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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

São Raimundo Nonato

S. Raimundo Nonato | Mercedários
31 de agosto
São Raimundo Nonato

Vida de São Raimundo Nonato

Portell, Pátria de São Raimundo Nonato – seu prodigioso nascimento

São Raimundo Nonato nasceu em Portell, pequeno povoado da região da Catalunha, nordeste da Espanha. O tempo era de muito fervor religioso, mas conflitos por defesa ou avanço de fronteiras se multiplicavam. Embora descendendo da ilustre família dos Viscondes de Cardona, seus pais, Arnal e Armesinda Salons, eram de condição humilde. O pai era militar alistado ali numa das tantas cavalarias condais da região.

Por volta do ano de 1302, na ausência do pai, a jovem esposa chegara ao momento de dar à luz ao seu filho. Os embaraços no parto e a falta de assistência médica levaram ao desfecho da morte da mãe, antes da criança nascer. A comoção fora geral entre a vizinhança ali presente. Mas o que fazer? Mãe e filho mortos? Não. Aquele era um desses momentos de Deus. Algumas horas depois, chegando ao lugar o Visconde de Cardona, Raimundo de Folch, movido por impulso superior, abre com uma faca de caça o ventre da mãe falecida e oferece à vista das testemunhas daquela cena inédita um formoso menino, que a admiração geral apelida de NONATO, sobrenome que se impôs e se conserva até hoje, como lembrança do insigne mistério de sua vida.

O Visconde conferiu ao menino seu próprio nome, com sobrenome de NONATO e o tomou sob sua proteção, comprometendo-se ministrar-lhe posteriormente sua educação.

Infância e adolescência de Raimundo Nonato

Raimundo passa sua infância no seu povoado. Era um garoto comum, dócil, piedoso, educado, bondoso, sem caprichos e de bom trato. Parentes e vizinhos cuidavam do menino. O pai tinha que fazer, às vezes também de mãe.

Raimundo aprende, desde cedo, as primeiras orações e, enquanto crescia, manifestava sua piedade no repetido gesto de ornamentar as imagens de Nossa Senhora com flores silvestres, ou prolongar-se em orações diante dos seus altares.

Como as demais crianças do seu lugarejo, aprendia os primeiros ensinamentos na escola paroquial de Portell.

Naquele momento, o longo confronto entre cristãos e mulçumanos tinha desaparecido, mas permanecia a dolorosa realidade do cativeiro, como uma chaga difícil de sarar, porquanto rendia capital aos que se dedicavam a esse negócio. Uma das estratégias encontradas para aliviar o sofrimento de milhares de cristãos, vítimas dessas emboscadas, fora a libertação de suas vidas, mediante resgate. São Pedro Nolasco, comerciante barcelonês, tinhas fundado a Ordem de Nossa Senhora das Mercês com o objetivo de empenhar seus seguidores na obra da libertação dos cristãos cativos. O movimento crescera, o ideal se propalara e aumentara o número de jovens fascinados pela defesa da liberdade de quem a tivesse perdido.

Quando pré-adolescente, o pai de Raimundo Nonato, afim de educá-lo para a carreira militar, o enviara a Barcelona. Raimundo de Cardona tinha –se comprometido com a formação escolar do menino. Contudo, o pai soube que o garoto tinha trato com alguns clérigos.

Com receio de que o menino se inclinasse para a vida religiosa, o pai trouxe de volta a Portell e lhe encomendou o cuidado de umas ovelhas numa pequena propriedade a poucos quilômetros da aldeia. Com razão seu pai intuíra que o espírito de piedade do filho inclinaria cada vez mais para a vida religiosa do que para levar adiante as glórias militares da família.

Raimundo não protestara da decisão de seu pai, até porque lhe eram típicas a obediência e a humildade. Mas não deixou por menos o apelo de Deus no seu coração.

A mística Mercedária tinha levado já, durante todo o século XIII, centenas de redentores mercedários e trinitários aos cárceres maometanos. A região Catalã estava povoada de conventos mercedários. Naquele ambiente crescia o jovenzinho Raimundo Nonato, fascinado por levar às pessoas a liberdade. Era um rapaz apaixonado por tudo, logo também pelo projeto de Deus. Desejava escolher o melhor. E passara a pensar cada vez mais na libertação dos cativos.

Cuidando dos rebanhos do pai. Opção Religiosa.

Ordenado Presbítero.

S. Raimundo Nonato | Mercedários

A uns 3 Km do povoado de Portell havia um convento prioral, onde se erguia uma capela dedicada a São Nicolau. Este convento e capela foram doados a São Pedro Nolasco pelo prepósito de Solsona. A solidão do lugar deveria ser impressionante. Porém, muito adequada aos frades, pois favorecia a contemplação. Próximo da capela de São Nicolau ficava a pequena fazenda dos Salons. Era ali aonde se dirigia o rapaz para cuidar dos rebanhos do pai.

Mas fora justamente ali onde ele encontrara a paz e o sossego que propiciaram sua formação espiritual. Raimundo amava enormemente a Virgem Maria e assim escapava frequentemente para orar na capela de São Nicolau. Tecia bonitas grinaldas de flores silvestres para adornar o menino Jesus e sua Mãe. E aproveitava bom tempo do serviço de vigilância para ir até o convento dos Mercedários, ali próximo. Ele tinha então apenas 14 anos de idade.

Um dia seus amigos delataram ao pai que Raimundo Nonato estava abandonado o gado. Para confirmá-lo, o pai foi observar e o encontrou de joelhos e em êxtase, diante da imagem da Virgem Maria. Mas, por sua vez, constatou que as ovelhas voltavam ao redil sem entrar pelos roçados e muito bem ordenadas, guiadas por um pastor que reluzia como o sol. Era um anjo. O episódio certamente mexeu com a consciência de Arnal, o pai.

O rapaz aproveitara a solidão do seu retiro para discernir sua vocação e deliberar sua emancipação, que ele decidiu algum tempo depois, ingressando como mercedário na vida religiosa. Pronto, Raimundo pediu o hábito ao superior do convento. Ao cabo de 4 anos fez a profissão religiosa, em 1320, naquele convento da sua terra. Ele tinha então a idade de 18 anos.

Raimundo Nonato continuou se dedicando aos estudos eclesiásticos em Barcelona. Ali convivia permanentemente com as chegadas periódicas de centenas de redimidos, que aportavam a Barcelona, trazidos pelos confrades, desde as Costas Da África, Argélia, Mauritânia, Túnis, ou dos reinos mulçumanos espanhóis: Granada, Cádiz, Valência e outros.

Toda expedição tinha sua história de sucesso, de redenções, mas também, de malogros e de martírios. E, todo os mercedários conviviam com esta realidade, todos tinha consciência da sua vocação de risco.

Todos eram candidatos a mártir. Pois sabiam que a qualquer momento poderiam ser designados, em Assembleias Capitulares, para ir ao trabalho de resgates. É lógico que a escolha incidia preferentemente sobre homens corajosos, inteligentes, hábeis conhecedores da política árabe, perspicazes nos negócios, tarimbados nas relações humanas, corajosos para enfrentar as tormentosas viagens pelo Mediterrâneo, boa saúde física e psicológica. Mas, acima de tudo, pacientes, humildes e apaixonados pela causa que defendiam, com a disposição de entrega da própria vida em favor da libertação de algum cristão, ameaçado de perder sua fé nas masmorras sarracenas.

Aos 22 anos de idade, Raimundo Nonato foi ordenado presbítero em Barcelona e a partir daí amadurecia nos conventos mercedários o seu ideal de cavalheiro libertador. Recebia e atendia cativos redimidos; pregava e ensinava; organizava expedições, participava de Capítulos, recolhia esmolas; sobretudo orava. Seu amor à Eucaristia e à SS. Virgem Maria levava-o às alturas do êxtase.

Ânsia redentora – Cuidados com os pobres e os doentes

A ação redentora não era uma aventura improvisada. As expedições aconteciam uma ou duas vezes ao ano e eram decididas em Assembleias capitulares. Ali se aportavam as esmolas do Fundo da Redenção, escolhia-se o local, listavam-se os cativos a serem redimidos e se designavam os redentores. Lembramos que os comerciantes relacionados, sobretudo com os mulçumanos, tinham que ser audaciosos para empreender longas travessias, saber comprar, vender e trocar mercadorias, conhecer línguas e costumes de outros povos, ser hábeis para enfrentar os riscos de combates, a pirataria e a bandidagem.

Os perigos rondavam em mar e terra. As travessias pelo Mediterrâneo cobravam uma elevada cota de vidas desses religiosos. Quando Raimundo Nonato ingressara na Ordem como religioso, esta já contabilizava dezenas de mártires de várias regiões da Espanha e de outros países da Espanha e de outros países da Europa, todos mortos de forma brutal: decapitados, crivados com flechas, crucificados, enforcados, apedrejados, atravessados por espadas, esquartejados, estripados, arrojados ao mar com pedras atadas ao pescoço, jogados vivos em fogueiras, diante dos palácios dos reis para entreter o povo.

Apesar disto, Raimundo Nonato não via a hora de ser enviado como redentor. Enquanto os anos passavam, Raimundo forjava sua ânsia redentora, tornava-se homem de quilate. As mais antigas biografias o descrevem como “discípulo diligentíssimo do mestre Pedro Nolasco”, aplicado aos estudos e de caridade borbulhante. Dizem que andava de cidade em cidade; que cavalheiros e nobres o respeitavam e que todos os povos o amavam. De fato, enquanto se preparava para ir, um dia, às redenções, Raimundo se exercitava na oração e no sacrifício, impunha-se a penitência como forma de doação. No trato com os doentes, deixava marcas de inesgotável caridade.

Todos queriam ser atendidos por aquele jovem cheio de encanto e paciência, que se desdobrava em cuidados com os enfermos e achacados. Os pobres o procuravam agradecidos pelas dádivas que dele recebiam; e ele buscava atender a todos porque via neles a imagem de Jesus. Era assíduo na oração. O amor pelo mistério Eucarístico fazia dele um apaixonado por seus irmãos, um obsessivo defensor dos oprimidos pela ferida social, visível e sangrante da estrutura econômica, política e ideológica daquela sociedade.

Nos cárceres de Argélia -torturas: Proibido de falar

Em 1335, Raimundo Nonato, aos 33 anos de idade foi nomeado para uma redenção na Argélia. Ele embarcou na expedição com um confrade. Chegando àquelas cidades, os redentores podiam, com liberdade vigiada, percorrer os mercados humanos, entrar nos cárceres, conhecer a situação dos prisioneiros, oferecer câmbio. A condição do cativo pesava nas negociações. Se estava como prisioneiro um cortesão influente, um nobre, um militar, um clérigo ou um comerciante rico, os vendedores mudavam as regras do jogo.

Conforme o interesse comercial impunham soluções unilaterais e arbitrárias; tornavam-se inflexíveis e provocadores. Raimundo Nonato fizera então em Argélia 140 redenções. Mas como acontecera em outras ocasiões, o dinheiro não fora suficiente para resgatar, desta vez, mais alguns sofridos pais, cujas famílias não tinham como pagar o resgate. O religioso se propôs a ficar no seu lugar, até a próxima vinda dos mercedários à Argélia.

Pronto, Raimundo Nonato se dedicara a falar em nome de Jesus Cristo, tentando fortalecer a fé dos cativos cristãos. Era tudo o que ele sempre desejara: visitar, animar e converter. Então passara a visitar os cárceres, orava com os prisioneiros e até ousava catequizar os próprios mulçumanos, atraindo alguns para Jesus Cristo. Isto fora tomado como afronta. Era crime capital entre mouros falar de outra religião aos que professavam o islamismo.

Raimundo Nonato foi denunciado e condenado à morte. Mas o temor de perder a soma da sua libertação e de outros cativos levara os interessados a alcançarem dos seus magistrados a comutação da pena por terríveis suplícios.

Mandaram então açoitá-lo nas ruas e praças da cidade e o prenderam depois numa masmorra comum. Com isso, ele se dedicou mais e mais a confortar e a pregar aos cativos a paciência, e aos carrascos o amor. Cumpria-se aí o desejo do seu coração: consumir-se na obra da caridade. Sabia da força simbólica da entrega martirial como estímulo para os prisioneiros, um eloquente gesto de proclamação da fé em Jesus e viva lição de amor perante todos.

Depois de lhe fustigarem com várias torturas, um dia dois esbirros lhe infligiram um cruel suplício: p e r f u r a r a m com ferro q u e n t e os seus lábios e os fecharam com um cadeado, que ele tivera de amargar durante oito meses.

Não conseguiram com isso silenciá-lo. Com gestos e sinais ele continuava a transmitir a todos o calor de seu afeto e a força de sua mensagem. Homem de Deus, garimpava nas profundas experiências da oração a tranquilidade do espírito e alegria da fé. Forte e sereno impressionava a todos com a irradiação da paz e do amor. Ganhava o respeito e a simpatia dois próprios carrascos a quem repassava uma extraordinária lição do amor de cristo.

Retorno a Barcelona – Nomeado Cardeal.

S. Raimundo Nonato | Mercedários

As redenções eram feitas uma vez por ano. Alguma viagem extraordinária pelo Mediterrâneo podia acontecer sobretudo quando algum dos redentores ficava como refém. Foi assim que, passados 8 meses, chegara à Argélia outra expedição mercedária, levando o dinheiro    do resgate de Raimundo Nonato, bem como o da libertação de outros prisioneiros.

Puseram-se, então, à viagem de volta. Completada a travessia pelo Mediterrâneo, alcançaram o porto de Barcelona. A população costumava aguardar com ansiedade o retorno das barcas redentoras. Para os religiosos torturados havia sempre manifestações de solidariedade e de entusiasmada expressão de reverência e agradecimento.

Acercavam-se de Raimundo Nonato, para lhe beijar as mãos e se maravilhavam com a placidez e doçura do seu sofrido semblante. Crescia a veneração de todos pelo jovem redentor. E se multiplicavam as súplicas a Deus, bem como as revelações de favores alcançados do céu em seu nome. E o povo acorria a ele como a um querido e poderoso servo de Deus.

Sem perder a humildade, Raimundo Nonato continuava com seu gesto de caridade em favor dos pobres de Barcelona. Aumentava sua fama de santidade e muitos acorriam a ele com pedidos. A todos atendia com solicitude.

Por outro lado, crescia nele o fervor eucarístico, lugar da sua profunda comunhão com Deus. Enquanto o tempo passava, Raimundo trabalhara em vários conventos da Catalunha. Pregava, pedia esmolas para os resgates, falava da condição miserável dos oprimidos e da necessidade de mudar o quadro social que mantinha tanta gente excluída. E voltara a realizar outras redenções.

Sua fama atravessara então as fronteiras da Espanha e chegara a Avinhão, naquele momento, sede do Papado. Conhecido do clero e dos príncipes, Raimundo Nonato alcançava simpatia nos meios eclesiásticos, além da crescente ressonância no coração da população.

Em 1338, Raimundo Nonato tinha 36 anos de idade, quando o Papa Bento XII resolveu chamá-lo para junto de si. Movido por sua profunda humildade, Raimundo Nonato chegou a externar a não aceitação do cargo. Mas o Papa contava com a sua habilidade nos negócios com os mulçumanos e viu como poderia ser útil para o governo da Igreja. Insistiu nomeando-o Cardeal, no Consistório de dezembro de 1338.Raimundo Nonato permaneceu ainda alguns meses em Lérida, viajando depois para Avinhão, passando por Cardona, para despedir-se dos seus parentes.

Apesar de jovem na idade, seu corpo estava prematuramente esgotado pelo estresse, resultante do excesso de zelo nas atividades e dura austeridade que se impunha a si mesmo. Em Cardona, de repente, sentiu-se mal, acometido de uma febre violenta. Mesmo com os cuidados dispensados pelos parentes, viu-se logo que os sintomas anunciavam sua morte. Sentiu que chegara seu fim. E se preparara para ir ao encontro definitivo com o Senhor.

O Encontro da Eucaristia – Presente do céu na sua morte

Desde a formação das primeiras comunidades cristãs a Eucaristia se constitui no centro e alma da Igreja.

Era desta fonte que Raimundo Nonato tirava força e heroísmo para levar adiante tantos e duríssimos trabalhos feitos ao longo da sua vida, por amor a Jesus Cristo e aos irmãos. A Eucaristia fora seu alimento e sustento, sua fortaleza, seu tudo. Por isso passava horas e horas e até noites inteiras diante do SS. Sacramento, ensimesmado na contemplação deste insondável mistério. E na celebração cotidiana da Eucaristia encantava os fiéis pela unção e fervor na realização da liturgia; e os animava à piedade eucarística como fonte de comunhão e força propulsora das tarefas diárias.

Agora, vendo que chegara o momento da plenitude do repouso, seu desejo do céu se junta ao esgotamento físico e anseia que o Senhor o venha a buscar. Suplica que lhe tragam, antes de morrer, o celeste alimento. Enquanto os familiares providenciam o santo viático, o quarto de Raimundo Nonato se enche de luz; ouve-se uma sinfonia angelical e ao acudirem ao seu aposento, ali encontram o religioso num profundo êxtase, comungando sob a espécie do pão, o corpo de Cristo, milagrosamente ministrado ao Santo, segundo a crônica da sua morte, pelo próprio Jesus, acompanhado de uma corte de anjos e santos.

Tão puro como nascera, assim morre o intrépido religioso mercedário, com a idade de 37 anos. Era 31 de agosto de 1339, quando sua alma vôa para o céu. Deixa neste mundo o exemplo do bom fazer mercedário, a auréola que começa a se traduzir em inúmeros favores divinos, obtidos pelo povo, por sua intercessão. Assim terminou sua trajetória de amor e liberdade.

Morreu jovem, porém carregado de méritos, cercado de estima popular e agraciado por Deus com estupendos prodígios.

O Desígnio de Deus também no seu sepultamento.

Raimundo Nonato acabava de morrer e já começavam as manifestações de devoção à sua pessoa. De fato, já eram conhecidas as marcas profundas de santidade, bem como as práticas de virtude, em grau heroico, deixadas por onde ele passara: Liam-se os desígnios de Deus em todos os traços de sua vida: no seu nascimento extraordinário, no decidido ideal libertário, na entrega martirial do cativeiro em favor do próximo, nas duras provações da vida e na hora da sua morte. Deus o exaltara com dons extraordinários, especialmente o da caridade, da obediência, da humildade e da alegria, levados ao extremo.

Ele iria se tornar um dos santos mais populares da Igreja. E sua popularidade começara de forma prodigiosa no momento mesmo de se dar sepultura ao seu corpo. Como se tratava de despojos tão venerados, surgiu ali em Cardona um pleito: O visconde e seus familiares, sob pretexto de parentesco, insistiam em lhe dar sepultura ali mesmo. Os mercedários reivindicaram o direito de sepultamento do confrade, de acordo com as Constituições da Ordem, que determinavam enterrar os religiosos defuntos no convento mais próximo de onde falecessem.

Por fim, ambas as partes concordaram em deixar a solução a um sinal da providência de Deus. Puseram sobre uma avalgadura a urna funerária com o seu corpo e dispuseram o animal no ângulo de dois caminhos, concordando em que a direção tomada pela viatura com os sagrados despojos seria o sinal do céu indicando onde o santo devesse ser sepultado.

E o animal tomou o caminho da ermida de São Nicolau, onde Raimundo Nonato gastara boa parte da sua adolescência campeando rebanhos e onde tinha iniciado, na juventude, o noviciado de santidade. Segundo a mais antiga tradição, ao chegar ali o animal com o corpo do santo, acompanhado de grande séquito, dera três voltas em torno da Igreja e caiu extenuado.

Ali o seu corpo foi sepultado e ali permaneceu até 1936, quando as facções comunistas da guerra civil espanhola, profanando aquele santuário, queimaram suas relíquias.

O Culto a São Raimundo Nonato – Sua popularidade na Igreja”

O culto a São Raimundo Nonato começou desde os primeiros momentos, depois da sua morte. O lugar onde fora sepultado passou a receber devotos de toda parte, como testemunhas de favores obtidos por sua intercessão. Multiplicavam-se os relatos de graças alcançadas pelo seu intermédio.

O antigo priorado, devido à f a m a de santidade do religioso e dos numerosos e insignes milagres que se atribuíam à sua intercessão, logo ficara pequeno para atender o crescente número de devotos. Tornou-se necessário se construir uma Igreja de maiores proporções para dar cabida ao massivo número de fiéis que chegavam, atraídos pela fama do santo.

Os mercedários então edificaram ali, em 1625, um grande convento com uma monumental Igreja. Estimulados pelo crescente fervor em relação ao santo, naquelas comarcas leridanas, obrigaram-se a construir um convento ainda maior.

A sua grandeza emergindo daquela verde planície, encanta aos viajantes que circulam pela autopista que passa quase roçando a cidade que ali cresceu, com o nome de São Raimundo Nonato. Mesmo sem a Igreja se pronunciar oficialmente sobre as virtudes heróicas daquele homem de Deus, o povo se encarregou de fazê-lo. Os devotos o viam glorificado por Deus pelos dons extraordinários recebidos em vida e exaltado depois da morte. A história de seus milagres espalhou-se por todo o mundo cristão.

Diante de tantos testemunhos e fatos, a Igreja se propôs examinar, num Processo, a vida e virtudes do santo de Portell. Passado algum tempo, como a devoção se expandia por toda a Espanha, Itália e toda América espanhola, os pedidos à Santa Sé sobre a sua canonização, cresceram; e Roma viu que era a vontade de Deus que o Bem-aventurado Raimundo fosse invocado como santo por toda a Igreja. Um processo perante o Tribunal Eclesiástico levou à aprovação do seu culto imemorial em 1625.

Três anos mais tarde, em solene liturgia na Basílica de São Pedro, diante de toda a Família Mercedária, a corte pontifícia e multidão de fiéis de várias partes do mundo, especialmente da Espanha, Raimundo Nonato foi canonizado e aclamado santo, pelo Papa Urbano VIII, em dezembro de 1628, juntamente com  São Pedro Nolasco, o heroico fundador da Obra da Redenção. Mais tarde, em 1657, o Papa Alexandre II inscreveu seu nome no Martirológio Romano e mandou que toda Igreja celebrasse sua festa no dia da sua morte, 31 de agosto.

S. Raimundo Nonato | Mercedários

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF