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domingo, 29 de agosto de 2021

XXII DOM TEMPO COMUM - Ano "B"

Dom Paulo Cezar | arquibrasília

Por Dom Paulo Cezar Costa / Arcebispo de Brasília

A interioridade do ser humano

            A Palavra de Deus, no Evangelho deste domingo, coloca diante de nós a questão da exterioridade e da interioridade do ser humano. Vive-se, hoje, numa cultura da exterioridade, a que valoriza a corporeidade, a aparência etc. Esta questão estava também no centro da vida religiosa do tempo de Jesus. Os fariseus e mestres da Lei estão preocupados com a exterioridade: lavar mãos, lavar objetos, banhar-se etc. Eram preceitos importantes, que nós chamaríamos regras de boa educação, e estavam no centro da discussão religiosa.

Jesus, no Evangelho deste domingo (Mc 7, 1-8. 14-15.21-22) e em outros momentos, aponta para a realidade central da vida humana: a interioridade. Os fariseus e mestres da Lei estavam preocupados com os preceitos exteriores, mas Jesus remete para a interioridade: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior”. O ensinamento de Jesus, aqui, é claro e fácil de ser compreendido. O puro e impuro não deve ser procurado fora do ser humano, nas coisas exteriores, mas dentro do homem, na interioridade, no coração. Coração entendido no sentido semita, como princípio do agir humano, como princípio das nossas ações. A interioridade deve ser entendida como a forma de pensar, de conceber aquelas ideias que estão lá dentro de nós e que norteiam a nossa vida, as nossas decisões.

O Evangelho remete para aquilo que chamamos de consciência, para a necessidade da formação da consciência, para a interioridade da pessoa humana. O Catecismo da Igreja Católica, nº 1776 diz: “Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo, mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei ressoa no íntimo de seu coração … É uma lei inscrita por Deus no coração do homem”.

Jesus afirma que o mal não está no que entra na pessoa humana, mas naquilo que vem da sua interioridade: “Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo” (Mc 7, 21-22). As ações más, antes de serem praticadas, são concebidas na nossa interioridade, no nosso coração. É preciso formar a interioridade. Sem a formação da interioridade, da consciência, tem-se cada vez mais um ser humano que vai perdendo os referenciais éticos e morais da vida. A formação da consciência é um processo que se inicia na família, que tem um papel fundamental e irrenunciável, pois é de pequeno que o ser humano vai aprendendo a conceber o bem, os valores e vai evitar o mal. Todas as instâncias da sociedade possuem um papel fundamental neste processo educativo. Papa Francisco, citando um provérbio africano, diz que “é preciso toda uma aldeia para educar uma criança”. Todos são agentes na formação da consciência: família, igrejas, escolas, meios de comunicação etc. O grande perigo da vida de uma sociedade torna-se o ir perdendo os referencias éticos e morais, caindo numa cultura niilista, do nada. Quando se vai renunciando aos princípios éticos, na vida de uma sociedade, corre-se o risco ir-se minando as condições da vida social. Que esta palavra de Deus nos ajude a termos uma medida alta da vida, dos processos e instrumentos de formação da consciência moral e da vida em sociedade.

Fonte: Arquidiocese de Brasília

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF