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quinta-feira, 22 de maio de 2025

Papa Francisco, doze anos de novos dinamismos e portas abertas

Papa Francisco na Praça São Pedro (Vatican Media)

Papa Francisco, doze anos de novos dinamismos e portas abertas

O pontificado de Jorge Mario Bergoglio no trono de Pedro, entre viagens, reformas, documentos, reestruturações eclesiais, compromissos pela paz, pelos pobres e migrantes, no horizonte da inovação e da fraternidade.

Salvatore Cernuzio – Vatican News

Papa Francisco foi o primeiro em muitas coisas. Primeiro Papa jesuíta, primeiro Papa originário da América Latina, primeiro a escolher o nome Francisco sem um numeral, primeiro a ser eleito com seu antecessor ainda vivo, primeiro a residir fora do Palácio Apostólico, primeiro a visitar terras nunca antes tocadas por um pontífice - do Iraque à Córsega -, primeiro a assinar uma Declaração de Fraternidade com uma das autoridades islâmicas mais importantes. Também foi o primeiro Papa a se equipar com um Conselho de Cardeais para governar a Igreja, a atribuir funções de responsabilidade a mulheres e leigos na Cúria, a lançar um Sínodo que envolvia diretamente o povo de Deus, a abolir o segredo pontifício para casos de abuso sexual e a remover a pena de morte do Catecismo. O primeiro também, a liderar a Igreja enquanto no mundo não há “a” guerra, mas muitas guerras, pequenas e grandes, travadas “em pedaços” nos diferentes continentes. Uma guerra que “é sempre uma derrota”, como repetiu nos mais de 300 apelos, mesmo quando sua voz falhava, e que ocuparam todos os últimos pronunciamentos públicos desde o início da violência na Ucrânia e no Oriente Médio.

Última passagem com o Papamóvel de Francisco na Praça São Pedro, após a Urbi et Orbi de ontem, 20 de abril de 2025, Domingo de Páscoa   (Vatican Media)

Processos

Mas Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, provavelmente não gostaria que o conceito de “primeiro” fosse associado ao seu pontificado, projetado nesses 12 anos não para atingir metas ou conquistar primados, mas para iniciar “processos”. Processos em andamento, processos concluídos ou distantes, processos que provavelmente são irreversíveis até mesmo para quem o sucederá no trono de Pedro. Ações que geram “novos dinamismos” na sociedade e na Igreja - como está escrito na road map do pontificado, a Evangelii Gaudium - sempre no horizonte do encontro, da troca, da colegialidade.

Do fim do mundo

“E agora iniciamos este caminho, Bispo e povo”, foram as primeiras palavras pronunciadas da Sacada Central da Basílica de São Pedro, no final da noite de 13 de março de 2013, para uma multidão que lotava a Praça São Pedro há um mês, sob os refletores após a renúncia de Bento XVI. Para aquela multidão, o recém-eleito Papa de 76 anos, escolhido por seus irmãos cardeais, originário “do fim do mundo”, pediu uma bênção. Com o povo, quis recitar uma Ave Maria, tropeçando em um italiano que até então não havia praticado assiduamente, dadas as raras visitas do pastor de Buenos Aires a Roma, pronto para fazer as malas imediatamente após o Conclave. E ao povo, no dia seguinte, ele quis prestar sua homenagem íntima, dirigindo-se à paróquia de Santa Ana no Vaticano e depois à Basílica de Santa Maria Maior, agradecendo à Salus Populi Romani, protetora de seu pontificado, a quem ele continuou a prestar homenagem em todos os momentos mais fortes. E exatamente nessa Basílica, Francisco expressou seu desejo de ser enterrado.

A eleição em 13 de março de 2013   (ANSA)

Pastor no meio do povo

A proximidade com o povo, um legado do ministério argentino, foi manifestada pelo Papa em todos os anos seguintes de várias maneiras: com visitas aos funcionários do Vaticano nos seus escritórios, com as Sextas-feiras da Misericórdia no Jubileu de 2016 em locais de marginalização e exclusão, com as celebrações da Quinta-feira Santa em prisões, asilos e centros de acolhida, com o longo tour em paróquias nos subúrbios romanos, com visitas e telefonemas surpresa. E manifestou essa proximidade em todas as viagens apostólicas, começando pela primeira ao Brasil em 2013, herdada de Bento XVI, da qual nos lembramos a imagem do papamóvel bloqueado no meio da multidão.

Primeiro Papa no Iraque

O Pontífice argentino completou quarenta e sete peregrinações internacionais, feitas com base em eventos, convites de autoridades, missões a serem realizadas ou algum “movimento” interno, como ele mesmo revelou no voo de volta do Iraque. Sim, exatamente o Iraque: três dias em março de 2021 entre Bagdá, Ur, Erbil, Mosul e Qaraqosh, terras e vilarejos com cicatrizes ainda evidentes da matriz terrorista, com sangue nas paredes e tendas de pessoas deslocadas ao longo das estradas, em meio à pandemia da Covid e preocupações gerais com a segurança. Uma viagem desaconselhada por muitos por causa da saúde e do risco de atentados; uma viagem desejada a todo custo. A “mais bela” viagem, como o próprio Francisco sempre confidenciou, o primeiro Papa a pisar na terra de Abraão, onde João Paulo II não conseguiu ir, e a conversar com o líder xiita Al-Sistani.

Papa Francisco entre os escombros de Mosul, viagem ao Iraque (2021)   (Vatican Media)

A Porta Santa em Bangui e a mais longa viagem ao Sudeste Asiático e à Oceania

Uma boa obstinação o levou ao Iraque, a mesma que em 2015 o levou a Bangui, a capital da República Centro-Africana ferida por uma guerra civil que, nos mesmos dias da visita, deixou mortos pelas ruas. No país africano, onde disse que queria ir mesmo ao custo de saltar “de paraquedas”, Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia em uma cerimônia comovente que também marca o recorde de um Ano Santo aberto não em Roma, mas em uma das regiões mais pobres do mundo. Também pode ser descrito como uma boa obstinação a que animou sua decisão de empreender a viagem mais longa do pontificado em setembro de 2024, aos 87 anos: Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste, Cingapura. Quinze dias, dois continentes, quatro fusos horários, 32.814 km percorridos de avião. Quatro universos diferentes, cada um representando os principais temas do Magistério: fraternidade e diálogo inter-religioso, periferias e emergência climática, reconciliação e fé, riqueza e desenvolvimento a serviço da pobreza.

A abertura da Porta Santa em Bangui   (ANSA)

De Lampedusa a Juba

Não se pode esquecer, repercorrendo as viagens apostólicas e as visitas pastorais, a primeira viagem fora de Roma, à pequena ilha de Lampedusa, cenário de grandes tragédias migratórias, com a coroa de flores lançada no “cemitério a céu aberto” do Mediterrâneo. A denúncia também se repetiu na dupla viagem a Lesbos (2016 e 2021) nos contêineres e tendas de refugiados e pessoas deslocadas.

Na história do pontificado, ficaram marcadas também a viagem à Terra Santa (2014); à Suécia, em Lund (2016) para as celebrações do 500º aniversário da Reforma Luterana; ao Canadá (2022) com o pedido de perdão às populações indígenas pelos abusos sofridos por representantes da Igreja Católica. E, em seguida, na República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, em Juba (2023), esta última etapa compartilhada com o Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, e o Moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, Ian Greenshields, para sublinhar a vontade ecumênica de curar as feridas de um povo. As mesmas que ele implorou que fossem curadas aos líderes sul-sudaneses, reunidos em 2019 para dois dias de retiro na Casa Santa Marta, concluídos com o gesto perturbador de beijar seus pés.

Também, Cuba e Estados Unidos (2015), uma viagem para selar o estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países. Um evento histórico para o qual Francisco passou meses, enviando cartas a Barack Obama e Raúl Castro, instando-os a “iniciar uma nova fase”. Foi o próprio Obama quem agradeceu publicamente ao Pontífice. Em Havana, houve também o encontro com o Patriarca Kirill e a assinatura de uma declaração conjunta para colocar em prática o “ecumenismo da caridade”, o compromisso dos cristãos para uma humanidade mais fraterna. Um compromisso que se tornou, anos depois, tragicamente atual e um tanto desconsiderado com a eclosão da guerra no coração da Europa.

A assinatura da Declaração sobre a Fraternidade Humana em Abu Dhabi (2019) (Vatican Media)

A assinatura do Documento sobre a Fraternidade Humana em Abu Dhabi

Por último, mas não menos importante, entre as viagens, Abu Dhabi (2019) e o Documento sobre a Fraternidade Humana assinado em conjunto com o Grão Imame al-Tayeb, coroando o degelo com a universidade sunita de Al-Azhar que começou com um abraço na Casa Santa Marta e terminou com a assinatura de um texto que imediatamente se tornou a pedra angular do diálogo islâmico-cristão, também transposto para várias Constituições.

As encíclicas

As experiências, os diálogos e os gestos vividos nessas viagens fluíram para os documentos do pontificado. Quatro encíclicas: a primeira, Lumen Fidei, sobre o tema da fé, a quatro mãos com Bento XVI; depois, Laudato si', um grito para invocar uma “mudança de rumo” para a “casa comum”, em crise pelas mudanças climáticas e pela exploração excessiva, e para estimular ações para erradicar a miséria e para o acesso equitativo aos recursos do planeta. A terceira encíclica, a Fratelli Tutti, o eixo fundamental do Magistério, fruto do Documento de Abu Dhabi, profecia - antes da deflagração de novas guerras - da fraternidade como o único caminho para o futuro da humanidade. Por fim, a Dilexit Nos para repercorrer a tradição e a atualidade do pensamento “sobre o amor humano e divino do coração de Jesus” e lançar uma mensagem a um mundo que parece ter perdido seu coração.

O Sínodo para a Região Pan-Amazônica   (Vatican Media)

Exortações Apostólicas e Motu Proprio

São sete exortações apostólicas: desde a já mencionada Evangelii Gaudium até C'est la confiance, para o 150º aniversário do nascimento de Teresa do Menino Jesus. Entre elas, as exortações pós-sinodais - Amoris Laetitia (Sínodo sobre a família), Christus Vivit (Sínodo sobre os jovens), Querida Amazonia (Sínodo para a Região Pan-Amazônica) -, Gaudete et Exsultate sobre o chamado à santidade no mundo contemporâneo, Laudate Deum, uma sequência ideal da Laudato si' para completar seu apelo para reagir pela Mãe Terra antes de um “ponto de ruptura”.

Foram emitidos cerca de 60 Motu Proprio para reconfigurar as estruturas da Cúria Romana e do território da Diocese de Roma, para alterar o Direito Canônico e o sistema judiciário do Vaticano, para emitir regras e procedimentos mais rigorosos na luta contra os abusos. Esse é o caso do Vos estis lux mundi, um documento que incorporou resultados, indicações e recomendações do Summit sobre a Proteção dos Menores, realizado no Vaticano, em fevereiro de 2019. Uma cúpula que representou o auge do trabalho para combater a pedofilia do clero e os abusos não só sexuais; uma expressão da disposição da Igreja de agir com verdade e transparência em uma atitude penitencial. Com o Vos estis lux mundi, Francisco estabeleceu novos procedimentos para a denúncia de assédios e violências e introduziu o conceito de accountability, ou seja, garantir que bispos e superiores religiosos prestem conta de suas ações.

Os melhores votos à Cúria Romana em dezembro de 2024   (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Reforma da Cúria

Portanto, processos. Os processos de reformas foram uma constante no papado de Francisco, que não quis ignorar as recomendações dos cardeais nas congregações pré-conclave que pediam ao futuro novo Papa que reestruturasse a Cúria Romana e, em particular, as finanças do Vaticano, que durante anos estiveram no centro de escândalos. Logo após sua eleição, o Papa criou um Conselho de Cardeais, o C9 (que se tornou C6 e C8 ao longo dos anos, conforme os vários membros foram mudando), um pequeno “senado” para ajudá-lo a governar a Igreja universal e trabalhar na reforma da Cúria. Fusões de Dicastérios e outras mudanças de títulos e organogramas foram os sinais do work in progress; o passo final foi a Constituição Apostólica Praedicate evangelium: aguardada por anos, promulgada em 2022, sem aviso prévio ou preâmbulo, introduzindo novidades significativas. Entre elas, a instituição do novo Dicastério para a Evangelização, presidido diretamente pelo Pontífice, e o envolvimento dos leigos “em funções de governo e responsabilidade”. Nessa onda de mudanças, devem ser vistas as nomeações do primeiro prefeito leigo, Paolo Ruffini, para o Dicastério para a Comunicação, da primeira “prefeita” para o Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada, Irmã Simona Brambilla, e da primeira governadora da Cidade do Vaticano, Irmã Raffaella Petrini.

As Mulheres

As mulheres, outra vertente destes anos de Bergoglio no trono de Pedro, o Papa que, mais do que outros, confiou a figuras femininas papéis de responsabilidade, que criou duas comissões para o estudo das diaconisas, que nunca deixou de recordar o “gênio” feminino e a dimensão materna da Igreja (que “é mulher” porque “é a Igreja, não Igreja"). Além disso, colocou as mulheres lado a lado com cardeais e bispos nas mesas do último Sínodo sobre a Sinodalidade, irmãs, missionárias, professoras, especialistas, teólogas, às quais deu, pela primeira vez, o direito de voto.

Com os jovens na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa   (Vatican Media)

“Todos, todos, todos”

Uma abertura, como tantas outras feitas por Francisco. Aberturas e não extirpações, nem saltos; para alguns muito rápidos, para outros cautelosos demais. De fato, também esses, processos. Como a concessão dos sacramentos aos divorciados recasados, na perspectiva da Eucaristia como “remédio” para os pecadores e não como “alimento para os perfeitos”; a acolhida às pessoas Lgbtq+ com o convite à proximidade pastoral, porque dentro da Igreja há espaço para “todos, todos, todos”; a obstinação em dialogar com representantes de outras denominações e religiões cristãs, após séculos de preconceitos e suspeitas, também em virtude do “ecumenismo do sangue”. Também, o olhar à China, com o Acordo Provisório para a Nomeação de Bispos, assinado em 2019 e renovado três vezes. Um sinal de diálogo, entre tropeços e retomadas, com um “povo nobre” que ele desejou visitar por todos esses anos. Um desejo que remonta às aspirações missionárias da juventude.

Missionariedade e sinodalidade

Missão, este também é um tema central. De fato, a “missionariedade”, é um convite recorrente em textos e homilias, assim como a “sinodalidade”, outro termo que ressoou tantas vezes nesses doze anos. O Papa dedicou nada menos que duas sessões do Sínodo (2023 e 2024) à “sinodalidade”, renovando a estrutura e o funcionamento da assembleia, percebendo a necessidade de começar o caminho sinodal “de baixo” e instituindo também dez grupos de estudo para aprofundar temas doutrinários, teológicos e pastorais após os trabalhos.

Com migrantes no campo de refugiados em Lesbos (Vatican Media)

Pobres e migrantes

Neste pontificado serão lembrados também os axiomas que encapsularam inteiras realidades eclesiais, políticas e sociais: “Cultura do descarte”, “globalização da indiferença”, “Igreja pobre para os pobres”, “Igreja em saída”, “pastores com cheiro de ovelhas”, “ética global da solidariedade”. Permanecerá a atenção aos pobres com a instituição, em 2017, de um Dia dedicado a eles, sempre caracterizado pelo almoço do Papa na Sala Paulo VI, lado a lado com pessoas em situação de rua e sem-teto. Permanecerá o ensinamento sobre os migrantes, declinado nos quatro verbos “acolher, proteger, promover e integrar”, como indicações programáticas para enfrentar “uma das maiores tragédias deste século”. Assim como permanecerá o convite para elaborar “compromissos honrosos” como soluções para os conflitos que estão dilacerando a Europa, o Oriente Médio e a África.

Compromisso em prol da paz

Conflitos, angústia dos últimos anos, denunciados em apelos ressonantes e cartas a núncios e povos vítimas de violências, aliviados por meio de videochamadas - sobretudo a diária para a paróquia de Gaza - ou missões de cardeais e o envio de produtos de primeira necessidade. “Não pensei que seria um Papa em tempo de guerra”, confidenciou no primeiro e único podcast com a mídia do Vaticano no décimo aniversário de sua eleição.

A paz foi o objetivo constante. Pela paz, o Papa Francisco pediu continuamente orações, convocando Dias de jejum e oração - pela Síria, Líbano, Afeganistão, Terra Santa - envolvendo os fiéis de todas as latitudes; consagrou a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria em 2022; organizou momentos históricos, como o plantio de uma oliveira nos Jardins do Vaticano em 8 de junho de 2014 com os presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Palestina, Mahmoud Abbas. Em prol da paz, o Papa fez gestos inusitados, como entrar em seu carro e ir, no dia seguinte ao lançamento da primeira bomba em Kiev, ao escritório do embaixador russo na Santa Sé, Alexander Avdeev, tentando iniciar contatos com o presidente Putin e assegurando-lhe sua disposição de mediar. Francisco repreendeu várias vezes os chefes de Estado e de governo, advertiu os senhores da guerra de que eles prestarão contas diante de Deus pelas lágrimas derramadas entre os povos, estigmatizou o florescente mercado de armas lançando uma proposta para usar os gastos com armas para criar um Fundo Mundial para erradicar a fome. Pediu a construção de pontes e não a construção de muros, e insistiu em colocar o bem comum acima das estratégias militares, sendo às vezes mal interpretado e criticado.

O Angelus de 2 de fevereiro de 2025   (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Inovações

Em todos esses anos não faltaram críticas contra o Papa argentino, que comentou escaladas e os ventos contrários com aquele humor que é o que “mais se aproxima da graça de Deus”. Francisco questionou e surpreendeu, talvez tenha feito alguém torcer o nariz pela quebra de tabus e a ruptura de protocolos e velhos costumes, ou pela remodelação do próprio papado com roupas diferentes, uma residência diferente, uma inusual gestualidade, um estilo pastoral original. Ou aparecendo em transmissões ao vivo pela Internet e em programas de TV, usando a conta X @Pontifex, em 9 idiomas, ou como um canal para transmitir mensagens de divulgação e imediatismo necessários.

Momentos difíceis e problemas de saúde

Nesses anos sempre densos, com raríssimos momentos de descanso (e o cancelamento das tradicionais férias papais em Castel Gandolfo), não faltaram momentos difíceis, em meio a processos judiciais - liderados pelo longo e complexo processo pela gestão dos fundos da Santa Sé -, o caso Vatileaks 2, escândalos de abusos e corrupção e a publicação de livros sem “nobreza e humanidade”. Também não faltaram problemas de saúde entre as operações no Hospital Gemelli em 2021 e 2023, a internação no mesmo hospital, novamente em 2023, as complicações respiratórias, e depois os resfriados, as gripes e as dores no joelho que o forçaram a usar a cadeira de rodas nos últimos três anos.

Saudações da Policlínica Gemelli   (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Dados estatísticos

Tantas dificuldades que nunca impediram uma intensa atividade ou sua presença em eventos. Várias estatísticas testemunham isso: mais de 500 audiências gerais, dez Consistórios para a criação de 163 novos cardeais que restituíram caráter de universalidade ao rosto da Igreja; mais de 900 canonizações (incluindo três predecessores: João XXIII, João Paulo II, Paulo VI); os “Anos Especiais”, entre os quais os da Vida Consagrada (2015-2016), São José (2020-2021) e a Família (2021-2022); quatro Jornadas Mundiais da Juventude: Rio de Janeiro, Cracóvia, Panamá, Lisboa. Dois Jubileus: o extraordinário sobre a Misericórdia em 2016 e o ordinário em 2025, atualmente em andamento, com o tema “Peregrinos da Esperança”.

Statio Orbis durante a pandemia da Covid

Jorge Mario Bergoglio foi um Papa que buscou a proximidade com o grande público também por meio de entrevistas, livros, prefácios, autobiografias. Um Papa do qual, talvez, mais do que as muitas palavras e escritos, será recordado com uma imagem: ele, sozinho, mancando, na chuva, no silêncio geral do lockdown e com o único som de fundo de uma ambulância, enquanto atravessa a Praça São Pedro no tempo suspenso da pandemia. Era a Statio Orbis de 27 de março de 2020, com o mundo fechado dentro de casa vendo em streaming um homem idoso que parecia carregar sobre os ombros todo o peso de uma tragédia que revirou cotidianidade e hábitos. A humanidade estava aflita, mas o Papa falou de esperança. E de fraternidade: “Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo todos chamados a remar juntos”.

A Statio Orbis de 27 de março de 2020 (Vatican Media)
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt.html

Santo Agostinho: seguidor do Senhor, da Igreja e do reino de Deus

Santo Agostinho (FASBAM)

SANTO AGOSTINHO: SEGUIDOR DO SENHOR, DA IGREJA E DO REINO DE DEUS

por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

Os estudos sobre Santo Agostinho são muito abrangentes, englobantes tornando-se quase impossível dar uma ideia de seu pensamento, prática pastoral e eclesial. A sua influência tornou-se grande nos séculos passados, sobretudo na realidade atual nas quais as suas idéias referem-se ao seu seguimento a Jesus Cristo, a teologia, a sua conversão de vida, a Igreja, a comunidade eclesial. Foi um Autor que se destacou muito no final do século IV e por algumas décadas no século V, diante da Diocese de Hipona, no Norte da África. Santo Agostinho escreveu muito da realidade de seu tempo, mas ele teve presente, o Reino de Deus, a meta final do ser humano. Nós tivemos a eleição de um Cardeal Agostiniano, para Papa, Robert Prevost, cujo nome é: Leão XIV, de modo que é importante aprofundar a doutrina de Santo Agostinho para as pessoas da  realidade de ontem e de hoje.

A pessoa de Agostinho

Santo Agostinho foi uma personalidade profunda seja no nível de filosofia como de teologia. Foi um polemista, escritor, pastor. São muitas as qualidades que se completam de uma forma mútua a respeito do Bispo de Hipona que fez o ser humano Santo Agostinho uma pessoa muito importante para a vida da Igreja e para o mundo. Ele unia em si a energia criadora de Tertuliano, a largueza de espírito de Orígenes, as idéias e as concretizações dos maiores filósofos, Platão e Aristóteles[1]. Após um longo caminho percorrido sendo catecúmeno, ele viveu o seguimento a Jesus Cristo e à sua Igreja, sendo um bom cristão, monge, sacerdote e bispo. 

Os mistérios cristãos

Santo Agostinho tratou dos mistérios cristãos. Tudo isso foi feito com muita humildade e ardor de espírito, determinando um grande progresso dogmático que a história da Teologia teve em todos os períodos da sua história. Em seus escritos nós encontramos a importância da graça de Deus e da responsabilidade humana, a doutrina em relação ao mistério de Deus Uno e Trino, a Redenção, a Salvação do gênero humano, os Sacramentos, a Igreja, a Escatologia, as últimas realidades[2].

Os argumentos teológicos e sociais

Muitos argumentos teológicos e sociais foram tratados por Santo Agostinho. Ele era bispo que viveu a eclesialidade com a Igreja do Senhor, em comunhão com o Bispo de Roma e também era preocupado com as pessoas que viviam em seu tempo, sobretudo aquelas que eram sofredoras, as pobres, as necessitadas. Ele teve uma palavra sobre a moral centralizada no mandamento do amor do Senhor, a Deus, ao próximo como a si mesmo (Cfr. Mt 22,37-39). Ele também falou muito das questões sociais, como a solidariedade, a ajuda para as pessoas carentes e pobres, a partilha. Ele teve presente também a política como bem comum para todas as pessoas[3].

A Verdade

Santo Agostinho buscou a Verdade nos níveis humano e divino, afirmando que Jesus é a Verdade (cfr. Jo 14,6) na qual todas as pessoas são chamadas a segui-lo. Ele era convicto da originalidade da doutrina cristã, católica, defendendo-a contra os grupos diversos em seu tempo, como os pagãos, os judeus, os donatistas, os maniqueus, os arianos, e todas pessoas que não buscavam a Verdade suprema, o Senhor Jesus. Uma atitude muito importante era o diálogo com todas as pessoas, os seus adversários, mantendo respeito com eles, mas ele também era firme em suas convicções religiosas, bíblicas, espirituais, morais, e humanas[4].

Pastor do Senhor e do povo

Santo Agostinho foi um grande pastor no seguimento a Jesus Cristo e à Igreja. Ele buscava na comunidade, o sentido do pastoreio em unidade com Jesus, o Pastor dos pastores. Ele definia-se como servo de Cristo e servo dos servos de Cristo Jesus. Ele tirava a partir dessas considerações à plena disponibilidade para servir às necessidades dos fiéis, desejando não ser salvo sem a presença deles[5]. Desta forma ele via a graça da salvação dada em sentido comunitário, fraterno.

Mestre e discípulo

Ele se sentia mestre em ligação ao Mestre Jesus Cristo quando ensinava, procurando também testemunhar com a vida a Palavra de Deus. Ao mesmo tempo estava presente em sua vida, o sentido do discípulo de Cristo assim como foram os discípulos de Jesus. Nas diversas controvérsias tratadas por ele, tinha um desejo que todas as pessoas fossem discípulas do Senhor, Mestre e eles buscassem a vida na unidade com a Igreja[6].

Bispo – Cristão

Santo Agostinho teve uma fala e prática bem objetivas em relação ao seu episcopado e o seu ser cristão, seguidor do Senhor na Igreja. Ele disse: “Para vós sou bispo; convosco, sou cristão ”[7]. Ele não negava a sua missão para com os fiéis, o povo de Deus no sentido de ser bispo, mas tinha presente que ele era cristão como o povo de Deus, seguidor de Jesus Cristo e de sua Igreja. Ele também dizia que deveria levar adiante a missão recebida não escondendo certa preocupação, mas ele ficava consolado pelo fato de ser cristão com todo o povo de Deus a ele dado[8].

Santo Agostinho seja uma força no amor a Jesus Cristo e de sua comunidade eclesial. Assim como ele viveu a sua doação pela Igreja, pelo Reino seja também para nós um modelo de vida para que nós nos doemos aos outros e um dia sejamos participante do Reino dos céus.

____________________________

[1] Cfr. Institutum Patristicum Augustinianum. Patrologia. I Padri Latini. Marietti, Casale, Marietti, 1983, pg. 332.

[2] Cfr. Idem, pg. 333.

[3] Cfr. Ibidem.

[4] Cfr. Ibidem.

[5] Cfr. Ibidem, pg. 334.

[6] Cfr. Ibidem.

[7] Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo. Sermo 340,1: PL 38, 1483-1484. In: Ofício das Leituras, Liturgia das Horas, IV. Aparecida, SP: Editora Vozes, Paulinas, Paulus, Editora Ave-Maria, 1999, pg. 1293.

[8] Cfr. Idem, pg. 1293.

Fonte: https://cnbbn2.com.br/santo-agostinho-seguidor-do-senhor-da-igreja-e-do-reino-de-deus/

Santa Rita: A Última Palavra é de Deus

Santa Rita de Cássia (Vatican News)

No Dia de Santa Rita de Cássia, o mundo recorda a Santa das causas impossíveis e seu testemunho de fé inabalável.

Fernando Nunes - Vatican News

22 de maio

Hoje, a Igreja celebra a memória de Santa Rita de Cássia, padroeira das causas impossíveis e testemunho vivo de fé inabalável. Mulher de oração incansável e de coragem silenciosa, Rita é, para milhões de fiéis, um sinal claro de que a graça de Deus nunca abandona os que nele confiam — mesmo diante do impossível.

Sua vida foi marcada por dores profundas, decisões radicais e uma fé que jamais recuou diante dos sofrimentos. A convicção que carregava no coração — de que a última palavra sempre é de Deus — é o fio condutor de sua história e de sua santidade.

Casada muito jovem, e sem grande entusiasmo, enfrentou com perseverança e oração o temperamento violento do marido, Paolo Ferdinando. Próximo de sua morte, ele foi tocado pela graça, pouco antes de ser assassinado. Os dois filhos do casal juraram vingança, mas Rita, profundamente unida a Deus, suplicou para que o Senhor os impedisse de cometer esse crime. Sua súplica foi ouvida: os dois faleceram ainda jovens, reconciliados com Deus, sem carregar o peso do ódio ou da vingança.

Esse gesto — incompreensível para os que vivem apenas à luz da lógica humana — revela o coração de uma mulher enraizada na eternidade. Para Rita, o mais importante não era prolongar os dias dos filhos, mas garantir-lhes a vida eterna.

Após essa fase da vida, Rita ingressou, por um verdadeiro milagre, no mosteiro das Irmãs Agostinianas de Cássia. A regra da congregação impedia a entrada de viúvas, mas a força da intercessão — e a insistência da fé — abriram portas. Ali, viveu profundamente unida a Cristo, especialmente nos últimos 15 anos de sua vida, marcados por uma dolorosa ferida na testa, sinal visível de sua união com a Paixão do Senhor.

Corpo de Santa Rita (Vatican News)

Um corpo que fala

Após sua morte, em 1457, algo extraordinário começou a chamar a atenção: seu corpo, nunca sepultado da forma adequada, permaneceu surpreendentemente preservado ao longo dos séculos. Exalava um perfume delicado, e da ferida em sua fronte emanava uma luz inexplicável. Documentos da época relatam fenômenos místicos no momento de sua morte: perfumes, sinos tocando e uma claridade celeste enchendo a cela do convento.

Em 1627, por ocasião de seu processo de beatificação, o corpo de Santa Rita foi cuidadosamente examinado. O veredito surpreendeu os peritos: a pele conservava a coloração natural, e não havia sinais visíveis de decomposição — fato notável especialmente porque seu corpo nunca havia sido sepultado formalmente em mais de 150 anos.

Canonizada em 1900 por Leão XIII, Santa Rita passou a repousar em um relicário de ouro, exposto na Basílica a ela dedicada, na comuna de Cássia, Itália. Ali, todos os anos, milhares de devotos se reúnem para venerá-la — entre eles, uma imensa multidão de brasileiros, cuja devoção à santa é especialmente intensa.

Devoção no Brasil

No Brasil, Santa Rita de Cássia é uma das santas mais populares. Desde o século XIX, sua devoção se espalhou pelo país, com a criação de paróquias, festas e romarias em sua honra. A cidade de Santa Cruz (RN), por exemplo, abriga o maior monumento religioso dedicado à santa no mundo — uma imagem de 56 metros de altura que atrai milhares de peregrinos todos os anos. Em diversas cidades brasileiras, sua festa litúrgica, celebrada neste 22 de maio, é ocasião de intensa vivência da fé e expressão de confiança na sua intercessão poderosa.

Um Papa devoto e agostiniano

O Papa Leão XIV, atual Sucessor de Pedro, partilha com Santa Rita não apenas a devoção, mas também a espiritualidade agostiniana. Membro da Ordem de Santo Agostinho, o pontífice já esteve inúmeras vezes em Cássia, onde nutre especial afeto pelo santuário que abriga o corpo da santa. Sua vida de oração e perseverança diante dos desafios da Igreja encontra eco na figura de Rita, que soube responder com fé ao sofrimento e à contradição.

A santa do impossível

A vida de Santa Rita é uma pregação viva sobre o valor do sofrimento unido a Cristo. Ela testemunha que nenhum obstáculo, por mais humano que pareça, pode impedir o agir de Deus. Seja na vida matrimonial ou religiosa, seu exemplo aponta para a eternidade — e lembra aos devotos que, de fato, a última palavra sempre é de Deus.

Neste 22 de maio, sua memória é celebrada em todo o mundo, especialmente nas muitas cidades do Brasil onde igrejas, capelas e comunidades levam seu nome.

Que Santa Rita de Cássia nos ensine a nunca desistir, a sofrer com paciência e oferta, e a lembrar, com fé viva, que esta vida é breve — e que a última palavra sempre é de Deus.

Santa Rita de Cássia, rogai por nós.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Leão XIV na Audiência Geral: a Palavra de Deus é para todos, mas atua diferente em cada um

Audiência Geral de 21/05/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

Na sua primeira Audiência Geral, o Papa retomou o ciclo de catequeses proposto por Francisco para refletir sobre as parábolas. Leão XIV escolheu aquela do semeador e afirmou que "A Palavra de Jesus é para todos, mas atua de uma forma diferente em cada pessoa", dependendo do solo encontrado, de quando estamos "mais superficiais e distraídos" ou "disponíveis e acolhedores". Mas "Ele nos ama assim: não espera que nos tornemos o melhor solo, Ele nos dá sempre generosamente a Sua palavra".

https://youtu.be/bWC_zM_0Kk8

Andressa Collet - Vatican News

"Estou feliz em receber vocês nesta minha primeira Audiência Geral", disse o Papa Leão XIV, logo no início da catequese, a sua primeira no encontro semanal e com cerca de 40 mil fiéis na Praça São Pedro. Também é a segunda do ciclo de catequeses jubilares, preparada pelo Papa Francisco e divulgada pela Sala de Imprensa da Santa Sé em 16 de abril, durante o período de convalescença de Bergoglio que veio a falecer 5 dias depois e há exatamente um mês. Francisco tinha o desejo de "refletir sobre algumas parábolas" e Leão XIV retomou o tema “Jesus Cristo, nossa esperança”, escolhido por Bergoglio para este Ano Santo do Jubileu. Nesta quarta-feira (21/05), assim, o Papa meditou sobre a parábola do semeador (ver Mt 13,1-17), que fala da dinâmica e dos efeitos da Palavra de Deus, "e o que ela produz", que é como semente deitada no terreno do nosso coração e no terreno do mundo.

As provocações e os questionamentos

"Cada parábola conta uma história retirada do quotidiano", recordou Leão XIV, fazendo "nascer em nós perguntas" como: "onde estou eu nesta história? O que diz esta imagem à minha vida?". De fato, continuou o Pontífice, "cada palavra do Evangelho é como uma semente lançada no solo da nossa vida":

"No capítulo 13 do Evangelho de Mateus, a parábola do semeador introduz uma série de outras pequenas parábolas, algumas das quais falam precisamente do que acontece no solo: o trigo e o joio, o grão de mostarda, o tesouro escondido no campo. Então, o que é este solo? É o nosso coração, mas é também o mundo, a comunidade, a Igreja. A palavra de Deus, com efeito, fecunda e provoca toda a realidade."

Deus, assim, espalha abundantemente a Palavra, ainda que ela nem sempre encontre terreno bom para produzir. "A Palavra de Jesus é para todos, mas atua de uma forma diferente em cada pessoa", reforçou Leão XIV. "Estamos habituados a calcular as coisas – e às vezes é necessário – mas isso não vale no amor!". E, apesar de atuar em nós de modo diverso, a Palavra conserva sempre o poder de fecundar as situações da vida de cada um, pois vem de Deus e Ele nunca desiste:

"Jesus nos diz que Deus lança a semente da sua Palavra em todo o tipo de solo, ou seja, em qualquer das nossas situações: ora somos mais superficiais e distraídos, ora deixamo-nos levar pelo entusiasmo, ora somos oprimidos pelas preocupações da vida, mas também há momentos em que estamos disponíveis e acolhedores. Deus está confiante e espera que mais cedo ou mais tarde a semente floresça. Ele nos ama assim: não espera que nos tornemos o melhor solo, Ele nos dá sempre generosamente a Sua Palavra."

"Semeador no Pôr do Sol", de Vincent van Gogh | Vatican News

Leão XIV então, convidou os peregrinos a analisar uma obra de Vincent van Gogh (1853-1890), a do Semeador no Pôr do Sol. O pintor holandês, mundialmente conhecido que chegou a produzir quase 900 telas em menos de 10 dias, pintou um agricultor, com o trigo já maduro e "sob o sol abrasador" que domina a cena de esperança, lembrando que é Deus "quem move a história, mesmo que por vezes pareça ausente ou distante. É o sol que aquece os torrões da terra e faz amadurecer a semente". E o Papa deixou a sua mensagem final de reflexão:

“Queridos irmãos e irmãs, em que situação da vida nos chega hoje a Palavra de Deus? Peçamos ao Senhor a graça de acolher sempre esta semente que é a sua palavra. E se percebermos que não somos solo fértil, não desanimemos, mas peçamos-Lhe que trabalhe mais em nós para nos tornarmos um solo melhor.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Laudato Si, 10 anos da Carta do Cuidado e da ternura da Terra e suas criaturas

Laudato sì  (Renan Dantas | Diocese de Juína)

LAUDATO SI, 10 ANOS DA CARTA DO CUIDADO E DA TERNURA DA TERRA E SUAS CRIATURAS 

21/05/2025

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz 
Bispo de Campos (RJ)

No dia 24 de maio de 2015 o Papa Francisco publicava a Encíclica Laudato Si, a primeira sobre a temática ambiental, com o subtítulo que especifica o foco: Sobre o Cuidado da Casa Comum expressão que daria a nossa Terra o sentido de lar e habitat comunitário de todos os seres.  

Tem sido considerada a Segunda Carta da Terra, o Evangelho da Criação fazendo alusão ao seu segundo capítulo, a tradução reflexiva e pensada do Cântico das Criaturas de São Francisco para os dias de hoje.  

Sem dúvida um documento profético que dá voz ao grito da Terra não só na sua urgência premente de escapar da destruição, mas de mostrar a Criação como uma maravilhosa dádiva e dom do Criador.  

Se nos perguntássemos qual a novidade e a diferença com pronunciamentos anteriores do magistério eclesial veríamos uma linha evolutiva desde a e ética ambiental a partir de São Paulo VI e São João Paulo II , passando pela ecologia humana de Bento XVI que aprofundava e demandava um novo relacionamento do ser humano com a terra em todas as suas dimensões; com a Laudato Si chegamos a um novo olhar  sobre a questão ambiental que o Papa Francisco chama de Ecologia Integral, por tratar-se de uma visão inclusiva, sistémica e integradora que postula que tudo está interligado (LS 16).  

Sim, não se pode abordar a questão da pobreza sem ver as relações com a fragilidade do planeta e a crise climática, a crítica ao paradigma tecnocrático do poder, com a necessidade de repensar a economia e a própria política, o valor de cada criatura e o sentido humano da ecologia superando o reducionismo e limitações de outras propostas ecológicas. Porém a questão ambiental deve ser pensada desde a vida cotidiana envolvendo a todos e todas, levando a uma autêntica e profunda conversão ambiental e ecológica, uma vez que como afirma o Patriarca Bartolomeu: “Quando os seres humanos destroem a biodiversidade na criação de Deus, quando os seres humanos comprometem a integridade da terra e contribuem para a mudança climática, desnudando a terra das florestas naturais ou destruindo as suas zonas húmidas, quando os seres humanos contaminam as águas, o solo, o ar … tudo isso é pecado”.  

Porque afirmava o Papa Francisco um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus. Diante desta grave encruzilhada civilizatória importa viver e testemunhar uma sobriedade feliz, isto é uma nova forma de viver com modéstia, pureza, e partilha cuidando dos bens comuns, gerando uma economia circular, colaborativa, que aprenda a preservar, reciclar e reduzir o impacto de nossa pegada ecológica, tornando-nos jardineiros, guardiães e cuidadores da Casa Comum. Deus seja louvado! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A alegria do cardeal Damasceno pela eleição de Leão XIV

Arcebispo emérito de Aparecida, Cardeal Raymundo Damasceno Assis (Vatican Media)

A Rádio Vaticano – Vatican News recebeu nesta segunda-feira, o arcebispo emérito de Aparecida, Cardeal Raymundo Damasceno Assis, que expressou sua alegria ao falar sobre a celebração do início do Ministério Petrino do Papa Leão XIV em Roma. Destacou a grande participação da multidão na Praça de São Pedro e a emoção do Papa durante a cerimônia.

Silvonei José – Vatican News

Na entrevista, o cardeal Raymundo Damasceno Assis, compartilhou sua experiência de ter acompanhado diversas eleições papais desde 1961, incluindo a do Papa Leão XIV, que traz um nome não usado desde o século XIX. Enfatizou ainda a trajetória do Papa Leão, um frei agostiniano dos EUA que se tornou uma figura pastoral reconhecida no Peru, ressaltando seu foco na evangelização centrada em Jesus Cristo.

Falando sobre a Santa Missa de início de Pontificado, no último domingo, dom Raymundo disse que a mesma, foi realmente uma celebração muito linda e, sobretudo, muito participada. “Eu fiquei impressionado com a Praça São Pedro realmente repleta, inclusive a Via della Conciliazione, repleta de gente. Muitos os representantes de governos. Evidentemente, também, religiosos, muitos cardeais que ficaram aqui depois da eleição do Papa para participar desta missa de inauguração do seu Ministério Petrino, como nós dizemos. Lindo, lindo”.

O cardeal destacou ainda que o clima ajudou, estava um pouco suave, um pouco nublado. “Isso facilitou também, porque não houve tanto sol, a missa foi às 10 horas e é o momento do sol. Tudo ajudou, então”. “E o Papa muito emocionado, a gente percebia que ele estava muito emocionado de ver aquela multidão diante dele ali na Praça".

Numa cerimônia bonita, ele recebeu o Pálio, que é o símbolo do bispo de Roma. Como os arcebispos recebem o Pálio, também o Papa Leão recebeu o Pálio como sucessor de Pedro. Depois recebeu o anel, o anel do pescador. Foi uma cerimônia muito bonita, comovente. "E cada vez que eu participo de uma celebração como essa - disse o cardeal -, ou de um acontecimento como esse, eu fico realmente emocionado e agradecido por viver esses momentos importantes na história da Igreja”.

Dom Raymundo destacou ainda que presenciou a eleição de Paulo VI, com a morte do Papa João XXIII. “Eu era estudante aqui em Roma, então vi o Papa João XXIII várias vezes, é claro”. “E depois eu também visitei o corpo dele, que estava exposto na Basílica para visitação.

Desde João XXIII, o senhor já se frequenta a Roma? “Frequento Roma desde 1961”, respondeu. “Eu cheguei aqui em 1961. Justamente no período do Concílio, de 1962 a 1965. Eu estava aqui. Estive aqui na eleição e na morte do João XXIII, e também na eleição do Paulo VI. Depois, estive também aqui com o Papa Bento XVI, na sua morte. Depois, na eleição do Papa Francisco. Participei do Conclave que elegeu o Papa Francisco, portanto, pela segunda vez. E agora, a terceira vez também, participando. Também participei com muita tristeza da morte e do sepultamento do Papa Francisco e da alegria da eleição do Papa Leão também.

Falando de Leão XIV disse que até o nome é uma surpresa para todos nós. “Quebrou, de certa forma, essa continuidade de João e Paulo. E Bento foi surpresa, mas não tanto, porque parece que São Bento é uma devoção tão popular. Ele é patrono da Europa. Então o nome não chamou tanta atenção. Mas Leão, sim, porque desde Leão XIII, final do século XIX, começo do século XX, nós não temos um Papa com esse nome. É o XIV, Papa Leão.

O que lhe chama a atenção, então, Papa Leão? “O Papa Leão me chama a atenção”, disse. “Eu não o conhecia. Embora tenha sido secretário do Celan, presidente do Celan, não o conhecia pessoalmente. Fiquei conhecendo aqui em Roma e depois pelo que eu fui lendo durante as Congregações Gerais acerca da vida dele, dos testemunhos de pessoas que o conhecem. Ele é realmente extraordinário. Quer dizer, é um frei agostiniano que nasce nos Estados Unidos, mas que depois entra na Ordem Agostiniana e vai viver como padre e como bispo no Peru, na América Latina. Então, eu digo que o Papa Leão é americano de nascimento, mas eu acho que de coração ele é peruano e latino-americano. E é uma figura extraordinária. Ele é peruano pelo trabalho que exerceu como pastor. Ele é primeiramente um pastor e um missionário. Ele estava em Chiclayo, numa diocese no Peru, relativamente pobre. Viveu um tempo de grande violência ali no Peru, que teve um momento de muita violência. Depois, numa presença muito, digamos, viva em todos os momentos da vida da diocese, momentos difíceis, de alagamentos, de tempestades, foi uma pessoa pobre no meio dos índios. A gente viu ele várias vezes participando da vida do povo, de seus problemas e dificuldades e também nas alegrias. De modo que eu acho que ele traz para o pontificado uma experiência muito grande de pastor, de missionário. Isso é certamente muito enriquecedor para a Igreja, porque eu acho que o foco dele vai ser certamente esse, a missão da Igreja, a evangelização, centrada em Jesus Cristo, portanto, no querigma, Jesus Cristo morto, ressuscitado, que é caminho, verdade e vida. Portanto, é em Cristo que encontramos a resposta para todas as questões mais profundas da vida humana e também é nele que encontramos a salvação. É o único nome pelo qual podemos ser salvos, como diz São Paulo”.

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terça-feira, 20 de maio de 2025

“Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo.” (Jo 21,17)

“Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo.” (Jo 21,17) | Palavra de Vida Maio 2025

por Organizado por Letizia Magri com a comissão da Palavra de Vida   publicado às 00:00 de 24/04/2025, modificado às 10:09 de 28/04/2025

O último capítulo do Evangelho de João nos leva à Galileia, às margens do lago de Tiberíades. Após a morte de Jesus, Pedro, João e outros discípulos voltam ao seu trabalho de pescadores, mas infelizmente sem resultados naquela noite. 

Ali, o Ressuscitado se manifesta pela terceira vez. Exorta-os a lançar novamente as redes, e desta vez, eles apanham muitos peixes. Depois, na praia, Ele os convida a compartilhar a comida. Pedro e os outros o reconheceram, mas não têm a coragem de lhe dirigir a palavra.

Jesus toma a iniciativa e se dirige a Pedro com uma pergunta muito desafiadora: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?”. O momento é solene: três vezes Jesus renova o chamado de Pedro1 para que cuide das suas ovelhas, das quais Ele mesmo é o Pastor2.

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“Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo.” 

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Mas Pedro se lembra de que o tinha traído, e essa experiência trágica não o deixa responder positivamente à pergunta de Jesus. Então, responde com humildade: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”.

Ao longo de todo o diálogo, Jesus não censura Pedro pela traição, não insiste em evidenciar o erro. Vai até onde chegam as possibilidades do discípulo, leva-o para dentro da sua dolorosa ferida, a fim de curá-la com a sua amizade. A única coisa que Ele pede é que a relação seja reconstruída na confiança mútua.

Então, brota de Pedro uma resposta que é um ato de consciência da própria fraqueza e, ao mesmo tempo, de confiança sem limites no amor acolhedor do seu Mestre e Senhor:

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“Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo.”

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Jesus faz a mesma pergunta também a cada um de nós: tu me amas? Queres ser meu amigo?

Ele sabe tudo: conhece os dons que Ele mesmo nos deu, bem como as nossas fraquezas e feridas, que às vezes estão sangrando. Mesmo assim, Ele renova a sua confiança, não nas nossas forças, mas na amizade com Ele.

Nessa amizade, Pedro encontrará também a coragem de testemunhar o seu amor por Jesus até dar a própria vida por Ele.

“Todos nós passamos por momentos de fraqueza, de frustração, de desânimo: [...] contrariedades, situações dolorosas, doenças, mortes, provações interiores, incompreensões, tentações, fracassos [...]. Justamente aquele que se sente incapaz de superar certas provações que se abatem sobre o físico e a alma, e que, portanto, não pode contar com suas próprias forças, está em condições de confiar em Deus. E Ele intervém, atraído por essa confiança. Onde Ele age, realiza coisas grandes, que parecem maiores justamente por terem origem na nossa pequenez3”. 

No dia a dia, podemos nos apresentar a Deus do jeito que somos e invocar a sua amizade; e essa nos cura. Nesse abandono confiante na sua misericórdia, podemos retornar à intimidade com o Senhor e retomar a nossa caminhada com Ele.

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“Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo.” 

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Esta Palavra de Vida também pode se tornar uma oração pessoal, a nossa resposta, pela qual nos confiamos a Deus com as nossas poucas forças e lhe agradecemos pelos sinais do seu amor:

“[…] Quero-te bem porque entraste em minha vida mais do que o ar nos meus pulmões, mais do que o sangue em minhas veias. Entraste aonde ninguém podia entrar, quando ninguém podia me ajudar, toda vez que ninguém me podia consolar. […] Dá que eu te seja grata – ao menos um pouco – no tempo que me resta, por esse amor que derramaste sobre mim e me obrigou a dizer-te: Quero-te bem4”.

Também em nossos relacionamentos na família, na sociedade e na Igreja, podemos aprender o estilo de Jesus: amar a todos, tomar a iniciativa no amor, “lavar os pés”5 dos nossos irmãos, especialmente dos mais pequeninos e mais frágeis. Aprenderemos a acolher a todos com humildade e paciência, sem julgar, abertos a pedir e a acolher o perdão, para entendermos juntos como caminhar lado a lado na vida.

Organizado por Letizia Magri com a comissão da Palavra de Vida

1) Cf. Mt 16,18-19.

2) Jo 10,14.

3) LUBICH, Chiara. A força da fraqueza. Palavra de Vida, julho de 2000.

4) LUBICH, Chiara. Gratidão. Ideal e Luz. São Paulo: Brasiliense; Cidade Nova, 2003. p. 178. 

5) Cf. Jo 13,14.

Fonte: https://www.cidadenova.org.br/editorial/inspira/4056-senhor_tu_sabes_tudo_tu_sabes_que_te_amo

A vida e história de Papa Leão XIV: Robertum Franciscum Prevost

Papa Leão XIV (Vatican Media)

A vida e história de Papa Leão XIV: Robertum Franciscum Prevost

Vatican News

Primeiro papa agostiniano, é o segundo pontífice americano depois de Francisco, mas, ao contrário de Bergoglio, o estadunidense Robert Francis Prevost, de 69 anos, é originário do norte do continente. De fato, o novo bispo de Roma nasceu em 14 de setembro de 1955 em Chicago, Illinois, filho de Louis Marius Prevost, de ascendência francesa e italiana, e de Mildred Martínez, de ascendência espanhola. Ele tem dois irmãos, Louis Martín e John Joseph.

Passou a infância e a adolescência com a família e estudou primeiro no Seminário Menor dos Padres Agostinianos e depois na Villanova University, na Pensilvânia, onde se formou em 1977 em Matemática e estudou Filosofia. Em 1º de setembro do mesmo ano, ingressou no noviciado da Ordem de Santo Agostinho (OSA) em St. Louis, na província de Nossa Senhora do Bom Conselho, em Chicago, e fez sua primeira profissão em 2 de setembro de 1978. Em 29 de agosto de 1981, emitiu seus votos solenes.

Estudou na Catholic Theological Union em Chicago, graduando-se em Teologia. Aos 27 anos, foi enviado por seus superiores a Roma para estudar Direito Canônico na Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino (Angelicum). Na Urbe, foi ordenado sacerdote em 19 de junho de 1982, no Colégio Agostiniano de Santa Mônica, por Dom Jean Jadot, pró-presidente do Pontifício Conselho para os Não Cristãos, hoje Dicastério para o Diálogo Inter-religioso.

Prevost obteve a licenciatura em 1984 e, no ano seguinte, enquanto preparava sua tese de doutorado, foi enviado para a missão agostiniana em Chulucanas, Piura, Peru (1985-1986). Em 1987 defendeu sua tese de doutorado sobre "O papel do prior local da Ordem de Santo Agostinho" e foi nomeado Diretor de Vocações e Diretor de Missões da Província Agostiniana "Mãe do Bom Conselho" em Olympia Fields, Illinois (EUA).

No ano seguinte, ingressou na missão de Trujillo, também no Peru, como diretor do projeto de formação comum para os aspirantes agostinianos dos vicariatos de Chulucanas, Iquitos e Apurímac. Durante onze anos, ocupou os cargos de Prior da comunidade (1988-1992), Diretor de Formação (1988-1998) e formador dos professos (1992-1998) e na Arquidiocese de Trujillo foi Vigário Judicial (1989-1998) e Professor de Direito Canônico, Patrística e Moral no Seminário Maior “São Carlos e São Marcelo”. Ao mesmo tempo, também lhe foi confiado o cuidado pastoral de Nossa Senhora Mãe da Igreja, que mais tarde foi erigida como paróquia com o título de Santa Rita (1988-1999), na periferia pobre da cidade, e foi administrador paroquial de Nossa Senhora de Monserrat de 1992 a 1999.

Em 1999, foi eleito prior provincial da Província Agostiniana “Mãe do Bom Conselho” de Chicago, e dois anos e meio depois, no Capítulo Geral Ordinário da Ordem de Santo Agostinho, seus coirmãos o escolheram como prior geral, confirmando-o em 2007 para um segundo mandato.

Em outubro de 2013, retornou à sua província agostiniana, em Chicago, e foi diretor de formação no convento de Santo Agostinho, primeiro conselheiro e vigário provincial; cargos que ocupou até que o Papa Francisco o nomeou, em 3 de novembro de 2014, administrador apostólico da diocese peruana de Chiclayo, elevando-o à dignidade episcopal como bispo titular de Sufar. Ele entrou na diocese em 7 de novembro, na presença do Núncio Apostólico James Patrick Green, que o ordenou bispo pouco mais de um mês depois, em 12 de dezembro, festa de Nossa Senhora de Guadalupe, na Catedral de Santa Maria.

O seu lema episcopal é “In Illo uno unum”, palavras que Santo Agostinho pronunciou em um sermão, a Exposição sobre o Salmo 127, para explicar que “embora nós cristãos sejamos muitos, no único Cristo somos um”.

Em 26 de setembro de 2015, foi nomeado bispo de Chiclayo pelo pontífice argentino e, em março de 2018, foi eleito segundo vice-presidente da Conferência Episcopal Peruana, na qual também foi membro do Conselho Econômico e presidente da Comissão de Cultura e Educação.

Em 2019, por decisão de Francisco, foi incluído entre os membros da Congregação para o Clero em 13 de julho de 2019 e, no ano seguinte, entre os membros da Congregação para os Bispos (21 de novembro). Nesse meio tempo, em 15 de abril de 2020, recebe a nomeação pontifícia também como administrador apostólico da diocese peruana de Callao.

Em 30 de janeiro de 2023, o Papa o chamou a Roma como Prefeito do Dicastério para os Bispos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, promovendo-o a arcebispo. E no Consistório de 30 de setembro do mesmo ano, ele o criou e o tornou cardeal, atribuindo-lhe o diaconato de Santa Mônica. Prevost tomou posse em 28 de janeiro de 2024 e, como chefe do dicastério, participou das últimas viagens apostólicas do Papa Francisco e da primeira e segunda sessões da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, realizadas em Roma de 4 a 29 de outubro de 2023 e de 2 a 27 de outubro de 2024, respectivamente. Uma experiência em assembleias sinodais já adquirida no passado como Prior dos Agostinianos e representante da União dos Superiores Gerais (UGS).

Enquanto isso, em 4 de outubro de 2023, Francisco o incluiu entre os membros dos Dicastérios para a Evangelização, Seção para a Primeira Evangelização e as Novas Igrejas Particulares; para a Doutrina da Fé; para as Igrejas Orientais; para o Clero; para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica; para a Cultura e a Educação; para os Textos Legislativos; da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano.

Finalmente, em 6 de fevereiro deste ano, ele foi promovido à ordem dos bispos pelo Pontífice argentino, obtendo o título de Igreja Suburbicária de Albano.

Durante a última hospitalização de seu predecessor no hospital ‘Gemelli’, Prevost presidiu o rosário pela saúde de Francisco em 3 de março na Praça São Pedro.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Doutor da igreja, cantor, inventor do celibato: conheça todos os papas Leão da história

Papa Leão XIV acena para fiéis na Praça São Pedro — Foto: Reuters/Stoyan Nenov

Doutor da igreja, cantor, inventor do celibato: conheça todos os papas Leão da história

Escolha do nome papal de Robert Francis Prevost, o Leão XIV, pode dar pistas sobre o futuro de seu pontificado.

Por Daniel Médici, Ana Montoro, g1

11/05/2025

Ao ser escolhido para o cargo mais importante da Igreja Católica, o então cardeal Robert Prevost decidiu adotar o nome de Leão XIV.

A tradição de trocar de nome remete a Jesus Cristo, que, segundo o Novo Testamento, mudou o nome do pescador Simão para Pedro — os papas são considerados pela Igreja sucessores do apóstolo.

O nome escolhido também pode dar pistas daquilo que um novo papa almeja para seu pontificado. Jorge Bergoglio, por exemplo, adotou o nome de Francisco para remeter a um papado marcado pela simplicidade e que desse atenção aos pobres, em referência a São Francisco de Assis.

Ao contrário de Francisco, inédito até então, Leão é um dos nomes papais mais comuns da história. Neste sábado, o novo papa disse ter se inspirado em Leão XIII (1878-1903), que abordou a questão social no contexto da primeira revolução industrial.

Conheça, a seguir a história de todos os 13 papas que já lideraram os católicos antes do americano.

Leão I (440 - 461)

O primeiro Papa Leão I — Foto: Divulgação / Vatican News

Leão I foi o 45º papa da Igreja Católica e um dos mais celebrados, conhecido como Leão Magno. De origem na aristocracia romana da Toscana, ele é considerado um Doutor da Igreja por sua contribuição para a Cristologia, disciplina da teologia que debate as essências divina e humana de Jesus.

Ele assumiu o papado em 29 setembro de 440, iniciando um pontificado que seria marcante para a centralização do governo da Igreja Romana. O pontífice permaneceu no cargo por 21 anos.

Um dos episódios marcantes de seu pontificado foi o encontro com Átila, líder dos hunos, um dos mais famosos artífices das invasões bárbaras. O encontro ocorreu perto de Mântua, no ano de 452. Segundo a história, após a conversa, Átila teria desistido de invadir Roma.

Leão foi o responsável por escrever o 'Tomo de Leão', uma carta enviada por ele ao patriarca de Constantinopla, Flaviano. O documento explica como Cristo tem duas naturezas, uma humana e outra divina, que não podem ser dissociadas. Durante o Concílio de Calcedônia, em 451, o documento foi aceito como uma explicação doutrinária da pessoa de Cristo.

A carta defende que Cristo não era de natureza humana, mas sim "o Verbo feito carne", ou seja, viveu em um corpo que foi criado diretamente para esse propósito, e não um corpo verdadeiramente derivado do corpo de sua mãe.

Leão Magno foi contemporâneo de Santo Agostinho, inspiração da ordem agostiniana da qual Leão XIV faz parte.

Leão II (682-683)

Papa Leão II — Foto: Divulgação / Vatican News

O segundo papa Leão nasceu na Sicília, por volta de 610, e teve um pontificado breve durante o período conhecido como Papado Bizantino, no qual os papas estavam sujeitos à aprovação do imperador bizantino, que controlava de Constantinopla o Império Romano do Oriente.

São Leão II, como é conhecido pela Igreja, manteve boas relações com o então imperador Constantino IV, o que lhe rendeu uma ajuda para trazer o arcebispado de Ravena (uma importante cidade medieval, localizada na atual Itália) novamente para o controle de Roma.

No campo teológico, ele ratificou a condenação ao monotelitismo, uma doutrina que defendia que Cristo tinha uma única essência, considerada a partir de então uma heresia. Tido como um grande cantor, ele também deu contribuições importantes para a música gregoriana.

Leão III (795-816)

Papa Leão III — Foto: Divulgação / Vatican News

Também considerado santo, ele foi o responsável por coroar Carlos Magno, seu protetor, como imperador na antiga Basílica de São Pedro, em Roma. O ato é considerado fundador do Sacro Império Romano-Germânico e ajudou a consolidar a ideia de que só o papa poderia coroar reis.

O imperador bizantino, no entanto, considerava Carlos Magno um usurpador, e as tensões contribuíram para a deflagração do processo que culminou no Grande Cisma Oriente-Ocidente, a separação entre as igrejas Apostólica Romana e Ortodoxa.

Leão IV (847-855)

Papa Leão IV — Foto: Divulgação / Vatican News

São Leão IV é conhecido por reconstruir Roma e diversas igrejas dos saques dos árabes sarracenos, frequentes na época na península Itálica. Ele reforçou as fortificações da cidade, construindo as Muralhas Leoninas, mas também tomou iniciativas para proteger outras cidades que eram alvos frequentes dos assaltos, como Civitavecchia.

Ele também ganhou fama de ter mão de ferro contra abusos cometidos por figuras eclesiásticas poderosas, censurando o arcebispo de Reims e excomungando um cardeal de forma a manter a obediência do clero a Roma.

Leão V (903)

Papa Leão V — Foto: Divulgação / Vatican News

Pouco se sabe sobre a vida do pontífice que governou durante o período conhecido como "Século Obscuro" da Igreja Católica, no século 10, dominado por conflitos internos e pela submissão do clero à aristocracia romana. Leão V foi papa entre agosto e setembro, até ser deposto e encarcerado por Cristóvão, hoje considerado um antipapa. Ele provavelmente foi morto na prisão.

Leão VI (928-929)

Papa Leão VI — Foto: Divulgação / Vatican News

Outro papa do "Século Obscuro" e de pontificado breve, de apenas sete meses. Sabe-se que foi escolhido pela senadora Marozia para o cargo, então matriarca de uma poderosa família em Roma, que havia ordenado a deposição de seu antecessor, João X.

Leão VII (936-939)

Papa Leão VII — Foto: Divulgação / Vatican News

Provavelmente um monge beneditino, ele também sucedeu um papa João (o XI), também aprisionado. Conseguiu mediar uma trégua, com a ajuda do abade de Cluny, entre o duque de Roma e o rei da Itália, que promovia um cerco à cidade. Sabe-se também que ele proibiu que o arcebispo de Mainz de batizar judeus à força em sua diocese —ao mesmo tempo em que permitiu a expulsão de judeus que recusassem o batismo.

Leão VIII (963-965)

Papa Leão VIII — Foto: Divulgação / Vatican News

Vinha de uma família da nobreza romana e um raro caso de um leigo que foi promovido a papa, Leão VIII é uma figura controversa, já que seu período à frente da Igreja conflita com o de João XII e Bento V, que também reivindicavam o trono de Pedro.

Ele foi nomeado pelo imperador do Sacro Império Romano Otto I e considerado atualmente por alguns pesquisadores um antipapa nos primeiros anos de seu pontificado, e papa no restante dele.

Leão IX (1049-1054)

Papa Leão IX — Foto: Divulgação / Vatican News

Bruno de Egisheim, nascido na Alsácia (atual França) em 1002, tornou-se um dos papas medievais mais importantes ao combater a simonia (compra e venda de cargos eclesiásticos) e o casamento de membros do clero. Uma de suas primeiras ações, inclusive, foi instituir formalmente o celibato na Igreja.

Pela bandeira da moralidade e por viagens a diferentes pontos da Europa, ele ajudou a consolidar a figura do papa mais como líder espiritual e menos como um senhor feudal. Isso não o impediu de chefiar pessoalmente uma campanha militar contra os normandos no sul da Itália, da qual saiu derrotado. Foi mantido prisioneiro e morreu pouco após a libertação.

Durante seu papado, as relações de Roma com o patriarca de Constantinopla se deterioraram, precipitando o Grande Cisma Oriente-Ocidente.

Leão X (1513-1521)

Detalhe do retrato do papa Leão X, pintado por Rafael Sanzio (1518-1520) — Foto: Reprodução

O nome Leão só volta a surgir entre os papas depois de quase 500 anos. Giovanni de Médici era o segundo filho de Lorenzo o Grande e membro da família de Florença conhecida por patrocinar alguns dos maiores artistas da Renascença italiana.

Seu papado ajudou Roma a se tornar novamente um grande centro cultural. Os trabalhos da atual Basílica de São Pedro foram acelerados —e pintores, escultores e arquitetos foram atraídos para a cidade.

O custo das obras, bem como das guerras empreendidas pelos Estados Papais, secou os cofres da Igreja. A venda de indulgências (perdão para os pecados), autorizada por Júlio II, seu antecessor, seguiu a todo vapor. Leão X também se envolveu em escândalos e foi acusado de viver com muitos luxos e pouca moralidade para os padrões católicos.

Isso fomentou a ira de alguns fiéis, entre eles Martinho Lutero, excomungado por Leão X no último ano de vida do papa. O luteranismo não foi visto por seu papado como uma grave ameaça, mas provocaria o Grande Cisma do Ocidente alguns anos depois e o surgimento do protestantismo.

Leão XI (1605)

Papa Leão XI — Foto: Divulgação / UOL

Outro membro da família Medici, Leão XI teve um dos pontificados mais breves da história, de 1º a 27 de abril de 1605. Foi ordenado padre já depois dos 30, após a morte de sua mãe, que não queria o único filho homem no clero.

Sua vitória no conclave foi patrocinada pelo rei da França, e vista como um ato de desafio dos cardeais ao rei espanhol. Escolheu o nome em homenagem a seu tio, Leão X. Aos 69 anos, porém, estava fraco e sucumbiu a uma febre, num período em que não havia medicamentos.

Leão XII (1823-1829)

Retrato do papa Leão XII por Charles Picqué (1828) — Foto: Reprodução

O cardeal Annibale della Genga já tinha 63 anos, idade considerada avançada no século 19, quando tornou-se papa. Ele era um candidato da ala reacionária da Igreja e, acredita-se, o fato de parecer estar à beira da morte ajudou a convencer os cardeais liberais a votarem nele para encerrar um conclave que se arrastava por quase um mês.

Leão XII sofreu com problemas de saúde ao longo de todo o seu pontificado, que durou surpreendentes cinco anos e meio. Como chefe dos Estados Papais, ele tentou reorganizar as finanças da nação, sem sucesso.

Também tomou decisões autoritárias, como a proibição de judeus de terem posses. Reverteu muitas reformas liberais de seu antecessor, Pio VII, e condenou a maçonaria, por considerar pagãos seus rituais secretos. Fez avanços nas relações exteriores da Igreja. Em retrospecto, é considerado um papa impopular.

Papa Leão XIII (1878-1903)

Papa Leão XIII — Foto: Reprodução/Vaticano

Vincenzo Giocchino Pecci também se tornou papa com a idade avançada, mas viveu para se tornar o terceiro pontífice mais longevo da história.

Ele disse ter escolhido seu nome pela admiração que tinha por Leão XII, sobretudo nas áreas de educação e diplomacia. Ao contrário daquele, porém, a reputação de seu pontificado sobreviveu aos dias atuais, e Leão XIII pode ter sido a principal inspiração para o nome escolhido por Robert Prevost.

Pela primeira vez em séculos, o papa não era mais chefe de Estado, já que seus territórios haviam sido anexados pelo Reino da Itália em 1870. Leão XIII foi considerado hábil na diplomacia, fortalecendo laços com diversos países europeus, embora Igreja e Itália mantivessem mútua desconfiança. O pontífice seguiu a política de seu antecessor, Pio IX, de se autodeclarar encarcerado no Vaticano pela Coroa italiana.

Na teologia, Leão XIII buscou recuperar o pensamento do pensador medieval São Tomás de Aquino — e por tabela, de Santo Agostinho.

Na visão dos arquivos do Vaticano e historiadores, Leão XIII foi um papa inovador para sua época, buscando conciliar a tradição da Igreja com os desafios do mundo moderno, especialmente nas áreas social, filosófica e diplomática.

Foi ele que publicou a famosa encíclica Rerum Novarum (1891), que abordou a questão operária, os direitos dos trabalhadores e a justiça social. Este documento é considerado o marco inicial da Doutrina Social da Igreja.

Leão XIII defendeu o direito dos trabalhadores a um salário e a condições de vida digna, ao mesmo tempo em que buscou se distanciar do socialismo, defendendo a livre iniciativa e a propriedade privada.

Embora houvesse antecedentes, foi apenas com Leão XIII e a Rerum Novarum que a Igreja passou a se posicionar de forma sistematizada sobre os problemas sociais e econômicos

Curiosamente, ele se posicionou contra o americanismo, uma tendência do catolicismo praticado nos EUA vista como como excessivamente liberal, com concessões excessivas à cultura americana.

Papa Leão XIV (2025)

Papa Leão XIV celebra sua primeira missa no Vaticano (Vatican News)

https://youtu.be/hMoDyKW-mME

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/05/11/doutor-da-igreja-cantor-inventor-do-celibato-conheca-todos-os-papas-leao-da-historia.ghtml

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF