significativas, pois mudaram o modo como os fiéis se relacionavam com a Igreja. Por meio do Concílio, foram realizadas grandes adaptações litúrgicas, que deram espaço para que depois fossem celebradas nas línguas de cada nação. 

Fim do pontificado e legado do “Papa bom”

Ele faleceu no Vaticano, em 3 de junho de 1963, antes do encerramento do Concílio Vaticano II, em decorrência de um câncer de estômago. Ficou conhecido como o “Papa bom” e foi canonizado sendo registrado apenas um milagre comprovado pela Santa Sé atribuído à sua intercessão, algo incomum, comparado ao processo de outros santos. Essa decisão foi tomada pelo Papa Francisco, tudo devido às notórias virtudes e personalidade desse fiel pastor.

Seu processo de canonização foi iniciado em 1965, mas a beatificação – passo anterior que demanda a comprovação de um milagre – só ocorreu em setembro de 2000, pelas mãos de João Paulo II. Sua nomeação como beato aconteceu depois de ser reconhecida a milagrosa cura da religiosa italiana Caterina Capitani, que esteve a ponto de morrer por uma peritonite aguda e que, segundo ela, após pedir a João XXIII, conseguiu sobreviver. 

Em 5 de julho de 2013, o Papa Francisco assinou o decreto que autorizou a canonização de João XXIII. Neste caso, seria um processo singular, pois Francisco elevou João XXIII ao patamar de santo da Igreja apesar do não cumprimento do requisito formal de um segundo milagre, como era até então exigido pelo processo de canonização. Ele foi canonizado no dia 27 de Abril de 2014. 

Que Deus abençoe, por intercessão de São João XXIII, todos os bispos do mundo todo, para que jamais desistam de pastorear o rebanho do Senhor. 

São João XXIII, rogai por nós.

Fonte: https://comshalom.org/

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Caminhada pela Vida no Dia do Nascituro

Caminhada pela Vida no Dia do Nascituro (arqbrasilia)

Setor Vida e Família da Arquidiocese de Brasília promove Caminhada pela Vida no Dia do Nascituro

A tarde deste domingo (08/10), data em que é celebrado o Dia do Nascituro, ou seja, aquele que há de nascer, foi repleta da graça de Deus com uma caminhada em prol da vida e contra a legalização do aborto, que reuniu mais de duas mil pessoas na Esplanada dos Ministérios.

A concentração começou na Catedral Metropolitana de Brasília. Membros de pastorais, movimentos, instituições religiosas, ongs, leigos consagrados, políticos que fazem parte da bancada pró-vida e muitas famílias participaram da Caminhada pela Vida, organizada pelo Setor Vida e Família da Arquidiocese de Brasília. Unidos em oração, todos caminharam pelo quadrilátero da Esplanada dos Ministérios e retornaram para a Catedral.

“É uma data muito especial para nós, pois precisamos ajudar a sociedade a lembrar desse princípio natural de conservação da vida e de respeito ao ser humano, que tem os seus direitos desde o momento de sua concepção por já ser uma pessoa. Então, neste momento delicado em que estamos vivendo, vemos que se coloca em risco a vida humana nascente diante dessas tentativas de legalização do aborto. Embora haja altos e baixos, em que parece que o projeto de lei da ADPF 442 esteja retrocedendo, nós precisamos manter uma firmeza para conseguirmos com estabilidade ter no nosso Brasil o Estatuto do Nascituro, para que ele proteja sempre essas crianças. Nesta manifestação massiva com a força do povo, que manifesta a sua convicção de que não é um mero aglomerado de células, mas uma pessoa, nós reconhecemos a dignidade dessa pessoa que precisa ser protegida”, destacou padre João Baptista Mezzalira, Assessor Eclesiástico do Setor Vida e Família da Arquidiocese de Brasília.

O evento é um repúdio à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, que propõe a descriminalização do aborto até a 12ª semana gestacional e que deverá voltar à pauta do Supremo Tribunal Federal (STF). 

“É muito importante nos mobilizarmos em relação à defesa da vida, pois infelizmente há movimentos que estão acontecendo no nosso país, como a ADPF 442, que está no Supremo Tribunal Federal. Então, precisamos nos mobilizar para não perdermos essa luta em defesa da vida”, comentou o Deputado Distrital João Cardoso, Presidente da Frente Parlamentar Católica na Câmara Legislativa do Distrito Federal. 

Há mais de 21 anos, a Santos Inocentes desenvolve um trabalho de acolhimento às mulheres que estão passando por alguma dificuldade durante a gestação e que, por diversas situações, pensaram na possibilidade do aborto. A instituição, além de acolher, ouvir e ajudar as mães, também oferece todo o suporte aos bebês e crianças que foram vítimas de abandono familiar ou que se encontram em alguma situação de vulnerabilidade social. O trabalho é realizado em Samambaia, abrangendo Brasília e as cidades do entorno.

“Hoje, a Santos Inocentes tem uma rede de proteção que faz um dos trabalhos mais completos na defesa da vida na questão do aborto, na questão da violência contra a mulher, contra as crianças e abrangendo toda a primeira infância. Nós temos o primeiro centro de referência em defesa da vida do país, casa de acolhimento e creche para receber as crianças provenientes de tentativas de aborto e de vulnerabilidade social. É um trabalho concreto e reconhecido nacionalmente. Estamos juntos com a Arquidiocese em defesa da vida, pois a Arquidiocese respalda muito o trabalho que realizamos”, explicou Ari França, missionário gestor da Associação Santos Inocentes

Neste domingo, cerca de cem cidades, de todas as regiões do Brasil, realizaram Caminhadas ou Atos Públicos em defesa da vida, não somente para celebrar o Dia Nacional do Nascituro, mas principalmente como uma resposta direta à votação em curso no STF, que visa descriminalizar o aborto no Brasil.

“Nós sabemos que a população brasileira é majoritariamente contra o aborto, mas quem defende a legalização do aborto, no geral, é mais barulhento. Então, nós precisamos aprender a manifestar também o nosso posicionamento de várias formas e principalmente com essas manifestações públicas, exatamente para que a população possa mostrar que é contra o aborto e a favor da vida”, frisou Lenise Garcia, presidente do Movimento Brasil sem Aborto.

Fabíola Medeiros Veiga, membro da Paróquia Cristo Rei, mãe de seis filhos, explica a importância de ser aberta à vida e de estar com os filhos em caminhadas pela vida, dizendo em alto e bom som que a população brasileira quer uma nação de cultura de vida e não de morte.

“Eu digo sim à vida, porque as crianças nos edificam enquanto pais e seres humanos, mas também são os alicerces da sociedade como um todo. As crianças são o futuro do mundo. Elas precisam ter esse entendimento de valorização da vida, para que possam honrar a vontade de Deus em suas vidas e na construção futura de suas famílias, em uma sociedade mais justa e harmoniosa”, salientou.

A luta em defesa da vida continua e conta com o apoio dos fiéis para que permaneçam em oração intercedendo pela não legalização do aborto no Brasil.

“É bonito vermos tantas famílias e vários segmentos pastorais reunidos aqui na nossa Catedral para mais uma vez dizer sim à vida. Vivemos momentos muito turbulentos no cenário político e jurídico do nosso país, onde a pauta do aborto está encenando não só no Supremo, como no Congresso. É hora de nos unirmos em atos de cidadania em favor da vida e permanecermos em oração”, finalizou o Deputado Federal professor Paulo Fernando, membro do Movimento Pró-Vida há mais de 30 anos.

Confira a galeria de fotos aqui


Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Quando aconteceu o primeiro sínodo na Igreja Católica?

