ADVENTO, O INSTANTE DE DEUS
02/12/2025
Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
A Palavra foi pronunciada antes do
próprio tempo. Ela pulsa no instante inaugural em que “no princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por meio
dele, e sem Ele nada do que existe veio a ser” (Jo 1,1-3).
O silêncio compactado que precedeu o
primeiro lampejo do universo era o Verbo, o Logos eterno, respirando
no ventre do ainda não-tempo; e, quando a luz irrompeu, foi o
eco visível daquela Palavra primordial que, como um
poema originou o cosmos. Desde então, toda a
realidade segue na mesma melodia.
As forças da gravidade, eletromagnetismo,
interações nucleares que sustentam a criação, são os modos discretos
com que o Verbo mantém o mundo coeso. A gravidade que faz as estrelas se
abraçarem na imensidão, é o gesto silencioso de sua fidelidade. O
eletromagnetismo, que organiza o movimento dos átomos e permite
que cada forma exista, é a ternura matemática de sua mão.
A força nuclear forte, que resiste ao caos dentro dos
núcleos, revela sua persistência, e a força nuclear fraca,
que permite ao sol acender-se sem violência, é o suspiro de um Deus que brilha
sem ferir.
Esses movimentos, que parecem arbitrários, revelam-se
profundamente proporcionados, pois o Logos escreve o real como quem segue
a curva de uma espiral áurea.
O Verbo, que sustentou galáxias, navega no
interior das células, escrevendo no DNA o poema silencioso da vida
com quatro letras que se repetem desde o princípio. Na ambiguidade
quântica, onde partículas surgem e recuam em frações de mistério, há
uma lembrança de que toda existência repousa na liberdade do Logos.
Quando a vida se organiza em pétalas, nervuras, flocos,
ciclones, turbilhões, ela invariavelmente segue a lógica da espiral áurea,
como se a criação inteira obedecesse a um sopro antigo que ordena o caos
com rigorosa delicadeza.
Cada vibração da matéria, da onda de
luz, do campo energético é ressonância dessa Palavra que dá forma e
proporção.
Não por acaso tantos cientistas descrevem o universo como
música, pois o Verbo, que estava no princípio, é também a
melodia que retine nos alicerces do real, e sua partitura parece
seguir o ritmo secreto do mesmo princípio geométrico com que Deus
moldou o mundo.
O poeta vê no céu estrelado uma frase interrompida; o
místico percebe no silêncio uma sintaxe secreta; a fé reconhece que o
mundo inteiro é uma metáfora sustentada por uma única Palavra. A fé é a
gramática invisível que une o cósmico ao íntimo, o infinito ao cotidiano. E,
como toda arte verdadeira, ela percebe que o belo não é um capricho, é
proporção.
É aquele equilíbrio misterioso que faz com que o todo seja
maior do que a soma das partes, como acontece na proporção áurea, onde cada
segmento guarda relação viva com o todo. Assim também
Deus abarca o grande e o pequeno, o eterno e o breve, o universal e o
pessoal.
Advento é o tempo em que essa harmonia se manifesta com
nitidez. É quando o céu e a terra respiram juntos, quando a
poesia se curva diante do mistério e a fé se ergue com a leveza de quem
espera o que já pressente.
O Logos, que ordena galáxias, também sustenta corações,
pois a alma foi moldada segundo uma razão áurea interior, uma
harmonia que permite suportar o peso da vida sem perder a leveza da
fé.
E então, no ápice dessa linguagem que une estrelas
e flores, o Verbo se faz carne e o Autor entra na própria
narrativa. O Logos, que estava com Deus desde o princípio e por quem tudo foi
feito, escolhe viver no tempo.
Ele, que arquitetou nebulosas em espirais grandiosas,
agora se enrosca na espiral minúscula do ventre de
Maria, realizando o gesto mais audacioso de toda a
história.
A Encarnação é a versão mais radical da
proporção áurea, onde o infinito e o finito se relacionam de modo perfeito, sem
ruptura, sem violência, sem perda. Aquele que moldou o mundo segundo a harmonia
repousa no ritmo deste próprio mundo.
O Advento é o instante de Deus. Um
instante que, momentos antes dispersos nas estrelas, nos
átomos e nos profetas, condensa-se num único
rosto.
A música do cosmos encontra sua
melodia. A lógica do universo a sua gramática. Toda a
beleza matemática encontra sua figura.
O logos que ordenou o ser habita entre
nós, e a vastidão do universo se recolhe na fragilidade de
Belém. A Palavra eterna, ainda silenciosa na manjedoura, diz mais do
que todas as frases pronunciadas desde o início do mundo.
Assim, da primeira expansão de luz ao último suspiro de
esperança, o universo inteiro se inclina em direção ao mesmo
sentido e a criação insinua que o Verbo que
estava no princípio é o mesmo, e sua Palavra
atravessa as eras para sussurrar ao mundo que ainda vale a
pena esperar, pois Ele vem!

Nenhum comentário:
Postar um comentário