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segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Pecados duvidosos?

Cléofas

Pecados duvidosos?

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Não é raro ter dúvidas de dois tipos:

– “Será que este pecado é grave, ou é só leve?”

– “Será que cometi mesmo um pecado, que consenti, ou foi só uma tentação?”

Nestes pontos, nada como a doutrina para formar a consciência e esclarecer essas dúvidas.

Lembre-se sempre de que a Igreja ensina que, para que exista pecado grave, devem dar-se, simultaneamente, três condições: “matéria grave”, “plena advertência”, isto é, plena consciência do que se faz, e “consentimento deliberado” (Cf. Catecismo, n. 1857).

Primeiro, “matéria grave”. Uma pessoa formada sabe que é grave ofender seriamente alguém, divulgar faltas graves do próximo que outros não conhecem, dizer mentiras que causem danos a terceiros, ter condutas injustas (não pagar o que é devido por justiça, trapacear nos negócios, eliminar o verdadeiro ganhador de um concurso ou concorrência por motivos escusos, praticar sexo fora do casamento, abortar, etc.). Em caso de dúvida, deve se consultar um bom confessor.

Segundo “consciência plena do que se faz”. Não pode ser grave um mau pensamento, sentimento ou ato que ocorreram durante o sono ou num estado de semi-inconsciência. Também não costuma ser grave um rompante verbal de ira perante um estímulo forte e inesperado (o fato de não ser grave não significa que seja coisa boa, mas quer dizer que não faz perder o estado de graça e, portanto, não impede de comungar).

Terceiro, “consentimento pleno ou deliberado”. É bom recordar que uma coisa é “sentir” e outra “consentir”. A tentação pode-se sentir, até com violência (por exemplo, sentir com força – sem o querer nem o provocar – o desejo de agredir uma pessoa; ou um pensamento, uma fantasia, desejo ou movimento físico contrário à castidade). Mas, mesmo que a tentação seja insistente (que volte uma e outra vez, pegajosa como uma mutuca), não haverá pecado, pelo menos pecado grave, enquanto não for aceita, enquanto não se “quiser” deliberadamente (“quero mesmo fazer isso”, “esse desejo sexual, eu praticaria se pudesse”).

Alguém dizia, de modo expressivo e correto: “Primeiro você sentiu a tentação e, sem reparar, deteve-se um pouco nela, mas logo se acendeu na consciência o sinal vermelho: ‘Isto está errado, repudia a tentação, reza e luta firmemente por afastá-la, esteja certo de que não pecou gravemente”.

Ainda sobre os pecados duvidosos, lembro-lhe que a Igreja ensina que não há obrigação de confessá-los, embora quase sempre seja bom mencioná-los na confissão para obter critério, mas – como ensinava São Pio X – <<o certo deve ser confessado como certo e o duvidoso como duvidoso>>. Caso sofra do tormento da dúvida doentia, ou seja, dos escrúpulos de consciência, peça ajuda a Deus e siga fielmente as orientações do confessor. Quando for o caso – pois os escrúpulos angustiantes podem ser uma doença – consulte um médico de bom critério.

Retirado do livro: “Para estar com Deus”. Francisco Faus. Ed. Cleófas e Cultor de Livros.

Subsídio para o Tempo do Advento

Tempo do Advento | arqbrasilia

Subsídio para o Tempo do Advento

O Ano Litúrgico começa com o Tempo do Advento, um tempo de preparação para a Festa do Natal de Jesus. Por isso, o Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar, nos propõem para que neste tempo de espera e de preparação para o nascimento de Jesus, recordado e celebrado em cada Natal, possamos orientar nossas mentes e corações para restabelecer vínculos fraternos, para fortalecer os nossos laços de família, para estabelecermos a paz entre nós.

Segundo o Arcebispo, o drama da pandemia revelou a fragilidade humana. E que a situação foi agravada pelo pleito eleitoral que acirrou a polarização da sociedade, onde as discussões e opções políticas colocaram as pessoas em lados opostos, criando inimizades, fragilizando laços familiares. Diante deste cenário, Dom Paulo pediu que as iniciativas sejam realizadas nas paróquias e comunidades.

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Papa aos jovens: encorajo a sonhar alto, sejam poetas da paz

Papa Francisco com os jovens estudantes | Vatican News

“Qual é o sonho de vocês para o mundo de hoje e de amanhã? Encorajo vocês a sonhar alto, como João XXIII e Martin Luther King. Que cada um de vocês se torne um ‘poeta da paz!’. Palavras do Papa Francisco aos jovens que participam do projeto da Rede Nacional das Escolas da Paz recebidos nesta segunda-feira (28) no Vaticano.

Jane Nogara - Vatican News

Na manhã desta segunda-feira (28) o Papa Francisco recebeu na Sala Paulo VI cerca de 6 mil jovens estudantes que participam do encontro pela educação à paz e ao cuidado, projeto realizado pela Rede Nacional das Escolas da Paz. O programa de atividades de formação, será concluído em maio de 2023 com a participação de todos na Marcha Perugia-Assis para a apresentação de resultados e propostas. Recordando que o programa educacional "Pela Paz, pelo Cuidado" quer responder ao chamado do Pacto Educacional Global, dirigido três anos atrás a todos os que trabalham no campo da educação, o Papa exortou afirmando que estava “encantado ao ver que não só as escolas, universidades e organizações católicas estão respondendo a este chamado, mas também as instituições públicas, leigas e de outras religiões”.

O samaritano é um modelo

“Para que haja paz, como diz seu lema tão apropriadamente, é preciso ‘cuidar'. A paz sempre nos diz respeito! Como sempre nos diz respeito o outro, o irmão e a irmã, e devemos cuidar dele e dela.”

Explicando que, “um modelo por excelência de cuidado é aquele samaritano do Evangelho, que socorreu um estranho que encontrou ferido ao longo da estrada. O samaritano não sabia se o infeliz era uma boa pessoa ou má, se era rico ou pobre, educado ou não, judeu, samaritano como ele ou estrangeiro; ele não sabia se aquele infortúnio 'tinha sido provocado' ou não. O samaritano não se fez muitas perguntas, ele seguiu a sua compaixão".

Dois exemplos de testemunhas

Em seguida Francisco disse que mesmo em nosso tempo, podemos encontrar valiosos testemunhos de pessoas ou instituições que trabalham pela paz e pelo cuidado com os necessitados. Como primeiro exemplo cita São João XXIII. “Ele foi chamado de ‘o Papa bom’”, disse Francisco, “e também de o ‘Papa da paz’, porque naquele difícil início dos anos 60 marcados por fortes tensões - a construção do Muro de Berlim, a crise de Cuba, a Guerra Fria e a ameaça nuclear - ele publicou a famosa e profética Encíclica Pacem in Terris. O próximo ano fará 60 anos, e é muito atual!"

“O Papa João se dirigiu a todos os homens de boa vontade, pedindo a solução pacífica de todas as guerras através do diálogo e do desarmamento.”

Em seguida convidou todos os jovens a ler e estudar a Pacem in Terris, e a seguir este caminho para defender e difundir a paz. Ao mencionar o segundo “exemplo” aos jovens o Papa disse: “Alguns meses após a publicação dessa encíclica, outro profeta de nosso tempo, Martin Luther King, Prêmio Nobel da Paz em 1964, proferiu o discurso histórico no qual disse: 'Eu tenho um sonho'. Em um contexto americano fortemente marcado pela discriminação racial, ele fizera todos sonharem com a ideia de um mundo de justiça, liberdade e igualdade. Afirmando: 'Tenho um sonho: que meus quatro filhos pequenos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pela dignidade de sua pessoa'".

Sonhar alto

“E vocês, jovens: qual é o sonho de vocês para o mundo de hoje e de amanhã?”, é o desafio que o Papa lança aos jovens continuando:

“Encorajo todos vocês a sonhar alto, como João XXIII e Martin Luther King.”

"E é por isso que os convido a participar, no próximo ano, do Dia Mundial da Juventude, em Lisboa em 2023. Aqueles de vocês que puderem vir, se encontrarão com tantos outros jovens de todo o mundo, todos unidos pelo sonho da fraternidade baseada na fé em Deus que é a Paz, o Pai de Jesus Cristo e nosso Pai. E se vocês não puderem vir fisicamente, convido a todos de qualquer forma a seguir e participar, porque agora, com os meios de hoje, isto é possível.

Poeta da paz

Por fim, depois de desejar um bom caminho no tempo do Advento, caminho feito de muitos pequenos gestos de paz, todos os dias: gestos de acolhimento, de encontro, de compreensão, de proximidade, de perdão, de serviço o Papa citou um poeta. "O poeta Borges [diz: Um poeta] termina, ou melhor, não termina um de seus poemas com estas palavras: 'Quero agradecer... por Whitman e Francisco de Assis que já escreveram este poema, pelo fato de que este poema é inesgotável e se mistura com a soma das criaturas e nunca chegará ao último verso e mudará de acordo com os homens'. Espero que vocês também aceitem o convite do poeta para continuar seu poema, cada um acrescentando aquilo pelo qual quer agradecer. Que cada um de vocês se torne um 'poeta da paz'!".

domingo, 27 de novembro de 2022

Nossa Senhora das Graças

Sidney de Almeida | Shutterstock
27 de novembro
Nossa Senhora das Graças

Origem na eternidade

A história de Nossa Senhora das Graças começa, na verdade, fora do tempo, quando o Pai, nos seus mais altos desígnios, planejou a encarnação de seu Filho Jesus, no seio da humanidade. Nesse momento, o Pai também pensou em Maria, pois, seu Filho teria que ter uma mãe humana. E a mãe do Salvador teria que ser “cheia de graça”. E assim aconteceu. A história começou, o mundo foi criado, o homem decaiu e Deus prometeu o Salvador. Por isso, Ele preparou Maria. Tanto que, quando o Anjo Gabriel apareceu para anunciar que ela seria a Mãe de Jesus, afirmou que ela era “cheia de graça”. (Lucas 1, 28)

Portadora de todas as graças

Em seguida, quando Maria disse o seu “sim” a Deus, diante do mesmo Anjo Gabriel, ela passou a ser portadora da maior de todas as graças que a humanidade poderia receber: o próprio Filho de Deus. Gerando Jesus para o mundo, Maria proporcionou que todas a graças chegassem até nós.

O título Nossa Senhora das Graças

Desde o início da Igreja, Maria sempre foi vista como “portadora das graças”. Porém, o título “Nossa Senhor das Graças” surgiu num determinado tempo da história e num local específico. Estamos falando das 17 horas e 30 minutos do dia 27 de novembro de 1830, na Rua Du Bac, 140, em Paris, França. Neste local e data especificados, Catarina Labouré, então noviça da Congregação de São Vicente de Paulo, foi até à capela impelida para rezar. Estando em oração, teve uma visão da Virgem Maria, que se revelou a ela como Nossa Senhora das Graças.

A aparição

E tal revelação não aconteceu somente por palavras. Nossa Senhora deu a Catarina Labouré uma visão reveladora. Vejamos o relato da própria Catarina que, depois, se tornou santa: "...uma Senhora de mediana estatura, de rosto muito belo e formoso... Estava de pé, com um vestido de seda, cor de branco-aurora. Cobria-lhe a cabeça um véu azul, que descia até os pés... As mãos estenderam-se para a terra, enchendo-se de anéis cobertos de pedras preciosas. A Santíssima Virgem disse-me: ‘Eis o símbolo das Graças que derramo sobre todas as pessoas que mas pedem ...’ Formou-se então, em volta de Nossa Senhora, um quadro oval, em que se liam, em letras de ouro, estas palavras: ‘Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a Vós’. Depois disso o quadro que eu via virou-se, e eu vi no seu reverso: a letra M, tendo uma cruz na parte de cima, com um traço na base. Por baixo: os Sagrados Corações de Jesus e de Maria. O de Jesus, cercado por uma coroa de espinhos e a arder em chamas, e o de Maria também em chamas e atravessado por uma espada, cercado de doze estrelas. Ao mesmo tempo, ouvi distintamente a voz da Senhora, a dizer-me: ‘Manda, manda cunhar uma medalha por este modelo. As pessoas que a trouxeram, com devoção, hão de receber muitas graças”.

A revelação de Nossa Senhora das Graças

Enquanto contemplava esta cena maravilhosa, Maria sobre o globo terrestre e raios saindo de suas mãos em direção à terra, Catarina ouviu uma voz a lhe dizer: "Este globo que vês representa o mundo inteiro e especialmente a França, e cada pessoa em particular. Os raios são o símbolo das Graças que derramo sobre as pessoas que Me as pedem. Os raios mais espessos correspondem às graças que as pessoas se recordam de pedir. Os raios mais finos correspondem às graças que as pessoas não se lembram de pedir.“

Pedir com fé

Compreendemos que o título Nossa Senhora das Graças está intimamente ligado à revelação da Medalha Milagrosa. Porém, as graças distribuídas por Nossa Senhora não dependem do uso da Medalha e sim de pedir a ela com fé e devoção. Tanto que, em outra aparição, Nossa Senhora se queixou a Santa Catarina Labouré dizendo: “Tenho muitas graças para distribuir... Mas as pessoas não me pedem...”

O poder da Medalha Milagrosa

Depois de um tempo, Catarina Labouré conseguiu que a medalha fosse cunhada, tal qual a Virgem Maria tinha lhe pedido. Logo, esta medalha se tornou um fenômeno inimaginável. A promessa da Virgem Maria se cumpria admiravelmente em todos os que usavam a Medalha com devoção. Graças a ela, uma terrível epidemia da peste negra foi debelada na França. Milhares de pessoas já tinham morrido quando a Medalha Milagrosa começou a ser usada. Então, os doentes que a recebiam com fé começaram a ser curados milagrosamente, pois a peste não tinha cura.

Milhões de Medalhas

Então, a Medalha Milagrosa passou de milhares para milhões de cunhagens. Espalhou-se rapidamente pela Europa livrando milhões de pessoas da peste. Depois, espalhou-se por todo o mundo. E as graças continuam acontecendo até hoje. A medalha Milagrosa é a mais cunhada de todos os tempos. O número de medalhas, porém, não se compara ao número de graças derramadas pelas mãos cheias de amor da Virgem Maria, Nossa Senhora das Graças.

O papel da Virgem Maria

É interessante lembrar que Nossa Senhora é despenseira, ou seja, uma “distribuidora” de graças. As graças são de Deus e só Ele pode dá-las. Mas, em sua misericórdia, o senhor escolheu distribui-las pelas mãos de sua mãe, Maria. Esta é a maravilha da nossa fé. Milhões de graças estão nas mãos de Nossa Senhora e ela quer distribuí-las a seus filhos. É vontade de Deus que assim seja. Por isso, vamos pedir a ela, com fé. São Bernardo de Claraval dizia que “Nunca se ouviu dizer que ela não atendeu a quem pediu com fé.” Esta realidade maravilhosa é testemunhada por milhões de pessoas, ao longo de séculos. Por isso, não deixe de faze seus pedidos à Mãe Celestial. E não deixe também de usar a bendita Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças. E grandes graças vão acontecer na sua vida.

Oração a Nossa Senhora das Graças

“Ó Imaculada Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe, ao contemplar-vos de braços abertos derramando graças sobre os que vo-las pedem, cheios de confiança na vossa poderosa intercessão, inúmeras vezes manifestada pela Medalha Milagrosa, embora reconhecendo a nossa indignidade por causa de nossas inúmeras culpas, acercamo-nos de vossos pés para vos expor, durante esta oração, as nossas mais prementes necessidades (momento de silêncio e de pedir a graça desejada).

Concedei, pois, ó Virgem da Medalha Milagrosa, este favor que confiantes vos solicitamos, para maior Glória de Deus, engrandecimento do vosso nome, e o bem de nossas almas. E para melhor servirmos ao vosso Divino Filho, inspirai-nos profundo ódio ao pecado e dai-nos coragem de nos afirmar sempre como verdadeiros cristãos. “

Rezar 3 Ave Marias.

Jaculatória contida na Medalha:

“Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”. Amém.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

Natal: uma grata dependência de Cristo

O arcebispo Rowan Williams mostra a Bento XVI a miniatura
da 
Árvore de Jessé, na Bíblia de Lambeth, ao final de seu
encontro no Lambeth Palace, em Londres, em
17 de setembro de 2010 [© Osservatore Romano]
Revista 30Dias - 11/2011

Natal: uma grata dependência de Cristo

A mensagem para os leitores de 30Dias de sua graça Rowan Williams, arcebispo de Canterbury.

pelo arcebispo de Canterbury, Rowan Williams

Fala-se muito hoje daqueles que preferem “espiritualidade” a “religião”. E a maior parte de nós entende alguma coisa do que significa essa posição. Representa uma revolta contra a ideia de que nós, seres humanos, somos salvos ou transfigurados apenas pela adesão à vida de uma instituição e a um conjunto de afirmações ou de teorias.

Mas dessa forma existe o perigo de reduzir a fé a uma série de experiências que nos fazem sentir melhor, com a consequência de que não haveria nenhuma verdade universal, nenhuma revolução na vida dos homens que salve de uma vez por todas, só uma sucessão de experimentos “espirituais”, que amplia a nossa sensibilidade, mas não nos leva para dentro de um mundo novo. De certa forma, precisamos de uma linguagem que nos possa conduzir para além da inútil polarização entre esses dois termos, uma linguagem de nova criação e uma prática de vida nova com novas relações.

Falar com verdade da Igreja é, nesse sentido, ir além tanto da religião quanto da espiritualidade. A Igreja não existe para providenciar experiências fantásticas (de modo que você possa abandoná-la quando essas experiências se esgotam); a Igreja não é tampouco uma instituição com regras e convicções compartilhadas.

A Igreja é a condição de ser um com Jesus Cristo, ou seja, o dom de sermos livres para rezar a Sua oração e para compartilhar a Sua vida, para respirar o Seu respiro.

E nós celebramos o Natal porque essa nova condição de vida depende absoluta e unicamente do fato de que um menino nasceu há dois mil anos no Oriente Médio. Não depende do desenvolvimento positivo de novas técnicas que nos ajudem a nos sentir melhor; não depende tampouco da revelação de um conjunto de teoremas. Começa com uma criança indefesa que ainda não fala; porque é em relação a essa frágil vida de homem que todo ser humano encontrará em última análise o seu verdadeiro destino.

Em comparação tanto com o fascínio de experiências emocionantes quanto com a segurança de convicções inabaláveis, por si só isso pode parecer um tanto frágil. No entanto, na medida em que põe a verdadeira fonte da vida e da esperança completamente fora do âmbito do esforço e da organização humanos, nos desafia a confiar num fundamento incomparavelmente mais estável e menos mutável: a ação e a promessa de Deus, o Verbo de Deus que faz que a vida divina viva na vida da criação e sobretudo na vida desse menino recém-nascido.

O conflito entre uma vida de relação na comunhão do Corpo de Cristo e o âmbito tanto da “espiritualidade” quanto da “religião” foi resolvido já mil e setecentos anos atrás por Santo Agostinho, quando escreveu as Confissões. Ele descreve suas aventuras “espirituais”, primeiramente dentro de uma organização herética com dogmas bem definidos que não aceitava nenhuma verificação intelectual, depois como especialista em meditação e numa espécie de misticismo. E ele nos fala de modo comovente da frustração profunda que sentiu, ao vislumbrar de longe o reino da verdade e da paz eterna.

Mas diz que o problema subjacente era que em tudo isso ele nunca se libertara da obsessão de seu eu, de seu orgulho. “Não era ainda bastante humilde para reconhecer o humilde Jesus Cristo como meu Mestre”, diz. E, numa das imagens mais grandiosas de toda a sua obra, ele fala de como Cristo, vindo a nós na carne, nos impede de dar passos presunçosos para a descoberta da verdade com base apenas em nossos esforços. Nós paramos de repente em nosso percurso, “por vermos aos nossos pés uma divindade frágil, tornada frágil pela comparticipação ‘da túnica de pele’ que vestimos. Exaustos jogamo-nos sobre esta frágil vida divina de modo que quando essa se erguer também nós nos ergueremos” (Confissões VII, 18, 24).

Esquecendo aspirações espirituais e correção religiosa, somos convidados pelo evangelho do Natal simplesmente a fazer isto: a nos deixar cair, em nosso humano cansaço, na terra do amor divino, amor divino que se fez indefeso e frágil de modo a poder pôr em crise a nossa vã confiança em nós mesmos. Assim renovados, contra toda presumível expectativa, nos elevamos para a vida da grata dependência de Cristo e de um em relação ao outro, para a comunhão do mútuo dom sem fim.

+ Rowan Canterbury

Lambeth Palace, Londres Natal de 2011

Fonte: http://www.30giorni.it/

O Natal dos primeiros cristãos, segundo os Padres da Igreja

Natal | snpcultura

O Natal dos primeiros cristãos, segundo os Padres da Igreja

Alessandro Lima

Por Fr. Isidro Lamelas, OFM*

Chamamos “Padres da Igreja” ou “Pais da Igreja” aqueles homens que, entre os séculos II e VII, contribuíram, com a sua ação, pregação e obras escritas, para a transmissão, aprofundamento e consolidação da fé e da Igreja de Cristo que vem dos Apóstolos até aos nossos dias. Alguns destes mestres da palavra e da doutrina eram cristãos leigos, mas a maioria foram pastores das comunidades cristãs com as quais partilhavam e nutriam a fé através da palavra pregada ou escrita. Nem tudo ficou escrito, e muito do que escreveram perdeu-se no percurso dos séculos. Mesmo assim, chegou até nós uma significativa amostra do que foi a vida e a reflexão destes primeiros séculos cristãos. Nomeadamente, no que concerne ao Natal de Jesus, dispomos de um vasto conjunto de textos que nos introduzem no verdadeiro espírito da Natividade. Vale, pois, a pena, hoje que nos queixamos de um progressivo esvaziamento do verdadeiro “espírito do Natal”, escutar a voz daqueles que continuam a ser nossos “Pais” na fé e na cultura cristã.

Embora a máxima atenção dos primeiros cristãos se tenha concentrado na celebração do mistério da Páscoa de Cristo, eles sabem que esta solenidade é indissociável do Natal e de todo o acontecimento da Encarnação de Jesus. Para os cristãos de ontem e de hoje, o Natal assinala o apogeu da história de Deus com os homens. S. Leão Magno, papa entre 440 e 460 que, num dos seus numerosos sermões sobre o Natal, recorda-nos que «a bondade divina sempre olhou de vários modos e de muitas maneiras pelo bem do género humano, e são muitos os dons da sua providência, que na sua clemência concedeu nos séculos passados. Porém, nos últimos tempos superou os limites da sua habitual generosidade, quando, em Cristo, a própria Misericórdia desceu aos pecadores, a própria Verdade veio aos extraviados, e aos mortos veio a Vida. O Verbo, coeterno e igual ao Pai, assumiu a humildade da nossa natureza humana para nos unir à sua divindade, e Deus nascido de Deus, também nasceu de homem fazendo-se homem».

«A Palavra fez-se Carne»

O Deus dos cristãos não é um mito nem um livro, mas Palavra encarnada, uma presença interpelante na história dos homens. «Quando um profundo silêncio tudo envolvia e a noite ia a meio do seu curso, a vossa Palavra Omnipotente desceu dos céus, do seu trono real», lemos no Livro da Sabedoria (18, 14-15). E foi assim, em Belém, quando o vagir de um recém-nascido quebrou o silêncio do universo. Deus que, ao longo dos séculos tinha falado de muitos modos e a muitos povos, em Belém fez-se Pessoa. S. Inácio, bispo e mártir de Antioquia, pelos ano 100, fala desses “mistérios clamorosos que se realizaram no silêncio de Deus: a virgindade de Maria, o seu parto e a morte do Senhor». E logo explica como se revelaram tais mistérios ao mundo:

«No firmamento brilhou uma estrela maior do que todas as outras! A sua luz era indescritível. A sua novidade causou estranheza. Mas todos os demais astros, incluindo o Sol e a Lua, fizeram coro à Estrela. Esta, porém, ia arremessando a sua luz por sobre todos os demais. Houve, por isso, agitação. Donde lhes viria tão estranha novidade? Desde então, desfez-se toda a magia; suprimiram-se todas as algemas do mal. Dissipou-se toda a ignorância; o primitivo reino corrompeu-se, quando Deus se manifestou humanamente para a novidade de uma vida eterna».

O Natal assinala o triunfo de Cristo e a libertação de todas as formas de opressão, engano, alienação ou superstição. S. Efrém, teólogo e poeta sírio do século IV que nos deixou um vasto conjunto de poemas e textos sobre o Natal, retoma esta convicção de S. Inácio quando vê no «menino que se encontra na manjedoura … aquele que rompeu o jugo que a todos oprimia». Como operou tal libertação? «fazendo-se Ele mesmo – continua S. Efrém – servo para nos chamar à liberdade». Santo Agostinho refere-se frequentemente em seus sermões natalícios ao silêncio eloquente do bebé de Belém, patente na voz das criaturas que exteriorizam a alegria da sua libertação.

Belém é, pois, para nós, uma lição eloquente. Com o seu nascimento na silente noite de Belém, o Menino divino, diz S. Agostinho, «mesmo sem dizer nada, deu-nos uma lição, como se irrompesse num forte grito: que aprendamos a tornar-nos ricos nele que se fez pobre por nós; que busquemos nele a liberdade, tendo Ele mesmo assumido por nós a condição de servo; que entremos na posse do céu, tendo Ele por nós surgido da terra».

Nasceu o Sol de Justiça

O nascimento de Jesus em Belém marca erupção de uma nova era para toda a humanidade, mas também para todo o cosmo criado. Não admira, pois, que os cristãos tenham intencionalmente associado o Natal de Jesus ao destino da humanidade e do mundo que os antigos consideravam “estar escrito nos astros”. Se é verdade que estão por provar as razões e circunstâncias pelas quais os cristãos escolheram a data de 25 de dezembro para celebrar o Natal do Salvador, facto é que tirarão bom partido da coincidência desta data com as celebrações pagãs e as ocorrências cósmicas. É frequente encontrar nos escritos patrísticos exortações como esta de S. Agostinho: «Alegremo-nos, irmãos, rejubilem e alegrem-se os povos. Este dia tornou-se para nós santo não devido ao astro solar que vemos, mas devido ao seu Criador invisível, quando se tornou visível para nós, quando o deu à luz a Virgem Mãe». Prudêncio, poeta hispânico do século IV, exprime essa alegria universal num extenso hino composto para o dia 25 de dezembro. Neste dia, Cristo é apresentado como o verdadeiro “Sol invictus”: «Com crescente alegria brilhe o céu/ e dê-se parabéns a si a gozosa terra:/ de novo, passo a passo, sobre o astro/ do dia aos seus caminhos anteriores…/ Oh! Santo berço do teu presépio,/ eterno Rei, para sempre sagrado/ para todos os povos e pelos próprios/ animais sem voz reconhecida».

Cientes de que a vinda de Cristo não veio negar, mas responder às ânsias ancestrais da humanidade, os pregadores identificam Cristo, que «por nosso amor nasceu no tempo», com a luz libertadora das trevas do erro e da tirania dos astros:

«Reconheçamos o verdadeiro dia e tornemo-nos dia! Éramos, na verdade, noite quando vivíamos sem a fé em Cristo. E uma vez que a falta de fé envolvia, como uma noite, o mundo inteiro, aumentando a fé a noite veio a diminuir. Por isso, com o dia de Natal de Jesus nosso Senhor a noite começa a diminuir e o dia cresce. Por isso, irmãos, festejemos solenemente este dia; mas não como os pagãos que o festejam por causa do astro solar; mas festejemo-lo por causa daquele que criou este sol. Aquele que é o Verbo feito carne, para poder viver, em nosso benefício, sob este sol: sob este sol com o corpo, porque o seu poder continua a dominar o universo inteiro do qual criou também o sol. Por outro lado, Cristo com o seu corpo está acima deste sol que é adorado, pelos cegos de inteligência, no lugar de Deus que não conseguem ver o verdadeiro sol de justiça» (S. Agostinho).

Segundo S. Máximo, bispo de Turim no século IV, «Jesus é o novo sol que atravessa as paredes, invade os infernos, perscruta os corações. Ele é o novo sol que com os seus espíritos faz reviver o que está morto, restaura o que está velho, levanta o que está decadente e purifica ainda, com o seu calor, aquilo que é impuro, aquece o que está frio e consome o que o que não presta».

Como vemos, na pregação dos primeiros cristãos, o presépio está profundamente associado à natureza que, como livro de catequese escrito pelo Criador, nos ensina a celebrar e a viver o Natal do Salvador. Neste sentido, vale a pena continuarmos a ouvir as palavras sempre atuais de S. Máximo turinense:

«Preparemo-nos, pois, irmãos, para acolher o Natal do Senhor, adornemo-nos com vestes puras e elegantes! Falo, claro está, das vestes da alma, não do corpo… Adornemo-nos não com seda, mas com obras boas! Pois as vestes elegantes ornam o corpo, mas não podem adornar a consciência; pois seria muito vergonhoso trazer sob elegantes vestes elegantes, uma consciência contaminada. Procuremos acima de tudo embelezar os nossos afetos íntimos, e poderemos então vestir belas roupas; lavemos as manchas da alma para usarmos dignamente roupas elegantes! Não adianta dar nas vistas pelas vestes se estamos sujos em pecados, porque quanto a consciência está escura, todo o corpo fica nas trevas. Temos, porém, com que lavar as manchas da nossa consciência. Pois está escrito: Dai esmola e tudo será puro em vós (Lc 11,41). É importante este mandamento da esmola: graças a ele, ao operarmos com as mãos ficamos lavados no coração».

Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens

Cristo nasceu homem para restituir à humanidade e a toda a criação a sua beleza e dignidade. É neste sentido que os Padres interpretam a mensagem dos anjos na noite santa. Essa voz é a expressão da alegria pelo facto de céu e terra, Deus e humanidade se abraçaram para sempre. A partir de agora, anjos e homens podem cantar juntamente a beleza do cosmo que se exprime num único hino de louvor: glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. A alegria foi, segundo S. Efrém, muito maior no nascimento do que na conceção, pois «só um anjo anunciou a sua conceção, enquanto que para o seu nascimento uma multidão de anjos O anunciaram». Ao lembrar esse grande acontecimento, o poeta siríaco do século VI, Romano Melode, exorta: «Terra e céu rejubilem juntamente, diante do Emanuel que os profetas anunciaram, tornado criança visível, que dorme num presépio». E, num outro poema, continua: «A alegria acaba de nascer numa gruta. Hoje o coro os coros dos anjos unem-se a todas as nações para celebrar a virgem imaculada que neste dia deu à luz o Salvador. Hoje toda a humanidade, desde Adão, dança. Bendito seja Deus, recém-nascido».

O Natal é a grande festa de toda a humanidade, em que ninguém se deve sentir à margem ou indiferente, como no-lo recordam os sermões natalícios da S. Leão Magno:

«Nasceu hoje, irmãos, o nosso Salvador. Alegremo-nos! Não pode haver tristeza quando nasce a vida; a qual, destruindo o temor da morte, nos enche com a alegria da eternidade prometida. Ninguém está excluído da participação nesta alegria; a causa desta alegria é comum a todos, porque nosso Senhor, aquele que destrói o pecado e a morte, não tendo encontrado ninguém isento de pecado, a todos veio libertar. Exulte o santo porque está próxima a vitória; rejubile o pecador, porque é convidado ao perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida… Por isso é que, quando o Senhor nasceu, os anjos cantaram em alegria ‘glória a Deus nas alturas’ e anunciaram ‘paz na terra aos homens de boa vontade’. Porque veem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo, obra inexprimível do amor divino, que, se dá tanto gozo aos anjos nas alturas do céu, que alegria não deverá dar aos homens cá na terra?».

Deus fez-se homem para que o homem venha a ser divino

Nesta sentença recorrente nos escritores cristãos antigos está sintetizado o significado profundo do Natal. Voltemos a dar a voz a S. Agostinho: «Hoje nasceu para nós o Salvador. Nasceu, portanto, para todo o mundo o verdadeiro sol. Deus Fez-se homem para que o homem se fizesse Deus. Para que o escravo se tornasse senhor, Deus assumiu a condição de servo. Habitou na terra o morador do céu para que o homem, habitante da terra, pudesse encontrar morada nos céus». E, num outro sermão de Natal, o bispo de Hipona volta a recordar que Deus, em Belém, se fez pobre para nos enriquecer com os seus dons:

«Ele está deitado numa manjedoura, mas contém o universo inteiro; mama num seio materno, mas é o pão dos anjos; veio em pobres panos, mas reveste-nos de imortalidade; é amamentado, mas é também adorado; não encontrou lugar na estalagem, mas constrói para si um templo no coração dos seus fiéis. Tudo isto para que a fraqueza se tornasse forte e a prepotência se tornasse fraqueza. Por isso, não só não menosprezamos, mas mais admiramos o seu nascimento corporal e reconhecemos neste acontecimento quanto a sua imensa dignidade se humilhou por nós».

A Verdade brotou da terra

A Palavra vinda do Céu fecundou a terra e desta brotou a verdade e a justiça. Uma das preocupações constantes dos Padres da Igreja vai ser a de afirmar que o Filho de Deus é também filho de Maria, isto é, o Menino de Belém é todo Deus e todo homem: «Aquele que estava deitado na manjedoura fez-se frágil, mas não renunciou à sua condição divina; assumiu aquilo que não era, mas permaneceu aquilo que era. Eis que temos diante de nós Cristo menino: cresçamos juntamente com Ele», diz S. Agostinho. O bispo hiponense, num outro sermão, dirige-se ao seu povo nestes termos:

«Chama-se dia do Natal do Senhor a data em que a Sabedoria de Deus se manifestou como criança e a Palavra de Deus, sem palavras, imitou a voz da carne. A divindade oculta foi anunciada aos pastores pela voz dos anjos e indicada aos magos pelo testemunho do firmamento. Com esta festividade anual celebramos, pois, o dia em que se realizou a profecia: A verdade brotou da terra e a justiça desceu do céu (Sl 84,12)».

Esta afirmação retomada do salmo 84 servirá de mote a vários dos sermões natalícios de Agostinho. Num outro sermão, o bispo de Hipona explica o significado profundo de tal expressão:

«Neste dia, o Verbo de Deus revestiu-se de carne e nasceu de Maria virgem. Nasceu de modo admirável… Donde veio Maria? De Adão. Donde veio Adão? Da terra. Se Adão veio da terra e Maria de Adão, também Maria é terra. E se Maria é terra, entendemos quando cantamos: a verdade brotou da terra».

Contra os negadores da dignidade da carne e das criaturas (docetas, Gnósticos, marcionitas, maniqueus…) não se cansam de salientar a realidade humana de Jesus, sublinhando os detalhes do seu nascimento. S. Efrém compôs vários poemas natalícios em que coloca na boca de Maria belíssimos solilóquios que se inspiram nas cantigas de embalar à moda antiga. Eis algumas das suas expressões: «Santa Maria, tua mãe, tua irmã, tua esposa e tua serva, logo te acaricia, te abraça e beija, canta, reza e agradece. Depois dá-te o peito, te aconchega e embala e sorri para ti e tu ris e mamas no seu peito». Maria, fez tudo o que faria qualquer mãe encantada com seu filho para o fazer feliz. Assim, contemplando a criança divina entre seus braços, exclama: «Como abrirei a fonte do leite, para ti que és a origem e termo de todas as coisas? E como te darei alimento, a ti que nutres tudo? Ou como tocarei os panos que te envolvem, Tu que te revestiste de esplendor? Filho do homem não és, para que eu te cante louvores à moda habitual». Entretanto o menino desperta e, com o seu choro infantil, interrompe estas meditações de Maria que continua a «acariciá-lo, a embalá-lo, beijando-o e afagando-o contra si. Ele olha para ela e baloiça como menino já nascido no presépio envolto em panos. E quando começa a chorar, ela dá-lhe o peito, acaricia-o, embala-o, baloiça-o sobre os joelhos e Ele acalma-se».

Os melhores preparativos para o Natal

Ontem, como hoje, os homens facilmente caíram na tentação do valorizar as aparências, os enfeites exteriores e até a tirar vantagens materiais das festas natalícias. Contra esta desvirtuação tão evidente nos nossos dias já advertiam os antigos pregadores.

«Esta é a nossa festa», proclama S. Gregório de Nazianzo, «isto celebramos hoje: a vinda de Deus ao meio dos homens, para que, também nós cheguemos a Deus… celebremos, pois, a festa: não uma festa popular, mas uma festa de Deus, não como o mundo quer, mas como Deus quer; não celebremos as nossas coisas, mas as coisas daquele que é nosso Senhor…».

Como fazê-lo? Pergunta este bispo de Constantinopla do século IV. E responde sem hesitar:

«Não embelezemos as portas das casas, não organizemos festas, nem adornemos as estradas, não dêmos banquetes em nosso proveito nem concertos para mero agrado dos ouvidos, não exageremos nos adornos nem nas comidas… e tudo isto enquanto outros padecem fome e necessidades, esses que nasceram do mesmo barro que nós».

* Professor de Patrística na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa

Coroa do Advento

Coroa do Advento | calendarr

Início do Advento

O Advento inicia-se no dia 27 de novembro de 2022 e termina no dia 24 de dezembro, Véspera de Natal.

Este é o período antes do Natal em que a igreja se prepara para a comemoração do nascimento do Menino Jesus.

A data muda a cada ano, uma vez que tem início no domingo mais próximo do dia 30 de novembro, mas sempre termina no dia 24 de dezembro.

A palavra "advento" vem do latim adventum e significa chegada. Neste caso, faz referência à chegada de Jesus ao mundo.

Tempo do Advento

O tempo do Advento tem a duração de quatro semanas. Este ano, vai de 27 de novembro a 24 de dezembro de 2022.

Os domingos do tempo do Advento chamam-se: 1.º, 2.º, 3.º e 4.º domingo do Advento. Este tempo que antecede o Natal é o primeiro tempo do calendário litúrgico. É um tempo de espera e de esperança para a chegada de Cristo.

As duas primeiras semanas do Advento visam a preparação para a chegada de Jesus Cristo e as duas últimas semanas do Advento propõem-se a fazer a preparação para a celebração do Natal.

Coroa do Advento

A coroa do Advento é um símbolo do Natal utilizado nas igrejas durante o Tempo do Advento.

Consiste em um ramo verde disposto em forma circular, onde são colocadas quatro velas nas seguintes cores: verde, vermelha, roxa e branca. A cada domingo uma vela é acesa, até que todas estejam acesas no último domingo do Advento.

As velas são acesas na ordem abaixo e têm os seguintes significados:

1.º Domingo do Advento: vela verde, significa a esperança que a vinda de Jesus nos traz.

2.º Domingo do Advento: vela vermelha, significa o amor de Deus por nós.

3.º Domingo do Advento: vela roxa, significa a reflexão que este tempo requer das pessoas, mas com alegria pela vinda de Jesus.

4.º Domingo do Advento: vela branca, significa Jesus, que é a luz que ilumina o mundo, tirando-o da escuridão.

Origem do Advento

Acredita-se que a primeira referência ao Advento seja do ano 380, na Península Ibérica, quando o Sínodo de Saragoça ordenou uma preparação de três semanas para a Epifania do Senhor.

Epifania significa revelação e, por isso, representa o dia em que Jesus foi apresentado ao mundo, o que teria acontecido com a chegada dos Reis Magos no local do nascimento de Jesus.

Dificuldades e testemunhos dos jovens no momento político brasileiro

Antoine Mekary | ALETEIA
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Pesquisador identificou três grupos distintos de jovens quanto a sua relação com a política.

Num artigo anterior, comentei como a posição dos jovens perante a realidade tende a ser marcado tanto pelo fascínio diante da beleza quanto pela indignação diante dos males do mundo. A revolta juvenil pode incomodar aos adultos, mas um mundo com jovens apáticos será muito pior: perderá o próprio impulso para a construção do novo e para a melhora das condições de toda a humanidade – e toda a humanidade precisa sempre melhorar em um aspecto ou outro.

Nossos jovens brasileiros estão vivendo um momento particularmente difícil para quem está definindo a própria visão de mundo e os caminhos futuros. Os efeitos da polarização política têm sido impiedosos para todas as posições. Para onde se olha, o que se vê são acusações e críticas, algumas indevidas, mas a maioria com pelo menos um fundo de razão… O extremismo estimula a raiva e distorce a compreensão da realidade, o medo de ser manipulado frequentemente é instrumentalizado pelos próprios manipuladores. Para quem está se formando, neste contexto não é fácil adquirir um discernimento realista, que se oriente pela busca da verdade e pelo amor ao próximo.

Três posturas dos jovens frente à política

Diante dessa situação, um recente artigo sobre a participação política de jovens chineses pode nos ajudar a uma reflexão sobre nosso momento atual aqui no Brasil. O autor, Jun Fu, da Universidade de Melbourne, identificou três grupos distintos de jovens, quanto a sua relação com a política. Chamou-os de “jovens raivosos”, “cínicos impotentes” e “idealistas realistas”.

O primeiro grupo se identifica por uma relação visceral e agressiva com a política. Tendem a uma adesão acrítica às próprias posições e à completa negação da posição do outro, ao extremismo ideológico, à intransigência e à falta de diálogo.

Os cínicos impotentes acreditam que nada irá conseguir mudar o mundo. Sendo assim, o importante é procurar se dar bem nas condições atuais. A postura desses jovens é individualista, acrítica, conformista.

Os idealistas realistas querem construir um mundo melhor, mas estão cientes de suas limitações e procuram trabalhar dentro dessas limitações, procurando “fazer a diferença” naquilo que lhes é possível fazer.

Sem nenhuma preocupação estatística, de saber quem é mais comum e quem é menos comum, podemos assumir que esses três grupos também estão presentes entre os jovens brasileiros de hoje.

Infelizmente, nenhum dos dois primeiros grupos dará grande ajuda para a construção de uma política melhor em nosso País. Os cínicos impotentes não se esforçam para consertar o que está errado, tornando-se coniventes com a situação atual. Os jovens raivosos desperdiçam seu idealismo, deixando-se levar por movimentos e lideranças que acabam se revelando mais preocupados em garantir suas próprias posições, aniquilando os adversários, do que em construir o bem comum. A raiva, mesmo que muitas vezes compreensível, nunca é boa conselheira.

Evidentemente, idealistas realistas representam o perfil mais adequado para construir uma sociedade mais justa. Todos os papas, ao se dirigirem aos jovens, procuraram incentivar essa posição. Mas, tal postura não é tão fácil. Se olharmos para o mundo adulto, veremos que os jovens idealistas frequentemente se tornam adultos cínicos ou raivosos.

A sabedoria dos velhos e a liberdade dos jovens

Na exortação Christus Vivit (CV) Francisco escreve: “Aos jovens, está confiada uma tarefa imensa e difícil. Com fé no Ressuscitado, poderão enfrentá-la com criatividade e esperança […] Misericórdia, criatividade e esperança fazem crescer a vida. […] Sei que ‘o teu coração, coração jovem, quer construir um mundo melhor […] Continuai a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo […] Não olheis da sacada a vida, mergulhai nela, como fez Jesus’ [Vigília da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro]. Lutai pelo bem comum, sede servidores dos pobres, sede protagonistas da revolução da caridade e do serviço, capazes de resistir às patologias do individualismo consumista e superficial”. (CV 173, 174)

A falta de referências adultas que mostrem que o idealismo pode ser vivido de forma realista é uma das maiores causas da desilusão e da revolta dos jovens quando pensam o mundo adulto. Mas, ao mesmo tempo, explicam o grande fascínio que idosos como o Papa Francisco exercem sobre os jovens. Pessoas como ele mostram aos jovens que é possível ter esperança, que o amor e a ternura não são sentimentos ilusórios, que a indignação pode não levar ao ressentimento e a uma violência desnorteada.

Por outro lado, em alguns momentos os próprios jovens podem se tornar uma referência para os adultos. Fiquei particularmente impressionado com o testemunho de um grupo de universitários católicos que, constatando a polarização política do momento atual, passaram a estudar a posição dos candidatos em que não votariam, não para criticá-los, mas para descobrir e o que tinham de bom. A maioria de nós procura sempre justificar a sua posição, desqualificando a do outro… Quanta liberdade tinham esses jovens para não se apegar a suas posições, mas, pelo contrário, procurar se abrir para o outro! 

Cabe a todo adulto cristão ser ele também um testemunho crível de uma postura humana capaz de criar uma política melhor – para que nossos jovens sejam “idealistas realistas”. Cada um de nós é chamado a praticar o discernimento e o amor característicos aos idosos sábios e idealistas, bem como a liberdade e o ímpeto desses jovens que se abriram para descobrir os valores do diferente.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF