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quinta-feira, 2 de março de 2023

A coluna da flagelação, um mistério conservado na Basílica de Santa Prassede

A coluna da flagelação na Basílica de Santa Prassede |
Vatican News

Em uma capela da basílica romana no Esquilino está exposta a coluna que tradicionalmente se acredita ser aquela à qual Cristo foi amarrado para ser flagelado. Um antigo e enigmático objeto devocional que questiona o profundo significado das relíquias.

Maria Milvia Morciano - Vatican News

Ao longo do corredor direito da basílica paleocristã de Santa Prassede, ao lado do brilhante e magnífico sacelum de São Zeno, há uma pequena capela onde, dentro de um relicário em forma de templo dourado, uma obra em estilo Art Nouveau do artista Duilio Cambellotti e datada de 1898, está exposta uma pequena coluna de pedra branca e preta. Essa seria a coluna à qual Cristo foi amarrado para a flagelação.

Volta del Sacello de São Zeno na Basílica de Santa Prassede

Um elemento arquitetônico singular

Com apenas 63 cm de altura, é ligeiramente cônico, medindo cerca de 40 cm de diâmetro na base. A pedra é um tipo de granito, o gabbro diorito, com grandes cristais brancos, provenientes da parte norte do Deserto oriental egípcio. É um local remoto, impermeável e desértico. Muito provavelmente os pedreiros pertenciam às classes sociais mais pobres, os damnati, lançados sem esperança ao trabalho escalando paredes verticais. O transporte dos blocos era longo e difícil, e também era difícil trabalhar esta pedra, embora muito valiosa. Ela foi importada para Roma principalmente no período Julius Claudius, ou seja, no século I d.C. A forma da coluna sugeria um trapezóforo, um suporte para uma mesa, ou um labrum, uma bacia, mas isto não exclui sua reutilização posterior. Também a de uma coluna para a flagelação.

Flagelação, tortura cruel

Diferente do açoitamento, a flagelação era uma tortura generalizada na Roma antiga, que era realizada com o flagrum, um chicote com pontas afiadas que laceravam a carne. Cada domus, casa nobre, recorda Cícero, tinha uma coluna à qual amarrava e punia seus escravos. Sabemos também que a flagelação sempre precedeu a pena capital, especialmente a crucificação. Nenhuma coluna é mencionada nos Evangelhos, mas três falam inequivocamente da flagelação para Cristo (Mc 15,15; Mt 27,26; Jo 19,1), enquanto Lucas se refere a uma punição genérica (Lc 23,22).

A primeira testemunha

O primeiro a falar dela foi Egeria em seu Itinerário, em 383, durante o culto da Sexta-feira Santa em Jerusalém: "O sol ainda não nasceu; depois da despedida todos vão de pressa para Sião, para rezar junto à coluna da flagelação". O lugar de que Egeria fala, o Monte Sião, corresponde ao lugar onde se ergue a Igreja dos Apóstolos.

A coluna em Roma

Séculos mais tarde, a coluna seria trazida de Jerusalém para Roma pelo cardeal Giovanni Colonna, durante a Quinta Cruzada, em 1223. Nota-se que o sobrenome do legado papal no Oriente é o mesmo da relíquia e pode ser lido de dois modos: a prova de que foi uma invenção, um artifício para ganhar a benevolência do Papa Honório III ou, ao contrário, um presente providencial, como ele mesmo acreditava. A coluna foi colocada na basílica de Santa Prassedes, da qual o cardeal era titular. A solenidade da coluna foi aprovada pela Santa Sé e celebrada no quarto domingo da Quaresma.

Com o tempo, parece que o anel de ferro que estava ancorado no topo, para passar a corda e amarrar os pulsos, havia sido doado em 1240 ao Rei da França, São Luís IX. Em 1585, o Papa Sisto V doou uma lasca da coluna aos habitantes da cidade de Pádua.

A pergunta sobre a originalidade da relíquia

As objeções sobre a autenticidade ou não da coluna partem da altura reduzida da coluna, conforme mencionado 63 cm, o que teria forçado os condenados a sofrer torturas ao assumir uma postura antinatural. Mas é precisamente este detalhe que o torna plausível: os golpes da flagelação não deveriam tocar órgãos vitais, pois isso aumentaria o risco de morte.  Por exemplo, a área do coração não deveria ser ferida. Preso a um suporte tão baixo, o prisioneiro foi forçado a se curvar para frente, evitando assim expor a parte do corpo a ser preservada aos golpes. Neste sentido, a coluna de Santa Prassedes teria uma altura coerente.

Michelangelo Merisi, chamado de Caravaggio,, Flagelação de Cristo (1606-1607) , Musée des Beaux-Arts, Rouen 

A Coluna de Santa Prassede na Arte

A iconografia particularmente dramática e cruel da flagelação de Cristo é muito difundida e muitos artistas, desde os menores até os maiores, utilizaram ela, basta pensar em Piero della Francesca, até Bramante e Caravaggio.

A coluna é sempre alta e esbelta, coroada por um capitel do tipo antigo ou por uma estátua. Ou imaginada como se prosseguisse além dos contornos da pintura, subindo para o alto, como no caso de Antonello da Messina. A coluna resume o mundo pagão inteiro. A figura de Cristo, com seu sacrifício, é seu contrapeso, sua redenção.

Agostino Ciampelli, Flagelação de Cristo, afresco, 1594-1604, Basílica de Santa Prassede, Roma

Por outro lado, a forma de cone ligeiramente truncada igual à de Santo Prassedes não se encontra apenas em alguns afrescos da basílica onde é mantida, como no afresco do pintor florentino Agostino Ciampelli, artista da Contra-Reforma, mas também em outros lugares, como entre os anjos de Ponte Sant'Angelo com os instrumentos da Paixão. É um dos mais belos, segurando a coluna de Santa Prassede em seus braços. Na base da estátua está a inscrição emblemática: Tronus meus in columna, "meu trono está sobre uma coluna" (Sir 24, 7). Esta escultura é de Antonio Raggi, executada com um desenho de Bernini, do qual foi colaborador e aluno.

Antonio Raggi, num desenho de Bernini, Anjo com a coluna da flagelação, 1669, Ponte Sant'Angelo

A partir do século XVII, a forma de rochedo da coluna romana se difundiu na iconografia da flagelação, sinal da difusão de sua devoção além do Urbe, com vários artistas da Toscana, mas também do Vêneto e de outras áreas. Novamente, em uma pintura na Badia Fiesolana, um artista florentino anônimo do século XVII não omite a representação detalhada dos cristais brancos característicos no fundo preto da coluna.

Anonimo fiorentino, Flagelação di Cristo, XVII século, Badia Fiesolana (Florença) ©Fundação Zeri

O significado da relíquia

A coluna é um objeto que não pode dizer mais do que é possível. Não é uma inscrição como o Titulus Crucis e ainda mais não é o mapa detalhado do Sudário. É, entretanto, um elemento que se encaixa perfeitamente na narrativa da Paixão. A Basílica de Santa Prassedes está ligada à vida da homônima donzela que viveu no século II e fez de tudo para esconder os cristãos perseguidos, enterrando-os. Segundo a tradição, o sangue dos mártires era enxugado por ela com uma esponja e recolhido no poço no centro da igreja, no ponto em que há um disco de pórfiro.

A coluna de flagelação, portanto, resume o significado de um testemunho vivo de Cristo e sua Paixão, no qual o sacrifício dos mártires está refletido. O grande número de relíquias preservadas na basílica parece evocar esta ligação. O culto da coluna de Santa Prassedes não está ligado a evidências históricas materiais, mas é uma verdadeira memória da história.

Francesco Gai, Jesus amarrado à coluna (1889), Basílica de Santa Prassede

Outras colunas da flagelação

A coluna romana não é a única que se acredita ser da flagelação. Uma segunda se encontra em Jerusalém, na Basílica do Santo Sepulcro, recordada por um peregrino anônimo de Bordeaux em um escrito datado de 333, enquanto São Cirilo de Jerusalém a lembra em uma catequese de 348. Alguns estudos tentam conciliar ambas as tradições referindo-se a dois flagelos distintos de Cristo: o primeiro no Pretório com Pilatos, o segundo no palácio de Caifás. Acredita-se ainda que duas outras colunas sejam as da flagelação: em Istambul e na Basílica do Santo Sepulcro, em Bolonha.

Alessandro Algardi, Flagelação de Cristo, século 17, bronze dourado, mármore verde antigo, 24,2 cm (figura mais alta), Fitzwilliam Museum, Cambridge (Cambridgeshire, Reino Unido) Fundação Zeri

Como deixar de pensar em quem não está mais com a gente?

Saga_bear | Shutterstock
Por Talita Rodrigues

Nem sempre aquela pessoa que vai embora da sua vida sai também do seu coração.

Eu tenho percebido que algumas pessoas se posicionam na vida considerando a finitude de outras. Eu vejo as pessoas se aproximando muito por interesses. Quando precisam de alguma  informação, algo imprecatado, convidar para um evento etc. São raras as pessoas que chamam as pessoas que amam simplesmente para bater um papo.

Pessoas que esquecem de alimentar relações e vínculos. Vejo pessoas que se arrependem de não terem feito nada por aqueles que amavam.

Por isso, cuide das suas afetividades. Faça hoje, para não se arrepender do que não fez amanhã. Um movimento que você faz é um bem gigante para quem recebe.

Mas como deixar de pensar em quem não está mais com a gente?

Como é difícil parar de pensar em alguém que não faz mais parte da sua vida. Como é difícil aceitar que já não existe mais olho no olho, o compartilhamento de dores e alegrias e que você já não tem aquele alguém que acessa as entranhas da sua alma. 

Nem sempre aquela pessoa que vai embora da sua vida sai também pontualmente do seu coração. Mesmo com a partida, essa pessoa está enraizada em sua alma. 

Você passa um tempão buscando justificativas para a partida do outro. Esquecendo que algumas partidas não se explicam. Algumas partidas, simplesmente acontecem. Sem um porquê. Sem uma justificativa plausível que cesse o incômodo da sua alma.

Quantas vezes você já virou refém de trazer para perto quem já está e/ou escolheu ficar longe?

Logo, você busca freneticamente por uma explicação, por algo que cesse o seu coração e o sentimento de rejeição que quase sempre fica em você.

Porque, quando alguém vai embora, é como se você perdesse um pouco de você mesmo. E isso não cabe somente a pessoas com dependência emocional, cabe também a todas as pessoas que escolhem amar – inclusive você. Quando alguém decide partir, chegou a hora de você se reinventar. Reinventar-se como pessoa e de reinventar uma nova vida sem o outro. 

Mais do que gostar de alguém, existe também o apego aos sonhos ainda não realizados, as expectativas não supridas e tudo aquilo que você construiu junto com o outro. 

Você não permanece com uma pessoa pelo físico, por ela ser interessante ou não. Todos nós já tivemos alguém que decidiu pelo afastamento. Isso faz parte da vida. 

Você sabe por que os encontros acontecem e eles permanecem? 

Uma pessoa não permanece com a outra por atributos físicos ou intelectuais. Você se interessa por isso, obviamente. Mas a permanência se dá por esse encontro, porque você sente de uma forma viceral que estar com aquela determinada pessoa lhe confere uma sensação de familiaridade em espaços que você consegue permanecer. Em espaços em que você se percebe e se sente que ali, que você vale a pena. Que, ali, você é importante. Nem sempre pessoas envolvidas em determinados relacionamentos suportam viver ou caber ali. 

Portanto, aproprie-se da sua vida e busque por maturidade emocional, para que você entenda que os atributos do outro que te mantinham ali – por mais perfeitos que parecessem – não foram suficientes para manter o outro no mesmo lugar.

Quando alguém decidiu seguir em frente sem você, é hora de você seguir sem ele.

Para ter acesso gratuito a conteúdos como este, clique aqui e passe a seguir a psicóloga Talita Rodrigues no Instagram.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES (11/16)

O cristianismo e as religiões | Politize!

COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES

(1997)

b. "Paschali mysterio consociati"

71. A constituição dogmática sobre a Igreja Lúmen gentium fala de uma ordenação gradual à Igreja do ponto de vista do chamado universal à salvação, que inclui o chamado à Igreja. Pelo contrário, a constituição pastoral Gaudium et spes abre uma mais ampla perspectiva cristológica, pneumatológica e soteriológica. O que se diz dos cristãos vale também para todos os homens de boa vontade, em cujos corações atua a graça de modo invisível. Também eles podem ser associados pelo Espírito Santo ao mistério pascal, e podem, por conseguinte, ser conformados com a morte de Cristo e caminhar ao encontro da ressurreição (cf. GS 22).

72. Quando os não-cristãos, justificados mediante a graça de Deus, são associados ao mistério pascal de Jesus Cristo, o são também com o mistério de seu corpo, que é a Igreja. O mistério da Igreja em Cristo é uma realidade dinâmica no Espírito Santo. Ainda que falte a essa união espiritual a expressão visível da pertença à Igreja, os não-cristãos justificados estão incluídos na Igreja "corpo místico de Cristo" e "comunidade espiritual" (LG 8). Nesse sentido, os Padres da Igreja podem dizer que os não-cristãos justificados pertencem à ecclesia ab Abel. Enquanto estes são reunidos na Igreja universal junto ao Pai (cf. LG 2), não serão salvos aqueles que pertencem certamente "ao corpo" mas não "ao coração" da Igreja, porque não perseveraram no amor (cf. LG 14).

73. Por isso, pode-se falar não só em geral de uma ordenação à Igreja dos não-cristãos justificados, mas também de uma vinculação com o mistério de Cristo e de seu corpo, a Igreja. Porém, não se deveria falar de uma pertença, nem sequer de uma pertença gradual à Igreja, ou de uma comunhão imperfeita com a Igreja, reservada aos cristãos não-católicos (UR 3; LG 15); pois a Igreja, por sua essência, é uma realidade complexa, constituída pela união visível e pela comunhão espiritual. É claro que os não-cristãos que não são culpáveis de não pertencer à Igreja entram na comunhão dos chamados ao Reino de Deus, mediante a prática do amor a Deus e ao próximo; tal comunhão se revelará como Ecclesia universalis na consumação do Reino de Deus e de Cristo.

c. "Universale salutis sacramentum"

74. Enquanto se partia da suposição de que todos os homens entravam em contato com a Igreja, a necessidade da Igreja para a salvação foi entendida sobretudo como necessidade de pertença a ela. Desde que a Igreja se fez consciente de sua condição de minoria, tanto diacrônica como sincronicamente, passou para o primeiro plano a necessidade da função salvífica universal da Igreja. Essa missão universal e essa eficácia sacramental em ordem à salvação encontraram sua expressão teológica na denominação da Igreja como sacramento universal de salvação. Como tal, a Igreja está a serviço da vinda do Reino de Deus, na união de todos os homens com Deus e na unidade dos homens entre si (cf. LG 1).

75. De fato, Deus se revelou como amor não só porque nos dá já agora parte no Reino de Deus e em seus frutos, mas também porque nos chama e libera para a colaboração na vinda de seu reino. Assim, a Igreja não é só sinal, mas também instrumento do Reino de Deus que irrompe com força. A Igreja leva a cabo sua missão como sacramento universal de salvação na martyrialiturgia e diakonia.

76. Por meio da martyria do evangelho da redenção universal levada a cabo por Jesus Cristo, a Igreja anuncia a todos os homens o mistério pascal de salvação que se lhes oferece ou do qual já vivem sem sabê-lo. Como sacramento universal de salvação, a Igreja é essencialmente uma Igreja missionária. Pois Deus, em seu amor, não só chamou os homens para alcançar sua salvação final na comunhão com ele. Mais propriamente, pertence à plena vocação do homem que sua salvação não se realize no serviço da "sombra do que devia vir" (Cl 2,17),mas no pleno conhecimento da verdade, na comunhão do povo de Deus e na ativa colaboração para a vinda de seu Reino, fortalecido pela segura esperança na fidelidade de Deus (cf.AG 1-2).

77. Na liturgia, celebração do mistério pascal, a Igreja cumpre sua missão de serviço sacerdotal representando toda a humanidade. Num modo que, segundo a vontade de Deus, é eficaz para todos os homens, faz presente a representação de Cristo que "se identificou com o pecado, por nós" (2Cor 5,21), e em nosso lugar foi "suspenso no madeiro" (Gl 3,13) para nos livrar do pecado (cf. LG 10). Finalmente, na diakonia, a Igreja dá testemunho da doação amorosa de Deus aos homens e da irrupção do reino da justiça, do amor e da paz.

78. À missão da Igreja como sacramento universal de salvação pertence também "que todo o bem que se encontra semeado na coração e na mente dos homens, não só não pereça, mas seja curado, elevado e aperfeiçoado" (LG 17). Pois, às vezes, a ação do Espírito precede inclusive visivelmente a atividade apostólica da Igreja (AG 4), e sua ação pode se manifestar também na busca e na inquietude religiosa dos homens. O mistério pascal ao qual, do modo que Deus conhece, todos os homens podem ser incorporados, é a realidade salvífica que abraça toda a humanidade, que une de antemão à Igreja os não-cristãos aos quais ela se dirige e ao serviço de cuja revelação deve sempre estar. Na medida em que a Igreja reconhece, discerne e faz seu o verdadeiro e o bom que o Espírito Santo operou nas palavras e nos feitos dos não-cristãos, converte-se cada vez mais na verdadeira Igreja católica, "que fala em todas as línguas, que entende e abarca todas as línguas no amor, e supera dessa forma a dispersão de Babel" (AG 4).

77. "Assim, esse povo messiânico, embora não compreenda de fato todos os homens e muitas vezes apareça como uma pequena grei, é no entanto, para toda a humanidade, o germe mais firme de unidade, de esperança e de salvação. Constituído por Cristo para ser uma comunhão de vida, de caridade e de verdade, é assumido também por ele para ser instrumento de redenção, e é enviado a todo o mundo como luz do mundo e sal da terra (cf. Mt 5,13-16)" (LG 9).

Fonte: https://www.vatican.va/

Iraque. Patriarca caldeu Sako: Maria aproxima cristãos e muçulmanos

Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria | Vatican News

A homenagem a Maria como inspiradora da proximidade entre crentes do islã e do cristianismo foi expressa pelo patriarca caldeu durante a noite de diálogo islâmico-cristão organizada em Bagdá. Referindo-se à "Mariologia islâmica", o cardeal iraquiano lembrou que o Alcorão fala de Maria em várias ocasiões, e dedica a ela toda uma Sura. O Livro Sagrado do Islã reconhece a virgindade da Mãe de Cristo e sua pureza imaculada. A fé de Maria e sua esperança repousam sobre sua absoluta confiança em Deus.

Vatican News

"Maria ocupa uma posição única. Ela aproxima cristãos e muçulmanos". Foi o que reiterou o cardeal Louis Raphael Sako, patriarca da Igreja caldeia, em um discurso dirigido a uma plateia de estudiosos e ouvintes cristãos e muçulmanos e inteiramente dedicado à Virgem Maria como uma figura cara aos corações das multidões de crentes, tanto no cristianismo quanto no islamismo.

A homenagem a Maria como inspiradora da proximidade entre crentes do islã e do cristianismo foi expressa pelo patriarca caldeu durante a noite de diálogo islâmico-cristão organizada em Bagdá com a contribuição organizacional do movimento católico francês Efesia (que há anos organiza encontros sob o título "Junto com Maria"), do Trabalho do Oriente e dos Padres Dominicanos de Bagdá.

O encontro, dedicado ao tema "A Virgem Maria nos une" e realizado no dia 24 de fevereiro na Catedral Latina de Bagdá, contou também com a presença de um grupo de religiosos xiitas de Najaf e membros do Conselho jurídico sunita de Bagdá. Trechos do Evangelho e do Alcorão foram lidos durante a noite, que terminou com algumas intervenções sobre a condição feminina.

Maria, absoluta confiança em Deus e abandono total a Ele

Em seu discurso, o patriarca Sako enfatizou que as diferenças doutrinárias entre o cristianismo e o islamismo em relação à figura de Maria podem ser "avaliadas e compreendidas objetivamente", no contexto de relações sinceras.

Na experiência cristã - observou o patriarca - a pessoa de Maria está ligada ao mistério de Cristo. Seu papel e sua grandeza são reconhecidos e celebrados "através de seu relacionamento com seu Filho, e nunca separadamente d’Ele".

A fé de Maria e sua esperança "repousam sobre sua absoluta confiança em Deus e seu abandono total a Ele". Referindo-se depois à "Mariologia islâmica", o cardeal iraquiano lembrou que o Alcorão fala de Maria em várias ocasiões, e dedica a ela toda uma Sura. O Livro Sagrado do Islã reconhece a virgindade da Mãe de Cristo e sua pureza imaculada.

Maria tem um lugar especial na piedade popular islâmica

No Alcorão, são feitas referências a todas as etapas da vida de Maria: a Anunciação, sua gravidez, o nascimento de Jesus, a apresentação no templo e a dormição. Além disso, o primaz da Igreja caldeia observou que "Maria tem um lugar especial na piedade popular islâmica, vez que as mulheres muçulmanas visitam constantemente os santuários marianos".

Como um apêndice de seu discurso, o patriarca Sako também enfatizou que "o cristianismo considera o homem e a mulher como criados à imagem e semelhança de Deus", e, portanto, dotados da mesma dignidade e direitos. O cristianismo - acrescentou o cardeal - rejeita a poligamia como sendo contrária ao plano de Deus expresso na criação.

"Deus - disse o patriarca Sako, entre outras coisas - poderia ter dado a Adão mais mulheres como companheiras, mas em vez disso deu apenas uma, Eva". Respeitando a ordem da criação desejada por Deus, o cristianismo "considera a poligamia contrária à natureza humana e à vontade de Deus", e reconhece que "somente o casamento entre um homem e uma mulher é fonte de estabilidade e harmonia".

(com Fides)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Inês da Bohemia

Santa Inês da Bohemia | A12
02 de março
Santa Inês da Bohemia

Inês (Agnes, ou Aneska em Tcheco), filha de Premysl Otokar I, rei da Bohemia (atual República Tcheca), e da rainha Constância da Hungria, nasceu em Praga, no ano de 1205. Mas na sua maior nobreza, espiritual, tinha como ascendentes do lado paterno Santa Ludmila e São Venceslau; e por parte de mãe Santa Edwiges da Silésia era sua tia-avó, Santa Isabel da Turíngia sua prima, e Santa Margarida da Hungria sua sobrinha.

Como era o costume da época, ainda criança, foi prometida em casamento ao príncipe polonês Boleslav. A fim de ser educada para este matrimônio, foi levada com sua irmã mais velha, Ana, para a cidade de Trzebnica na Polônia, ao mosteiro cisterciense de sua tia-avó Santa Edwiges. Com ela, aprendeu os fundamentos do Catolicismo, e descobriu o desejo profundo de consagrar a Deus sua vida e virgindade. Em 1217, com a morte do seu noivo, volta para a Bohemia, em Doksani, no mosteiro premonstratense fundado por seu avô São Venceslau. Aprendeu então a ler e a escrever, e desenvolveu acentuado amor pela vida de oração, de modo que preferia rezar do que brincar como as meninas da sua idade.

Novamente foi prometida em casamento, desta vez ao rei Henrique VII da Sicília e da Alemanha, e de novo, em 1219, mudou-se para completar a sua formação de rainha, agora na corte de Viena, a familiarizar-se com a língua e os costumes germânicos. Inês sofria imensamente com a perspectiva de um casamento que contrariava a sua vocação religiosa. Mas confiando em Deus e implorando-Lhe que a permitisse entrar para o convento, permaneceu cinco anos na corte, que a desagradava, praticando os deveres cristãos – mortificava-se frequentemente com jejuns, distribuía muitas esmolas, e consagrou-se totalmente a Maria Santíssima, desejando preservar a virgindade.

E aconteceu que o duque Leopoldo, da Áustria, que a recebera em Viena, pretendia que sua própria filha desposasse Henrique. Deste modo, o noivado foi cancelado, e ela pôde voltar para Praga em 1225. Ali, Inês dedicou-se mais intensamente às orações e obras de caridade. Neste mesmo ano, os Frades Menores franciscanos, acolhidos na cidade pela família real, mostravam a nova proposta de Francisco de Assis e Santa Clara para a vida consagrada que surgia com eles na Itália.

Mas, ainda uma vez, Inês é pedida em casamento, pelo rei Henrique III da Inglaterra e por Frederico II, imperador do Sacro-Império Romano-Germânico. Apesar das objeções da princesa, seu irmão e agora rei Venceslau I (Otokar I havia morrido neste mesmo ano de 1230) a prometeu ao imperador. Inês, então ainda mais certa de sua vocação e fortificada por sofrimentos, dispôs-se a lutar para unir-se totalmente a Cristo. Aumentou as suas orações e penitências; acordando frequentemente antes do nascer do sol, saía com outras donzelas devotas a percorrer algumas igrejas da cidade – descalça e mal agasalhada; na volta ao palácio, lavava os pés machucados, vestia-se e calçava-se com os trajes principescos, tendo por baixo uma camisa rude feita de pelo e um cilício de aço, para começar suas atividades diárias que incluíam as obrigações da corte e as suas pessoais e características visitas aos doentes.

Não demonstrava a ninguém as mortificações que fazia, desejando assim louvar a Deus e Dele obter a vida religiosa que almejava. Assim preparada, escreveu ao Papa Gregório IX implorando-lhe que impedisse o matrimônio, explicando o seu desejo de viver num convento e que nunca havia consentido em se casar. Ora, o Papa havia acabado de consolidar a paz com o imperador, e apoiou o pedido de Inês, enviando a ela uma carta. Venceslau temia o imperador, mas preferiu ceder à missiva papal, e igualmente não obrigar a irmã a contrariar a vontade de Deus. A reação de Federico foi surpreendente e digna: ao saber que não se tratava de uma manobra política, mas de um santo desejo da princesa, anulou o compromisso, dizendo: “Se ela tivesse me deixado por um homem mortal, eu faria sentir o peso da minha vingança; mas não posso me sentir ofendido por ela ter preferido o Rei do Céu”. Este seu procedimento, certamente iluminado pelo Espírito Santo, e a decisão de Inês em recusar os bens terrenos pela glória de Deus, despertou enorme admiração nas cortes europeias.

Agora, definitivamente livre das perspectivas mundanas, Inês dedicou-se a colocar em prática a imitação da vida de São Francisco e Santa Clara. Desfazendo-se das joias, vestidos suntuosos e outros adornos caros, investiu seu valor no auxílio dos pobres da região. Também com os próprios recursos, e ajuda de Venceslau, construiu o Hospital de São Francisco, que confiou à Fraternidade dos Hospitaleiros, a qual deu origem à ordem dos Crucíferos da Estrela Vermelha (Cônegos Regulares da Santa Cruz da Estrela Vermelha), aprovada por Gregório IX. Em Praga, construiu ainda um convento e uma Igreja para os Frades Menores franciscanos, e o Mosteiro das Clarissas de São Salvador de Praga. O povo da Bohemia quis contribuir para as despesas destas obras, mas o rei e a princesa, sabendo da sua condição humilde, recusaram; porém os trabalhadores em muitos dias terminavam o expediente e saíam escondidos, para não receber o salário e poderem desta forma auxiliar nos custos.

Em 1234, Inês solicitou que um grupo de irmãs clarissas viessem para o mosteiro que ela havia fundado; cinco delas chegaram de Trento, com a permissão do Papa. Estas cinco e mais sete donzelas nobres da Boehmia, incluindo a própria Inês, iniciaram a vida monástica das clarissas na cidade. Por obediência a Gregório IX, Inês teve que aceitar o cargo de abadessa, que em humildade não desejava. O exemplo da sua vocação foi seguido por muitas mulheres, o que multiplicou o número destes conventos na Europa.

Neste mesmo ano, Inês recebe a primeira de muitas cartas de Santa Clara de Assis (da correspondência entre elas, conservam-se só quatro cartas). Clara elogiava sua fama de virtude e lhe dava os parabéns por ter preferido “um esposo de linhagem mais nobre” e ter renunciado às glórias do mundo. As duas nunca se encontraram pessoalmente, mas desenvolveram uma imensa amizade e afinidade; Inês tinha Clara por mãe espiritual, e Clara a chamou de “metade da minha alma e escrínio singular da minha afeição”.

Em 1238 o Papa, a contragosto, concede o privilégio da pobreza solicitado por Inês para o seu mosteiro, isto é, a renúncia dos bens, de modo que a partir de então este seria mantido apenas por esmolas. Inês viveu a humildade, caridade e pobreza, e na sua dedicação fundou um segundo hospital, dirigido pelas clarissas e dedicado aos pobres. Ali ela mesma cuidava deles, incluindo os leprosos, de quem remendava as roupas. Com intensa vida eucarística e de oração, nestes momentos podia entrar em êxtase; recebeu os dons da cura e da profecia. Aconselhava com sabedoria, incentivando o reino à fidelidade à Igreja, e buscava evitar conflitos.

Deus permitiu que Inês sentisse a perda de todos os seus parentes, e também de Santa Clara (falecida em 1253). Mas teve a felicidade de ver a canonização de sua tia-avó, Santa Edwiges, em 1267. Outro sofrimento foi a rebelião de Otokar, filho do seu irmão o rei Venceslau I, em 1248; ela conseguiu a reconciliação entre os dois. Com a morte de Venceslau em 1253, o trono passa ao herdeiro, Premysl Otokar II: a trágica morte deste sobrinho, na batalha da Morávia em 1278, foi vista numa visão por Inês.

O falecimento do rei foi seguido pela invasão da Bohemia por exércitos estrangeiros, abrindo um período de violência, fome e peste, com muitas mortes. As clarissas atendiam a inúmeros moribundos. Neste cenário caótico, faleceu Inês de causas naturais em 6 de março de 1282, já com fama de santidade. Seu túmulo, na capela do seu mosteiro, logo se tornou local de peregrinação.

Em 12 de novembro de 1989, Inês é canonizada por São João Paulo II; no dia 17 deste mês, termina a “Revolução de Veludo”, que libertou a Tchecoslováquia da opressão comunista – fato que muitos atribuíram à intercessão de Santa Inês, que é a padroeira de Praga.

Reflexão:

A vida de Santa Inês nos ensina o valor e a importância de lutarmos pela nossa vocação, pois este é o caminho que Deus prepara para a felicidade, santificação e salvação de cada um. Embora obediente, Santa Inês não deixou de usar de todos os recursos – lícitos – de que dispunha, para garantir a sua vida monástica. Em primeiro lugar, sempre, na listagem destes recursos, estão a oração e a penitência, aliadas à confiança em Deus e Nossa Senhora. Até que ponto aumentamos (ou ao menos iniciamos) nossa dedicação à oração, e às penitências, para obtermos objetivos verdadeiramente nobres? E, se o fazemos, fazemos com reta intenção, para agradar a Deus? Ou para tentar “forçá-Lo” a algo que desejamos? Por exemplo, podemos pedir a cura de uma doença, mas confiamos que o Senhor, se não a concede, está agindo para o nosso bem, ou nos revoltamos? Por vezes, uma doença é o fator que levará alguém a pensar seriamente na sua mortalidade, e assim buscar a comunhão com Deus; enquanto que o desejo de saúde não estava voltado para a realização de boas obras, mas para poder aproveitar melhor as tentações de uma vida mundana. Deus sabe o que é melhor para a nossa salvação, e a salvação é exatamente o motivo pelo qual vivemos nesta Terra. Mas Santa Inês tinha intenções honestas. E sua persistência influenciou beneficamente os demais: seu irmão, o rei Venceslau, por respeito à vocação da irmã e mesmo temendo o imperador Frederico II, foi capaz de priorizar a vontade de Deus à dos homens; e por isso a Providência pôde dignificar Frederico, que igualmente teve a humildade de aceitar a vontade divina. A nobreza claramente se manifesta na alma, acima de qualquer outro aspecto. Santificante foi a escolha livre dos trabalhadores de Praga, que para contribuir com uma obra de caridade “desobedeceram” aos reis da Terra para, cedendo seus salários, contribuírem para o hospital dedicado ao Rei do Céu. Isto resume a própria natureza da união que Santa Inês e Santa Clara possuíam, na espiritualidade elevada dos membros da família de Deus: filhos do Senhor, e irmãos Nele: também nós o somos. O que temos, muito ou pouco, devemos por consequência colocar concretamente à disposição do Primeiro Mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Oração:

Senhor, de majestade infinita, concedei-nos pela intercessão de Santa Inês da Bohemia a sua mesma nobreza espiritual, de modo a que como ela nos disponhamos a lutar incessantemente para nos unirmos cada vez mais a Cristo, e pela oração, penitência e caridade sinceras vivermos desde já alegria de nos despojarmos deste mundo para receber o Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

quarta-feira, 1 de março de 2023

O poder da fé em 2 fotos comoventes

Cortesia de Jeffrey Bruno | Jeffrey Bruno
Por Zoe Romanowsky

Duas fotos diferentes de dois eventos diferentes revelam o efeito oculto mas poderoso da fé de um pai. Veja aqui:

Às vezes é o segundo take que revela uma verdade mais profunda.

Foi o que aconteceu com o fotojornalista Jeffrey Bruno depois que ele tirou uma foto e a postou nas mídias sociais, após uma ordenação em Denver, Colorado.

Como ele fez, nossos olhos vão para a doce e tocante cena de dois garotinhos imitando o que eles viram sem autoconsciência ou medo – apenas um desejo de experimentar o que é deitar no chão frio de uma bela catedral entregando sua vida a Deus.

Um sinal das coisas que estão por vir para eles? Quem sabe…

Mas Bruno olhou novamente e viu outra coisa naquela imagem – um pai, de lado nas sombras, de pé perto de seus filhos, rezando com os olhos fechados…

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Quando olhamos um pouco mais fundo, também podemos ver o que Bruno vê e isso torna esta imagem mais significativa.

Não faz muito tempo, Bruno captou outra cena que tocou muita gente quando a postou nas redes sociais. Desta vez de uma mãe, chegando à comunhão com seus filhos, o mais novo carregado em um sling.

young mom and little children in church receiving eucharist
Cortesia: Jeffrey Bruno / Jeffrey Bruno

Quando Bruno postou a foto, ele a chamou de “Força de Mãe”.

A foto captura um momento que podemos facilmente ignorar, mas é realmente a espinha dorsal da fé: Os pais aparecem com seus filhos – por mais difícil que seja sair de casa – para receber o Senhor, para ser contado entre a família de Deus, para celebrar a vida sacramental da Igreja.

O trabalho heróico que fazemos está no testemunho cotidiano que damos através de nossas ações, como levar os pequenos à Missa para encontrar o Senhor e Sua graça.

Os bons fotojornalistas contam uma história com suas imagens, para nos mover ou nos inspirar. Estas imagens do testemunho silencioso de uma mãe e de um pai, em duas igrejas diferentes, em dois momentos diferentes, revelam o heroísmo comum da paternidade cristã e a esperança que ela traz para todos nós.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O 'Titulus Crucis': do Calvário a Roma, história da célebre relíquia da Paixão

O "Titulus Crucis" conservado na "Basilica di Santa Croce in
Gerusalemme" | Vatican News

Entre os testemunhos mais conhecidos do sacrifício de Cristo está a tábua que foi colocada no cadafalso com a inscrição "Jesus Nazareno Rei dos Judeus". Vários estudiosos concentraram suas pesquisas acreditando que a tábua de madeira, preservada na "Basílica di Santa Croce in Gerusalemme", em Roma, era a autêntica mandada colocar por Pilatos há dois mil anos.

Maria Milvia Morciano - Vatican News

Helena, mãe de Constantino, segundo o historiador Eusébio de Cesareia do século V, em sua obra De vita Costantini, viajou entre 326 e 328 à Terra Santa na trilha dos lugares onde ocorreu a Paixão e a Ressurreição do Senhor. Ela retornou a Roma trazendo várias relíquias e a terra de Jerusalém, que foi espalhada no Palácio Sessoriano, residência da imperatriz. Sobre essa terra mandou construir uma capela para abrigar os objetos sagrados que havia trazido consigo: entre estes estavam fragmentos da cruz, alguns pregos e o Títulus Crucis. A capela constitui o primeiro núcleo da "Basílica di Santa Croce in Gerusalemme" e seu nome evoca o desejo da fundadora de reconstruir uma réplica em escala, em Roma, do lugar sagrado. Uma pequena Jerusalém também expressa pela persistência do topônimo Hierusalem.

"Jesus Nazareno, Rei dos Judeus"

Titulus Crucis é uma tábua de madeira de nogueira com uma inscrição em três linhas, em três línguas e todas com direção da direita para a esquerda: hebraico, grego e latim. A inscrição diz: Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum, "Jesus Nazareno Rei dos Judeus", que também conhecemos como as iniciais "I.N.RI.". Esta a tábua pendurada na cruz sob indicações de Pilatos, que assim quis especificar o motivo da condenação segundo a lei romana, ou seja, a acusação de que Jesus havia se proclamado rei dos judeus. Este uso foi reservado apenas para certas pessoas condenadas "especiais". Além disso, as três línguas só foram encontradas em inscrições solenes. Esta inscrição juntamente com a coroa de espinhos e a cana como cetro constitui uma ação altamente humilhante contra Cristo, especialmente porque foi realizada por um cidadão romano e dignitário contra um judeu submisso. Um escárnio feroz. Todos os Evangelhos, recordam este acontecimento (Mc 15,26; Lc 23,38; Mt 27,37; Jo 19,19-20) destacando a importância simbólica do titulus mas também, evidentemente, o firme desejo de enfatizar sua veracidade histórica.

Objeto de antiga veneração

Saltando a concordância dos Evangelhos, temos que chegar ao final do século IV para ter um primeiro testemunho do titulus. Egeria, em seu Itinerarium, afirma tê-lo visto junto com a Cruz, exposto à adoração dos peregrinos, durante sua peregrinação à Terra Santa em 383 (Itinerário Egeriae 37,1): "...e é trazida uma caixa prateada dourada, na qual está a madeira sagrada da cruz, é aberta e tirada para fora, tanto a madeira da cruz como o título são colocados sobre a mesa". Em 570, Antoninus de Piacenza o menciona novamente, citando também o texto, semelhante ao de Mateus nos Evangelhos, (Itinerarium, Corpus Christianorum, S. Latina, 175, 130). Isto poderia significar que a relíquia chegou a Roma em um momento após a viagem de Helena. O que não é estranho, já que é a Cruz que é a relíquia inextricavelmente ligada à imperatriz, seja em fontes como a Legenda Aurea, seja na arte, por exemplo, nos afrescos de Piero della Francesca em Arezzo.

Um detalhe muito importante, atestando a atenção especial dada à relíquia, é sua descoberta "física" em 1º de fevereiro de 1492. Ela foi colocada em uma caixa de chumbo com os três selos do cardeal Gerardo Caccianemici - o futuro Papa Lúcio II (1144-1145) e murada em um nicho no cume do arco triunfal da basílica. Sua colocação ali data, portanto, da época em que o transepto da basílica foi construído. Por que a tábua foi colocada ali? A localização, o cume do arco triunfal, sugere seu profundo valor simbólico: no centro da basílica, no ponto mais alto de sua arquitetura.

O Debate sobre a autenticidade

Sobre a autenticidade ou não da tábua, desenvolveu-se um debate que suporta teses opostas: por um lado, a negação da originalidade do achado, através dos resultados da análise radiocarbônico realizada em 2002, que colocaria a tábua num período tardio, entre os séculos 10 e 12. A segunda tese a considera genuína ou pelo menos uma cópia fiel de um período contemporâneo da morte do Senhor, com base em certas evidências, como os caracteres paleográficos que podem ser traçados até o século I d.C.

Certas discrepâncias, como a correspondência não exata com as palavras dos Evangelhos, destacariam uma escrita "de primeira mão" e a evidência de Nazarinus em vez de Nazarenus no latim seria um erro que um falsificador nunca teria cometido. Os defensores da autenticidade do titulus também contestam como a análise C14 deve obedecer a uma série de condições que não são válidas para a tábua, que também traz os traços biológicos dos muitos peregrinos que a tocaram e beijaram, a ponto de consumir parte da escrita. Alguns estudos acreditam, entre outras coisas, que ela não seja íntegra, mas parte de uma inscrição mais longa, e que de fato parte dela permaneceu em Jerusalém junto com parte da cruz, e mais tarde foi dispersa. Esta hipótese, por outro lado, é contrariada por alguns estudiosos que consideram a da Basílica de Santa Croce íntegra e completa no seu significado.

Uma sepultura real

Entre os principais estudiosos a favor da autenticidade do titulus estava Maria Luisa Rigato, professora da Universidade Gregoriana, que reafirmou sua autenticidade com base na análise paleográfica, que vê as letras como correspondendo perfeitamente àquelas em uso no primeiro século. A acadêmica também apresenta uma hipótese verdadeiramente sugestiva, mas plausível: que o titulus foi colocado na sepultura de Jesus. A partir de pistas, como a pedra que fechava o sepulcro, a tumba era grande, do tipo câmara. O corpo de Jesus foi ungido com unguentos preciosos. O lençol, que a devoção reconhece no Sudário, é um pano precioso e certamente não é usado para os defuntos comuns. Trata-se duma sepultura real que corrobora, segundo Rigato, a autenticidade total da tábua que Pilatos havia colocado sobre a cruz.

A Capela das relíquias

Até 1930, as relíquias foram mantidas na capela subterrânea de Santa Helena, que passou por muitas restaurações e renovações com a ajuda de grandes artistas como Baldassarre Peruzzi, Giuliano da Sangallo, Pomarancio e Rubens. A capela foi considerada sagrada no mesmo nível do Sanctorum de São João de Latrão. A terra do Calvário trazida pela imperatriz foi colocada bem em frente à capela. A difícil acessibilidade da sala e sua umidade forçaram as relíquias a serem deslocadas para outro local. A capela de hoje foi criada a partir da sacristia no final do corredor esquerdo, projetada por Florestano Di Fausto. Inaugurada em 1930 e concluída em 1952, ela cria um caminho marcado pelas etapas da Paixão que culmina diante dos três fragmentos da Cruz, o titulus, um prego e parte da coroa de espinhos, assim como outras relíquias menores acrescentadas em épocas posteriores.

Santo Albino

Santo Albino | arquisp
01 de março

Santo Albino

Albino nasceu no ano 469, no seio de uma família cristã, que se encontrava em ascensão social e financeiramente, também pertencia à nobreza de Vannes, sua cidade natal, na Bretanha. Era uma criança reservada, inteligente, pia e generosa. Ao atingir a adolescência manifestou a vocação pela vida religiosa. Por volta dos vinte anos ordenou-se monge e cinco anos depois era escolhido, pela sua comunidade, o abade do mosteiro de Tintilante, também conhecido como de Nossa Senhora de Nantili, próximo de Samour.

Durante mais vinte e cinco anos exerceu seu ministério, mantendo-se fiel aos preceitos da Igreja, trabalhando para manter a integridade dos Sacramentos e das tradições cristãs. Nesse período, todas as suas qualidades humanas e espirituais afloraram, deixando visível uma pessoa especial que caminhava na retidão da santidade. Fez-se o pai e irmão dos pobres, dos humildes, dos perseguidos e dos prisioneiros. Tanto que foi eleito, para ocupar o posto de bispo de Angers, pelo clero e pela população, num gesto que demonstrou todo amor e estima do seu imenso rebanho.

Nesse posto trabalhou incansavelmente pela moralização dos costumes, contra os casamentos incestuosos que se tornavam comuns naquela época, quando os ricos da corte tomavam como esposas as próprias irmãs ou filhas. Para isso convocou os concílios regionais de Órleans em 538 e 541, participando em ambos ativamente, arriscando a própria vida. Mas com o apoio da Santa Sé adquiriu novo fôlego para prosseguir na difícil e perigosa campanha de moralização cristã. Depois no de 549, se fez representar pelo seu discípulo e sucessor, o abade Sapaudo.

A tradição lhe atribui algumas situações prodigiosas e cobertas pela graça da Divina Providência, como a abertura das portas da prisão, a libertação dos encarcerados e muitos outros divulgados entre os fieis devotos.

Albino morreu no primeiro dia de março de 550 e foi sepultado na igreja de São Pedro em Angers. Devido o seu culto intenso já em 556 foi dedicada à ele uma igreja, na qual construíram uma cripta para onde seu corpo foi transladado. Ao lado dessa igreja foi criado um mosteiro beneditino, cujo primeiro abade foi seu discípulo Sapaudo.

Contudo, as relíquias do bispo Albino encontraram o repouso definitivo na catedral de São Germano em Paris, no ano 1126, quando o seu culto já atingira, além da França e Itália, também a Alemanha, Inglaterra, Polônia e vários países do Oriente.

Com justiça, Albino foi considerado um dos santos mais populares da Idade Média, que atingiu a Modernidade através da vigorosa devoção dos fiéis, reflexo de seu exemplo de moralizador. A festa litúrgica de Santo Albino é comemorada no dia de sua morte.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF