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terça-feira, 18 de outubro de 2022

Nossa Senhora, a mulher humilde e grandiosa em Lucas

meunierd | Shutterstock
Por Vanderlei de Lima

Que Nossa Senhora, em sua humilde grandeza, interceda a Deus por todos nós.

São Lucas, o evangelista da misericórdia, pode, a justo título, ser considerado o pai da Mariologia, dado o modo como trata Maria nos capítulos 1 e 2 do seu Evangelho.

Ele inicia os seus relatos com o anúncio de dois nascimentos – o de João Batista (1,5-25) e o de Jesus (1,26-38) – para, em seguida, descrever esses nascimentos (1,57-2,52). Não nos esqueçamos também de que, no final do capítulo 1, aparece a visita de Maria a Isabel e o Magnificat (vv. 39-56). Mais: tanto João (1,58-80) quanto Jesus (2,1-20) são circuncidados e crescem. Jesus ainda surge, no templo, aos doze anos (2,41-52).

Esses relatos nos trazem algumas importantes lições, pois realçam ser Cristo maior que João e Nossa Senhora mais importante que Zacarias e Isabel, os pais de João: a) Zacarias é irrepreensível (1,6), mas Maria é plena de graça (1,28-30). Está em foco a Lei de Moisés, em Zacarias, e a Graça divina, em Maria, segundo Jo 1,17. b) Zacarias sofre punição por interrogar o anjo (1,18), já Maria pode indagá-lo (1,34). c) o anúncio do anjo a Zacarias termina com o silêncio imposto pelo mensageiro de Deus; Maria, ao contrário, no final do anúncio, se entrega à vontade do Pai (1,38). d) Isabel dá ação de graças (1,25), mas só a Virgem Santíssima exulta no Magnificat (1,47-55). Como se vê, são oito quadros que, segundo os antigos (7+1), indicam a perfeição (cf. Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Curso de Mariologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1997, p. 13).

Chama também a atenção, em Lucas, as referências às Escrituras: 1) Daniel 9,24-26, trata das 70 semanas. Ora, em Lc 1,26-36, há referência ao sexto mês (180 dias), em 2,7, narra-se o nascimento do Senhor nove meses depois do anúncio (270 dias) e, em 2,22, o menino-Deus é apresentado no templo (40 dias). Deste modo, 180+270+40 = 490 dias ou 70 semanas. 2) Jesus entra no templo de Jerusalém para realizar a obra de Deus como Lhe é atribuída pelo profeta Malaquias 3,1-4. Nota-se ainda que há correspondência entre Ml 2,6-3,1 e Lc 1,16-17: João é o precursor e Jesus é Deus. 3) Já Sofonias 3,14-18 tem sua repercussão em Lc 1,28-33: Maria é a filha de Sião por excelência; nela Deus feito homem faz Sua morada. Ela O concebe, gesta e dá à luz. O menino que nasce é mais do que um messias; é Deus, o rei teocrático salvador do seu povo; 4) 2 Samuel 7,12-16 ressoa outrossim em Lc 1,32-33, uma vez que, no A.T., Natã prometeu a Davi, num trono firme e eterno, um descendente. 5) Êxodo 40,35 tem sua aplicação em Lc 1,35, pois Maria é a Arca da Aliança ou o tabernáculo do Altíssimo que visita Isabel (cf. 2Sm 6,2-11).

Aqui um problema se impõe: a genealogia de Lucas (3,23-38) é diferente da de Mateus (1,1-17). Dom Estêvão Bettencourt nos socorre. Nota ele que “São José terá sido filho de Jacó, mas haverá sido adotado por Heli, de modo a também ser considerado filho desse varão. Ora, São Mateus ter-nos-ia transmitido os ascendentes de José por via de seu pai real, enquanto São Lucas haveria seguido a linha do pai adotivo de José” (Parábolas e páginas difíceis do Evangelho. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1991, p. 155). 

Mais: “Enquanto a lista de Mateus situa Jesus unicamente no interior do povo de Israel, a de Lucas marca a sua ligação com toda a humanidade” (A. George. Leitura do Evangelho segundo Lucas. São Paulo: Paulinas, 1982, p. 24). Bento XVI ressalta ainda que Gabriel não saúda a Virgem com o Shalom (A paz esteja contigo), do hebraico, mas com o grego Khaire (Alegra-te ou Ave). “Nessa palavra do anjo, abre-se imediatamente também a porta para os povos do mundo; tem-se uma alusão à universalidade da mensagem cristã” (A infância de Jesus. São Paulo: Planeta, 2012, p. 30-31).

Por fim, cabe notar que a Virgem Maria é a pessoa mais elogiada na Bíblia. De fato, em Lc 1,28, ela é Kecharitoméne (repleta do favor divino); em 1,29, o Senhor está com Ela; em 1,35, o Espírito Santo virá sobre Ela; em 1,42, é a mais bendita entre todas as mulheres; em 1,43, Maria é mãe de Deus (Kyrios); n’Ela foram realizadas grandes coisas (1,49), por isso, as gerações a chamarão de bem-aventurada (1,48). 

Que Nossa Senhora, em sua humilde grandeza, interceda a Deus por todos nós. Amém.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF