Por Courtney Mares*
25 de ago. de 2025
O papa Leão XIV pediu a legisladores católicos no último
sábado (23) que se inspirem na "Cidade de Deus" de santo Agostinho,
enquanto navegam pela política global em constante mudança, alertando contra a
redução da ideia de florescimento humano à mera riqueza ou conforto do
consumidor.
Falando à Rede Internacional de Legisladores Católicos na
Sala Clementina do Palácio Apostólico, o papa pediu aos parlamentares que
garantam que “o poder seja controlado pela consciência e que a lei esteja a
serviço da dignidade humana”.
“A autêntica prosperidade humana manifesta-se quando as
pessoas vivem virtuosamente, quando vivem em comunidades saudáveis,
beneficiando não só do que têm, do que possuem, mas também do
que são como filhos de Deus”, disse aos legisladores.
“Assegura a liberdade de procurar a verdade, de adorar a
Deus e de criar uma família em paz” disse Leão XIV. “Inclui também uma harmonia
com a criação e um sentido de solidariedade através das classes sociais e das
nações”.
A Rede Internacional de Legisladores Católicos, fundada em
2010 pelo cardeal austríaco Christoph Schönborn e pelo parlamentar britânico
David Alton, reúne parlamentares católicos anualmente em Roma para discutir a
liberdade religiosa, as relações Igreja-Estado, a proteção da vida e o papel do
pensamento católico na política.
O encontro de quatro dias deste ano em Roma abordou o tema
“A Nova Ordem Mundial: Política das grandes potências, domínios corporativos e
o futuro do florescimento humano”.
Em seu discurso, o papa destacou santo Agostinho de Hipona,
que escreveu A Cidade de Deus no colapso do Império Romano.
“Para encontrar o nosso equilíbrio nas circunstâncias atuais
— especialmente vós, legisladores e líderes políticos católicos — sugiro que
olheis para o passado, para a eminente figura de santo Agostinho de Hipona”,
disse.
Como voz de destaque da Igreja no final da era romana, o
santo testemunhou imensas convulsões sociais e desintegração social. Em
resposta, ele escreveu A Cidade de Deus, obra que oferece uma visão
de esperança, uma visão de significado que ainda toca os fiéis hoje.
O papa falou sobre como Agostinho ensinou que há duas
“cidades” interligadas na história humana que significam duas orientações do
coração humano: “A cidade do homem, construída sobre o orgulho e o amor
próprio, distingue-se pela busca do poder, do prestígio e do prazer; a cidade
de Deus, edificada sobre o amor a Deus até ao altruísmo, caracteriza-se pela
justiça, caridade e humildade”.
Leão XIV disse que os legisladores são chamados a “ser
construtores de pontes entre a cidade de Deus e a cidade do homem”.
“Agostinho encorajou os cristãos a impregnar a sociedade
terrena com os valores do Reino de Deus, orientando assim a história para o seu
cumprimento último em Deus, mas permitindo também a autêntica prosperidade
humana nesta vida”, disse o papa.
“O futuro da prosperidade humana depende do tipo de amor que
escolhemos para organizar a nossa sociedade: um amor egoísta, o amor próprio,
ou o amor a Deus e ao próximo”, acrescentou.
O papa Leão XIV falou sobre as noções culturais
predominantes de progresso e desenvolvimento. "Devemos esclarecer o
significado de prosperidade humana”, disse. “Hoje, a vida próspera é
frequentemente confundida com uma vida rica do ponto de vista material, ou com
uma vida de autonomia individual sem restrições e de prazer".
“O chamado futuro ideal que nos é apresentado distingue-se
frequentemente pelo conforto tecnológico e pela satisfação do consumidor”,
disse Leão XIV. “Mas sabemos que isto não é suficiente. Vemo-lo nas sociedades
abastadas, onde muitas pessoas lutam contra a solidão, o desespero e uma
sensação de falta de significado”.
Em vez disso, disse o papa, o verdadeiro florescimento
provém do que a Igreja chama de “desenvolvimento humano integral”, ou “o pleno
crescimento da pessoa em todas as dimensões: física, social, cultural, moral e
espiritual”.
“Essa visão da pessoa humana está enraizada na lei natural,
a ordem moral que Deus inscreveu no coração humano, cujas verdades mais
profundas são iluminadas pelo Evangelho de Cristo”, disse.
O papa Leão XIV é o primeiro papa da Ordem de Santo
Agostinho, também conhecida como agostinianos, ordem religiosa com milhares de
membros em todo o mundo. Ele liderou a ordem de 2001 a 2013.
Nos primeiros meses de seu pontificado, o papa Leão XIV
citou seu pai espiritual, santo Agostinho, em diversas ocasiões, estabelecendo
uma abordagem pastoral profundamente enraizada na tradição agostiniana.
Antes de cumprimentar os legisladores um por um, o papa
agradeceu a eles por “levarem a mensagem do Evangelho à arena pública”.
“Asseguro-vos as minhas orações por vós, pelos vossos entes
queridos, pelas vossas famílias, pelos vossos amigos e, especialmente hoje, por
aqueles a quem servis”, disse ele. “Que o Senhor Jesus, Príncipe da Paz,
abençoe e guie os vossos esforços em prol da autêntica prosperidade da família
humana”.
*Courtney Mares é correspondente em Roma, Itália, pela
Catholic News Agency (CNA), agência em inglês da EWTN. Formada pela
Universidade de Harvard, nos EUA, ela fez reportagens em agências de notícias
em três continentes e recebeu a bolsa Gardner Fellowship por seu trabalho com
refugiados norte-coreanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário