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quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Xavier, a mão sagrada que batizou mais de 700 mil pessoas

© IA Canva

Philip Kosloski - publicado em 19/12/21 - atualizado em 03/12/25

Através das mãos deste santo, muitas pessoas foram apresentadas ao Evangelho de Jesus.

Para os visitantes da Igreja de Gesù, a primeira igreja jesuíta de Roma, uma característica marcante é a capela dedicada a uma relíquia peculiar de São Francisco Xavier: sua mão. Para ser mais específico, é o antebraço direito e a mão direita.

Mas por que, em meio a tantas relíquias para exibir, os jesuítas escolheram a mão de São Francisco Xavier?

Depois de se juntar a Inácio de Loyola em sua nova ordem religiosa chamada Companhia de Jesus, Xavier foi encarregado de navegar para o leste. Ele saiu de Roma em 1540 e viajou para vários lugares da Ásia, como China e Japão. Aonde quer que fosse, Xavier recebia inúmeras almas, que nunca tinham ouvido falar de Jesus.

Sem conhecer todos os idiomas, Xavier pregava o Evangelho com a ajuda de intérpretes. Os milagres da cura também o acompanharam nas viagens para as aldeias e isso o tornou uma figura muito popular.

Ele estava sempre rodeado por multidões de almas que queriam ser curadas e salvas pelas águas do batismo. Os registros relatam que a mão de Xavier batizou mais de 700 mil almas. A frequência era tal que, de acordo com um relato que ele mais tarde deu, "às vezes, te tão cansado por administrar esse sacramento, era incapaz de mover o braço".

Depois que Xavier morreu em sua jornada missionária, os jesuítas levaram para Roma uma relíquia para a veneração dos fiéis. O superior geral na época escolheu o antebraço direito e a mão direita de Xavier, a mesma mão que batizou todos aqueles que foram até ele.

Embora possa parecer estranho guardar esse tipo de relíquia, essa é uma forma de lembrar como cada um de nós é um instrumento de Deus. Podemos não receber o chamado para sermos missionários na Ásia, batizando milhares de almas. Mas Deus ainda usa nossas mãos para levar seu amor a outras pessoas. Pode ser um toque suave ou um abraço sincero, não importa. O certo é que somos o instrumento de Deus e nossas mãos podem levar sua presença para os outros.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Basílica Sagrada Família, em Goiânia, realiza mostra internacional de presépios

O presépio napolitano da 5ª Mostra Internacional de Presépios, em Goiânia | Santuário Basílica Sagrada Família | ACI Digital.

Por Natalia Zimbrão*

3 de dez de 2025 às 15:27

O santuário basílica Sagrada Família, em Goiânia (GO), está realizando a 5ª Mostra Internacional de Presépios, com mais de 60 presépios provenientes de 15 países. Uma novidade deste ano é um presépio de 8m², com peças vindas de Nápoles, Itália.

Para o reitor do santuário basílica, padre Rodrigo de Castro, a mostra busca preservar a essência espiritual do Natal ao evidenciar como diferentes culturas retratam a Sagrada Família.

“A mostra nos ajuda a compreender que Cristo nasce em todos os ambientes”, disse, acrescentando que “cada cultura expressa, à sua maneira, a presença de Deus no meio de seu povo”.

A mostra tem presépios dos EUA, do Peru, da África e de outros lugares. As peças são produzidas com diferentes materiais como madeira, terracota, capim, tecido, algodão cru, louça, resina e até um presépio em forma de matrioska, tradicional brinquedo russo composto por bonecas encaixadas.

O presépio napolitano

Segundo o santuário, o destaque deste ano na mostra é o presépio principal, com 8 m², construído a partir de peças originais trazidas pelo padre Rodrigo de Castro direto de Nápoles, “uma das regiões mais tradicionais do mundo na criação de presépios”.

“Enquanto a tradição original de presépios busca seguir fielmente a descrição dos Evangelhos, retratando o nascimento de Jesus, os presépios napolitanos combinam elementos sagrados e profanos”, diz o santuário. “Surgidos no século XVIII, eles representam, além da Natividade, cenas cotidianas das aldeias da região de Nápoles, com personagens populares, trabalhadores, vendedores e ambientes que dialogam com a vida real do povo italiano”, acrescenta.

Outro diferencial do presépio napolitano são as vestimentas, pois as peças “são vestidas com roupas antigas, inteiramente de origem italiana — muitas delas peças litúrgicas reais, utilizadas por padres e preservadas em acervos históricos”.

“Essa autenticidade reforça a expressividade característica desse estilo, que se tornou referência mundial pela riqueza de detalhes e profundidade estética”, diz o santuário.

Toda a adaptação, ambientação e montagem do presépio napolitano foram feitas pelos artistas Luciene Vasconcelos e Adriano José.

A Mostra Internacional de Presépios ficará aberta até o dia 2 de fevereiro. A entrada é gratuita e a visitação pode ser feita todos os dias, 24 horas, pois o santuário basílica fica aberto direto.

*Natalia Zimbrão é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É jornalista da ACI Digital desde 2015. Tem experiência anterior em revista, rádio e jornalismo on-line.

Fonte: https://www.acidigital.com/

O Papa: pensava em me aposentar, mas em vez disso me rendi a Deus

Leão XIV no voo de regresso do Líbano para Roma (Vatican Media)

No voo de regresso do Líbano para Roma, Leão XIV encontrou-se com os jornalistas e falou do papel da Santa Sé que trabalha "nos bastidores" das negociações de paz, para que as partes deixem as armas. Em relação à Ucrânia, enfatizou o envolvimento da Europa e a importância do potencial papel da Itália. Respondeu a uma pergunta sobre a sua reação à eleição para o Conclave e sobre a sua espiritualidade: entregar a vida a Deus e deixar que Ele seja "o chefe".

Vatican News

"Antes de mais nada, quero agradecer a todos vocês que trabalharam tanto. Gostaria que transmitissem esta mensagem também aos outros jornalistas, quer na Turquia (Türkiye ) como no Líbano, que se empenharam em comunicar as importantes mensagens desta viagem. Todos vocês também merecem um forte aplauso por esta viagem." Com essas palavras, o Papa Leão XIV saudou os 81 jornalistas presentes no voo de retorno de Beirute para Roma e respondeu às perguntas de alguns deles, falando em inglês, italiano e espanhol.

A viagem, o Oriente Médio, a guerra na Ucrânia, a presença da Europa nas negociações de paz e a situação na Venezuela estiveram entre os temas abordados pelo Pontífice, que recebeu um presente de um correspondente libanês uma pintura feita à mão ao vivo na TV, nestes dias, retratando ele e os lugares simbólicos que visitou no País dos Cedros.

Joe Farchakh (LBC International): O senhor é um Papa americano que está guiando um processo de paz. Minha pergunta é se o senhor usará seus contatos com o presidente Donald Trump e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu; no avião, o senhor disse que o Vaticano é amigo de Israel. O senhor vai levantar a questão de como parar a agressão de Israel contra o Líbano? E é possível uma paz duradoura na região?

Em primeiro lugar, sim, acredito que uma paz duradoura é possível. Penso que, quando falamos de esperança, quando falamos de paz, quando olhamos para o futuro, o fazemos porque é possível que a paz chegue mais uma vez à região e ao seu país, o Líbano. De fato, já conversei com alguns dos líderes dos países que o senhor mencionou e pretendo continuar conversando, pessoalmente ou por meio da Santa Sé, porque temos relações diplomáticas com a maioria dos países da região, e certamente seria a nossa esperança continuar a fazer esse apelo à paz que mencionei no final da Missa de hoje.

Jornalista presenteia o Santo Padre com uma pintura   (@Vatican Media)

Imad Atrach (Sky News Arabia): Em seu último discurso, houve uma clara mensagem para as autoridades libanesas a negociar: negociar, dialogar, construir. O Vaticano fará algo de concreto nesse sentido? Ontem à noite, o senhor se reuniu com um representante xiita. Antes de sua viagem, o Hezbollah lhe enviou uma mensagem. Não sei se o senhor a recebeu, a leu. O que nos poderia dizer a respeito? Muito obrigado por visitar o Líbano, que foi um sonho para nós.

Um aspecto desta viagem que não foi o motivo principal, porque a viagem nasceu pensando nas questões ecumênicas, com o tema de Niceia, o encontro com os patriarcas católicos e ortodoxos e a busca pela unidade na Igreja. Mas, de fato, durante esta viagem, também tive encontros pessoais com representantes de diversos grupos que representam autoridades políticas, pessoas ou grupos envolvidos em conflitos internos ou mesmo internacionais na região. O nosso trabalho não é algo público que declaramos pelas ruas; é algo que fazemos nos bastidores. É algo que já fizemos e continuaremos a fazer para convencer as partes a abandonarem as armas, a violência, e buscarem juntos a mesa de diálogo. Buscar respostas e soluções que não sejam violentas, mas que possam ser mais eficazes.

(A mensagem do Hezbollah)

Sim, eu a vi. Evidentemente há da parte da Igreja a proposta que deixem as armas e que busquem o diálogo. Mas, além disso, prefiro não comentar neste momento.

Cindy Wooden (CNS): Santo Padre, o senhor disse há alguns meses que há muito o que aprender sendo Papa. Quando o senhor chegou em Harissa ontem, com uma calorosa acolhida, havia a expressão de alguém que diz "Uau!". Pode nos contar o que está aprendendo? Qual é a coisa mais difícil em aprender a ser Papa? E o senhor, depois, nunca nos disse nada sobre como se sentiu no Conclave quando ficou claro o que estava acontecendo. Pode nos dizer alguma coisa a sobre isso?

Bem, meu primeiro comentário é que, justamente há um ou dois anos, pensava em me aposentar um dia. Você obviamente recebeu esse presente, mas alguns de nós continuaremos trabalhando (uma brincadeira referente ao fato que sua colega irá se aposentar em dezembro, ndr.). Quanto ao Conclave, acredito absolutamente no sigilo do Conclave, embora saiba que houve entrevistas públicas nas quais algumas coisas foram reveladas. Eu disse a um jornalista, um dia antes de ser eleito, que havia me parado na rua, que estava indo almoçar com os agostinianos. E ela me perguntou: "O senhor se tornou um dos candidatos! O que pensa a respeito?" E eu simplesmente respondi: "Tudo está nas mãos de Deus." E acredito nisso profundamente. Um de vocês, que é um jornalista alemão aqui, me disse outro dia: indique-me um livro, além de Santo Agostinho, que possamos ler para entender quem é Prevost. Há muitos, mas um deles é um livro chamado "A Prática da Presença de Deus". É um livro muito simples, escrito há muitos anos por alguém que nem assina com o seu sobrenome, Irmão Laurence. Mas descreve um tipo de oração e espiritualidade onde simplesmente entregamos nossa vida ao Senhor e permitimos que Ele nos guie. Se querem saber algo sobre mim, sobre minha espiritualidade ao longo de muitos anos, em meio a grandes desafios, vivendo no Peru durante os anos do terrorismo, sendo chamado a servir em lugares em que jamais poderia ter pensado que seria chamado para servir. Eu confio em Deus e essa mensagem é algo que compartilho com todas as pessoas. Então, como isso aconteceu? Eu me rendi quando vi como as coisas estavam indo e disse que isso poderia se tornar realidade". Respirei fundo e disse: "Eis-me aqui Senhor, Tu és o chefe, Tu guias o caminho".

Não sei se disse "wow" ontem à tarde (em Harissa). No sentido de que meu rosto é muito expressivo, mas muitas vezes divertido com a forma como os jornalistas interpretam minhas expressões. É interessante, às vezes pego grandes ideias de vocês, porque pensam que conseguem fazer uma leitura de mim no pensamento ou no rosto. Nem sempre vocês têm razão. Eu estava no Jubileu dos Jovens; havia mais de um milhão de jovens lá. Ontem à noite, havia uma pequena multidão. É sempre maravilhoso para mim. Penso comigo mesmo: "Essas pessoas estão aqui porque querem ver o Papa", mas depois digo para mim: "Elas estão aqui porque querem ver Jesus Cristo", e querem ver um mensageiro de paz, especialmente neste caso. Portanto, somente sentir o entusiasmo delas e ouvir a reação a essa mensagem é impressionante. Só espero nunca me cansar de apreciar tudo o que esses jovens estão demonstrando.

Leão XIV responde a perguntas dos jornalistas durante o voo que o trouxe de Beirute   (@Vatican Media)

Gian Guido Vecchi (Corriere della Serra): São horas de grande tensão entre a OTAN e a Rússia. Fala-se em guerra híbrida, perspectivas de ataques cibernéticos e coisas do gênero. O senhor vê o risco de escalada, de um conflito travado com novos meios, como denunciado pelos líderes da OTAN? E, nesse clima, é possível haver negociação para uma paz justa sem a Europa, que tem sido sistematicamente excluída pela presidência estadunidense nos últimos meses?

Este é claramente um tema importante para a paz no mundo, mas a Santa Sé não participa diretamente porque não somos membros da OTAN nem de nenhum dos diálogos até agora. Embora tenhamos frequentemente pedido um cessar-fogo, o diálogo, e não a guerra. Uma guerra com muitos aspectos agora, incluindo o aumento das armas, toda a produção existente, os ataques cibernéticos e a energia. Com a chegada do inverno, há um problema sério ali. É evidente que, por um lado, o presidente dos Estados Unidos pensa que pode promover um plano de paz que gostaria de implementar, e que, pelo menos inicialmente, não inclui a Europa. Mas a presença da Europa é importante, e essa proposta inicial foi modificada devido ao que a Europa estava dizendo. Especificamente, penso que o papel da Itália pode ser muito importante. Cultural e historicamente, a Itália tem a capacidade de ser intermediária num conflito entre diferentes partes. Até mesmo a Ucrânia, a Rússia, os Estados Unidos... Nesse sentido, eu poderia sugerir que a Santa Sé incentive esse tipo de mediação e se busque juntos uma solução que possa realmente oferecer paz, uma paz justa, neste caso na Ucrânia.

Elisabetta Piqué (La Nación): A bandeira do Líbano tem a mesma cor da bandeira do Peru. É um sinal que o senhor fará uma viagem à América Latina no segundo semestre do próximo ano, junto com a Argentina e o Uruguai? Brincadeiras à parte, quais viagens o senhor está planejando para o ano que vem? E, falando em América Latina, há muita tensão por causa do que está acontecendo na Venezuela. O presidente Trump deu um ultimato a Maduro para que renuncie, para que deixe o poder, e ameaçou eliminá-lo com uma operação militar. O que o senhor acha disso?

Quanto a viagens, não há nada certo. Espero fazer uma viagem à África. Seria, possivelmente, a próxima viagem.

Onde?

África, África. Pessoalmente, espero ir à Argélia para visitar os locais de Santo Agostinho, mas também para poder continuar o diálogo, a construção de pontes entre o mundo cristão e o mundo muçulmano. No passado, em outra função, já tive a oportunidade de falar sobre esse tema. É interessante, a figura de Santo Agostinho. Ajuda muito como ponte, porque na Argélia ele é muito respeitado como filho da pátria. Esse é um. Depois, algum outro país, mas estamos trabalhando. Evidentemente, eu gostaria muito de visitar a América Latina, a Argentina e o Uruguai que estão esperando a visita do Papa. Acho que o Peru também me receberá e, se eu for ao Peru, em muitos países vizinhos também, mas o projeto ainda não está definido.

No que diz respeito à Venezuela, no âmbito da Conferência Episcopal e com o núncio, estamos procurando uma maneira de acalmar a situação, buscando acima de tudo o bem do povo, porque nessas situações quem sofre é o povo, não as autoridades. As vozes que vêm dos Estados Unidos mudam e, por isso, é preciso ver... Por um lado, parece que houve uma conversa telefônica entre os dois presidentes; por outro, existe esse perigo, essa possibilidade, de que haja uma ação, uma operação, incluindo a invasão do território venezuelano. Mais uma vez, acredito que é melhor buscar o diálogo nessa pressão, incluindo a pressão econômica, mas buscando outra forma para mudar, se é isso que os Estados Unidos decidirem fazer.

Santo Padre na conversa com os jornalistas   (@Vatican Media)

Mikail Corre (La Croix): Obrigado por esta viagem interessante. O senhor disse de continuar construindo pontes entre mundos diferentes. Gostaria de lhe perguntar: alguns católicos na Europa acreditam que o Islã seja uma ameaça à identidade cristã do Ocidente. Eles estão certos ou o que o senhor gostaria de lhes dizer?

Todas as conversas que tive nos últimos dias, tanto na Turquia quanto no Líbano, incluindo aquelas com vários muçulmanos, se concentraram em torno do tema da paz e do respeito por pessoas de diferentes religiões. Sei que nem sempre foi assim. Sei que muitas vezes há receios na Europa, mas na maioria das vezes eles são gerados por pessoas que são contra a imigração e que tentam impedir a entrada de pessoas que possam vir de outro país, outra religião ou outra raça. Nesse sentido, gostaria de dizer que todos precisamos trabalhar juntos. Um dos aspectos positivos desta viagem é que ela chamou a atenção do mundo para a possibilidade de que o diálogo e a amizade entre muçulmanos e cristãos é possível. Acho que uma das grandes lições que o Líbano pode ensinar ao mundo é justamente mostrar uma terra onde o Islã e o Cristianismo estão presentes e se respeitam, e onde existe a possibilidade de viverem juntos e serem amigos. As histórias e os testemunhos que ouvimos nos últimos dois dias são de pessoas que se ajudam reciprocamente. Cristãos e muçulmanos, por exemplo, tiveram suas aldeias destruídas e nos disseram que podemos estar juntos e trabalhar juntos. Penso que esta é uma lição importante a ser levada em consideração na Europa e na América do Norte. Talvez devemos ter um pouco menos de medo e procurar maneiras de promover um diálogo autêntico e o respeito.

Anna Giordano (Ard Radio): A Igreja no Líbano também é sustentada pela Igreja na Alemanha. Há, por exemplo, algumas agências de ajuda alemãs ativas no Líbano. Desse ponto de vista, é importante que a Igreja na Alemanha continue sendo uma Igreja forte. Como o senhor certamente sabe, existe um caminho sinodal, o "Synodaler Weg", um processo de mudança da Igreja na Alemanha, que está avançando. O senhor acha que esse processo pode ser uma forma de fortalecer a Igreja, ou é o contrário? E por quê?

O caminho sinodal não é o único na Alemanha; a Igreja inteira celebrou um sínodo e a sinodalidade nos últimos anos. Há grandes semelhanças, mas também algumas diferenças marcantes entre como o "Synodaler Weg" foi conduzido na Alemanha e como poderia continuar de forma melhor na Igreja universal. Por um lado, gostaria de dizer que há espaço para o respeito pela inculturação. O fato de que, em um lugar, a sinodalidade seja vivida de um certo modo e, em outro, de modo diferente, não significa que deva haver ruptura ou fratura. Penso que isso é realmente importante de recordar. Ao mesmo tempo, temo que muitos católicos na Alemanha acreditem que certos aspectos do caminho sinodal celebrados até agora no país não representem suas esperanças para a Igreja ou sua maneira de viver a Igreja.

Portanto, é necessário mais diálogo e escuta dentro da própria Alemanha, para que nenhuma voz seja excluída, para que a voz dos mais poderosos não silencie a voz daqueles que podem ser muito numerosos, mas que não têm um espaço para falar e ser ouvidos. De modo que suas próprias vozes e expressões de participação na Igreja sejam de fato escutadas.

Ao mesmo tempo, como tenho certeza de que sabem, o grupo de bispos alemães encontrou-se, nos últimos anos, com um grupo de cardeais da Cúria Romana. Também ali está em andamento um processo para tentar garantir que o Caminho Sinodal alemão não se desvie, por assim dizer, daquilo que deve ser considerado um caminho da Igreja universal. Estou certo de que isso continuará. Acredito que haverá alguns ajustes de ambas as partes na Alemanha, mas espero sinceramente que as coisas se resolvam de forma positiva.

Leão XIV com os jornalistas   (@Vatican Media)

Rita El-Mounayer (Sat-7 International): Somos quatro diferentes canais cristãos de transmissão no Oriente Médio e no Norte da África: dois em árabe, um em farsi e um em turco. Antes de tudo, gostaria de agradecê-lo por dedicar tempo ao povo libanês. Eu mesma sou filha da guerra e sei o quanto significa receber um abraço de Sua Santidade, um tapinha no ombro e ouvir que tudo ficará bem. O que me chamou a atenção foi o seu lema “In Illo Unum”. Esse lema fala de construir pontes entre as diferentes confissões cristãs, entre religiões e também entre vizinhos, algo que às vezes pode ser um pouco difícil. Do seu ponto de vista, que dom único a Igreja do Oriente Médio — com todas as suas lágrimas, feridas, desafios e sua história — pode oferecer à Igreja no Ocidente e ao mundo?

Gostaria de começar dizendo que hoje as pessoas cresceram em uma sociedade muito individualista. Os jovens — que passaram muito tempo (no computador) durante a pandemia de Covid e que frequentemente têm relações pessoais muito isoladas, porque se comunicam apenas através das telas do computador ou do smartphone — às vezes se perguntam: “Por que deveríamos querer ser um? Eu sou um indivíduo e não me interesso pelos outros”. E penso que aqui há uma mensagem muito importante a transmitir a todas as pessoas: a unidade, a amizade, as relações humanas, a comunhão são extremamente importantes e extremamente preciosas. Se não por outro motivo, pelo exemplo que você citou de alguém que viveu a guerra ou sofreu e está sofrendo, e o que pode significar para ele um abraço. Essa expressão muito humana, real e saudável de cuidado pessoal que pode curar o coração de outra pessoa. Ao nível pessoal, isso pode se tornar um nível comunitário que nos une e nos ajuda a compreender e respeitar uns aos outros, indo muito além do simples: “Você fica longe, eu fico aqui, você fica aí e não interagimos”. Significa, ao contrário, construir relações que enriqueçam todas as pessoas. Com essa mensagem, certamente, meu lema é graças a Cristo “in illo” é “em Cristo, que é um, somos todos um”. Mas isso não vale apenas para os cristãos. Na verdade, é um convite para todos nós e para os outros, dizendo que quanto mais conseguirmos promover a unidade autêntica e a compreensão, o respeito e as relações humanas de amizade e diálogo no mundo, maior será a possibilidade de deixarmos de lado as armas da guerra, de deixarmos de lado a desconfiança, o ódio, a animosidade que tantas vezes se desenvolveram, e de encontrarmos um modo de nos unir e promover a paz e a justiça autênticas em todo o mundo. Boa viagem a todos e muito obrigado a todos vocês.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Os católicos fazem um “jejum da Natividade” antes do Natal?

Mehes Daniel | Shutterstock

Philip Kosloski - Paulo Teixeira - publicado em 02/12/25

Os católicos orientais e a maioria dos cristãos ortodoxos celebram um "jejum da Natividade", observando certas regras de jejum em preparação para a festa do Natal.

Embora muitos estejam familiarizados com as regras de jejum durante o período penitencial da Quaresma, poucos sabem que, historicamente, o Advento também era um tempo de jejum antes da grande festa do Natal.

As tradições de jejum que antecedem o Natal sofreram muitas mudanças ao longo dos séculos, mas os católicos orientais e os cristãos ortodoxos continuam a seguir um conjunto de regras que lhes foram transmitidas.

Jejum do Natal

A partir do século VIII, os cristãos orientais intensificaram os preparativos para o Natal. Eles acreditavam firmemente na antiga máxima: "jejue antes de festejar", e seguiam o exemplo de Cristo, jejuando por 40 dias no deserto antes de iniciar seu ministério público.

Para se prepararem adequadamente para a gloriosa celebração do Natal em 25 de dezembro, eles jejuaram por 40 dias, começando em 15 de novembro e terminando na véspera de Natal. Ao contrário da observação atual da Quaresma no Ocidente (em que os domingos são isentos de jejum), o jejum oriental inclui os domingos. Também é chamado de "o rápido de Felipe" pois começa depois da Festa de São Felipe Apóstolo no calendário bizantino.

De um modo geral, eles evitam carne, laticínios, peixe, vinho e óleo durante esse período, embora as regras do jejum tendem a variar de acordo com cada igreja.

Quaresma de São Martinho

Curiosamente, os católicos romanos tinham um jejum semelhante que começava por volta da festa de São Martinho, em 11 de novembro. Era chamado de "Quaresma de São Martinho", pois era visto de forma similar à Quaresma.

No entanto, não se tratava de um jejum diário, mas apenas observado às segundas, quartas e sextas-feiras. Era um jejum rigoroso, semelhante ao da Sexta-feira Santa e da Quarta-feira de Cinzas.

Da mesma forma que os católicos eram antigamente orientados a se abster de carne durante toda a Quaresma, a mesma regra se aplicava no período que antecede o Natal.

Esse jejum na Igreja Católica Romana desapareceu gradualmente e, no século XX, o único tipo de jejum que permaneceu foi a abstinência de carne às sextas-feiras.

Os católicos romanos não têm obrigação de jejuar e abster-se de carne durante o Advento ou a partir do Dia de São Martinho, mas alguns católicos tentaram reviver essa tradição na esperança de preparar tanto o corpo quanto a alma para a celebração do nascimento de Cristo.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/12/02/os-catolicos-fazem-um-jejum-da-natividade-antes-do-natal/

Advento, o instante de Deus

Advento (Ponto SJ)

ADVENTO, O INSTANTE DE DEUS

02/12/2025

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

A Palavra foi pronunciada antes do próprio tempo. Ela pulsa no instante inaugural em que “no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por meio dele, e sem Ele nada do que existe veio a ser” (Jo 1,1-3). 

O silêncio compactado que precedeu o primeiro lampejo do universo era o Verbo, o Logos eterno, respirando no ventre do ainda não-tempo; e, quando a luz irrompeu, foi o eco visível daquela Palavra primordial que, como um poema originou o cosmos. Desde então, toda a realidade segue na mesma melodia. 

As forças da gravidade, eletromagnetismo, interações nucleares que sustentam a criação, são os modos discretos com que o Verbo mantém o mundo coeso. A gravidade que faz as estrelas se abraçarem na imensidão, é o gesto silencioso de sua fidelidade. O eletromagnetismo, que organiza o movimento dos átomos e permite que cada forma exista, é a ternura matemática de sua mão. 

A força nuclear forte, que resiste ao caos dentro dos núcleos, revela sua persistência, e a força nuclear fraca, que permite ao sol acender-se sem violência, é o suspiro de um Deus que brilha sem ferir. 

Esses movimentos, que parecem arbitrários, revelam-se profundamente proporcionados, pois o Logos escreve o real como quem segue a curva de uma espiral áurea. 

O Verbo, que sustentou galáxias, navega no interior das células, escrevendo no DNA o poema silencioso da vida com quatro letras que se repetem desde o princípio. Na ambiguidade quântica, onde partículas surgem e recuam em frações de mistério, há uma lembrança de que toda existência repousa na liberdade do Logos. 

Quando a vida se organiza em pétalas, nervuras, flocos, ciclones, turbilhões, ela invariavelmente segue a lógica da espiral áurea, como se a criação inteira obedecesse a um sopro antigo que ordena o caos com rigorosa delicadeza. 

Cada vibração da matéria, da onda de luz, do campo energético é ressonância dessa Palavra que dá forma e proporção. 

Não por acaso tantos cientistas descrevem o universo como música, pois o Verbo, que estava no princípio, é também a melodia que retine nos alicerces do real, e sua partitura parece seguir o ritmo secreto do mesmo princípio geométrico com que Deus moldou o mundo.  

O poeta vê no céu estrelado uma frase interrompida; o místico percebe no silêncio uma sintaxe secreta; a fé reconhece que o mundo inteiro é uma metáfora sustentada por uma única Palavra. A fé é a gramática invisível que une o cósmico ao íntimo, o infinito ao cotidiano. E, como toda arte verdadeira, ela percebe que o belo não é um capricho, é proporção. 

É aquele equilíbrio misterioso que faz com que o todo seja maior do que a soma das partes, como acontece na proporção áurea, onde cada segmento guarda relação viva com o todo. Assim também Deus abarca o grande e o pequeno, o eterno e o breve, o universal e o pessoal.  

Advento é o tempo em que essa harmonia se manifesta com nitidez. É quando o céu e a terra respiram juntos, quando a poesia se curva diante do mistério e a fé se ergue com a leveza de quem espera o que já pressente. 

O Logos, que ordena galáxias, também sustenta corações, pois a alma foi moldada segundo uma razão áurea interior, uma harmonia que permite suportar o peso da vida sem perder a leveza da fé.  

E então, no ápice dessa linguagem que une estrelas e flores, o Verbo se faz carne e o Autor entra na própria narrativa. O Logos, que estava com Deus desde o princípio e por quem tudo foi feito, escolhe viver no tempo.  

Ele, que arquitetou nebulosas em espirais grandiosas, agora se enrosca na espiral minúscula do ventre de Maria, realizando o gesto mais audacioso de toda a história.  

A Encarnação é a versão mais radical da proporção áurea, onde o infinito e o finito se relacionam de modo perfeito, sem ruptura, sem violência, sem perda. Aquele que moldou o mundo segundo a harmonia repousa no ritmo deste próprio mundo. 

O Advento é o instante de Deus. Um instante que, momentos antes dispersos nas estrelas, nos átomos e nos profetas, condensa-se num único rosto.  

A música do cosmos encontra sua melodia. A lógica do universo a sua gramática. Toda a beleza matemática encontra sua figura.  

O logos que ordenou o ser habita entre nós, e a vastidão do universo se recolhe na fragilidade de Belém. A Palavra eterna, ainda silenciosa na manjedoura, diz mais do que todas as frases pronunciadas desde o início do mundo. 

Assim, da primeira expansão de luz ao último suspiro de esperança, o universo inteiro se inclina em direção ao mesmo sentido e a criação insinua que o Verbo que estava no princípio é o mesmo, e sua Palavra atravessa as eras para sussurrar ao mundo que ainda vale a pena esperar, pois Ele vem!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Como uma ilha remota na Indonésia forma centenas de padres para o mundo

Seminaristas no Seminário Maior São Paulo, na ilha indonésia de Flores | Seminário Maior São Paulo, Flores, Indonésia

Por Bryan Lawrence Gonsalves

1 de dez de 2025 às 12:32

Cerca de 800 km a leste de Bali fica a ilha de Flores, um centro vocacional que fornece seminaristas não só para a Indonésia, mas também para comunidades católicas em todo o mundo. O catolicismo chegou lá no século XVI, quando comerciantes portugueses de especiarias levaram missionários para a ilha montanhosa e acidentada. Atualmente, a fé está profundamente enraizada e mais de 80% dos 2 milhões de habitantes da ilha são católicos.

Flores abriga vários seminários, a maioria concentrada em torno de Maumere, na costa norte da ilha. Congregações religiosas, incluindo a Sociedade do Verbo Divino (SVD), os Padres Somascos, os Rogacionistas, os Vocacionistas e os Carmelitas, têm seminários lá, criando uma densa rede de formação vocacional raramente encontrada em outros lugares da Ásia.

Natural de Flores, o arcebispo de Ende, Indonésia, dom Paulus Budi Kleden, SVD, enfatizou a importância da ilha não apenas para a Igreja indonésia, mas também para dioceses e congregações religiosas em todo o mundo.

“Muitos dos ex-alunos desses seminários estão trabalhando fora do país”, disse, destacando a contribuição da ilha para o clero global. Um próspero sistema de seminários menores também alimenta esse fluxo, que atualmente conta com 650 alunos matriculados no ensino fundamental e médio.

“Depois que os alunos concluem a escola, eles podem optar por dioceses ou diferentes congregações”, disse Kleden. “Não limitamos suas escolhas.”

Uma instituição notável em Flores é o Seminário Maior São Paulo, situado no topo da colina de Ledalero e fundado em 1937 pelos missionários do Verbo Divino. Começou com noviços SVD, mas logo acolheu jovens locais chamados ao sacerdócio, bem como estudantes de outras ordens religiosas. O seminário já formou quase 1,5 mil padres missionários SVD, com cerca de 500 servindo em mais de 70 países em todo o mundo.

Seminaristas do Seminário Maior São Paulo, na ilha de Flores, Indonésia, se unem em uma atividade noturna em grupo. Seminário Maior São Paulo

Em Ledalero, os seminaristas estudam Filosofia por quatro anos, seguidos por dois anos de Teologia, e completam um a dois anos de serviço pastoral antes da ordenação. Aqueles que discernem que o sacerdócio não é sua vocação podem deixar o programa a qualquer momento e obter um diploma de bacharelado na vizinha Escola Católica de Filosofia de Ledalero.

Segundo o padre Sefrianus Juhani, SVD, professor do Seminário Maior São Paulo, as vocações religiosas continuam “bastante dinâmicas”. Ele disse que o número anual de admissões depois do noviciado quase nunca cai abaixo de 50, o que vê como prova de que o espírito vocacional ainda está muito vivo na Indonésia, apesar dos desafios culturais e sociais.

A quantidade, porém, nunca é a prioridade do seminário. Juhani enfatizou que a formação em Ledalero visa formar homens emocionalmente maduros, disciplinados e espiritualmente fundamentados — padres honestos e apaixonados, prontos para servir, não para buscar fama ou status social. O caminho é longo e exigente, admitiu, “mas o objetivo nunca muda”.

Juhani apontou o mundo digital como um grande desafio para os seminaristas. “Nossos seminaristas vivem em um ambiente de informação acelerado”, disse. “Muitas vezes, esse ambiente propaga desinformação, notícias falsas e uma mentalidade míope”. Ele acredita que tais influências tornam mais difícil para os jovens cultivarem o silêncio e a reflexão, essenciais para o crescimento espiritual.

Para proteger esse espaço interior, o seminário impõe limites rígidos ao uso de aparelhos eletrônicos, com Wi-Fi disponível apenas durante certos horários — uma política criada para ensinar autorregulação e foco espiritual. “Alguns tentam burlar as regras”, admitiu Juhani, “mas vemos isso como parte da formação de caráter e da responsabilidade pessoal deles”.

As finanças representam outro desafio. Com mais de 320 seminaristas, os recursos são frequentemente escassos. Os padres e irmãos contribuem com tudo o que ganham, desde o ensino até pequenos projetos agrícolas, enquanto as famílias apoiam o seminário da maneira que podem.

Mesmo assim, os recursos raramente atendem às necessidades. Embora os seminaristas recebam uma bolsa mensal, eles ainda precisam administrar suas próprias finanças e, se acham que precisam de mais, trabalham nos campos para conseguir. Para desenvolver a autossuficiência econômica, a comunidade cultiva suas próprias hortas e cria porcos e galinhas para alimentação.

Os seminaristas vêm de uma ampla variedade de origens familiares. “Alguns vêm de famílias abastadas, outros de famílias humildes”, disse Juhani. Alguns cresceram como filhos únicos, outros entre muitos irmãos.

Essa diversidade, disse, enriquece ativamente a formação sacerdotal. Viver e estudar juntos ensina os seminaristas a construírem uma “irmandade intercultural, interlinguística e interpessoal”, uma solidariedade que se torna central para sua identidade sacerdotal.

Um seminarista realiza atividades pastorais em uma escola local na ilha de Flores, Indonésia. Seminário Maior São Paulo

A vida cotidiana em Ledalero segue um ritmo disciplinado de oração, estudo e trabalho. As manhãs começam com meditação e missa, antes de passar para palestras, trabalhos escritos e trabalho manual que incutem “responsabilidade, trabalho em equipe e humildade”. Os seminaristas preparam suas próprias refeições e passam as noites participando do coro, oficinas de redação e clubes culturais, desenvolvendo a confiança, a criatividade e as habilidades sociais essenciais para o futuro trabalho pastoral.

Nos fins de semana, os seminaristas vão a uma comunidade mais ampla — orientando jovens, hospedando-se com famílias da aldeia, visitando prisioneiros e pacientes que vivem com HIV.

A formação deles não se limita às salas de aula. Quando o Monte Lewotobi entrou em erupção em julho e novamente em outubro, os alunos de Ledalero estavam no local, ajudando nos esforços de evacuação e socorro. Esses encontros, disse Juhani, têm como objetivo cultivar um espírito de serviço e solidariedade, colocando os seminaristas junto com as pessoas que eles esperam servir nos próximos anos.

Seminaristas ajudam vítimas da erupção do Monte Lewotobi na ilha de Flores em julho de 2025. Seminário Maior São Paulo

“Ledalero não é apenas um lugar para aprender Teologia, mas uma escola de vida”, disse Juhani. A vida comunitária simples, fraterna e curiosa tornou Ledalero um centro de formação vivo e pulsante na Indonésia.

Todos os anos, novos jovens chegam com histórias diferentes, sonhos diferentes e o mesmo desejo de servir a algo maior do que eles próprios. Nas suas orações matinais, nos seus longos dias de estudo e nas suas refeições partilhadas, cozinhadas em fogões simples, eles levam adiante uma vocação que se recusa a desaparecer.

*Bryan Lawrence Gonsalves é um apologista e ensaísta nascido nos Emirados Árabes Unidos, que atualmente vive na Lituânia. Seu trabalho se concentra na doutrina social católica, teologia, dignidade humana e questões sociais contemporâneas.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/65713/como-uma-ilha-remota-na-indonesia-forma-centenas-de-padres-para-o-mundo

VATICANO: A Igreja, um sinal de esperança e paz

Cardeal Crescenzio Sepe | 30Giorni.

VATICANO

Arquivo 30Dias nº 03 - 2002

PROPAGANDA FIDE. Um artigo do Cardeal Prefeito

A Igreja, um sinal de esperança e paz

"A missão também se cumpre desta forma. A paz, para os cristãos, não é apenas um sinal, mas uma consequência viva da Proclamação." Algumas reflexões do Cardeal Crescenzio Sepe após suas viagens à África e à Ásia, as primeiras à frente da Congregação para a Evangelização dos Povos.

por Cardeal Crescenzio Sepe

A Missão na África

Quando falamos da África, a primeira palavra, o primeiro sentimento que surge espontaneamente é o de esperança: quantas vezes, diante da natureza dramática de diversas situações, mesmo dentro de nossas comunidades eclesiais, a desconfiança se instalou, a resignação prevaleceu. Hoje, nenhum problema desapareceu. Mas a esperança não só sobrevive, como vive, e vive uma vida nova e mais intensa, com mais razões a seu favor. Podemos ver isso como um teste decisivo para a atividade e a presença da Igreja na África.

Pois se a esperança aumenta, significa que a Igreja está viva e atuante. Ela cumpre seu mandato missionário e responde ao chamado que o Papa reiterou na Novo millennio ineunte : "Tenho repetido várias vezes nos últimos anos o apelo a uma nova evangelização. Reitero-o agora, sobretudo para enfatizar que devemos reacender em nós o ímpeto de nossas origens, deixando-nos imbuir do ardor da pregação apostólica que se seguiu ao Pentecostes. Devemos reviver em nós o sentimento ardente de Paulo, que exclamou: 'Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!' ( 1 Cor 9,16).

Em vez de monitorar a situação de tempos em tempos, creio que é importante sempre partir – ou recomeçar – dessas necessidades. No campo missionário, as situações consolidadas não podem permanecer: há sempre algo a esperar, mesmo quando os 'resultados' parecem satisfatórios, e há sempre algo a alimentar a esperança, mesmo diante de tragédias iminentes.

O desenvolvimento da mídia de massa 'missionária' na África experimentou um desenvolvimento verdadeiramente significativo no campo da mídia nos últimos dez anos. Sessenta novas emissoras surgiram, graças também à liberalização das frequências, enquanto duas novas estações de televisão católicas estão sendo construídas: uma na arquidiocese de Kinshasa, na República Democrática do Congo, e a outra em Lusaka, na Zâmbia. Esses centros são financiados por diversas agências católicas e, em particular, pela Missio-Aachen, e o Comitê de Intervenções Caritativas da Conferência Episcopal Italiana permitem que o Evangelho chegue a todos os lugares: escritórios, lares e até pequenas aldeias. Cabe acrescentar que, nesse campo, há um aumento constante no número de estudantes enviados ao exterior para formação em mídia. Ao retornarem aos seus países de origem, tornam-se, por sua vez, educadores na área. Mas, ao lado do crescimento da mídia tradicional, o desenvolvimento de novas tecnologias não deve ser negligenciado. 

A internet já é uma realidade em muitos países africanos e, especialmente entre os jovens, está se tornando um meio de comunicação cada vez mais importante. Os sites católicos já são numerosos. Gostaria de acrescentar, porém, que muitos projetos ainda estão em andamento, como a colaboração, viabilizada por iniciativa do nosso Dicastério, entre a Igreja Francesa e algumas Igrejas da África Ocidental. Recentemente, tive a oportunidade de falar sobre esses projetos aos bispos do Cerao (Conferência Episcopal Regional da África Ocidental Francófona) durante minha viagem a Abidjan, na Costa do Marfim.

Diálogo com o Islã na África após o 11 de setembro

O desenvolvimento da mídia também faz parte da busca por um diálogo cada vez mais intenso e eficaz com outras religiões, especialmente com o Islã, na África. Os eventos de 11 de setembro, com sua brutalidade e a ameaça real que representaram e continuam a representar para a paz mundial, só podem tornar ainda mais urgente a busca e o aprofundamento de valores compartilhados capazes de mostrar a todos o caminho para a coexistência pacífica e a rejeição de qualquer forma de violência, a começar pelo terrorismo.

As relações entre cristãos e muçulmanos na África — ainda mais após o 11 de setembro — representam também um marco no encontro realizado no início do ano em Assis.

Um jovem estuda catecismo na paróquia de São José, em Ngagara, na missão de Bujumbura, no Burundi | 30Giorni.

Situação da Igreja na Índia e no Sri Lanka

Levando em conta as vastas diferenças de realidade, cultura, tradições e até mesmo a diversidade de perspectivas, posso responder como fiz na África: o caminho da Igreja é sempre a esperança trazida e concretizada por Cristo e, portanto, também aqui, a situação nunca pode ser estável e deve ser vista como um compromisso em andamento . 

Um compromisso, convém acrescentar, particularmente delicado e difícil porque sabemos bem que, ao longo desse caminho, os cristãos ainda podem ser chamados a provar que são perseguidos. Isso aconteceu com a Igreja Católica, mas não só. Irmãos e irmãs protestantes, membros de outras denominações cristãs, também caíram em um ecumenismo fortalecido e unido pelo derramamento de sangue .

Quando se olha para o Extremo Oriente, os desafios que a Igreja é chamada a enfrentar são vastos e múltiplos. Existem situações extremas, mas o terreno fértil para a atuação, mesmo onde conflitos e tensões parecem prevalecer, é propício, inclusive na esfera social. A Igreja é chamada a ser um sinal de esperança e paz em todos os cantos da Terra.
A missão também se cumpre desta forma. A paz, para os cristãos, não é apenas um sinal, mas uma consequência viva da Proclamação. Os ecos da

Carta do Papa sobre Matteo Ricci foram vastos e significativos. Refiro-me aos da China, mas, neste caso, devemos avaliar o significado global que a carta do Papa teve para toda a realidade missionária. A China sempre nos coloca diante da prioridade permanente da missão, que é a Proclamação, como afirma o Santo Padre na Redemptoris Missio : "A Igreja não pode se esquivar do mandato explícito de Cristo; não pode privar os homens da Boa Nova".

Este é o caminho que devemos seguir, mesmo sabendo que a tarefa que temos pela frente é particularmente exigente e, eu diria, audaciosa. Mas no caminho da missão, não há atalhos, nenhum objetivo deve ser considerado inatingível. O caminho indicado por Matteo Ricci continua válido e relevante. É, acima de tudo, o caminho da Providência, o caminho que abre todas as portas. Ontem como hoje. 

Cardeal Crescenzio Sepe

Fonte: https://www.30giorni.it/

EDITORIAL: A esperança para o Líbano e para o mundo

Papa Leão XIV em visita ao Líbano (Vatican Media)

A esperança para o Líbano e para o mundo.

Andrea Tornielli

A convivência possível entre quem professa diferentes credos e uma fraternidade que ultrapassa as barreiras étnicas e as divisões ideológicas: é isso que o martirizado Líbano, “País mensagem”, continua a indicar ao mundo como possibilidade concreta e como caminho para a paz. A esse Líbano, e à sua esperança testemunhada nos jovens que não se rendem à guerra e ao ódio, o Papa Leão indicou o caminho para construir o futuro. Quando tomou a palavra, diante de milhares de jovens reunidos na sede do Patriarcado de Antioquia dos Maronitas, no final de um intenso dia de encontros, o Sucessor de Pedro lhes disse: “vocês têm esperança! Vocês têm tempo! Vocês têm mais tempo para sonhar, planejar e fazer o bem. Vocês são o presente e, nas suas mãos, já está se construindo o futuro! Vocês têm o entusiasmo para mudar o curso da história! A verdadeira resistência ao mal não é o mal, mas o amor, o amor capaz de curar as próprias feridas, enquanto se curam as dos outros”.

Desse amor gratuito, capaz de curar as feridas dos outros porque nas feridas dos outros vemos as nossas feridas e, sobretudo, porque reconhecemos em quem sofre o rosto de Deus, alguns dos presentes tinham falado pouco antes em seus comoventes testemunhos. Como naquele de Elie, que depois de tantos sacrifícios para economizar e poder estudar viu seus projetos desaparecerem devido ao colapso da economia do país, que lhe fez perder tudo. No entanto, decidiu não emigrar: “como eu poderia partir enquanto meu país sofre?”.

Como o comovente testemunho de Joelle, que em um encontro de oração em Taizé encontrou uma jovem da sua idade, Asil, libanesa como ela, mas de fé muçulmana, que vivia no sul do Líbano. Quando a aldeia de Asil foi bombardeada por ataques israelenses, ela recorreu a Joelle porque sua família não sabia para onde ir. Joelle e sua mãe os acolheram: “a diferença de religião nunca foi um obstáculo... Vivemos uma profunda harmonia... Compreendi uma verdade essencial: Deus não habita apenas entre as paredes de uma igreja ou de uma mesquita. Deus se manifesta quando corações diferentes se encontram e se amam como irmãos”. Depois dela, Roukaya, a mãe de Asil, tomou a palavra: “a mãe de Joelle abriu-me a porta de sua casa e me disse: esta é a sua casa. Não me perguntou quem eu era, de onde vinha, nem em que acreditava... Compreendi que a religião não se diz: se vive, num amor que ultrapassa todas as fronteiras”.

O que tornou tudo isso possível? O que tornou possível o que o Líbano foi e quer continuar a ser? O Papa Leão indicou um fundamento que “não pode ser uma ideia, um contrato ou um princípio moral”. O verdadeiro princípio da vida nova e reconciliada “é a esperança que vem do alto: é Cristo! Ele morreu e ressuscitou para a salvação de todos. Ele é Aquele que vive, o fundamento da nossa confiança; Ele é a testemunha da misericórdia que redime o mundo de todo o mal”.

Esta primeira viagem de Leão XIV, que termina hoje, terça-feira, 2 de dezembro, com o regresso a Roma, faz compreender o significado das palavras pronunciadas no dia seguinte à eleição, quando o novo Bispo de Roma disse que quem quer que exerça um ministério de autoridade na Igreja deve “desaparecer para que Cristo permaneça”. Palavras aplicáveis a quem quer que anuncie o Evangelho. Aos líderes das outras confissões cristãs e aos líderes muçulmanos das diferentes tradições que compõem o mosaico religioso libanês, o Papa lembrou que esta terra foi testemunha de alguns episódios da vida pública de Jesus e, em particular, citou o da mulher cananeia e sua fé ao pedir a cura de sua filha: “esta terra significa mais do que um simples lugar de encontro entre Jesus e uma mãe implorante: torna-se um lugar onde a humildade, a confiança e a perseverança superam todas as barreiras e encontram o amor infinito de Deus, que abraça cada coração humano”.

Desaparecer para que Cristo permaneça não significa, então, refugiar-se no intimismo, construir comunidades fechadas de “perfeitos”, nem perseguir sonhos de poder e grandeza, confiando nos números e esquecendo a lógica de Deus que se manifesta na pequenez. Desaparecer para que Cristo permaneça significa tornar-se, apesar da nossa inadequação, um instrumento daquele amor infinito de Deus que abraça todos os corações humanos, sem distinções, inclinando-se sobre os últimos, os oprimidos, os sofredores. Como testemunharam os jovens libaneses diante do Sucessor de Pedro, que veio para encorajá-los.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Esses são os 6 tipos de pão mais saudáveis para comprar, de acordo com nutricionistas

Veja o que considerar na hora de comprar um pão verdadeiramente saudável (Créditos: Shutterstock)

Esses são os 6 tipos de pão mais saudáveis para comprar, de acordo com nutricionistas

Publicado em 29/11/2025 às 17:01

Por Adriana Douglas

Antes de comprar um pão no mercado, especialistas recomendam ler o rótulo para garantir que o produto seja realmente saudável

Não é de hoje que a prateleira do supermercado está cheia de pães que prometem ser nutritivos e cheios de benefícios para a saúde. Mas a verdade é que muitos deles escondem excesso de sódio, açúcar e aditivos que passam longe da proposta saudável.

Por isso, antes de confiar em frases chamativas na embalagem, nutricionistas recomendam olhar para onde realmente importa: a lista de ingredientes e a tabela nutricional do produto. Só que, diante dessas informações, o que é preciso considerar para saber se o pão é realmente bom ou não?

Afinal, como saber se um pão é saudável?

Na verdade, você precisa saber que não existe uma definição oficial do que seria um “pão saudável”. Para especialistas, esse conceito varia de acordo com as necessidades de cada pessoa. Ainda assim, algumas regras gerais ajudam a fazer escolhas melhores e a primeira delas é simples: prefira pães feitos com grãos integrais.

Em geral, os pães integrais oferecem um “pacote” de nutrientes importantes, incluindo minerais como zinco, manganês, ferro e selênio, além de vitaminas. Eles também costumam ter mais fibras e proteínas, o que prolonga a sensação de saciedade.

Outras verificações essenciais envolvem ainda o teor de sódio e a quantidade de açúcar: quanto menos, melhor. De acordo com especialistas, a recomendação é buscar opções com até 2 a 3 gramas de açúcar por fatia e evitar rótulos com sódio muito elevado.

E para quem tem restrições, como intolerância ao glúten ou doença celíaca, a escolha do pão certo deve ser ainda mais estratégica – sempre optando por versões realmente livres de glúten.
Depois de testar mais de 150 tipos de pães, nutricionistas destacaram seis categorias que, de maneira geral, representam escolhas mais equilibradas no dia a dia. A lista engloba tanto opções clássicas quanto alternativas mais diferentonas. A seguir, veja quais são os pães considerados mais saudáveis do mercado:

1. Pão integral tradicional

Feito com farinha de grão integral, ele reúne vitaminas, minerais e fibras que ajudam na digestão e mantêm a saciedade por mais tempo. Mas aqui vale um alerta: o pão só é integral de verdade quando o primeiro ingrediente é classificado como integral (por exemplo, farinha de trigo integral, centeio integral, aveia integral).

2. Pão artesanal

Com fórmula simples, o pão artesanal tende a ter uma textura mais rústica, sabor mais intenso e uma boa quantidade de fibras. É uma opção mais “limpa” em comparação aos pães ultraprocessados e, geralmente, preparada no próprio estabelecimento.

3. Pão de grãos germinados

Segundo nutricionistas, os pães feitos com grãos germinados costumam ter mais proteínas e fibras do que os tradicionais. A leve doçura natural da massa também combina bem com diferentes recheios.

4. Pão integral com uvas-passas

É uma boa pedida para quem gosta de um toque adocicado sem exageros. Quando tostado, vira um café da manhã rápido e especial. Porém, não é um pão tão fácil de ser encontrado em supermercados – normalmente, é mais comum em padarias artesanais.

5. Pão de centeio

Rico em proteínas e com sabor marcante, o pão de centeio é perfeito para sanduíches mais robustos. O tradicional aroma de sementes de cominho acrescenta um toque levemente amendoado e aromático à massa. É conhecido por seu alto teor de fibras e cor escura.

6. Pão integral com baixo teor de sódio

O pão pode ser uma fonte inesperada de sódio e, quando consumido em excesso, esse mineral está ligado à hipertensão e outros problemas. Portanto, versões integrais com menos sal equilibram melhor nutrição e sabor.

No fim, o pão “mais saudável” é aquele que se encaixa no seu estilo de vida, nas suas preferências e no que você realmente vai consumir no dia a dia. A boa notícia é que existe um tipo ideal para cada rotina.

Leão XIV: Líbano, aqui a paz é um desejo e uma vocação

Papa Leão XIV - Encontro com as Autoridades (Vatican Media)

Em seu discurso às autoridades libanesas, o Papa ressaltou que "o compromisso e o amor pela paz não conhecem o medo diante das aparentes derrotas, nem se deixam abater pelas desilusões, mas sabem olhar para o futuro, acolhendo e abraçando todas as realidades com esperança". "A paz é saber viver juntos, em comunhão, como pessoas reconciliadas", disse Leão XIV, sublinhando "o papel indispensável das mulheres no árduo e paciente esforço de preservar e construir a paz".

https://youtu.be/IgXYtoW77Bc

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Leão XIV iniciou, neste domingo (30/11), a segunda etapa de sua primeira viagem apostólica internacional que o leva ao Líbano.

O Pontífice chegou a Beirute onde encontrou-se com as autoridades, os representantes da sociedade civil e o Corpo diplomático, no Palácio Presidencial. O Papa iniciou o seu discurso com as seguintes palavras:

“É uma grande alegria encontrar-vos e visitar esta terra onde “paz” é muito mais do que uma palavra: aqui a paz é um desejo e uma vocação, é um dom e um canteiro sempre aberto.”

O Papa Leão XIV durante a saudação do presidente do Líbano, Joseph Aoun   (@Vatican Media)

A obra da paz é um contínuo recomeçar

Recordando as palavras de Jesus, «Felizes os que promovem a paz», o Santo Padre refletiu sobre o que significa ser promotor de paz "em circunstâncias muito complexas, conflituosas e incertas". Ressaltou uma qualidade que distingue os libaneses: "Sois um povo que não sucumbe e que, diante das provações, sabe sempre renascer com coragem".

“A vossa resiliência é uma característica imprescindível dos autênticos promotores da paz: realmente, a obra da paz é um contínuo recomeçar. O compromisso e o amor pela paz não conhecem o medo diante das aparentes derrotas, nem se deixam abater pelas desilusões, mas sabem olhar para o futuro, acolhendo e abraçando todas as realidades com esperança. É preciso tenacidade para construir a paz; é preciso perseverança para cuidar e fazer a vida crescer.”

O Papa Leão durante o seu discurso às autoridades libanesas   (@Vatican Media)

Uma sociedade civil vivaz, bem formada, rica em jovens

Portanto, falar a "língua da esperança", aquela que sempre permitiu os libaneses de recomeçar, num mundo em que "uma espécie de sentimento de impotência e pessimismo parece ter levado a melhor: as pessoas parecem já nem sequer conseguir perguntar-se o que podem fazer para mudar o rumo da história".

“Sofrestes muito as consequências de uma economia que mata, da instabilidade global – que também no Levante tem repercussões devastadoras –, bem como da radicalização das identidades e dos conflitos; mas sempre quisestes e soubestes recomeçar.”

"O Líbano pode orgulhar-se de uma sociedade civil vivaz, bem formada, rica em jovens capazes de expressar os sonhos e as esperanças de todo um País", frisou o Papa. "Que vos ajude também o profundo laço de afeto que une tantos libaneses espalhados pelo mundo ao seu país", sublinhou.

Segue, na íntegra, o discurso do Papa Leão XIV às autoridades libanesas.

Recomeçar através do árduo caminho da reconciliação

A seguir, o Pontífice falou sobre a segunda característica dos que promovem a paz: eles sabem recomeçar sobretudo através do árduo caminho da reconciliação. "Existem feridas pessoais e coletivas que para poderem cicatrizar exigem longos anos, às vezes gerações inteiras. Se não forem tratadas, se não se trabalhar, por exemplo, na cura da memória, na aproximação entre aqueles que sofreram ofensas e injustiças, dificilmente se alcançará a paz", disse ainda o Papa Leão.

De acordo com o Santo Padre, "não há reconciliação duradoura sem uma meta comum, sem uma abertura para um futuro em que o bem prevaleça sobre o mal sofrido ou infligido, no passado ou no presente".

O Papa durante a visita de cortesia ao presidente libanês   (@Vatican Media)

A paz é saber viver juntos, em comunhão

Segundo o Papa Leão, "uma cultura da reconciliação não nasce apenas de baixo, da disponibilidade e da coragem de alguns, mas precisa de autoridades e instituições que reconheçam o bem comum como superior ao bem parcial".

“A paz é, na verdade, muito mais do que um sempre precário equilíbrio entre aqueles que vivem separados sob o mesmo teto. A paz é saber viver juntos, em comunhão, como pessoas reconciliadas. Uma reconciliação que, além de nos fazer conviver, nos ensinará a trabalhar juntos, lado a lado, por um futuro partilhado. Estamos inseridos juntos num desígnio que Deus preparou para que nos tornemos uma família.”

Sangria de jovens e famílias

A terceira característica dos que promovem a paz é que "eles ousam permanecer, mesmo quando isso implica sacrifício".

“Sabemos que a incerteza, a violência, a pobreza e muitas outras ameaças produzem aqui, como em outros lugares do mundo, uma sangria de jovens e famílias que procuram um futuro melhor noutro lugar, mesmo com grande dor por deixarem a sua pátria. Temos de reconhecer que muito de positivo chega-vos dos Libaneses espalhados pelo mundo. No entanto, não devemos esquecer que permanecer na pátria e colaborar dia após dia para o desenvolvimento da civilização do amor e da paz continua sendo algo muito apreciável.”

O Papa sublinhou que "a Igreja não se preocupa apenas com a dignidade daqueles que se deslocam para países diferentes do seu, mas deseja que ninguém seja obrigado a partir e que todos aqueles que o desejem possam regressar em segurança".

De acordo com o Pontífice, "a mobilidade humana representa uma imensa oportunidade de encontro e de enriquecimento mútuo, mas não apaga o vínculo especial que une cada um a determinados lugares, aos quais deve a sua identidade de uma forma totalmente peculiar. E a paz cresce sempre num contexto vital concreto, feito de laços geográficos, históricos e espirituais. É preciso encorajar aqueles que os favorecem e promovem, sem ceder a localismos e nacionalismos. Na Encíclica Fratelli tutti, o Papa Francisco indicava este caminho".

O Papa durante o encontro no Palácio Presidencial em Beirute   (@Vatican Media)

O papel das mulheres na construção da paz

Leão XIV convidou a se perguntar sobre o que fazer para que os jovens não se sintam obrigados a abandonar a sua terra. De acordo com o Pontífice, "cristãos e muçulmanos, com todos os componentes religiosos e civis da sociedade libanesa, são chamados a fazer a sua parte nesse sentido e a comprometer-se em sensibilizar a Comunidade internacional sobre o assunto".

“Neste contexto, gostaria de sublinhar o papel indispensável das mulheres no árduo e paciente esforço de preservar e construir a paz. Não esqueçamos que as mulheres têm uma capacidade específica de promover a paz, porque sabem conservar e desenvolver laços profundos com a vida, com as pessoas e com os lugares. A participação delas na vida social e política, bem como na vida das suas comunidades religiosas, à semelhança da energia que emana dos jovens, representa em todo o mundo um fator de verdadeira renovação. Portanto, felizes as pacificadoras e os jovens que permanecem ou que regressam, para que o Líbano continue sendo uma terra cheia de vida.”

Paz, um caminho movido pelo Espírito

O Papa concluiu, ressaltando que o povo libanês é um "povo que ama a música, que, nos dias de festa, se transforma em dança, linguagem de alegria e comunhão". Um traço da cultura libanesa que nos ajuda "a compreender que a paz não é apenas o resultado de um esforço humano", mas "um dom que vem de Deus e que, antes de mais nada, habita no nosso coração". "É como um movimento interior que se derrama para o exterior, permitindo-nos ser guiados por uma melodia maior do que nós mesmos: a do amor divino", disse ainda Leão XIV.

“Assim é a paz: um caminho movido pelo Espírito, que coloca o coração em escuta e o torna mais atento e respeitoso para com o outro. Que cresça entre vós este desejo de paz que nasce de Deus e pode transformar, já hoje, a maneira de olhar para os outros e de habitar juntos esta Terra que Ele ama profundamente e continua a abençoar.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF