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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Papa está sem febre e prossegue terapia

Novo boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé (Vatican News)

"O Papa Francisco está comovido com as numerosas mensagens de afeto e proximidade que continua recebendo nestas horas; em particular, deseja agradecer àqueles que estão atualmente hospitalizados", diz o comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé.

Vatican News

A Sala de Imprensa da Santa Sé publicou na tarde desta segunda-feira, 17 de fevereiro, o seguinte comunicado:

"O Santo Padre continua apirético e prossegue com a terapia prescrita.

Sua condição clínica é estável.

Esta manhã, ele recebeu a Eucaristia e depois se dedicou a algumas atividades de trabalho e à leitura de textos.

O Papa Francisco está comovido com as numerosas mensagens de afeto e proximidade que continua recebendo nestas horas; em particular, deseja agradecer àqueles que estão atualmente hospitalizados pelo carinho e amor que expressam através de desenhos e mensagens de pronta recuperação; reza pelos doentes e pede orações por ele."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Os sete fundadores da Ordem dos Servitas

Os sete fundadores da Ordem dos Servitas (A12)
17 de fevereiro
Localização: Itália
Os sete fundadores da Ordem dos Servitas

Nos séculos XII e XIII, desenvolveram-se na Europa “comunas” de adeptos das artes liberais, nas quais o gosto pelos prazeres, luxo, ganância e domínio inevitavelmente cresceu, gerando conflitos e contrastando com os valores cristãos então vigentes na sociedade. A reação de muitos leigos foi unirem-se em confrarias de penitência ou movimentos propondo uma vivência radical do Evangelho, como por exemplo os Humilhados, os Valdenses, os Pobres Lombardos, mas principalmente as iniciativas de São Francisco de Assis e São Domingos de Gusmão.

Na Itália, em Florença, surgiram os Laudesi, que se encontravam para, diante de uma imagem de Nossa Senhora, rezar e a Ela cantar louvores. Dentre os participantes havia os que mais seriamente queriam se comprometer com uma renovação da vida cristã, através de obras de caridade e de penitência. Sete amigos das mais aristocráticas e tradicionais famílias florentinas, da confraria chamada Associação-mor de Santa Maria, decidiram por este caminho: Amadeo degli Amidei, Manetto dell’Antella, Giovanni Buonagiunta, Alessio Falconieri, Buonfiglio Monaldi, Gherardion Sostegni e Ricovero dei Ugoccioni.

Eram todos prósperos comerciantes de lã, mas deixaram os negócios e venderam todos os seus bens, deixando o suficiente para suas famílias e distribuindo o resto aos pobres. Em seguida mudaram-se para uma casa abandonada na periferia da cidade, mais tarde conhecida como Santa Maria de Caffagio. Ali viviam em perfeita comunhão, numa vida austera dedicada à oração, contemplação, penitência, mendicância e obras de caridade junto aos pobres e doentes.

O bispo de Florença abençoou a iniciativa e solicitou que o governo municipal respeitasse a atuação daqueles “homens de paz”, um testemunho fundamental: a situação social era de guerras, e intrigas entre os guelfos, partidários do Papa, e os gibelinos, partidários do Império Germânico.

Nesta casa, logo acorreram muitas pessoas, animadas com o seu exemplo. Nasceu assim a Ordem dos Servos de Maria, ou Servitas, com hábito negro em sinal de luto, em devoção à Nossa Senhora das Dores ao pé da Cruz. Procurando uma situação mais solitária e contemplativa, eles se mudaram em 1245 para o Monte Senário, numa casa rústica com um oratório dedicado a Maria. Mas mesmo a 18 quilômetros da cidade, as visitas continuavam, e muitos queriam participar da comunidade (dentre eles o futuro São Filipe Benício, que viria a ser o grande defensor, organizador e propagador da Ordem).

A partir de então, novos conventos foram sendo criados. Dos sete fundadores, apenas Alessio não foi ordenado sacerdote; foi também o último a falecer, com 110 anos. Foram canonizados juntos, como se fossem um só, algo único na História da Igreja. Suas cinzas estão na mesma urna em Senário.

 Em 1267, São Filipe Benício, então Prior Geral, reformulou os Estatutos da Ordem, transformando-a em ordem mendicante. Junto com Santa Juliana Falconieri, sobrinha de Alessio, criou a Ordem Terceira da Congregação dos Servitas.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

O que mais imediatamente chama a atenção nos santos fundadores dos Servitas é a sua profunda amizade, enraizada no Evangelho e na devoção a Maria. Sem dúvida a amizade é um dom de Deus, e os Sete quiseram demonstrá-lo cabalmente com o seu exemplo de vida. Esta perfeita amizade é bem expressa pelo número sete, que na Bíblia indica perfeição... Mas o seu legado vai muito além: demonstra como a verdadeira mentalidade católica torna possível que comerciantes ricos tornem-se mendicantes, por não se apegarem às riquezas materiais, e valorizarem corretamente o tesouro da caridade, multiplicado infinitamente no Céu; e como esta mesma mentalidade levou, numa época onde o mundo civilizado era cristão, à reação espontânea não apenas dos Sete, mas de muitos cidadãos por toda a Europa, a combater as guerras de então e o surgimento das “comunas” liberais, de estilo mundano, com o empenho na formação de grupos, confrarias e movimentos voltados para uma vivência mais radical dos ensinamentos da Igreja. Hoje também vivemos muitas guerras e a ameaça de “comunas” mundanas, e também surgiram muitos movimentos católicos. Que não apenas estes movimentos, mas toda a Igreja, se dediquem a viver melhor o Evangelho, pois esta é a garantia única da boa – e possível – transformação da sociedade, a partir do revigoramento da santidade, pessoal e comunitária.

Oração:

Deus Pai, que quereis Vossos filhos numa única família de mesmo Sangue, o de Cristo, concedei-nos vivenciar a amizade que juntou os Sete Santos Fundadores dos Servitas aos pés da Cruz, com Maria; por sua intercessão, sabermos nos desapegar dos bens materiais para viver a riqueza da caridade para com os irmãos; e pelo exemplo deles reagir com os ensinamentos evangélicos às guerras, tentações, pecados e perseguições deste mundo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora, que no cenário do Monte Gólgota venceram as dores pelo Amor e levaram à perfeição o seguimento da Vossa vontade. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Solidão como oportunidade de crescimento

Antonio Guillem | Shutterstock

Cibele Battistini - publicado em 14/02/25

Este artigo explora como a fé pode ajudar a transformar a solidão em um espaço de crescimento espiritual e autoconhecimento.

A solidão é uma experiência universal que pode afetar pessoas de todas as idades e origens. Muitas vezes, ela é acompanhada de sentimentos de tristeza, isolamento e desespero. No entanto, a fé pode ser uma poderosa aliada para lidar com esses sentimentos, oferecendo consolo, propósito e um sentido de pertencimento.

1 - Compreendendo a Solidão

A solidão pode ser definida como a sensação de estar desconectado de outras pessoas, mesmo quando se está fisicamente presente. Essa desconexão pode levar a um estado de tristeza e desânimo. É importante reconhecer que a solidão não é apenas a ausência de companhia, mas também uma falta de conexão emocional e espiritual.

2 - A Fé como Conexão

A fé oferece uma conexão com algo maior, seja uma divindade, uma comunidade religiosa ou princípios espirituais. Essa conexão pode servir como um antídoto para a solidão, proporcionando um senso de pertencimento e propósito. Muitas tradições religiosas enfatizam a importância da comunidade e do apoio mútuo, o que pode ajudar a mitigar a solidão.

3 - A Oração e a Meditação

Práticas como a oração e a meditação podem ser especialmente úteis para aqueles que se sentem solitários. Essas atividades permitem um diálogo íntimo com Deus ou uma reflexão interna, criando um espaço seguro para expressar sentimentos e preocupações. A meditação, por exemplo, pode ajudar a acalmar a mente e a encontrar paz interior, mesmo em momentos de solidão.

4 - Solidão como Oportunidade de Crescimento

A solidão pode ser vista como uma oportunidade para o crescimento espiritual. Momentos de introspecção podem levar a uma maior compreensão de si mesmo e da própria fé. Em vez de temer a solidão, é possível abraçá-la como um tempo para refletir sobre a vida, os valores e a espiritualidade.

5 - A Comunidade de Fé

Participar de uma comunidade religiosa pode ser uma forma eficaz de combater a solidão. Grupos de oração, estudos bíblicos e atividades sociais promovem a interação e o apoio mútuo. Essas experiências podem criar laços significativos e ajudar a construir relacionamentos que oferecem suporte emocional.

6 - A Esperança em Tempos Difíceis

A fé também traz esperança. Em momentos de solidão, a crença em um futuro melhor ou em um propósito divino pode fornecer conforto. Essa esperança pode ser um farol em meio à escuridão, lembrando que a solidão é frequentemente temporária e que há um caminho para a reconexão.

7 - A Importância da Reflexão

A solidão pode proporcionar um espaço para a reflexão sobre a própria vida e a fé. Perguntas profundas, como "Qual é o meu propósito?" ou "Como posso servir aos outros?", podem surgir em momentos de solidão, levando a um crescimento espiritual e a uma vida mais significativa.

Conviver com a solidão pode ser desafiador, mas a fé oferece ferramentas valiosas para enfrentar essa experiência. Através da oração, da meditação, da participação em comunidades de fé e da reflexão, é possível transformar a solidão em um tempo de crescimento espiritual. Em última análise, a fé pode não apenas ajudar a aliviar a solidão, mas também enriquecer a vida, proporcionando um sentido de propósito e conexão que transcende as circunstâncias.

solidão, quando abordada com fé, pode se tornar um caminho para a descoberta e a renovação, lembrando-nos de que nunca estamos verdadeiramente sozinhos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/02/14/solidao-como-oportunidade-de-crescimento

Efatá: abre-te ao milagre de Deus

Efatá -"Abre-te!" (Catequizar)

EFATÁ: ABRE-TE AO MILAGRE DE DEUS

Dom Jailton de Oliveira Lino
Bispo de Teixeira de Freitas-Caravelas (BA)

Queridos irmãos e irmãs em Cristo, 

A Palavra de Deus nos conduz hoje ao encontro de Jesus, que, ao atravessar a região da Decápole, se depara com um homem surdo e com dificuldades para falar. Diante dele, Cristo age com compaixão e amor: leva-o para um lugar à parte, toca seus ouvidos e sua língua, olha para o céu e proclama a palavra transformadora: “Efatá!” – “Abre-te!” (Mc 7,34). 

Este gesto de Jesus não é apenas um milagre físico, mas um sinal profundo daquilo que Ele deseja realizar em cada um de nós. Quantos hoje vivem espiritualmente surdos, incapazes de ouvir a voz de Deus? Quantos, mesmo podendo falar, encontram-se mudos diante das injustiças, do sofrimento do próximo, da necessidade de proclamar a verdade e a esperança? 

O barulho do mundo, a pressa do dia a dia e as preocupações do coração muitas vezes nos tornam insensíveis ao chamado de Deus. Como aquele homem da Decápole, precisamos ser conduzidos até Jesus para que Ele nos toque e nos cure. E Ele o faz com ternura, levando-nos para um encontro pessoal, longe das distrações, onde Sua graça pode agir em nós com plenitude. 

“Efatá!” – Esta palavra ressoa até hoje como um convite para abrirmos nossos corações à escuta do Senhor. É um chamado para deixarmos de lado os medos que nos paralisam, para libertarmos nossa voz e anunciarmos com coragem o amor de Deus. 

O Evangelho nos recorda que, diante do milagre, as pessoas não conseguiram se conter e espalharam a notícia, mesmo após a recomendação de Jesus para que permanecessem em silêncio. Isso porque, quando experimentamos verdadeiramente o toque do Senhor, torna-se impossível não testemunhar Suas maravilhas. 

Que esta Palavra nos inspire a buscar essa abertura interior, permitindo que Cristo cure nossa surdez espiritual e nos dê coragem para proclamar a fé com nossas palavras e ações. Que Maria, aquela que guardava tudo no coração e ouvia atentamente a voz de Deus, nos ensine a escutar e a responder com fidelidade ao chamado do Senhor. 

Efatá! Abre-te ao amor de Deus e deixa-te transformar por Ele. 

Que o Senhor nos abençoe e nos conduza sempre! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

VI Domingo do Tempo Comum (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Que seria de nossa vida, perguntamos? O Senhor que está presente em nossa existência! Ele é a nossa segurança!

Padre Cesar Augusto dos Santos, SJ – Vatican News

A primeira leitura nos fala de quem é feliz em optar por confiar em Deus e da infelicidade e frustração daquele que confia no Homem.

Confiar em Deus supõe muita fé e , ao mesmo tempo, um coração que use a memória e a inteligência para verificar o quanto Deus fez por cada um de nós. À medida em que vamos repassando nossa vida, vamos reconhecendo a ação providente e generosa do Senhor. Quem seríamos nós sem Seu amor, sem seu carinho de Pai, exclamamos! Que seria de nossa vida, perguntamos? O Senhor que está presente em nossa existência! Ele é a nossa segurança!

Diante de uma multidão de pessoas desvalidas, famintas, doentes físicos e psíquicos, economicamente miseráveis, o Senhor proclama em alto e bom som que os pobres que estão diante dele são bem-aventurados, do mesmo modo os famintos, os que choram, os odiados e marginalizados. Ao mesmo tempo o Senhor proclama malditos os ricos.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER: Os anos difíceis de Tübingen (IV)

Joseph Ratzinger e, ao fundo, a Universidade de Tübingen | 30Giorni

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER

Arquivo 30Giorni  n. 05 - 2006

Os anos difíceis de Tübingen

Antigos colegas e ex-alunos falam de Ratzinger como professor na cidadela teológica de Tubinga. Onde a sua adesão impenitente à reforma conciliar foi submetida ao teste dos novos triunfalismos clericais e das rebeliões burguesas.

por Gianni Valente

Em meados da década de 1960, para todo teólogo alemão que se preze, Tübingen parecia uma espécie de Terra Prometida. Com sua história centenária como um centro teológico “papista” que se converteu ao luteranismo desde o início, e com sua faculdade de Teologia Católica que começou com vigor em meados do século XIX, a cidadela teológica da Suábia parece o local de desembarque ideal para aqueles que desejam experimentar as novas efervescências conciliares e examinar os “sinais dos tempos” reconectando-se e comparando-se com uma grande e prestigiosa tradição.

Em 1966, Joseph Ratzinger ainda não tinha quarenta anos, mas seus cabelos já estavam brancos e sua fama de menino prodígio da teologia alemã já havia sido consagrada por sua intensa e decisiva participação na aventura conciliar. O Vaticano II está prestes a terminar, o ar ainda está vibrante com esperanças confiantes. Mas a espera por um bom momento para a Igreja no mundo é marcada por outros avisos estranhos. Já naquele ano, em uma de suas conferências resumindo o Concílio, José da Baviera fez um relato dessa condição de claro-escuro. «Parece-me importante», diz ele, «mostrar as duas faces do que nos encheu de alegria e de gratidão no Concílio […]. Penso que também é importante salientar o novo e perigoso triunfalismo em que muitas vezes caem os denunciantes do triunfalismo passado. Enquanto a Igreja for peregrina na terra, ela não tem o direito de se gabar. Essa nova forma de ostentação pode se tornar mais insidiosa do que tiaras e cadeiras gestacionais que, de qualquer forma, são hoje mais motivo de sorriso do que de orgulho."

Quem puxou os cordelinhos para que a faculdade católica de Tübingen enviasse a sua vocação ao professor que leciona em Münster há apenas três anos foi Hans Küng, apoiado pelo seu outro jovem colega Max Seckler, que hoje recorda a 30Giorni : «Houve uma rotatividade nesse período geracional com a aposentadoria de vários professores seniores. Para fortalecer o corpo docente, alguns pressionaram para chamar professores mais maduros e com perfil mais consolidado para a cadeira de Teologia Dogmática. Em 66 eu tinha trinta e nove anos, Küng trinta e oito. Fomos nós que lutamos para chamar outro jovem. E Ratzinger, então, era o homem do futuro." O gentil e reservado professor bávaro e seu impetuoso e polêmico colega suíço se conhecem desde 1957. Eles colaboraram como especialistas teológicos na última sessão do Concílio e divergências evidentes já surgiram entre eles sobre como o período conciliar deveria fluir de volta para o grande rio da vida cotidiana da Igreja. Mas então, como Ratzinger explica em sua autobiografia, "nós dois consideramos isso como uma diferença legítima em posições teológicas" que "não afetaria nosso consenso básico como teólogos católicos". Desde 1964, ambos estão entre os membros fundadores do Concilium , a revista internacional da “frente única” dos teólogos conciliares. Seckler explica: «Küng sabia que ele e Ratzinger pensavam de forma diferente sobre muitas coisas, mas ele disse: você pode negociar e colaborar com os melhores, são os mesquinhos que criam problemas». O professor Wolfgang Beinert, antigo aluno de Ratzinger em Tübingen, acrescenta: «Küng talvez tenha chamado Ratzinger precisamente porque queria que os alunos pudessem comparar-se com outro teólogo do Concílio diferente dele, que pudesse servir de contrapeso à sua teologia unilateral. Outros professores, mais fechados, nem sequer percebiam as distâncias entre os dois, e até viam Ratzinger como um perigoso reformador liberal. Eles disseram: um Küng é suficiente para nós." 

Um gravador para o best-seller

No novo começo de Tübingen, Ratzinger se envolve, como sempre, sem se conter. De seu novo cargo, ele espera estabelecer relacionamentos frutíferos com os teólogos evangélicos do corpo docente protestante. Seu entusiasmo e a textura inconfundível de suas lições – teologia substancial alimentada pelos Padres e pela liturgia, linguagem luminosa e leve com nuances poéticas, abordagem sem censura de todas as questões daqueles tempos confusos – acendem correspondências inesperadas nos corações de muitos estudantes de teologia, e não só. Suas palestras imediatamente ficaram lotadas, com mais de quatrocentos alunos. Mesmo os seminários são muito concorridos, então eles são selecionados com um teste de admissão em grego e latim. O Prelado Helmut Moll, que mais tarde colaborou por muitos anos com seu antigo professor na Congregação para a Doutrina da Fé, relembra: «Para participar de um seminário sobre Mariologia, tive que fazer um pré-exame sobre textos marianos dos primeiros séculos em grego e latim. Mas não havia comparação entre Ratzinger e os outros. As palestras que ouvi em Bonn de professores de orientação neoescolástica pareciam secas e frias, uma lista de definições doutrinárias exatas e nada mais. Quando ouvi em Tübingen como Ratzinger falava sobre Jesus ou o Espírito Santo, às vezes parecia que suas palavras tinham indícios de oração."

Em 1967, Ratzinger realizou um projeto que vinha cultivando há dez anos: um curso de aulas aberto não apenas aos estudantes de teologia, estruturado como uma exposição do Credo dos Apóstolos , que, abrangendo todos os fermentos e ansiedades da época, repetisse "o conteúdo e o significado da fé cristã", que para o novo professor aparece "hoje envolta em um halo nebuloso de incerteza, como talvez nunca antes na história". De manhã cedo, estudantes universitários de todas as faculdades, bem como párocos, religiosos e religiosas, e fiéis comuns vêm ouvi-lo. Peter Kuhn, que Ratzinger chamou para Tübingen como assistente, está acostumado a estudar até tarde da noite e nem sempre consegue manter a atenção nas primeiras aulas. “Quando eu adormecia”, ele diz, “meus vizinhos me cutucavam, porque viam que o professor havia notado. Tentei contornar isso assumindo uma postura pensativa." Em troca, Kuhn leva seu volumoso gravador para essas palestras e depois pede para sua secretária desenrolar as fitas. Dessas gravações nasceu o volume Introdução ao Cristianismo , o primeiro best-seller de Ratzinger, publicado pela editora Heinrich Wild: dez edições só no primeiro ano, foi depois traduzido para vinte idiomas. No mesmo ano, o novo professor participou ativamente das iniciativas organizadas por ocasião do centésimo quinquagésimo aniversário da Faculdade Católica de Teologia. Ele considera uma oportunidade propícia para traçar novas perspectivas, mergulhando no estudo da famosa Escola de Tübingen, a equipe de teólogos reunida em torno de Johann Adam Mohler, que nas primeiras décadas do século XIX deu um impulso decisivo ao surgimento da teologia histórica, inspirando aquela abordagem histórico-salvífica que o próprio Ratzinger favoreceu desde seus estudos em Freising e Munique. Seria bom – pensa Ratzinger – recuperar também a lição de Mohler e seus companheiros para dar força ao caminho do testemunho no mundo moderno sugerido pelo Concílio. Mas o clima da faculdade é condicionado e distraído por dinâmicas totalmente diferentes. «Ratzinger», Kuhn interrompe, «talvez esperasse reconectar-se com a grande tradição de Tübingen. Mas quando chegamos, essa grande tradição não existia mais."

Fonte: https://www.30giorni.it/

Papa: agradeço pelas orações com que me acompanhais nestes dias de internação

Fiéis no Policlínico Gemelli, onde o Papa se encontra internado deste sexta-feira, 14 de fevereiro (Vatican Media)

Internado no Hospital Policlínico Gemelli devido a uma bronquite de que foi acometido, Francisco entregou o Angelus dominical, difundido pela Sala de Imprensa da Santa Sé. No texto, o Pontífice agradece pelo carinho, a oração e a proximidade com que está sendo acompanhado nestes dias, assim como aos médicos e profissionais de saúde deste Hospital por seus cuidados. O Santo Padre se dirige aos artistas por ocasião de seu Jubileu e pede orações pelos países em guerra.

Raimundo de Lima – Vatican News

A seguir, o texto do Angelus do Papa Francisco, difundido ao meio-dia deste domingo (16/02) pela Sala de Imprensa da Santa Sé:

Hoje, no Vaticano, foi celebrada a Eucaristia dedicada em particular aos artistas que vieram de várias partes do mundo para viver os Dias do Jubileu. Agradeço ao Dicastério para a Cultura e a Educação pela preparação desse evento, que nos lembra a importância da arte como linguagem universal que difunde a beleza e une os povos, ajudando a trazer harmonia ao mundo e a silenciar todo grito de guerra.

Cumprimento aos artistas por ocasião de seu Jubileu

Quero cumprimentar todos os artistas que participaram: eu gostaria de ter estado no meio de vós, mas, como sabeis, estou aqui no Policlínico Gemelli porque ainda preciso de tratamento para minha bronquite.

Dirijo minhas saudações a todos os peregrinos presentes em Roma hoje, em particular aos fiéis da Diocese de Parma, que vieram em uma peregrinação diocesana, conduzidos por seu Bispo.

Orações pelos países em guerra

Convido todos a continuarem a rezar pela paz na atormentada Ucrânia, na Palestina, em Israel e em todo o Oriente Médio, em Mianmar, no Kivu e no Sudão.

Agradeço-vos pelo carinho, a oração e a proximidade com que me acompanhais nestes dias, assim como gostaria de agradecer aos médicos e profissionais de saúde deste Hospital por seus cuidados: eles fazem um trabalho precioso e tão cansativo, vamos apoiá-los com a oração!

E agora confiemo-nos a Maria, a “Cheia de graça”, para que nos ajude a ser, como Ela, cantores e artífices da beleza que salva o mundo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 15 de fevereiro de 2025

O ano Jubilar e a Pastoral Juvenil

Jubileu 2025 (CNBB - Regional Sul 2)

O ANO JUBILAR E A PASTORAL JUVENIL

Dom Antônio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

Na agenda das celebrações do Ano Jubilar em Roma, também os jovens são contemplados e não poderia ser diferente, uma vez que nos últimos anos a Igreja Católica tem dedicado especial atenção à juventude. Fato extraordinário foi a realização de um Sínodo mundial sobre os jovens que se concluiu com a Exortação Apostólica Pós-sinodal Christus Vivit.  

Na Bula de proclamação do Ano Santo, «Spes non confundit – a esperança não engana» (Rm 5,5), o Papa Francisco cita seis vezes os jovens. Os jovens são chamados a “olhar para o futuro com esperança”, mas isso comporta a necessidade da educação para a maternidade e paternidade responsáveis e toda a sociedade deve ser corresponsável por isso (cf. SNC,9).  

Desafios do mundo juvenil 

Os jovens que são sinais de esperança têm necessidade dela; mas muitas vezes veem desmoronar-se os seus sonhos; é triste ver jovens sem esperança vivendo o presente na melancolia, no tédio, na incerteza, sem estudos, sem perspectiva de trabalho… É triste ver jovens no mundo da ilusão das drogas, confusos, na transgressão, na busca do efémero, com gestos autodestrutivos e perdendo o sentido da vida.  Por isso, afirma o Papa Francisco: “que o Jubileu seja, na Igreja, ocasião para um impulso a favor deles: com renovada paixão, cuidemos dos adolescentes, dos estudantes, dos namorados, das gerações jovens! Mantenhamo-nos próximo dos jovens, alegria e esperança da Igreja e do mundo!” (SNC,12). 

A partir das perspectivas colocadas pelo Papa Francisco, os educadores-pastores-missionários dos jovens são convidados a acolher o Ano Jubilar como uma oportunidade muito significativa para o relançamento da pastoral juvenil em diversas dimensões promovendo muitas atividades. A finalidade primordial é sempre aquela de estimular processos de formação e evangelização dos jovens contribuindo para o crescimento integral deles a partir da situação em que sem encontram e no mundo em que vivem. O pressuposto principal é aquele de que a Celebração do Jubileu tem como finalidade a experiência de um caminho de conversão.  Possíveis atividades com os jovens 

Para que o Ano Jubilar seja significativo para os jovens é necessário que se tenha sensibilidade pedagógica para que melhor possam compreender o que se vai propor-lhes; para isso, além da oração e de variadas práticas religiosas, é essencial a catequese educativa, bem como, experiências socioafetivas, caritativas, missionárias. É preciso evitar o intimismo que é sempre despido de compromissos sociais.  Vejamos alguma dimensões e possíveis atividades educativo-pastorais:   

Na dimensão humana: 

Promover reflexões sobre a beleza da vocação humana e o sentido da Vida;  

Organizar rodas de conversas sobre os males provocados pelos vícios e a beleza da prática das virtudes; 

Programar dinâmicas de grupos sobre a importância das sadias relações humanas: acolhida, respeito, gentileza, comunicação, delicadeza, não violência, perdão etc;     

Estimular e desafiar os jovens e adolescentes no exercício de bons hábitos no uso do celular, dando prioridade às pessoas; não levar o celular para as refeições, autodisciplinar-se, evitando a dependência tecnológica;   

Programar experiências recreativas para estimular a convivência, integração, cooperação, o fortalecimento dos laços de amizade;  

Apresentação de modelos de homens e mulheres, como os santos, com suas mais variadas virtudes, atitudes, ações e boas linhas de comportamento que abraçaram (assistir filmes dos santos, com tempos de partilha). 

Na dimensão catequética e espiritual: 

Favorecer aos jovens momentos semanais ou mensais de oração em grupo pelas juventudes, sobretudo pelas mais sofredoras;   

Celebrações de adoração, vigílias de oração e noites de louvor oferecendo momento de pregação, testemunhos e do sacramento da reconciliação; 

Proporcionar experiências de retiro para os jovens com temas relativos à esperança, sentido da vida, reconciliação;  

Celebração da Via Sacra, relacionando as estações com as realidades juvenis – (Cf. Via Sacra das Campanhas da Fraternidade dos Anos 1992 e 2013);  

Oferecer aos jovens celebrações litúrgicas especiais para concessão das indulgências plenárias com os devidos compromissos;   

Organizar peregrinações à Catedral, por Vicariatos (regiões episcopais) ou paróquias com uma programação catequética;  

Pensar na possibilidade de eventos públicos: musicais, caminhadas etc. 

Estimular a sinodalidade e a comunhão entre as expressões juvenis em vista de fortalecer no Setor Juventude a participação ativa na vida das comunidades; 

Corresponsabilizar as pastorais, grupos, movimentos pela promoção da pastoral juvenil em vista de rejuvenescê-los com a presença de mais jovens;  

Promover a Leitura Orante da Bíblia, sobretudo, com textos dos evangelhos;  

Celebrar um Congresso Juvenil dando possibilidade para um maior aprofundamento da realidade juvenil e assunção de compromissos sociopastorais; 

Preparar mutirões de confissões para os jovens, dentro de uma celebração penitencial;  

Nas rodas de conversa ou podcasts refletir sobre a inseparabilidade entre Cristo e a Igreja; “cristo sim, Igreja não”, é uma mentalidade errada!  

Na dimensão socio-missionária: 

Favorecer aos jovens o conhecimento do território da paróquia oferecendo-lhes a possibilidade de perceber necessidades e possibilidades de evangelização;  

Visitar as pessoas que vivem em condição de pobreza, abandono e miséria (ou moradores de rua, migrantes) que moram nas áreas com menos atenção pastoral; 

Visitar escolas e promover um evento catequético falando do sentido do Ano Santo;  

Organizar com os jovens o encontro com moradores de rua e visita à instituições terapêuticas, hospitais, abrigos de idosos e de crianças, ou onde for possível, unidades carcerárias;  

Desenvolver campanhas de solidariedade com múltiplos serviços e envolvendo instituições públicas e empresas;  

Estimular a experiência do voluntariado;  

Relacionar o Ano Santo com a questão ecológica, proporcionando aos jovens o compromisso de harmonia com a natureza e estimulando ações como o plantio de árvores, limpeza de praças, parques, praias, coleta seletiva; 

Onde for possível, articular algum evento ecumênico e de diálogo inter-religiosos estimulando a Paz e a fraternidade, contra a intolerância religiosa;  

Promover mutirões missionários programando a visita missionária de casa em casa concluindo à noite com uma celebração festiva;  

Fazer o mapeamento na paróquia sobre pessoas lesadas em seus direitos e estimular o serviço voluntários de profissionais para ajudá-los;  

Visitar os meios de comunicação como Rádios e TV para deixar uma mensagem sobre o Ano Santo;  

Produzir podcasts, entrevistas, vídeos… etc. sobre o Ano Santo para serem lançadas nas Redes Sociais fortalecendo a PASCOM. 

Na dimensão lúdica: 

Promover festivais artísticos e culturais (teatro, músicas, danças, exposições, coreografias…) com temas como reconciliação, amizade, libertação, esperança;  

Realizar gincanas envolvendo grupos juvenis com diversas atividades como questionário bíblico, esportivas, artísticas, culturais, religiosas, sociais;   

Organizar corridas, caminhadas, torneios, trilhas, passeios e outras atividades esportivas com os jovens tendo como meta a reflexão do tema do Ano Santo;   

Promover o Oratório Festivo, como espaço de entretenimento (com jogos de mesas, ping-pong, pebolim, músicas, esporte e outras atividades) para estimular a convivência entre jovens e adolescentes em clima de família. 

Enfim, muitas são as possibilidades pastorais que podemos oferecer aos jovens. Mas isso requer sensibilidade pedagógica, criatividade e foco na finalidade do Ano Jubilar. São muitos os meios que podemos utilizar para veicular boas mensagens e educar os jovens. O Papa Francisco na Exortação Apostólica Christus Vivit afirma: “Misericórdia, criatividade e esperança fazem crescer a vida” (CV, 173). Essas três realidade tem tudo a ver com Ano Jubilar, mas precisa ser programado.  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER: Tradição e Liberdade: Lições do Jovem Joseph (III)

Basílica de São Pedro durante o Concílio Ecumênico Vaticano II | 30Giorni

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER

Arquivo 30Giorni n. 03 - 2006

Tradição e Liberdade: Lições do Jovem Joseph

Os primeiros anos de ensino do Professor Ratzinger conforme relembrados por seus alunos. «A sala estava sempre lotada. Os alunos o adoravam. Ele tinha uma linguagem bonita e simples. A linguagem de um crente».

por Gianni Valente

Invidia clericorum

O círculo de estudantes de doutorado de Ratzinger inclui dois estudantes ortodoxos, Damaskinos Papandréou e Stylianos Harkianakis, ambos hoje metropolitas do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Mas o Conselho da Faculdade rejeitou o pedido dos dois para obter um doutorado na Faculdade Católica. Durante uma viagem de Ratzinger a Roma para o Concílio, as notas de alguns de seus alunos foram rebaixadas por seus detratores. Até mesmo a tese do aluno Johannes Dörmann sobre as novas aquisições em relação ao evolucionismo introduzidas pelos estudos de Johann Jacob Bachofen (o primeiro a teorizar a existência de um matriarcado original primitivo) é contestada com o argumento de que não se trata de uma obra teológica. Ratzinger relembra o drama que vivenciou durante seu exame de qualificação, quando seu coorientador, o professor de Teologia Dogmática Michael Schmaus, tentou rejeitar sua tese sobre São Boaventura, acusando-a de modernismo. E ele entende que é hora de mudar de cenário.

Em 1962, a cátedra de Teologia Dogmática na prestigiosa Universidade de Münster ficou vaga: o grande teólogo dogmático Hermann Volk, nomeado bispo de Mainz, pediu que Joseph Ratzinger fosse chamado para sucedê-lo. Viktor Hahn relembra: «O professor inicialmente recusou o chamado: ele não queria deixar Bonn, também para evitar se mudar de Colônia, onde a colaboração com Frings havia começado. Mas quatro meses depois ele voltou atrás em sua decisão e aceitou. Certamente a hostilidade em torno dele aumentou com sua nomeação como especialista do Conselho. Perguntei ao Professor Jedin se foram os outros professores que o abandonaram. Ele me respondeu: você pode não estar errado." Botterweck, em fofocas entre colegas, se gabará de ter "feito ele fugir" de Bonn.

Em Münster, Ratzinger instalou-se com sua irmã Maria em uma pequena vila na avenida Annette von Droste Hülshoff, perto do lago artificial Obrigado. No andar de cima, dois de seus alunos, os “mais fiéis” Pfnür e Angulanza, encontrarão acomodação e o ajudarão na universidade como colaboradores científicos. De manhã cedo, ele celebra a missa na capela de um asilo perto de sua casa e depois vai de bicicleta até a faculdade. Peter Kuhn diz: «Münster é uma cidade na planície, não muito longe da Holanda, onde todos se locomoviam de bicicleta, como muitos fazem hoje. Eu disse ao Pfnür para comprar uma para o nosso professor, mas ele é um cara econômico e encontrou uma usada, tão surrada que eu ainda hoje o provoco, dizendo que é por causa daquela bicicleta que os joelhos do Papa ainda doem..." Em Münster, o círculo de estudantes que desejam fazer doutorado com ele está crescendo. A tradição dos almoços bávaros continua com os amigos mais próximos. Às vezes, o grupo de teólogos e seu professor se encontram comendo em uma pousada no lago que parece feita sob medida para eles: é chamada Zum Himmelreich , Para o Reino dos Céus.

O clima que Ratzinger encontra na Faculdade é cordial e estimulante. «A de Münster», recorda Pfnür, «era uma faculdade em ascensão, que oferecia mais espaço e possibilidades financeiras do que Bonn. E a teologia dogmática era o campo de ação mais adequado para o Professor Ratzinger, onde sua preparação patrística e escritural era mais valorizada." As vertentes “clássicas” do ensinamento de Ratzinger são repropostas à luz do que está acontecendo no Concílio atualmente em andamento em Roma. Em 1963 seus cursos foram dedicados à Introdução à Dogmática e à Doutrina da Eucaristia. O seminário se concentra no tema “Escritura e Tradição”. Em 1964 e 1965, os seminários se concentraram na constituição Lumen gentium do Concílio Vaticano II . No semestre de inverno de 65-66, um dos cursos de Teologia Dogmática consiste em uma retrospectiva do Concílio recentemente concluído, enquanto o seminário se inspira na constituição conciliar Dei Verbum sobre a Revelação.

Não há problemas com colegas. Joseph Pieper ensina Filosofia. Na Teologia há o combativo Erwin Iserloh, conhecido por seu caráter contraditório. Naqueles anos, outras jovens promessas da teologia alemã foram adicionadas ao corpo docente, como Walter Kasper e Johannes Baptist Metz, o fundador da teologia política, com quem Ratzinger discutiria nos anos seguintes. Mas na era Münster ninguém parece sofrer com a preferência que os estudantes reservam a ele. Pfnür continua: «Havia cerca de 350 pessoas matriculadas no curso, mas uma média de 600 ouvintes assistiram às aulas. Estudantes de outras faculdades, como Filosofia e Direito, também vieram ouvir Ratzinger. Imprimimos os folhetos do curso de Eclesiologia sobre a centralidade da Eucaristia e vendemos 850 cópias." Kuhn brinca: «Em Münster, Pfnür montou uma pequena gráfica. As palestras foram mimeografadas e, em seguida, pacotes inteiros delas foram enviados por toda a Alemanha, para os fãs de Ratzinger espalhados pelas outras faculdades teológicas."

A crescente fama do Professor Ratzinger se deve à sua intensa participação no Concílio. Ele escreve opiniões para seu cardeal e é encarregado de redigir modelos de documentos alternativos aos preparados pela Cúria Romana. Ele frequentou e colaborou com todos os grandes teólogos do Concílio: Yves Congar, Henri de Lubac, Jean Daniélou, Gérard Philips, Karl Rahner. «Ele nos disse, estudantes», recorda Pfnür, «que ficou particularmente impressionado com os teólogos e bispos latino-americanos». Quando retornou à Alemanha no final das sessões romanas, ele prestou contas públicas do trabalho do concílio em conferências lotadas. Oportunidades de reflexão nas quais o julgamento de Ratzinger também se distancia do neotriunfalismo progressista e da excitação polêmica que já parece contagiar outros teólogos "reformistas" do Concílio. “Sempre que voltava de Roma”, ele conta em sua autobiografia, “encontrava um estado de espírito cada vez mais agitado na Igreja e entre os teólogos. Crescia cada vez mais a impressão de que não havia nada estável na Igreja, que tudo podia ser sujeito a revisão." Pfnür explica hoje: «Ele registrou os primeiros sinais de caos não tanto na Faculdade, mas nas paróquias. Os párocos começaram a mudar a liturgia para adequá-la ao seu gosto, e ele imediatamente fez julgamentos muito críticos sobre isso."

«Joseph sempre dizia: quando você está dando uma palestra, a melhor coisa é quando os alunos deixam as canetas de lado e ouvem você. Enquanto eles continuarem tomando nota do que você diz, você não os impressionou. Mas quando eles largam a caneta e olham para você enquanto você fala, então talvez você tenha tocado o coração deles. Ele queria falar aos corações dos estudantes. Eles não estavam interessados ​​apenas em aumentar seus conhecimentos. Ele costumava dizer que as coisas importantes do cristianismo são aprendidas apenas se aquecerem o coração» <br>(Alfred Läpple)

Na Faculdade, as coisas continuam indo bem. Ratzinger goza da estima unânime de colegas e alunos. Hahn conta ao 30Giorni um episódio emblemático: «Um dia encontrei a sala de aula cheia: todos queriam assistir a uma disputatio pública entre o professor Metz e o teólogo suíço Hans Urs von Balthasar, que criticava sua teologia política. Metz pediu a Ratzinger para coordenar o debate. Nosso professor, entre uma intervenção e outra dos dois concorrentes, resumiu seus pensamentos com uma riqueza de exposição que tornou claras e interessantes até as passagens mais obscuras dos dois. No final, o público aplaudiu Metz e von Balthasar respeitosamente. Mas os aplausos mais longos e entusiasmados foram reservados ao árbitro."

Os cursos lotados, os colegas que o estimam, as relações que ele estabeleceu com bispos e teólogos do mundo inteiro… O que leva Ratzinger a deixar Münster? 

A “vocação” de Küng 

O professor mundialmente famoso não é daqueles que se escravizam e ignoram seus entes queridos para seguir o ídolo de uma carreira acadêmico-eclesiástica. Sua irmã Maria, que o acompanha com dedicação quase maternal, não conseguiu se estabelecer na bela cidade da Vestefália. Para ela, o lugar mais bonito de Münster é a estação, de onde partem muitos trens para a Baviera. Hahn diz: «Alguns anos depois, quando perguntei por que ele foi embora, ele confirmou que sua irmã não estava feliz em Münster. Ela dedicou sua vida a ele, e ele não podia ignorar sua nostalgia." Então, quando em 1966 surgiu a convocação para a segunda cadeira de Teologia Dogmática da Faculdade Católica de Teologia de Tübingen, Ratzinger não pensou muito sobre isso. Na primeira viagem à cidade da Suábia, ele é acompanhado pelo habitual Pfnür, que cuidará da mudança. Quem os recebeu foi um teólogo que Ratzinger conhecia desde 1957 e que ele também conheceu no Concílio. Alguém que o respeita e que interveio junto aos seus colegas de faculdade apenas para tê-lo em Tübingen. Ele os convida para almoçar e se mostra cheio de atenção e cordialidade para com a nova aquisição da Faculdade de Tübingen. O nome dele é Hans Küng. continua… (Pierluca Azzaro colaborou)

Fonte: https://www.30giorni.it/

A arte a serviço da fé e da evangelização

Juizo FInal, na Capela Sistina  (Vatican Media)

A relação entre arte e fé sempre foi estreita na Igreja. Para artista sacro brasileiro, não se trata “apenas expressão estética, mas um belo elo entre o homem e o divino”.

Victor Hugo Barros - Cidade do Vaticano

O Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura, que acontece de sábado (15) a terça-feira (18), é mais um marco na relação entre fé e arte, sempre cultivada pela Igreja. Ao longo da história, foram vários os momentos em que o Evangelho foi traduzido por meio de símbolos e imagens que levam a contemplação do Deus invisível.

“A arte sempre esteve a serviço da Igreja, pois ao encarnar-se Deus concedeu à humanidade um rosto visível. Desta forma, a arte sacra não apenas representa o divino, mas o torna acessível a contemplação”, afirma o artista sacro Ezequiel Arantes.

Basta caminhar pelos corredores da Basílica de São Pedro, no Vaticano, ou das antigas catacumbas romanas para ter um verdadeiro encontro com a arte que ajuda a rezar. Por meio de obras artísticas e arquitetônicas, a fé pode ser melhor entendida e se torna acessível até mesmo para aqueles que possuem pouca instrução.

“Ao longo da história, a antropologia evidencia a necessidade humana do belo, capaz de elevar a alma à transcendência. Não é por acaso que a Igreja é a maior guardiã das obras de arte no mundo”, explica.

Não apenas no Coração Espiritual da Igreja o casamento entre fé e arte evangeliza. “Qual o edifício mais belo da sua cidade? Para muitos, a resposta será uma igreja. E por que? Porque nela habita Cristo vivo no sacrário e a Ele se deve o maior esforço artístico que uma cidade pode oferecer. Mais do que uma construção, uma igreja materializa a fé de um povo”, reflete o artista.

A contemplação não fica restrita apenas a quem vê a obra terminada. Ezequiel garante que, também ele, reza durante o processo de produção das obras.

“A arte sacra não é apenas expressão estética, mas um belo elo entre o homem e o divino. Uma oferenda que busca refletir, ainda que de modo imperfeito, a beleza de seu criador. Mesmo durante o meu processo criativo, busco sempre a espiritualidade. Enquanto estou esculpindo, desenhando, costumo orar, invocando a devoção que estou tentando representar. Muitas vezes trabalho com o foninho de ouvido, meditando sobre o sentido daquela obra”, destaca Ezequiel, que há 22 anos esculpe peças sacras em madeira.

Sua história com a arte é transmitida pelo sangue. O artista vem de uma família que há quatro gerações trabalha dando formas e cores à madeira. Seu primeiro trabalho, aos 12 anos, foi a restauração de um altar. Desde então, não parou mais.

“A arte é uma ferramenta,  uma forma de expressão, uma linguagem simbólica que Deus nos concedeu para tocar os corações. E sempre que somos tocados sentimos a sua presença. Eu, em meus trabalhos, busco criar um ambiente contemplativo, no qual a arquitetura transmite, de forma eloquente, que ali é o lugar de Deus”, define Arantes.

Deus, que nos criou com mãos de artista, não apenas se serve da arte para transmitir a sua presença, mas também Ele é fonte de inspiração para muitos outros que, com seus talentos, enchem a vida de beleza. Na história, são diversos os testemunhos que provam que “o cristianismo, em virtude do dogma central da encarnação do Verbo de Deus, oferece ao artista um horizonte particularmente rico de motivos de inspiração” (João Paulo II, Carta aos Artistas, 1999).

Esta divina inspiração move não apenas as mãos, mas também os pés dos artistas que se farão peregrinos em Roma durante as celebrações deste fim de semana. Ao todo, mais de dez mil integrantes do mundo da cultura e das artes se inscreveram para participar do evento, vindos de mais de 100 países dos cinco continentes.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF