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terça-feira, 30 de maio de 2023

Os idosos e a acolhida

Fotografija je simbolična | Halfpoint | Shutterstock

O ponto importante é que os velhos não sejam “descartados”, esquecidos e abandonados num asilo, nas mãos de um cuidador ou até mesmo num cômodo da casa, no qual pouco vamos.

As mudanças culturais e no perfil demográfico das populações, no mundo inteiro, tem tornado a velhice um problema social. É notório que vivemos cada vez mais, aumentando o período em que vivemos de aposentadorias, impactando o sistema previdenciário dos países. Por outro lado, famílias cada vez menores contam com menos filhos adultos para compartilharam os cuidados com seus pais. Por fim, numa sociedade cada vez mais individualista e autocentrada, onde o trabalho nos consome cada vez mais, a própria atenção dada aos idosos se torna um peso cada vez maior.

O valor dos idosos na família

O Papa Francisco dedica uma parte da encíclica Amoris laetitia (AL 48, 191-193) justamente para refletir sobre o papel dos idosos na família e falou em duas belas audiências sobre os desafios, o valor e a importância dos avós no seio das famílias (4 de março e 11 de março de 2015).

Na primeira, citando Bento XVI, observa: “A qualidade de uma sociedade, gostaria de dizer de uma civilização, julga-se também pelo modo como se tratam os idosos e pelo lugar que lhes reservam na vida comum. É verdade, a atenção aos idosos distingue uma civilização. Numa civilização presta-se atenção ao idoso? Há lugar para o idoso? Esta civilização irá em frente se souber respeitar a sabedoria, a experiência dos idosos. Numa civilização em que não há espaço para os idosos ou onde eles são descartados porque criam problemas, tal sociedade traz em si o vírus da morte”.

Contudo, na prática, as situações nem sempre correspondem a esse ideal. Limitações físicas e psíquicas dos idosos, traumas e mágoas do passado, dificuldades financeiras e varga de trabalho são impedimentos reais a uma atenção maior aos idosos. A “família extensa” do passado, na qual avós, tios, primos e agregados (pessoas adotadas ou amigos muito próximos) colaboravam juntos no cuidado dos idosos, dos doentes e das crianças, é cada vez mais rara. Na “família nuclear”, o pai e a mãe estão cada vez mais sozinhos diante da responsabilidade de cuidar não só dos filos, mas também dos idosos e até de parentes com doenças graves.

Muitas formas de cuidar

As formas de se lidar com essa situação são variadas, nenhuma isenta de dificuldades, particularmente quando se somam limitações físicas e econômicas dos idosos. Algumas famílias repartem o ônus do cuidado entre os jovens: uns cuidam do idoso em suas casas enquanto outros ajudam com os custos com saúde, sempre elevados. Quando as limitações físicas são maiores e a situação financeira permite, cuidadores profissionais podem permitir que o idoso permaneça em sua residência e/ou continue próximo da família. Casas de repouso e similares podem se tornar alternativas interessantes, mas quem cuida com carinho de seus idosos sabe que esses locais não eximem os mais jovens de uma série de trabalhos, como selecionar uma casa adequada, fiscalizar os serviços prestados, fazer visitas periódicas para que o idoso não se sinta abandonado etc. Isso tudo sem falar nos custos, que podem ser altíssimos…

Gostaria de deixar claro que esse artigo não quer “recomendar” uma forma ou outra de acompanhamento ao idoso. Cada família tem suas limitações e seus recursos, devendo cuidar dos velhos em função disso. O ponto importante é que os velhos não sejam “descartados”, esquecidos e abandonados num asilo, nas mãos de um cuidador ou até mesmo num cômodo da casa, no qual pouco vamos.

A acolhida nos ajuda a sermos mais cristãos

Uma associação italiana, Famílias para a Acolhida, se dedica justamente a acompanhar famílias que se dedicam às mais variadas experiências de acolhida – adoção, guarda, hospedagem, cuidado de anciões e doentes. Na sua versão mais “radical”, a família prepara um quarto de hospedes que será ocupado pela primeira pessoa que necessitar, seja um viajante, um órfão, um ancião ou um doente. O grupo, contudo, se dedica também famílias que se propõem à adoção, que tem idosos ou doentes e precisam de acompanhamento.

Um dos coordenadores dessa associação me explicou que haviam aprendido que a acolhida àquele que necessita é a melhor forma de evitar o “aburguesamento” das famílias e de seus filhos. Esse termo, hoje em dia, precisa ser explicado. “Aburguesamento” é a tendência, dominante em nossa sociedade, de se deixar levar pelo comodismo e pelo individualismo, pela perda de qualquer ideal que não seja o próprio sucesso financeiro, pela redução do amor a uma troca de afetos que se abandona quando o outro parece não nos corresponder mais. O aburguesamento, assim entendido, é o maior perversor de uma família cristã – e o mais difícil de ser combatido, pois esconde-se em todas as situações e contextos, inclusive quando se procura fazer o bem e infundir bons valores aos jovens.

Ao encontrar uma pessoa acolhida em sua casa, dizia esse meu amigo, as crianças entendem naturalmente, pela observação de uma situação concreta, que não são o centro do mundo, que existem outras pessoas que sofrem mais do que elas e que precisam de apoio, aprendem a tolerância em relação ao outro e descobrem a alegria que vem de doar-se a outro. Tudo isso, que em seu caso refere-se a uma experiência profundamente radical, vale para qualquer uma de nossas famílias, quando acolhemos nossos idosos e doentes, nossos parentes e amigos em dificuldade.

Cuidar do idoso é bom também para nós

Cuidar de um idoso (seja lá qual for a modalidade possível e necessária na vida de cada um de nós) não é diferente de adotar uma criança ou mesmo criar o próprio filho. Nos três casos, o sucesso depende da nossa pouca expectativa. Não é justo (ainda que seja compreensível) esperar deles um retorno, pois fazemos para o bem deles e não para o nosso. Toda expectativa, seja de reconhecimento, seja de colaboração, acaba gerando frustração e dificultando a convivência. Além disso, não fazemos por retribuição ao que aconteceu no passado (em alguns casos, nem mesmo temos boas recordações daquelas pessoas). Fazemos porque tem que ser feito agora, porque percebemos que – de alguma forma – o sofrimento deles seria doloroso também para nós.

Quando cuidamos de um outro, seja um idoso, um doente ou uma criança, temos que aprender a sair de nós mesmos, olhar para o outro e reconhecer que, naquele momento, o importante é o bem dele – e não o nosso. Não é fácil, é um aprendizado, mas é fundamental para nossa relação entre esposos, com filhos, colegas de trabalho, alunos etc. Ninguém é feliz se não consegue sair de si mesmo. O autocentrismo é como uma trepadeira parasita que vai crescendo sobre outra planta, asfixiando-a. Para cuidar deles, temos que nos afastar do autocentramento e assim aprendemos a ser mais felizes e a ser uma companhia melhor para todos aqueles que amamos

O gesto de cuidar exercita em nós a virtude da ternura – e a ternura tem um curioso mecanismo de “retroalimentação”. Quanto mais ternura damos, mais ternura recebemos – não do outro, mas de nós mesmos. O coração terno se alimenta a si mesmo, sem precisar de retribuição. Então, diante das dificuldades inevitáveis no cuidado com o outro, se a raiva pelos aborrecimentos é maior que a ternura dispensada, ganha a raiva e o aborrecimento; se a ternura fala mais alto que a raiva, ganha a ternura, e ela nos recompensa.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Peregrinos da esperança

Peregrinos da esperança - Jubileu 2025 | Vatican News

PEREGRINOS DA ESPERANÇA

Dom Dirceu de Oliveira Medeiros
Bispo de Camaçari (BA) 

“Todo escriba (…) é semelhante a um homem que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.” (Mt 13, 52) 

O Concílio Vaticano II nos ensinou a ler os sinais dos tempos, sempre a partir da Palavra de Deus e com o olhar do Cristo Ressuscitado. É preciso sempre partir de Cristo, a Palavra Encarnada do Pai. 

Se é verdade que precisamos ter um olhar na direção do céu, pois somos cidadãos do céu, também é verdade que é preciso ler a realidade com os óculos da fé. O cenário que se descortina diante de nós é cada vez mais desafiador. As pesquisas têm revelado o aumento do número dos chamados “descrentes”, sem Igreja e etc.  

Como repropor a beleza do Evangelho e ungir tais pessoas com o óleo da alegria? O grande areópago que se revela a nós hoje é composto por essa realidade e pelo mundo virtual. Ainda não somos capazes de transitar por esse terreno, as vezes fértil e as vezes pantanoso. 

Mas o que mais salta aos olhos é constatar que as mudanças em curso apontam para algo muito mais estrutural que conjuntural. Não se trata de mudanças em aspectos secundários ou de menor relevância, mas uma mudança profunda que trará algo novo, certamente com aspectos favoráveis e desfavoráveis à fé. Sabiamente as diretrizes da Igreja tem falado em mudança de época e não em época de mudanças. Destacaria em particular três novos dados que marcam nossa época e em pouco tempo. A velocidade das mudanças tem sido cada vez mais acelerada. Há quem afirme que a tecnologia está evoluindo mais rápido do que a capacidade humana. 

Mas voltemos aos três novos dados que impactaram a todos nós e, consequentemente a Igreja e o desafio da Evangelização. Primeiramente o crescimento de um extremismo político que gerou uma polarização sem precedentes e crescente na sociedade. Esse extremismo veio acolitado de um abandono do razoável ou da razão. Este irracionalismo se veste de negacionismo. O segundo aspecto que emergiu em tão pouco tempo é a força das redes sociais e novas tecnologias que se tornaram um lugar, que por um lado é um recurso, mas por outro, um desafio à convivência humana e a Evangelização. Por fim, a pandemia, que impactou a humanidade em todos os aspectos: econômico, social, psicológico e outros. Não devemos subestimar suas consequências.  

Ao convocar o Jubileu do Ano de 2025, o Papa Francisco, em sua carta ao Prefeito para o Dicastério para a Nova Evangelização, considera o impacto da pandemia e diz: “Mas, nos últimos dois anos, não houve nação que não tenha sido transtornada pela inesperada epidemia (…) O próximo Jubileu poderá favorecer imensamente a recomposição dum clima de esperança e confiança, como sinal dum renovado renascimento do qual todos sentimos a urgência. Por isso escolhi o lema Peregrinos de esperança.” 

Atendamos ao apelo do Santo Padre, profeta da Esperança e desde já nos preparemos!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Arquidiocese de Brasília realiza tradicional Festa de Corpus Christi na Esplanada dos Ministérios

 

Festa de Corpus Christi | arqbrasilia

No próximo dia 08/06, quinta-feira, a Arquidiocese de Brasília realizará a tradicional Festa de Corpus Christi na Esplanada dos Ministérios.

Com programação durante todo o dia, a Solenidade é celebrada, na Arquidiocese, neste formato, há 45 anos, contando com a participação de milhares de fiéis que se dirigem ao centro da Capital Federal para louvar e bendizer a presença do Senhor no Santíssimo Sacramento.

As atividades começam por volta das 6h da manhã com a montagem do tapete no gramado central da Esplanada dos Ministérios realizada por alguns movimentos e serviços da Arquidiocese, bem como alguns grupos de jovens. Durante toda a manhã os fiéis presentes na montagem se vezam na confecção das artes, animação com músicas e oração para preencher diversos quadros com temáticas religiosas feitas de serragem, borra de café, sal e outros materiais. Por este tapete passará, na procissão, o Santíssimo Sacramento levado pelo Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa.

Na parte da tarde, diversos padres atenderão confissões na tenda montada atras do palco onde será celebrada a Santa Missa. Às 16h começam os ensaios dos cantos da celebração e a animação dos fiéis que chegarão à Esplanada das diversas cidades do Distrito Federal. Às 16h45, a procissão de entrada da Celebração sai em direção ao palco, contando com a participação dos seminaristas, todo o clero e os bispo sob a presidência do Arcebispo de Brasília, Cardeal Paulo Cezar Costa.

Após a Santa Missa, acontecerá a tradicional procissão com o Santíssimo Sacramento que percorrerá o quadrilátero da Esplanada dos Ministérios de frente para a Catedral. Nesta procissão, onde o Santíssimo Sacramento é levado no papamóvel que foi usado na visita de São João Paulo II a Brasília, são dadas três bênçãos: aos doentes, aos governantes e às famílias.

São esperadas 70 mil pessoas nesta grande celebração de fé na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. Um esquema especial de segurança, bem-estar, além do transporte público está sendo preparado para bem acolher os fiéis que se dirigem à Esplanada para a Celebração. Acompanhe o portal e as redes sociais da Arquidiocese para mais informações.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

O anúncio missionário não é proselitismo, diz o papa Francisco

O papa Francisco recebeu os Clérigos Regulares da Ordem de São Paulo ontem (29) / Vatican Media)

Por Ary Waldir Ramos Díaz

Vaticano, 29 Mai. 23 / 03:58 pm (ACI).- “O anúncio missionário não é proselitismo”, disse o papa Francisco ao receber hoje (29) os membros dos Clérigos Regulares de São Paulo, conhecidos como Padres Barnabitas.

No Palácio Apostólico do Vaticano, o papa saudou os três colégios formados por padres, religiosas e leigos que seguem o carisma de santo Antônio Maria Zaccaria, idealizador da festa "A Adoração das 40 horas", por ocasião dos 125 anos de sua canonização.

O papa confirmou que, na experiência do próprio são Zaccaria, que foi médico e padre italiano, a base da missão é “correr para Deus” e manter “uma forte relação com o Senhor Jesus”. E disse: “Sem isso, nada temos a anunciar, nem um destino para o qual caminhar juntos”.

“Eu tive uma experiência ruim com isso em um encontro de jovens alguns anos atrás”, contou o papa Francisco.

“Saía da sacristia e havia uma senhora, muito elegante, dava para ver também que era muito rica, com um menino e uma menina. E esta senhora, que falava espanhol, disse-me: ‘Padre, estou feliz porque converti estes dois: este vem de tal lugar e esta vem de tal outro’", continuou o papa.

“Eu fiquei chateado e lhe disse: ‘Não converteste nada, faltaste com o respeito com essa gente: não os acompanhou, fez proselitismo e isso não é evangelizar’. Ela estava orgulhosa por ter convertido! Tenham o cuidado de distinguir bem a ação apostólica do proselitismo: nós não fazemos proselitismo. O Senhor nunca fez proselitismo", disse.

O papa Francisco tomou como referência “uma expressão característica de santo Antônio Maria para convidar à criatividade na evangelização: ‘Vocês devem correr como loucos! Correr para Deus e para os outros’”.

Desta exortação tipicamente paulina, o papa destacou “a relação com Cristo, o zelo apostólico e a coragem criativa”.

“Correr para os outros”, disse o papa, “é fundamental”. “Se perdemos de vista o horizonte do anúncio em nossa vida de fé, acabamos por nos fechar em nós mesmos” e nas “terras desérticas da autorreferencialidade”, continuou.

“É como um atleta que se prepara continuamente para a grande corrida de sua vida sem partir jamais. Assim, cedo ou tarde começa a se deprimir, o entusiasmo desaparece. E assim se torna um discípulo triste”, disse.

“Não queremos nos tornar discípulos tristes”, disse o papa e perguntou: “Esse verme de tristeza está dentro de mim? Às vezes em mim, religioso, secular, deixo entrar aquele verme?”.

Ele também lembrou "que um cristão triste é um triste cristão". “Mas a tristeza não deve entrar em nós, consagrados, e se alguém sentir essa tristeza, dirija-se imediatamente ao Senhor e peça luz e peça a algum irmão ou irmã para ajudá-lo a sair dela”, acrescentou.

“Jesus pede aos seus discípulos que anunciem o 'Evangelho a toda criatura' (Mc 16, 15); e são Paulo o segue: 'Ai de nós se não anunciarmos a Cristo!'”, disse.

Francisco os exortou a ir na direção indicada pelo carisma: “Levar por toda a parte o Espírito vivo de Cristo", que "conquista o coração" e é aquele que "não te faz permanecer sentado numa poltrona, mas te faz sair ao encontro dos irmãos”.

“Santo Antônio Maria teve essa coragem, dando vida a instituições novas para o seu tempo” e “fê-lo dentro” da Igreja, “aceitando correções e advertências” e “guardando a comunhão na obediência”, disse o papa.

Francisco falou de um último valor: “Fazer junto. Com efeito, a comunhão na vida e no apostolado é de fato o primeiro testemunho que sois chamados a dar, sobretudo num mundo dividido por lutas e egoísmos”.

“Queridos irmãos e irmãs: ‘Corram como loucos, para Deus e para os outros, mas juntos!' E que a Virgem, que se apressou em socorrer Isabel, os acompanhe. Eu os abençoo de coração. E, por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Obrigado", concluiu.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Santa Joana d’Arc: virgem e intrépida guerreira

Estátua de Joana d'Arc em Paris | Guadium Press

A Igreja celebra hoje, 30 de maio, o martírio de Santa Joana d’Arc. Dotada por Deus de um altíssimo chamado, a pequena pastora de Domremy não mediu esforços para cumprir a vontade Divina, a ponto de ser, por este motivo, perseguida, caluniada e martirizada.

 Redação (30/05/2022 08:34, Gaudium Press) Santa Joana d’Arc nasceu provavelmente em 1411, ou talvez 1412, em Domremy, cidade do interior da França. Segundo uma piedosa tradição, veio à luz na noite da Epifania, a 6 de janeiro. Filha de Jacques d’Arc e Isabel, católicos e possuidores de boa reputação, foi educada desde a mais tenra infância na prática da Lei de Deus. Segundo testemunhas de sua época, gostava de ir à Igreja e de confessar-se. Sempre que tinha condições, dava esmolas aos pobres. Em geral, passou a infância pastoreando animais, o que fazia com muito agrado. Em nada se distinguia das jovens de sua idade. Entre os seus mais próximos, era conhecida como Jeannette, a pequena Joana.

Porém, a partir dos treze anos, alguns fatos mudarão a vida da pequena pastora: Deus passa se comunicar com ela por meio de aparições sobrenaturais. Desde então, via e ouvia São Miguel Arcanjo, Santa Catarina e Santa Margarida, os quais, ao longo de três anos, preparam-na para o cumprimento da missão que lhe estava destinada: libertar a França do poder dos ingleses, e fazer com que Carlos VII fosse sagrado rei.

Fiel ao chamado de Deus, Joana partiu pressurosa para a cidade de Chinon, a fim de cumprir as ordens Divinas.

Azulejo de Joana d'Arc | Guadium Press

Tinha tão somente 16 anos, quando o rei Carlos lhe confiou o comando de uma brigada; a ela que desconhecia por inteiro as leis da guerra… Em oito dias, no fim do mês de maio, a jovem guerreira encerrou o cerco de Orleans, cidade sitiada havia sete meses, obrigando os ingleses a debandarem. E, no seguinte mês, julho, após tantos esforços por ela por ela empregados, Carlos VII, em Reims, foi sagrado rei da França.

O calvário

Contudo, após tantos êxitos, fatos aparentemente inexplicáveis darão início ao seu “calvário” que durará quase dois anos: o rei, que tanto a amparava e protegia, abandona-a à sorte dos inimigos. Se isto não bastasse, no dia 23 de maio de 1430, ela foi capturada e feita prisioneira, sendo vendida cinco meses depois aos ingleses. Começam então as maquinações.

Procuram de todos os modos matá-la, mas necessitam conservar aparências de legalidade, pois um prisioneiro de guerra não pode ser levado à força para morte. Nisto, põem-se de acordo com o bispo local, Pierre Cauchon, e julgam-na por “heresia”, “bruxaria” e “idolatria”.

Todavia, primeira ilegalidade: Santa Joana esteve sempre mantida prisioneira pelos ingleses, e jamais colocada numa prisão da Igreja custodiada por mulheres, como pediria um mínimo de respeito pela sua condição feminina, e pelo tipo de “processo” que simularam contra ela.

Com efeito, inúmeras vezes a pucelle, a virgem – como era conhecida até entre seus inimigos – se queixará por estar agrilhoada e vigiada dia e noite por grupos de cinco soldados que a odiavam. Em várias ocasiões, foi agredida pelos carcereiros com a intenção de atentar contra seu pudor. Nada disso, contudo, moveu a compaixão dos eclesiásticos.

Deste modo, traída, presa e repudiada por aqueles mesmos que ela defendia, é julgada “em nome da Igreja” por um bispo, coadjuvado de um cardeal e mais de 120 clérigos, os quais põem-se a serviço de interesses alheios à salvação das almas, submetendo-se aos invasores ingleses, para perder a inocente Joana.

Contra Santa Joana d’Arc, utilizaram todos os recursos que a impostura pode conceber, chegando até a se atentar contra o sigilo de confissão, em vistas a obter alguma acusação digna de crédito, que os permitisse conduzir a virgem de Domremy à fogueira. Não faltaram falsificação de documentos, maquinações para atentar contra sua virgindade, ameaças de tortura e outras crueldades.

Além disso, ao longo do processo, os esbirros muitas vezes “omitiram” as noções básicas do direito natural. Certa vez, Jean Beaupère, um dos mais arditi pela morte de Joana, compareceu ante ela com o bispo Couchon, e indagou-lhe: “Sabes se estás na Graça de Deus?”. Cabe recordar um célebre adágio da Santa Madre Igreja que diz: “De internis non iudicat Ecclesia”. Isto é, sobre a consciência, nem mesmo a Igreja julga. Entrementes, inspirada pelas vozes celestes que sempre a auxiliavam, Joana respondeu: “Se não estou, que Deus ma conceda. Se estou, que nela me conserve! Eu seria a pessoa mais infeliz do mundo se soubesse não estar na Graça de Deus”.

A execução

Joana d'Arc | Guadium Press

Todavia, por quê tamanho ódio suscitado contra uma jovem de 19 anos, a qual, aos olhos dos homens, como descreve Régine Pernoud, “era ela uma simples mulher que, na guerra, se mostrava mais experimentada que um capitão, uma camponesa ignorante que agia como se soubesse mais do que esses doutores possuidores da chave da ciência, uma mocinha de menos de vinte anos que pretendia ser fiel às suas visões”?!

Mas a sanha do mal não poupou esforços. Joana foi em seguida excomungada e condenada à morte no dia 30 de maio de 1430, na Praça do Mercado Velho, de Rouen (França). Antes de sua morte, porém, sucedeu-se algo inexplicável: ela, que estava excomungada, pediu para se confessar e comungar, e foi atendida em ambos os pedidos.

No dia de sua execução, todos os que desejavam assistir sua morte compareceram à praça. Mais de 800 soldados, com lanças e machados de guerra, asseguravam a tranquilidade da execução. A multidão toda presenciou a lenta e dolorosa morte da virgem imaculada, sobre cuja cândida testa puseram um chapéu de irrisão com os dizeres: “herética, apóstata, relapsa, idólatra”.

Impertérritos, ouviram-na exclamar diversas vezes, “Jesus! Jesus” Jesus!” “As vozes não mentiram!”. Após pronunciar pela última vez o nome de “Jesus”, entregou sua alma a Deus; e, segundo o depoimento de uma testemunha insuspeita (um soldado inglês que a odiava), ao exalar o último suspiro, uma pomba branca saiu de seu corpo em direção ao céu. Suas cinzas foram lançadas ao rio, juntamente com seu coração, ainda incorrupto e latejante.

O que aconteceu aos perseguidores?

Entretanto, a mão de Deus se abateu sobre os que perseguiram sua enviada: aqueles que foram culpados por sua morte, em poucos dias foram chamados a prestarem contas diante do Criador.

Os três principais fautores conheceram um trágico fim: Cauchon, morreu subitamente enquanto lhe faziam a barba; D’Estivet, íntimo amigo de Cauchon, o promotor da causa, desapareceu misteriosamente, e seu cadáver foi encontrado num esgoto; Nicolas Midy, foi atingido pela lepra pouco tempo depois do processo, teve de abandonar os benefícios que seu “devotamento” lhe proporcionara, e, comido pela sua doença, morrer num leprosário.

Morte súbita, morte ignorada, morte de lepra. Trágico fim terreno dos que, mundanamente, pensaram ter apagado o nome da enviada de Deus das linhas da história. Ela figura no catálogo dos santos. Eles, unicamente, nas sinistras páginas dos êmulos de Judas.

A Santa Igreja, contudo, pelas mãos de seus fiéis ministros, vinte anos mais tarde, declarará a inculpabilidade da virgem de Domremy. E, 500 anos depois, Bento XV reconhecerá sua santidade de vida, incluindo-a no catálogo dos Santos.

Por Guilherme Maia


Cf. PERNOUD, Régine. Vie et mort de Jeanne d’Arc. Paris: Hachette, 1953.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Por que o Pentecostes é considerado o aniversário da Igreja?

Stefano_Valeri | Shutterstock | Representação do Espírito Santo como pomba

Por Philip Kosloski

O derramamento do Espírito Santo sobre os apóstolos completa o mistério pascal.

O Pentecostes marca o aniversário oficial da Igreja Católica, já que o derramamento do Espírito Santo sobre os apóstolos completa o mistério pascal, conforme explica o Catecismo da Igreja Católica:

No dia de Pentecostes (no termo das sete semanas pascais), a Páscoa de Cristo completou-se com a efusão do Espírito Santo que Se manifestou, Se deu e Se comunicou como Pessoa divina: da sua plenitude, Cristo Senhor derrama em profusão o Espírito.

Neste dia, revelou-Se plenamente a Santíssima Trindade. A partir deste dia, o Reino anunciado por Cristo abre-se aos que n’Ele crêem. Na humildade da carne e na fé, eles participam já na comunhão da Santíssima Trindade. Pela sua vinda, que não cessará jamais, o Espírito Santo faz entrar no mundo nos «últimos tempos», no tempo da Igreja, no Reino já herdado mas ainda não consumado: «Nós vimos a verdadeira Luz, recebemos o Espírito celeste, encontrámos a verdadeira fé: adoramos a Trindade indivisível, porque foi Ela que nos salvou» (Catecismo, nº 731-732).

Pentecostes é o dia em que são inaugurados os sacramentos da Igreja, especificamente o sacramento do batismo:

Uma vez que o Espírito Santo é a unção de Cristo, é Cristo, a Cabeça do corpo, quem O derrama nos seus membros para os alimentar, os curar, os organizar nas suas mútuas funções, os vivificar, os enviar a dar testemunho, os associar à sua oferta ao Pai e à sua intercessão pelo mundo inteiro. É pelos sacramentos da Igreja que Cristo comunica aos membros do seu corpo o seu Espírito Santo e santificador (Catecismo, nº 739).

A Igreja pode agora cumprir a sua missão com a ajuda e a assistência do Espírito Santo.

São Pedro não perdeu tempo neste aniversário da Igreja e começou batizando 3.000 pessoas!

Pentecostes é, por muitos e profundos motivos, um dos mais belos e festivos dias do calendário litúrgico da Igreja Católica!

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Santo Agostinho e a Redenção Geral

Santo Agostinho | formacao.cancaonova

Santo Agostinho e a Redenção Geral

Alessandro Lima 23 de janeiro de 2023 

Por Jadson Targino

Introdução

Ao longo da história, teólogos da tradição protestante reformada (também conhecidos como “calvinistas”) têm afirmado uma doutrina conhecida como Expiação Definida. Segundo tal ensino, Nosso Senhor Jesus Cristo teria morrido apenas para obter a salvação dos eleitos (ou “predestinados”). Em outras palavras, segundo eles, Jesus morreu apenas para redimir aquele grupo limitado ou definido de pessoas que, por fim, salvar-se-á, sem ter feito qualquer provisão que possibilite a salvação dos não predestinados.

David Gibson e Jonathan Gibson, dois pastores e teólogos calvinistas responsáveis por organizar o maior livro em defesa dessa doutrina na atualidade, nos lembram que tal ensinamento adotado pelas denominações calvinistas, também recebe outros nomes e confirmam que a entendemos corretamente: “Comumente chamada de ‘expiação limitada’ ou ‘redenção particular’, essa é uma doutrina das igrejas reformadas tratada carinhosamente como uma profunda explicação da morte de Cristo… A explanação oferecida… vê a expiação através das lentes da eleição e, portanto, [em] como [ela] tenciona salvar [somente] um grupo específico de pessoas” (Do Céu Cristo Veio Buscá-la, São José dos Campos: Editora Fiel, 2017, p. 62 [versão digital]).

É um ensino que parece claramente afirmado no Sínodo de Dort (1618-1619), um símbolo de grande importância para a fé calvinista histórica: “Isto quer dizer que foi da vontade de Deus que Cristo por meio do sangue na cruz… redimisse efetivamente de todos os povos.. todos aqueles e SOMENTE aqueles que foram ESCOLHIDOS desde a eternidade para serem salvos, e Lhe foram dados pelo Pai” (Cap. II, 8). Repare nos termos utilizados. Conforme tais teólogos reformados, foi da vontade de Deus redimir somente aqueles que foram escolhidos (ou predestinados).

É óbvio que a Igreja Católica condena tal ensino: “[Quanto à doutrina de que Jesus morreu SOMENTE pela salvação dos predestinados] A declaramos… Falsa, temerária, escandalosa, ímpia, blasfema, ultrajante, contrária à divina piedade e herética” (Constituição Apostólica Cum Occasione, Papa Inocêncio X (1653), Denz. 2001-2007). E a grande maioria dos protestantes também rejeita. As Escrituras ensinam claramente que Cristo veio “para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hb 2,9; cf. 2 Co 5,14-15) e que “Ele é a expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2,2), não apenas dos predestinados. Assim, só se perde quem resiste à graça e rejeita a oferta da salvação (At 7,51; 2 Co 6,1; Jo 3,15-36, etc.), e não por ausência de provisão.

Mesmo que tenham elaborado uma obra inteira para provarem o seu ponto, os próprios Gibson reconhecem que “nenhum texto bíblico declara que Cristo morreu somente por seus eleitos, mas vários textos declaram que Ele morreu por todos” (Idem, p. 65). Assim, os calvinistas sabem que são, por razões claras, minoritários no Cristianismo: “Quando falamos em redenção particular [expiação limitada], temos de reconhecer que os pensadores reformados ocupam uma posição minoritária dentro da cristandade… reconhecemos que grandes segmentos da Igreja atual vêem as coisas de modo diferente. A visão oposta à redenção particular é a redenção universal e, se alguém perguntar a católicos romanos informados, membros experientes das comunhões Ortodoxa Grega ou Ortodoxa Russa, ou mesmo luteranos ou arminianos ortodoxos, eles dirão que é nisso que creem… Todas essas pessoas acreditam que Jesus morreu por todos os homens e mulheres e a única coisa que os impede de receber os benefícios de sua morte… É sua descrença ou falta de fé. Aqueles que defendem a posição reformada, afirmam que Jesus morreu por um número seleto de pessoas” (James M. Boice & Philipe G. Ryken, As Doutrinas da Graça, Vida Nova: 2017, p. 131).

Diante do que foi dito, pontuo que uma das estratégias mais utilizadas para dar credibilidade a essa tese teológica tão condenada é a de tentar colocá-la nos escritos de algum Pai da Igreja. Muitos calvinistas tentam imputá-la a Santo Agostinho, como é o caso de Michael Haykin, que afirma haverem nele “fortes alusões de uma expiação definida” (Do Céu Cristo Veio Buscá-la, São José dos Campos: Editora Fiel, 2017, p. 153 [versão digital]). Todavia, demonstrarei como não somente o bispo africano e Doutor da Igreja a rejeitou, como a utilizou como recurso retórico contra os hereges pelagianos, estando assim em plena harmonia com o ensino da Igreja Católica.

Desenvolvimento

Santo Agostinho claramente afirmou que toda “a raça humana devia, em um determinado momento, ser redimida pelo precioso sangue”¹ de Jesus (In Evangelium Ioannis Tractatus, VII, 6) e que como “todos [os homens], sem exceção estavam mortos… por todos os mortos, ali morreu o único sem pecado” (A Cidade de Deus. Livro XX, Cap. VI, [1]), não somente pelos predestinados. Além disso, ensinou que Cristo “com justiça julgará o mundo; não uma parte dele, por que não comprou só uma parte, julgará o todo, pois foi pelo todo que pagou o preço”[2] (Exposição no livro de SalmosSalmo 96, XV). Perceba: para o Doutor da Igreja, Nosso Senhor julgará o mundo todo porque, pela sua morte, Ele comprou a todos. Julgará o todo, afinal por causa do todo pagou o preço. Cristo, o “Redentor veio e pagou um preço; derramou o seu sangue e comprou o mundo inteiro”[3] (idem, V).

Sendo assim, se Jesus obteve a redenção de todos na Cruz, comprando-os, por que nem todos se salvam? Santo Agostinho respondeu: “O Deus misericordioso, querendo libertar a todos os homens desta morte, isto é, das eternas penas, com a condição de que não queiram se tornarem em inimigos de si mesmos e não resistam à sua misericórdia, nos enviou seu Filho unigênito” [4] (De Catechizandis Rudibus, XXVI, 52). Em outras palavras, embora Deus tenha tomado a iniciativa, se requer de nossa parte que cooperemos, não resistindo à oferta da graça de Deus. Como nem todos cooperam, se perdem; afinal, como ensina o famoso bispo africano: “O Deus que te criou sem ti, não te salvará em ti” [5] (Sermão 169, XI). Em outra passagem, Sto. Agostinho confirma essa compreensão de sua doutrina: “Portanto, no que diz respeito ao médico, ele vem para curar os enfermos. Aquele que não quer obedecer às recomendações do médico tira sua própria vida. O Salvador veio ao mundo: por que Ele foi chamado de Salvador do mundo, senão para salvar o mundo e não para julga-lo? Se você não quer ser salvo por Ele condenará a si mesmo” [6] (In Evangelium Ioannis Tractatus, XII, 12).

Não surpreendentemente, isso está em plena harmonia com a doutrina da Igreja Católica: “Embora tenha Ele [Jesus] morrido por todos (2 Co 5, 15), não obstante nem todos recebem o benefício de sua morte, mas somente aqueles aos quais é comunicado o merecimento de sua Paixão” (Concílio de Trento, Seção VI, cap. 3).

O Catecismo de São Pio X (Perguntas 111 à 113), por sua vez: “Por quem morreu Jesus Cristo? Jesus Cristo morreu pela salvação de todos os homens, e satisfez por todos. Se Jesus Cristo morreu pela salvação de todos, por que nem todos se salvam? Jesus Cristo morreu por todos, mas nem todos se salvam, porque nem todos O reconhecem, nem todos seguem a sua lei, nem todos se servem dos meios de santificação que nos deixou. Para nos salvarmos não basta que Jesus tenha morrido por nós? Para nos salvarmos não basta que Jesus Cristo tenha morrido por nós, mas é necessário que sejam aplicados, a cada um de nós, o fruto e os merecimentos da sua Paixão e morte, aplicação que se faz, sobretudo, por meios dos Sacramentos, instituídos para este fim pelo mesmo Jesus Cristo; e como muitos ou não recebem os Sacramentos, ou não os recebem com as condições devidas, eles tornam inútil para si próprios a morte de Jesus Cristo.”

Santo Tomás de Aquino arremata: “Embora Cristo, por Sua morte, tenha expiado suficientemente os pecados da humanidade [inteira]… cada um deve buscar os meios de sua própria salvação. A morte de Cristo é uma causa universal de salvação, assim como o pecado do primeiro homem foi como uma causa universal de condenação. Agora, uma causa universal precisa ser aplicada a cada indivíduo, para que este tenha sua parte no efeito da causa
universal. Consequentemente, o efeito do pecado de nosso primeiro pai atinge cada indivíduo por meio da origem carnal: e o efeito da morte de Cristo atinge cada indivíduo por meio da regeneração espiritual, pela qual o homem é unido e incorporado a Cristo. Portanto, cada um deve buscar ser regenerado por Cristo
 e receber as outras coisas nas quais o poder da morte de Cristo é eficaz” (Suma Contra os Gentios, Livro IV, cap. 55, 29)

Uma outra via

É também possível por outro caminho demonstrar que o bispo de Hipona não acreditava que Jesus morreu apenas pelos predestinados, mas pela salvação de toda a humanidade, embora alguns se percam por sua própria culpa e resistência à graça.

Embora muitos afirmem que a doutrina segundo a qual Jesus morreu pela salvação de todos os homens seja “pelagiana”, é fato que o próprio Agostinho atribuía a negação de tal ensino a Pelágio. Em outras palavras, o bispo africano acreditava que, na verdade, era Pelágio quem restrigia o alcance da obra redentora de Cristo.

Sto. Agostinho escreveu: “Os pelagianos dizem que Deus NÃO é salvador, libertador e purificador dos homens de todos tempos” [7] .

Conforme Agostinho, o heresiarca britânico argumentava que todo ser humano nasce em inocência, como Adão, até que adquire culpa e, portanto, necessidade de redenção; isso somente ao chegar na idade da razão. Logo, Deus não necessitaria prover redenção para as crianças que Ele já sabia que morreriam prematuras, nesse estado de inocência.

Contra isso, Agostinho e os agostinianos disseram o seguinte: se Cristo morreu por todos sem exceção, logo Ele morreu por todas as crianças (inclusive pelos infantes que morrem antes de alcançar a idade da razão), e, portanto, estas devem ter — em algum sentido — necessidade de graça, misericórdia e redenção.

Eram os pelagianos, segundo a interpretação do próprio bispo de Hipona, que negavam que Jesus era salvador, purificador e libertador para todos, pois eles ensinavam que Jesus não precisava morrer para salvar as crianças que faleciam tenras e inocentes.

Nas palavras de Agostinho: “[Chamamos de pelagianos] aqueles que não atribuem à graça divina aquela liberdade para a qual fomos chamados, e aos que recusam reconhecer Cristo como Redentor das crianças… estes sim, os chamamos de pelagianos, porque participam de seus erros criminosos.” [8]

Além disso, o importante teólogo africano utilizava um argumento interessante para refutar os pelagianos: Ele dizia que se Cristo havia morrido por todos, sem exceção, então Ele morreu por todas as crianças. E isso prova – contra Pelágio – que todas os infantes já nascem contraindo o pecado original, pois precisam de salvação, e, assim também necessitam do batismo. Não há criança sem pecado original, porque não há criança pela qual Jesus não morreu. Argumenta Santo Agostinho:

“Se um morreu por todos, então todos morreram e por todos Cristo morreu (2 Co 5:14)… Agora, se as crianças não estão incluídas nesta reconciliação e salvação, quem as incluirá no batismo de Cristo? Mas se elas são incluídas, então elas [necessariamente] são contadas como entre os mortos por quem Ele morreu; nem poderiam ser reconciliadas e salvas por Ele, a menos que Ele as redima e não lhes impute seus pecados.” [9]

Conclusão

Finalizo, portanto, com as palavras de um especialista em agostinianismo: “Não obstante a veneração de Agostinho pelo mistério gratuito da Predestinação, manteve sua crença na universalidade da vontade salvifica antecedente de Deus. […] Ninguém pode colocar em dúvidas a doutrina de Agostinho com relação à universalidade da redenção. […] Tão incontestável para ele era [o dogma], que se serviu dele [como argumento] para contestar a limitação geográfica da Igreja crida pelos donatistas e a favor da transmissão universal do pecado original contra os pelagianos” (MORIONES, Francisco. Teologia de San Agustin. BAC,p. 318. [Tradução minha]).

Em suma, como a Igreja Católica constantemente tem ensinado, Agostinho acreditava – contra a doutrina da Expiação Limitada calvinista – que havia uma provisão na morte de Cristo para toda a humanidade, e se alguém se perde, não é por falta de provisão, mas porque livre e tristemente decidiu não aplicar a si mesmo, pela fé, arrependimento e sacramentos, os benefícios dessa morte redentora. Essa é a doutrina da Expiação Ilimitada ou Redenção Geral, a fé dos Pais, a nossa fé.

Notas:

1. Em latim, “… quia noverat pretioso sanguine quandocumque redimendum esse genus
humanum”. [Tradução minha]

2. Cf. SCHAFF, Philip (org.). Nicene and Post-Nicene Fathers Series I – vol. 8. Grand Rapids MI:
Christian Classics Ethereal Library, p. 938. Disponível em:
https://www.ccel.org/ccel/s/schaff/npnf108/cache/npnf108.pdf. [Tradução minha]

3. Idem, p. 934. [Tradução minha]

4. Em latim, “A quo interitu, hoc est, poenis sempiternis Deus misericors volens homines liberare,
si sibi ipsi non sint inimici, et non resistant misericordiae Creatoris sui, misit unigenitum Filium
suum…”. [Tradução minha]

5. Em latim, “Qui ergo fecit te sine te, non te iustificat sine te”. [Tradução minha]

6. Em latim, “Ergo quantum in medico est, sanare venit aegrotum. Ipse se interimit, qui praecepta
medici observare non vult. Venit Salvator ad mundum: quare Salvator dictus est mundi, nisi ut
salvet mundum, non ut iudicet mundum? Salvari non vis ab ipso; ex te iudicaberis”. [Tradução
minha]

7. Em latim, “Pelagiani dicunt Deum non esse omnium aetatum in hominibus mundatorem,
salvatorem, liberatorem” (Contra Duas Epistolas Pelagianorum, Liber Secundus, 2.2. Disponível
em: https://www.augustinus.it/…/cont…/contro_pelagiani_2.htm). [Tradução minha]

8. Em latim, “Pelagianus et Caelestianus vocatur, sed qui libertatem in quam vocati sumus, non
gratiae Dei tribuerit; et qui parvulorum liberatorem Christum negaverit; et qui cuiquam in hac vita
iusto aliquam in dominica oratione petitionem, non propter ipsum dixerit necessariam; ipse
huius erroris accipit nomen, quia errore communicat crimen” (Contra Iulianum, Livro III, 1, 2.
Disponível em: http://www.augustinus.it/…/contro_giuliano_3_libro.htm). [Tradução minha]

9. AGOSTINHO. “A Treatise on the merits and forgiveness of sins, and on the baptism of infants”,
Cap. 44. In: SCHAFF, Philip (org.). Nicene and Post-Nicene Fathers Series 1 – vol. 5. Grand

Rapids MI: Christian Classics Ethereal Library, p. 166. Disponível em:
https://www.ccel.org/ccel/s/schaff/npnf105/cache/npnf105.pdf. [Tradução minha]

Fonte: https://www.veritatis.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF