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segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

O Líbano, uma terra bíblica

Antoine Mekary | ALETEIA

Camille Dalmas - publicado em 01/12/25

De 30 de novembro a 2 de dezembro, o Papa Leão XIV visitará o Líbano em sua primeira viagem internacional. O "país do cedro" ocupa um lugar muito importante nas Sagradas Escrituras.

Mencionado apenas no Antigo Testamento, o Líbano é citado em 71 ocasiões. A cordilheira que ocupa grande parte de seu território é descrita pelos profetas como uma das fronteiras naturais da Terra Prometida oferecida por Deus ao povo de Israel. "Todo lugar que pisar a sola do vosso pé será vosso: a vossa fronteira se estenderá desde o deserto até ao Líbano, e desde o rio Eufrates até ao mar ocidental" (Dt 11,24), afirma Moisés depois da fuga do Egito. O sucessor de Moisés, Josué, inclui até mesmo neste território "Baal-Gad, no vale do Líbano". Embora não se saiba ao certo onde esta cidade, o ponto norte das terras da nação judaica, várias hipóteses apontam para o sul do vale do Bekaa, no Líbano.

Na Bíblia, o Líbano também é frequentemente associado às magníficas florestas de cedros que crescem nas encostas de suas montanhas. Mencionada em 75 ocasiões, esta árvore, que hoje aparece na bandeira libanesa, representava na época um recurso econômico chave para o Oriente Médio. Salomão o usou para construir o templo de Jerusalém, o lugar mais sagrado do judaísmo antigo, mas também o palácio do sábio soberano. Para realizar essas construções, Salomão enviou várias dezenas de milhares de judeus ao rei libanês Hiram de Tiro para transportar os preciosos troncos.

A reputação de beleza das florestas de cedro do Líbano aparece em alguns dos versículos mais poéticos da Bíblia. É o caso do Salmo 92, onde se diz que os justos "se elevam como o cedro do Líbano" e prosperam apesar da idade, como essas árvores "cheias de seiva e verdes" (Sl 92,13-15). No Salmo 104, as florestas libanesas se tornam uma imagem da perfeição da criação divina: “As árvores do Senhor são saciadas, os cedros do Líbano, que ele plantou. Ali aninham as aves» (Sl 104,16-17).

No Cântico dos Cânticos, as riquezas do Líbano ressoam no canto de amor do marido à sua amada. Expressando toda a sua sensualidade e desejo, o homem se maravilha com a beleza de sua esposa, comparando sua boca com o leite e o mel e afirmando que “o aroma de [seus] vestidos é como o aroma do Líbano” (Ct 4,11). O amado promete a sua amada levá-la para visitar os picos do maciço libanês, "fonte dos jardins, poço de águas vivas que brotam do Líbano" (Ct 4,15). E ela, por sua vez, contempla o objeto de seu amor, parando em suas pernas, "colunas de mármore sobre bases de ouro puro", cujo aspecto "é o do Líbano: como o cedro, sem rival!" (Ct 5,15). A beleza da terra libanesa também inspira os profetas Ben Sira, Oséias e Nahum, que exaltam seu perfume, a fama de seu vinho e a delicadeza de sua flora.

Um espelho do poder divino

O profeta Isaías, por sua vez, vê no verde Líbano um testemunho da força natural que só Deus pode dominar. "O Senhor, Deus dos exércitos, quebra os galhos com violência: os maiores são cortados, os mais altos são derrubados; derruba com o ferro os matos da floresta, e o Líbano cai sob o Poderoso" (Is 10,33-34). Da mesma forma, "a voz do Senhor quebra os cedros do Líbano" (Sl 29,5), e seu poder os faz ondular como "espigas" (Sl 72,16). Por sua vez, o profeta Jeremias afirma que Deus seria capaz de transformar os picos brancos do Líbano em um deserto infértil (Jr 22,6).

Várias referências associam o Líbano à sua fauna, e Isaías menciona a presença de leões e leopardos em suas montanhas. Nos picos libaneses também se encontra a "grande águia, de grandes asas, de imensa envergadura, de plumagem espessa e colorida", mencionada por Ezequiel, que domina "a copa do cedro" (Ez 17,3). Uma grandeza natural notável que, muitas vezes, se curva diante da onipotência divina: "O Líbano não seria suficiente para o fogo, nem seus animais para o holocausto", assegura Isaías para exaltar ainda mais a grandeza divina, ainda mais imensa que a "glória do Líbano" (Is 40,16; Is 35,2).

E no Novo Testamento?

Embora o Líbano não seja explicitamente mencionado no Novo Testamento, ele pode aparecer nele. A cidade de Caná, onde Jesus realiza seu primeiro milagre, transformando água em vinho durante um casamento, pode corresponder às cidades de Qana, no sul do Líbano, mas também às de Kafr Cana e Khirbet Cana, em Israel.

Os arqueólogos não se pronunciaram sobre o assunto, mas Antonio Andary, da Fundação Maronita, defende a hipótese libanesa. Além disso, ele considera que Jesus também teria visitado território libanês em outras ocasiões, em particular durante seu encontro com a mulher cananeia, que, segundo ele, teria ocorrido perto de Sidon.

Finalmente, afirma que a Transfiguração pode ter ocorrido no topo do Monte Hebron, uma montanha de Golã que pertence em parte ao Líbano e à Síria (mas que é ocupada por Israel desde 2024). No entanto, o lugar tradicionalmente aceito é o Monte Tabor, em Israel.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/12/01/o-libano-uma-terra-biblica/

História de São Carlos de Foucauld

São Carlos de Foucauld (Cruz Terra Santa)
01 de dezembro
São Carlos de Foucauld

Infância e juventude

São Carlos de Foucauld nasceu em 15 de setembro de 1858, em Estrasburgo, França, em uma família nobre. Órfão de pai e mãe aos seis anos, foi criado pelo avô, que lhe deu boa educação, mas não conseguiu conter sua rebeldia juvenil.

Na adolescência afastou-se da fé. Inteligente e curioso, mergulhou nos estudos militares e herdou fortuna considerável. Contudo, levou vida mundana e dissoluta, confessando mais tarde que se tornara "um morto vivo".

Crise espiritual e busca interior

A carreira militar levou-o ao Norte da África, onde descobriu o fascínio do deserto. Mesmo afastado da religião, começou a questionar o sentido da vida. O contato com a fé dos muçulmanos o impressionou: via neles a presença de Deus no cotidiano, algo que lhe faltava.

Após regressar à França, iniciou profunda busca espiritual. Frequentando círculos intelectuais parisienses, reencontrou-se com o cristianismo graças ao testemunho de sua prima Maria de Bondy.

Acompanhado pelo abade Huvelin, confessou-se e recebeu a comunhão em 1886. Essa experiência foi decisiva: aos 28 anos, converteu-se de coração e entregou-se totalmente a Cristo.

Peregrinação e vida monástica

Desejando imitar a vida escondida de Jesus, Carlos peregrinou à Terra Santa em 1888. Em Nazaré, diante da simplicidade da vida de Cristo, compreendeu sua vocação: viver pobre, oculto e unido ao Senhor.

Ingressou na Trapa, ordem cisterciense de estrita observância, e passou sete anos em mosteiros na França e na Síria. Contudo, sentia-se chamado a uma forma ainda mais radical de pobreza e contemplação. Deixou a Trapa em 1897 e foi para Nazaré, onde viveu como eremita, trabalhando como sacristão das Clarissas.

Sacerdócio e missão no deserto

Em 1901, foi ordenado sacerdote em Viviers. Logo partiu para o deserto do Saara, estabelecendo-se em Beni-Abbés, no sul da Argélia. Ali fundou uma fraternidade de acolhida, aberta a todos, cristãos ou muçulmanos.

Seu ideal era viver como "irmão universal", reproduzindo em sua vida a presença silenciosa de Jesus em Nazaré. Visitava os nômades, partilhava sua pobreza, aprendia a língua e os costumes, sempre testemunhando o amor de Cristo sem proselitismo.

A vida em Tamanrasset

Mais tarde, transferiu-se para Tamanrasset, no coração do Hoggar. Entre os tuaregues, dedicou-se à amizade, ao serviço e ao estudo de sua cultura. Compôs um vasto dicionário e gramática da língua tuaregue, preservando a herança desse povo.

Sua casa tornou-se lugar de acolhida e refúgio. Passava horas em adoração diante da Eucaristia, da qual tirava força para a vida missionária silenciosa.

Espiritualidade de Nazaré

O núcleo de sua espiritualidade era a imitação da vida oculta de Jesus em Nazaré: humildade, simplicidade, pobreza e proximidade com os pequenos.

Sua oração constante era: "Meu Pai, eu me abandono a Vós, fazei de mim o que quiserdes". Essa entrega total tornou-se expressão de sua confiança absoluta em Deus.

Martírio

No dia 1º de dezembro de 1916, durante um período de instabilidade no Saara, sua residência em Tamanrasset foi atacada por um grupo armado. Preso, foi mantido sob vigilância, mas acabou morto por um tiro durante uma tentativa de assalto.

Morreu sozinho, sem companheiros, mas sua vida silenciosa e oferecida tornou-se semente de uma grande obra espiritual.

Reconhecimento da Igreja

Após sua morte, escritos e cartas foram publicados, revelando a profundidade de sua espiritualidade. Muitos foram tocados por seu exemplo de entrega radical a Cristo.

O Papa Bento XVI beatificou Carlos de Foucauld em 13 de novembro de 2005, reconhecendo-o como modelo de missionário contemplativo. Em 15 de maio de 2022, o Papa Francisco o canonizou, apresentando-o como santo para o mundo inteiro.

Legado espiritual

A influência de São Carlos de Foucauld é vasta:

  • Inspirou a fundação de diversas congregações e institutos seculares, como os Pequenos Irmãos de Jesus e as Pequenas Irmãs de Jesus, que vivem no espírito de Nazaré.
  • Sua vida mostra que a santidade não exige obras grandiosas, mas fidelidade no cotidiano e amor até o fim.
  • Sua figura de "irmão universal" é atual num mundo marcado por divisões, mostrando que a fraternidade nasce do coração de Cristo.

Iconografia

Na arte, é representado como eremita no deserto, com o hábito branco marcado pelo coração vermelho com a cruz, símbolo da fraternidade. Muitas vezes aparece com o cálice e a hóstia, expressão de sua vida centrada na Eucaristia.

Festa litúrgica

A memória de São Carlos de Foucauld é celebrada em 1º de dezembro, dia de seu martírio.

Oração a São Carlos de Foucauld

"Senhor Jesus, que inspirastes São Carlos de Foucauld a viver na pobreza e na simplicidade de Nazaré, fazei que, por sua intercessão, aprendamos a reconhecer-vos nos pobres e abandonados e a viver como irmãos universais. Dai-nos a graça de uma entrega total à vossa vontade e de uma vida alimentada pela Eucaristia. Vós que viveis e reinais para sempre. Amém."

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/historia-de-sao-carlos-de-foucauld/600/102/

A oração do Papa diante do túmulo de São Charbel: proteja o Líbano e o seu povo

A oração do Papa a São Charbel Maklūf  (@Vatican Media)

Visita histórica de Leão XIV ao túmulo de São Charbel, santo moldado pelo Espírito Santo "para que ensinasse a oração aos que vivem sem Deus, o silêncio aos que vivem no barulho, a modéstia aos que vivem para aparecer, a pobreza aos que buscam riquezas. São todos comportamentos que vão contra a corrente, mas é justamente por isso que nos atraem, como água fresca e pura para quem caminha no deserto".

Bianca Fraccalvieri, de Beirute

O segundo dia de Leão XIV no Líbano representa o coração espiritual da viagem. O dia começou com a oração diante do túmulo de São Charbel Maklūf. 

Sacerdote maronita e eremita, é um dos santos mais amados de todo o Oriente Médio, respeitado até mesmo por quem não é cristão. Símbolo da santidade ascética, viveu no Mosteiro de São Maroun, onde está sepultado, e é conhecido pelos muitos milagres atribuídos à sua intercessão após sua morte, especialmente pela cura dos doentes.

É interessante notar que num país de um cristianismo tão antigo, que remonta à passagem do Apóstolo Paulo nestas terras, os fiéis nutram esta devoção a um santo relativamente recente, que nasceu em 1828 e morreu em 1875, sendo beatificado e canonizado no pontificado de São Paulo VI. Aliás, este ano, celebram-se 100 anos desde que a abertura do processo.

Papa Leão diante do túmulo de São Charbel Maklūf.   (@Vatican Media)

Visitar este local é uma experiência única, primeiramente pela localização, entre as montanhas fora de Beirute, a 1200 metros de altitude, com neve no inverno. Cercado de cedros, o eremitério de pedras é o mais austero possível. Mas o que realmente impressiona é a sua cela: um tecido no chão e um tronco de madeira como travesseiro.

A sua figura, portanto, está ligada ao sofrimento silencioso e à renúncia à mundanidade, temas significativos para um Líbano em crise. A atmosfera é singular e muitos fiéis não contêm a emoção ao visitar santuário.

A oração de Leão XIV é histórica: é a primeira vez de um Papa e é um gesto de homenagem à profunda fé e esperança que perdura mesmo nas piores tribulações.

"O que São Charbel nos ensina hoje?", questionou o Pontífice, que assim respondeu: "O Espírito Santo moldou-o para que ensinasse a oração aos que vivem sem Deus, o silêncio aos que vivem no barulho, a modéstia aos que vivem para aparecer, a pobreza aos que buscam riquezas. São todos comportamentos que vão contra a corrente, mas é justamente por isso que nos atraem, como água fresca e pura para quem caminha no deserto".

Para a Igreja, o Pontífice pediu comunhão e unidade. Para o mundo, a paz.

“Imploramos a paz especialmente para o Líbano e para todo o Levante. Mas sabemos bem que não há paz sem conversão dos corações. Por isso, que São Charbel nos ajude a dirigir-nos a Deus e a pedir o dom da conversão para todos nós.”

Túmulo de São Charbel Maklūf.   (@Vatican Media)

Eis a prece pronunciada pelo Santo Padre:

Ó Deus, que concedeste a São Charbel,

guardião do silêncio na vida escondida,

ser iluminado pela luz da verdade

para sondar as profundezas do teu amor,

concede-nos, que seguindo o seu exemplo,

enfrentar no deserto do mundo o bom combate da fé

e caminhar alegremente

seguindo o teu Filho, Jesus Cristo.

Que o teu servo,

que viveu no segredo da oração

e venceu as tentações

com as armas da penitência,

nos mostre a grandeza da tua misericórdia,

que nos ensine o silêncio das palavras

e a força dos gestos que podem abrir o coração.

Que ele nos obtenha de Jesus Cristo,

que nos libertou de todo o mal,

a saúde do corpo e do espírito,

e interceda sempre por nós,

a fim de que possamos participar com os santos

no Reino eterno.

A ti a glória e o louvor,

Pai, Filho e Espírito Santo.

Amém!

Visita e Oração do Papa Leão XIV no túmulo de São Charbel:

https://youtu.be/MlqQn43-SM0

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 30 de novembro de 2025

Papa Roncalli e Santo Agostinho


J XXIII (Canção Nova) - Santo Agostinho (A12)

SAGRADOS PAPAS

Arquivo 30Dias nº 03 - 2001

Papa Roncalli e Santo Agostinho

Entrevista do Cardeal Virgilio Noé no Tg3.

A notícia do extraordinário estado de conservação dos restos mortais do Papa João XXIII, exumados trinta e oito anos após sua morte para um exame pós-beatificação em 3 de setembro, recebeu ampla cobertura da mídia.

O correspondente do Vaticano, Aldo Maria Valli, entrevistou para o Tg3 em 27 de março o Cardeal Virgilio Noé, arcipreste da Basílica Vaticana. Abaixo, publicamos extensos trechos da entrevista.

Sua Eminência, o senhor pôde acompanhar o exame post-mortem dos restos mortais do Papa João XXIII. O senhor viu seu rosto e corpo intactos, é verdade?

Virgilio Noé: Sim, acompanhei todo o processo. Começamos às 8h e terminamos por volta das 19h. É preciso lembrar que, quando um papa é sepultado, ele é colocado em três caixões: um de cipreste, um de chumbo e um de carvalho. Desatar as amarras de cada caixão foi árduo, especialmente o segundo. Os dois primeiros caixões foram abertos nas Grutas Vaticanas. O terceiro foi transferido das Grutas para uma sala chamada Depósito Altieri, onde foi aberto. Estavam presentes o Cardeal Secretário de Estado Angelo Sodano e o Subsecretário de Estado, Monsenhor Leonardo Sandri, juntamente com um pequeno grupo de funcionários, pois queríamos que tudo permanecesse o mais confidencial possível.

Quando as tábuas superiores do terceiro caixão foram removidas e o véu púrpura que cobria o rosto do Papa João XXIII foi levantado, vimos com nossos próprios olhos que o rosto do Papa era o mesmo que conhecíamos de quando ele estava vivo, trinta e oito anos antes.

Apesar da rigidez da morte, seu rosto não conservava nada da humanidade paterna que conhecíamos. Notamos então que todo o seu corpo estava intacto, ainda com sua massa muscular. Uma visão verdadeiramente impressionante.

Por que o exame foi realizado?

Virgilio Noé: Após a sua beatificação em 3 de setembro de 2000, o objetivo era transformar o Papa João XXIII de um cristão sepultado para a sua ressurreição final em um cristão que, enquanto aguardava a ressurreição, pudesse receber a veneração e o culto que a Igreja presta aos servos de Deus, independentemente da sua posição.

João XXIII será, portanto, sepultado na Basílica de São Pedro...

Virgilio Noé: Sim, e certamente não é o primeiro caso. Dentro da basílica, mesmo onde já não se sente a presença, sente-se a presença de muitos papas. Pense, por exemplo, no Papa Gregório Magno, mas também no Papa Leão IX, cujo centenário celebraremos, e depois em Pio X, Inocêncio XI e muitos outros. [...]

Voltemos àquele momento em que o último caixão foi aberto e o rosto do Papa João XXIII apareceu. Quais foram os seus sentimentos, como príncipe da Igreja, mas também como um simples cristão?

Virgilio Noé: Uma grande e afetuosa emoção. Conheci Angelo Giuseppe Roncalli quando ele era patriarca de Veneza e quando veio à minha cidade para uma celebração em honra de Santo Agostinho. E me lembro da afabilidade com que me tratou. Sentimentos que se reacendem quando nos encontramos diante da relíquia de uma pessoa que conhecemos viva e atuante entre nós, e cujo espírito também conhecemos, especialmente através de escritos maravilhosos como o Diário da Alma , um dos maiores tesouros da espiritualidade cristã.

Nunca me esqueci da serenidade do rosto do Papa João XXIII, bem retratada em suas inúmeras representações, mas menos no monumento de Emilio Greco, onde o semblante é demasiado austero. Recordamos o Papa João XXIII com grande bondade e um largo sorriso, bondade e sorriso expressos em palavras sempre construtivas.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Comentário do Evangelho: Advento (A)

Foto/Crédito: Opus Dei.

Evangelho do 1º domingo do Advento (Ano A). "Ficai preparados, porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá". O Advento é o tempo de preparação para o nascimento do Salvador. É o tempo de preparar uma morada espiritual onde possamos acolhê-lo e encher-nos dos seus dons.

30/11/2025

Evangelho (Mt 24,37-44)

Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos:

A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Pois nos dias antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem. Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será deixada.

Portanto, ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor. Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”.


Comentário

Começamos hoje o tempo de Advento, um tempo de preparação para a vinda do Senhor. A primeira vinda deu-se com a Encarnação e o nascimento do Senhor em Belém, e prolongou-se durante a sua vida terrena até a sua gloriosa Ascensão aos céus. Resta ainda, no entanto, uma nova e última vinda, aquela que professamos cada vez que recitamos o Credo: “De novo há de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos”.

Esta passagem do Evangelho fala-nos dessa sua última visita, que se dará no fim dos tempos. “A partir da Ascensão, a vinda de Cristo na glória está iminente, mesmo que não nos ‘pertença saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade’ (At 1, 7). Este advento escatológico pode realizar-se a todo o momento”[1].

Daí a advertência de Jesus para estarmos sempre preparados. Não pretende assustar-nos, e sim abrir-nos caminhos para um modo de viver mais amplo que relativiza os pequenos anseios de cada dia ao mesmo tempo que lhes atribui um valor decisivo. A vinda do Senhor pode surpreender-nos a qualquer momento, de repente, estando nós envolvidos na agitação cotidiana: “Nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E os homens de nada sabiam até o momento em que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim será também na volta do Filho do Homem” (versículos 38-39).

As suas palavras são um convite à vigilância. Sabemos que Jesus virá, mas não sabemos quando, de modo que convém estarmos sempre preparados, a todo momento, livres para ir a seu encontro, não presos pelas coisas deste mundo, mas dominando-as para que sejam caminho de santificação.

Para chamar a atenção sobre a necessidade da vigilância, Jesus propõe uma breve parábola, ambientada nas aldeias da Palestina: “se o dono da casa soubesse em que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa” (v. 43). A escuridão da noite é mais propícia para que os ladrões se aproximem sorrateiramente de casas que tinham normalmente telhado de madeira e folhagens e paredes de adobe, onde era fácil abrir um buraco pelo qual invadir a casa. Por isso, se o dono soubesse que iam vir, não estaria tranquilo, e sim atento para proteger os seus bens. Quanto mais o cristão deve permanecer vigilante para cuidar dos tesouros da fé e da graça que recebeu! “Tu, cristão – recorda São Josemaria – e por seres cristão filho de Deus, deves sentir a grave responsabilidade de corresponder às misericórdias do Senhor, com uma atitude de vigilante e amorosa firmeza, para que nada, nem ninguém possa obscurecer os traços peculiares do Amor, que Ele imprimiu na tua alma”[2].

São João Paulo II iniciava o seu Testamento encarando seriamente esta chamada de atenção do Mestre, bem consciente de que para cada um de nós chegará o momento de prestar contas da nossa vida no tribunal do Senhor: “ ‘vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor’ (Mt 24, 42) – estas palavras me recordam a última chamada, que terá lugar quando o Senhor quiser. Desejo segui-lo e desejo que tudo o que faz parte de minha vida terrena me prepare para este momento. Não sei quando acontecerá, mas como sempre, também neste momento ponho-me nas mãos da Mãe de meu Mestre: Totus Tuus”[3]. Se estivermos bem preparados, como ele, poderemos aguardar confiantes a vinda do Senhor com essa mesma serenidade e abandono nas mãos de Nossa Senhora.


[1] Catecismo da Igreja Católica, n. 673.

[2] São Josemaria, Forja, 416.

[3] São João Paulo II, Testamento, Anotação em 5/03/1990.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/gospel/2025-11-30/

Os libaneses dão as boas-vindas a "Baba Lawun"

Chegada do Papa em Beirute (Vatican Media)

Uma calorosa recepção marcou a chegada de Leão XIV, "Baba Lawun" em árabe - a Beirute, capital libanesa, segunda e última etapa da primeira viagem apostólica do Pontífice.

Bianca Fraccalvieri - de Beirute

"Baba Lawun" está no Líbano! Depois de 13 anos, o País dos Cedros volta a acolher um Pontífice e a visita é providencial. Estamos a cerca de 100km de Damasco, capital da Síria, e a mesma distância até o norte de Israel. Isso revela um pouco o contexto e a importância desta segunda etapa da viagem apostólica do Papa Leão.

Se na Turquia a ênfase foi para o ecumenismo e o diálogo inter-religioso, em Beirute o tema central é a paz, como contido no lema da visita: "Bem-aventurados os pacificadores". 

Chegada do Papa em Beirute

O Líbano enfrenta uma das piores crises econômicas da história moderna, com inflação e uma desvalorização dramática da moeda local. Há falta de serviços: frequentes quedas de energia, escassez de medicamentos e combustível. Une-se a isso a corrupção estrutural e a presença no território de aproximadamente dois milhões de refugiados, entre sírios e palestinos - o que representa cerca de um terço da população, agravando as tensões sociais.

Na ausência do Estado, instituições religiosas, sobretudo aquelas ligadas à Igreja Católica, desempenham um papel vital no apoio à população. 

O anfitrião do Pontífice, Beatitude Card. Béchara Boutros Raï, Patriarca Maronita, assim comenta esta visita: "O Santo Padre traz consigo as dimensões espirituais, as dimensões morais, e não vem de mãos vazias, vem cheio de dons espirituais e morais. Para mim, este é um apelo pessoal, a cada um de nós libaneses, um apelo para mudar, para virar página e abrir uma nova, a página da paz, da esperança. Não podemos viver como se nada tivesse acontecido. O Papa vem, as cerimônias são realizadas, a recepção é feita, ele vai embora, tudo volta ao ponto anterior. Não, esperemos que os libaneses reflitam um pouco e apreciem o valor desta visita, porque o Santo Padre sabe que o Líbano está passando por um momento muito, muito crítico". 

O regime democrático e o pluralismo confessional distinguem o Líbano de todos os países do Oriente Médio. De fato, os primeiros eventos de Leão XIV são dedicados às instituições políticas, com a cerimônia de boas-vindas no aeroporto, a visita ao presidente do país, Joseph Aoun, que, segundo a Constituição, deve ser sempre um cristão maronita. Depois, é a vez do presidente da Assembleia Nacional, Nabih Berri, e do encontro com o primeiro-ministro, Nawaf Salam. Deste modo, o Papa terá se reunido com os representantes dos três pilares do sistema confessional libanês: maronita, xiita e sunita. 

O último compromisso será o encontro com as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático, ocasião em que pronunciará seu primeiro discurso no Líbano.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Na Turquia, Leão XIV desfruta da dimensão internacional de sua “profissão” como Papa

HANDOUT | AFP

Hugues Lefèvre - publicado em 28/11/25 - atualizado em 28/11/25

O Papa Leão XIV iniciou ontem uma viagem de seis dias pela Turquia e pelo Líbano. Após concluir uma primeira rodada diplomática em Ancara, Leão XIV assume plenamente as funções de chefe de Estado.

Na primeira viagem apostólica de seu pontificado, os 82 jornalistas que viajavam a bordo do Airbus A320neo rumo a Ancara o aguardavam “como um Messias”. Pouco depois da decolagem, ele apareceu sorridente diante do mar de câmeras, celulares e microfones. Pouco mais de seis meses após sua eleição, Leão XIV acrescenta uma nova linha ao seu currículo papal ao cumprir duas promessas deixadas por seu predecessor Francisco: celebrar os 1700 anos do Concílio de Niceia, na Turquia, e consolar um Líbano exausto após anos de crise.

De pé no avião, diante da imprensa, o Papa falou serenamente em inglês. É provável que as improvisadas coletivas de imprensa das noites de terça-feira em Castel Gandolfo tenham treinado esse homem que, antes do conclave, era muito discreto com os meios de comunicação.

Agora, como Papa, ele retoma tradições estabelecidas por seus predecessores, como a de apresentar aos jornalistas do voo papal as mensagens essenciais da viagem que se inicia. “Na Turquia e no Líbano queremos anunciar, transmitir e proclamar o quanto a paz é importante para o mundo”, declarou aos jornalistas internacionais, antes de mencionar a importância da “unidade dos cristãos” e da busca pela “harmonia”, apesar das diferenças.

Seguindo os passos do Papa Francisco, percorreu depois o corredor central para cumprimentar um a um os jornalistas especializados no Vaticano que viajavam a bordo. Esse momento único de proximidade com o Papa gerou cenas inusitadas, como ver Leão XIV receber um taco de beisebol — um presente original para um papa fã dos White Sox de Chicago, sua cidade natal.

No entanto, a cordialidade desse primeiro encontro nas alturas contrastou com a frieza da recepção em Ancara. Na pista do aeroporto e ao longo de todo o trajeto do comboio papal, não se percebeu entusiasmo algum. Sem dúvida, Leão XIV terá de esperar o Líbano para experimentar o impacto que a visita de um Papa pode ter numa população fervorosa.

ANDREAS SOLARO | AFP

Um primeiro discurso muito político

Na capital turca, o Papa assumiu plenamente sua função de chefe de Estado. Seu primeiro gesto foi depositar uma coroa de flores no túmulo de Mustafa Kemal Atatürk (1881–1938), fundador e primeiro presidente da República da Turquia. A iniciativa não é nova — seus predecessores também o fizeram —, mas adquire forte simbolismo diante da evolução da Turquia de Erdogan. Enquanto o país viveu, nos últimos anos, uma guinada autoritária e avança na islamização da sociedade, o Papa prestou homenagem, ao final da tarde, ao artífice da Turquia laica.

Em seu discurso diante do presidente turco e das autoridades nacionais, o novo Papa não hesitou em transmitir algumas mensagens de advertência, ainda que de forma sutil. “Uma sociedade só está viva se for plural”, declarou sob a majestosa cúpula da Biblioteca Nacional, erguida no gigantesco complexo do Palácio Presidencial construído por Erdogan.

Esse discurso, de forte peso diplomático, foi a ocasião para o Papa recordar a responsabilidade da Turquia no âmbito geopolítico. Enquanto o presidente turco busca influenciar a nova ordem mundial — em particular no conflito entre Rússia e Ucrânia e na situação em Gaza —, o Papa expressou o desejo de que o país seja “um fator de estabilidade e de aproximação entre os povos, a serviço de uma paz justa e duradoura”.

Quanto ao destino das minorias cristãs na Turquia, o Papa lembrou, com diplomacia, que os cristãos estão presentes no país desde os primórdios do cristianismo e que “são e se sentem parte integrante da identidade turca”.

Após a etapa altamente protocolar em Ancara, Leão XIV inicia amanhã sua peregrinação ecumênica, encontrando seus irmãos cristãos em Iznik. Diante das ruínas de uma antiga basílica erguida em Niceia — a antiga Iznik —, recitará o Credo. O chefe do menor Estado do mundo se apresentará, desta vez, como sucessor de Pedro.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/11/28/na-turquia-leao-xiv-desfruta-da-dimensao-internacional-de-sua-profissao-como-papa/

Nove dados sobre santo André apóstolo

Santo André. Domínio Público.

Por Redação central

30 de nov de 2025 às 01:00

A Igreja celebra hoje (30), a festa de santo André apóstolo um dos discípulos mais próximos de Jesus.

Conheça um pouco mais sobre este apóstolo, padroeiro do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, que ajuda na unidade entre católicos e ortodoxos.

1. Ele é o irmão de são Pedro

Santo André é mencionado regularmente na Bíblia depois de Simão Pedro, o que sugere que ele era o irmão mais novo de são Pedro.

Como seu irmão e os outros apóstolos Tiago e João, André foi inicialmente um pescador no mar da Galileia.

2. Seu nome vem do grego

O nome André (grego, Andreas) está relacionado com a palavra grega para "varão" (Aner, ou, no genitivo, Andros), homem por oposição a “mulher”, não no sentido de ser humano que é antropos.

Durante a audiência geral em 14 de junho de 2006, o papa emérito Bento XVI destacou que a origem grega e não hebraica do nome deste apóstolo é "sinal de que não deve ser minimizada uma certa abertura cultural da sua família".

O fato de seu pai, Jonas, ter dado a seu filho mais velho (Simão) um nome hebraico e a seu filho mais novo (André) um nome grego reflete o ambiente misto de judeus e gentios da Galileia.

3. Ele era um dos discípulos mais próximos de Jesus

Nos evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) e no livro dos atos, os doze apóstolos são sempre listados em três grupos de quatro indivíduos.

O primeiro desses grupos indica os mais próximos de Jesus e é formado por dois pares de irmãos: Pedro e André, filhos de Jonas; e Tiago e João, filhos de Zebedeu.

4. Foi um dos primeiros a seguir Jesus

Santo André seguiu Jesus antes de seu irmão Pedro. Na verdade, ele foi um dos dois primeiros discípulos de João Batista que se encontraram com Jesus, segundo o Evangelho de São João.

O papa Bento XVI comentou que André era “verdadeiramente um homem de fé e de esperança; e certa vez, de João Batista ouviu proclamar Jesus como ‘o cordeiro de Deus’ (Jo 1, 36); então ele voltou-se e, juntamente com outro discípulo que não é nomeado, seguiu Jesus”.

André foi o primeiro dos apóstolos a ser chamado a seguir Jesus e a liturgia da Igreja Bizantina o honra com o apelido de "Protóklitos", que significa precisamente "o primeiro chamado" em grego.

5. Foi ele quem apontou a presença dos pães e peixes

O papa emérito disse: “as tradições evangélicas recordam particularmente o nome de André noutras três ocasiões, que nos fazem conhecer um pouco mais esse homem. A primeira é a da multiplicação dos pães na Galileia”.

“Naquele momento foi André quem assinalou a Jesus a presença de um jovem que tinha cinco pães de cevada e dois peixes: era muito pouco observou ele para todas as pessoas reunidas naquele lugar”, acrescentou.

André reconheceu de maneira realista a insuficiência de seus mínimos recursos, mas Jesus os tornou suficientes para a multidão de pessoas que tinham vindo ouvi-lo.

6. Nos ensina a não ter medo de perguntar a Jesus

A segunda vez em que santo André é mencionado é em Jerusalém, onde junto com Pedro, Tiago e João pediram a Jesus que explicasse por que não ficaria pedra sobre pedra dos enormes muros que sustentavam o templo.

Em resposta, Jesus fez um discurso importante sobre a destruição de Jerusalém e o fim do mundo, no qual pediu aos seus discípulos que fossem sábios na interpretação dos sinais dos tempos e estivessem constantemente em guarda.

Santo André ensina que não se deve ter medo de fazer perguntas a Jesus, mas é preciso estar disposto a aceitar até os ensinamentos surpreendentes e difíceis que ele nos oferece, disse o papa Bento XVI.

7. Ele é considerado o Apóstolo dos Gregos

O papa Bento XVI destacou que algumas tradições muito antigas consideram santo André o apóstolo dos gregos nos anos posteriores a Pentecostes, fato que nos permite saber que pelo resto de sua vida foi pregador e intérprete de Jesus para o mundo grego.

8. Junto com Pedro, simbolizam a unidade entre católicos e ortodoxos

Pedro, seu irmão, viajou de Jerusalém passando por Antioquia e chegou a Roma para exercer sua missão universal; André foi o apóstolo do mundo grego. Por isso, na vida e na morte eles aparecem como verdadeiros irmãos, uma fraternidade que se expressa simbolicamente na especial relação recíproca da Sé de Roma e de Constantinopla, que são verdadeiras Igrejas irmãs.

Um exemplo é a visita do patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, ao papa Francisco por ocasião de sua eleição para o pontificado.

Como sucessor de são Pedro, o papa destacou o papel do patriarca Bartolomeu como sucessor de santo André e se referiu a ele como “meu irmão André”, em referência aos irmãos apóstolos.

9. Ele morreu em uma cruz diagonal

Santo André morreu em Patras, Grécia, onde pediu para ser crucificado em uma cruz diagonal ou em forma de X, que é conhecida como a “cruz de santo André".

Segundo a história antiga "A Paixão de André", que remonta ao início do século VI, o apóstolo rezou "Salve, ó Santíssima Cruz inaugurada por meio do corpo de Cristo e adornada com os seus membros como pérolas preciosas! Antes que o Senhor subisse a ti, provocavas um medo terreno. Agora, dotada de um amor celestial, te convertestes em um dom”.

“Os crentes sabem quanta alegria possuis, quantos presentes tens preparados. Por isso, seguro e cheio de alegria, venho a ti para que também me recebas exultante como discípulo daquele que foi pendurado em ti”.

A oração mostra uma espiritualidade cristã muito profunda, onde a cruz não é vista como um instrumento de tortura, mas sim como o meio incomparável para a configuração perfeita do Redentor, do grão de trigo que caiu na terra.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/50443/nove-dados-sobre-santo-andre-apostolo

EDITORIAL: Em Jerusalém, humildemente como irmãos

Encontro Ecumênico de Oração nas escavações arqueológicas da antiga Basílica de São Neófito em Iznik.  (@Vatican Media)

O anúncio e o convite do Sucessor de Pedro aos outros cristãos para o Jubileu da Redenção de 2033.

Andrea Tornielli

O Papa, que quis gravar em seu lema episcopal o apelo à unidade em Cristo, convidou todos os cristãos a realizarem juntos uma viagem espiritual. Uma peregrinação comum rumo ao Jubileu da Redenção de 2033, na perspectiva de um retorno a Jerusalém, às origens da nossa fé.

Há dois dias, em Iznik, a antiga Nicéia, os líderes de muitas confissões cristãs rezaram juntos a convite do Patriarca de Constantinopla Bartolomeu para comemorar o 1700º aniversário do primeiro concílio ecumênico. Uma cerimônia breve e sugestiva, que se realizou perto dos restos da basílica de São Neófito, ressurgidos das águas do grande lago. Aquele encontro de líderes de diferentes confissões cristãs tinha um sabor evangélico: nas margens de outro lago, o de Tiberíades, ocorreu boa parte da pregação de Jesus. Caminhando por aquelas margens, o Nazareno chamou Pedro e André, dois pescadores, tornando-os seus apóstolos.

Mas a beleza cênica do lugar, juntamente com a profundidade do gesto que uniu em oração católicos, ortodoxos e protestantes, não foram suficientes para fazer passar em segundo plano a dolorosa ferida das ausências. Por isso, menos de vinte e quatro horas depois, Leão XIV, ao encontrar novamente alguns dos líderes cristãos presentes em Iznik, agradeceu-lhes, desejando que se gerassem novos encontros e momentos como o que acabara de viver, mesmo com as Igrejas que não puderam estar presentes.

A proposta do Bispo de Roma é celebrar juntos os dois mil anos da morte e ressurreição de Jesus e do nascimento da Igreja no Cenáculo de Jerusalém. É o convite humilde e corajoso que o Sucessor de Pedro dirige a todos, para ir além de Nicéia e voltar às origens da fé, ao lugar onde tudo começou. Leão recordou a primazia da evangelização e do anúncio do kerygma e lembrou mais uma vez como a divisão entre os cristãos é um obstáculo ao seu testemunho.

Voltar a Jerusalém significa voltar ao sacrifício do Gólgota e ao túmulo encontrado vazio pelas mulheres na manhã de Páscoa. Significa voltar ao lugar da Última Ceia, onde Jesus, depois de lavar os pés aos apóstolos, partiu o pão com eles. Significa voltar ao lugar do Pentecostes, quando um pequeno grupo de homens desapontados e amedrontados foi transformado no motor do anúncio evangélico: eles estavam desolados após a morte de seu Mestre, mas no Cenáculo e depois nas margens do lago de Tiberíades eles o encontraram ressuscitado e vivo. No Cenáculo, receberam o Espírito Santo que os transformou em missionários incansáveis, dispostos a dar a vida para anunciar que aquele Homem morto na cruz ressuscitou e é o Filho de Deus.

Voltar a Jerusalém significa, portanto, tornar-se peregrinos, juntos, para se encontrar no Cenáculo. Para recordar, todos juntos, o que realmente importa. Significa deixar de lado o que não é essencial: as incrustações da política eclesiástica, as rivalidades e reivindicações, as estratégias, os nacionalismos, os colateralismos e tantas tradições humanas que nos separaram. Significa superar as divisões, reencontrando o coração da mensagem evangélica. Porque é disso que a Igreja precisa e o mundo precisa. “Quanta necessidade de paz e reconciliação há ao nosso redor, e também em nós e entre nós!”, disse o Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, na presença do Patriarca de Constantinopla, Sucessor de André. Reencontrar-se humildemente, como irmãos unidos a serviço uns dos outros, para repetir juntos as palavras do Pescador da Galiléia: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 29 de novembro de 2025

Concílio de Niceia: 1,7 mil anos de unidade cristã em meio à divisão

Concílio de Nicéia em 325 d.C., conforme retratado em um afresco na Sala Sistina no Vaticano. | Giovanni Guerra (1544-1618), Cesare Nebbia (1534-1614) e aiuti, Domínio público, via Wikimedia Commons

Por Tyler Arnold*

28 de nov de 2025 às 16:45

No verão de 325 d.C., cerca de 300 bispos se reuniram em Niceia então uma cidade grega do Império Romano no que hoje é parte da Turquia, para promulgar um credo cristão comum, resolver disputas cristológicas que surgiram da heresia ariana e promover a unidade na Igreja.

O primeiro concílio ecumênico, conhecido como Concílio de Niceia, ainda é aceito como autoridade pela Igreja Católica, pela Igreja Ortodoxa e por muitas denominações protestantes. As crenças comuns ainda oferecem um forte elemento de unidade num cristianismo que, de outro modo, estaria fragmentado 1,7 mil anos depois.

No Concílio, os bispos estabeleceram o Credo Niceno, que é a profissão de fé ainda recitada na missa católica, nas liturgias ortodoxas e em alguns cultos protestantes. O Credo rejeitou as afirmações heréticas dos arianos de que Cristo era um ser criado e, em vez disso, confirmou que o Filho é eternamente gerado pelo Pai e é Deus com o Pai e o Espírito Santo.

O concílio foi convocado pelo imperador romano Constantino — um convertido ao cristianismo — menos de 15 anos depois de ele ter cessado a perseguição aos cristãos e lhes ter concedido a liberdade de culto. Ocorreu só 20 anos depois do reinado do imperador Diocleciano, que perseguiu brutalmente os cristãos pela rejeição deles ao paganismo.

“Esse concílio é uma etapa fundamental no desenvolvimento do credo compartilhado por todas as Igrejas e comunidades eclesiais”, disse o papa Leão XIV há duas semanas, falando sobre o 1.700º aniversário.

“Embora estejamos no caminho para o restabelecimento da plena comunhão entre todos os cristãos, reconhecemos que essa unidade só pode ser unidade na fé”, disse o papa.

A heresia ariana

O principal objetivo do concílio era resolver uma questão importante sobre a natureza divina de Cristo e combater o arianismo, heresia promovida pelo sacerdote Ário que dizia que Jesus Cristo era um ser criado e não eterno.

“Ário começou a pregar algo que era escandaloso para muitos cristãos e que parecia incompatível com a fé cristã, conforme testemunhada nas Escrituras e transmitida pela tradição da Igreja”, disse à EWTN, o padre dominicano Dominic Legge, diretor do Thomistic Institute e professor de teologia.

Ário escreveu em Thalia que acreditava que o Pai "criou o Filho" e "o gerou como filho para si mesmo". Ele escreveu que "o Filho nem sempre existiu, pois não existia antes de sua geração". Ele disse que Cristo não era eterno, mas "veio à existência pela vontade do Pai". Ário disse que Cristo "não é o verdadeiro Deus", mas sim "se tornou Deus por participação".

Legge disse que Ário entendia que “existe um abismo infinito entre Deus e as criaturas”, mas seu erro estava em “pensar que o Filho estava do lado das criaturas desse abismo” e “não era igual a Deus em divindade”.

“Portanto, ele o considerava a criatura mais elevada”, disse Legge. “A primeira criatura, mas ainda assim uma criatura”.

Legge disse que em Niceia havia “um consenso entre os bispos com abordagens muito diferentes ao mistério de Deus, e eles perceberam que Ário estava errado e, portanto, o condenaram e afirmaram que o Filho é Deus de Deus, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus”.

A linguagem adotada em Niceia contradizia expressamente Ário, dizendo que Cristo é “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado e não criado, consubstancial ao Pai”. Condenava a visão de Ário como heresia. A votação foi quase unânime, com cerca de 300 bispos votando a favor desse texto e só dois concordando com Ário.

Santo Atanásio, um dos oponentes mais veementes do arianismo no concílio e no período subsequente, escreveu em seu Primeiro Discurso Contra os Arianos, em meados do século IV d.C., que "as Escrituras declaram a eternidade do Filho".

Atanásio disse, por exemplo, que o evangelho de São João diz que “no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Ele cita o capítulo oitavo do mesmo Evangelho, no qual Cristo diz que “antes que Abraão existisse, Eu Sou”, invocando o nome divino usado por Deus para indicar Sua eternidade quando apareceu a Moisés como a sarça ardente.

“O próprio Senhor diz: Eu sou a Verdade, não Eu me tornei a Verdade, mas sempre: Eu sou — Eu sou o Pastor — Eu sou a Luz — e ainda: Não me chamam de Senhor e Mestre? E me chamam bem, pois assim o sou”, escreveu santo Atanásio. “Quem, ao ouvir tal linguagem de Deus, da Sabedoria e da Palavra do Pai, falando de si mesmo, hesitará por mais tempo diante da verdade e não crerá imediatamente que na frase Eu Sou está implícito que o Filho é eterno e sem princípio?”

Legge disse que santo Atanásio também alertou que a posição de Ário "ameaçava a verdade central do cristianismo de que Deus se fez Homem para nossa salvação".

Unificando a Igreja no século IV d.C.

Antes do Concílio de Niceia, os bispos da Igreja fizeram muitos sínodos e concílios para resolver disputas que surgiam dentro do cristianismo.

Entre eles, houve o Concílio de Jerusalém, concílio apostólico detalhado em Atos 15, e muitos concílios locais que não representavam toda a Igreja. Os concílios regionais “têm uma espécie de autoridade vinculativa — mas não são globais”, segundo Thomas Clemmons, professor de história da Igreja na Universidade Católica da América.

Quando o império romano cessou a perseguição aos cristãos tornou-se possível "a oportunidade de um concílio ecumênico mais amplo", disse Clemmons à CNA.

Constantino percebeu a necessidade de "um certo senso de unidade", disse ele, num momento marcado por disputas teológicas, debates sobre a data da Páscoa, conflitos sobre jurisdições episcopais e questões de direito canônico.

“O papel dele era unificar e resolver as outras questões”, disse Clemmons.

A busca pela unidade ajudou a produzir o Credo Niceno, que, segundo Clemmons, "ajuda a esclarecer o que a linguagem bíblica mais familiar não esclarece".

Nem o concílio nem o credo foram universalmente adotados imediatamente. Clemmons disse que a adoção foi mais rápida no Oriente, mas demorou mais no Ocidente. Houve várias tentativas de revogar o concílio, mas Clemmons disse que "será a tradição posterior que o confirmará".

“Não sei se a importância disso foi compreendida” na época, disse ele.

A disputa entre arianos e defensores do Concílio de Niceia foi tensa no meio século seguinte, com alguns imperadores apoiando o credo e outros apoiando o arianismo. No fim, disse Clemmons, o credo “convence as pessoas ao longo de muitas décadas, mas sem a imposição imperial que se esperaria”.

Foi só em 380 d.C. que o imperador Teodósio declarou o cristianismo niceno como a religião oficial do império romano. Um ano depois, no Primeiro Concílio de Constantinopla, a Igreja reafirmou o Concílio de Niceia e atualizou o Credo Niceno, com textos sobre o Espírito Santo e a Igreja.

Conceitos errôneos comuns

Existem algumas ideias errôneas bastante comuns sobre o Concílio de Niceia que são frequentes na sociedade moderna.

Clemmons disse que a alegação de que o Concílio de Niceia estabeleceu o cânone bíblico “é provavelmente o equívoco mais óbvio”. Esse assunto não foi debatido em Niceia e o concílio não promulgou nenhuma doutrina sobre a questão.

Outra ideia equivocada, disse ele, é a noção de que o concílio estabeleceu a Igreja e o papado. Os ofícios episcopais, como o do papa, bispo de Roma, já existiam e estavam em funcionamento muito antes de Niceia, embora o concílio tenha resolvido algumas disputas jurisdicionais.

Outra ideia equivocada, segundo Clemmons, é a suposta “novidade” do processo e das doutrinas. Ele disse que os bispos frequentemente se reuniam em concílios locais e que as doutrinas definidas em Niceia eram simplesmente “a confirmação da fé da Igreja primitiva”.

*Tyler Arnold é repórter do National Catholic Register. Já trabalhou no site de notícias The Center Square e suas matérias foram publicadas em vários veículos, incluindo The Associated Press, National Review, The American Conservative e The Federalist.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/65689/concilio-de-niceia-17-mil-anos-de-unidade-crista-em-meio-a-divisao

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF