Translate

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Cardeal Scherer: Vida após a morte?

Cardeal Odilo Pedro Scherer - Arcebispo metropolitano de São Paulo (Vatican News)

Para os cristãos, a afirmação da vida após a morte corporal é fundamental e faz parte da compreensão que temos sobre a existência humana. Antes de tudo, proclamamos na nossa Profissão de Fé: “Creio na ressurreição da carne (ou dos mortos) e na vida eterna”.

Cardeal Odilo Pedro Scherer - Arcebispo metropolitano de São Paulo

Dias atrás, circulou nas mídias uma pesquisa sobre a crença na vida após a morte, publicada pela WVS (World Values Survey), mostrando a percentagem de pessoas que, em diversos países, acreditam, ou não, em vida após a morte. Nos países escandinavos, países do Báltico, Alemanha, Espanha e Portugal são cerca de 39%; na Rússia, são 38,7%; na China, apenas 11,5%; na Itália, França e Grã-Bretanha, não chegam a 50%; no Brasil, Argentina, Austrália e Canadá, em média, são 58%; nos Estados Unidos, 68,2%; no México, 70,8%. Nos países de maioria muçulmana, o percentual dos que acreditam em vida após a morte é bem mais alto, passando de 90% no Paquistão, Turquia e Irã, e chegando a mais de 95% em Marrocos, Líbia e Bangladesh.

Essa diferença na convicção sobre a vida após a morte entre países de longa tradição cristã e os de tradição muçulmana é intrigante. Quais serão os motivos que levam o povo de fé cristã crer menos na vida após a morte do que os de tradição muçulmana? Evidentemente, a questão precisa ser compreendida a partir de sua complexidade, e o conceito de “vida após a morte” não é unívoco. Para os cristãos, “vida após a morte” inclui a ressurreição e a vida eterna e não a “reencarnação”, assumida por várias culturas. De toda maneira, o que está em questão é se a vida se extingue, simplesmente, com a morte corporal, ou segue adiante, de alguma maneira.

Para os cristãos, a afirmação da vida após a morte corporal é fundamental e faz parte da compreensão que temos sobre a existência humana. Antes de tudo, proclamamos na nossa Profissão de Fé: “Creio na ressurreição da carne (ou dos mortos) e na vida eterna”. Esses são dois elementos integrantes da nossa fé cristã e a sua negação comprometeria nossa condição de cristãos. Afirmamos que Deus não fez o ser humano para a morte eterna, mas para a vida eterna. A morte corporal é parte da existência humana, mas não é a última etapa da existência. Sobre o modo como se darão a ressurreição da carne e a vida eterna, podemos apenas especular racionalmente. O certo é que isso não está no domínio do homem, mas do poder de Deus. São dons de Deus a vida eterna e seu chamado a participar, desde agora, de sua vida e sua felicidade. A sua plenitude se dará apenas na vida eterna.

O ensinamento sobre a ressurreição e a vida eterna está solidamente fundamentado nos ensinamentos de Jesus Cristo. Em uma discussão com alguns saduceus, Ele afirma que Deus “não é o Deus dos mortos, mas dos vivos, porque, para Deus, todos vivem” (cf. Lc 20,38). Na longa reflexão sobre o “pão da vida” (João,6), Jesus afirma mais de uma vez que Ele é “o pão da vida” e quem dele comer “possui a vida eterna” (cf. Jo 6,51). E diz a Marta, sem meias palavras: “Eu sou a ressurreição e a vida”.

“Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá” (Jo 11,25-26). Ao bom ladrão, Jesus promete a vida eterna para imediatamente: “Hoje, estarás comigo no paraíso” (Lc 23,42-43). Para negar a fé na ressurreição e na vida eterna (vida após a morte), seria necessário riscar muitas páginas do Evangelho e dos ensinamentos de Jesus.

Desde os Apóstolos, o ensinamento sobre a ressurreição dos mortos e a vida eterna foi fiel e firmemente transmitido pela Igreja. São Paulo ensina que Cristo ressuscitado é o “primogênito dentre os mortos” que ressuscitou e que também os demais humanos, pela fé em Cristo ressuscitado, participarão da vida do Ressuscitado: “como em Adão todos morreram, em Cristo todos reviverão” (1Cor 15 22). E com força ensina que “este ser corruptível deve ser revestido de incorruptibilidade e este ser mortal deve ser revestido de imortalidade” (cf. 1Cor 15,54-57). E que a própria morte será vencida e desaparecerá, graças ao poder de Deus (cf. 1Cor 15,26). Entre muitas outras referências ao nosso chamado à participação na vida eterna, vale acenar ainda a esta passagem dos ensinamentos de São Paulo: “Como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, então também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação e vã, a vossa fé. (...) Se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão” (1Cor 15,12-14.19).

Diante dos dados da pesquisa, acima acenados, a questão que nos deve levar a refletir é esta: por que a fé na ressurreição e na vida eterna tem índices de aceitação tão pouco expressivos entre os povos de longa tradição cristã? Mesmo no Brasil, em que os cristãos (católicos, ortodoxos, anglicanos, evangélicos) somam mais de 85% da população, aqueles que acreditam em vida após a morte não chegam a 60%. Em conclusão, muitos cristãos não creem nas palavras do Evangelho sobre a vida eterna e a ressurreição dos mortos. Quais seriam os motivos? Podemos aludir ao avanço do indiferentismo religioso ou do materialismo como convicção de vida.

No entanto, mesmo se essa explicação for verdadeira, ela não é a única e nos leva a perguntar: será que nós, cristãos, falamos bastante da vida eterna e alimentamos a fé no Deus da vida e da esperança? Em nossas catequeses e homilias, quantas vezes falamos dessas verdades centrais de nossa fé? O Ano Jubilar oferece uma ocasião para reavivarmos nossa esperança na vida eterna.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 26 de agosto de 2025

HISTÓRIAS DAS MISSÕES: De Valtellina aos Andes (Parte 1/2)

Padre Ugo de Censi com Padre Daniele Badiali em Yanama, Peru, em 1992 [© Don Mirko Santandrea] | 30Giorni.

Arquivo n30Dias nº 09 - 2011

Operação Mato Grosso

De Valtellina aos Andes

"Sempre quis ver com meus próprios olhos como era o Oratório de Valdocco quando Dom Bosco estava lá. Meu desejo foi realizado aqui, aos pés da Cordilheira dos Andes."
O Cardeal Martini disse isso ao visitar a missão do salesiano Ugo de Censi, o iniciador da Operação Mato Grosso. Contamos sua história.

por Giovanni Ricciardi

Padre Ugo de Censi tem agora oitenta e sete anos e é sacerdote na Congregação Salesiana há sessenta. Desde 1976, vive em Chacas, uma aldeia remota no leste do Peru, aos pés da Cordilheira dos Andes, cuja majestade lhe lembra as montanhas de sua cidade natal, Valtellina. Um lugar onde a vida é precária, onde o sustento precisa ser arrancado das montanhas todos os dias, e a pobreza é a condição de todos.

Com os pobres da terra quero lançar o meu destino ", canta uma das melodias latino-americanas mais famosas, "Guantanamera ": um verso que resume, em sua beleza, a beleza da experiência missionária do Padre Ugo: "Com os pobres da terra quero lançar o meu destino". Lançando a sorte, arriscando, semeando uma semente que deu frutos excepcionalmente abundantes em Chacas, tanto que o Cardeal Martini, ao visitar a missão para inaugurar uma casa doada pela Diocese de Milão, disse: "Sempre quis ver com meus próprios olhos como era o Oratório de Valdocco quando Dom Bosco estava lá. Meu desejo foi realizado aqui, aos pés dos Andes."

Padre Ugo retorna à Itália ocasionalmente para se encontrar com os grupos de voluntários que o ajudam há muitos anos, arrecadando alimentos e roupas todos os meses e trabalhando pro bono para enviar dinheiro à missão: uma experiência não denominacional, sem status legal na Igreja, onde qualquer pessoa que queira dar uma mão é bem-vinda. Desde a década de 1970, seu nome não mudou: chama-se Operação Mato Grosso. Padre Ugo prega retiros para aqueles que desejam uma experiência mais distintamente católica dentro do movimento. As fórmulas são simples: rezam de acordo com a tradição da Igreja e ajoelham-se, inclusive para a confissão. Há muitas pessoas, tomando notas silenciosamente, ditadas pelo pai, como um professor do ensino fundamental, acrescentando pouco verbalmente. O tema deste ano foi: "Bernadette e Aquerò ". O objetivo do retiro: "Aprender a fazer o sinal da cruz corretamente".

A referência a Lourdes não é coincidência, mas sim uma etapa fundamental na vida deste salesiano "animado, alegre e rebelde", como o descreviam seus superiores. Mas ele também estava com a saúde debilitada. A espondilite tuberculosa, diagnosticada no seminário, o manteve hospitalizado por três anos. E a fístula aberta que o obrigou a uma internação tão longa só sarou na gruta de Massabielle. Assim, o Padre Ugo, finalmente recuperado, pôde ser ordenado sacerdote em 1951 pelo Cardeal Schuster, na Catedral de Milão. "Mas meus superiores", conta ele, "ainda me consideravam um cabeça-quente. E assim, para 'me fazer parar de brincar', me deram o cargo de diretor espiritual de um reformatório masculino em Arese." Permaneceu ali por vinte anos inteiros: "E lá aprendi que palavras religiosas são inúteis. Os jovens que ouviam meus sermões se afastavam. E no final, diante da minha decepção, alguém me disse: 'Você já se olhou? Não vê como é? Ao menos tente me amar um pouco.'"

E assim, no final da década de 1960, comovido pelas histórias de seus irmãos missionários que falavam da pobreza e das imensas necessidades das missões, começou a viajar para a América do Sul e a organizar ajudas para essas obras salesianas. Até que, em 1976, aos 52 anos, tomou a decisão de ir morar definitivamente no Peru, em Chacas. Acompanhavam-no alguns jovens que haviam saído do reformatório de Arese. "Eu havia perdido muito dos aspectos externos da religião. Mas em Chacas voltei a ser criança. E redescobri as coisas simples da fé: a vida de Jesus e a devoção, cantar bem na igreja, manter as mãos unidas em oração. Retomei essas coisas com os rapazes da missão."

"Por enquanto, sou padre", escreveu ele nos primeiros meses de sua estadia nos Andes: "Chacas tem uma igreja enorme, aos domingos ela se enche de gente, todos ficam em silêncio. Sinto-me em casa, sinto que eles são meu povo. Gosto de fazê-los cantar. Sinto que me amam, gostaria de conhecê-los um por um." E novamente: "Acho que serei um padre à moda antiga aqui: catecismo, canto, visita aos doentes, missas... com essas pessoas que precisam de pão, estradas, trabalho, higiene. Os rapazes da Operação que virão me ajudarão a encontrar soluções para essas necessidades."

E assim foi nos anos seguintes. Com a ajuda dos voluntários da Operação Mato Grosso, o Padre Ugo realizou um número impressionante de obras de caridade: escolas profissionalizantes para entalhadores, enfermeiros e professores, um hospital em Chacas, lares para crianças órfãs e abandonadas, a reparação e construção de pontes e estradas, e até a construção de uma usina hidrelétrica que abastece a cidade com energia. Todas essas obras levam o nome de Dom Bosco ou Maria Auxiliadora, na mais genuína tradição salesiana. E, claro, havia também um oratório para os milhares de crianças e jovens que ali se reúnem todos os domingos.

"Você deveria vir a Chacas", escreve um de seus irmãos e colaboradores salesianos, "para conhecer sua casa, para descobrir a riqueza de um coração tão livre quanto o dele, um coração pelo qual é fácil se apaixonar. Você descobriria que a casa do Padre Ugo é uma praça sem paredes, sem portas, não porque elas não existam, mas porque foram derrubadas pelas pessoas que se aglomeravam à porta para entrar. Um pouco como diz o Salmo: "Os muros da vinha do Senhor foram derrubados, e todo viajante colhe suas uvas."

Fonte: https://www.30giorni.it/

A esperança na boca dos Profetas

Praça São Pedro (Vatican Media)

"O dicionário de Teologia Bíblica, de Xavier Leon-Dufour, aponta a nova esperança anunciada pela boca dos profetas que “anunciam a paz, a salvação, a luz a cura, a redenção. Os profetas ‘entreveem a renovação maravilhosa e definitiva do paraíso, do êxodo, da Aliança ou do Reino de Davi. Israel será saciado com bênçãos de Javé (Jr 31,14) e verá afluir a si a riqueza das nações (Is 61)."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

No Antigo Testamento, a esperança manifesta-se como uma chama que atravessa a história de Israel. Em meio a exílios, injustiças e crises sociais, os profetas não se limitam a fazer advertências ou denunciar, mas falam de promessa: a convicção de que Deus não abandona o seu povo. Eles anunciam um futuro de restauração, paz e justiça, onde o Senhor reergueria os caídos e abriria caminhos novos. Essa esperança não era ilusão, mas total confiança em um Deus fiel, que age mesmo quando tudo parece perdido.

Ao proclamar essa esperança, os profetas mantinham viva a coragem do povo, lembrando que a história não termina no sofrimento. Suas palavras apontavam para dias de reconciliação e renovação, muitas vezes descritos em imagens de abundância, fraternidade e presença divina. Assim, a esperança profética não se limitava ao futuro distante, mas convidava à transformação já no presente: uma vida em aliança com Deus e em solidariedade com os mais vulneráveis.

No contexto deste Ano Jubilar, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje "A esperança na boca dos Profetas": 

"Os profetas na Sagrada Escritura sempre anunciam a esperança para Israel, mas também apontam para àquilo que não está conforme à aliança que Deus realizou com o seu povo, quando houve o selo e enlace do povo ser o rebanho de Deus e Iahweh ser o Deus de seu povo. Quando o povo se desvia da aliança, buscando a idolatria e cultuando outros deuses, os profetas denunciam essa esperança ilusória, conforme vemos no profeta Jeremias (Jr 8, 15; 13,16), O versículo de Jeremias 8,15 diz: "Esperamos a paz, mas não veio bem algum; esperávamos um tempo de cura, mas só houve terror". Este versículo expressa a frustração do povo de Judá, que esperava tempos de paz e cura, mas em vez disso, enfrentou apenas sofrimento e desgraça. O profeta Jeremias descreve a situação do povo de Judá, que, apesar de ter conhecimento da lei de Deus, não a pratica e se afasta Dele, resultando em julgamento e sofrimento. Esse versículo 15 reflete essa realidade, mostrando que a esperança do povo em tempos melhores é frustrada devido à sua infidelidade. Pois, sem fidelidade, não há que esperar a “salvação”, profetiza Oséias: “Sim, o Senhor, o Deus dos Exércitos; o Senhor é o seu memorial. Tu, pois, converte-te a teu Deus; guarda a benevolência e o juízo, e em teu Deus espera sempre. É um mercador; tem nas mãos uma balança enganosa; ama a opressão. E diz Efraim: Contudo me tenho enriquecido, e tenho adquirido para mim grandes bens; em todo o meu trabalho não acharão em mim iniquidade alguma que seja pecado. Mas eu sou o Senhor teu Deus desde a terra do Egito; eu ainda te farei habitar em tendas, como nos dias da festa solene” (Os 12, 5-9). O profeta Isaias diz: “Também no caminho dos teus juízos, Senhor, te esperamos; no teu nome e na tua memória está o desejo da nossa alma” (Is 26,8).

Às vezes a esperança parece estar fechada para Israel e para nós e somos tentados a dizer como o profeta Ezequiel: “Nossa esperança está destruída” (Ez 37,11). Ou ainda conforme o livro das Lamentações: “Então disse eu: Já pereceu a minha força, como também a minha esperança no Senhor” (Lm 3,18).     Quando, de fato, perdemos esperança, tudo morre, tudo vai por água abaixo. Pois, a fé e a caridade, se move pela esperança, que é a última que morre como diz o provérbio popular. Para os profetas, a esperança está escondida, como vemos na passagem do profeta Isaías: “Liga o testemunho, sela a lei entre os meus discípulos. E esperarei ao Senhor, que esconde o seu rosto da casa de Jacó, e a ele aguardarei (Is 8,16-17). Mas a esperança não deverá desaparecer. A realização da promessa de Deus se cumpre e se realiza. Quando Deus promete, não trai jamais. A Palavra de Deus se cumpre em nossa vida e na vida do Povo de Deus. Na hora do castigo, há um anúncio de um futuro cheio de esperança.

Em Jeremias 31,17 diz: "E há esperança no teu futuro, diz o Senhor, porque teus filhos voltarão para os seus termos". Este versículo promete esperança e restauração para o povo de Israel, indicando que seus filhos retornarão para sua terra natal após o exílio. Na verdade, exilado na Babilônia, Jeremias se torna para o Povo de Israel o grande profeta da esperança de dias melhores e da repatriação do povo à sua terra de Canaã. Nos salgueiros dos rios da Babilônia, a pedido dos guardas, cantavam cânticos de Sião, com imensa nostalgia do templo santo de Jerusalém.

A infidelidade de Israel não impede de que tenha Esperança. Deus lhe perdoará (Os 11; Lm 3,22-33;Is 54,4-10). A salvação pode retardar, mas Iahweh é a “esperança de Israel”. Em Jeremias 14,8 lemos assim: "Ó Esperança de Israel, Redentor seu no tempo da angústia! Por que serias como um estrangeiro na terra e como o viandante que se retira a passar a noite?". Neste versículo, o profeta Jeremias clama a Deus, reconhecendo-o como a esperança e redentor de Israel. Também em outro versículo do mesmo profeta, lemos assim: "Ó Senhor, esperança de Israel, todos aqueles que te abandonam serão envergonhados; aqueles que se desviarem de ti terão seus nomes escritos no chão, pois abandonaram o Senhor, a fonte de água viva"(Jr 17,13).

O dicionário de Teologia Bíblica, de Xavier Leon-Dufour, aponta a nova esperança anunciada pela boca dos profetas que “anunciam a paz, a salvação, a luz a cura, a redenção. Os profetas ‘entreveem a renovação maravilhosa e definitiva do paraíso, do êxodo, da Aliança ou do Reino de Davi. Israel será saciado com bênçãos de Javé (Jr 31,14) e verá afluir a si a riqueza das nações (Is 61). Próximos que ainda estão do antigo Israel, os profetas põem, no posto central do futuro, Israel e sua felicidade (bem-aventurança) temporal”[1]. Deus terá renovado os corações(Ez 36,25), tirando o coração de pedra e dando um coração de carne, e as nações se converterão (Is 2,3;Jr 3,17;Is 45,14s). Para os profetas a Esperança vem a ser o próprio Deus e seu Reino (Is 51,5;60,19s, 63,19)".

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
___________________

[1] VOCABULÁRIO DE TEOLOGIA BÍBLICA, Xavier Leon Dufourd, 5ª Edição, Vozes, Petrópolis, 1992, p.290.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

5 hábitos da infância que impactam seus comportamentos na vida adulta

Diversos hábitos que cultivamos na vida adulta podem surgir na infância; confira alguns deles e seus impactos | Foto: Reprodução: Canva/FatCamera / Bons Fluidos

Durante a infância, uma série de hábitos são desenvolvidos e podem moldar comportamentos até a vida adulta; veja quais.

Por: Isabella Bisordi

25 ago. 2025

A infância é uma das fases mais importantes da vida, ainda que muitas vezes subestimada. É nesse período que formamos nossas primeiras percepções sobre o mundo, aprendemos a lidar com emoções e começamos a construir hábitos que podem nos acompanhar para sempre. Esses comportamentos, sejam físicos, mentais ou sociais, podem determinar desde nossa saúde até nossa forma de nos relacionar com os outros.

Alguns desses hábitos trazem benefícios que se prolongam por toda a vida, enquanto outros podem gerar dificuldades na fase adulta. Por isso, compreender a influência da infância é essencial para criar ambientes mais positivos e favorecer o desenvolvimento saudável.

5 hábitos que desenvolvemos na infância

1. Alimentação

Os hábitos alimentares começam na infância e costumam persistir na vida adulta. Crianças expostas a uma alimentação variada e nutritiva tendem a crescer mais abertas a escolhas saudáveis, o que ajuda a prevenir obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Por outro lado, dietas ricas em ultraprocessados e açúcar podem criar preferências difíceis de mudar depois.

2. Leitura

Ler regularmente na infância é muito mais do que diversão: é um treino para a mente. A leitura amplia o vocabulário, melhora a escrita, fortalece o pensamento crítico e ainda estimula a criatividade e a empatia. Crianças leitoras têm mais facilidade de se expressar e de compreender diferentes pontos de vista, habilidades valiosas para toda a vida.

3. Atividade física

Correr, brincar, praticar esportes ou dançar - qualquer atividade física na infância ajuda a formar um padrão de vida ativo. Além dos benefícios para o corpo, o movimento também influencia na saúde mental: melhora o humor, reduz a ansiedade, aumenta a autoestima e contribui para um sono de qualidade.

4. Habilidades sociais

As primeiras experiências de socialização (compartilhar brinquedos, brincar em grupo, resolver conflitos) ensinam cooperação, empatia e comunicação. Essas competências se transformam em relacionamentos mais saudáveis na vida adulta, além de serem habilidades valorizadas no ambiente profissional.

5. Responsabilidade e organização

Assumir pequenas tarefas, aprender a lidar com horários e organizar materiais são atitudes que, quando ensinadas cedo, tornam-se ferramentas importantes na vida adulta. Essas habilidades ajudam a lidar melhor com compromissos, metas e desafios, trazendo mais autonomia e confiança.

Quando os hábitos não são positivos

Nem sempre o que é aprendido na infância traz benefícios. O excesso de televisão, por exemplo, pode reduzir a comunicação entre pais e filhos. O contato precoce com violência em programas e jogos pode aumentar a agressividade. Experiências traumáticas, por sua vez, podem afetar a relação com a comida e até desencadear transtornos alimentares no futuro.

É possível, então, mudar esses hábitos formados na infância? A resposta é sim. Embora muitos padrões sejam criados cedo, eles podem ser transformados com esforço consciente, autoconhecimento e, em alguns casos, com ajuda profissional, como na terapia comportamental.

Um investimento no futuro

Pais e cuidadores são modelos diretos para as crianças. Quando estabelecem rotinas saudáveis, incentivam a curiosidade e ensinam sobre emoções, oferecem bases sólidas para hábitos positivos. A escola também desempenha um papel crucial, pois reforça padrões de comportamento, disciplina e convivência social.

A infância é, em essência, um investimento de longo prazo. Os hábitos aprendidos nesse período moldam adultos mais saudáveis, resilientes e equilibrados, capazes de contribuir para a sociedade. Incentivar bons hábitos desde cedo é plantar sementes que florescerão em bem-estar, saúde e sucesso ao longo da vida.

Fonte: https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/comportamento/5-habitos-da-infancia-que-impactam-seus-comportamentos-na-vida-adulta,a732a11ca3c071c83f60d76337cec59er0t0ejmy.html?utm_source=clipboard

Leão XIV exorta legisladores católicos a olharem para a 'Cidade de Deus' de santo Agostinho

O papa Leão XIV observa um presente de um participante da reunião da Rede Internacional de Legisladores Católicos, no Vaticano, no último sábado (23). | Vatican Media

Por Courtney Mares*

25 de ago. de 2025

O papa Leão XIV pediu a legisladores católicos no último sábado (23) que se inspirem na "Cidade de Deus" de santo Agostinho, enquanto navegam pela política global em constante mudança, alertando contra a redução da ideia de florescimento humano à mera riqueza ou conforto do consumidor.

Falando à Rede Internacional de Legisladores Católicos na Sala Clementina do Palácio Apostólico, o papa pediu aos parlamentares que garantam que “o poder seja controlado pela consciência e que a lei esteja a serviço da dignidade humana”.

“A autêntica prosperidade humana manifesta-se quando as pessoas vivem virtuosamente, quando vivem em comunidades saudáveis, beneficiando não só do que têm, do que possuem, mas também do que são como filhos de Deus”, disse aos legisladores.

“Assegura a liberdade de procurar a verdade, de adorar a Deus e de criar uma família em paz” disse Leão XIV. “Inclui também uma harmonia com a criação e um sentido de solidariedade através das classes sociais e das nações”.

A Rede Internacional de Legisladores Católicos, fundada em 2010 pelo cardeal austríaco Christoph Schönborn e pelo parlamentar britânico David Alton, reúne parlamentares católicos anualmente em Roma para discutir a liberdade religiosa, as relações Igreja-Estado, a proteção da vida e o papel do pensamento católico na política.

O encontro de quatro dias deste ano em Roma abordou o tema “A Nova Ordem Mundial: Política das grandes potências, domínios corporativos e o futuro do florescimento humano”.

Em seu discurso, o papa destacou santo Agostinho de Hipona, que escreveu A Cidade de Deus no colapso do Império Romano.

“Para encontrar o nosso equilíbrio nas circunstâncias atuais — especialmente vós, legisladores e líderes políticos católicos — sugiro que olheis para o passado, para a eminente figura de santo Agostinho de Hipona”, disse.

Como voz de destaque da Igreja no final da era romana, o santo testemunhou imensas convulsões sociais e desintegração social. Em resposta, ele escreveu A Cidade de Deus, obra que oferece uma visão de esperança, uma visão de significado que ainda toca os fiéis hoje.

O papa falou sobre como Agostinho ensinou que há duas “cidades” interligadas na história humana que significam duas orientações do coração humano: “A cidade do homem, construída sobre o orgulho e o amor próprio, distingue-se pela busca do poder, do prestígio e do prazer; a cidade de Deus, edificada sobre o amor a Deus até ao altruísmo, caracteriza-se pela justiça, caridade e humildade”.

Leão XIV disse que os legisladores são chamados a “ser construtores de pontes entre a cidade de Deus e a cidade do homem”.

“Agostinho encorajou os cristãos a impregnar a sociedade terrena com os valores do Reino de Deus, orientando assim a história para o seu cumprimento último em Deus, mas permitindo também a autêntica prosperidade humana nesta vida”, disse o papa.

“O futuro da prosperidade humana depende do tipo de amor que escolhemos para organizar a nossa sociedade: um amor egoísta, o amor próprio, ou o amor a Deus e ao próximo”, acrescentou.

O papa Leão XIV falou sobre as noções culturais predominantes de progresso e desenvolvimento. "Devemos esclarecer o significado de prosperidade humana”, disse. “Hoje, a vida próspera é frequentemente confundida com uma vida rica do ponto de vista material, ou com uma vida de autonomia individual sem restrições e de prazer".

“O chamado futuro ideal que nos é apresentado distingue-se frequentemente pelo conforto tecnológico e pela satisfação do consumidor”, disse Leão XIV. “Mas sabemos que isto não é suficiente. Vemo-lo nas sociedades abastadas, onde muitas pessoas lutam contra a solidão, o desespero e uma sensação de falta de significado”.

Em vez disso, disse o papa, o verdadeiro florescimento provém do que a Igreja chama de “desenvolvimento humano integral”, ou “o pleno crescimento da pessoa em todas as dimensões: física, social, cultural, moral e espiritual”.

“Essa visão da pessoa humana está enraizada na lei natural, a ordem moral que Deus inscreveu no coração humano, cujas verdades mais profundas são iluminadas pelo Evangelho de Cristo”, disse.

O papa Leão XIV é o primeiro papa da Ordem de Santo Agostinho, também conhecida como agostinianos, ordem religiosa com milhares de membros em todo o mundo. Ele liderou a ordem de 2001 a 2013.

Nos primeiros meses de seu pontificado, o papa Leão XIV citou seu pai espiritual, santo Agostinho, em diversas ocasiões, estabelecendo uma abordagem pastoral profundamente enraizada na tradição agostiniana.

Antes de cumprimentar os legisladores um por um, o papa agradeceu a eles por “levarem a mensagem do Evangelho à arena pública”.

“Asseguro-vos as minhas orações por vós, pelos vossos entes queridos, pelas vossas famílias, pelos vossos amigos e, especialmente hoje, por aqueles a quem servis”, disse ele. “Que o Senhor Jesus, Príncipe da Paz, abençoe e guie os vossos esforços em prol da autêntica prosperidade da família humana”.

*Courtney Mares é correspondente em Roma, Itália, pela Catholic News Agency (CNA), agência em inglês da EWTN. Formada pela Universidade de Harvard, nos EUA, ela fez reportagens em agências de notícias em três continentes e recebeu a bolsa Gardner Fellowship por seu trabalho com refugiados norte-coreanos.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/64233/leao-xiv-exorta-legisladores-catolicos-a-olharem-para-a-cidade-de-deus-de-santo-agostinho

Papa recorda Pe. Andrius Rudamina, primeiro lituano na Índia, modelo de fraternidade à sociedade atual

O Pe. Andrius Rudamina faleceu cedo, aos 35 anos, na China, vítima de tuberculose (Vatican News)

Ele foi o primeiro lituano a chegar na Índia 400 anos atrás. O aniversário está sendo celebrado nesta segunda-feira (25/08) no país, inclusive com um telegrama enviado por Leão XIV e assinado pelo cardeal Parolin. O testemunho do missionário jesuíta, segundo o Papa, encoraja os cristãos "a promover o diálogo ecumênico e inter-religioso que pode servir de modelo para todos na sociedade de harmonia fraterna, reconciliação e concórdia".

Andressa Collet - Vatican News

O Papa Leão XIV enviou nesta segunda-feira (25/08) uma telegrama dirigido ao arcebispo de Goa e Damão na Índia, cardeal Filipe Neri António Sebastião do Rosário Ferrão, por ocasião dos 400 anos da chegada do primeiro lituano àquele país, o Pe. Andrius Rudamina.

Na mensagem, assinada pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, o Pontífice transmitiu uma saudação especial a todos os fiéis reunidos na Catedral de Goa Velha, a Sé de Santa Catarina e considerada a maior igreja construída pelos portugueses em todo o mundo, para celebrar o aniversário e afirmou se unir ao encontro de ação de graças pelo testemunho do sacerdote missionário. 

Andrius Rudamina (1596–1631) foi um jesuíta lituano que renunciou ao conforto e status político, entregando-se à vida religiosa e se tornando um pioneiro ao levar o Cristianismo à Índia e à China. Ele morreu jovem, aos 35 anos, mas deixou um legado de "sólida fé católica que ainda hoje é visível na Lituânia". O Papa, em telegrama, ainda disse rezar para que a celebração "de tanta generosidade e coragem em levar a mensagem de salvação do Evangelho a todos os povos incentive muitos em nossos dias a responder com semelhante paciência e engenhosidade à tarefa da evangelização".

Leão XIV também confiou que, com base "no zelo missionário do Pe. Rudamina e no impressionante legado de diálogo e integração cultural", os cristãos desta Igreja local sejam encorajados, especialmente neste Ano Jubilar centrado na esperança, "a promover o diálogo ecumênico e inter-religioso que pode servir de modelo para todos na sociedade de harmonia fraterna, reconciliação e concórdia". Ao final do telegrama, o Papa concedeu a bênção apostólica extensiva aos familiares dos fiéis, "como promessa de alegria e paz em nosso Senhor Jesus Cristo".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

A surpreendente e sofisticada dieta dos monges medievais

Francisco de Zurbarán - Museo de Bellas Artes de Sevilla | Public Domain
Uma pintura que ilustra a vida dos monges cartuxos na Cartuxa de Nuestra Señora de las Cuevas em Sevilha, Espanha. Os monges cartuxos abraçam uma vida de solidão e contemplação compartilhadas.

Zelda Caldwell - publicado em 19/09/18 - atualizado em 25/08/25

Nem só de pão eles viviam.

O historiador David Snowden, em seu livro Flans and Wine, publicou receitas usadas por monges beneditinos na Inglaterra do século XIV, revelando que eles sobreviveram muito mais do que apenas de pão.

As receitas usadas pelos monges beneditinos da Evesham Abbey, fundada em 701, indicam que os monges tinham, na verdade, paladares bastante sofisticados.

Muitos pratos eram condimentados com ervas e especiarias difíceis de se conseguir na época.

Tais especiarias "eram muito caras. E uma maneira de mostrar a prosperidade da abadia era produzir alimentos e condimentos raros", disse Snowden à BBC.

"Por exemplo, muitas dessas receitas levavam açafrão, porque ele valia mais do que ouro”, disse ele. Assim, apenas poucos mosteiros podiam comprar ou produzir o condimento. 

As receitas ainda incluíam mexilhões cozidos com alho-poró e molho de Saracen (um molho picante vermelho), carne de caranguejo frito em azeite com ovos mexidos e pratos contendo ostras, língua de boi, vitela e javali.

Durante a Quaresma, quando o consumo de carne era proibido, Snowden afirma que os monges podem ter comido “Cawdel of Muskels”, ou seja: mexilhões cozidos em vinho branco, temperados com cebolas e alho-poró, gengibre e uma pitada de açafrão.

No livro, o historiador adaptou as receitas, que foram escritas no inglês arcaico, para o uso de hoje, usando medições e ingredientes modernos disponíveis no mercado atual, especialmente as mercearias gourmet.

Snowden acredita que a dieta dos monges pode ter influenciado na longevidade deles, já que era uma dieta em que faltava frutas e outros alimentos mais saudáveis. "Eles não eram muito saudáveis e a idade média de morte era de 35 anos - a maioria deles morreu de doenças brônquicas, provavelmente causadas por dieta deficiente - mas a expectativa de vida não era muito longa", disse ele à BBC.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2018/09/19/a-surpreendente-e-sofisticada-dieta-dos-monges-medievais/

Homem e mulher na sociedade e na Igreja (Parte 2/2)

Foto/Crédito: Opus Dei.

Homem e mulher na sociedade e na Igreja

Como São Josemaria compreendia o papel do homem e da mulher na sociedade? Ambos “se hão de sentir justamente protagonistas da história da salvação” Este texto, do “Diccionario de san Josemaria Escrivá de Balaguer” explica algumas chaves dos seus ensinamentos.

20/08/2025

3. Homem e mulher na sociedade e na Igreja

Da consideração precedente sobre igualdade e diferença entre homem e mulher se deduzem consequências práticas no campo da atividade humana. Os ensinamentos contidos nos escritos de São Josemaria levam, a nosso parecer, às seguintes afirmações: homem e mulher têm capacidade para cumprir as mesmas tarefas na sociedade, se bem que por suas diferenças específicas como mulher ou homem têm mais facilidade para algumas atividades ou capacidades diversas no desempenho de variadas tarefas; esta diferença não impede, porém, que possam realizar as mesmas funções, embora de modo diferente e complementar (cfr. Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 90). Ele nos situa assim diante de um critério que permite acolher eficazmente a diversidade pessoal como homem ou como mulher. São Josemaria fala concretamente deste possível ganho nos dois âmbitos principais em que atuam os seres humanos: a família e a sociedade civil.

“Da mesma forma que na vida do homem, embora com matizes bem peculiares, o lar e a família ocuparão sempre um lugar central na vida da mulher: é evidente que a dedicação a tarefas familiares representa uma grande função humana e cristã” (Entrevistas com MonsJosemaria Escrivá, 87). Na mulher destaca-se o conjunto de qualidades ligadas à maternidade, que se podem resumir na sensibilidade, no cuidado das pessoas, imprescindível nas famílias e extensível a toda a sociedade.

Em virtude dos dotes naturais que lhe são próprios, a mulher pode estar presente também na vida civil, com particular eficácia: “Isto salta à vista, se olhamos para o vasto campo da legislação familiar ou social. As qualidades femininas serão a melhor garantia de que os autênticos valores humanos e cristãos serão respeitados quando se devem tomar medidas que de alguma forma afetem a vida da família, o ambiente educativo, o porvir dos jovens” (Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 90).

São Josemaria supera a divisão entre esfera privada e esfera pública, entendidas como mundos separados e reservados cada um a um tipo de pessoa. Em qualquer um dos dois âmbitos, os homens e as mulheres desenvolvem sua personalidade e contribuem para o progresso. Ele ensina que a dedicação às pessoas no lar é uma das tarefas de maior projeção social (cfr. Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 106); que os filhos são “mais importantes que os negócios, que o trabalho, que o descanso” (É Cristo que passa, 27); e aconselha, com relação à educação dos filhos, que tanto os meninos como as meninas devem aprender a colaborar nas tarefas do lar (cfr. Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 89). Esposos e esposas, pais e mães devem viver uma entrega reciproca que traz consigo idêntica série de esforços e tarefas (cfr. É Cristo que passa, 23, 25; Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 107), embora sejam realizadas do modo peculiar de cada sexo (cfr. Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 90)

Com relação à participação na vida social e pública, São Josemaria insiste especialmente no papel da mulher, que é o que mais mudou. Como o homem, a mulher deve formar-se para desempenhar qualquer trabalho – todos gozam de igual dignidade – e defende concretamente a presença dela na atividade política (cfr. Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 87, 90). Mencionemos ainda o alento dado às iniciativas apostólicas desenvolvidas pelo Opus Dei para a promoção social da mulher (cfr. Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 27).

Sua reflexão sobre o laicado dá-lhe oportunidade para comentar que a igualdade essencial de homens e mulheres tem repercussão na vida da Igreja (cfr. Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 14). Assim ele o manifesta num texto claro no qual, tendo mencionado essa exceção do acesso ao sacerdócio ministerial, que por direito divino positivo é reservado ao homem, acrescenta que em todo o resto “penso que, à mulher, deve-se reconhecer plenamente na Igreja – em sua legislação, em sua vida interna e em sua ação apostólica – os mesmos direitos e deveres que aos homens: direito ao apostolado, a fundar e a dirigir associações, a manifestar responsavelmente a opinião própria em tudo o que se refira ao bem comum da Igreja, etc. (Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 14). Quanto ao resto São Josemaria não só insiste muitas vezes na colaboração imprescindível da mulher no apostolado, fazendo-se eco das afirmações de São Paulo a esse respeito (cfr. Caminho, 980), mas ainda insiste na plena participação da mulher na vocação e na missão da Igreja.

Ao tratar deste tema, comenta que, apesar da clara fundamentação teológica desta realidade, trata-se de uma afirmação que encontra resistência em algumas mentalidades. Refere-se a quais mentalidades? À falta de entendimento sobre a missão dos leigos e aos preconceitos acerca da capacidade da mulher. Ocupa-se deste tema no estudo sobre a Abadesa de Las Huelgas, onde analisa historicamente – e critica – uma série de doutrinas de teólogos e canonistas que punham em dúvida a capacidade das mulheres para desempenhar tarefas de governo, ao mesmo tempo que louva os que intervieram no debate sustentando opinião contrária (cfr. La Abadesa de Las Huelgas, pp. 82, 84, 85, 90, 93, 112). Com relação à época contemporânea basta aludir – num texto amplamente conhecido – à sua grande contribuição para a teologia do laicado, e concluir com uma citação na entrevista concedida à revista espanhola Telva 1968: “Dediquei minha vida a defender a plenitude da vocação cristã do laicado, dos homens e das mulheres comuns que vivem no meio do mundo e, portanto, a procurar o pleno reconhecimento teológico e jurídico de sua missão na Igreja e no mundo (...). Cristianizar o mundo inteiro a partir de dentro, mostrando que Jesus Cristo redimiu toda a humanidade: essa é a missão do cristão. E a mulher participará dela do modo que lhe é próprio, tanto no lar, como nas outras ocupações que tenha, realizando as virtualidades peculiares que lhe correspondem” (Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 112).

Aurora Bernal Martínez De Soria

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/homem-e-mulher-na-sociedade-e-na-igreja/

Mês da Bíblia e Jubileu: a mesma esperança

Setembro - Mês da Bíblia (Irmãs de São Camilo)

MÊS DA BÍBLIA E JUBILEU: A MESMA ESPERANÇA

25/08/2025

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Setembro é, no Brasil, o Mês da Bíblia. É o tempo em que as comunidades são convidadas a colocar a Palavra de Deus no centro da vida, escutando-a, estudando-a e deixar-se iluminar por ela. Este ano, nosso olhar se voltam para a Carta de São Paulo aos Romanos, com o lema: “A esperança não decepciona” (Rm 5,5). 

Curiosamente, o Papa Francisco escolheu o mesmo versículo para inspirar o Jubileu da Encarnação de 2025, na bula Spes non confundit. Mais que coincidência, trata-se de consonância eclesial: um convite do Espírito Santo para que toda a Igreja reflita, reze e viva a força da esperança cristã.

Da tribulação à esperança 

A Carta aos Romanos é um dos textos mais profundos de Paulo. Nela, a palavra “esperança” aparece sempre ligada à fé e ao amor: não é simples otimismo, mas certeza de que Deus cumpre o que promete. 

Paulo recorda a história de Abraão e Sara, que creram contra toda esperança humana, partiram para uma terra desconhecida e receberam, já idosos, o filho prometido. A fé sustentou a esperança, e a esperança fortaleceu a fé. E esse é o caminho do cristão: acreditar no Deus que é fiel e nunca abandona.
O versículo escolhido para este ano está em Rm 5,5: “A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo”. Paulo explica que a vida do cristão passa por tribulações que geram perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Sofrimentos vividos com Deus amadurecem a fé e sustentam uma esperança sólida, não ingênua nem frágil.

Esperança para toda a criação 

No capítulo 8, Paulo amplia essa visão. Ele diz que toda a criação “geme como em dores de parto”, esperando a manifestação dos filhos de Deus. A esperança é pessoal e também compartilhada, com alcance cósmico: abre um olhar novo sobre a realidade, que nos move a cuidar da vida, da justiça e da paz – e a assumir responsabilidade contrata com a criação. 

Para Paulo, viver na esperança é viver no Espírito Santo.  Ele sustenta a fé, fortalece na luta, consola nas quedas e guia no discernimento. Por isso, o apóstolo exorta: “Alegres na esperança, fortes na tribulação, perseverantes na oração” (Rm 12,12).

Vive a Palavra 

O Mês da Bíblia convida a reabrir as Escrituras para reacendam a esperança em tempos de crises e incertezas. Precisamos aprender novamente que a esperança cristã não nasce de circunstâncias favoráveis, mas da certeza de que Cristo venceu a morte e caminha conosco.  

Paulo encerra sua exortação com uma prece que serve de inspiração para todos nós neste mês: “Que o Deus da esperança vos encha de toda alegria e paz na fé, para que transbordeis de esperança pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15,13). 

Que nossas comunidades renovem a alegria de crer, a força de amar e a coragem de esperar, sob o olhar de Maria, Mãe da Esperança. Pois a esperança que vem de Deus jamais decepciona. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

CIÊNCIA E TECNOLOGIA: Não só de tecnociência vive o homem...(Parte 2/2)

Uma imagem do 26º Encontro de Rimini, realizado de 21 a 27 de agosto de 2005, com o título: "A liberdade é o maior presente que os céus deram à humanidade". Abaixo, o professor Giorgio Israel durante o encontro "Ciência e Regras?" | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº  09 - 2005

Não só de tecnociência vive o homem...

"Tecnociência" significa ciência baseada na tecnologia. Refere-se à prática pela qual a tecnologia avança com liberdade cada vez maior e se torna uma forma de manipulação, independentemente do conhecimento profundo dos processos que afeta. O professor Giorgio Israel, que palestrou na conferência "Ciência e Regras?" durante o último Encontro pela Amizade entre os Povos em Rimini, explica como a biotecnologia representa a manifestação mais evidente dessa tendência perigosa.

Entrevista com Giorgio Israel por Paolo Mattei

Como questionar essa paciência e lentidão ao decidir se deve ou não usar a tecnologia para tentar curar uma doença grave?

Nosso conhecimento do mundo biológico ainda é muito modesto e vastamente desproporcional à nossa capacidade de manipulá-lo. Portanto, a ciência aplicada deve avançar mais lentamente, aguardando com mais paciência o progresso do conhecimento.

ISRAEL: É uma questão complexa que diz respeito à natureza da medicina, que busca salvaguardar um ser — a humanidade — cuja natureza é uma "dádiva" e que é simultaneamente capaz de perturbar a ordem natural. Um grande médico e historiador da medicina, Mirko Drazen Grmek — lembrando as palavras de Herbert George Wells em A Guerra dos Mundos : "O homem pagou o preço de sua posse hereditária do globo terrestre ao preço de milhões e milhões de mortes" — observou que o homem deve continuar a pagar esse tributo "como o preço de ações que perturbam o equilíbrio dinâmico entre o próprio homem, o ambiente físico e todos os seres vivos". A medicina não é uma ciência em sentido estrito, mas sim uma arte, na medida em que percorre um caminho estreito: proteger a saúde humana sem perturbar excessivamente o equilíbrio natural. O risco surge da pretensão exagerada de querer resolver todos os problemas de uma vez por todas — obtendo saúde eterna, imortalidade, a vitória final sobre a doença — reconstruindo a humanidade do zero: " Redesigning Humans" é o título de um livro recente do biólogo americano Gregory Stock. É uma pretensão delirante, não apenas porque não possuímos um pingo do conhecimento necessário e corremos o risco de produzir catástrofes difíceis de imaginar; mas porque ignora completamente a questão ética e "significativa" inerente à constatação: não criamos o mundo, e não nos criamos, quaisquer que sejam suas origens, cujos mecanismos são, em todo caso, um mistério absoluto. Consequentemente, o critério principal é não intervir na estrutura natural da humanidade, alegando "recriá-la" do zero, e não conceber a vida humana como um objeto que pode ser manipulado à vontade. E não levantemos objeções absurdas de que "manipulação" já ocorreu no passado: pode-se dizer que, uma vez que alguém foi morto, é permitido matar.

Seria desejável, na sua opinião, uma forma de supervisão científica da atividade tecnológica? Você acha que tal hipótese — uma espécie de renascimento da Academia de Ciências de Paris do século XVII — poderia realmente ser concretizada em nossa época? E se, como aconteceu durante o recente debate do referendo, até mesmo a "academia" científica se visse internamente dividida?

ISRAEL: Não, eu não defendo esse tipo de controle de forma alguma. O ideal de uma sociedade governada por sábios, que se originou com Platão, foi defendido pelo Iluminismo e só levou ao desastre. Condorcet disse que "uma sociedade que não é governada por filósofos está condenada a cair nas mãos de charlatões". Mas filósofos, ou cientistas, só teriam o direito de governar a sociedade com seu conhecimento se fossem oniscientes, e como a onisciência não é deste mundo, estão condenados a ser tiranos. Ainda mais recentemente, o presidente dos EUA, Eisenhower, lamentou a arrogância de uma certa elite científico-tecnológica, afirmando que "embora tenhamos o maior respeito pela pesquisa e descoberta científicas, devemos estar atentos ao perigo de a política pública se tornar sua prisioneira". O único governo razoável e permissível é o da política, expresso por meio das regras mais refinadas possíveis de representação democrática. Questões éticas relacionadas à biotecnologia devem ser abordadas e resolvidas pelos cidadãos, por meio de instrumentos políticos. Os acadêmicos estão divididos porque questões éticas não podem ser reduzidas à ciência, e os cientistas acabam se posicionando como cidadãos, isto é, de acordo com suas visões éticas, filosóficas e religiosas — ou até mesmo ateístas. Não é por acaso que comitês consultivos nunca serviram a nenhum propósito, a ponto de se esperar que eles forneçam soluções "científicas" para problemas que não admitem nenhuma.

Falando de filósofos e poder, Peter Singer, professor de bioética em Princeton, explicou recentemente como a fronteira entre a existência e a morte é essencialmente apenas uma "convenção científica". Ele reiterou que isso permitiria aos pais decidirem abortar seus filhos, imediatamente após o nascimento, se eles apresentarem malformações graves.

Não criamos o mundo, nem nos criamos, quaisquer que sejam suas origens, cujos métodos ainda são um mistério absoluto. Consequentemente, o critério principal é não intervir na estrutura natural do homem, tentando "recriá-la" do zero, e não conceber a vida humana como um objeto que pode ser manipulado à vontade.

ISRAEL: Esta é uma afirmação surpreendentemente grosseira, pois inverte a questão. O problema da fronteira entre a vida e a morte não pode ser resolvido em termos meramente "científicos", visto que não se trata simplesmente da parada de uma máquina — de um ser-objeto —, mas do desaparecimento de uma "pessoa", de uma subjetividade. Em termos científicos, só admite soluções convencionais. Felizmente, muitos de nós não aceitamos que a questão possa ser colocada nesses termos materialistas e que, por exemplo, diante de uma pessoa em coma profundo, devemos decidir se devemos ou não desligar o aparelho com base em uma convenção "científica".

O escritor francês Michel Houellebecq, em seu último — e mais uma vez provocativo — romance, A Possibilidade de uma Ilha , conta a história de uma série de personagens nascidos da clonagem de um único homem. Ele imagina um futuro terrível de devastação humana. Um pessimismo exasperado segundo o qual a juventude, a força e a beleza são o fundamento do amor, mas também do nazismo. O que você acha dessa visão do futuro do Ocidente?

ISRAEL: Ainda não li o romance de Houellebecq, mas acho que esse tipo de literatura, quando de alta qualidade, tem uma função muito útil no despertar das consciências. Considere a influência do famoso romance de Huxley, Admirável Mundo Novo. Pode-se dizer que algumas das previsões catastróficas de Huxley estão se concretizando, mas, ao mesmo tempo, estamos longe de um mundo conformado a uma visão global totalitária. Nessa perspectiva, sou otimista, no sentido de que estou convencido de que as energias espirituais humanas e as "questões profundas" que residem no cerne de nossa consciência não podem ser suprimidas e, em última análise, se imporão, não importa quão grandes sejam os danos colaterais. O problema é certamente o do fracasso: programas tecnocientíficos radicais podem provocar reações igualmente radicais inspiradas pelo fundamentalismo e pelo fanatismo. Por essa razão — voltando ao tema da importância e da responsabilidade da política — o mais importante me parece ser uma conscientização ampla e profunda. Nessa perspectiva, a experiência que tive no Encontro de Rimini durante o debate sobre "Ciência e Regras?", com a intensidade moral e intelectual que ali senti, confirmou-me essa convicção.

Algumas disposições legislativas são importantes — a clonagem deve ser proibida, ponto final —, mas não são suficientes, e é impossível regulamentar tudo. É muito mais importante que as pessoas rejeitem certas perspectivas e que certas práticas não encontrem clientes. Vamos tentar ler esta frase do livro de Stock: "Com algum marketing direcionado por parte dos centros de fertilização in vitro , a reprodução tradicional pode se tornar obsoleta, se não completamente irresponsável . O sexo pode um dia ser considerado uma atividade puramente recreativa e a concepção algo melhor realizado em laboratório." Recomendo a leitura ampla, pois estou convencido de que uma pessoa sensata — qualquer pessoa que saiba o que significa ter um filho por meio de um ato de amor — não pode deixar de sentir uma sensação de repulsa e desprezo por pensamentos tão miseráveis.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF