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terça-feira, 2 de dezembro de 2025

EDITORIAL: A esperança para o Líbano e para o mundo

Papa Leão XIV em visita ao Líbano (Vatican Media)

A esperança para o Líbano e para o mundo.

Andrea Tornielli

A convivência possível entre quem professa diferentes credos e uma fraternidade que ultrapassa as barreiras étnicas e as divisões ideológicas: é isso que o martirizado Líbano, “País mensagem”, continua a indicar ao mundo como possibilidade concreta e como caminho para a paz. A esse Líbano, e à sua esperança testemunhada nos jovens que não se rendem à guerra e ao ódio, o Papa Leão indicou o caminho para construir o futuro. Quando tomou a palavra, diante de milhares de jovens reunidos na sede do Patriarcado de Antioquia dos Maronitas, no final de um intenso dia de encontros, o Sucessor de Pedro lhes disse: “vocês têm esperança! Vocês têm tempo! Vocês têm mais tempo para sonhar, planejar e fazer o bem. Vocês são o presente e, nas suas mãos, já está se construindo o futuro! Vocês têm o entusiasmo para mudar o curso da história! A verdadeira resistência ao mal não é o mal, mas o amor, o amor capaz de curar as próprias feridas, enquanto se curam as dos outros”.

Desse amor gratuito, capaz de curar as feridas dos outros porque nas feridas dos outros vemos as nossas feridas e, sobretudo, porque reconhecemos em quem sofre o rosto de Deus, alguns dos presentes tinham falado pouco antes em seus comoventes testemunhos. Como naquele de Elie, que depois de tantos sacrifícios para economizar e poder estudar viu seus projetos desaparecerem devido ao colapso da economia do país, que lhe fez perder tudo. No entanto, decidiu não emigrar: “como eu poderia partir enquanto meu país sofre?”.

Como o comovente testemunho de Joelle, que em um encontro de oração em Taizé encontrou uma jovem da sua idade, Asil, libanesa como ela, mas de fé muçulmana, que vivia no sul do Líbano. Quando a aldeia de Asil foi bombardeada por ataques israelenses, ela recorreu a Joelle porque sua família não sabia para onde ir. Joelle e sua mãe os acolheram: “a diferença de religião nunca foi um obstáculo... Vivemos uma profunda harmonia... Compreendi uma verdade essencial: Deus não habita apenas entre as paredes de uma igreja ou de uma mesquita. Deus se manifesta quando corações diferentes se encontram e se amam como irmãos”. Depois dela, Roukaya, a mãe de Asil, tomou a palavra: “a mãe de Joelle abriu-me a porta de sua casa e me disse: esta é a sua casa. Não me perguntou quem eu era, de onde vinha, nem em que acreditava... Compreendi que a religião não se diz: se vive, num amor que ultrapassa todas as fronteiras”.

O que tornou tudo isso possível? O que tornou possível o que o Líbano foi e quer continuar a ser? O Papa Leão indicou um fundamento que “não pode ser uma ideia, um contrato ou um princípio moral”. O verdadeiro princípio da vida nova e reconciliada “é a esperança que vem do alto: é Cristo! Ele morreu e ressuscitou para a salvação de todos. Ele é Aquele que vive, o fundamento da nossa confiança; Ele é a testemunha da misericórdia que redime o mundo de todo o mal”.

Esta primeira viagem de Leão XIV, que termina hoje, terça-feira, 2 de dezembro, com o regresso a Roma, faz compreender o significado das palavras pronunciadas no dia seguinte à eleição, quando o novo Bispo de Roma disse que quem quer que exerça um ministério de autoridade na Igreja deve “desaparecer para que Cristo permaneça”. Palavras aplicáveis a quem quer que anuncie o Evangelho. Aos líderes das outras confissões cristãs e aos líderes muçulmanos das diferentes tradições que compõem o mosaico religioso libanês, o Papa lembrou que esta terra foi testemunha de alguns episódios da vida pública de Jesus e, em particular, citou o da mulher cananeia e sua fé ao pedir a cura de sua filha: “esta terra significa mais do que um simples lugar de encontro entre Jesus e uma mãe implorante: torna-se um lugar onde a humildade, a confiança e a perseverança superam todas as barreiras e encontram o amor infinito de Deus, que abraça cada coração humano”.

Desaparecer para que Cristo permaneça não significa, então, refugiar-se no intimismo, construir comunidades fechadas de “perfeitos”, nem perseguir sonhos de poder e grandeza, confiando nos números e esquecendo a lógica de Deus que se manifesta na pequenez. Desaparecer para que Cristo permaneça significa tornar-se, apesar da nossa inadequação, um instrumento daquele amor infinito de Deus que abraça todos os corações humanos, sem distinções, inclinando-se sobre os últimos, os oprimidos, os sofredores. Como testemunharam os jovens libaneses diante do Sucessor de Pedro, que veio para encorajá-los.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF