Homem e mulher na sociedade e na Igreja
Como São Josemaria compreendia o papel do homem e da mulher
na sociedade? Ambos “se hão de sentir justamente protagonistas da história da
salvação” Este texto, do “Diccionario de san Josemaria Escrivá de Balaguer”
explica algumas chaves dos seus ensinamentos.
20/08/2025
3. Homem e mulher na sociedade e na Igreja
Da consideração precedente sobre igualdade e diferença entre
homem e mulher se deduzem consequências práticas no campo da atividade humana.
Os ensinamentos contidos nos escritos de São Josemaria levam, a nosso parecer,
às seguintes afirmações: homem e mulher têm capacidade para cumprir as mesmas
tarefas na sociedade, se bem que por suas diferenças específicas como mulher ou
homem têm mais facilidade para algumas atividades ou capacidades diversas no
desempenho de variadas tarefas; esta diferença não impede, porém, que possam
realizar as mesmas funções, embora de modo diferente e complementar (cfr.
Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 90). Ele nos situa assim diante de um
critério que permite acolher eficazmente a diversidade pessoal como homem ou
como mulher. São Josemaria fala concretamente deste possível ganho nos dois
âmbitos principais em que atuam os seres humanos: a família e a sociedade
civil.
“Da mesma forma que na vida do homem, embora com matizes bem
peculiares, o lar e a família ocuparão sempre um lugar central na vida da
mulher: é evidente que a dedicação a tarefas familiares representa uma grande
função humana e cristã” (Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá,
87). Na mulher destaca-se o conjunto de qualidades ligadas à maternidade, que
se podem resumir na sensibilidade, no cuidado das pessoas, imprescindível nas
famílias e extensível a toda a sociedade.
Em virtude dos dotes naturais que lhe são próprios, a mulher
pode estar presente também na vida civil, com particular eficácia: “Isto salta
à vista, se olhamos para o vasto campo da legislação familiar ou social. As
qualidades femininas serão a melhor garantia de que os autênticos valores
humanos e cristãos serão respeitados quando se devem tomar medidas que de
alguma forma afetem a vida da família, o ambiente educativo, o porvir dos
jovens” (Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 90).
São Josemaria supera a divisão entre esfera privada e esfera
pública, entendidas como mundos separados e reservados cada um a um tipo de
pessoa. Em qualquer um dos dois âmbitos, os homens e as mulheres desenvolvem
sua personalidade e contribuem para o progresso. Ele ensina que a dedicação às
pessoas no lar é uma das tarefas de maior projeção social (cfr. Entrevistas
com Mons. Josemaria Escrivá, 106); que os filhos são “mais importantes que
os negócios, que o trabalho, que o descanso” (É Cristo que passa, 27); e
aconselha, com relação à educação dos filhos, que tanto os meninos como as
meninas devem aprender a colaborar nas tarefas do lar (cfr. Entrevistas
com Mons. Josemaria Escrivá, 89). Esposos e esposas, pais e mães devem
viver uma entrega reciproca que traz consigo idêntica série de esforços e
tarefas (cfr. É Cristo que passa, 23, 25; Entrevistas com Mons.
Josemaria Escrivá, 107), embora sejam realizadas do modo peculiar de cada sexo
(cfr. Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 90)
Com relação à participação na vida social e pública, São
Josemaria insiste especialmente no papel da mulher, que é o que mais mudou.
Como o homem, a mulher deve formar-se para desempenhar qualquer trabalho –
todos gozam de igual dignidade – e defende concretamente a presença dela na
atividade política (cfr. Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá,
87, 90). Mencionemos ainda o alento dado às iniciativas apostólicas
desenvolvidas pelo Opus Dei para a promoção social da mulher (cfr. Entrevistas
com Mons. Josemaria Escrivá, 27).
Sua reflexão sobre o laicado dá-lhe oportunidade para
comentar que a igualdade essencial de homens e mulheres tem repercussão na vida
da Igreja (cfr. Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 14). Assim
ele o manifesta num texto claro no qual, tendo mencionado essa exceção do
acesso ao sacerdócio ministerial, que por direito divino positivo é reservado
ao homem, acrescenta que em todo o resto “penso que, à mulher, deve-se
reconhecer plenamente na Igreja – em sua legislação, em sua vida interna e em
sua ação apostólica – os mesmos direitos e deveres que aos homens: direito ao
apostolado, a fundar e a dirigir associações, a manifestar responsavelmente a
opinião própria em tudo o que se refira ao bem comum da Igreja, etc. (Entrevistas
com Mons. Josemaria Escrivá, 14). Quanto ao resto São Josemaria
não só insiste muitas vezes na colaboração imprescindível da mulher no
apostolado, fazendo-se eco das afirmações de São Paulo a esse respeito
(cfr. Caminho, 980), mas ainda insiste na plena participação
da mulher na vocação e na missão da Igreja.
Ao tratar deste tema, comenta que, apesar da clara
fundamentação teológica desta realidade, trata-se de uma afirmação que encontra
resistência em algumas mentalidades. Refere-se a quais mentalidades? À falta de
entendimento sobre a missão dos leigos e aos preconceitos acerca da capacidade
da mulher. Ocupa-se deste tema no estudo sobre a Abadesa de Las Huelgas, onde
analisa historicamente – e critica – uma série de doutrinas de teólogos e
canonistas que punham em dúvida a capacidade das mulheres para desempenhar
tarefas de governo, ao mesmo tempo que louva os que intervieram no debate
sustentando opinião contrária (cfr. La Abadesa de Las Huelgas, pp. 82, 84, 85,
90, 93, 112). Com relação à época contemporânea basta aludir – num texto
amplamente conhecido – à sua grande contribuição para a teologia do laicado, e
concluir com uma citação na entrevista concedida à revista espanhola Telva 1968:
“Dediquei minha vida a defender a plenitude da vocação cristã do laicado, dos
homens e das mulheres comuns que vivem no meio do mundo e, portanto, a procurar
o pleno reconhecimento teológico e jurídico de sua missão na Igreja e no mundo
(...). Cristianizar o mundo inteiro a partir de dentro, mostrando que Jesus
Cristo redimiu toda a humanidade: essa é a missão do cristão. E a mulher
participará dela do modo que lhe é próprio, tanto no lar, como nas outras
ocupações que tenha, realizando as virtualidades peculiares que lhe
correspondem” (Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 112).
Aurora Bernal Martínez De Soria
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