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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A finitude da vida terrena

Dom Carlos José | CNBB Sul 2

A FINITUDE DA VIDA TERRENA

Dom Carlos José de Oliveira

Bispo da Diocese de Apucarana (PR)

Portanto, santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus. (Lev 20-7)

‘Senhor, para os que creem em Vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível”. (Prefácio do Missal Romano). Essa oração forte e ao mesmo tempo consoladora, deve servir-nos como um despertar para uma realidade que desejamos que demore a acontecer, mas, é a única certeza que temos: nascemos, portanto, morreremos. Talvez se soubéssemos quando, nos prepararíamos melhor, ou, deixaríamos para a última hora, ou ainda, esperaríamos pelo adiamento de fatídico momento. O fato é que Deus, sábio e conhecedor de nossas misérias, não nos revelou o quando justamente para que nos mantivéssemos vigilantes e preparados e, ainda assim, nunca o estamos! Pobre de nós. Para além de tudo isso, graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. Em suas diversas cartas, o Apóstolo Paulo, com toda sabedoria, declinava aos seus sobre essa realidade imutável e ao mesmo tempo misteriosa, a vida que seria transformada pela morte, numa vida nova, em Cristo Jesus. Segundo Paulo, a novidade essencial da morte cristã consiste em que, pelo Batismo, todo cristão está sacramentalmente “morto com Cristo” e passa a ter uma vida nova, pois Cristo Ressuscitado faz nova todas as coisas, então, quando chegar a nossa hora, se morrermos na graça de Cristo, completaremos nossa incorporação no seu ato redentor. (CIC 1220).

A celebração do Dia de Finados exalta a nossa fé na ressurreição e a firme esperança do feliz reencontro na morada eterna preparada por Jesus, no seio amoroso do Pai. Seria uma contradição tremenda se nesse dia festejássemos os mortos. O Dia de Finados é um momento de reflexão sobre a vida, a que vivemos e a que teremos depois da morte. A morte é uma passagem, a Páscoa definitiva para uma nova vida. Ao celebrarmos os ‘finados’, ou seja, os que partiram antes de nós, devemos rezar por eles de forma toda especial, trazendo à lembrança a importância que suas vidas tiveram na construção de nossa história, agradecer em oração pelos ensinamentos recebidos, demonstrar nossa gratidão com flores e preces, oferecer a santa Missa em sufrágio de suas almas, acender velas que simbolizam nosso desejo de que suas almas encontrem a Luz eterna emanada por Cristo Jesus e, se necessário, numa prece muito sincera, expressar nosso perdão ou pedir que Deus nos perdoe das faltas que cometemos contra aqueles que já se foram, afinal, a misericórdia do Altíssimo alcança onde nós não podemos chegar.

Muitos dos que nos precederam foram nossos primeiros educadores na fé e nos valores cristãos, deixando-nos bons exemplos de virtudes que formaram raízes que hoje produzem frutos em nossos descendentes e isso é sinal de que laços de amor não se quebram quando são formados em Cristo. Ao recordamos a vida dos que já partiram, deparamos com nossas próprias limitações e fraquezas. O tempo da graça é hoje, a razão da nossa fé é a Ressurreição de Jesus Cristo, que viveu apenas uma única vida humana, iniciada no momento de sua concepção no seio virginal da Virgem Maria e consumada na Cruz, quando exausto e sem forças, entrega sua vida nas mãos do Pai.

Nossa fé cristã é a fé no Ressuscitado. Esta certeza de fé elimina de nós toda e qualquer ideia de renascimento ou reencarnação. Temos uma única oportunidade de viver nesse mundo e nos prepararmos para vivermos a vida eterna com Cristo, uma única chance. Somos únicos desde a concepção, durante a vida e após a morte, não teremos outra vida, outra chance de nos redimir, só se vive uma vez aqui neste mundo, portanto o chamado à santidade deve ser vivido agora, a conversão não pode esperar.

Caso queiramos que nossa vida seja comemorada também no dia anterior ao Dia de Finados, que é o Dia de Todos os Santos, devemos nos converter enquanto há tempo. A razão de nossa fé na Ressurreição é a experiência radical de Jesus. Ressuscitado pelo Pai (At 2, 22s), Ele tem seu Corpo físico transformado em um Corpo glorioso e está Vivo, em meio a nós, pobres pecadores, se doando a cada Eucaristia que recebemos. É São Paulo que diz: ‘Se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé, e nós ainda estaríamos em nossos pecados’ (1Cor 15, 17). Permitamos que a Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja guie nossos passos no caminho da santidade e nos abra as portas dos céus, para juntos a Ela, contemplarmos Jesus Ressuscitado. Amém.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF