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sábado, 26 de setembro de 2020

A forma do batismo: somente por imersão? (Parte 3/12) – Figura e realidade

Veritatis Splendor

Abordemos agora o Tipo e o Antitipo[3], a figura e a realidade desses batismos (aspersão de sangue) com o sacrifício de Jesus.

  • “E Moisés tomou a metade do sangue, e a pôs em bacias; e a outra metade do sangue derramou sobre o altar. E tomou o Livro da Aliança e o leu aos ouvidos do povo, e eles disseram: ‘Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos’. Então tomou Moisés aquele sangue, e aspergiu-o sobre o povo, e disse: ‘Este é o sangue da aliança que o Senhor tem feito convosco sobre todas estas palavras'” (Êxodo 24,6-8).

Assim como Moisés derrama sangue no altar como sinal da Aliança com Yahvé, assim também Jesus o faz com seu Sangue:

  • “Porque este é o meu sangue, o sangue da nova aliança, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados” (Mateus 26,28).

O Tipo e o Antitipo, a figura e a realidade desse ato: enquanto Moisés diz “Este ´e o sangue da aliança”, Jesus afirma: “Este é o meu sangue da Aliança”.

E assim como Moisés asperge o sangue do cordeiro (tipo de Jesus) sobre o povo, Jesus derrama o seu Sangue por muitos.

A aspersão de sangue fazia parte essencial dos sacrifícios do Antigo Testamento (cf. Levítico 4,6-7). O sangue da vítima representava a própria vida oferecida sobre o altar no lugar do pecador, prefigurando o grande sacrifício vigário da Cruz (cf. Levítico 17,11; Hebreus 9,18-22). Pela aspersão, este sangue purificador era lançado sobre o próprio pecador, como que para lavar-lhe das suas faltas que de agora em diante restavam expiadas.

Pois bem: esse sacrifício que Jesus faz na Cruz, derramando o seu Sangue… também é um Batismo!

  • “Mas Jesus lhes disse: ‘Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que eu bebo, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado?'” (Marcos 10,38; v.tb. Lucas 12,50).

Assim é que esse sofrimento de Jesus, pelo “derramamento” de sangue que Ele faz, é um “Batismo” e os Apóstolos nos mostram que sua “aspersão” purifica, pois como disse Jesus, foi para o perdão dos pecados:

  • “E a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel” (Hebreus 12,24);
  • “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas” (1Pedro 1,2).

Efetivamente, a Igreja ensina que o batismo é necessário para a salvação, porque nos purifica, nos lava interiormente tornando efetivo esse sacrifício de Jesus. Essa “aspersão” de Sangue se faz presente no nosso batismo: por isso as água do batismo simbolizam essa “aspersão” e nos tornamos partícipes da morte de Jesus para depois nascermos para uma nova vida.

Dá para entender agora porque aceitamos também o batismo por aspersão? Posteriormente falaremos um pouco mais sobre a purificação interior.

O batismo que Nosso Senhor recebeu foi um “Batismo de Sangue”. É por isso que a Igreja também ensina sobre o batismo de sangue, que cabe a todos aqueles mártires que não conseguiram ser batizados, mas tinham esse desejo de serem batizados. Com efeito, “banhando-se” no seu próprio sangue, pelo martírio, recebem esse batismo de sangue e de desejo, que se torna efetivo graças ao sacrifício de Cristo, pelo “derramamento” do seu Sangue na Cruz.

Há um versículo bastante interessante, após a morte de Jesus na Cruz, que diz assim:

  • “Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água” (João 19,34).

Sim! “Sangue e água” saem derramados das costelas de Jesus. A Tradição ensina que Caio Cássio Longino, o centurião que estava ao pé da Cruz e que exclamou: “Em verdade, este era o Filho de Deus!” (cf. Mateus 27,54; Marcos 15,39Lucas 23,47), se converteu a Cristo ao ser literalmente batizado pelo Sangue e água que saiu do lado de Jesus; e que ao banhar-lhe a face, foi curado de uma infecção que tinha em um dos olhos, convertendo-se e morrendo como mártir[4]. Com efeito, essa passagem de João carrega toda uma mensagem teológica sobre o batismo.

Logo, ainda que a palavra grega “βαπτίζειν” signifique “mergulhar”, não necessariamente se refere ao modo de batismo. Isto porque, como vimos, o contexto em que tal palavra (ou similar) é empregada faz referência não obrigatoriamente a uma submersão, mas a um banho que também pode ser por aspersão [ou infusão].

Para ampliar ainda mais tudo isso, veremos como a palavra “batismo” possui ainda outros significados, como se permitirá ver a partir do contexto de outras passagens.

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NOTAS
[3] Chama-se “antitipo” a realidade do Novo Testamento que tem correspondência com um “tipo” do Antigo. O termo grego também pode ser traduzido nas Bíblias em portuguêm como “figura” (p.ex. em Hebreus 9,24; 1Pedro 3,21).
[4] Biografia de Caio Cássio Longino, por Jesús Mondragón (https://www.catholicmagazine.net/2019/10/su-nombre-era-cayo-casio-longinos-y.html?m=1) (em espanhol).

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF