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quinta-feira, 4 de março de 2021

São Casimiro

S. Casimiro | ArqSP
04 de março
Casimiro nasceu na Croácia no dia 03 de outubro de 1458 e era o décimo terceiro filho do rei da Polônia, Casimiro IV, e da rainha Elisabete d'Asburgo. Ele poderia muito bem colocar sobre a cabeça uma coroa e reinar sobre um território, como todos os seus doze irmãos o fizeram. Porém, apesar de possuir os títulos de príncipe da Polônia e grão-duque da Lituânia, não seguiu esse caminho. Desde pequeno abriu mão do luxo da corte, suas ricas festas e todas as facilidades que a nobreza proporcionava. Fez voto de castidade e vivia na simplicidade do seu quarto, que transformou numa cela como a de um eremita, dedicando-se à oração, disciplina, penitência e solidão.

Quando os húngaros se rebelaram contra o seu rei, Mateus Corvino, e ofereceram ao jovem príncipe Casimiro, então com treze anos, a coroa, ele a renunciou tão logo soube que seu pai havia se declarado contra a deposição daquele rei e a imposição pela força de outro, no caso ele. O príncipe tinha de fato apenas uma ambição, se é que assim pode ser chamada, dedicar-se ao ideal da vida monástica.

Entretanto não fugia dos deveres políticos, tendo ajudado o pai nos negócios do reino desde os dezessete anos, principalmente nos problemas referentes à Lituânia, onde era muito querido pelo povo. Com a conversão do rei da Hungria que abdicou para entrar num mosteiro, o rei Casimiro IV, seu pai, herdou esses domínios que incluíam além da Hungria a Prússia. Porém, isso também não entusiasmou o jovem príncipe a se coroar. Desde a infância levava uma vida ascética, muito humilde, jejuando continuamente e dormindo no chão, por isso sua saúde nunca foi perfeita.

Dessa forma, jovem príncipe acabou contraiu a tuberculose. Mesmo assim seu pai lhe cofiou a regência do reino, por um breve período. O rei desejando ampliar ainda mais os domínios do já imenso império, pretendia firmar um contrato de matrimonio para o filho com a bela e rica herdeira de Frederico III, cujas fronteiras passariam as ser mar Báltico e o mar Negro, realizando seu velho sonho. Por isso precisava se ausentar, pois queria tratar pessoalmente de tão delicado assunto.

Casimiro, como príncipe regente, não se furtou às obrigações junto ao seu amado povo. Cumpriu a função com inteligente política, todavia sem se deixar seduzir pelo poder. Depois, o rei teve de se conformar, porque Casimiro preferiu o celibato e o tratado do matrimônio foi desfeito. Ele preferiu ser lembrado por ficar entre os pobres de espírito, entre aqueles que receberam o reino de Deus, do que ser recordado entre os homens famosos e poderosos que governaram o mundo.

Morreu aos vinte e cinco anos de idade e foi sepultado em Vilnius, capital da Lituânia, em 04 de março de 1484. Logo passou a ser venerado por todo o povo polonês, lituano, húngaro, russo. Seu culto acabou sendo introduzido na Europa ocidental através dos peregrinos que visitavam sua sepultura. Menos de quarenta anos após sua morte já era canonizado pelo Papa Leão X. São Casimiro foi declarado padroeiro da Lituânia e da juventude lituana; também da Polônia, onde até hoje é considerado um símbolo para os cristãos, que o veneram como o protetor dos pobres.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

quarta-feira, 3 de março de 2021

Cidade alemã instala “ninhos” para abrigar moradores de rua

@ulmernest
por Dolors Massot

Mais um exemplo de que os avanços da ciência e da engenharia podem ajudar os mais vulneráveis.

Autoridades de Ulm, no sul da Alemanha, estavam preocupados com os muitos moradores de rua da cidade durante seus invernos gelados. Mas, felizmente, eles encontraram uma solução brilhante para ajudar os sem-teto.

Para se ter uma ideia, de dezembro a fevereiro, a temperatura máxima em Ulm fica abaixo de 4ºC, enquanto a mínima fica sempre abaixo de zero. Com este frio, tanto a Câmara Municipal de Ulm quanto a Caritas (uma federação católica internacional de organizações de caridade) pensaram em uma forma de ajudar os desabrigados.

Os “ninhos” de Ulm

A solução? Instalar, nas ruas, abrigos futuristas que parecem cápsulas espaciais. De fato, os abrigos foram batizados de “ninhos”. Em cada um deles, há espaço para uma pessoa deitar e dormir protegida do frio.

Um caminhão da prefeitura ajudou na instalação dos primeiros “ninhos” em 8 de janeiro deste ano. Era um projeto planejado por Ulm no ano passado, mas a pandemia o atrasou.

Os “ninhos” estão sendo colocados em parques e praças públicas. Quem precisa pode usá-los, para que ninguém fique ao ar livre à noite. Eles fornecem isolamento, privacidade e proteção contra condições climáticas adversas.

A Caritas Ulm-Alb-Donau (parte da associação diocesana Caritas Rottemburg-Stuttgart) utiliza um sensor de movimento para detectar quando alguém está usando uma cabine. Um voluntário, então, verifica quando ela está livre novamente e a deixa pronto (com medidas anti-Covid) para a próxima pessoa.

As cápsulas, feitas de madeira e aço, estão equipadas com painéis solares que garantem o aquecimento.

Ninguém deve ficar de fora

Trata-se, portanto, de um sistema complementar de ajuda aos moradores de rua que não querem (ou não podem) pernoitar num abrigo partilhado, conforme explicam a Caritas e o município de Ulm.

De fato, no inverno de 2019/2020, antes de serem instalados, eles foram testados e o feedback foi positivo tanto entre moradores de rua quanto entre moradores da cidade.

A Caritas, neste sentido, tem aplicado a política de não descartar absolutamente nem um morador de rua, um princípio de que frequentemente fala o Papa Francisco.

Em suma: na cidade onde Albert Einstein nasceu, eles encontraram uma maneira de aplicar os avanços da arquitetura e da engenharia a serviço dos mais vulneráveis.


Aleteia


Espanha perde um terço de seus seminaristas em apenas duas décadas

Guadium Press
Dia São José, Dia do Seminário. Os bispos espanhóis têm pouco a comemorar, muito a pensar, bastante a rezar: no país, os seminaristas talvez não chegam a mil.

Redação (02/03/2021, 17:10, Gaudium Press) No dia 19 de março, Solenidade de São José, é comemorado o Dia do Seminário. Este ano sob o lema “Pai e irmão, como São José”.

O objetivo desta jornada é refletir a figura de São José, pelos sacerdotes, em um ano em que, como se sabe, este santo assumiu um protagonismo maior, depois que o Papa declarou o Ano de São José.

Dados referentes a 2019-2020, indicam queda no número de seminaristas

Os dados não convidam ao otimismo.
Depois de semanas de solicitá-los, a Conferência Episcopal publicou os dados correspondentes ao ano letivo 2019-20, onde se verifica uma queda acentuada do número de seminaristas. Hoje eles são apenas 1.128.

Ou seja, um terço a menos do que no início do século, quando os seminaristas espanhóis eram 1.736. E que, então, já se sentia o declínio, mitigado alguns anos depois pela última visita de João Paulo II.

Chegamos a mil seminaristas na Espanha?

A crise não para por aí.
Diante do impacto do coronavírus e das dificuldades que estão sendo observadas, alguns responsáveis ​​pelos seminários, em privado, se perguntam: Chegamos a mil seminaristas na Espanha?

A Conferência Episcopal ainda não publicou os dados relativos ao presente ano letivo, mas informações vindas de diferentes fontes, sugerem que, pela primeira vez na história, o número de seminaristas poderia ter diminuído para mil, ou menos que isso.

O assunto foi abordado na última Comissão Permanente do Episcopado Espanhol, quando os bispos conheceram em primeira mão os novos e preocupantes dados.

Haverá meios para solucionar essa situação?

A CEE lançou o Plano de Formação Sacerdotal “Formando Pastores Missionários”, com o qual a Comissão Episcopal para o Clero e os Seminários quer realizar uma profunda renovação formativa nos seminários.

Soluções? Elas não aparecem à vista e nem existe algum debate sobre isso, embora alguns bispos tenham a esperança de que, depois da pandemia, haja um retorno à religiosidade e as vocações ao sacerdócio voltem a surgir. (JSG)

(Da Redação Gaudium Press, com informações e foto Religión Digital)

https://gaudiumpress.org/

CORONAVÍRUS: NÚMERO DE PADRES DIOCESANOS POSITIVADOS CHEGA A 1,3 MIL NO BRASIL; DOENÇA JÁ VITIMOU 65

Internet | CNBB

A Comissão Nacional de Presbíteros (CNP), vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), divulgou nesta terça-feira, 2 de março, o número de padres diocesanos do Brasil acometidos pela Covid-19. O levantamento, realizado em fevereiro, traz a confirmação de 1390 positivados e 65 mortes, totalizando 1455 casos da doença. Os dados, apresentados pela CNP, foram consolidados com base em consultas aos regionais da CNBB.

Conforme o balanço, o regional Sul 1 da CNBB que compreende o Estado de São Paulo, é o que mais contabiliza infecções de padres por Covid-19 (168). Com relação ao número de mortes, o regional Leste 1, que corresponde ao Estado do Rio de Janeiro, e o regional Norte 2, que compreende os Estados do Pará e Amapá, são os que mais contabilizam óbitos, ambos com 12 cada.

Em segundo lugar, por número de infecções, o regional Centro-Oeste que abrange o Goiás e o Distrito Federal registra 136 casos positivados. Já com relação ao número de mortes, o Sul 1 também fica em segundo lugar com o número de 7 óbitos.

Ocupando o terceiro lugar, por número de infecções, está o Nordeste 2, que abrange os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Pernambuco (130). Levando em consideração o número de óbitos, em terceiro lugar, estão os regionais Norte 1 (Amazonas e Roraima), Nordeste 2, e Leste 2, ambos com 5 óbitos cada.

Confira (aqui) o balanço da CNP na íntegra.

Episcopado Brasileiro

No episcopado brasileiro, a Covid-19 também tem feito vítimas. Desde o início da pandemia no país, três bispos já tiveram o óbito confirmado pela doença. O caso mais recente foi o do arcebispo emérito do Rio de Janeiro, cardeal Eusébio Oscar Scheid, que faleceu no dia 13 de janeiro (relembre o caso).

Além dele, dom Henrique Soares da Costa, bispo de Palmares (PE) faleceu em 18 de julho, aos 57 anos de idade (relembre o caso). Dom Aldo Pagotto, arcebispo emérito da Paraíba, também teve o óbito confirmado pela doença. O bispo faleceu em abril, aos 70 anos de idade (relembre o caso).

Pan-Amazônia

Como acontece toda semana, a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, tem lançado o informe semanal que recolhe os números da Covid-19 na Pan-Amazônia. Até 1º de março de 2021, segundo os números oficiais, os casos já chegaram em 2.174.226 e os falecidos são 53.983 desde o início da pandemia.

Na última semana, na Região Pan-amazônica, o aumento dos casos foi de 60.003 e os óbitos foram 1.535. Comparando os números com a semana anterior, vemos que tanto os contágios como os falecidos têm se reduzido mais de 25 %.

No Regional Norte 1 da CNBB, o número de casos é de 366.400 e os óbitos 11.598. Nos últimos 7 dias, nas dioceses e prelazias que fazem parte do Regional Norte 1, os casos foram 11.269 e os falecidos chegaram em 427. Mesmo sendo uma situação grave, com uma média de 61 falecidos por dia e 1.609 casos a cada 24 horas, os números vão descendo nos últimos dias.

CNBB

São José na arte: a enigmática figura do pai terreno de Jesus

Stefano_Valeri | Shutterstock
por Elizabeth Lev

Por suas características particulares, a figura discreta e silenciosa de São José esteve ausente da arte cristã nos primeiros 200 anos da vida da Igreja.

São José é uma referência na arte e espiritualidade católica. Ele não é apenas o patrono da Igreja, mas de todos que o invocam em um fluxo constante de orações. No entanto, nem sempre foi assim – José passou muitos séculos esperando nos bastidores até que seu momento brilhasse.

O Papa Francisco dedicou o ano de 2021 a São José e, em sua homenagem, esta série explorará as muitas representações diferentes de José que foram criadas conforme ele era invocado para proteger a Igreja e os ensinamentos de Jesus.


São José esteve ausente da representação da arte cristã nos primeiros 200 anos da vida da Igreja. Em suas representações da Natividade e da visita dos Magos, os primeiros cristãos pareciam esquecer José completamente. Os escultores cristãos representaram meticulosamente boi e jumento, estábulo e palha, manjedoura e panos, mas deixaram Maria sozinha para apresentar Cristo aos pastores e reis.

A invisibilidade de José, no entanto, serviu a um propósito importante: enfatizar a divindade de Cristo e o nascimento da Virgem para os gentios.

Mundo greco-romano

O mundo greco-romano fervilhava de deuses mitológicos que geravam filhos, então “Filho de Deus” soava aos ouvidos pagãos como se alguma divindade atingida pela luxúria tivesse seduzido outra donzela mediterrânea.

A virgindade de Maria distinguiu o Salvador de Perseu, Hércules ou Rômulo e Remo. Então José, gentilmente, afastou-se para deixar a pureza de Maria brilhar. Em um mundo onde a promiscuidade era a norma, onde um imperador se casou com uma virgem vestal para denegrir a castidade, o milagre do nascimento de uma Virgem não apenas desafiou as leis da natureza, mas desafiou o senso prevalecente na época.

Além disso, a mensagem cristã é que Jesus, embora nascido de uma mulher, era Deus. As religiões pagãs tinham dezenas de semideuses e homens deificados, mas Deus-feito-Homem, totalmente humano e totalmente divino, era um conceito chocantemente novo para o Império. José também se permitiu ser ofuscado por bois e figurantes para evitar confusão sobre a paternidade de Cristo, para que a Igreja pudesse proclamar a plenitude da verdade em todo o seu esplendor.

São José começa a brilhar

Em 380, no entanto, o imperador Teodósio proclamou o cristianismo a única religião do Império, abrindo um portal de novas possibilidades artísticas. Cinquenta anos depois, José fez sua estreia artística em Santa Maria Maior, a primeira igreja ocidental a ser dedicada à Mãe de Deus. José apareceu no palco iconográfico do arco triunfal, onde foi retratado cinco vezes, mais até do que Maria.

Sua primeira cena ocorre no mosaico em que ele protagoniza seu próprio encontro angelical. José é retratado como um jovem de cabelo e barba escuros em pé do lado de fora de sua casa, vestindo uma túnica curta e faixa laranja, o traje de um criado imperial. Nesta imagem, os Evangelhos de Lucas e Mateus convergem: absortos em conversas divinas, Maria e José recebem suas respectivas missões em conjunto.

Na Apresentação de Cristo, José conduz sua pequena família ao templo, claramente como chefe da família. A mesma cena destaca a comunicação privilegiada de José com o Senhor, ao receber o sonho de advertência para salvar sua família.

Na outra imagem mostrada na galeria de fotos está uma cena surpreendente do Evangelho apócrifo do Pseudo Mateus, onde uma tribo egípcia reconhece Cristo como Deus. Aqui, novamente, José está diante de Maria, sua mão levantada indicando protetoramente seu filho. Ele também está presente entre os três reis, de pé à esquerda, olhando em direção ao observador, enquanto parece conduzir os magos em direção a Cristo.

Importância crescente

Um século depois, José reaparece representado em Ravenna, em um trono episcopal de marfim esculpido para a igreja de San Vitale. A representação une dois grandes nomes bíblicos: José do Gênesis e José de Nazaré. A maioria dos painéis em relevo é dedicada ao José mais velho, mas as três cenas existentes da Natividade, Epifania e um conto apócrifo demonstram a importância crescente do santo silencioso.

Detalhes retirados do apócrifo protoevangelho de Tiago embelezam as cenas. No painel da Natividade, José cuida do bebê enquanto Maria cura a mão da parteira Salomé, que é punida por não acreditar na virgindade de Maria.

A iconografia repete o tema da castidade no painel das “águas amargas”, onde, no protoevangelho, Maria e José são acusados ​​de falta de castidade e, para provar sua inocência, devem beber de um copo envenenado. Essas primeiras obras, preciosas e belas, encomendadas por e para o papa e prelados, foram cuidadosamente planejadas para incluir São José na devoção cristã, evitando confusão a respeito dos ensinamentos fundamentais.

Essas primeiras imagens prepararam o terreno para apresentar São José como um personagem recorrente na história da arte cristã, que então se desenvolveria em um dos santos mais multifacetados do firmamento hagiográfico.

Aleteia

O Papa na audiência geral: Jesus diz-nos com a sua vida até que ponto Deus é Pai

O Papa Francisco na Audiência Geral
VaticanMedia

"Jesus diz-nos com a sua vida até que ponto Deus é Pai", disse o Papa em sua reflexão na catequese da audiência geral desta quarta-feira (03/03) dedicada à oração e à Trindade: “É difícil para nós imaginar de longe o amor com que a Santíssima Trindade está repleta, e que abismo de benevolência recíproca existe entre Pai, Filho e Espírito Santo. Os ícones orientais deixam-nos intuir algo deste mistério que é a origem e alegria de todo o universo”, frisou Francisco.

Raimundo de Lima - Vatican News

“No nosso caminho de catequeses sobre a oração, hoje e na próxima semana queremos ver como, graças a Jesus Cristo, a oração nos abre à Trindade, ao imenso mar de Deus-Amor.” Com essas palavras, o Papa Francisco introduziu sua catequese na audiência geral desta quarta-feira (03/03), na Biblioteca do Palácio, no Vaticano, dando continuidade a suas reflexões sobre a oração, discorrendo sobre a oração e a Trindade.

Foi Jesus que nos abriu o Céu e nos projetou para uma relação com Deus. É isto que o apóstolo João afirma na conclusão do prólogo do seu Evangelho: “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer” (1, 18), destacou o Pontífice. "Jesus nos revelou a identidade, esta identidade de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo."

Senhor, ensina-nos a rezar

Francisco observou que realmente não sabíamos como se pudesse rezar: que palavras, que sentimentos e que linguagem eram apropriados para Deus.

“Naquele pedido dirigido pelos discípulos ao Mestre, que temos recordado frequentemente no decurso destas catequeses, há toda a hesitação do homem, as suas repetidas tentativas, muitas vezes infrutíferas, de se dirigir ao Criador: ‘Senhor, ensina-nos a rezar’ (Lc 11, 1)”.

O Papa observou que nem todas as orações são iguais e que nem todas são convenientes:

“A própria Bíblia atesta o mau resultado de muitas orações, que são rejeitadas. Talvez por vezes Deus não esteja satisfeito com as nossas orações e nós nem sequer nos apercebemos disso. Deus olha para as mãos daqueles que rezam: para as purificar não é necessário lavá-las, quando muito é preciso abster-se de ações malignas.”

A este ponto de sua catequese, o Santo Padre evidenciou que São Francisco rezava de forma radical: “nenhum homem é digno de te nomear”, lembrou, citando o “Cântico do Irmão Sol” do pobrezinho de Assis.

A poberza da nossa oração

O Papa acrescentou que “talvez o reconhecimento mais tocante da pobreza da nossa oração tenha vindo dos lábios do centurião romano que um dia implorou Jesus que curasse o seu servo doente (cf. Mt 8, 5-13).

Sentia-se totalmente inadequado – observou Francisco: “não era judeu, era um oficial do odiado exército de ocupação. Mas a sua preocupação com o seu servo o faz ousar, e ele diz: ‘Senhor... eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e o meu servo será curado’ (v. 8)”.

É a frase que também repetimos em todas as liturgias eucarísticas, disse o Pontífice, evidenciando que dialogar com Deus é uma graça: “não somos dignos dela, não temos o direito de a reivindicar, “manquejamos” com cada palavra e pensamento..., Mas Jesus é uma porta que se abre”.

Por que deveria o homem ser amado por Deus? – perguntou o Santo Padre, acrescentando que não há razões óbvias, não há proporção. A este ponto de sua catequese, fez uma observação pertinente:

“Em grande parte das mitologias não se contempla o caso de um deus que se preocupa com os assuntos humanos; pelo contrário, eles são irritantes e aborrecidos, completamente insignificantes.”

Até para Aristóteles, prosseguiu o Papa, Deus só pode pensar em si mesmo. No máximo, somos nós, humanos, que procuramos conquistar a divindade e ser agradáveis aos seus olhos. “Disto brota o dever de ‘religião’, com o corolário de sacrifícios e devoções a oferecer continuamente para ter como aliado um Deus mudo e indiferente.”

Dialogar com Deus é uma graça

“Não há diálogo. Foi somente Jesus, foi somente a revelação de Deus a Moisés antes de Jesus, quando Deus se apresentou; foi somente a Bíblia a abrir-nos o caminho do diálogo com Deus para nós. Lembramos: ‘Qual povo tem seus deuses próximos de si como tu tens a Mim próximo de ti?’ Esta proximidade de Deus que nos abre ao diálogo com Ele.”

Francisco ressaltou que um Deus que ama o homem, nunca teríamos acreditado nisto, se não tivéssemos conhecido Jesus. “É o escândalo que encontramos esculpido na parábola do pai misericordioso, ou na do pastor que vai em busca da ovelha perdida (cf. Lc 15). Histórias como estas não poderiam ter sido concebidas, nem sequer compreendidas, se não tivéssemos encontrado Jesus”, observou ainda.

Dito isso, Francisco propôs alguns questionamentos: “Que tipo de Deus está disposto a morrer pelas pessoas? Que tipo de Deus ama sempre e pacientemente, sem pretender por sua vez ser amado? Que Deus aceita a tremenda falta de gratidão de um filho que pede antecipadamente a sua herança e sai de casa a esbanjar tudo? (cf. Lc 15, 12-13)”.

Proximidade, compaixão e ternura: o estilo de Deus

Assim, Jesus diz-nos com a sua vida até que ponto Deus é Pai, frisou o Papa. “A paternidade que é proximidade, compaixão e ternura. Não esqueçamos estas três palavras que são o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura. É a maneira de expressar a Sua paternidade conosco”, acrescentou, concluindo sua reflexão nesta catequese dedicada à oração e à Trindade:

“É difícil para nós imaginar de longe o amor com que a Santíssima Trindade está repleta, e que abismo de benevolência recíproca existe entre Pai, Filho e Espírito Santo. Os ícones orientais deixam-nos intuir algo deste mistério que é a origem e alegria de todo o universo.”

Acima de tudo, tínhamos dificuldade em acreditar que este amor divino se dilatasse, chegando até ao humano: somos o termo de um amor que não encontra igual na terra, disse o Papa, citando o Catecismo, que explica: “A santa humanidade de Jesus é, pois, o caminho pelo qual o Espírito Santo nos ensina a orar a Deus nosso Pai” (n. 2664).

“É a graça da nossa fé. Verdadeiramente não podíamos esperar uma vocação mais excelsa: a humanidade de Jesus pôs à nossa disposição a própria vida da Trindade”, disse por fim o Santo Padre.

Vatican News

Conheça a cidade onde Jesus Misericordioso apareceu a Santa Faustina Kowalska

Santuário de Płock. Foto: Janusz Rosikon

Roma, 03 mar. 21 / 08:00 am (ACI).- Sem dúvida, os lugares mais conhecidos do culto de Jesus Misericordioso são Cracóvia (santuário de Lagiewniki, local de sepultamento de Santa Faustina Kowalska) e Vilnus onde está localizada a primeira pintura com a figura do Senhor com a inscrição "Jesus, eu confio em Ti". Mas nem todos sabem que a primeira aparição de Jesus Misericordioso não ocorreu em nenhum destes lugares, mas na cidade polonesa de Płock, onde um novo santuário tem revigorado a fé dos seus habitantes e visitantes.

Na noite de 22 de fevereiro de 1931, uma jovem freira da Congregação das Irmãs da Virgem Maria da Misericórdia, a Irmã Faustina, estava em sua cela do convento na cidade polonesa de Płock, perto da Praça do Mercado Velho. E aqui ela viu "o Senhor Jesus vestido com um manto branco: uma mão levantada para abençoar, enquanto a outra tocou no peito o manto, que lá ligeiramente compensado soltou dois grandes raios, um vermelho e o outro pálido".

Exatamente 90 anos se passaram desde esta primeira aparição de Jesus Misericordioso à Irmã Faustina e as celebrações para recordar a data já ocorreram em Plock. Na segunda-feira, 22 de fevereiro, às 17h no Santuário da Divina Misericórdia, construído no local onde está localizado o antigo mosteiro, a solene eucaristia foi presidida pelo Arcebispo Jan Romeo Pawłowski, Secretário das Representações Pontifícias da Secretaria de Estado da Santa Sé, que também pronunciou a homilia. A missa foi celebrada pelo Bispo de Płock, Mons. Piotr Libera, do bispo auxiliar, Mons. Mirosław Milewski, do Reitor do Santuário, Padre Tomasz Brzeziński e outros sacerdotes da diocese.

Para lembrar a estadia da Irmã Faustina em Płock e a aparição de Jesus Misericordioso, o grupo ACI entrevistou a superiora das Irmãs da Virgem Maria da Misericórdia em Płock, Ir. Diana Kuczek.

O que sabemos sobre a estadia da Irmã Faustina em Płock?

Em Płock nossa congregação cuidou da Casa "Anjo da Guarda" para as meninas pobres. As freiras mantiveram cerca de 100 meninas, ensinaram-nas costura, bordados e trabalhos de lavanderia. Para manter a casa, as freiras compraram uma fazenda na vila de Biała, não muito longe da cidade. Seu trabalho foi muito apreciado pelo arcebispo da cidade. Em 1918, a Casa foi visitada pelo Núncio Apostólico à Polônia, Dom Achille Ratti, futuro Papa Pio XI. Irmã Faustina ficou e trabalhou em Płock de 1930 a 1932. E foi nessa época que ele teve a visão de Jesus Misericordioso: 90 anos se passaram desde aquela segunda-feira, 22 de fevereiro.  

O que a Irmã Faustina estava fazendo no convento de Płock?

Ela preparava e vendia pão, ajudava na cozinha, ia trabalhar no campo, na fazenda em Biała, mas estava sempre disponível para fazer qualquer trabalho que fosse necessário.      

O que aconteceu com sua comunidade em Płock depois da partida da Irmã Faustina?

As freiras continuaram a cuidar da Casa até o ano de 1950, quando os comunistas tomaram e "nacionalizaram" o edifício. Nossa ausência forçada de Płock durou 40 anos, até que, com o retorno da democracia à Polônia, elas conseguiram recuperar a posse da casa e criar um pequeno santuário da primeira aparição de Jesus Misericordioso. Mas logo percebemos que a estrutura era muito pequena e em 2015 decidimos construir um novo e grande santuário.

Como vão os trabalhos?

A estrutura da igreja está terminada externamente, mas o interior ainda está para ser consertado. No lugar que corresponde ao quarto da Irmã Faustina colocamos a pintura de Jesus Misericordioso com a inscrição "Jesus, eu confio em Você" em várias línguas. No porão queremos organizar um museu dedicado a Santa Faustina.  

No interior da igreja você pode ver as pinturas: de Jesus Misericordioso, de Santa Faustina, mas também dos dois bispos.

Eles são "Os Beatos Mártires de Płock": o Arcebispo da cidade Antoni Julian Nowowiejski e Leon Wetmański, martirizados em 1941 em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial e ambos beatificados por João Paulo II.

Que planos você tem para este Ano Jubilar?

Em primeiro lugar este ano, queremos continuar nossa missão de oração para famílias, padres e jovens. O Santuário da Divina Misericórdia é um ponto de encontro para pessoas que querem aprofundar e viver a espiritualidade da Misericórdia de Deus de acordo com a missão que Deus confiou à Irmã Faustina. Há 25 anos nossa Congregação treina padres, freiras e leigos de todo o mundo através da Associação "Faustinum" dos Apóstolos da Divina Misericórdia, que retomará suas atividades no santuário de Płock a partir de maio do próximo ano. Também queremos que o Mosteiro de Płock e o Santuário da Divina Misericórdia se tornem um lar para todos aqueles que desejam conhecer o verdadeiro Deus cheio de misericórdia e querem experimentar seu poder para curar e transformar corações.

Hoje, com seu novo santuário de Jesus Płock misericordioso está se tornando uma das capitais espirituais da Polônia. É uma oportunidade de lembrar a história desta cidade, uma das mais antigas da Polônia, mas tão pouco conhecida. Mesmo antes da evangelização da Polônia em 966, Płock era um centro de adoração para tribos pagãs eslavas. Mas já em 1009 os beneditinos se estabeleceram lá e, em 1075, a cidade tornou-se sede episcopal.

Em 1037, Miecław proclamou-se duque da região de Masovia com a capital Płock. De 1079 a 1138, os duques da Polônia (Ladislau I Herman e seu sucessor Bolesław III, cujos túmulos estão agora na catedral) residiram em Płock. Quando a Polônia foi dividida em ducados em 1138, Płock tornou-se a capital do Ducado de Masóvia. De 1351 a 1370, Płock estava na posse do rei Casimir III, o Grande, que cercou a cidade com muros e construiu o castelo. Após sua morte, o Piast de Masovia recuperou o controle de Płock até 1495, quando a cidade finalmente se tornou parte do Reino da Polônia e tornou-se a segunda cidade mais importante do país depois de Cracóvia.

Infelizmente, no final do século XVI, foi afetada pela concorrência de Varsóvia, uma cidade próxima que se tornou a capital do reino. Seu declínio está ligado à invasão dos suecos que destroem a cidade duas vezes: nos séculos XVII e XVIII. Hoje é uma cidade provincial dinâmica com cerca de 120 mil habitantes.

Entretanto, o seu coração espiritual está localizado no novo santuário da Divina Misericórdia, que está prestes a ser concluído no local das aparições do Senhor à Irmã Faustina Kowalska.

ACI Digital

SANTA CUNEGUNDA, ESPOSA DE S. HENRIQUE II, IMPERADOR

s. Cunegunda  (© BAV, Pal. lat. 665, f. 1r)

Natural de Luxemburgo, Cunegundes, também conhecida como Cunegundes, cresceu em uma família que lhe transmitiu a sua fé e lhe ensinou as virtudes cristãs. A jovem viveu tais virtudes com particular fervor, que, mais tarde, as levou "como dote" ao duque da Baviera, futuro imperador do Sacro Império Romano, Henrique II, com quem se casou com a idade de 20 anos.

Um casamento santo

Muitas lendas falam sobre a união de Cunegundes com Henrique, como a de uma calúnia, que insinuava uma traição da jovem esposa contra o marido. Então, a mulher invocou ao Senhor, com tanta intensidade, que lhe permitiu fazer um teste excepcional, para convencer o noivo sobre a sua inocência: caminhar sobre o carvão ardente.
Outra versão, ao invés, diz que os dois cônjuges tinham feito votos recíprocos de castidade, tanto que o seu casamento foi chamado "núpcias de São José".
Por outro lado, a realidade histórica parece ter sido a que Cunegundes fosse estéril. Apesar de a lei germânica prever isso como causa de repúdio, o marido decidiu não adotá-la. Por isso, Cunegundes e Henrique são recordados, ainda hoje, como o santo casal que iluminou o Sacro Império Romano.

Propagação do cristianismo

Em 1002, com a morte de Otão III, o duque da Baviera tornou-se imperador do Sacro Império Romano, com o nome de Henrique II. Somente em 1014, porém, conseguiu ir a Roma com sua esposa para receber a coroa das mãos do Papa Bento VIII.
De volta à sua pátria, os dois cônjuges se dedicaram, com afinco, para a propagação do Cristianismo na região alemã de Hesse: em 1007 mandaram construir a Catedral de Bamberg (onde estão sepultados, um ao lado do outro) e, em 1021, também o mosteiro de Kaufungen, em ação de graças pela cura de uma grave doença.

Da coroa ao saio

Em 1024, falece Henrique II. Um ano depois, por ocasião do seu aniversário de morte, Cunegundes doou uma relíquia da Santa Cruz ao mosteiro de Kaufungen; ao mesmo tempo, trocou suas roupas reais pelo saio beneditino e entrou para este mosteiro. Desde então, a mulher viveu com humildade, transcorria o dia em oração e lendo as Escrituras, fazia os trabalhos mais humildes, praticava a penitência, por meio da abstinência de alimentos, e confortava as coirmãs enfermas.
Santa Cunegundes faleceu no mosteiro, em data imprecisa, provavelmente em 1033, embora outras fontes assinalem 1039.

Vatican News

terça-feira, 2 de março de 2021

Por que é tão difícil ser uma boa pessoa?

Mark Alexandrovich/Unsplash | CC0
por Michael Rennier

Ser uma boa pessoa significa estar vulnerável a todo e qualquer tipo de desgosto. E será que estamos dispostos a pagar este preço?

Não seria tão exagerado dizer que sou uma boa pessoa. Estou bem, eu acho. Na maioria das vezes, porém, meu dia é organizado de acordo com o que é mais conveniente para mim. Eu evito discussões. Eu sou legal porque quero que as pessoas sejam legais em troca. Se eu fizer a coisa certa, pode ser mais por um senso de dever do que por um compromisso interno que incentiva a bondade simplesmente pela bondade. O ego e o egoísmo de minhas escolhas estão implícitos.

Não estou me gabando de inaptidão moral como se isso fosse uma espécie de supervilão implacável. Quero realmente pensar nas outras pessoas primeiro, ser implacavelmente generoso, gentil e atencioso. Eu quero que a virtude da bondade tome conta de mim e motive todas as minhas ações. Quando fico complacente com esse compromisso, a Quaresma está sempre lá para me lembrar. Aliás, a Quaresma é um momento para levar a sério a saúde emocional e espiritual. Então eu pego as disciplinas da Quaresma – oração, jejum, esmola – e espero que as mudanças se tornem permanentes.

Eu geralmente falho. Na quarta-feira de cinzas deste ano, por exemplo, eu fiquei com tanta fome durante o jejum que desenvolvi um aborrecimento genuíno com Deus. Essa atitude, de fato, rapidamente derrotou o propósito de todo o exercício. Mas lá vou eu novamente em confissão, assim como em cada Quaresma, contar ao sacerdote como minhas grandes esperanças de finalmente amadurecer como uma pessoa boa foram frustradas e como cedi às tentações.

Você é uma boa pessoa?

Na minha experiência, a grande maioria das pessoas, quando questionadas, afirmará que é uma “pessoa muito boa”. De uma perspectiva, essa resposta faz sentido. Afinal, não somos ditadores do mal ou assassinos em série. Cometemos nossa cota de erros, claro, mas quem nunca?

De outra perspectiva, no entanto, é totalmente incorreto para qualquer um de nós afirmar que somos bons. Todos nós cometemos erros todos os dias, fazendo e dizendo coisas que, embora possam não parecer um grande negócio no momento, se fôssemos olhar para nós mesmos com atenção, deveriam nos preocupar muito.

Ser verdadeiro, honesto e bom no dia a dia, de forma consistente, em cada interação, é quase impossível. Enquanto examino minha própria vida e enfrento mais uma falha, me pergunto por que é tão difícil ser uma boa pessoa.

O orgulho

Ocorre-me que o orgulho desempenha um papel importante. O orgulho me leva à ilusão, sussurrando em meu ouvido que minhas intenções eram boas, meus motivos puros, meus erros não tão grandes. O orgulho é um dispositivo de proteção, e, enquanto esse escudo estiver no lugar, poderei fingir ser uma boa pessoa sem experimentar nenhuma vulnerabilidade. Sem exame de consciência, desculpas ou culpa. Minha suposta bondade se torna uma armadura que ninguém pode perfurar, pois, se eu for bom, ninguém tem permissão para me questionar ou julgar.

Claro, isso não é nada bom. Considere pessoas que são realmente boas. O que isso custa para elas? Cristo foi morto por isso. Pedro foi morto por isso. A Virgem Maria chorou diante de seu filho. E a lista continua. Considere as melhores partes de sua vida – as pessoas que você ama com mais pureza e como esses relacionamentos são repletos de bondade. Esses mesmos relacionamentos nos deixam vulneráveis, certo? Esse é o custo da bondade.

Bondade X fragilidade

Esta é a chocante, mas inegável verdade sobre a bondade – ela está entrelaçada com a fragilidade. Para sermos boas pessoas, devemos ser vulneráveis. Às vezes, nossos esforços serão totalmente infrutíferos ou mesmo recebidos com hostilidade. A bondade nos deixa vulneráveis ​​a todos os tipos de desgosto. A filósofa Martha Nussbaum coloca isso de forma poderosa quando diz: “A condição de ser bom é que sempre deve ser possível para você ser moralmente destruído por algo que você não poderia evitar. Ser um bom ser humano é ter uma espécie de abertura para o mundo…”

De fato, a pergunta que estou me fazendo nesta Quaresma é se estou disposto a ser frágil. Não há como alcançar o bem sem fragilidade porque não há outra maneira de estar aberto para a vida. Seja o que for que a vida tenha reservado para mim, eu gostaria de recebê-lo com bondade. Não porque eu seja invulnerável, mas porque o risco necessário para descobrir o bem vale a pena, e com a fragilidade vem a esperança.

Tenho esperança de que a bondade deste mundo não ficará para sempre sem recompensa, que não se canse e envelheça. Se eu consentir em finalmente lutar pelo bem, não porque é conveniente, mas porque o bem vale a pena pelo seu próprio bem, quem sabe o que vai resultar disso? Como o universo será alterado?

Talvez este seja o caminho para finalmente se tornar uma boa pessoa. Saber que minha alma está em conflito. Provavelmente nunca vou chegar ao fim dessa jornada sem ajuda. Mas tudo bem! Realmente estou pronto para aceitar a fragilidade de saber que, mesmo que só consiga um pouco de bondade aqui ou ali, sempre poderei me levantar, sacudir a poeira e continuar tentando.

Aleteia

Aproveitar o tempo

Guadium Press
Advirtam aos que pensam cingir o mundo com suas pregações e obras exteriores, que muito mais proveito fariam à Igreja se gastassem metade deste tempo estando com Deus em oração.

Redação (01/03/2021 16:00, Gaudium Press) Em geral, às pessoas que praticam o bem – seja no âmbito familiar, paroquial ou de algum movimento – lhes falta tempo para realizar todo o bem que se propõem a fazer. Gostariam de ter mais disponibilidade, mais recursos, mais colaboradores, mais influência…

Como resultado da atual pandemia, as relações interpessoais, bem como tantas outras atividades, foram restringidas, quando não suprimidas. Assim, por um lado, todos se tornaram mais livres e disponíveis e, por outro, mais limitados em suas ações e mais isolados. Haverá, nessas duras e peculiares circunstâncias, alguma vantagem a ser tirada?

As duas faces do espírito humano: a vida ativa e a vida interior

Consideremos que, assim como uma moeda tem duas faces, assim também acontece com o espírito humano, com as pessoas. Uma das faces é a vida ativa, exterior; a outra é a vida interior, ou seja, a vida da alma, do intelecto, do pensamento, da oração, etc.

Ambas importam, sendo que a prioridade recai sobre a vida interior, como vemos em Betânia, onde “Maria escolheu a melhor parte” (cf. Lc 10,42). Na ocasião, as irmãs de Lázaro estavam recebendo o Mestre em sua casa, e cada uma valorizava a sua presença a seu modo: Marta esforçava-se por servi-lo enquanto Maria o escutava, encantada aos seus pés. Estariam ambas dando ao Senhor tanto quanto Ele poderia esperar delas?

Guadium Press

Do relato evangélico parece desprender-se que a cada uma faltou algo da “outra face da moeda”, já que a perfeição consiste em ter, ao mesmo tempo, a disposição de contemplar e de trabalhar. Ou, se quiser, trilhar as vias mística e ascética em harmonia… sempre dando prioridade “a melhor parte”.

Sem o empenho de amar a Deus, os trabalhos são inférteis

Agora, acontece que, ao trabalhar pelo Reino de Deus, as pessoas tendem a negligenciar sua relação pessoal e íntima com Ele, jogando-se na arena das obras, com a ilusão de que estão servindo bem a Ele, e, na realidade, muitas vezes não se faz senão o ruído de um “bronze que soa ou de um címbalo que retine” (1Cor. 13,1). É que, sem o empenho de amar a Deus e de estar em dia com Ele, os trabalhos são inférteis. Poderão ser muito chamativos, mas não são tão importantes e podem até ser contraproducentes.

Há um escrito de São João da Cruz que ilustra bem este fenômeno da ilusão, tão comum entre os fiéis, de que fazendo coisas – coisas boas, sem dúvida, mas sem a devida visualização – agradam a Deus e se justificam. Como se sabe, este Santo é um místico carmelita de alto voo que tem ainda uma pena requintada. É um Doutor da Igreja, o que significa que seu ensinamento não é banal, é válido para todas as pessoas, em todos os momentos. Comentando a canção 29 de seu Cântico Espiritual, assim escreve:

“Advirtam aqui aqueles que são muito ativos que pensam cingir o mundo com suas pregações e obras exteriores, que muito mais proveito fariam à Igreja e muito mais agradariam a Deus (deixando de lado o bom exemplo que seria dado) se gastassem metade deste tempo estando com Deus em oração (…) Então fariam mais e com menos trabalho, e com uma obra mais que com mil, merecendo sua oração e tendo adquirido forças espirituais nela; porque, do contrário, tudo é martelar e fazer pouco mais do que nada, às vezes até mesmo nada, às vezes até causando danos”.

Guadium Press

As “boas obras” daqueles que negligenciam a amizade com Deus, são obras mortas

Essas frases são do gênero prosa, embora tenham gosto de poesia magistral. Muito se aproveitará em relê-las, “ruminá-las”, meditá-las e, sobretudo, colocá-las em prática. As “boas obras” daqueles que negligenciam a amizade com Deus, não vêm de Deus; são obras mortas, sem mérito, e não contam para a vida eterna.

Deste vício do ativismo com descuido espiritual, não estiveram isentos em seu tempo os seguidores de Jesus. Depois de testemunhar o portentoso milagre da multiplicação dos pães, alguns se aproximaram do Senhor para perguntar-lhe: “O que devemos fazer para praticar as obras de Deus? Jesus respondeu: “A obra de Deus é que creiam nAquele que Ele enviou” (Jo. 6, 28-29). Voltemos à passagem evangélica; eles perguntam “Que obras fazer?”, e Nosso Senhor lhes responde que o que deve ser feito é um ato de Fé: “A obra de Deus é que eles creiam nAquele que Ele enviou”. Embora fossem pessoas boas que queriam ser úteis, não parece que tenham entendido a fundo a resposta.

A citação do Evangelho de São João e o ensinamento do Santo Carmelita são muito apropriados para meditar diante do Santíssimo. Porque se a obra de Deus é acreditar em seu Mensageiro, então nada como a Eucaristia para fazer um ato de Fé, de Fé específica na maneira como Ele quis permanecer em sua Igreja para ser adorado, celebrado e comido; Fé na Sua presença real na Eucaristia que é, por excelência, o mistério da Fé.

Então, caro leitor, quanto tempo estamos dedicando à vida de Fé e quanto tempo às atividades externas? Não se trata de calcular e dividir matematicamente esses tempos, mas não vamos dar um pouco a Deus, apenas alguma coisa… ou nada!

Guadium Press

Cultivemos a amizade com Deus

A impossibilidade física de não poder estar presencialmente perante o Santíssimo Sacramento não constitui um obstáculo para fazer atos de Fé, Esperança e Caridade no Divino Sacramento. Precisamente, a separação pode potencializar o relacionamento; assim acontece com as pessoas que se amam muito: sentindo a ausência, aumentam a saudade e alimentam o desejo de reencontro.

Dediquemo-nos a cultivar a amizade com Deus e voemos em espírito até algum tabernáculo, perto ou longe, para adorá-lo, fazendo, por exemplo, uma comunhão espiritual. Do Santíssimo Sacramento vem parte da energia que dará fecundidade a todos os empreendimentos e boas intenções, “porque de outra maneira, tudo é martelar e fazer pouco mais do que nada, às vezes até mesmo nada, às vezes até causando danos”. “Eles trariam mais benefícios para a Igreja e muito mais agradariam a Deus – deixando de lado o bom exemplo que seria estabelecido – se eles gastassem metade desse tempo estando com Deus em oração”. Definitivamente é assim.

Os antigos diziam: “fugit irreparabile tempus“, o tempo nos escapa, foge irremediavelmente. Quanto se perde! Muitas vezes se perde tempo com banalidades ou entre lamentos e reclamações, ao invés de usá-lo para o louvor, a reparação, a petição, a ação de graças… a vida da alma!

Mairiporã, 1º de março de 2021

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.

https://gaudiumpress.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF