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sexta-feira, 11 de abril de 2025

Do Tratado sobre a fé de Pedro, de São Fulgêncio de Ruspe, bispo

O sacrifício de Cristo (Editora Cléofas)

Do Tratado sobre a fé de Pedro, de São Fulgêncio de Ruspe, bispo

(Cap.22.62: CCL 91A, 726.750-751)

(Séc. VI)

Cristo ofereceu-se por nós

Os sacrifícios das vítimas materiais, que a própria Santíssima Trindade, Deus único do Antigo e do Novo Testamento, tinha ordenado que nossos antepassados lhe oferecessem, prefiguravam a agradabilíssima oferenda daquele sacrifício em que o Filho unigênito de Deus feito carne iria, misericordiosamente, oferecer-se por nós.

De fato, segundo as palavras do Apóstolo, ele se entregou a si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor (Ef 5,2). É ele o verdadeiro Deus e o verdadeiro sumo-sacerdote que por nossa causa entrou de uma vez para sempre no santuário, não com o sangue de touros e bodes, mas com o seu próprio sangue. Era isto que outrora prefigurava o sumo-sacerdote, quando, uma vez por ano, entrava no santuário com o sangue das vítimas.

É Cristo, com efeito, que, por si só, ofereceu tudo o quanto sabia ser necessário para a nossa redenção; ele é ao mesmo tempo sacerdote e sacrifício, Deus e templo. Sacerdote, por quem somos reconciliados; sacrifício, pelo qual somos reconciliados; templo, onde somos reconciliados; Deus, com quem somos reconciliados. Entretanto, só ele é o sacerdote, o sacrifício e o templo, enquanto Deus na condição de servo; mas na sua condição divina, ele é Deus com o Pai e o Espírito Santo.

Acredita, pois, firmemente e não duvides que o próprio Filho Unigênito de Deus, a Palavra que se fez carne, se ofereceu por nós como sacrifício e vítima agradável a Deus. A ele, na unidade do Pai e do Espírito Santo, eram oferecidos sacrifícios de animais pelos patriarcas, profetas e sacerdotes do Antigo Testamento. E agora, no tempo do Novo Testamento, a ele, que é um só Deus com o Pai e o Espírito Santo, a santa Igreja católica não cessa de oferecer em toda a terra, na fé e na caridade, o sacrifício do pão e do vinho.

Antigamente, aquelas vítimas animais prefiguravam o corpo de Cristo, que ele, sem pecado, ofereceria pelos nossos pecados, e seu sangue, que ele derramaria pela remissão desses mesmos pecados. Agora, este sacrifício é ação de graças e memorial do Corpo de Cristo que ele ofereceu por nós, e do sangue que o mesmo Deus derramou por nós. A esse respeito, fala São Paulo nos Atos dos Apóstolos: Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo vos colocou como guardas, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o sangue do seu próprio Filho (At 20,28). Antigamente, aqueles sacrifícios eram figura do dom que nos seria feito; agora, este sacrifício manifesta claramente o que já nos foi doado.

Naqueles sacrifícios anunciava-se de antemão que o Filho de Deus devia sofrer a morte pelos ímpios; neste sacrifício anuncia-se que ele já sofreu essa morte, conforme atesta o Apóstolo: Quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado (Rm 5,6). E ainda: Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte do seu Filho (Rm 5,10).

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Cabo-verdianos na Europa preparam-se para viver “Jubileu C500”

Jubileu da Diáspora Cabo-verdiana na Europa a ter lugar em Paris, no âmbito do C500 (Vatican News)

A comunidade cabo-verdiana residente na Europa é convidada a viver momentos de grande significado espiritual e histórico na cidade de Paris-França: a celebração solene da abertura do Jubileu da Europa, integrada no decénio de preparação das comemorações dos 500 anos da Diocese de Santiago de Cabo Verde, a realizar-se em 2033.

Rádio Nova de Maria - Cabo Verde

As atividades irão decorrer de 9 a 12 de Maio próximo, em Paris, Versailles e outras cidades, confirma o Bispo de Santiago e cardeal Dom Arlindo Furtado.

Encontro já realizado em Luxemburgo (Vatican News)

As Basílicas do Sagrado Coração de Jesus de Montmatre e Santo Sulpício, em Paris, recebem as celebrações que serão presididas pelo prelado de Santiago. Será uma ocasião de fé, encontro e partilha que une filhos e filhas das ilhas espalhados pelo mundo, reafirmando os laços que os ligam às suas raízes, assegura Dom Arlindo Furtado.

Depois de Paris e Verssailles, segue a cidade de Marselha onde existe um grande número de crioulos e depois Roma-Itália e os países de expressão portuguesa, na África.

O Projeto C500 é a Celebração dos Quinhentos Anos da Diocese de Santiago de Cabo Verde. As comemorações incluem eventos temáticos em Cabo Verde e na Diáspora, culminando em 2033.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Ramos, sinal da esperança que passa pela paixão e a cruz

Símbolos da Semana Santa (nossasenhoradalapa)

RAMOS, SINAL DA ESPERANÇA QUE PASSA PELA PAIXÃO E A CRUZ 

Dom Roberto Francisco Ferrreria Paz 
Bispo de Campos (RJ)

O Domingo de Ramos e da Paixão inicia a Semana Maior da Liturgia, constituindo um grandioso portal que mostra e apresenta intensamente o drama da salvação da humanidade que terá seu ápice no Tríduo Pascal.  

Nos leva a vivenciar um contraste e um paradoxo profundo e radical, nossa alegria conduzida pela esperança decorrentes de seguir acompanhar a Cristo se encontram com a Cruz, que integra e dá sentido a redenção. Nem todos naquele dia e hoje mesmo entendem este dia marcado pelo sinal de contradição que configura Cristo e sua missão libertadora. Certamente que nos ajuda muito a avaliar nosso discipulado e a autenticidade de nosso seguimento.  

Os apelos de uma sociedade individualista voltada para o consumo e a adrenalina do fruir e do possuir, podem nos levar a um cristianismo light de compensações e devoções externas que não nos colocam na trilha do Reino e não possibilitam o renascer esplendoroso da Páscoa. Neste domingo deveríamos espelhar-nos nos jovens hebreus, com seus cantos esperançosos que identificam e louvam a Jesus, como a razão do seu viver e a promessa de cumprimento dos sonhos do Pai.  

Domingo da fraternidade que acalenta compromissos e projetos este ano 2025, de unirmo-nos na Paixão de Cristo a tantas pessoas crucificadas em razão do sofrimento causado pela crise climática, vítimas de enchentes, desastres ecológicos, refugiados climáticos, nativos que ficam sem alimentação pela contaminação dos seus rios e as queimadas das florestas. Situações de vulnerabilidade e destruição que levam a toda a humanidade a repensar os rumos e o futuro da sua habitação na Terra. Porém é necessário afirmá-lo com decisão e convicção, a Cruz da Paixão não é fracasso e muito menos esquecimento, ao contrário revela a mais clara manifestação da misericórdia divina e da sua infinita compaixão por cada um de nós e por cada criatura do planeta.  

Cristo abre com sua paixão fiel e amorosa caminhos de esperança verdadeira e como a âncora aos pés da cruz jubilar, fortalece e impulsiona dando peso e firmeza a nossa missão de anunciá-lo e testemunhá-lo até o fim, entregando-nos por inteiro para juntos com Ele trazer vida em abundância, construindo um Céu e uma Terra nova onde habite a justiça. Que a Cruz de Cristo seja sempre nossa luz e nossa esperança! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Haiti, apelo do arcebispo de Porto Príncipe: “O país está destruído. Quem virá nos ajudar?"

Haitianos protestam contra a violência crescente na Ilha caribenha (Vatican News)

Em uma mensagem à mídia do Vaticano, Dom Max Leroys Mésidor, arcebispo de Porto Príncipe e presidente da Conferência Episcopal do Haiti, relata a dolorosa situação de sua arquidiocese: “Aqui, 28 paróquias foram completamente fechadas e o trabalho pastoral de outras 40 continua em ritmo lento porque muitos bairros da cidade estão nas mãos de gangues armadas”. Forte condenação dos bispos pela violência em Mirebalais e pelo assassinato das duas freiras.

Federico Piana – Vatican News

"O Haiti está em chamas e sangrando: aguarda um apoio urgente. Quem virá para ajudar?". Com uma mensagem confiada à mídia do Vaticano, o arcebispo de Porto Príncipe e presidente da Conferência Episcopal Haitiana, Dom Max Leroys Mésidor, lança um preocupado apelo, chamando a atenção do mundo inteiro para a dor que está assolando seu coração aflito pelo ressurgimento da violência que está devastando cada vez mais a nação caribenha. Nos últimos dias, denunciou o prelado com veemência, a situação em sua arquidiocese piorou dramaticamente: 28 paróquias foram completamente fechadas e o trabalho pastoral de outras 40 continua de forma lenta e precária porque muitos bairros da cidade estão nas mãos de gangues armadas. “Nossa Quaresma”, escreveu, “é de fato um calvário, mas nós a oferecemos em comunhão com os sofrimentos de Cristo”.

A indignação dos bispos

Profunda tristeza e indignação também foram expressas oficialmente na sexta-feira (04) pela Conferência dos Bispos do Haiti, que condenou em termos inequívocos o ataque de gangues armadas em Mirebalais, uma populosa cidade a poucos quilômetros de Porto Príncipe, a capital do país caribenho, que na segunda-feira (31/03) causou a morte de várias pessoas, incluindo duas religiosas da Congregação das Irmãzinhas de Santa Teresa do Menino Jesus. Na ocasião, os membros das gangues, unidos no cartel criminoso chamado Vivre Ensemble, atacaram uma delegacia de polícia e a penitenciária local, de onde teriam fugido dezenas de detentos, causando um longo e sangrento combate com a polícia.

Crime hediondo

“Esses trágicos eventos mergulham mais uma vez a nossa nação e a nossa Igreja no luto”, advertiram os bispos, que julgaram o assassinato das duas religiosas, Evanette Onezaire e Jeanne Voltaire, "um crime hediondo que nos recorda a extensão do mal que aflige nossa sociedade. Suas vidas de serviço ao Evangelho e aos mais vulneráveis permanece um testemunho luminoso do amor de Cristo".

A inércia das autoridades

Mas os bispos foram ainda mais longe: denunciaram a inação das autoridades que, apesar de terem diante de si a escalada de violência que está lançando toda a nação no caos, “ainda não tomaram as medidas necessárias para evitar essa tragédia”. A falta de uma resposta eficaz à contínua insegurança é uma falha grave que coloca em risco uma nação deixada à mercê de forças destrutivas".

Raiva crescente

Tentando apaziguar a raiva crescente entre o povo haitiano, que acusa as autoridades de não fazerem o suficiente para pôr fim aos confrontos, ontem o líder do Conselho Presidencial de Transição, Fritz Alphonse Jean, prometeu novas medidas drásticas para deter o derramamento de sangue, depois de reconhecer publicamente que o país se tornou um inferno para todos. "Entendemos a sua miséria. Conhecemos sua dor e seu sofrimento. Povo haitiano: vocês falaram e nós os ouvimos", disse Fritz Jean à margem da grande manifestação na capital na quarta-feira (02/01), que mobilizou milhares de pessoas em frente à sede do Governo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 9 de abril de 2025

ANÁLISE: O chamado para uma vida bela

Mariapia Carraro, O coração da vida. Irmã M. Francesca Del Papa. Irmã da Menina Maria, Ancora, Milão 2006, pp. 160. | 30Giorni

Arquivo 30Dias n. 05 - 2007

O chamado para uma vida bela

Este é o legado que a Irmã Maria Francesca Del Papa deixou para as muitas pessoas que a conheceram: desde os pobres das cidades do sul da Itália onde trabalhou, aos estudantes dos colégios burgueses onde lecionou, até os muitos prisioneiros que auxiliou. Um livro a lembra seis anos após sua morte.

por Pina Baglioni

Em um diário de 1994, em 25 de dezembro, Irmã Maria Francesca Del Papa desenhou um coração e escreveu nele a data de seu batismo: 16 de dezembro de 1943. Ao lado, uma nota: "O maior presente que já recebi". Cinquenta e sete anos depois, no início de dezembro de 2000, o coração de Francesca parou, partido pelo cansaço, enquanto ela caminhava sozinha por uma rua da velha Bari.

Seis anos após sua morte, um livro de Mariapia Carraro conta sua história: O coração da vida. Irmã M. Francesca Del Papa. Irmã da Criança Maria . "Dedicado a todas as pessoas que a conheceram", escreve a autora, "diretamente ou por meio destas páginas e que desejam preservar sua memória como uma lembrança de uma vida linda."

Muitas pessoas a conheceram: os pobres da velha Bari e os "burgueses" do exclusivo Colégio Margherita. O povo enlutado do distrito de Sanità, em Nápoles, e o de Rettifilo, em Capaccio, uma terra desolada na província de Salerno. Retraçando sua vida através do belo livro de Carraro, também freira de Maria Bambina, emerge um amor especial dessa freira especial pelos prisioneiros, ou como ela os chamava, "meus bandidos". Por eles, ele aprendeu a navegar pelo emaranhado de obstáculos burocráticos, solicitando entrevistas com familiares e falando com diretores de prisões para agilizar autorizações. Ele ensinou literatura e arte aos internos e transmitiu-lhes sua paixão pelo teatro, criando “companhias” dentro das instituições penais. Ele distribuiu comida, roupas, cigarros, imagens da Madona e se tornou uma “ponte” entre eles e suas famílias. Acima de tudo, ele transmitiu a todos seu amor apaixonado por Jesus Cristo.

Os Anos de Espera

«Uma jovem um tanto... misteriosa, de uma elegância contida e muito refinada. Ela sempre usava um colar de pérolas, lindo e discreto…». No final da década de 1960, uma de suas alunas do colégio Bartolomea Capitanio, em Bérgamo, lembrava-se de Maria Francesca dessa maneira. Graduada brilhantemente em literatura clássica, ela havia acabado de começar a lecionar quando decidiu ingressar como postulante nas Irmãs de Maria Bambina, as freiras da infância, frequentadas na paróquia e na escola maternal de Lapedona, sua cidade natal na província de Ascoli Piceno. Anos mais tarde, outra de suas alunas, desta vez de Margherita, o liceu da rica Bari, diria dela: «A Irmã Francesca era uma mulher de verdade, era uma “dama”, era uma cristã de classe, era definitivamente uma freira de caridade […]. Ela era o rosto de Cristo em minha vida."

Essa elegante moça, pertencente à classe média alta e já prometida em casamento a um jovem promissor, terá um destino diferente: o de viver seu amor exclusivo pelo Senhor "inteiramente consagrada à caridade". Convencida, como se pode ler em um de seus doze diários escritos com minúcia, de que "Deus usa os ineptos para o seu reino".

Maria Francesca Del Papa iniciou seu noviciado em Roma em 8 de setembro de 1970 e sete anos depois foi admitida aos votos perpétuos. Durante esse período, ela experimenta uma espécie de retaliação dolorosa: ela gostaria de viver ao lado dos pobres. A qualquer tipo de pobreza, seja qual for a sua manifestação. Seus santos favoritos eram São Francisco de Assis e Santa Teresa de Lisieux, de quem ele havia escrito um pensamento em um de seus diários: «Eu te buscarei, Senhor, na humildade e no nada; Ficarei o mais longe possível de tudo o que brilha." Mas Francesca terá que esperar um pouco para realizar sua aspiração. E obedecer. A superiora geral, Madre Angelamaria Campanile, reconhecendo sua habilidade para o ensino e sua grande capacidade de ser amada e seguida pelos jovens, enviou-a para lecionar literatura na Margherita, a faculdade mais exclusiva de Bari. "Ficamos fascinados por sua vivacidade e simpatia", diz uma aluna da Margherita, "ela era muito boa, exigente como professora, mas também sabia jogar bola conosco." Todas as manhãs, ele entra na sala de aula sorrindo para suas queridas alunas "burguesas" da Margherita, transmitindo carinho, paixão e vivacidade. Até que, em outubro de 1978, eis um novo destino: Nápoles, bairro Sanità, onde uma pequena comunidade de freiras trabalha naquele bairro pobre. Parece que a aspiração de Maria Francesca pode se realizar. Mas não, porque a enviam para cursar a Faculdade de Teologia. As pessoas ao seu redor frequentemente a flagram chorando por causa de livros. Tanto assim que o Cardeal Anastasio Ballestrero, assistente espiritual de Maria Francesca por mais de vinte anos, escreveu para consolá-la: «Respondo à sua longa carta agradecendo ao Senhor junto com você porque Ele está colocando você à prova […]. Para o seu trabalho, também prefiro o bairro à Faculdade de Teologia […]. Que a oração permaneça a fonte da sua fidelidade e da sua força." 

Os pobres, os donos das nossas vidas

Não passa um ano sem que ele tenha que deixar Nápoles e ir para Capaccio, uma grande cidade composta por pelo menos quinze aldeias na planície de Paestum, na província de Salerno. Maria Francesca viveu lá de 1979 a 1985 junto com outras quatro freiras em um apartamento alugado próximo à paróquia de San Vito. O pároco lhe confiará em particular o vilarejo de Rettifilo, habitado por pessoas com décadas de trabalho precário e marginalização. Na escola e na igreja, Irmã Maria Francesca ensina catecismo. Junto com suas irmãs, ela arregaçou as mangas e, graças à compra de um mimeógrafo, conseguiu produzir materiais didáticos para crianças, para ex-alunos desempregados e para adultos. Festas, viagens e procissões são organizadas. Um coral de vozes mistas é formado como uma oportunidade de orar e estar juntos. O eco de tanta alegria move a generosidade de muitas pessoas boas, o que nos permitirá ajudar os mais pobres.

Em setembro de 1985, Maria Francesca teve que fazer as malas novamente e retornar ao Colégio Margherita, em Bari. Alguns anos se passariam entre o ensino, as tarefas domésticas e a atenção constante às irmãs mais velhas, que ela colocava "em primeiro lugar". Enquanto isso, ele espera poder dedicar seu tempo aos mais pobres.

Maria Francesca Del Papa, em Subiaco, seu refúgio de oração durante os anos difíceis da escolha. | 30Giorni

A última parada: o encontro com os presos

Um dia, ela descobre que uma de suas alunas é filha do diretor da prisão de Turi, a poucos quilômetros de Bari. Esse encontro não só lhe abre as portas da prisão como também lhe oferece a oportunidade de conhecer as famílias dos prisioneiros. Assim começa a última etapa da vida de Irmã Maria Francesca: "Tira as sandálias: esta é uma terra abençoada porque é uma terra de dor", são as palavras que um prisioneiro lhe dirige atrás das grades da cela, no primeiro dia em que pisa na prisão. E então Francesca percebe que lá dentro é preciso "despojar-se de toda tentação de superioridade e deixar-se "contar entre os pecadores" [...]. Diante de Deus não existem bons e maus, existem apenas filhos amados, tal como são." Ele nunca se permitirá julgá-los, dar-lhes sermões moralistas. Aqueles que a conheceram lembram-se dela anotando centenas de pedidos de seus amigos presos em seus famosos diários. Pedidos de todos os tipos e de todas as prisões. Como a de Marco, detido em confinamento solitário na prisão de Asinara: «Assim que puderes, vai visitar o Homem da Catedral [o Crucifixo na cripta da Catedral de Trani, ed. ]: Eu só o sinto […]. Ontem eu estava olhando aquelas fotos dele que você me enviou, mas na minha mente eu me lembro melhor dele: eu me lembro de uma imagem de beleza absoluta. Quando estiver diante dele, basta olhá-lo como eu o olhei, naquele dia, agora distante, em que você me surpreendeu, sozinha, diante dele. O homem vai entender que eu estou nesse seu olhar. Depois você vai me contar como você achou [...]». 

A Casa de Santa Maria

Maria Francesca sente o desejo de ir morar no centro histórico de Bari, povoado por ex-presidiários, batedores de carteira, mulheres enlutadas e castigadas pela vida, e prostitutas. Enquanto continuava a ensinar em Margherita, Irmã Maria Francesca obteve permissão da superiora para morar em um pequeno quarto no Vicolo Santa Maria, bem no meio da rede de ruas do “Borgo antico” de Bari. Inaugurada em 21 de novembro de 1994, no meio de uma multidão de crianças, freiras e mães, a partir daquele momento passou a se chamar Casa Santa Maria. «Muitas vezes preciso consultar o mapa para me orientar no emaranhado de vielas, sob o olhar benevolente dos santos, aos quais a maioria deles é dedicada», anota nos seus diários. E enquanto isso, aquele quarto, que para Maria Francesca "não é um 'centro de escuta', mas um lugar de evangelização mútua", torna-se destino de crianças em busca de doces e brinquedos, de mães, esposas e irmãs ansiosas por notícias da prisão. As pessoas nos becos veem a Irmã Maria Francesca correndo com uma bolsa de lona branca da qual ela tira tudo. E se lhe sobrar tempo, detém-se na penumbra da igreja de Santa Escolástica, em frente ao sacrário: «Devemos caminhar rezando; "Se alguém não reza, torna-se juiz", ainda encontramos anotado em um de seus diários.

Talvez ela estivesse rezando naquele 1º de dezembro, dia de sua morte, enquanto caminhava sozinha e apressada pelas ruas estreitas do "Borgo Antico" de Bari, quando foi encontrada sem vida, ainda de joelhos.

No dia seguinte, quando a maior parte da cidade, consternada, se dá conta de que nunca mais verá a Irmã Maria Francesca, uma jovem aluna do IV Ginásio de Margherita escreve: "[...] Você mesma nos disse que, ao nos deixar, ninguém deveria derramar lágrimas, mas sim alegrar-se, porque você tinha que encontrar aquele Homem que sempre foi o mais importante em sua vida [...]. Obrigada".

Fonte: https://www.30giorni.it/

Chamei-vos amigos (5): Vejam que bons amigos (V)

Chamei-vos amigos (5): Vejam que bons amigos

A amizade que um cristão oferece a aqueles que o rodeiam foi sempre motivo de admiração. Com o passar do tempo surgem sempre novas circunstâncias e novos desafios.

08/09/2020

Correm os últimos anos do século II. Os cristãos que vivem no Império Romano são perseguidos com violência. Um jurista chamado Tertuliano, que pouco tempo antes havia abraçado o cristianismo, sai em defesa de seus irmãos na fé, fé que ele agora conhece melhor. E ele o faz através de um tratado no qual procura informar os governadores das províncias romanas sobre a verdadeira vida daqueles que eram acusados injustamente. Ele mesmo os havia admirado, especialmente os mártires, antes de tornar-se cristão; mas agora, acolhendo a opinião de muitos, Tertuliano resume em um único comentário o que se diz sobre aquelas pequenas comunidades: “Vede como se amam!”[1].

São muitos os testemunhos desta amizade que os primeiros cristãos viviam. Pouco antes, no início do mesmo século, o bispo Santo Inácio de Antioquia, enquanto se dirigia a Roma para o seu martírio, escreveu uma carta ao jovem bispo Policarpo. Entre vários conselhos, exorta-o a aproximar-se “com mansidão” daqueles que estão longe da Igreja, já que não teria mérito amar só “os bons discípulos”[2]. Sabemos, com efeito, que Cristo se faz presente na história através da sua Igreja, dos seus sacramentos, da Sagrada Escritura, mas também através da caridade com que nós, cristãos, tratamos aqueles que nos rodeiam. A amizade é um desses “caminhos divinos da terra”[3] que Deus abriu ao ter-se feito homem, amigo de seus amigos. Trata-se de um terreno no qual se apalpa, de modo especial, essa cooperação misteriosa entre a iniciativa de Deus e a nossa correspondência.

A CONFIANÇA ENTRE OS AMIGOS CRESCE GERALMENTE NO MEIO DE UMA ATIVIDADE COMUM

Por isso, para que Cristo chegue aos outros através de nossas relações, é importante crescer na virtude e na arte da amizade; desenvolver a capacidade de amar aos outros e de amar com os outros; deixar que a nossa vida seja moldada por esse desejo de compartilhá-la com outros. Procuramos, portanto, que o nosso caráter se forme – ou se reforme – para tornar-nos amáveis e construir pontes. Queremos inclusive que os nossos gestos, o nosso modo de falar, de trabalhar ou de mexer-nos, favoreçam o encontro com os outros. Tudo isto, contando sempre com a nossa própria maneira de ser e com as nossas limitações pessoais, já que existem infinitos modos de ser bom amigo.

Um ao lado do outro

Dizia C. S. Lewis que imaginamos os apaixonados “com o rosto voltado um para o outro, mas amigos estarão lado a lado; seus olhos voltados para a frente”[4], para algo a fazer, a alcançar juntos. Um amigo não ama somente o amigo, ama com ele; apaixona-se pelas atividades, projetos e ideais valiosos da outra pessoa. Aquela amizade brota muitas vezes simplesmente compartilhando tarefas que são verdadeiros bens comuns e, assim, os amigos crescem juntos nas virtudes necessárias para alcançá-los.

Neste sentido como ajuda entusiasmar-se por coisas boas, ter ambições nobres. Pode ser um empreendimento profissional ou acadêmico; ou uma iniciativa cultural, educativa ou artística, desde ler ou ouvir música em grupo, até promover atividades para o grande público; formas de serviço social ou cívico; pode também tratar-se de uma iniciativa de formação, como um clube juvenil ou familiar, ou uma atividade destinada à difusão da mensagem cristã. A amizade se consolida também compartilhando tarefas domésticas como decoração, cozinha, artesanato, jardinagem e, evidentemente, em meio à prática de algum esporte, excursões, jogos e outros hobbies. Todas estas atividades constituem ocasião de divertir-se com outros, daí crescem pouco a pouco a confiança e a abertura mútua para outras dimensões da própria vida. É difícil afinal – e inclusive, talvez, desnecessário – saber se fazemos todas estas coisas para estar com nossos amigos ou se temos amigos para fazer coisas boas com eles.

Pelo contrário, quem enfrenta a vida de um modo meramente funcional, encarando tudo do ponto de vista prático, terá a sua capacidade de fazer amigos muito diminuída. Poderá ter, no máximo, colaboradores em certas tarefas úteis ou cúmplices para passar o tempo. É então que se instrumentaliza a amizade, já que ela é posta somente a serviço de um projeto focado em si mesmo.

“Assim deveria ser”

Mas a amizade não é apenas fazer coisas juntos. Deve ser “amizade ‘pessoal’ sacrificada, sincera: de tu a tu, de coração a coração”[5]. Embora entre os amigos não sejam necessárias com frequência palavras, conversar é próprio de amigos. Constitui toda uma arte aprender a suscitar boas conversas, com uma ou várias pessoas. Por isso, quem quer crescer em amizade, evita o ativismo frenético e procura momentos propícios para estar com os amigos, sem olhar o relógio nem o celular. Se procuramos proporcionar este intercâmbio pessoal, o lugar, o ambiente tampouco são indiferentes. Por isso é de grande ajuda dispor de espaços comuns, com recantos que tornem aconchegantes os encontros entre as pessoas. São Josemaria dava grande importância à decoração dos centros da Obra, que deviam facilitar materialmente o ambiente de amizade, com o bom gosto e o ar familiar.

AS BOAS CONVERSAS, SEM PRESSA, SÃO MOMENTOS DE FELICIDADE E DE ABERTURA MÚTUA DE HORIZONTES

Convidar alguém para aproximar-se de um grupo de amigos, para que compartilhe uma experiência inspiradora ou reflexões sobre um tema interessante, contribui normalmente para que essa pessoa melhore com naturalidade o nível de sua conversa. Ajuda igualmente empreender leituras em comum, já que isso implica participar desse grande debate com os autores do presente e do passado onde se congregam tantos possíveis novos companheiros de viagem. Não menos importante – e reflete uma profunda verdade sobre o homem – é o fato de que a amizade nos reúne com frequência em torno de uma mesa, para usufruir juntos de boa comida e de uma bebida que torne mais leve o espírito. Tantas vezes, naquelas longas conversas, antecipamos o céu: “De repente percebemos algo: sim, isto seria precisamente a verdadeira ‘vida’, assim deveria ser”[6].

Mas a verdadeira amizade não se satisfaz apenas com a conversa entre os que formam um grupo de amigos. Requer também momentos de solidão, de certa intimidade, onde se possa falar de “coração a coração”. Os bons amigos e familiares compreendem essa necessidade e abrem esse espaço sem inveja nem desconfiança. É assim que se cria o contexto propício para as “discretas indiscrições”[7], para o mútuo conselho, para a confidência. Deus se serve também desses momentos para acompanhar espiritualmente as almas e inclusive para abrir “insuspeitáveis horizontes de zelo”[8], aos amigos, como pode ser compartilhar uma missão divina no mundo.

A amizade em um mundo agitado

É bom considerar também, com realismo, alguns traços da cultura contemporânea que representam um desafio para o modo como vivemos a amizade. É preciso dizer, em primeiro lugar, que não se trata de obstáculos intransponíveis. Por um lado, porque temos toda a graça de Deus. Mas também porque é fácil ver que, onde a amizade é menos frequente e profunda, é mais necessária e desejada de modo mais intenso pelos corações dos homens e das mulheres. Parafraseando São João da Cruz, poderíamos dizer: “Onde não há amizade, põe amizade e tirarás amizade”.

Pensemos, por exemplo, no tom excessivamente competitivo de algumas profissões ou ambientes. Isto se traduz, às vezes, numa mentalidade pragmática ou desconfiada, embora envolvida em uma boa educação meramente externa. Parece que, se trabalhássemos com outra atitude, os outros se aproveitariam de nós. Não podemos, sem dúvida, ser ingênuos, mas tal ambiente precisa ser purificado a partir de dentro, por pessoas que mostrem um modo diferente de viver. Não é preciso pressionar, gritar, enganar ou aproveitar-se dos outros, para atingir metas profissionais. Um cristão lembra sempre que o trabalho é um serviço. Por isso, aspira a ser um chefe, um colega, um cliente ou um professor de quem se pode chegar a ser um bom amigo, sem que se deixe de respeitar as normas próprias de cada profissão.

ONDE NÃO HÁ AMIZADE, PÕE AMIZADE E TIRARÁS AMIZADE

Poderemos igualmente criar ambientes propícios para amizade evitando que sejam contagiados por estresse excessivo, ativismo ou dispersão. É verdade que, em nosso mundo agitado, é difícil às vezes conseguir a serenidade necessária para ter novas amizades; e isso também porque, inclusive quando se descansa, a correria costuma ser acompanhada de modos de desconexão. Esta é precisamente uma oportunidade para – com humildade e conhecimento de nossa fragilidade – oferecer aos outros um exemplo atraente próprio de quem “lê a vida de Jesus Cristo”[9]: andar com tranquilidade, sorrir, desfrutar do momento, contemplar, descansar com coisas simples, ter criatividade para planos alternativos, etc. [10].

Ter esperança no que nos une

Manter uma “atitude positiva e aberta diante da transformação atual das estruturas sociais e das formas de vida”[11], como recomendava São Josemaria, facilita a amizade com muitas pessoas, também quando há distância de gerações. Além disso, é preciso um profundo amor à liberdade alheia, sem cair na rigidez quando algo admite pontos de vista diferentes. “certas maneiras de se expressar – recorda o prelado do Opus Dei – podem atrapalhar ou dificultar a criação de um ambiente de amizade. Por exemplo, ser categórico demais ao expressar a própria opinião, dando a impressão de que achamos que nossas colocações são as definitivas, ou não se interessar ativamente pelo que os outros dizem, são maneiras de agir que nos fecham em nós mesmos”[12].

É verdade que, em vários lugares, estendeu-se uma visão da vida na qual é difícil aceitar alguns princípios básicos da lei moral. Isto implica que, às vezes, se negue, inclusive, a própria possibilidade do amor de benevolência: desejar o bem do outro por si mesmo. Talvez esta visão veja nas relações humanas apenas um cálculo de utilidade ou sentimentos de simpatia sem muito fundamento. Isto, logicamente, pode vir a ser fonte de incompreensão e até de conflito. É importante, diante desta situação, não confundir o diálogo próprio da amizade com a argumentação filosófica, jurídica ou política; o diálogo amistoso não implica tentar convencer o outro de nossas ideias, inclusive quando essas ideias forem formulações clássicas ou magistrais de algum tipo de verdade. E isto não significa “não chamar as coisas por seu nome” ou perder a capacidade de discernir o bem do mal. O que acontece é que nossos raciocínios têm valor dentro de um diálogo só quando se parte de algum princípio ou autoridade comum[13]. Embora na amizade também haja tempo para a conversão pessoal, é melhor normalmente procurar pontos de acordo em vez de destacar o que nos separa; é o momento para oferecer nossa própria experiência, sem grandes elaborações intelectuais, com toda a força de quem compartilha as suas preocupações, tristezas e alegrias. E é sempre importante ouvir, porque a amizade – como dizia São Josemaria – mais do que em dar, está em compreender[14].

O DIÁLOGO ENTRE AMIGOS É UM LUGAR IDÔNEO PARA TRANSMITIR A PRÓPRIA EXPERIÊNCIA, PARA FORTALECER OS PONTOS QUE NOS UNEM AOS DEMAIS

Pode ser útil notar que a maioria das pessoas, na maior parte do tempo, vive movida pelos desejos profundos de todo coração humano: amar e ser amada. Esse desejo insaciável de sentido, de unidade, de plenitude, embora possa ser anestesiado durante muito tempo por múltiplas razões, volta sempre a manifestar-se. O bom amigo – embora não seja sempre plenamente correspondido – sabe esperar; sabe estar perto quando os próprios esquemas entram em crise e o coração se abre à luz que intuiu precisamente no carinho do outro.

Uma imagem da paciência de Deus

São Paulo, no famoso hino à caridade de sua Epístola aos coríntios, declara que “a caridade é paciente” (1 Cor 12, 4). Por isso, o prelado do Opus Dei recorda que “uma amizade tem muito de dom inesperado, por isso também requer paciência. Às vezes, certas más experiências ou preconceitos podem fazer com que o relacionamento pessoal com alguém que temos perto leve algum tempo para se tornar amizade. Isso também pode ser dificultado pelo temor, respeito humano ou uma atitude de prevenção. É bom tentar se colocar no lugar dos outros e ser pacientes”[15].

São Josemaria animava sempre a andar “com o ritmo de Deus”. Em sua vida é inegável a audácia apostólica com que vivia, a ousadia – também humana – com que saía ao encontro das pessoas, mesmo que estivessem muito longe, mesmo pondo em perigo a sua própria vida. Basta pensar naquela conversa com Pascual Galbe, um juiz amigo que tinha conhecido durante seus estudos universitários; eram tempos de perseguição religiosa e o Padre esquivou-se de vários perigos ao ir à sua casa em Barcelona unicamente com a intenção de reencontrar seu amigo. Em uma conversa prévia, pelas ruas de Madri, Galbe lhe tinha perguntado: “O que você quer de mim, Josemaria?” Ao que o fundador do Opus Dei respondeu: “O que eu quero é você. Não preciso de nada. Só desejo que você seja um homem bom e justo”. E a mesma coisa voltou a dizer-lhe na vez seguinte, quando foi ouvir suas confidências naqueles momentos difíceis, sem deixar de ajudá-lo a encontrar a verdade[16].

O fundador do Opus Dei não deixava de recomendar aquela paciência “que nos impulsiona a ser compreensivos com os outros, persuadidos de que as almas, como o bom vinho melhoram com o tempo”[17]; devemos procurar ter com os outros a mesma paciência que Deus tem conosco. A verdade é que, como lembrava Bento XVI, “o mundo é redimido pela paciência de Deus e destruído pela impaciência dos homens”[18]. Ter paciência não quer dizer que não soframos às vezes, por falta de correspondência de outras pessoas a nosso carinho, ou porque vemos algum amigo empreender caminhos que provavelmente não saciarão os seus desejos de felicidade. Trata-se, na verdade, de sofrer com o coração de Jesus, identificando-nos cada vez mais com seus sentimentos, sem nos deixarmos levar pela tristeza ou a desesperança.

A experiência do perdão dos amigos é motivo de esperança nos momentos mais obscuros da vida. A certeza de que um amigo nos espera, apesar das nossas indelicadezas, constitui para nós a viva imagem de Deus: esse primeiro amigo que aguarda que voltemos para seus braços de Pai e que nos perdoa sempre.

Ricardo Calleja


[1] Tertuliano, Apologético, XXXIX.

[2] Cfr. Santo Inácio de Antioquia, Carta a Policarpo, II.

[3] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 314.

[4] C.S. Lewis, Os quatro amores, Thomas Nelson, Rio de Janeiro, 2017, p. 94.

[5] São Josemaria, Sulco, n. 191.

[6] Bento XVI, Carta encíclica Spe Salvi, n. 11.

[7] Cfr. São Josemaria, Caminho, n. 973 .

[8] Ibid.

[9] São Josemaria, Caminho, n. 2.

[10] Cfr. Francisco, Carta encíclica Laudato si’ , nn. 222-223.

[11] São Josemaria, Sulco, n. 428.

[12] Mons. Fernando Ocáriz, Carta 1-XI-2019, n. 9.

[13] São Tomás de Aquino, Quodlibet IV , .9 , a. 3.

[14] Cfr. São Josemaria, Sulco, n. 463.

[15] Mons. Fernando Ocáriz, Carta 1-XI-2019,, n. 20.

[16] Cfr Jordi Miralbell, Días de espera en guerra, Palabra, Madri, 2017, pp. 75, 97 e ss.

[17] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 78.

[18] Bento XVI, Homilia 24-IV-2005, Missa de início de seu pontificado.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/chamei-vos-amigos-5-vejam-que-bons-amigos/

Fazer pão, um ato espiritual e uma terapia antidepressiva

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Cibele Battistini - publicado em 09/04/25

Fazer pão em casa é muito mais que uma atividade culinária.

Fazer pão em casa é, sem dúvida, uma terapia antidepressiva que se revela a cada movimento das mãos. Imaginar a farinha suave escorrendo entre os dedos, misturando-se com água e um pouco de sal, é um convite a viver o momento presente. Essa alquimia simples transforma ingredientes básicos em algo extraordinário, um processo que nos conecta com nossas raízes, com a essência do cotidiano.

O pão, tradicionalmente conhecido como o “alimento dos pobres” ( João 6:35), carrega consigo um simbolismo profundo. Ele é, por excelência, um símbolo de partilha e união. Na narrativa cristã, Jesus repartiu o pão entre os seus, multiplicando-o para saciar a fome de muitos ( Mateus 14:13-21). Ao fazer pão em casa, somos convidados a reviver esse gesto de generosidade, lembrando que, mesmo nas coisas mais simples, há uma beleza e uma sacralidade que nos toca.

Enquanto a massa cresce e o aroma do pão invade a cozinha, a mente se aquieta. O ato de amassar, sovar e moldar a massa se torna uma celebração da manualidade, permitindo que os pensamentos se deixem levar, como as nuvens que dançam no céu. O ritmo da atividade traz um senso de calma, um momento de repouso que é, ao mesmo tempo, uma expressão criativa.

O pão caseiro nos convida a refletir sobre as bênçãos da vida e a gratidão por aquilo que temos

Cozinhar, especialmente ao preparar pão, transforma-se em um espaço de meditação. Cada bolo que forma é uma pequena obra de arte, construída com paciência e cuidado. Além disso, o calor do forno dá vida à criação, e a expectativa do pão dourado que emerge se assemelha a um renascimento (DUMONT, 2015).

Esse ritual, tão simples, nos ensina a importância de pausar, de nos reconectar conosco e com o próximo. O pão caseiro nos convida a refletir sobre as bênçãos da vida e a gratidão por aquilo que temos. Ao repartir as fatias quentes, lembramos o ensinamento de Jesus, que não só distribuía o pão, mas também leveza e amor em cada gesto (Lucas 9:10-17).

Assim, fazer pão em casa se torna muito mais que uma atividade culinária; é um caminho para a cura e uma celebração da vida, um passo em direção à serenidade, onde água e farinha se transformam em algo que é, afinal, uma pura expressão de amor e partilha.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/04/09/fazer-pao-um-ato-espiritual-e-uma-terapia-anti-depressiva

Una, santa, católica e apostólica: estudiosos emitem declaração conjunta sobre características da Igreja

Cúpula da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, com Cristo Pantocrator. | Andrew Shiva / Wikipedia / CC BY-SA 4.0

Por Tyler Arnold*

9 de abril de 2025

Vinte acadêmicos católicos e protestantes evangélicos emitiram uma declaração conjunta sobre pontos em que ambas as tradições são unificadas e em que pontos são distintas em suas compreensões das quatro características da Igreja: una, santa, católica e apostólica.

O Credo Niceno foi inicialmente adotado no Primeiro Concílio de Nicéia em 325 d.C., mas as “quatro características ” foram adicionadas ao credo no segundo concílio ecumênico menos de quatro décadas depois, em 381 d.C.

Embora algumas interpretações dos concílios sejam debatidas entre as comunidades de fé cristã, a Igreja Católica, as Igrejas Ortodoxas Orientais e Orientais e a maioria das comunidades protestantes tradicionais reconhecem a validade e a autoridade desses concílios e professam uma tradução vernácula do credo.

Acadêmicos associados ao projeto Evangelicals and Catholics Together (Evangélicos e Católicos Juntos) divulgaram uma declaração de sete páginas sobre as quatro características chamada “O Pilar e o Fundamento da Verdade”.

“Apesar de nossas diferenças, reconhecemos a verdade do Evangelho: Cristo é um. Ele é santo e é o Senhor de todos. Cristo é a fonte e o garante do ensinamento apostólico. Portanto, cada reunião de cristãos fiéis possui, em algum grau, as quatro características da igreja, ainda que imperfeitamente”, diz o documento.

RR Reno, diretor executivo da revista First Things e um dos líderes e signatários da iniciativa, disse à CNA, agência em inglês da EWTN, que a declaração foi emitida “para que possamos ser melhor instruídos sobre o que nossas tradições ensinam sobre a Igreja”.

Reno disse que o Evangelicals and Catholics Together, que foi lançado pela primeira vez na década de 1990, ajuda a “promover o objetivo maior da unidade cristã ao falar sobre as áreas em que concordamos”, mas também evita um “falso ecumenismo que finge que não há diferenças profundas”.

Entre os signatários católicos está monsenhor Thomas Guarino, copresidente teológico católico do grupo e professor emérito de teologia da Universidade Seton Hall ; George Weigel, membro do Centro de Ética e Políticas Públicas e Christopher Ruddy, professor de teologia da Universidade Católica da América.

Entre os signatários evangélicos estão Gerald McDermott, teólogo anglicano e instrutor no Seminário de Jerusalém e no Seminário Episcopal Reformado; Laura Smit, professora na Universidade Calvin; e Dale Coulter, ministro ordenado na Igreja de Deus e professor de teologia no Seminário Teológico Pentecostal.

Una, santa, católica e apostólica

A declaração diz que os estudiosos “não se propõem a resolver as questões que têm dividido protestantes e católicos por séculos”, mas em vez disso, busca “expressar uma compreensão compartilhada das características do credo da Igreja”.

“A cultura secular contemporânea ataca e danifica nosso testemunho corporativo de Jesus como Senhor, frequentemente enfraquecendo nossa fé, subvertendo nossos ensinamentos e corrompendo nossa adoração”, escrevem os estudiosos.

“As perversões e corrupções da cidade de Deus pela cidade do homem são legião: divisão, indiferença, paroquialismo, hipocrisia e outras traições do Evangelho. A afirmação do credo... nos ajuda a discernir onde e quando a Igreja precisa de reforma e reparo”.

Sobre a primeira característica, “una”, a declaração diz: “Concordamos que todos os cristãos estão unidos em uma fé por meio de um batismo” e que “a santidade é o louvor perfeito a Deus e, portanto, o corpo de Cristo é unido quando, fortalecidos pelo Espírito Santo, os crentes oferecem a mesma adoração e culto perfeitos”.

“Reconhecemos que a desunião dos cristãos prejudica nosso testemunho. Nossa unidade em Cristo é algo que o mundo precisa ver para que eles possam conhecer o poder de seu amor”, diz a declaração.

Os estudiosos reconhecem, porém, que católicos e protestantes têm uma “unidade imperfeita” baseada em entendimentos distintos do que torna a Igreja “una” — e que resolver essas disputas ainda é algo que “estamos longe de alcançar”.

Para os católicos, eles escrevem que a unidade da Igreja é baseada na “presença real de Cristo na Eucaristia” e na unidade dos bispos e doutrinas sob a liderança do papa. Para os católicos, a unidade sob Roma “garante que a Igreja seja una em seu ensino, adoração e governança”.

Os evangélicos, por outro lado, acreditam que “a Igreja é una naqueles regenerados em Cristo, pelo Espírito Santo, unidos na profissão da verdadeira doutrina, na prática da pregação bíblica sólida, no batismo, na Ceia do Senhor e na vida cristã fiel”.

Sobre a segunda característica, “santa”, a declaração diz que “juntos reconhecemos que o Filho de Deus governa a Igreja, e que a Igreja é, portanto, um instrumento divino que é sagrado e deve ser digno de seu chamado”. Ela diz também que os signatários estão “unidos em nossa preocupação de que nossas igrejas são frequentemente preguiçosas, mornas e apáticas, falhando em impor disciplina e cultivar as práticas que separam os seguidores de Cristo do mundo”.

“Assim como Cristo é a nossa santidade, a Igreja é santa mesmo agora, por mais oculta que sua santidade possa estar sob a pecaminosidade e a mundanidade dos fiéis”, escrevem os autores.

A terceira característica, “católica”, deriva da palavra grega “katholikos”, que significa essencialmente “no todo” ou “universal”. A declaração diz que católicos e evangélicos estão unidos, em certo sentido, na catolicidade da Igreja porque “o corpo de Cristo é universal” e ambas as tradições de fé estão unidas na crença de que o “amor de Deus não conhece fronteiras; sua oferta de salvação não tem limites”.

“A nota de catolicidade significa mais do que o batismo de pessoas em todo o mundo; somos chamados a converter todas as culturas para que todos os povos reconheçam o senhorio de Cristo em todas as coisas”, escrevem os estudiosos.

“Missão, serviço, liderança e proclamação promovem a catolicidade da Igreja. Nesta obra, concordamos que é Deus em Cristo que faz a catolicidade, que está presente em cada comunidade reunida em seu nome”.

As diferenças na compreensão da catolicidade da Igreja são semelhantes às diferenças na compreensão da unidade da Igreja.

Enquanto os católicos “enfatizam a universalidade sacramental, doutrinária e jurídica da Igreja”, escrevem os estudiosos, os evangélicos “se concentram na confissão de fé consistente e universal, no reconhecimento mútuo dos carismas de serviço e liderança, e em padrões compartilhados de renovação espiritual e renascimento em Cristo”.

Sobre a quarta característica, “apostólica”, a declaração diz que há consenso de que “a Igreja é apostólica porque confessa a fé dos apóstolos e sustenta a vida comum estabelecida em Cristo”.

“Estamos unidos na convicção de que a Igreja deve sempre buscar ser fiel às doutrinas que recebemos dos apóstolos”, escrevem os estudiosos, citando a epístola de são Judas: “A vocação da Igreja é 'batalhar pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos'. Somos chamados a preservar, transmitir e proclamar a Palavra de Deus em sua plenitude”.

Os signatários também dizem concordar que a “religião progressista” busca alterar as doutrinas dos apóstolos, dizendo que ela “representa uma grave ameaça à apostolicidade de nossas igrejas — uma ameaça muito mais grave do que as importantes questões teológicas em jogo nas diferenças entre evangélicos e católicos”.

A declaração fala também sobre pontos em que as duas tradições são distintas.

Os católicos, segundo a declaração, veem “a sucessão apostólica como a cadeia contínua de bispos ordenados para governar, instruir e liderar na adoração, especialmente aqueles que servem na cátedra de São Pedro”. Os evangélicos, por sua vez, enfatizam as Escrituras e que “há uma sucessão de doutrina verdadeira e liderança fiel ao longo dos tempos”.

O documento diz também que evangélicos e católicos se unem no reconhecimento “de que só a Igreja Triunfante no céu é una, santa, católica e apostólica na plenitude da perfeição”.

“Nossa missão, testemunho e adoração constituem a Igreja Militante, que participa da perfeição da Igreja Triunfante, mas não possui sua plenitude. Estamos divididos em nossa avaliação do grau em que possuímos as características da Igreja, mas compartilhamos uma profunda confiança: Cristo prometeu construir sua Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

Projeto Evangélicos e Católicos Juntos

O trabalho no projeto Evangélicos e Católicos Juntos começou em 1992 , e o primeiro documento foi publicado em 1994, chamado “A Missão Cristã no Terceiro Milênio”. A colaboração produziu cerca de uma dúzia de documentos desde seu início, com alguns deles focados em questões sociais e culturais e outros focados em questões teológicas.

Reno disse que a iniciativa foi lançada com dois objetivos: “Um é ser capaz de falar de forma unida sobre muitas questões culturais do nosso tempo” e o outro é “promover o objetivo maior da unidade cristã falando sobre as áreas em que concordamos”, ao mesmo tempo em que reconhece que as diferenças “permanecem reais”.

Ele disse que a iniciativa ajuda a “quebrar estereótipos que muitas vezes dificultam a compreensão mútua”.

“Todos concordamos que somos chamados por Deus para obedecer à sua vontade; para servir ao seu propósito. Esse é um compromisso unificador numa era secular”, disse Reno.

Reno disse que uma “cultura secular cada vez mais progressiva e hostil, especialmente entre as elites americanas”, tornou a iniciativa possível porque isso “uniu os americanos religiosos”. Ele disse que isso deu “uma oportunidade de realmente ter conversas e sondar nossas diferenças”.

Guarino disse à CNA que católicos e evangélicos se tornaram “aliados nas guerras culturais” primeiro, mas que essa iniciativa tinha como objetivo dar uma unificação teológica.

“É a ideia de que somos irmãos em Jesus Cristo”, disse Guarino.

Ele disse que o ecumenismo é “importante, não como uma aliança política, mas para os cristãos testemunharem juntos”. Ele disse também que, embora “tenhamos algumas diferenças” com os evangélicos, ambos os grupos também “compartilham muito”.

Segundo Guarino, quando a iniciativa foi lançada, os estudiosos de ambos os lados estavam “convencidos de que o Evangelho era importante para responder [ou] certamente contribuir para a compreensão dos complexos problemas sociais e políticos que o país e o mundo enfrentam”.

“Há muito que podemos dizer juntos sobre a Igreja, [embora haja] um longo caminho a percorrer em termos de unidade teológica completa”, disse Guarino.

*Tyler Arnold é repórter do National Catholic Register. Já trabalhou no site de notícias The Center Square e suas matérias foram publicadas em vários veículos, incluindo The Associated Press, National Review, The American Conservative e The Federalist.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/62075/una-santa-catolica-e-apostolica-estudiosos-emitem-declaracao-conjunta-sobre-caracteristicas-da-igreja

Papa: o amor de Jesus é gratuito, não se compra nem se mendiga

Praça São Pedro  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Na catequese desta quarta-feira (09/04), dentro do ciclo dedicado a “A vida de Jesus. Os encontros”, o Papa Francisco refletiu sobre o episódio do jovem rico narrado pelo evangelista Marcos. “Jesus nos convida a largar os pesos que nos impedem de caminhar e a redescobrir a beleza de uma vida vivida no amor gratuito”, afirmou o Pontífice. O olhar de Jesus, cheio de ternura, revela a nossa sede mais profunda: ser amados por aquilo que somos.

Thulio Fonseca - Vatican News

Dando continuidade ao caminho de reflexões para o Jubileu 2025 com o tema "Jesus Cristo, nossa Esperança", o Papa dedicou sua catequese semanal a um encontro marcante do Evangelho: o de Jesus com o jovem rico, tal como narrado em Marcos 10,17-22.

Francisco, no texto publicado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, abordou o drama de quem, mesmo tendo uma vida moralmente correta, sente que algo ainda falta. “Este homem — sublinha o Papa — desde jovem observava os mandamentos, mas ainda não havia encontrado o sentido profundo da vida. Ele carrega dentro de si uma inquietação, uma sede, uma carência que não se resolve apenas com o cumprimento da Lei.”

Jesus vê o coração

O Evangelho apresenta este homem como alguém que corre ao encontro de Jesus, se ajoelha e pergunta: “Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?”. A pergunta revela uma lógica de mérito: como se a salvação fosse uma conquista, um prêmio por boa conduta. “Mas Jesus — explica o Pontífice — vai além da pergunta. Ele não se limita a escutar palavras, Ele olha o coração.”

O verbo usado por Marcos é expressivo: “fitando o olhar, sentiu afeição por ele”. Jesus vê além das aparências, vê a fragilidade e, ao mesmo tempo, o desejo profundo de ser amado:

“SOMOS VERDADEIRAMENTE FELIZES QUANDO NOS DAMOS CONTA DE QUE SOMOS AMADOS ASSIM, GRATUITAMENTE, PELA GRAÇA. E ISTO VALE TAMBÉM NAS RELAÇÕES ENTRE NÓS: ENQUANTO PROCURARMOS COMPRAR O AMOR OU MENDIGAR O AFETO, ESSAS RELAÇÕES NUNCA NOS FARÃO SENTIR FELIZES.”

A proposta de uma vida nova

Jesus propõe ao jovem algo radical: “Vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me”. Trata-se de um convite à liberdade interior, a desatar os nós que nos prendem ao porto da autossuficiência. “A imagem do navio é iluminadora: podemos ter uma embarcação perfeita, mas se os lastros não forem puxados, ela nunca partirá”, comentou o Papa. “Assim acontece conosco: pensamos que estamos bem, mas algo nos impede de avançar. E por vezes, o que julgamos ser uma segurança, é apenas um peso.”

Jesus não chama o jovem à solidão, mas à relação. O seguimento de Cristo é um convite a viver em comunhão, a sair do anonimato. “Na cultura do individualismo em que vivemos, corremos o risco de perder até mesmo o som do nosso nome. Só em uma relação de amor gratuito é que escutamos alguém nos chamar, e então sabemos quem somos.”

Acolher o amor de Deus

O jovem, porém, se afasta triste. “É a tristeza de quem não consegue desapegar-se, de quem permanece preso às suas seguranças”, lamenta o Papa. “Quantas vezes confundimos riquezas com felicidade, e nos esquecemos que o amor não se compra, não se exige: o amor se acolhe.”

O Santo Padre concluiu convidando a todos a confiar ao Coração de Jesus as pessoas que se sentem tristes, indecisas, bloqueadas em suas escolhas. “Peçamos que cada um possa sentir o olhar de Jesus, cheio de ternura, que nos ama assim como somos e nos chama a levantar âncora, a largar o porto e a navegar para o largo da esperança.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 8 de abril de 2025

Como ajudar adequadamente um ente querido com depressão?

Gorodenkoff | Shutterstock

Aleteia Polônia - publicado em 02/04/25

Como a família e os amigos podem ajudar uma pessoa com depressão? Às vezes, uma pequena mudança é suficiente, outras vezes uma presença silenciosa.

A depressão não é uma tristeza passageira. É uma doença que tira sua esperança, o tranca na escuridão e torna até as atividades mais simples um grande esforço. O problema adicional é que muitas pessoas se identificam com sua depressão. A doença torna-se a base de sua identidade. Aqui está a maneira certa de ajudar.

Por que evitar rótulos?

Um importante artigo científico sobre adolescentes e jovens adultos com problemas de saúde mental foi publicado em 2024. Ele revelou que adotar um rótulo como "Eu tenho depressão" apenas agrava o problema. 

Uma pessoa que só pensa em si mesma em termos de sua doença pode parar de acreditar que tem algo a dizer em sua vida. Embora ela geralmente se beneficie da farmacoterapia, ela muitas vezes renuncia à psicoterapia e outras formas de apoio (como atividade física e mudanças na dieta) que, como mostra um crescente corpo de pesquisas, são cruciais para superar a depressão. 

Portanto, em vez de tranquilizar o paciente de que a depressão é uma parte intrínseca de sua identidade, é aconselhável comunicar uma perspectiva diferente. As palavras: "Você está lutando, mas juntos encontraremos uma solução" não o prendem a um padrão, mas abrem um espaço para a mudança. Essa abordagem oferece esperança e nos lembra que a depressão não define uma pessoa – é apenas um momento difícil da vida.

Conversa que dá esperança: como falar para ser verdadeiramente solidário?

Uma situação especialmente difícil é quando a pessoa que apresenta sintomas de depressão é um adolescente. Mesmo quando temos uma criança saudável, em conversas com ela podemos sentir que estamos falando com uma parede. Perguntamos: "Como foi a escola?" e a resposta é "Bem". Perguntamos: "O que aconteceu?" e a criança responde: "Nada". Essa forma de comunicação é especialmente comum em adolescentes que sofrem de transtornos depressivos. É por isso que estamos compartilhando algumas dicas para melhorar a comunicação. 

É essencial entender que a depressão muda a maneira como percebemos a realidade. Às vezes o paciente não fala muito porque não tem forças, outras vezes porque sente que, de qualquer forma, ninguém vai entendê-lo. Portanto, vale apostar em uma comunicação que não force respostas longas, mas mostre que a outra pessoa está disposta a ouvir. 

Aqui ajuda a escuta reflexiva, ou seja, parafrasear o que o interlocutor diz. Se, por exemplo, um adolescente diz com raiva: "Eu odeio quando você fala comigo, você é sempre tão mandão e sabe tudo. É como se você não me notasse." O pai pode responder: "Eu entendo que você está chateado porque sente que eu não o ouço". 

No entanto, nem sempre é necessário procurar respostas. Às vezes, a maior ajuda é simplesmente estar presente. Quando a pessoa não quer falar, basta dizer: "Estou aqui por você", ou simplesmente estar ao  lado, sem pressão, sem julgar, sem esperar.

Palavras que apoiam

Em certa ocasião, Amélia, uma garota de 13 anos que também sofria de depressão, escreveu um artigo sábio em seu (agora extinto blog "anjos de porcelana") sobre o que uma pessoa com depressão precisa ouvir. Aqui estão algumas frases-chave:

Estou ao seu lado. Eu não vou abandoná-lo. 

Você é importante para mim. 

Vejo que você está passando por um momento difícil. 

Se você quiser conversar, estou aqui. 

Como posso ajudá-lo? 

Não há nada de errado em pedir ajuda. 

Não é sua culpa. 

Você não está sozinho. 

Estarei ao seu lado, mesmo que as coisas corram mal para você.

Pequenos passos, grandes mudanças: como você pode ajudar realmente uma pessoa com transtorno depressivo?

Uma pessoa deprimida geralmente desiste de atividades que antes a faziam feliz. O mundo está ficando cada vez menor: primeiro desaparece o desejo de encontrar amigos, depois os pequenos rituais diários são negligenciados, até que finalmente a única realidade ainda é a cama e a tela do smartphone. Esse mecanismo pode ser comparado ao funil da depressão: quanto mais fundo o paciente afunda nele, mais difícil é para ele sair.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/04/02/como-ajudar-adequadamente-um-ente-querido-com-depressao

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF