"A acolhida foi uma das práticas fortes na Igreja do
século IV do cristianismo. Ela estava ligada a Jesus Cristo, caminho, verdade e
vida (cfr. Jo 14,6). Jesus deseja de todos nós discípulos, discípulas práticas
de acolhida para todas as pessoas que mais precisam de nossa ajuda,
compreensão, amor, para um dia participarmos da eterna acolhida, feita por
Deus, no Reino dos céus."
Por Dom Vital Corbellini, bispo de Marabá (PA).
A acolhida é uma atitude da vida humana e cristã. Ela coloca
a importância de vivê-la na realidade das pessoas, com o intuito de ajudá-las,
pois ela faz-nos entrar em contato com o Senhor Jesus. Ele espera de nós
pessoas acolhedoras nos irmãos e nas irmãs necessitados de acolhida. A Palavra
de Jesus fala no juízo final na qual Ele era forasteiro, estrangeiro e as
pessoas o acolheram em casa (cfr. Mt 25, 35). A palavra
acolhida em unidade com a hospitalidade vem do latim hospitalitas-atis,
cujo significado é ser hóspede, cordial generoso em acolher e tratar as pessoas
hóspedes, necessitadas[1].
A missão da Igreja da acolhida na atualidade e na Igreja
antiga
A Igreja segue os passos do Senhor na acolhida de muitas
pessoas. Em nossas comunidades, paróquias, dioceses temos nós a pastoral da
acolhida. É um serviço bonito prestado na grande maioria, por leigos e leigas.
A acolhida é a assunção da palavra de salvação de Jesus, porque o julgamento
será dado pelo amor ao próximo na palavra do Mestre, o Rei que é Jesus: “Todas
as vezes que fizestes isso a um destes mínimos que são meus irmãos, foi a mim
que o fizestes” (Mt 25, 40). A seguir nós veremos como esta palavra
se concretizou na vida eclesial e comunitária a partir do século IV do
cristianismo na vida dos santos padres e de lideranças das comunidades.
O Concílio de Nicéia
O Concílio de Nicéia, realizado em 325 teve um papel
essencial na vida eclesial e doutrinária ao afirmar a divindade do Verbo de
Deus, ponto proveniente desde a concepção do Filho de Deus na carne (cfr. Jo 1,14),
mas também na questão da acolhida das pessoas cristãs em relação àquelas que
vinham de longe. Ele afirmava que em toda a cidade sejam instituídos,
construídos edifícios em relação aos estrangeiros, pobres, doentes. Estes
edifícios receberiam o nome de casa de acolhida para os hóspedes[2].
Um monge assumisse esta missão
O Concílio colocava também que fosse o Bispo a nomear
um monge escolhido entre os monges que habitavam no deserto. Ele fosse um
estrangeiro, longe de seus parentes, que desse um bom testemunho de vida e de
ser uma pessoa honesta, de modo que ele fosse o chefe da casa de acolhida das
pessoas necessitadas e que provinham de longe de suas cidades[3].
A missão
Esta pessoa que vivia nos mosteiros sendo a coordenadora da
casa de acolhida dos hóspedes tinha como missão preparar as camas, as cobertas
e tudo aquilo que é necessário para os doentes e para os pobres. O Concílio
disse também caso a Igreja não tivesse bens suficientes para a assunção das
despesas diversas, haveria uma maneira de pedir ajuda aos fiéis e os cristãos
dariam conforme as suas possibilidades para que assim provesse a sustentação
dos irmãos e das irmãs, dos estrangeiros, dos pobres e dos doentes segundo as
necessidades de cada pessoa. O monge responsável, desta casa era chamado a
zelar pelas coisas necessárias a serem adquiridas em vista de um bom serviço
para com todas as pessoas pobres em seus meios [4].
O perdão dos pecados
O Concílio de Nicéia dizia que todas ações caritativas em
favor dos pobres, dos estrangeiros seguiam a Palavra de Deus em vista do perdão
dos pecados (cfr. 1 Pd 4,8). As culpas seriam expiadas e
sobretudo as pessoas se aproximassem a Deus pela realização da caridade para
com os estrangeiros, os doentes, os pobres mais necessitados de ajuda[5].
O que fazer de bom?
São Basílio de Cesareia foi bispo do século IV, grande
pessoa defensora das pessoas simples, e dos pobres. Ele foi conhecido como o
bispo social. Ele interpretou a parábola do rico insensato no evangelista São
Lucas (cfr. Lc 12,16-18) onde ele teve uma boa colheita de
bens de modo que se perguntou o que fazer? Ele podia ter dito o que fazer de
bom para as pessoas necessitadas? No entanto, ele pensou somente no seu bem
estar. O bispo distinguiu os bens provenientes de Deus como a terra fértil, um
clima temperado, a abundância das sementes, e todas as coisas que agilizaram a
cultivação da terra e torná-la fecunda. E quais seriam os dons para o ser
humano conceder ao Criador e as pessoas mais necessitadas? Em primeiro lugar aquela
pessoa teve dureza de caráter, atitude fechada em relação às outras pessoas,
incapacidade de compartilhar os bens. Tudo isso foi perceptível naquele homem,
rico de bens que não se abriu ao Benfeitor, o Senhor Deus e às pessoas[6].
O esquecimento das coisas boas
São Basílio dizia que o rico foi insensato no sentido de que
ele esqueceu a comum natureza dos seres humanos, não pensou do dever de
distribuir o supérfluo aos necessitados, não levava em consideração a palavra
de Deus para não recusar de fazer o bem ao necessitado (cfr., Pv 3,27);
a procura em dividir o seu pão com a pessoa faminta (cfr. Is 58,7)[7].
O grito dos profetas
Aquela pessoa não ouviu o grito dos profetas e dos mestres
que clamavam pela partilha das coisas. Os celeiros estavam cheios de trigo, mas
tinha um coração ávido, pois nunca estava contente com os bens recolhidos, pelo
acúmulo de coisas previstas de ano em ano, os celeiros não comportavam mais a
quantidade de bens acumulados de modo que ele disse: O que fazer? Ele pensou em
si e não mais nos outros, sobretudo as pessoas mais necessitadas e na abertura
para com o Senhor[8].
A acolhida do estrangeiro
São Gregório de Nazianzo, bispo do século IV falou da
acolhida do estrangeiro seja necessário pelo fato de que o Senhor se faz
presente nele (cfr. Mt 25, 35). Ele também tinha presente a
palavra de São Paulo que diz que o Senhor de rico se fez pobre para nos tornar
ricos por sua pobreza(cfr.2 Cor 8,9). Ele citava também o pobre
Lázaro que tinha necessidade de pão para comer e água para beber (cfr. Lc 16,19-31),
talvez um outro pobre estaria deitado diante de sua moradia[9].
A mesa eucarística
Ele dizia era necessário ter respeito à mesa eucarística na
qual a pessoa se aproximava, do pão na qual a pessoa tomou parte, do cálice no
qual tomou a bebida estando iniciado aos sofrimentos de Cristo Jesus. A pessoa
era chamada a acolher um estrangeiro, sem casa, vindo de longe. São Gregório
afirmou o ponto para acolher através dele, Aquele que viveu por estrangeiro
entre os seus, porque não o receberam (cfr. Jo 1,11) que por
meio da graça colocou na pessoa a sua permanência e elevou a pessoa à morada do
alto[10].
A acolhida foi uma das práticas fortes na Igreja do século
IV do cristianismo. Ela estava ligada a Jesus Cristo, caminho, verdade e vida
(cfr. Jo 14,6). Jesus deseja de todos nós discípulos,
discípulas práticas de acolhida para todas as pessoas que mais precisam de
nossa ajuda, compreensão, amor, para um dia participarmos da eterna acolhida,
feita por Deus, no Reino dos céus.
________________
[1] Cfr. Ospitalità.
In: Il Vocabolario Treccani, Il Conciso. Milano-Trento.
Stampa, pg. 1083.
[2] Cfr. Concílio
de Nicea, Canone 75. In: “Non dimenticate L´ospitalità”.
Antologia dai Padri della Chiesa. Milano, Paoline, 2022, pg. 66.
[3] Cfr. Idem, pgs.
66-67.
[4] Cfr. Ibidem, pg.
67.
[5] Cfr.
Ibidem, pg. 67.
[6][6]
Cfr. Omelia su: Demolirò i miei magazzini di Basilio di Cesarea.
In: “Non dimenticate L´ospitalità”. Antologia dai Padri della Chiesa,
pg. 78.
[7] Cfr. Ibidem,
pgs 78-79.
[8] Cfr. Ibidem,
pg. 79./
[9] Cfr. Discorsi,
40,31 di Gregorio di Nazianzo. In: “Non
dimenticate l´ospitalità”. Antologia dai Padri della Chiesa, pg. 98.
[10] Cfr. Idem,
pg. 98.
[11] Cfr. Ospitalità.
In: Il Vocabolario Treccani, Il Conciso. Milano-Trento.
Stampa, pg. 1083.
[12] Cfr. Concílio
de Nicea, Canone 75. In: “Non dimenticate L´ospitalità”.
Antologia dai Padri della Chiesa. Milano, Paoline, 2022, pg. 66.
[13] Cfr. Idem, pgs.
66-67.
[14] Cfr. Ibidem, pg.
67.
[15] Cfr.
Ibidem, pg. 67.
[16][16]
Cfr. Omelia su: Demolirò i miei magazzini di Basilio di Cesarea.
In: “Non dimenticate L´ospitalità”. Antologia dai Padri della Chiesa,
pg. 78.
[17] Cfr. Ibidem,
pgs 78-79.
[18] Cfr. Ibidem,
pg. 79./
[19] Cfr. Discorsi,
40,31 di Gregorio di Nazianzo. In: “Non
dimenticate l´ospitalità”. Antologia dai Padri della Chiesa, pg. 98.
[20] Cfr. Idem,
pg. 98.
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