Abertura da 16ª Assembleia Ordinária Geral do Sínodo dos Bispos, 5 de outubro de 2023 / Antoine Mekary | ALETEIA

Por Philip Kosloski

O primeiro sínodo remonta aos Atos dos Apóstolos.

O surgimento dos sínodos tem raízes antigas, remontando em espírito aos primeiros dias do cristianismo.

A palavra “sínodo” vem do grego synodos, que significa “assembleia”. De fato, consiste basicamente numa assembleia de líderes da Igreja que se reúnem para discutir assuntos importantes.

Enciclopédia Católica reafirma esta definição, explicando que se trata de “um termo geral para reuniões eclesiásticas sob autoridade hierárquica, visando a discussão e a decisão sobre assuntos relacionados com a fé, a moral ou a disciplina”.

A partir desta definição básica, pode-se observar que o primeiro sínodo foi aquele que muitos chamam de “Concílio de Jerusalém”. Esta reunião de líderes da Igreja é narrada no capítulo 15 dos Atos dos Apóstolos:

“Chegaram alguns homens da Judeia e doutrinavam os irmãos de Antioquia, dizendo: «Se não forem circuncidados, como ordena a Lei de Moisés, vocês não poderão salvar-se.» Isso provocou alvoroço e uma discussão muito séria deles com Paulo e Barnabé. Então ficou decidido que Paulo, Barnabé e mais alguns iriam a Jerusalém para tratar dessa questão com os apóstolos e anciãos. Com o apoio e solidariedade da igreja de Antioquia, eles atravessaram a Fenícia e a Samaria. Contaram sobre a conversão dos pagãos, e deram uma grande alegria a todos os irmãos. Quando chegaram a Jerusalém, foram acolhidos pela igreja, pelos apóstolos e anciãos, e contaram as maravilhas que Deus tinha realizado por meio deles. Alguns daqueles que tinham pertencido ao partido dos fariseus e que haviam abraçado a fé intervieram, declarando que era preciso circuncidar os pagãos e mandar que eles observassem a Lei de Moisés. Então os apóstolos e os anciãos se reuniram para tratar desse assunto” (Atos 15,1-6).

Embora os sínodos atuais pareçam muito diferentes daquele primeiro sínodo em Jerusalém, o espírito permanece o mesmo.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Deve-se seguir sempre a consciência? (Parte 4/Final)

(Crédito: Presbíteros)

Deve-se seguir sempre a consciência?

Por Robert Spaemann

Tem sempre razão a consciência? É o que perguntávamos no início. Deve-se seguir sempre a consciência? A consciência nem sempre tem razão. O mesmo que nossos cinco sentidos nem sempre nos guiam corretamente ou o mesmo que nossa razão não nos preserva de todos os erros. A consciência é no homem o órgão do bem e do mal; mas não é um oráculo. Marca-nos a direção, nos permite superar as perspectivas do nosso egoísmo e olhar o universal, o que é reto em si mesmo. Mas para poder vê-lo, necessita da reflexão de um conhecimento real, um conhecimento, se podemos dizer assim, que seja também moral. O qual significa: necessita de uma idéia reta da hierarquia de valores que não esteja deformada pela ideologia.

Existe a consciência errônea. Há gente que, atuando em consciência, causa claramente a outros uma grave injustiça. Também esses devem seguir a própria consciência? Naturalmente que devem. A dignidade do homem repousa, como vimos, no fato que é uma totalidade de sentido. O bom e o correto objetivamente, para que seja bom, deve ser considerado também pelo sujeito como bom, já que para o homem não existe nada que seja somente “objetivamente bom”. Se não o reconhece como bom, então justamente não é bom para ele. Deve seguir sua consciência; isso somente quer dizer que deve fazer o que entende como objetivamente bom, coisa que, no fundo è trivial: realmente bom é somente o que tanto objetiva como subjetivamente é bom. Não há então nenhum critério que nos permita distinguir uma consciência verdadeira de uma errônea? Mas, como poderia havê-lo? Se houvesse, ninguém se equivocaria. Uma prova segura de que um segue sua consciência e não o seu capricho é a disposição de controlar, de confrontar o próprio juízo com o dos demais. Mas também isto não é um critério certo; dá-se também o caso de que, ao contrário dos homens que o rodeiam e que estão convencidos intelectual ou teoricamente, pode um ter entretanto a segura sensação de que essa gente não tem razão. Não como se acreditasse que os demais tenham melhores razões. Pensa somente que não é alguém para fazer valer as melhores razões. Pensa que o fato de que os mais inteligentes estejam no lado falso se baseia no contingente dessa situação. Esse fechar-se às razões pode ser, em tal situação, um ato de consciência.

Deve-se respeitar sempre a consciência dos demais? Depende do que entendamos por respeitar. Em nenhum caso se pode dizer que um deve poder fazer o que lhe permita sua consciência, já que então também o homem sem consciência poderia fazê-lo tudo. E também não quer dizer que um deva poder fazer o que lhe manda sua consciência. Certo que ante si mesmo tem o dever de seguir sempre sua consciência; mas se com ela lesa os direitos dos outros, ou seja, os deveres para com os demais, então estes, o mesmo que o Estado, tem o direito de impedi-lo. Pertence aos direitos dos homens o que não dependa do juízo de consciência de outro homem. Assim, por exemplo, pode-se discutir sobre se os não nascidos são dignos de defesa, ainda quando a Constituição do nosso país responda afirmativamente.

 Mas é estúpido o slogan de que essa é uma questão que cada um deve resolver em sua consciência.

 Pois, ou os não nascidos tem direito à vida – e então a consciência não tem nada com que se preocupar – ou existe esse direito, e então esse não pode ser posto à disposição da consciência de outro homem. A obediência às leis de um Estado de direito, que a maioria dos cidadãos tem por justo, não pode limitar-se em todo caso a de aquelas pessoas cuja consciência não lhes proíbe, por exemplo, pagar os impostos.

 Que não os paga (a custa de outros) e se aproveita das estradas e canais, será encarcerado ou multado justamente. E se trata-se de alguém que atua em consciência, aceitará a pena.

Somente no caso de serviço de guerra, tem o legislador que encontrar a regulação que assegura que ninguém possa ser obrigado ao serviço de armas em contra do ditado da sua consciência. No fundo, o que faz o legislador é algo trivial, já que se a consciência lhe proíbe a um lutar, não lutará. Ademais, nem mesmo aqui se dá um critério para decidir, em última instância e desde fora, se trata-se de um juízo de consciência ou não. Nem sequer os interrogatórios de um tribunal são adequados para facilitar uma decisão. Tais interrogatórios, ao fim das contas, favorecem somente ao orador que está disposto a mentir com habilidade.

Não há mais que um indício para comprovar a autenticidade da decisão de consciência e é à disposição do citado a ater-se a uma desagradável alternativa. A consciência não é ferida se se impede a um de fazer o que ela manda, já que esse obstáculo não cai sobre sua responsabilidade. Por isso se pode aprisionar a um homem que quer melhorar o mundo por meio do crime. Outra coisa é quando a um se obriga de atuar em contra da sua consciência. Se trata de uma lesão da dignidade do homem. Mas é isso realmente possível? Nem sequer a ameaça de morte obriga a um a atuar contra sua consciência, como documenta a história dos mártires de qualquer tempo.

Existe, entretanto, um modo de forçar a atuação contra a consciência: a tortura, que converte a um homem em instrumento sem vontade do outro. De aqui que a tortura pertença aos poucos modos de atuar que, sempre e em toda circunstância, são maus; toca diretamente o santuário da consciência, do que já o pré-cristão Sêneca escreveu: “habita em nós um espírito santo como expectador e guardião de nossas boas e más ações”.

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Pio XII, Parolin: novos documentos nos quais fala aos "irmãos judeus"

Momento de silêncio pelas vítimas em Israel e Gaza durante conferência sobre Pio XII (Vatican Media)

Na conferência de três dias da Gregoriana para historiadores e teólogos sobre o significado dos textos que foram abertos do Arquivos Vaticano para as relações judaico-cristãs. O cardeal secretário de Estado: "Eles mostram uma imagem do Papa Pacelli muito diferente da que é geralmente conhecida". Um minuto de silêncio pelas vítimas em Israel e Gaza.

Alessandro Di Bussolo – Vatican News

Com a mente ocupada em lançar uma nova luz sobre os eventos histórico-teológicos ligados à figura de Pio XII e ao Vaticano durante o período do Holocausto, mas com o coração no Oriente Médio pelo que está acontecendo após o ataque dos terroristas do Hamas contra Israel. Estes foram os sentimentos contrastantes experimentados na tarde desta segunda-feira na Pontifícia Universidade Gregoriana, na abertura da conferência internacional sobre o tema "Os novos documentos do Pontificado de Pio XII e seu significado para as relações judaico-cristãs: um diálogo entre historiadores e teólogos". Uma conferência que será encerrada no dia 11 de outubro e que levou dois anos de preparação, como lembrou dom Étienne Vető, bispo auxiliar de Reims e ex-diretor do Centro Cardeal Bea de Estudos Judaicos da Pontifícia Universidade Gregoriana, na introdução dos trabalhos. Ele convidou todos os presentes na sala magna, após as intervenções introdutórias, a fazer um minuto de silêncio pelas centenas de vítimas em Israel e na Palestina.

Parolin: fundamental agora estabelecer a verdade histórica

Uma escalada de violência impediu que os historiadores do Instituto Internacional de Pesquisa sobre o Holocausto, Yad Vashem, em Jerusalém - como a diretora Iael Nidam-Orvieto, que colaboraram na preparação da conferência -, participassem dos trabalhos. A primeira sessão foi introduzida pelo discurso do secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin. O purpurado enfatizou que, após a decisão do Papa Francisco, em março de 2019, de tornar acessíveis os documentos do Arquivo Secreto Vaticano relativos ao Pontificado de Pio XII e a publicação de vários estudos, "é de fundamental importância continuar a estabelecer uma verdade histórica" por meio da pesquisa histórico-crítica. Manter a precisão histórica, de acordo com Parolin, significa defender a verdade acima de todas as partes envolvidas.

Casos de desonestidade científica

Mas, infelizmente, ressaltou, "ainda há casos de desonestidade científica, que se tornam manipulação histórica, em que os documentos são ocultados de modo negligente ou deliberadamente". Como aconteceu com a resposta de 1916 do então secretário de estado, cardeal Gasparri, ao Comitê Judaico Americano e, em 1919, aos judeus ashkenazi de Jerusalém. Documentos só recentemente redescobertos que dizem como os católicos devem ver os judeus: "Os judeus são nossos irmãos - citou o cardeal Parolin - e o povo judeu deve ser considerado um povo irmão de qualquer outro povo do mundo".

A resposta do cardeal Gasparri, inspirada por Pacelli

O futuro Papa, então dom Eugenio Pacelli, que era secretário da Congregação para Assuntos Eclesiásticos Extraordinários na época, "contribuiu pessoalmente para a elaboração desses documentos, que mostram - explicou o cardeal Parolin - uma imagem de Pacelli muito diferente da que é geralmente conhecida". Os judeus, incluindo vários rabinos, estavam convencidos de que a atitude do Papa Pio XII em relação a eles era amigável, "e é por isso que recorreram a ele durante a Segunda Guerra Mundial em busca de ajuda". E o presidente israelense, Isaac Herzog, relembrou esse episódio em uma entrevista ao L'Osservatore Romano, "falando das relações cordiais com Pio XII e seus colaboradores durante a Segunda Guerra Mundial.

A Santa Sé com o povo judeu já no início do século XX

O secretário de Estado explicou que quis relembrar esses documentos de 1916 e 1919 e a amizade de Pacelli com o povo judeu no mundo inteiro, "para enfatizar que a Santa Sé já havia tomado uma posição a favor do povo judeu na época da Primeira Guerra Mundial. E na Segunda Guerra Mundial, o Papa convidou um número considerável de católicos de institutos religiosos para defender os judeus por todos os meios, até mesmo participando da resistência contra o fascismo e o nazismo". Descobertas recentes no Vaticano, mas também em outros arquivos, "tornaram mais fácil para todos entender quantos registros históricos foram manipulados no período após a Segunda Guerra Mundial".

O caminho da "resistência não declarada" de Pio XII

Graças à abertura dos arquivos, continuou o cardeal Parolin, "ficou claro que o Papa seguiu tanto o caminho da diplomacia quanto o da resistência não declarada. Essa decisão não foi apática e sem ação", mas implicou grandes riscos para todos os envolvidos e participantes. Os historiadores têm anos de trabalho pela frente, concluiu o secretário de Estado, esperando que "eles continuem a lançar luz sobre um dos períodos mais controversos e delicados do Pontificado de Pio XII".

Di Segni: posições que na história criaram sofrimentos

Em seguida, Riccardo Di Segni, rabino-chefe da Comunidade Judaica de Roma, tomou a palavra e pediu que fizéssemos "uma distinção entre emoção e história, porque é necessário um distanciamento adequado para examinar os fatos. Há uma dimensão religiosa diferente da dimensão política, entre os grandes eventos da história e as inúmeras micro-histórias. O próprio desenrolar dos acontecimentos é diferente do plano moral". Ele argumentou que, durante o Pontificado de Pio XII, "o sofrimento do povo judeu era teologicamente justificado. Mas a explicação da dinâmica é uma coisa, o julgamento moral é outra". O diálogo judaico-cristão, concluiu Di Segni, nasceu de uma revisão, graças ao Concílio Vaticano II, "de posições que criaram grande sofrimento na história".

Coco: não falou de "extermínio", mas de "massacres por ódio à raça"

Após os discursos introdutórios, a primeira sessão tratou das motivações e decisões de Pio XII diante do fascismo, do nazismo e do comunismo, em uma tentativa de equilibrar suas funções como chefe da Igreja e da Santa Sé. Falando sobre "Palavras, silêncios e mal-entendidos nos documentos de Pio XII", Giovanni Coco, arquivista do Arquivo Apostólico Vaticano, lembrou que, em novembro de 1945, o Papa Pacelli teve sua primeira audiência com um grupo de judeus. Eles eram sobreviventes de campos de concentração que vieram expressar sua profunda gratidão pela ajuda que haviam recebido da Igreja católica. Em seu discurso, lembrou o acadêmico, o Papa foi compreensivo, mencionou as "paixões racistas" que haviam "engolido inúmeras vítimas inocentes" por causa de sua "raça", mas evitou cuidadosamente fazer qualquer referência explícita à palavra "extermínio".

"Movido pela inquietação por uma ferida não cicatrizada"

Esse silêncio persistente sobre a Shoah, continuou Coco, é uma questão de longa controvérsia histórica, que dura meio século. O debate sobre a atitude do Papa envolveu historiadores, filósofos e teólogos, embora anteriormente os documentos completos do Vaticano não estivessem diretamente disponíveis, com exceção da seleção publicada nos Actes et Documents du Saint-Siège relatifs à la Seconde Guerre Mondiale. "A recente abertura do Arquivo Vaticano para o Pontificado de Pio XII finalmente permitiu o acesso a todos os documentos. E agora os documentos poderão revelar - explicou o arquivista - como conceitos como antissemitismo, extermínio e silêncio foram formados nas mentes do Papa Pacelli e da Igreja da época". Para Coco, isso certamente foi influenciado pela excessiva prudência do minutador da Secretaria de Estado, monsenhor Angelo Dell'Acqua, a quem foi confiado o dossiê sobre os judeus, para quem as notícias do Holocausto eram "exagero judaico". Não é verdade, concluiu ele, que a Shoah tenha passado sem incidir o magistério católico. Pois Pio XII falou de "massacres por ódio racial" e dos "horrores dos campos de concentração", mas não de "extermínio", em 1953, em um discurso aos juristas. Até o fim, Pacelli foi "movido por uma inquietação saudável por uma ferida ainda não cicatrizada".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Daniel e companheiros

São Daniel e companheios (cffb)

10 de outubro

São Daniel e companheiros

Leão, Angelo, Nicolau, Samuel, Hugolino e Donino. Mártires de Ceuta, no Marrocos, da Primeira Ordem (+ 1227). Aprovou seu culto como santos, Leão X no dia 22 de janeiro de 1516.

No dia 16 de janeiro de 1220, portanto ainda durante a vida de São Francisco, São Bernardo e seus companheiros foram martirizados na cidade de Marrakesh, Marrocos (a Igreja os canonizou em 1481).

Os esclarecimentos que se tem sobre o ocorrido com estes missionários franciscanos são devidos a duas cartas encontradas nas suas residências. Os estudiosos consideraram também autêntica a carta de um certo Mariano de Gênova, que escrevera ao irmão Elias de Cortona comunicando o destino glorioso dos missionários. Esse documento teria sido escrito poucos dias após os acontecimentos, e faz parte dos arquivos da Igreja.

O irmão Elias de Cortona era o superior da Ordem, em 1227, quando os sete franciscanos viajaram da Itália para a Espanha, desejosos de transferirem-se para o Marrocos, na África, onde pretendiam converter os muçulmanos. Era um período de grande entusiasmo missionário nas jovens ordens franciscanas, fortalecidas pela memória de são Francisco, que morrera no ano anterior.

O chefe do grupo era Daniel, nascido em Belvedere, na Calábria, que também ocupava o cargo de ministro provincial da Ordem naquela região; os outros se chamavam Samuel, Ângelo, Donulo, Leão, Nicolas e Hugolino. Após uma breve permanência na Espanha, transferiram-se para a cidade de Ceuta, no Marrocos.

Era um ato verdadeiramente corajoso, porque as autoridades marroquinas haviam proibido qualquer forma de propaganda da fé cristã. No início, e por pouco tempo, trabalharam nos inúmeros mercados de Pisa, Gênova e Marsiglia, enquanto residiam em Ceuta. Depois, nos primeiros dias de outubro de 1227, decidiram iniciar as pregações entre os infiéis.

Nas estradas de Ceuta, falando em latim e em italiano, pois não conheciam o idioma local, anunciaram Cristo, contestando com palavras rudes a religião de Maomé. As autoridades mandaram que fossem capturados. Levados à presença do sultão, foram classificados como loucos, devendo permanecer na prisão.

Depois de sete dias, todos eles voltaram à presença do sultão, que se esforçou de todas as maneiras para que negassem a religião cristã. Mas não conseguiu. Então, condenou à morte os sete franciscanos, que se mantiveram firmes no cristianismo. No dia 10 de outubro, foram decapitados em praça pública e seus corpos, destroçados.

Todavia os comerciantes cristãos ocidentais recuperaram os pobres restos, que sepultaram nos cemitérios dos subúrbios de Ceuta. Em seguida, os ossos foram transferidos para a Espanha. Hoje, as relíquias são conservadas em diversas igrejas de várias cidades da Espanha, de Portugal e da Itália.

O papa Leão X, em 1516, canonizou como santos Daniel e cada um dos seis companheiros, autorizando o culto para o dia 13 de outubro, três dias após suas mortes.

Fonte: Franciscanos.org.br

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF