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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Tertuliano de Cartago: Tratado sobre a Oração (Parte 6/11)

Tertuliano de Cartago | Veritatis Splendor
Tratado sobre a Oração

XI

Como devemos orar?

1. A lembrança dos preceitos divinos abre à oração o caminho do céu. Deles, o primeiro consiste em que não subamos ao altar de Deus, sem antes nos reconciliarmos com um irmão, caso haja entre nós e ele motivo de discórdia ou ofensa. Que sentido teria apresentar-se à paz de Deus, sem estar em paz com o irmão? Buscar a remissão das próprias dívidas, sem abrir mão das alheias? Como aplacar o Pai, se guardar raiva contra o irmão? De fato, Deus nos proíbe toda ira, mesmo apenas esboçada.

2. Lembremo-nos de José. Ao despedir os irmãos para que lhe trouxessem o pai, recomendou-lhes: “Não se deixem levar pela ira, no caminho” (Gn 45,24). Com isso, ele nos deu, também a nós, um conselho. Com efeito, a nossa maneira de viver é chamada de “caminho” (cf. At 9,2). Assim, quando vamos pela estrada da oração, não devemos caminhar para o Pai com sentimentos de cólera.

3. Daí vem que o Senhor, de modo bem explícito, ampliando o conteúdo da Lei de Moisés, sobrepõe ao homicídio a ira contra o irmão. Ele não permite nem mesmo uma palavra má. Se for, porém, inevitável ficar encolerizado, nossa ira não vá além do pôr-do-sol, como nos adverte o Apóstolo (cf. Ef 4,26). É, pois, temerário, passar o dia inteiro sem orar, enquanto te recusas a perdoar teu irmão, ou então, perder a tua oração perseverando em cólera.

XII

Oremos com o coração puro

1. Devemos estar livres não somente da cólera, mas de toda perturbação da alma, quando nos entregamos à oração, que há de ser feita com um espírito semelhante ao Espírito ao qual se dirige. Um espírito não purificado não pode ser reconhecido pelo Espírito Santo. Nem um espírito triste pelo alegre Espírito de Deus. Nem um espírito perturbado, pelo Espírito da liberdade (cf. 2 Cor 5,17). Ninguém acolhe um adversário; hospeda-se apenas um amigo.

XIII

Puro seja o coração

1. De resto, que motivo temos para lavar nossas mãos antes de ir orar, se o nosso espírito está imundo? Até as nossas mãos precisam de ser espiritualmente lavadas, a fim de que se levantem incontaminadas de mentira, de violência, de crueldade, dos atos de envenenamento, de idolatria e de outras manchas que brotam do coração e se realizam pelas mãos. É esta a verdadeira pureza (cf. 1Tm 2,8Mt 15,20). Não se trata daquelas abluções que a maior parte das pessoas observa supersticiosamente para orar. Mesmo se acabam de vir de um banho completo, usam a água.

2. Como eu refletisse com a maior atenção o sentido dessa praxe, ocorreu-me à lembrança o gesto de Pilatos, lavando as mãos ao entregar o Senhor à condenação (cf. Mt 27,24). Quanto a nós, adoramos o Senhor; não o traímos. Devemos agir de maneira contrária ao exemplo do traidor e não lavar as mãos, a não ser por alguma contaminação própria da condição humana e da qual outros têm conhecimento. De resto, estão já bastante limpas as mãos que, em Cristo, lavamos uma vez por todas, junto com todo o corpo.

XIV

1. Israel, embora lave todo dia o corpo, não está, contudo, purificado. Suas mãos estão sempre impuras, eternamente manchadas com o sangue dos profetas e com o do próprio Senhor. Por isso, os israelitas, culpados hereditariamente dos mesmos crimes de que tinham consciência os seus pais, não ousam levantar as mãos para o Senhor, de medo do clamor de um Isaías e de causar horror a Cristo. Quanto a nós, porém, não só as levantamos, mas as estendemos e, assim, imitando o Senhor na sua paixão, confessamos o Cristo com a nossa oração.

Fonte: https://www.veritatis.com.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF