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segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Tabgha, Igreja do Primado

Tabgha, Igreja do Primado | Opus Dei

Tabgha, Igreja do Primado

A uns três quilômetros a oeste de Cafarnaum, segundo a tradição, Jesus teria indicado aos discípulos onde jogar as redes para a segunda pesca milagrosa, e confirmou São Pedro no primado da Igreja.

02/05/2019

Em outros artigos anteriores, citamos o testemunho da peregrina Egéria sobre Tabgha, que vem do século IV: “não longe de Cafarnaum veem-se os degraus de pedra onde o Senhor se sentou. Ali, junto ao lago, encontra-se um terreno coberto de abundante erva e muitas palmeiras e, perto do mesmo lugar, sete fontes jorrando água abundante de cada uma delas. Neste lugar o Senhor saciou uma multidão com cinco pães e dois peixes. A pedra sobre a qual Jesus pousou o pão foi transformada num altar. Junto às paredes daquela igreja passa a rua, onde Mateus tinha o seu telônio. No monte vizinho há um lugar onde o Senhor subiu para pronunciar as Bem-Aventuranças”[1].

Concentramos a nossa atenção no primeiro lugar indicado por Egéria: “os degraus de pedra onde o Senhor se sentou”. Segundo esta tradição, referem-se ao lugar de onde Jesus teria indicado aos da barca que lançassem as redes à sua direita, durante a aparição do Senhor ressuscitado que São João narra no fim do seu evangelho: Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos de Jesus. Simão Pedro disse a eles: “Eu vou pescar”. Eles disseram: “Também vamos contigo”. Saíram e entraram na barca, mas não pescaram nada naquela noite. Já tinha amanhecido, e Jesus estava de pé na margem. Mas os discípulos não sabiam que era Jesus. Então Jesus disse: “Moços, tendes alguma coisa para comer?” Responderam: “Não”. Jesus disse-lhes: “Lançai a rede à direita da barca, e achareis”. Lançaram pois a rede e não conseguiam puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes. Então, o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor!” Simão Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu sua roupa, pois estava nu, e atirou-se ao mar. Os outros discípulos vieram com a barca, arrastando a rede com os peixes. Na verdade, não estavam longe da terra, mas somente a cerca de cem metros. Logo que pisaram a terra, viram brasas acesas, com peixe em cima, e pão. Jesus disse-lhes: “Trazei alguns dos peixes que apanhastes”. Então Simão Pedro subiu ao barco e arrastou a rede para a terra. Estava cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e apesar de tantos peixes, a rede não se rompeu. Jesus disse-lhes: “Vinde comer”. Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-se, tomou o pão e distribuiu-o por eles. E fez a mesma coisa com o peixe. Esta foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, apareceu aos discípulos (Jo 21, 2-14).

Tabgha, Igreja do Primado | Opus Dei

O relato de Egéria não afirma que existisse uma igreja na margem onde Jesus apareceu, mas um texto tardio – dos séculos X-XI – atribui à imperatriz Santa Helena a construção de um santuário dedicado aos Apóstolos no lugar onde o Senhor comeu com eles. Alguns documentos a partir do século IX denominam-no indistintamente ‘Mensa, Tabula Domini’, dos Doze Tronos ou das Brasas, todos nomes que recordam aquele almoço. Através de um testemunho da Idade Média, sabemos também que o templo estava particularmente dedicado ao Príncipe dos Apóstolos: “no sopé do monte está a igreja de São Pedro, muito bela, mas abandonada”, afirma o peregrino Saewulfus em 1102[2]. Após diversas vicissitudes, foi definitivamente destruída em 1263. A atual, construída pelos franciscanos em 1933 sobre as fundações da antiga capela, chama-se Igreja do Primado para recordar o lugar onde Jesus confirmou Pedro como pastor supremo da IgrejaDepois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, tu me amas mais do que estes?”. Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros”. E disse de novo a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro disse: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta as minhas ovelhas”. Pela terceira vez, perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo” (Jo 21, 15-17).

Pesquisas arqueológicas realizadas em 1969 confirmaram que sob a igreja do Primado se encontram restos de dois santuários mais antigos. Do primeiro, datado de finais do século IV, restam alguns fragmentos das paredes com reboco branco; o segundo, construído cem anos mais tarde em basalto, é reconhecível nas paredes perimetrais. Ambos tinham como centro uma rocha chamada pelos peregrinos ‘Mensa Christi’, que atualmente se continua a venerar diante do altar como o local da refeição com os Apóstolos. Além disso, os degraus referidos por Egéria podem-se observar na parte exterior, no lado sul da capela, protegidos por um portão.

Tabgha, Igreja do Primado | Opus Dei

A confirmação de São Pedro no Primado

Comentando o diálogo entre Jesus e São Pedro que consideramos, São Leão Magno – pontífice romano entre os anos 440 e 461 – destacava que a solicitude do Príncipe dos Apóstolos se estende especialmente aos seus sucessores: “em Pedro robustece-se a fortaleza de todos, de tal modo se ordena o auxílio da graça divina, que a firmeza conferida a Pedro por Cristo se dá aos outros apóstolos por Pedro. Por isso, depois da ressurreição, o Senhor, para manifestar a tripla confissão de amor eterno, depois de ter dado ao bem-aventurado apóstolo Pedro as chaves do reino, numa manifestação plena de mistério, diz três vezes: apascenta as minhas ovelhas. E fá-lo sem dúvida agora, e o piedoso pastor manda que se realize o mandato do Senhor, confirmando-nos com exortações e rezando por nós sem cessar, para que não sejamos vencidos por nenhuma tentação. Se ele realiza este cuidado da sua piedade para com todo o povo de Deus, e em toda a parte, como se deve crer, quanto mais se dignará conceder a sua ajuda a nós, que fomos imediatamente instruídos por ele, que estamos junto ao sagrado leito do seu sono, onde descansa a mesma carne que presidiu?”[3].

No início do seu pontificado, Bento XVI também se referiu à missão de velar pela Igreja que o Senhor confiou a Pedro e aos seus sucessores, e por três vezes pediu orações para ser fiel ao seu ministério: “uma das características fundamentais deve ser a de amar os homens que lhe foram confiados, assim como ama Cristo, a cujo serviço se encontra. ‘Apascenta as minhas ovelhas’, diz Cristo a Pedro, e a mim, neste momento. Apascentar significa amar, e amar quer dizer também estar prontos para sofrer. Amar significa: dar às ovelhas o verdadeiro bem, o alimento da verdade de Deus, da palavra de Deus, o alimento da sua presença, que ele nos oferece no Santíssimo Sacramento. Queridos amigos neste momento eu posso dizer apenas: rezai por mim, para que eu aprenda cada vez mais a amar o Senhor. Rezai por mim, para que eu aprenda a amar cada vez mais o seu rebanho, a Santa Igreja, cada um de vós singularmente e todos vós juntos. Rezai por mim, para que eu não fuja, por receio, diante dos lobos. Rezai uns pelos outros, para que o Senhor nos guie e nós aprendamos a guiar-nos uns aos outros”[4].

Tabgha, Igreja do Primado | Opus Dei

Dom Álvaro esteve na igreja do Primado no dia 16 de março de 1994. Rezou pelo Papa, e teve uma oportunidade especial para se unir à sua pessoa e às suas intenções. Dom Javier Echevarría recordou-o pouco depois:

"Quando entramos na Igreja do Primado, os frades franciscanos, que nos receberam com muito carinho, ficaram contentes ao ver o Padre. Disseram-nos: aqui temos o costume de oferecer aos bispos a estola que Paulo VI usou quando fez a sua viagem em 1964, para darem a bênção aos fiéis. O Padre ficou muito contente, porque uma ocasião de unir-se a Pedro, ao Papa, seja quem for, é motivo de alegria para um bom filho da Igreja. Temos de amar o Papa com loucura.

O Padre ficou muito feliz por usar aquela estola que já é uma recordação, uma relíquia, de Paulo VI. Deu a bênção aos fiéis. Mas não contávamos com as pessoas sempre querem mais: naquele momento chegou um grupo de italianos e quando viram o que o Padre tinha acabado de fazer, disseram: nós também queremos uma bênção! O Padre voltou a vestir a estola, deu-lhes a bênção com alegria e pediu-lhes orações”[5].

São Josemaria deixou-nos a convicção de que depois de Deus e da nossa Mãe a Virgem Santíssima, na hierarquia do amor e da autoridade, vem o Santo Padre[6]. Em 14 de fevereiro de 1975, durante a última tertúlia geral na Venezuela, ele expressou esta ideia em outras palavras:

-Padre, como podemos demonstrar nestes momentos o nosso amor e fidelidade ao Papa? Perguntou uma mulher.

-Que boa pergunta, minha filha! O Papa é o Vice-Cristo, o Papa é Pedro, o Papa é o representante de Deus na terra. O nosso amor de cristãos tem de ser assim: Jesus Cristo, Maria Santíssima, São José, o Papa! O Papa acima de tudo (...). Na terra, está formando - por assim dizer - uma unidade de amor com Cristo, com Maria Santíssima, Mãe de Cristo, e com São José (...). Já te respondi: amar o Papa!

As pessoas irromperam em uma salva de palmas, e o fundador do Opus Dei se juntou a eles dizendo:

-Sim, para o Papa, para o Papa este aplauso.

O aplauso tornou-se então muito maior[7].


[1] Appendix ad Itinerarium Egeriæ, II, V, 2-3 (CCL 175, 99).

[2] Saewulfus, Relatio de peregrinatione ad Hierosolymam et Terram Sanctam.

[3] São Leão Magno, Homilia na festa de São Pedro Apóstolo.

[4] Bento XVI, Homilia no solene início do ministério petrino, 24-IV-2005

[5] Javier Echevarría, Palavras citadas em Crónica, 1994, pp. 294-295
(AGP, biblioteca, P01).

[6] São Josemaria, Forja, n. 135.

[7] São Josemaria, Anotações de uma tertúlia, 14-II-1975, publicado no vídeo “Amor ao Papa”.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/tabgha-igreja-do-primado/

São Leão Magno – O Papa que salvou Roma

São Leão Magno (Aliança de Misericórdia)

10 de novembro

São Leão Magno

“Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade, já que participas da natureza Divina” (São Leão Magno).

O Título de “Magno” significa grande e é dado somente àqueles santos que são considerados grandes mesmo dentre os santos. São Leão Magno é um deles.

Um dos maiores Papas da história da Igreja, fez muito pelo catolicismo e, além de ser grande nas obras, foi enorme na santidade.

Pequena Biografia

São Leão Magno nasceu em Toscana, na Itália. Se tornou sacerdote e desde a juventude tinha fama de santidade.

No ano de 440 foi eleito Papa. Era um período difícil para a Igreja e para o Império Romano: invasões bárbaras, diversas heresias que fervilhavam e um difícil momento político.

Combate as Heresias

Combateu bravamente as heresias, em especial o monofisismo, que afirmava que Cristo tinha apenas uma natureza. Ele afirmou que na unidade da Pessoa de Jesus Cristo residem as naturezas divina e humana.

Para acabar com a heresia, o Papa Leão Magno convocou o Concílio da Calcedônia, onde 500 Bispos e o Imperador resolveram o conflito, reafirmando a autoridade papal dizendo:

 “Roma falou por meio de Leão, a causa está decidida; causa finita est”.

Leão Magno contra Atila, o Conquistador

A tradição nos conta que São Leão Magno foi o grande responsável por salvar Roma e a Itália do grande Átila, o Conquistador.

Átila havia entrado na Itália, o Imperador fugiu e todos os generais romanos se esconderam. Então, o Papa, em defesa da fé e de todo o povo cristão, saiu em encontro do Conquistador.

Não sabemos o que o Papa lhe disse, mas sabemos que após o encontro o grande Conquistador pagão retrocedeu com suas tropas.

Oração de São Leão Magno contra o desânimo

São Leão Magno foi também um grande doutor da Igreja, deixando muitas obras e escritos como sermões e textos litúrgicos.

Oração – Recomeçar Sempre!

“Não desista nunca:

Nem quando o cansaço se fizer sentir,

Nem quando os teus pés tropeçarem,

Nem quando os teus olhos arderem,

Nem quando os teus esforços forem ignorados,

Nem quando a desilusão te abater,

Nem quando o erro te desencorajar,

Nem quando a traição te ferir,

Nem quando o sucesso te abandonar,

Nem quando a ingratidão te desconcertar,

Nem quando a incompreensão te rodear,

Nem quando a fadiga te prostrar,

Nem quando tudo tenha o aspecto do nada, nem quando o peso do pecado te esmagar. Invoque sempre a Deus, junte as mãos, reze, sorria… E recomece!”

São Leão Magno, rogai por nós!

Fonte https://misericordia.com.br/sao-leao-magno-o-papa-que-salvou-roma/

domingo, 9 de novembro de 2025

A Dedicação da Basílica do Latrão

Dedicação da Basílica do Latrão (CNBB Nordeste 1)

A DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO

08/11/2025

Estamos celebrando a festa da dedicação da Basílica do Latrão. Essa basílica, que é a catedral da Diocese de Roma, relembra a nossa comunhão com a Igreja de Roma na qual é bispo o nosso amado Papa Leão XIV. Na primeira leitura, o profeta Ezequiel (Ez 47, 1-2.8-9.12) tem uma grandiosa visão, vê brotar do templo uma torrente de água que engrossa incontrolavelmente sem receber aporte de nenhum afluente, que produz vida por onde passa. Essa imagem mostra a fecundidade do templo. Trata-se de uma água “saneadora”. Claramente é um símbolo para significar o dom da vida que o Senhor dará aos repatriados. Mas que não se esgota simplesmente nesse dom da vida — essa fecundidade se visibilizará em Jesus Cristo, verdadeiro templo. 

Jesus, no templo de Jerusalém, cumpre um gesto emblemático. Como devemos interpretar esse gesto de Jesus? “Antes de tudo deve-se observar que Ele não provocou repressão alguma dos detentores da ordem pública, porque foi visto como uma típica ação profética: de fato, os profetas, em nome de Deus, denunciavam com frequência abusos, e por vezes faziam-no com gestos simbólicos. O problema, no máximo, era a sua autoridade. Eis por que os Judeus perguntam a Jesus: ‘Que sinal nos apresentas para justificares o Teu proceder?’ (Jo 2, 18), demonstra-nos que ages deveras em nome de Deus.

“A expulsão dos comerciantes do templo foi interpretada também do ponto de vista político-revolucionário, colocando Jesus na linha do movimento dos zelotas. Eles eram, precisamente, ‘zelosos’ da lei de Deus e dispostos a usar a violência para a fazer respeitar. Na época de Jesus aguardavam um Messias que libertasse Israel do domínio dos Romanos. Mas Jesus desiludiu esta expectativa, a tal ponto que alguns discípulos o abandonaram e Judas Iscariotes até o atraiçoou. Na realidade, é impossível interpretar Jesus como violento: a violência é contrária ao Reino de Deus, é um instrumento do anticristo. A violência nunca está ao serviço da humanidade, mas desumaniza-a.

“Ouçamos então as palavras que Jesus disse, fazendo aquele gesto: ‘Tirai tudo isto daqui e não façais da casa de Meu Pai uma feira’. E os discípulos então recordaram-se de que está escrito num Salmo: ‘O zelo pela tua casa me devora’ (69, 10). Este salmo é uma invocação de ajuda numa situação de extremo perigo por causa do ódio dos inimigos: a situação que Jesus viverá na sua paixão: o seu zelo pelo amor que paga pessoalmente, não aquele que pretenderia servir Deus mediante a violência. Com efeito, o ‘sinal’ que Jesus dará como prova da sua autoridade será precisamente a sua morte e ressurreição. ‘Destruí este templo — disse — e edificá-lo-ei em três dias’. E são João escreve: ‘Ele falava do templo do seu corpo’ (Jo 2, 20-21). Com a Páscoa de Jesus começa um novo culto, o culto do amor, e um novo templo que é Ele mesmo, Cristo ressuscitado, mediante o qual cada crente pode adorar Deus Pai ‘em espírito e verdade’ (Jo 4, 23)” (Bento XVI, Angelus de 11 de março de 2012).

Que, celebrando a Basílica do Latrão, símbolo da Igreja, morada de Deus entre os homens, vivamos como templos do Espírito Santo e cresçamos em consciência de que, também nós, somos a Igreja viva, morada de Deus entre os homens.

Cardeal Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

COP 30: curiosidades do protocolo e a ausência dos EUA

Belém | Divulgação

Cibele Battistini - publicado em 07/11/25

A COP30 — 30.ª Conferência das Partes da United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC) — será realizada de 10 a 21 de novembro de 2025, em Belém, no Estado do Pará (Brasil).

A escolha de Belém se revela simbólica: situada às margens da foz do rio Amazonas, a cidade representa a porta de entrada para a floresta amazônica e, por isso, devolve ao debate climático um foco central na preservação das florestas tropicais e na justiça ambiental. 

O evento conta com duas fases principais: nos dias 6 e 7 de novembro ocorrerá a cúpula de chefes de Estado e de governo, e em seguida, de 10 a 21 de novembro, a plenária oficial de negociações. 

Participações confirmadas de personalidades internacionais

Diversos líderes e chefes de delegação confirmaram sua presença em Belém. Entre eles:

Para a União Europeia, a presença de Ursula von der Leyen (Presidenta da Comissão Europeia), António Costa (Presidente do Conselho Europeu) e mais representantes dos Estados-membros.

A delegação chinesa será liderada pelo Vice-Premiê Ding Xuexiang.

A África estará representada por personalidades como o Vice-Presidente da Nigéria, Kashim Shettima, que chegou a Belém para participar da COP30.

Também está previsto o engajamento de numerosas organizações da sociedade civil: por exemplo, mais de 125 novas entidades receberam status de observadoras para este ciclo, ampliando a diversidade de vozes e grupos tradicionais (indígenas, quilombolas, movimentos de juventude) no processo.

Ausência dos Estados Unidos / Donald Trump

Os Estados Unidos não enviarão representantes de alto nível à COP30. A Casa Branca confirmou que não mandará autoridades seniores para o encontro em Belém.
O motivo expresso pelo governo é que o presidente Donald Trump está “diretamente engajado com líderes mundiais em questões de energia”, priorizando acordos bilaterais de energia e exploração de combustíveis fósseis, em lugar do multilateralismo climático habitual. 

Donald Trump | SAUL LOEB / AFP

Assim, embora o tema ambiental seja de suma importância global, a ausência estadunidense torna-se um destaque pela negativa: não se trata apenas de uma não-participação, mas de uma sinalização de que os EUA optaram por outro caminho estratégico no âmbito energético e diplomático.

Clima em Belém e curiosidade de protocolo

Belém, em novembro, vive sua fase de clima tropical muito intenso: a média máxima diária atinge cerca de 32,3 °C e a mínima gira em torno de 21,9 °C
Um índice de sensação térmica elevadíssimo — em torno de 47 °C — é estimado devido à combinação de calor, umidade e pouca eficiência de resfriamento natural no ambiente urbano. 

Em meio a esse cenário, jornalistas e correspondentes que cobrem a COP30 terão uma curiosa orientação de protocolo: embora o evento seja formal, houve recomendação de que no credenciamento ou em algumas sessões se considere abdicar da tradicional “camisa e gravata” — ou ao menos utilizar gravata leve e camisa de tecido ventilado — justamente para lidar com as altas temperaturas e o clima úmido da região. Essa nuance tipifica o ajuste entre formalidade internacional e realidades tropicais.

Importância da COP30 para a Igreja Católica

Para a Igreja Católica, a COP30 assume relevância particular sob dois ângulos: o pontificado de Papa Francisco e a continuidade com a encíclica Laudato Si’ — documento chave sobre ecologia integral e cuidado da criação. Papa Francisco já havia colocado a crise climática como questão moral e ética central da doutrina social da Igreja.

Com a eleição de Papa Leão XIV, a COP30 ganha nova dimensão: o Papa Leão, em suas primeiras intervenções públicas, reafirmou o compromisso da Igreja com a justiça climática e o cuidado com “a casa comum”.

Para a Igreja, o evento serve como plataforma de afirmação do engajamento católico em políticas ambientais que defendam os pobres, a biodiversidade e os países amazônicos ou tropicais vulneráveis. A escolha de Belém — na Amazônia — permite à Igreja sublinhar a ligação entre fé, preservação ecológica e defesa dos povos tradicionais.

Em resumo, a COP30 não é apenas uma conferência diplomática: para a Igreja Católica, é um momento de manifestação da fé em ação, onde a proteção ambiental converge com a dignidade humana, a defesa dos vulneráveis e a conversão ecológica — temas que tanto Papa Francisco quanto Papa Leão consideram fundamentais.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/11/07/cop-30-curiosidades-do-protocolo-e-a-ausencia-dos-eua/

A conversão do olhar sobre o pobre na Dilexi Te

O amor se faz pobre (Mãe Peregrina Schoenstatt)

A CONVERSÃO DO OLHAR SOBRE O POBRE NA DILEXI TE 

06/11/2025

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

No primeiro capítulo da Dilexi te, o Papa Leão XIV propõe um desafio à Igreja e à sociedade: associar ao compromisso concreto com os pobres uma “mudança de mentalidades que tenha incidências culturais” (n. 11). Não se trata apenas de promover a assistência social, mas de transformar o modo como olhamos para os pobres e organizamos a vida coletiva. Essa mudança constitui uma conversão cultural inseparável da conversão espiritual, pois o modo como vemos os pobres revela o modo como compreendemos Deus. 

O Papa denuncia a ilusão de uma felicidade fundada na acumulação e no sucesso pessoal, alimentada por uma cultura que “descarta os outros sem sequer se aperceber, tolerando com indiferença que milhões morram de fome” (n. 11). Essa mentalidade enraíza-se em ideologias meritocráticas e individualistas, que reduzem a dignidade humana à produtividade e fazem crer que a pobreza é culpa pessoal. O resultado é uma cegueira ética, na qual os pobres se tornam invisíveis ou incômodos, e a desigualdade passa a ser aceita como preço inevitável do progresso. 

A mudança de mentalidade desejada por Leão XIV tem, portanto, amplas incidências culturais. Implica reconstruir as bases da convivência, substituindo a lógica da competição pela cultura da solidariedade. O Papa fala de uma “renovação cultural” que não se limita a políticas públicas, mas exige um novo ethos social e uma espiritualidade do cuidado e da partilha. Trata-se de educar o olhar e o coração para reconhecer o outro como “sacramento da presença de Cristo”. Essa é a grande revolução cultural do Evangelho, em que o pobre deixa de ser problema e se torna lugar teológico, rosto visível do Senhor. 

Os preconceitos que ainda resistem à conversão são denunciados com vigor: a meritocracia que glorifica os vencedores, o economicismo que mede o valor das pessoas pelo que produzem e o assistencialismo que infantiliza ou reduz os pobres à condição de objetos, negando-lhes protagonismo. A Dilexi te afirma que “os pobres não existem por acaso nem por destino amargo” (n. 14), mas são vítimas de estruturas injustas e de mentalidades que perpetuam a exclusão. Romper com esses preconceitos significa redescobrir a centralidade do Evangelho e da fraternidade humana. 

Na perspectiva bíblica e eclesial, os pobres não são destinatários passivos, mas sujeitos da evangelização. Leão XIV retoma o ensinamento de que Deus “escolhe os pobres” (Tg 2,5) e faz deles o coração da Igreja. A opção preferencial pelos pobres, nascida da compaixão divina, é expressão da própria lógica da encarnação. Cristo se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (2Cor 8,9). Amar os pobres é, portanto, amar o próprio Cristo, não por filantropia, mas por fé. 

A cultura da solidariedade encontra raízes profundas na Tradição patrística. São João Crisóstomo ensina: “Queres honrar o Corpo de Cristo? Não o desprezes nos pobres”. Afirmando que a Eucaristia sem caridade é culto vazio. Santo Agostinho e São Basílio Magno lembram que partilhar com os pobres não é ato opcional, mas exigência de justiça: “Não é de tua propriedade o que dás ao pobre; é dele”. Esses testemunhos mostram que a fé cristã sempre formou cultura quando se encarnou em gestos de comunhão. 

A conversão de mentalidade é, antes de tudo, uma conversão do coração. A Dilexi te convida a Igreja e a sociedade a reencontrarem, na compaixão, a verdadeira cultura da vida. O amor aos pobres — longe de ser ideologia — é critério de autenticidade do Evangelho. Numa civilização que produz descartados, Leão XIV repropõe a “cultura do encontro”, inspirada no Papa Francisco, em que cada pessoa é reconhecida como irmã. A nova cultura começa quando deixamos de perguntar “quem é o meu próximo?” e passamos a ser, nós mesmos, próximos de todos. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Leão XIV: Igreja de Roma, mãe que cuida da fé e do caminho dos cristãos espalhados pelo mundo

Angelus, 09/11/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

Na alocução que precedeu a oração mariana do Angelus, o Papa recordou a Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, celebrada neste domingo. "Neste dia da Dedicação da Basílica de Latrão, contemplamos o mistério de unidade e comunhão com a Igreja de Roma", disse ele, ressaltando que "a Catedral da Diocese de Roma representa também o centro propulsor da fé, confiada e guardada pelos Apóstolos, e da sua transmissão ao longo da história".

https://youtu.be/D5tovjF_cCI

Mariangela Jaguraba – Vatican News

Após celebrar a missa na Basílica de São João de Latrão, neste domingo (09/11), Leão XIV regressou, ao Vaticano, e conduziu a oração mariana do Angelus.

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice proferiu algumas palavras sobre a Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, celebrada neste domingo.

Neste dia da Dedicação da Basílica de Latrão, contemplamos o mistério de unidade e comunhão com a Igreja de Roma, chamada a ser a mãe que cuida com solicitude da fé e do caminho dos cristãos espalhados pelo mundo.

"A Catedral da Diocese de Roma e, como sabemos, sede do sucessor de Pedro não é apenas uma obra de extraordinário interesse histórico, artístico e religioso, mas representa também o centro propulsor da fé, confiada e guardada pelos Apóstolos, e da sua transmissão ao longo da história", disse ainda o Papa Leão. "A grandeza deste mistério brilha também no esplendor artístico do edifício que, precisamente na nave central, acolhe doze grandes imagens dos Apóstolos, primeiros seguidores de Cristo e testemunhas do Evangelho", sublinhou.

Isto remete para uma visão espiritual, que nos ajuda a ir além da aparência exterior, compreendendo no mistério da Igreja muito mais do que um simples lugar, um espaço físico, uma construção feita de pedras; na verdade, como nos sugere o trecho do Evangelho de hoje, no qual se conta o gesto de purificação realizado por Jesus no Templo de Jerusalém, o verdadeiro santuário de Deus é Cristo morto e ressuscitado. Ele é o único mediador da salvação, o único Redentor, Aquele que, unindo-se à nossa humanidade e transformando-nos com o seu amor, representa a porta que se escancara para nós e nos conduz ao Pai.

"Unidos a Ele, também nós somos pedras vivas deste edifício espiritual. Somos a Igreja de Cristo, o seu corpo, os seus membros chamados a difundir no mundo o seu Evangelho de misericórdia, consolação e paz, através daquele culto espiritual que deve resplandecer em primeiro lugar no nosso testemunho de vida", disse ainda Leão XIV.

Irmãos e irmãs, é para este olhar espiritual que devemos treinar o nosso coração. Muitas vezes, as fragilidades e os erros dos cristãos, juntamente com tantos lugares-comuns e preconceitos, impedem-nos de compreender a riqueza do mistério da Igreja.

"Efetivamente, a sua santidade não reside nos nossos méritos, mas na «liberalidade da entrega do Senhor que nunca foi revogada» e que continua escolhendo «como receptáculo da sua presença, num amor paradoxal, também e precisamente as mãos sujas dos homens»", disse ainda o Papa, citando as palavras de Bento XVI.

"Caminhemos, pois, na alegria de sermos o Povo santo que Deus escolheu e invoquemos Maria, Mãe da Igreja, para que nos ajude a acolher Cristo e nos acompanhe com a sua intercessão", concluiu Leão XIV.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

TEOLOGIA: O encontro de dois dons distintos (Parte 3/3)

Cristo e a Adúltera, Rembrandt, Print Room, Munique | 30Giorni

TEOLOGIA

Arquivo 30Dias nº 11 - 2001

O encontro de dois dons distintos

"Assim como você, acredito que Deus criou apenas para a elevação do deificado; mas isso não elimina a heterogeneidade radical entre o primeiro dom da vida racional e o segundo dom (e antecedente na ordem de finalidade) da vida sobrenatural." Assim escreveu Blondel em uma carta a De Lubac. Este ensaio examina a trajetória do filósofo francês, em particular as críticas que ele dirigiu a Teilhard de Chardin.

Por Massimo Borghesi

3) Blondel, crítico de Teilhard de Chardin

Há um documento, singularmente negligenciado pelos críticos, no qual a posição de Blondel sobre o sobrenatural emerge com total clareza: a correspondência com Teilhard de Chardin, compilada por de Lubac, que, graças à mediação de Auguste Valensin, ocorreu em dezembro de 1919.<sup>24</sup> Este importante documento, publicado em 1965, provavelmente teria alterado a avaliação de Gilson, também em 1965, de que Blondel e Teilhard compartilhavam a mesma perspectiva. A correspondência foi motivada pelo envio a Blondel, por meio de Valensin, de alguns escritos de Teilhard, sobre os quais ele solicitou uma avaliação. Em suas memórias, datadas de 5 de dezembro, Blondel começa observando como, nesses escritos, redescobriu "alguns dos temas mais antigos e esotéricos do meu pensamento pessoal e do que ela chama de meu 'pancristianismo'".25 A consciência dos limites dessa perspectiva agora distante o leva a alertar o Padre Teilhard sobre seus possíveis resultados: "Parece-me, de fato, que as tentações das quais tive e das quais devo me defender são análogas àquelas das quais o Padre T. deve, por sua vez, se proteger."26

O pancristianismo cósmico de Teilhard não está isento de profundas ambiguidades. O perigo mais grave é "que a ordem natural tenha, como tal, uma estabilidade divina, que Cristo desempenhe fisicamente a função que o panteísmo ou o monismo atribuem ao Deus vago e difuso com o qual se contentam. Há nisso uma base de naturismo, de hilozoísmo, ou melhor ainda, de heloteísmo, que se mostrará inaceitável precisamente por causa da fórmula que revela sua consequência lógica: seria preciso admitir que Cristo poderia ter se encarnado para um propósito diferente do da sobrenaturalização, e que o mundo, mesmo fisicamente, foi divinizado, sem ser sobrenaturalizado."27 Nesse campo, Blondel escreve ironicamente, usando um termo emprestado de Teilhard, não se deve ser visionário . "O Padre T. parece supor que podemos nos comunicar com o Todo (incluindo Cristo) sem primeiro e exclusivamente nos comunicarmos com o Uno, com o Transcendente, com o Verbo Encarnado, em sua natureza concreta e singular como homem."28 Dessa forma, seu pancristianismo corre o risco de se resolver em um naturalismo divinizado, um verdadeiro panteísmo.

Por essa razão, “para não incorrer nem mesmo no menor risco de imanentismo, é indispensável [...] enfatizar com cada vez maior clareza e força a transcendência absoluta do dom divino, o caráter inevitavelmente sobrenatural do plano deificação e, consequentemente, a transformação moral e a expansão espiritual que a graça permite e exige. Embora, em certo sentido, haja continuidade na ordem universal, em outro sentido há incomensurabilidade, uma inversão do velho homem e da velha natureza, para o nascimento do 'novum coelum' e da 'nova terra'.”29

Em sua resposta de 12 de dezembro, Teilhard, longe de aceitar os esclarecimentos de Blondel, reiterou firmemente seu ponto de vista. "Cristo é o centro do Universo, mesmo nas chamadas zonas 'naturais'." 30 Diante da instabilidade da ordem natural, "Cristo tem algo de demiurgo." 31 Isso significa que "nosso Universo atual é sobrenaturalizado em tudo o que é (isto é, não tem mais sentido ou centro, exceto em Cristo)." 32 As obras e o esforço humanos tornam-se, nesse aspecto, o cumprimento de Cristo, a matéria do Pleroma que está sendo realizada. Se, como afirma a Nota sobre o Cristo Universal de janeiro de 1920 , “Cristo é universal… a ação humana pode referir-se a Cristo, contribuir para a realização de Cristo.

 Todo progresso, seja na vida orgânica, no conhecimento científico, nas faculdades estéticas ou na consciência social, é, portanto, cristianizável em seu próprio objeto (porque todo progresso, em si mesmo , está organicamente integrado ao espírito que está suspenso em Cristo). Essa perspectiva muito simples rompe a barreira fatal que, no entanto , persiste em nossas teorias atuais, entre o Esforço cristão e o Esforço humano. Se o Esforço humano se torna divinizável nas obras (e não apenas na operação ), o Mundo, para o cristão, torna-se inteiramente divino»33.

Em sua resposta de 19 de dezembro, Blondel observa que «o Padre T. parece menos preocupado do que eu em destacar a incomensurabilidade divina, em chamar a atenção para esta necessidade, de que não há divinização sem sobrenaturalização, nem sobrenaturalização sem uma morte e renascimento espiritual»34. Ele também concorda com o padre jesuíta sobre o «verdadeiro, bom, sólido». caráter do esforço natural», mas o fogo divino «não se encontra tal como é , fisicamente, no “esforço humano”, nem na humanidade, nem no mundo ut sic »35.

Para Blondel, Teilhard, «por querer infundir Cristo em nosso esforço e no mundo transfigurado aos olhos de sua fé, parece-me que – agora ele tenta representar essa imanência do sobrenatural sob traços imaginativos muito físicos – agora (e não é mais apenas uma forma de gnose) ele atualiza em uma espécie de ontologia milenarista a divinização filogenética do Universo, como se, sendo naturalmente instável, este Universo encontrasse naturalmente em Cristo seu apoio e sua solidez, o que naturalmente contribuiria para nos consolidar; e assim o Sobrenatural se tornaria como um elemento constitutivo, como os outros elementos, que certamente os ilumina, até os transfigura, mas não os consome nem os transubstancia»36.

Para Blondel , a caridade , dom da graça que transforma a natureza, “não vive das paixões humanas ut sic”; a sobrenaturalização, se refletirmos sobre o que é a incomensurabilidade divina, não pode ocorrer sem um salto. Rejeito o jansenismo, assim como o humanismo devoto e o cientificismo cristão me parecem decepcionantes. É igualmente importante não sobrenaturalizar o natural e não naturalizar o sobrenatural.

Em sua resposta de 29 de dezembro, Teilhard, apesar de temer o risco de um “emersonismo cristão”,38 não se desvia de sua posição. Não é possível imaginar o mundo naturaliter, extra Christum . “Por vezes, pensei em atenuar o que é absoluto (e improvável à primeira vista) nesta concepção, imaginando que o Mundo, extra Christum, possui uma primeira existência que é suficiente em si mesma (ordem natural, esfera do progresso humano). Somente aqueles cuja vida adere a J. [Jesus] C. [Cristo] com fé e boas intenções poderiam ir além deste primeiro círculo e entrar (eles e o seu Mundo ) no campo da divinização de Cristo. Haveria, assim, além do rei , duas partes distintas do Universo: o Mundo criado e o Mundo de Cristo (o segundo dos quais absorveria gradualmente o primeiro...).  Pareceu-me que esta atenuação era ilógica – em desacordo com a identidade de Deus Criador e Redentor – incompatível com a elevação da ordem natural na sua totalidade”39.

Teilhard confessou, desta forma, a sua incapacidade de reconhecer a distinção real entre as duas ordens, natural e sobrenatural, a distinção entre o nível da criação e o da redenção. O monismo, por vezes naturalista, por vezes sobrenaturalista, obscurecia a possibilidade de compreender as objeções de Blondel. Entre os dois, apesar das fórmulas polidas, não havia possibilidade de entendimento. Embora Teilhard falasse repetidamente de uma diferença apenas de ênfase40 , esta, na realidade, afeta a substância. Ainda em 1925, quando o Padre Valensin apresentou Mon Univers (1924) de Teilhard a Blondel, o filósofo de Aix encontrou nele «mais generosidade do que precisão»41, um julgamento partilhado por de Lubac. "demasiado severo."42

Na realidade, a crítica de Teilhard documenta (para além de Gilson) a fronteira que separa a reflexão de Blondel da do "visionário". A defesa de Blondel e Teilhard por De Lubac, com a sua tentativa pacífica de atenuar as diferenças, não ajuda a esclarecer as coisas neste ponto. Acima de tudo, não ajuda Blondel.

De forma mais realista, Teilhard confessaria: "Devo-lhe muito. Mas, no geral, não nos entendíamos."43 Blondel, por sua vez, escreveria ao Padre Valensin em 1925: "Cuidado com o Origenismo, que tende a ignorar as oposições radicais e a estabilidade eterna da livre opção. A continuidade das coisas não impede a contingência de soluções singulares e os riscos da criatura racional."44

O limite do método teilhardiano, escreveria ele a Monsenhor Bruno de Solages em 16 de fevereiro de 1947, é que "ele reduz a um nível científico, fenomenológico, naturalista, como se esse nível contivesse a verdade essencial, o que é também e sobretudo de uma ordem metafísica, religiosa e até propriamente sobrenatural."45

O Universo "divino" não precisava mais de Cristo; ele já o continha em si. O "Pan-Cristianismo" havia dissolvido a figura irrepetível do Cristo histórico. Blondel, pela própria natureza do seu pensamento, foi capaz de apreender melhor do que ninguém as possíveis ilusões dessa perspectiva. Daí a importância de uma lição cuja acuidade e profundidade nunca deixam de questionar o pensamento filosófico e teológico contemporâneo.

NOTAS

26) Op. cit. , pág. 23. 

27) Op. cit. , pág. 24. 

28) Op. cit. , pág. 25. 

29) Op. cit. , pág. 26.

30 ) Op. cit. , pág. 35. 

31) Ibidem . 

32) Op. cit. , pág. 36.

 33) P. Teilhard de Chardin, Oeuvres, 9, Paris, pp.
34) Correspondência de Maurice Blondel e Pierre Teilhard de Chardin. Comentada por Henri de Lubac , cit. , pág. 38. 

35) Op. cit. , pág. 44. 

36) Ibidem . 

37) Ibidem . 

38) Op. cit. , pág. 47. 

39) Op. cit. , pág. 49. 

40) Op. cit. 36, 51. 

41) M. Blondel-A. Valensin, Correspondance , editado por H. de Lubac, Paris 1957-65, 3 vols., t. III, pág. 128. 

42) Correspondência de Maurice Blondel e Pierre Teilhard de Chardin. Comentada por Henri de Lubac , cit. , pág. 66. 

43) Carta a Claude Cuénot (datada de 15 de fevereiro de 1955), citada em: Correspondência de Maurice Blondel e Pierre Teilhard de Chardin. Comentada por Henri de Lubac , citada , p. 118. 

44) M. Blondel-A. Valensin, Correspondência , citada , t. III, p. 128. 

45) Citada em: Correspondência de Maurice Blondel e Pierre Teilhard de Chardin. Comentada por Henri de Lubac , citada , p. 63.

 Fonte: https://www.30giorni.it/

sábado, 8 de novembro de 2025

100 anos após Expo Missionária, as obras continuam a falar de paz

A Exposição Missionária de 1925 (Vatican News)

Das coleções missionárias de Pio XI à nova seção dedicada à Ásia, o museu etnológico Anima Mundi dos Museus Vaticanos mantém viva a mensagem universal de paz, diálogo e fraternidade da Exposição de 1925.

Paolo Ondarza - Cidade do Vaticano

Testemunhas de encontro, paz e reciprocidade intercultural. Cem mil objetos de todo o mundo foram exibidos em 26 pavilhões para a Exposição Missionária de 1925. Cem anos mais tarde, esse evento está sendo comemorado nos dias 5 e 6 de novembro com uma conferência internacional na Universidade IULM, na Pontifícia Universidade Urbaniana e nos Museus Vaticanos.

A Exposição Missionária de 1925 (Vatican News)

Levar ao conhecimento de todos as missões católicas e as tradições locais

Desejada por Pio XI em concomitância com o Jubileu, a Exposição teve o duplo propósito de ilustrar a ampla presença das missões católicas em todo o mundo e de promover as tradições culturais, artísticas e espirituais de diferentes povos.

A Exposição Missionária de 1925 (Vatican News)

Mais de um milhão de visitantes

A Exposição Missionária Vaticana "foi um evento importantíssimo, desejado por um Pontífice iluminado, aberto, curioso", afirma Nadia Fiussello, curadora do setor para as Coleções Etnológicas Anima Mundi dos Museus Vaticanos. A ideia era aquela de narrar as terras das missões, mas também, e sobretudo, "a vida das pessoas por meio de objetos e os vários aspectos do seu quotidiano, tanto cultural como religioso".

Inaugurada a 21 de dezembro de 1924, encerrou a 10 de janeiro de 1926, atraindo mais de um milhão de visitantes e obtendo um notável sucesso de público e crítica.

As descrições dos missionários

Os objetos, ou as suas reproduções em miniatura, feitas quando o espaço era muito limitado para transportar os originais, chegaram ao Vaticano em enormes caixas de madeira. Eles foram acompanhados por descrições escritas pelos missionários.

Essas anotações revelam a sensibilidade inerente a cada ordem ou congregação missionária. Algumas destacavam aspectos intelectuais em vez de culturais ou relacionados à vida cotidiana, como hábitos alimentares ou de saúde.

As obras expostas na nova seção asiática do Museu Anima Mundi (Vatican News)

Agostino Gemelli e o Pavilhão da Medicina

"Diferentemente das grandes exposições universais europeias, Pio XI desejou que fosse contada a história e a vida cotidiana dessas populações", acrescenta Fiussello, compartilhando uma história particularmente interessante: "O Papa Ratti incumbiu Agostino Gemelli de se dedicar ao Pavilhão da Medicina, do qual ainda restam muitos objetos." O objetivo era ilustrar "aqueles remédios utilizados por diversas populações ou pelos próprios missionários para tratar doenças como a febre amarela. O uso da medicina não química, hoje novamente muito relevante, está documentado, por exemplo, na tradição chinesa."

As obras expostas na nova seção asiática do Museu Anima Mundi (Vatican News)

A terceira linguagem

As obras da Exposição, em grande parte transferidas em 1926 para o Museu Etnológico do Vaticano, hoje conhecido como Anima Mundi, falam o que Fiussello chama de uma terceira linguagem. Uma linguagem de síntese: não relacionada nem aos missionários ocidentais, nem às suas culturas de origem.

As obras expostas na nova seção asiática do Museu Anima Mundi (Vatican News)

Missão é encontro

"O nosso museu é diferente de qualquer outro museu etnológico do mundo: nasceu como um museu missionário. Há muitos objetos católicos e cristãos que testemunham o encontro com as populações locais. Os missionários introduziram imagens figurativas de Cristo, da Virgem Maria e dos santos, mas estas foram assimiladas pelas culturas locais, que as transformaram utilizando a iconografia nativa."

As obras expostas na nova seção asiática do Museu Anima Mundi (Vatican News)

Dos Museus de Latrão aos Museus Vaticanos

O Museu Etnográfico Vaticano foi fundado por Pio XI com o Motu Proprio Quoniam tam praeclara de 12 de novembro de 1926. Sua criação foi confiada ao padre Wilhelm Schmidt.

Inicialmente localizado na Basílica de São João de Latrão, o museu abrigava aproximadamente oitenta mil obras da Exposição Missionária do ano anterior. Em 1976, a pedido de Paulo VI, sob a supervisão do padre Jozef Penkowski, foi transferido para os Museus Vaticanos.

As obras expostas na nova seção asiática do Museu Anima Mundi (Vatican News)

O novo Anima Mundi

Nos últimos anos, com uma coleção que cresceu graças às constantes doações recebidas dos Papas durante audiências e viagens apostólicas, o museu passou por transformações radicais: "A exposição da década de 1970 apresentava muitos objetos expostos, que corriam o risco de serem danificados pelo contato constante com os visitantes. Hoje - explica Nadia Fiussello - nossos depósitos estão à vista de todos, diretamente acima do museu, onde os objetos são exibidos atrás de vidros completamente transparentes", proporcionando uma experiência imersiva.

Museu Anima Mundi (Vatican News)

Seção Ásia

Após as seções dedicadas à Oceania, às Américas e à África, é aberta ao público nesses dias a primeira parte da Ásia, dedicada ao Japão e à Coreia. "Já concluímos quase totalmente a montagem da Floresta de Budas e, graças ao constante monitoramento do clima e ao trabalho meticuloso dos restauradores do Laboratório Polimatérico, a vitrine de laca também está pronta."

O Laboratório de Polimateriais dos Museus Vaticanos (Vatican News)

Embaixadores da Paz

Durante cem anos, os objetos provenientes de todas as latitudes continuam a falar e a contar as tradições seculares de povos distantes: "Esses artefatos são embaixadores", conclui a curadora da Anima Mundi, observando como a relação com seus países de origem possibilitou o aprendizado de metodologias adequadas de restauração. O contato com os povos de origem também proporcionou a oportunidade de determinar se um objeto deve ou não ser exibido ao público, com base em seu significado cultural e religioso.

"Nosso museu não é apenas um local de armazenagem de obras, mas uma realidade em constante evolução, em contato constante com os povos de origem, com o objetivo de promover um mundo de paz e fraternidade."

Photogallery

A nova seção asiática do Museu Anima Mundi dos Museus Vaticanos. Veja a galeria de fotos.

25.03.2025 ANIMA MUNDI MV - Ásia (Vatican Media)
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Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

As famílias numerosas estão voltando à moda?

Famílias numerosas (Aleteia)

Michael Rennier - publicado em 28/10/19

Pesquisas mostram que o tamanho ideal indicado para uma família está crescendo mais uma vez… e talvez essas sejam algumas das razões.

Espero que isso não soe falta de modéstia, mas sou um homem rico. Sei que não mereço, mas estou cercado por uma esposa e filhos que me dão muito mais amor do que eu jamais poderia ter sonhado.

Nossa ninhada em particular é composta por seis filhos com idades entre 1 e 12 anos. Suspeito que, se a vida tivesse sido um pouco diferente, o número de filhos que recebemos no mundo poderia facilmente ter sido maior ou menor. Mas assim como é, temos o número perfeito.

Nossa família é considerada grande pelos padrões de hoje, e as pessoas frequentemente perguntam por que decidimos ter tantos filhos. Deixando de lado por um momento quão estranha é tal pergunta, não me importo de responder que temos tantos filhos porque achamos que eles são bacanas.

Sim, o simples fato é que é divertido conviver com eles. Ontem à noite eu estava jogando xadrez com a criança de quatro anos e ela me contou sobre seu sonho de que mais pessoas podiam se sentar na arquibancada, vê-la jogar e admirar suas habilidades estratégicas. Ela acha que é tão boa no xadrez que merece uma multidão de espectadores. Depois de capturar sua rainha, fiz uma anotação mental para inscrevê-la no Clube de Xadrez no próximo ano.

Ela está certa, será divertido vê-la jogar. Também é divertido assistir às crianças competindo em jogos de vôlei e futebol. É divertido ir ao zoológico e à colheita de maçãs e praticar mountain bike. É divertido fazer fogueiras e churrasco e convidar outras famílias para sessões improvisadas de poesia e música. Meus filhos estão me dando a chance de viver uma segunda infância, que, para ser sincero, estou amando ainda mais desta vez.

Anos atrás, o tamanho da nossa família não teria levantado uma sobrancelha. Por exemplo, em 1976, 40% das mães de 40 a 44 anos tinham quatro ou mais filhos. Hoje, esse número caiu para 13%.

Então, sim, uma família com seis filhos ou mais se tornou cada vez mais rara. Aqui está uma mudança de tendência, no entanto. Após anos de declínio, o tamanho ideal da família está novamente aumentando. Quando entrevistados, os americanos que pensam que o tamanho perfeito para uma família inclui pelo menos três filhos está em ascensão. As famílias ainda são muito menores do que eram décadas atrás, mas talvez isso possa começar a mudar assim que as pessoas começarem a desejar famílias maiores.

Parece que as famílias numerosas estão voltando à moda. É claro que estar na moda não é um bom motivo para ter filhos, mas minha experiência mostra que existem muitos outros bons motivos. Simplificando, como Mark Oppenheimer, pai de cinco filhos, diz em um artigo recente no The Wall Street Journal, “todos os nossos filhos melhoraram minha vida”.

É exatamente assim que me sinto. Mesmo que meu orçamento apertado e outras despesas que continuam a esvaziar meus bolsos, pude sentir como cada nova criança fez meu coração crescer.

Aqui está o que mais eu amo em nossa família: as crianças cuidam umas das outras. Os meninos, que são típicos rapazes brutos, mostram um lado sensível quando fazem uma pausa para puxar gentilmente sua irmã mais nova pelo pátio na carroça.

As meninas mais velhas fazem sanduíches de queijo grelhado para os irmãos mais novos. Algumas crianças até se ajudaram a aprender a ler de uma maneira muito mais paciente do que eu jamais poderia ter conseguido.

Eles adoram estar juntos e sempre têm um amigo por perto. Eles aprendem a socializar, compartilhar e praticar a gratuidade. Algo está sempre acontecendo em nossa casa, e as crianças do bairro se reúnem para participar da diversão.

Existem custos para ter uma família numerosa, com certeza. Eu brinco sobre o quão caro eles são, mas é realmente verdade. Para ter mais filhos, os pais devem estar dispostos a desistir de outros luxos. Nossa família não come muito em restaurantes. Nossas férias são curtas e locais. Os carros que dirigimos têm mais de 10 anos de uso. Não compro uma nova peça de roupa há anos e não me lembro da última vez que fomos a um cinema.

A outra mercadoria em falta na casa é a privacidade. As crianças compartilham quartos e, quando têm pesadelos, acabam na cama com mamãe e papai. Não estou brincando quando digo que ontem acordei de manhã e descobri três crianças empilhadas em nossa cama que haviam feito ali o seu cantinho durante a noite. O espaço pessoal é limitado e isso pode ser frustrante para pais e filhos.

Tudo isso dito, trocaria minha família numerosa por qualquer outro luxo do mundo? Absolutamente não. E, com base em pesquisas, parece que mais e mais pessoas estão começando a concordar.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2019/10/28/as-familias-numerosas-estao-voltando-a-moda/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF