A DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO
08/11/2025
Estamos celebrando a festa da dedicação da Basílica do
Latrão. Essa basílica, que é a catedral da Diocese de Roma, relembra a nossa
comunhão com a Igreja de Roma na qual é bispo o nosso amado Papa Leão XIV. Na
primeira leitura, o profeta Ezequiel (Ez 47, 1-2.8-9.12) tem uma grandiosa
visão, vê brotar do templo uma torrente de água que engrossa incontrolavelmente
sem receber aporte de nenhum afluente, que produz vida por onde passa. Essa
imagem mostra a fecundidade do templo. Trata-se de uma água “saneadora”.
Claramente é um símbolo para significar o dom da vida que o Senhor dará aos
repatriados. Mas que não se esgota simplesmente nesse dom da vida — essa
fecundidade se visibilizará em Jesus Cristo, verdadeiro templo.
Jesus, no templo de Jerusalém, cumpre um gesto emblemático.
Como devemos interpretar esse gesto de Jesus? “Antes de tudo deve-se observar
que Ele não provocou repressão alguma dos detentores da ordem pública, porque
foi visto como uma típica ação profética: de fato, os profetas, em nome de
Deus, denunciavam com frequência abusos, e por vezes faziam-no com gestos
simbólicos. O problema, no máximo, era a sua autoridade. Eis por que os Judeus
perguntam a Jesus: ‘Que sinal nos apresentas para justificares o Teu proceder?’
(Jo 2, 18), demonstra-nos que ages deveras em nome de Deus.
“A expulsão dos comerciantes do templo foi interpretada
também do ponto de vista político-revolucionário, colocando Jesus na linha do
movimento dos zelotas. Eles eram, precisamente, ‘zelosos’ da lei de Deus e
dispostos a usar a violência para a fazer respeitar. Na época de Jesus
aguardavam um Messias que libertasse Israel do domínio dos Romanos. Mas Jesus
desiludiu esta expectativa, a tal ponto que alguns discípulos o abandonaram e
Judas Iscariotes até o atraiçoou. Na realidade, é impossível interpretar Jesus
como violento: a violência é contrária ao Reino de Deus, é um instrumento do
anticristo. A violência nunca está ao serviço da humanidade, mas desumaniza-a.
“Ouçamos então as palavras que Jesus disse, fazendo aquele
gesto: ‘Tirai tudo isto daqui e não façais da casa de Meu Pai uma feira’. E os
discípulos então recordaram-se de que está escrito num Salmo: ‘O zelo pela tua
casa me devora’ (69, 10). Este salmo é uma invocação de ajuda numa situação de
extremo perigo por causa do ódio dos inimigos: a situação que Jesus viverá na
sua paixão: o seu zelo pelo amor que paga pessoalmente, não aquele que
pretenderia servir Deus mediante a violência. Com efeito, o ‘sinal’ que Jesus
dará como prova da sua autoridade será precisamente a sua morte e ressurreição.
‘Destruí este templo — disse — e edificá-lo-ei em três dias’. E são João
escreve: ‘Ele falava do templo do seu corpo’ (Jo 2, 20-21). Com a
Páscoa de Jesus começa um novo culto, o culto do amor, e um novo templo que é
Ele mesmo, Cristo ressuscitado, mediante o qual cada crente pode adorar Deus
Pai ‘em espírito e verdade’ (Jo 4, 23)” (Bento XVI, Angelus de
11 de março de 2012).
Que, celebrando a Basílica do Latrão, símbolo da Igreja,
morada de Deus entre os homens, vivamos como templos do Espírito Santo e
cresçamos em consciência de que, também nós, somos a Igreja viva, morada de
Deus entre os homens.
Cardeal Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília

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