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sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Uma nova tecnologia para recuperar metais preciosos dos lixos eletrônicos

Recolhimento de metais preciosos | Vatican News

O que acontece com celulares antigos que não usamos mais ou computadores, tablets, máquinas usadas em hospitais? Eles acabam principalmente em aterros ao ar livre com um impacto desastroso no meio ambiente. Uma empresa na província de Cremona desenvolveu um sistema inteligente para a recuperação e refinação de ouro, prata, platina, paládio e outros conteúdos preciosos desses dispositivos. Um acordo com o Vaticano também foi assinado recentemente.

https://youtu.be/hZw39N0VqdM

Cecilia Seppia – Vatican News

Alberto Tosoni, nascido em 1983, sangue suíço-lombardo, é o engenheiro "pai" deste ambicioso projeto de recuperação e refinação de metais preciosos que se realiza na empresa de Spino d'Adda, na província de Cremona. "Quando tive essa ideia, em 2012, me disseram que estava louco, que eu era um visionário, mas eu segui em frente no meu caminho porque sabia que havia muito mais do que eu tinha em mente", conta ele. Na época, eu estava estudando engenharia no Politécnico de Milão. O meu avô tinha um laboratório de refinamento de resíduos de ourives e eu olhava curioso para cada etapa de processamento. Depois, eu aprendi sobre os novos resíduos, muitas minas de ouro e outros metais nobres que talvez o mundo ainda ignorasse. Estou falando dos montes de lixo eletrônico que a humanidade vem produzindo há décadas num um ritmo assustador: celulares, computadores, baterias, resíduos industriais, máquinas usadas em laboratórios, hospitais e qualquer outro instrumento que contenha um cartão eletrônico. Então, pensei num sistema de recuperação que não devastasse o meio ambiente, não poluísse, não explorasse os trabalhadores, como ainda acontece hoje em muitas partes do planeta e me lancei nesse processo de construção de um spin-off industrial que, em seguida, deu vida à Ecomet Refining".

Todos os materiais que chegam à Ecomet são pesados e selecionados
por trabalhadores experientes

A empresas e as fases de processamento

Estamos falando da maior empresa da Itália, a única existente na Europa e a única que atualmente trata duas mil toneladas de resíduos por ano de forma totalmente sustentável, com muito pouco consumo de energia, sem dispersão de substâncias perigosas ou poluentes na atmosfera. Numa tonelada desses materiais estão contidos cerca de 300 kg de metais que são recuperados e outros 700 kg usados como material de fusão para fundições de cobre ou em empresas de betume para fazer asfalto: nada se perde!  "Agora, recebemos material de todo o mundo", explica Mattia Gottardi, sócio da iniciativa e responsável de relações institucionais da Ecomet. Justamente por isso, uma nova fábrica está sendo construída em Treviglio dez vezes maior para processar 20 mil toneladas por ano. Uma das coisas mais estranhas que foi trabalhada é a bateria de um submarino, mas aqui chega de tudo e uma das fases mais delicadas é justamente a classificação, a diferenciação de materiais que é feita à mão. No início, há sempre um levantamento radiométrico, detecção de peso, verificação visual do estado físico. O segundo passo é a trituração e preparação para a fusão em que a composição química também ocorre. Por trás deste projeto, porém, há uma tecnologia única na Itália sobre a fusão que permite derreter diretamente materiais de todos os tipos respeitando os limites ambientais da lei e evitando outras etapas que poderiam gerar dispersão dos materiais a serem recuperados: o forno funciona a uma temperatura de 1500 graus e, portanto, não libera as dioxinas que geralmente se desenvolvem nos incineradores. Outra fase é a análise dos metais preciosos. Em seguida, há a refinação e, por fim, a fusão real que permite obter ouro, prata, platina, paládio de forma pura e diretamente comercializável no mercado. 99,9% desses materiais são recuperados. Pense que a partir de uma tonelada de celulares antigos, cerca de 5000, mais ou menos 250 - 300 gramas de ouro são obtidos. Então, um bom ganho se pensarmos na valorização no mercado! Também lembro que de 6 a 8% das reservas mundiais de ouro estão contidas neste lixo eletrônico."

Toneladas inteiras de lixo eletrônico chegam de todo o mundo
todos os dias

Contra a lógica do descarte

"Podemos dizer que a empresa de Spino d'Adda funciona quase numa lógica antecipatória das palavras do Papa na Laudato si' e da grande mensagem que ele queria transmitir ao mundo chamando as consciências", argumenta Gottardi, "mas este documento nos deu ainda mais impulso para continuar nessa direção". "O próprio conceito de recuperação que aplicamos fisicamente vem deter essa cultura do descarte desenfreada denunciada por Francisco que diz respeito às coisas e às pessoas, como se fossem assimiláveis entre si. Não é verdade que tudo o que não é mais necessário ou útil deve ser jogado fora. Outro ponto crucial é a poluição. Existem metais que podem liberar poluentes no solo por anos, pense no lítio do qual as baterias de smartphones são compostas. Depois, há a questão da exploração dos mineiros, em áreas pobres do mundo, mas ricas em depósitos de ouro, por exemplo: essas pessoas trabalham em condições dramáticas, sem salários justos, sem nenhuma segurança, em contato próximo com agentes químicos prejudiciais à saúde, cavando no ventre da terra para trazer à luz o que talvez será transformado num brinco ou numa pulseira vendida em uma boutique no Ocidente por centenas ou milhares de euros. Isso não é mais aceitável. Devemos aprender a consumir de forma responsável e consciente o que já emergiu da terra, porque cedo ou tarde mesmo esses recursos acabarão e nós estaremos ou melhor já estamos em plena dívida ecológica. Os recursos existem, a tecnologia também, mas não podemos mais virar o rosto e fingir que nada acontece. Há lugares que são áreas de despejo ao ar livre de lixos tecnológicos: 85% desse lixo está localizado na África, atormentada por inúmeras chagas. Na Nigéria, há aterros tão grandes quanto cidades onde os lixos tecnológicos são incendiados para talvez recuperar cabos de cobre e vendê-los, com nuvens tóxicas que persistem por semanas, liberando substâncias que destroem o ecossistema dessas áreas por centenas ou milhares de anos. Nos últimos tempos tem havido um caminho de aproximação com grandes empresas que estão fazendo da sustentabilidade uma bandeira, e o nosso objetivo é poder levar a tecnologia Ecomet para todos os lugares. Muitas empresas também entenderam a importância de mostrar aos seus clientes que estão totalmente comprometidas com a recuperação de lixos desse tipo. É a chamada virada verde, que obviamente faz bem ao meio ambiente, mas também atrai lucros".

Dentro da empresa de Spino d'Adda

O acordo com o Governatorato

O eco das palavras de Francisco, os 7 objetivos da Laudato si', a lógica do bem comum e não a do dinheiro, pressionou os líderes da Ecomet a fazer acordos também com o Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano. "Recentemente", acrescenta Gottardi, "também nos dirigimos à Santa Sé para apresentar nossa ideia de sustentabilidade ambiental e o acolhimento foi muito bom. Juntos, decidimos estender esse projeto para as escolas, instituições eclesiais, hospitais, centros missionários, dioceses, congregações e ordens religiosas, onde quer que a Igreja esteja presente para ter uma cadeia consciente de coleta desses recursos que de outra forma seria desperdiçada e, em seguida, proceder na recuperação, ativando um círculo econômico virtuoso. Também pensamos em criar pontos de coleta dedicados ao material tecnológico, que hoje não se sabe onde jogar com a coleta diferenciada, tanto dentro das Muralhas Leoninas quanto fora, nas áreas limítrofes. O ponto de encontro foi imediatamente claro: trabalhar esses materiais e devolver recursos para fazer o bem, difundindo também uma cultura e consciência diferentes sobre as questões ambientais que nos jovens estão mais presentes e vivas do que nos adultos, e o Papa sabe disso, porque as gerações mais jovens estão mais inclinadas a mudar. Após uma conversa com o cardeal Leonardo Sandri, prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais e com o dr. Torrini, chegamos a um acordo e já recebemos um lote de várias toneladas da Cidade do Vaticano: computadores em desuso principalmente, mas não só, material eletrônico que a Ecomet selecionará e recuperará. Este é um projeto piloto que esperamos que em breve seja estendido a outras realidades. A capilaridade da rede eclesial também é uma vantagem do ponto de vista da educação ambiental e da informação sobre práticas ainda desconhecidas".

Uma vista aérea do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano

Economia positiva e economia circular, pontos de coleta dedicados e devolução de recursos a serem destinados aos pobres é o cerne do acordo que a Ecomet assinou com o Vaticano, já na vanguarda da cadeia de resíduos, após a criação da ilha ecológica e na recuperação da biomassa, um exemplo virtuoso a ser exportado para outros Estados. "A Praça São Pedro, os Jardins, os Museus são alcançados e visitados todos os dias por milhares de peregrinos que vêm de todo o mundo e que, além da arte, história, valor religioso, apreciam o cuidado, o decoro dos espaços, a limpeza e também a inovação do ponto de vista do descarte de lixos. Nas ruas de Roma ou de outras cidades italianas não há contêineres para o descarte de materiais tecnológicos que regularmente acabam na parte do alumínio ou plástico sem pensar nos recursos que escondem. Desta forma, o Estado Pontifício daria o exemplo, transmitindo também informações que não são conhecidas e que são preciosas para o ambiente." "Toda vez que falamos sobre essa tecnologia com sabor ético para outras empresas ou multinacionais líderes do setor, com faturamento estelar", conclui o sócio da Ecomet, "vemos no rosto dos empresários uma certa surpresa e um grande interesse e percebemos que fizemos algo importante e justo. No início, nem todos entendiam o objetivo desse projeto e muitas vezes Tosoni ouviu dizer que estava louco, como se estivesse procurando a pedra filosofal. Na realidade, ele conseguiu dar vida a uma intuição que pode mudar o mundo e que é mais urgente do que nunca para proteger nossa Casa comum".

Tecnologia e trabalho especializado para salvar o planeta
Fotos: Vatican News

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF