1 de dez de 2025 às 12:32
Cerca de 800 km a leste de Bali fica a ilha de Flores, um
centro vocacional que fornece seminaristas não só para a Indonésia, mas também
para comunidades católicas em todo o mundo. O catolicismo chegou lá no século
XVI, quando comerciantes portugueses de especiarias levaram missionários para a
ilha montanhosa e acidentada. Atualmente, a fé está profundamente enraizada e
mais de 80% dos 2 milhões de habitantes da ilha são católicos.
Flores abriga vários seminários, a maioria concentrada em
torno de Maumere, na costa norte da ilha. Congregações religiosas, incluindo a
Sociedade do Verbo Divino (SVD), os Padres Somascos, os Rogacionistas, os
Vocacionistas e os Carmelitas, têm seminários lá, criando uma densa rede de
formação vocacional raramente encontrada em outros lugares da Ásia.
Natural de Flores, o arcebispo de Ende, Indonésia, dom
Paulus Budi Kleden, SVD, enfatizou a importância da ilha não apenas para a
Igreja indonésia, mas também para dioceses e congregações religiosas em todo o
mundo.
“Muitos dos ex-alunos desses seminários estão trabalhando
fora do país”, disse, destacando a contribuição da ilha para o clero global. Um
próspero sistema de seminários menores também alimenta esse fluxo, que
atualmente conta com 650 alunos matriculados no ensino fundamental e médio.
“Depois que os alunos concluem a escola, eles podem optar
por dioceses ou diferentes congregações”, disse Kleden. “Não limitamos suas
escolhas.”
Uma instituição notável em Flores é o Seminário Maior São
Paulo, situado no topo da colina de Ledalero e fundado em 1937 pelos
missionários do Verbo Divino. Começou com noviços SVD, mas logo acolheu jovens
locais chamados ao sacerdócio, bem como estudantes de outras ordens religiosas.
O seminário já formou quase 1,5 mil padres missionários SVD, com cerca de 500
servindo em mais de 70 países em todo o mundo.
Em Ledalero, os seminaristas estudam Filosofia por quatro
anos, seguidos por dois anos de Teologia, e completam um a dois anos de serviço
pastoral antes da ordenação. Aqueles que discernem que o sacerdócio não é sua
vocação podem deixar o programa a qualquer momento e obter um diploma de
bacharelado na vizinha Escola Católica de Filosofia de Ledalero.
Segundo o padre Sefrianus Juhani, SVD, professor do
Seminário Maior São Paulo, as vocações religiosas continuam “bastante
dinâmicas”. Ele disse que o número anual de admissões depois do noviciado quase
nunca cai abaixo de 50, o que vê como prova de que o espírito vocacional ainda
está muito vivo na Indonésia, apesar dos desafios culturais e sociais.
A quantidade, porém, nunca é a prioridade do seminário.
Juhani enfatizou que a formação em Ledalero visa formar homens emocionalmente
maduros, disciplinados e espiritualmente fundamentados — padres honestos e
apaixonados, prontos para servir, não para buscar fama ou status social. O
caminho é longo e exigente, admitiu, “mas o objetivo nunca muda”.
Juhani apontou o mundo digital como um grande desafio para
os seminaristas. “Nossos seminaristas vivem em um ambiente de informação
acelerado”, disse. “Muitas vezes, esse ambiente propaga desinformação, notícias
falsas e uma mentalidade míope”. Ele acredita que tais influências tornam mais
difícil para os jovens cultivarem o silêncio e a reflexão, essenciais para o
crescimento espiritual.
Para proteger esse espaço interior, o seminário impõe
limites rígidos ao uso de aparelhos eletrônicos, com Wi-Fi disponível apenas
durante certos horários — uma política criada para ensinar autorregulação e
foco espiritual. “Alguns tentam burlar as regras”, admitiu Juhani, “mas vemos
isso como parte da formação de caráter e da responsabilidade pessoal deles”.
As finanças representam outro desafio. Com mais de 320
seminaristas, os recursos são frequentemente escassos. Os padres e irmãos
contribuem com tudo o que ganham, desde o ensino até pequenos projetos
agrícolas, enquanto as famílias apoiam o seminário da maneira que podem.
Mesmo assim, os recursos raramente atendem às necessidades.
Embora os seminaristas recebam uma bolsa mensal, eles ainda precisam
administrar suas próprias finanças e, se acham que precisam de mais, trabalham
nos campos para conseguir. Para desenvolver a autossuficiência econômica, a
comunidade cultiva suas próprias hortas e cria porcos e galinhas para
alimentação.
Os seminaristas vêm de uma ampla variedade de origens
familiares. “Alguns vêm de famílias abastadas, outros de famílias humildes”,
disse Juhani. Alguns cresceram como filhos únicos, outros entre muitos irmãos.
Essa diversidade, disse, enriquece ativamente a formação
sacerdotal. Viver e estudar juntos ensina os seminaristas a construírem uma
“irmandade intercultural, interlinguística e interpessoal”, uma solidariedade
que se torna central para sua identidade sacerdotal.
A vida cotidiana em Ledalero segue um ritmo disciplinado de
oração, estudo e trabalho. As manhãs começam com meditação e missa, antes de
passar para palestras, trabalhos escritos e trabalho manual que incutem
“responsabilidade, trabalho em equipe e humildade”. Os seminaristas preparam
suas próprias refeições e passam as noites participando do coro, oficinas de
redação e clubes culturais, desenvolvendo a confiança, a criatividade e as
habilidades sociais essenciais para o futuro trabalho pastoral.
Nos fins de semana, os seminaristas vão a uma comunidade
mais ampla — orientando jovens, hospedando-se com famílias da aldeia, visitando
prisioneiros e pacientes que vivem com HIV.
A formação deles não se limita às salas de aula. Quando o
Monte Lewotobi entrou em erupção em julho e novamente em outubro, os alunos de
Ledalero estavam no local, ajudando nos esforços de evacuação e socorro. Esses
encontros, disse Juhani, têm como objetivo cultivar um espírito de serviço e
solidariedade, colocando os seminaristas junto com as pessoas que eles esperam
servir nos próximos anos.
“Ledalero não é apenas um lugar para aprender Teologia, mas
uma escola de vida”, disse Juhani. A vida comunitária simples, fraterna e
curiosa tornou Ledalero um centro de formação vivo e pulsante na Indonésia.
Todos os anos, novos jovens chegam com histórias diferentes,
sonhos diferentes e o mesmo desejo de servir a algo maior do que eles próprios.
Nas suas orações matinais, nos seus longos dias de estudo e nas suas refeições
partilhadas, cozinhadas em fogões simples, eles levam adiante uma vocação que
se recusa a desaparecer.
*Bryan Lawrence Gonsalves é um apologista e ensaísta nascido
nos Emirados Árabes Unidos, que atualmente vive na Lituânia. Seu trabalho se
concentra na doutrina social católica, teologia, dignidade humana e questões
sociais contemporâneas.




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