“Em um mundo em chamas, tanto pelo aquecimento global quanto
pelos conflitos armados”, esta Conferência deve se tornar um sinal de
esperança, destacou o Papa Leão na sua mensagem lida pelo cardeal Parolin na
COP30, em Belém. ”Cuidar da criação torna-se uma expressão de humanidade e
solidariedade”.
Silvonei José – Belém
“Se vocês querem cultivar a paz, cuidem da Criação. Existe
uma clara ligação entre a construção da paz e a custódia da Criação”. Assim se
pronunciou o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, ao ler a
mensagem do Papa Leão XIV na 30ª Sessão da Conferência das Partes da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém,
no Brasil. “Se, por um lado, nestes tempos difíceis, a atenção e a preocupação
da comunidade internacional parecem concentrar-se principalmente nos conflitos
entre as nações”, sublinha o Santo Padre na sua mensagem, “por outro lado,
cresce também a consciência de que a paz é ameaçada também pela falta de
respeito pela Criação, pela pilhagem dos recursos naturais e pelo progressivo
declínio da qualidade de vida devido às alterações climáticas”.
Devido à sua natureza global - continua a mensagem do Papa
-, esses desafios colocam em risco a vida de todos neste planeta e, portanto,
exigem cooperação internacional e um multilateralismo coeso e capaz de olhar
para o futuro, que coloque no centro a sacralidade da vida, a dignidade de cada
ser humano dada por Deus e o bem comum.
O Papa Leão na sua mensagem destaca que “infelizmente,
observamos abordagens políticas e comportamentos humanos que vão na direção
oposta, caracterizados pelo egoísmo coletivo, pela falta de consideração pelo
outro e pela miopia.
“Em um mundo em chamas, tanto pelo aquecimento global quanto
pelos conflitos armados”, esta Conferência deve se tornar um sinal de
esperança, através do respeito demonstrado pelas ideias alheias na tentativa
coletiva de buscar uma linguagem comum e um consenso, deixando de lado
interesses egoístas, tendo em mente a responsabilidade uns pelos outros e pelas
gerações futuras”.
Em seguida o Santo Padre recorda que já na década de 1990, o
Papa São João Paulo II destacou que a crise ecológica é “um problema moral” e,
como tal, “evidencia a urgente necessidade moral de uma nova solidariedade,
especialmente nas relações entre os países em desenvolvimento e os países
altamente industrializados.
Os Estados devem mostrar-se cada vez mais solidários e
complementares entre si na promoção do desenvolvimento de um ambiente natural e
social pacífico e saudável”.
O Papa então destaca que “tragicamente, aqueles que se
encontram em situações de maior vulnerabilidade são os primeiros a sofrer os
efeitos devastadores das mudanças climáticas, do desmatamento e da poluição.
Cuidar da criação, portanto, torna-se uma expressão de humanidade e
solidariedade.
Leão XIV afirmou que deste ponto de vista, “é essencial
traduzir as palavras e reflexões em escolhas e ações baseadas na
responsabilidade, justiça e equidade, a fim de alcançar uma paz duradoura,
cuidando da criação e do próximo”.
Além disso, - continuou -, como a crise climática afeta a
todos, as ações corretivas devem envolver governos locais, prefeitos e
governadores, pesquisadores, jovens, empresários, organizações confessionais e
ONGs.
Na sua mensagem à COP30 o Papa Leão destaca ainda que há uma
década, a comunidade internacional adotou o Acordo de Paris, reconhecendo a
necessidade de uma resposta eficaz e progressiva à ameaça urgente das mudanças
climáticas, mas infelizmente - sublinhou -, temos que admitir que o caminho
para alcançar os objetivos estabelecidos nesse Acordo continua longo e
complexo. Exortou então os Estados Partes a acelerarem com coragem a
implementação do Acordo de Paris e da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas.
Uma recordação também do Papa Francisco que 10 anos atrás
assinou a Carta Encíclica Laudato si’, na qual defendia uma conversão ecológica
que incluísse todos, pois “[o] clima é um bem comum, de todos e para todos. Em
nível global, é um sistema complexo relacionado a muitas condições essenciais
para a vida humana”.
Na conclusão da mensagem fez votos de que todos os
participantes desta COP30, bem como aqueles que acompanham ativamente os
trabalhos, sejam inspirados a abraçar com coragem esta conversão ecológica com
pensamentos e ações, tendo em mente o lado humano da crise climática.
Que essa conversão ecológica inspire o desenvolvimento de
uma nova arquitetura financeira internacional centrada no ser humano, que
garanta que todos os países, especialmente os mais pobres e os mais vulneráveis
às catástrofes climáticas, possam alcançar seu pleno potencial e ver respeitada
a dignidade de seus cidadãos. Essa arquitetura deve também levar em conta a
relação entre dívida ecológica e dívida externa.
Que seja promovida uma educação sobre a ecologia integral
que explique por que as decisões a nível pessoal, familiar, comunitário e
político moldam o nosso futuro comum, sensibilizando ao mesmo tempo para a
crise climática e encorajando mentalidades e estilos de vida que respeitem
melhor a criação e salvaguardem a dignidade da pessoa e a inviolabilidade da
vida humana.
"Que todos os participantes desta COP30 se comprometam
a proteger e cuidar da criação que nos foi confiada por Deus, a fim de
construir um mundo pacífico", escreveu o Papa.
O cardeal Parolin finalizou a leitura da mensagem
assegurando as orações do Santo Padre enquanto, nesta COP30, tomam-se decisões
importantes para o bem comum e para o futuro da humanidade.



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