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sábado, 30 de agosto de 2025

Leigas e leigos católicos: uma maioria sem expressão?

Cristãos leigos e leigas (CMOVIC - CNBB)

LEIGAS E LEIGOS CATÓLICOS: UMA MAIORIA SEM EXPRESSÃO? 

29/08/2025

Dom Itacir Brassiani
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

As comunidades católicas dedicam a quarta semana do mês de agosto à reflexão sobre a vocação e a missão dos leigos e leigas na Igreja e no mundo. Os vários séculos do controle da Igreja concentradas pelas mãos do clero (e dos religiosos) produziu um laicato obediente, silencioso, passivo e eclesialmente inexpressivo. E acabamos acostumados com isso: o clero gera a Igreja e a governa, ensina e fala em nome dela, e, finalmente, decide por ela.  

Mas seria este o único modo possível de organização e funcionamento da Igreja? Como não lembrar aqui a inovação surpreendente e auspiciosa operada pelos apóstolos no início do cristianismo? Todos os membros da Igreja, reunidos no Espírito, tomavam juntos as decisões mais importantes. E a consciência de que não havia diferença entre judeus e pagãos, homens e mulheres, senhores ou escravos, fazia da fraternidade a ‘diferença’ cristã. 

Citando o Papa Francisco, o recente Sínodo dos Bispos afirmou que a sinodalidade é o quadro interpretativo mais adequado para compreender o ministério hierárquico (cf. § 33).  Creio que a natureza sinodal da Igreja, que coloca nesta perspectiva o mandato que Cristo confia a todos os fiéis, é também a perspectiva mais adequada e promissora para compreender a identidade e a missão dos leigos e leigas na Igreja e no mundo.  

O ponto de partida dessa compreensão é a dignidade do Povo de Deus, do qual todos os fiéis são membros. “Não há nada mais elevado do que esta dignidade, igualmente dada a cada pessoa”. Não há nada maior que a alegria de ser povo. Pelo batismo, somos revestidos de Cristo e enxertados nele. Na identidade e na missão de cristãos está contida a graça que está na base da nossa vida e nos faz caminhar juntos como irmãos e irmãs” (cf. § 21). 

Na perspectiva do Sínodo, “todos os Batizados recebem dons para partilhar, cada um segundo a sua vocação e a sua condição de vida”. As diversas vocações eclesiais são “expressões múltiplas e articuladas do único chamamento batismal à santidade e à missão”. A variedade dos carismas suscitada pelo Espírito Santo tem como objetivo a unidade da Igreja e a missão nos diversos tempos, lugares e culturas (cf. § 57). 

Por isso, os leigos e leigas pedem à hierarquia que não os deixe sozinhos, que sua atuação no mundo cultural, social e político seja reconhecida pelo que é: “ação da Igreja com base no Evangelho, e não uma opção privada”, e que sejam efetivamente apoiados e reconhecidos. Isso pede que as comunidades e a hierarquia se coloquem ao serviço da missão que eles realizam na sociedade, na vida familiar e profissional, e não o inverso (cf. § 59). 

O reconhecimento e a participação das mulheres na Igreja é um desafio especial. O Sínodo afirma que “não há razões que impeçam as mulheres de assumir funções de liderança na Igreja”, pois “não se pode impedir o que vem do Espírito Santo”. Por isso, a questão do acesso das mulheres ao ministério diaconal não está fechada. É preciso continuar o discernimento a este respeito (cf. § 60). O Sínodo “deixa a bola picando” na área das dioceses! 

É preciso remover os obstáculos que dificultam a plena participação dos leigos na vida e missão da Igreja, assegurando: participação ampla em todas as fases dos processos de decisão; mais acesso a cargos de direção nas instituições eclesiásticas; aumento do número de leigos no ofício de juízes nos processos canônicos; reconhecimento da dignidade dos funcionários da Igreja e suas instituições e respeito dos seus legítimos direitos (cf. § 77). 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

NOVOS SANTOS: O espanto com a passagem de Deus (Parte 1/2)

Dom Orione |30Giorni

Arquivo 30Dias nº  08/09 - 2003

O espanto com a passagem de Deus

O postulador da causa de Dom Orione conta a história do milagre que abriu caminho para a canonização do fundador da Pequena Obra da Divina Providência.

por Giovanni Cubeddu

O Papa João XXIII introduziu o processo apostólico para sua beatificação em 1963, e em 1978 Paulo VI proclamou suas virtudes heroicas. Foi João Paulo II quem beatificou Dom Luís Orione em 26 de outubro de 1980, como uma "expressão maravilhosa e brilhante da caridade cristã". Mesmo aqueles pouco familiarizados com a figura deste sacerdote e fundador da Pequena Obra da Divina Providência (que inclui os Filhos da Divina Providência, as Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade, as Irmãs Sacramentinas Cegas, os Eremitas, o instituto secular e o movimento laical) podem se identificar com esta definição.

Dom Luís nasceu em 1872 em Pontecurone, uma grande aldeia na província de Alexandria, entre Tortona e Voghera, e morreu em San Remo em 12 de março de 1940. Não há área em que sua caridade não pudesse tocar e aliviar a pobreza do corpo e da alma, na Itália e na América, no Sul e no Norte, mas também na Inglaterra e na Albânia. Pensemos, por exemplo, nas pessoas infelizes que ele reuniu em seus Pequenos Cottolengos. Sua biografia está repleta de passagens reconfortantes que brilham de humildade ("entre as graças que o Senhor me concedeu, tive a de nascer pobre").

No último dia 7 de julho, na presença do Papa, foi promulgado o decreto que reconhece um milagre, o segundo, ocorrido por intercessão de Dom Luís Orione. Isso abre caminho para sua canonização.

Assim, nos encontramos com Dom Flavio Peloso, secretário da Pequena Obra e postulador geral.

FLAVIO PELOSO: Fui nomeado postulador geral de nossa congregação em 1998. No outono daquele ano, conheci uma mulher, Gabriella Penacca, que mencionou o caso de seu pai, um amigo de nossa obra religiosa. O incidente datava de oito anos atrás e havia permanecido oculto até então. Dada a gravidade da pessoa e a natureza da história, senti que o episódio merecia atenção. Então, parei para ouvir (e o médico da família, que conheci mais tarde, confirmou a história).

Em outubro de 1990, este senhor idoso, Pierino Penacca, residente em Monperone, na diocese de Tortona, começou a tossir sangue e, após exames no hospital de Alexandria, foi diagnosticado com suspeita de câncer de pulmão. Sua família viajou a Milão para fazer mais exames, na esperança de um diagnóstico mais preciso, mas sua saúde se deteriorou rapidamente e, no final de novembro, ele teve que ser internado no Hospital San Raffaele, em Milão. Novos exames confirmaram a suspeita de câncer, confirmada em 31 de dezembro. Os médicos decidiram que Penacca deveria receber alta em breve, pois era idoso e estava em um estado de saúde tão geral que não tolerava quimioterapia ou radioterapia, e porque esse câncer de pulmão ainda não era radiologicamente detectável. Eles também aconselharam o paciente, um fumante inveterado, a deixá-lo fumar seus últimos cigarros em paz para evitar sofrimento desnecessário e evitar qualquer tratamento agressivo. "Em vez disso, entre em contato com um médico com experiência em tratamento da dor, de agora até os últimos dias", disseram eles.

Tudo isso foi comunicado oralmente à filha de Penacca, Gabriella, na tarde de 31 de dezembro, no Hospital San Raffaele.

O que sua fonte diz neste momento?
PELOSO: Podemos imaginar seu desespero. Mas ela guarda para si. E quando, algumas horas depois, seu pai adormece, ela desce à capela do hospital para um momento de oração, de intimidade com o Senhor. Há desespero e confiança ao mesmo tempo. É o momento mais intenso de conversa com o Senhor e com Dom Orione que sua filha lembra e ao qual ela conecta tudo o que aconteceu depois. Ela tinha consigo um pequeno santuário contendo uma relíquia de Dom Orione, confia sua causa a ele e ao Senhor e sai da pequena igreja com a certeza interior de que sua oração foi ouvida.
A ciência havia parado ali, naquela tarde de Ano Novo em San Raffaele, mas as orações já haviam começado: as de seus outros dois filhos, Isaura e Fiorenzo, dos deficientes de Seregno e de alguns amigos padres. Outros familiares e os deficientes do Piccolo Cottolengo em Seregno também rezaram, pois este senhor era seu benfeitor. E Penacca, é claro, também rezou.

Em 11 de janeiro, Penacca recebeu alta do hospital sem qualquer tratamento. A partir dessa data, porém, seu estado de saúde apresentou sinais de melhora, tanto que em 15 de janeiro, como todos os anos, ele foi à praia de San Bartolomeo, na Ligúria, para tomar um pouco de ar fresco, fumante inveterado que é.

A família pensou que aqueles eram seus últimos dias, afinal.
PELOSO: Mas Penacca finalmente se recuperou. O "médico da dor", que a família já havia contatado e interrogado, disse-me que não compreendia completamente o que havia acontecido e que, de qualquer forma, nunca houve necessidade dele. Os filhos de Penacca imediatamente começaram a se olhar: "Papai está bem..." (ele foi forçado a se submeter a vários exames, tomografias computadorizadas e citologias, e não havia mais nenhum vestígio da doença), e a partir daí começaram a suspeitar e a acreditar silenciosamente que Dom Orione lhes havia concedido uma graça. O Sr. Pierino nunca soube de nada sobre isso; para evitar chocá-lo e entristecê-lo, sempre mantiveram em segredo a gravidade de sua condição...

Fonte: https://www.30giorni.it/

Leão XIV abre, em 1º de setembro, o capítulo geral da Ordem de Santo Agostinho

Leão XIV com os confrades agostinianos, foto de arquivo (©Osafund - Fondazione Agostiniani nel Mondo)

O Papa presidirá a Missa de abertura dos trabalhos para a eleição do novo superior geral da família religiosa na Basílica de Santo Agostinho, no Campo Marzio, em Roma, às 18h locais. Cerca de cem religiosos participarão deste importante evento, que se estenderá até 18 de setembro; são 73 delegados de 46 países, das 41 circunscrições da Ordem, com direito a voto. A celebração será transmitida ao vivo pela Rádio Vaticano - Vatican News.

Vatican News

 Leão XIV abrirá o 188º Capítulo Geral da Ordem de Santo Agostinho em 1º de setembro. No mesmo dia do aniversário de sua entrada no noviciado em 1977, o Pontífice presidirá a Missa às 18h locais na Basílica de Santo Agostinho, no Campo Marzio, em Roma. Esta Missa abrirá os trabalhos programados até 18 de setembro no Pontifício Instituto Patrístico (Augustinianum). A celebração será transmitida ao vivo pela Rádio Vaticano – Vatican New a partir das 17h55 locais (12h55 de Brasília) e contará com comentários em português, italiano, francês, inglês, espanhol, alemão e polonês. Também poderá ser acompanhada por streaming de áudio nas páginas correspondentes do Vatican News e por vídeo no mesmo portal e nas respectivas páginas do Facebook e YouTube.

O Capítulo Geral Agostiniano em números

Um total de cerca de cem religiosos participam deste importante evento, realizado a cada seis anos. Setenta e três agostinianos de 46 países, delegados das 41 circunscrições da ordem, terão direito a voto. Eles representam os 2.341 agostinianos com suas 395 casas espalhadas pelos cinco continentes — conforme registrado pelo Escritório Central de Estatísticas da Santa Sé em 31 de dezembro de 2024 — e são chamados a eleger o novo prior geral, o 98º, após 12 anos de governo do padre Alejandro Moral, que completou seu segundo mandato. Sessões estão programadas durante os dias capitulares, com apresentações das presidentes das federações de monjas agostinianas e dos leigos da família agostiniana, que não têm voz ativa.

Em 2013, a Missa presidida por Francisco

Doze anos atrás, o Papa Francisco abriu, na mesma Basílica Romana, o Capítulo Geral que encerrou o mandato de dois sexênios de Robert Prevost. O então prior geral, agora 266º Sucessor de Pedro, juntamente com seu conselho, decidiu convidar Bergoglio, recém-eleito Papa, "para presidir a Missa de abertura do Capítulo Geral em 28 de agosto", como relatou em sua última entrevista como cardeal, concedida à mídia vaticana. "Para grande surpresa de todos", Francisco aceitou, e em sua homilia, enfatizou que "a inquietação do coração é o que leva a Deus e ao amor", acrescentando que Santo Agostinho nos convida a manter viva "a inquietação da busca espiritual, a inquietação do encontro com Deus, a inquietação do amor". O Papa argentino explicou que "o tesouro de Agostinho é justamente esta atitude: sair sempre em direção a Deus, sair sempre em direção ao rebanho", e descreveu o Bispo de Hipona como "um homem voltado para essas duas saídas", "sempre em caminho", "sempre inquieto! E esta é a paz da inquietação". Ele também exortou para "não 'privatizar' o amor" e concluiu explicando que "a inquietação também é amor, buscando sempre, incansavelmente, o bem do outro".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Igreja celebra o martírio de São João Batista, o maior dos profetas

São João Batista (Wikipedia)

João é o único santo que possui durante o ano litúrgico datas dedicadas ao seu nascimento e à memória de sua morte.

Escrito por Redação A12

29 AGO. 2022  (Atualizada em 28 AGO. 2024)

“Em verdade eu vos digo, dentre os que nasceram de mulher, não surgiu ninguém maior que João, o Batista…De fato , todos os profetas, bem como a lei, profetizaram até João. Se quiserdes compreender-me, ele é o Elias que deve voltar” (Mt 11,11-14

Igreja celebra hoje o martírio de São João Batista, único santo que possui durante o ano litúrgico datas dedicadas ao seu nascimento, no dia 24 de junho, e à memória de sua morte, 29 de agosto. João é primo de Jesus, filho de Zacarias e Isabel. 

De acordo com o Evangelho, no episódio da visitação de Maria à sua prima Isabelo nascimento de João ocorreu cerca de seis meses antes do Menino Jesus. Já a sua morte, entre anos 31 e 32 d.C.

É conhecido por ser o percussor, pois foi ele quem batizou com água e pregava o batismo de arrependimento em preparação à vinda do Messias, que batizaria com o Espírito Santo.

No entanto, até mesmo o próprio Jesus se apresentou no rio Jordão para ser batizado por João, que a princípio recusou, mas depois obedeceu. Considerado o último grande profeta do Antigo Testamento, pode-se dizer que foi o primeiro apóstolo de Jesus e aquele que viveu o Seu seguimento até a morte, quando sofreu o martírio.

Martírio do profeta

São João Batista (Wikipedia)

João Batista não media as palavras nos momentos nos quais precisava mostrar aos fariseus o quanto eram hipócritas. Além disso, sofreu a rejeição de muitos sacerdotes de sua época por pregar o batismo de arrependimento dos pecados, o que tornava vão os sacrifícios que eram realizados nos templos.

acontecimento que marca o seu martírio se inicia com a crítica feita sobre a conduta do rei de Israel, Herodes Antipas, filho de Herodes (autor do massacre dos inocentes) e o seu “casamento ilegal” com Herodíades. Por esse motivo, Herodes mandou prender João, contudo, tinha medo do que a sua morte poderia causar.

Na sequência, durante a festa de aniversário da filha de Herodíades, chamada Salomé, a jovem dançou em honra ao rei. Após ficar fascinado por ela, concedeu como presente a realização de qualquer desejo. Ao que Salomé, depois de conversar com sua mãe, pede a cabeça de João Batista. Com isso, João morre como mártir por defender a verdade.

“Imediatamente o rei mandou que um soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, foi à prisão e cortou a cabeça de João. Depois levou a cabeça num prato, deu à moça, e esta a entregou à sua mãe. Ao saber disso, os discípulos de João foram, levaram o cadáver e o sepultaram(Mc 6,27-29).

A obediência e o abandono de São João Batista servem para nós cristãos nestes tempos como um grande sinal. Ficam as reflexões: o quanto estamos dispostos a viver os valores do Evangelho em uma total atenção aos ensinamentos de Cristo? Quantos de nós estamos disponíveis a assumir os riscos para isso ou mesmo perder prestígios, fama, bens, posições, influência para defender e anunciar a verdade? Estamos dispostos a dedicar nossa vida nos abandonando à graça de Deus e a sua vontade?

São algumas questões que a vida e o martírio de João levam a fazer.

Fonte: https://www.a12.com/

MOVIMENTOS: "O cristianismo não pertence a nenhuma civilização." (Parte 2/2)

Michel Sabbah, Patriarca Latino de Jerusalém, abençoa alguns fiéis durante uma missa na Basílica da Natividade, em Belém | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 09 - 2002

Santo Egídio. Uma ampla entrevista com Andrea Riccardi

"O cristianismo não pertence a nenhuma civilização."

Assim disse Pio XII. Hoje, porém, pode emergir um uso político-ideológico da categoria de civilização cristã. Por outro lado, esqueço-me com demasiada frequência do mérito de Pio XI, que condenou a Ação Francesa precisamente porque esse movimento, que pretendia reformar a sociedade em nome dos valores cristãos, distorcia o catolicismo. Encontro com o fundador da Comunidade de Santo Egídio, empenhado em buscar o diálogo entre religiões e entre países em guerra.

por Gianni Valente

Neste clima de choque de civilizações, há um segmento da população cristã que não tem lugar nos paradigmas daqueles que Brague chamaria de "cristianistas": são os cristãos árabes...
RICCARDI: Minha história pessoal e a da Comunidade de Santo Egídio são marcadas por encontros com cristãos árabes. Sua presença e sua história garantem que todo o mundo árabe não seja identificado com o islamismo. E isso também enfraquece a visão oposta daqueles que reduzem o cristianismo a um produto religioso da civilização ocidental. Temos uma dívida impagável com as antigas Igrejas do Oriente, onde o cristianismo foi admiravelmente "inculturado" (pense na Igreja Copta, na Igreja Etíope ou na Igreja Armênia). No entanto, tenho testemunhado repetidamente uma falta de solidariedade para com elas.

Críticos da Comunidade de Santo Egídio o acusaram de "negociar com o inimigo" seus contatos com certos líderes islâmicos. Eles ainda o acusam de ter tido relações com Hassan al-Tourabi, líder dos fundamentalistas islâmicos sudaneses.
RICCARDI: Al Tourabi foi convidado à Itália pela RAI. Foi recebido pelo Papa a pedido da embaixada sudanesa. É claro que, quando ele chegou aqui, conversamos com Tourabi sobre o problema cristão e como fomentar perspectivas de paz para superar o conflito no Sudão. Intervimos com ele com firmeza duas vezes: uma a pedido do Arcebispo de Cartum, num momento em que ele se encontrava em apuros. A segunda vez para salvar uma escola administrada por freiras salesianas que havia sido ameaçada de destruição. As relações estavam, portanto, longe de ser idílicas.

E quanto à Argélia? Lá também o acusam de ter credenciado como interlocutores políticos legítimos os fundamentalistas que mais tarde se tornaram infames por suas ações sangrentas...
RICCARDI: Em relação à Argélia, acreditávamos que em 1994-95 deveríamos fazer todo o possível para impedir que uma parte do mundo islâmico caísse na situação mais perigosa. Impressiona-me o fato de nossa iniciativa, que era pouco mais que um rascunho, ainda estar em discussão: isso revela a escassez de iniciativas tentadas até o momento. Acredito que precisamos conversar com o mundo muçulmano. Precisamos conversar com todos. Não devemos ter medo da polinização cruzada. Além disso, nem sempre é possível avaliar os frutos de nossos contatos a curto prazo. Mas, francamente, não creio que possamos ser acusados ​​de conivência com o fanatismo islâmico. Da parte daqueles que talvez falem tanto sobre o Islã, usar essa expressão de forma um tanto muçulmana, e não à maneira analítica europeia, que deveria ser capaz de distinguir as profundas diferenças existentes entre os povos de fé islâmica e não esquecer que os muçulmanos somam mais de um bilhão de pessoas.

Fiéis muçulmanos durante as orações de sexta-feira dentro da Grande Mesquita de Roma | 30Giorni.

Mesmo no mundo católico, figuras de autoridade estão soando o alarme: através da imigração, está ocorrendo uma silenciosa "invasão islâmica" que pode sobrecarregar nossas sociedades tradicionalmente cristãs...
RICCARDI: Há uma tradição apologética muito respeitável que, desde o século XIX até hoje, insiste que o cristianismo está desaparecendo por causa da propaganda protestante, ou de secularistas liberais, ou socialistas, ou comunistas. Agora é a vez do islamismo. A criação de um clima social hostil certamente tem consequências. A Itália secularista que emergiu do Ressurgimento certamente não era favorável à Igreja. E os regimes comunistas a perseguiram duramente. Mas se o cristianismo está desaparecendo, como povo religioso, e permanece apenas uma questão de debate palaciano e pesquisas sociológicas, isso não se deve tanto a fatores externos... O alarmismo sobre a invasão islâmica me parece ser um argumento apresentado para uso interno, como uma ferramenta para angariar consenso em nosso jogo político doméstico...

Serão estes apenas argumentos especiosos? Não expressam um verdadeiro mal-estar?
RICCARDI: Não se trata de inventar uma história idílica das relações entre o cristianismo e o islamismo, tão cheia de dificuldades e situações atormentadas. Não é à toa que em nossas costas se dizia "mammaliturchi", enquanto nas costas turcas se usava "mammaligreci" ou "mammalifrancchi" para se referir aos cristãos. Trata-se simplesmente de reconhecer que já vivemos juntos, que a coexistência é a nossa condição de fato: em nossas cidades, agora transbordando de imigrantes, bem como no Sul global, onde as comunidades cristãs, apesar de mil dificuldades, continuam a viver em um ambiente muçulmano.

Para certos defensores da identidade cristã europeia, a atenção à situação do Terceiro Mundo e os esforços de socorro e assistência aos imigrantes parecem ser a expressão de um neoísmo teológico influenciado pela cultura de esquerda.
RICCARDI: Mas Nosso Senhor nos disse que no faminto, no prisioneiro, no pobre, está Ele mesmo. Este critério foi preservado desde as primeiras gerações cristãs e, de maneiras diferentes e sempre originais, chegou até nós. Como disse o Papa João, a Igreja pertence a todos, especialmente aos pobres. E, para dar um exemplo, os pobres homens liberianos que morreram no mar da Sicília em setembro não eram muçulmanos, eram cristãos. Sua morte, juntamente com outras tragédias marítimas recentes, nos traz de volta à grande e esquecida questão da África.

Um desembarque de imigrantes africanos ilegais | 30Giorni

Um continente abandonado. Poderia afundar no mar, e os mercados e as bolsas de valores nem perceberiam...
RICCARDI: Leopold Senghor, o grande poeta-presidente senegalês, cunhou a expressão "Euráfrica " ​​para sugerir o quão interligados estão os destinos dos dois continentes. Voltei e revisitei as teorias de Huntington sobre o choque de civilizações: bem, não está claro onde a África se encaixa. Mas, como não pode ser rastreada até a área indiana ou chinesa, nem até o mundo ortodoxo ou islâmico, a área subsaariana do continente acaba sendo um espaço europeu de fato. Enquanto discutimos sobre a questão das cotas de imigração, a verdadeira tragédia hoje são as casas de nossos vizinhos queimando. Se a África continuar a arder em meio a guerras e fomes, enfrentaremos uma pressão do Sul comparável à das invasões bárbaras.

Hoje, ajudar a África tornou-se uma questão de inteligência geopolítica para a Europa. Precisamos revitalizar a solidariedade da União Europeia com a África, com um plano de base ampla. Foi o que aconteceu na grande aventura missionária, que foi também uma grande aliança entre a diversidade, muitas vezes selada no sangue do martírio de europeus e africanos juntos. Um feito magnífico.

No plano geopolítico, em relação ao rumoroso ataque ocidental ao Iraque de Saddam Hussein, alguns invocaram São Tomás e os tomistas tardios do século XVI para justificar teologicamente a nova categoria de "guerra preventiva". Como historiador, o que o senhor pensa?
RICCARDI: Em uma sociedade secular, os líderes não recorrem a teólogos para aconselhá-los sobre a guerra. Eles não precisam desse consenso teológico...

No entanto, aqueles que justificam o uso da força como uma escolha necessária para o Ocidente ameaçado frequentemente recorrem a uma linguagem repleta de referências religiosas a Deus, à Bondade, à Verdade...
RICCARDI: O Papa falou claramente. As observações de Monsenhor Tauran e o discurso de posse do Cardeal Ruini também foram claros. A perspectiva por trás de todas essas intervenções não era um pacifismo vazio, típico de almas nobres, mas uma busca realista por soluções. A posição da Santa Sé ao longo do século XX, de Bento XV a João Paulo II, sempre confirmou a validade de suas próprias perspectivas: a intuição de que, nos tempos contemporâneos, a guerra se tornou "democratizada" e todos podem potencialmente recorrer aos instrumentos devastadores de destruição disponibilizados pela indústria bélica; e o reconhecimento de que a guerra sempre deixa o mundo pior do que o encontrou. A Igreja Católica continua sendo a única "Internacional" espalhada pelo mundo, entre diferentes povos, etnias, culturas e nações. Por essa razão, ela percebe a guerra como algo contrário à sua própria natureza. E, nessa percepção, vive em um estado de solidão.

No entanto, nos últimos anos, até mesmo eminentes representantes católicos endossaram o chamado direito de intervenção humanitária. A patente ética concedida a certas operações militares não corre o risco de se tornar uma poderosa cobertura para os interesses reais que impulsionam as guerras?
RICCARDI: Não sei. A intervenção humanitária, como intenção declarada, era salvar as vítimas da violência dos agressores. Mas acredito que essa ferramenta deve ser usada com muita cautela. Por exemplo, se considerarmos o caso do Kosovo, os efeitos foram ambíguos.

Em 1989, as pessoas começaram a atribuir um aspecto religioso e salvífico aos eventos e mudanças mundanas. Como historiador, qual é a sua avaliação da última década do século passado?
RICCARDI: 1989 foi uma surpresa. Um colapso tão repentino do comunismo não era esperado. As estratégias estavam focadas no longo prazo, em como administrar a relação com o enorme rolo compressor comunista ao longo do tempo. Depois, a década de 1990 foi a dura escola da realidade. Durante esse período, a descristianização do Oriente teve que ser reconhecida, e as diferenças entre a realidade e o que era imaginado tiveram que ser reconhecidas. Percebendo, por exemplo, o quanto havia russo na URSS — mais russo e menos comunista do que pensávamos. Na década de 1990, golpe após golpe, houve um grande desperdício de esperança. Sonhamos com o fim dos conflitos, num clima de primavera popular. E, em vez disso, até o coração da Europa, com as guerras nos Bálcãs, começou a arder novamente. Mas tenho fé nos recursos da Europa. A Europa tem uma grande tarefa no mundo: comunicar uma cultura forjada na síntese e na originalidade que hoje, depois de tantas guerras, é uma cultura de paz.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Curiosidades da Bíblia: A Galileia na época de Jesus

Sagrada Escritura (Vatican News)

Durante seu ministério, Jesus concentrou grande parte de sua atividade na Galileia, especialmente nas cidades e vilarejos ao redor do Mar da Galileia, como Cafarnaum, Betsaida e Magdala. Cafarnaum, cidade de Pedro, tornou-se um centro importante de suas atividades, sendo descrita nos Evangelhos como sua "própria cidade" (Mt 9,1).

Padre Inácio Medeiros, CSsR - Instituto Histórico Redentorista

Por Galileia se denomina a região do norte de Israel, também conhecida como "Galil" em hebraico. A área é rica em história e cultura, com importância religiosa para judeus, cristãos e muçulmanos. Atualmente, a maior parte da região faz parte do Distrito Norte de Israel, se estendendo do Mar Mediterrâneo até o Mar da Galileia ou Lago de Tiberíades. 

A região desempenhou papel central no ministério de Jesus, sendo o local onde ele passou grande parte de sua vida, onde pregou sua mensagem salvífica, escolheu os discípulos e realizou muitos de seus milagres. Por isso mesmo, a Galileia é mencionada em diversas passagens bíblicas como no evangelho de Lucas (Lc 4,14-21). 

Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. Ele ensinava nas sinagogas, e todos o elogiavam. Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se havia criado. conforme seu costume, no sábado entrou na sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos 19e para proclamar um ano de graça do Senhor.” Em seguida Jesus fechou o livro, o entregou na mão do ajudante, e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Então Jesus começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir.”

Principais características da Galileia

Do ponto de vista geográfico, a Galileia se caracterizava por suas férteis colinas, pelos vales agrícolas e proximidade com o Mar da Galileia que também era chamado de Lago de Genesaré ou Lago Tiberíades.

A região era bem ativa do ponto de vista econômico com colônias de pescadores, com vilas de agricultores e artesãos desempenhando papel importante na vida cotidiana e na sustentação da sociedade. O Mar da Galileia era fonte de sustento para os moradores locais, especialmente pescadores como Simão Pedro e André, que se tornariam discípulos de Jesus.

Culturalmente era uma região diversificada, sofrendo influência das culturas judaica, grega e romana. Após a conquista realizada por Alexandre, o Grande, da Macedônia, a região passou por um acelerado processo de helenização, porém, a maioria da população galileia mantinha suas tradições religiosas e culturais.

Por causa dessa miscigenação a região também era conhecida como "Galileia dos Gentios" por ter uma população mista, incluindo judeus e não judeus. 

No contexto religioso, os galileus eram geralmente vistos como judeus, porém, mais simples e menos rigorosos em comparação com seus compatriotas da Judeia, especialmente aqueles de Jerusalém, onde o Templo estava localizado. Isso contribuiu no preconceito carregado por Jesus e seus apóstolos, uma vez que muitos líderes religiosos judeus da época olhavam com desprezo para os galileus. A expressão que aparece no evangelho "Pode vir algo bom de Nazaré?" (João 1,46) reflete essa discriminação.

No dia seguinte, Jesus decidiu partir para a Galileia. Encontrou Filipe e disse: “Siga-me.” Filipe era de Betsaida, cidade de André e Pedro. Filipe se encontrou com Natanael e disse: “Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na Lei e também os profetas: é Jesus de Nazaré, o filho de José.” Natanael disse: “De Nazaré pode sair coisa boa?” Filipe respondeu: “Venha, e você verá.”

Nazaré, o pequeno povoado onde Jesus cresceu após sua família retornar do exílio no Egito, apesar de ser formada por gente trabalhadora, era uma localidade obscura e sem grande importância política ou religiosa.

Politicamente a Galileia estava sob a administração de Herodes Antipas, que governava como tetrarca sob a autoridade do Império Romano. Ele era conhecido por sua lealdade aos romanos e por suas obras de construção, incluindo a fundação da cidade de Tiberíades, que dele recebeu esse nome em homenagem ao imperador Tibério.

A Galileia e o ministério de Jesus

Durante seu ministério, Jesus concentrou grande parte de sua atividade na Galileia, especialmente nas cidades e vilarejos ao redor do Mar da Galileia, como Cafarnaum, Betsaida e Magdala. Cafarnaum, cidade de Pedro, tornou-se um centro importante de suas atividades, sendo descrita nos Evangelhos como sua "própria cidade" (Mt 9,1). Ali, ele pregou nas sinagogas, curou doentes e convidou seus primeiros discípulos. O Sermão da Montanha, um dos discursos mais kerigmáticos de Jesus, provavelmente ocorreu em algum lugar nas colinas galileias próximas ao mar.

No tempo de Jesus a Galileia era também marcada por movimentos messiânicos e por revoltas ocasionais contra o domínio romano. Essa atmosfera alimentava a expectativa messiânica que pode ter influenciado a recepção de Jesus na região, com muitos galileus vendo nele a esperança de libertação mais política que espiritual. No entanto, a mensagem de Jesus sobre um Reino de Deus não violento e espiritual contrastava com as aspirações de muitos que esperavam ver surgir um líder político para libertar Israel.

A Galileia não se transformou apenas no cenário geográfico do ministério de Jesus, mas também num contexto social, cultural e político que moldou sua interação com a população, criando o pano de fundo de suas mensagens. A região, com sua diversidade e dinamismo, proporcionou o ambiente no qual Jesus proclamou sua mensagem de amor, compaixão e transformação, deixando um impacto duradouro na história e na fé cristã.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O bispo entre a cruz e a esperança

A Cruz representa Cristo (Canção Nova)

O BISPO ENTRE A CRUZ E A ESPERANÇA

28/08/2025

Dom Carmo João Rhoden
Bispo Emérito de Taubaté (SP)

Ler o livro Coração de Pastor, de Dom João Bosco Óliver de Faria, é mergulhar na tensão fecunda que sustenta todo ministério episcopal: a cruz e a esperança. O autor não esconde as dores, as solidões e os pesos do episcopado. Mas, ao mesmo tempo, deixa transparecer a esperança inabalável que vem de Cristo, o verdadeiro Pastor. 

Uma das frases mais impactantes é: “O Domingo de Ramos dura pouco na vida de um Bispo”. Essa constatação, nascida da experiência concreta, sintetiza a realidade de quem assume o pastoreio. O bispo, em alguns momentos, é aclamado, reconhecido, aplaudido. Mas logo chegam as incompreensões, as críticas, a cruz. E é nessa travessia que se prova a fidelidade. 

Não se trata de pessimismo, mas de realismo evangélico. O episcopado não é carreira de prestígio, mas seguimento de Cristo crucificado. O báculo, insígnia de guia, só encontra sentido quando unido à cruz. O bispo que deseja apenas aplausos perde o essencial: sua missão é conduzir o povo não ao sucesso humano, mas ao encontro com Deus. 

Dom João Bosco insiste que o bispo não pertence a si, mas ao povo. Essa entrega é fonte de cruz, porque exige renúncia. Mas é também fonte de esperança, porque revela a fecundidade do ministério. Quantos padres foram ordenados, quantas comunidades foram animadas, quantas vidas foram tocadas por um pastor que se deixou consumir pela missão! 

Ao refletir sobre essas páginas, recordei-me das palavras de São João Paulo II: “O bispo deve ser testemunha da esperança, mesmo quando as circunstâncias parecem obscurecê-la”. Essa dimensão aparece fortemente no livro. A cruz não apaga a esperança; ao contrário, é nela que a esperança se purifica. 

O episcopado, visto sob essa luz, não é uma função de prestígio, mas um caminho pascal. O bispo é chamado a viver o mistério da cruz e da ressurreição em sua própria carne, para que o povo de Deus possa reconhecer nele o rosto de Cristo. 

Ao concluir a leitura, senti-me convidado a renovar minha própria entrega. Coração de Pastor nos recorda que, em meio às cruzes, a esperança permanece. O bispo é homem da cruz, mas também profeta da esperança. E essa tensão, longe de ser contradição, é a essência mesma do ministério episcopal. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Cristãos, muçulmanos e judeus pela paz: “é preciso conter o ódio"

A cruz nas ruas de Jerusalém (Vatican News)

De Roma, um apelo que ressoa sobretudo no Oriente Médio, palco de conflitos e tensões, com a proposta de um encontro entre bispos, rabinos e imãs na Itália que seja “direto, não convencional nem confessional, para testemunhar juntos uma responsabilidade comum”.

Vatican News

“Este apelo nasce da convicção da necessidade imperiosa de promover qualquer iniciativa de encontro para conter o ódio, salvaguardar a convivência, purificar a linguagem e tecer a paz. Responsabilidade de indivíduos e de sujeitos coletivos!”. É com estas palavras que se inicia o apelo inter-religioso divulgado nesta sexta-feira (29/08) em Roma, e promovido pelos representantes das comunidades judaica, cristã e muçulmana de toda a Itália.

As assinaturas do documento

O apelo, assinado por Noemi Di Segni (União das Comunidades Judaicas Italianas), Yassine Lafram (União das Comunidades Islâmicas da Itália), Abu Bakr Moretta e Yahya Pallavicini (Comunidade Religiosa Islâmica Italiana), Naim Nasrollah (presidente da Mesquita de Roma) e pelo cardeal Matteo Maria Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana, relembra a necessidade de “encontrar soluções para o que humilha nossas crenças e resistir”.

A atenção para o Oriente Médio

Palavras que ressoam especialmente para o Oriente Médio, palco de conflitos e tensões cada vez mais trágicos.

“A consciência dos tempos sombrios que estamos atravessando e do poder da ilusão que também paira sobre a tragédia em curso no Oriente Médio nos chama, como líderes de comunidades religiosas, como crentes e como cidadãos, a denunciar a insinuação de generalizações perigosas e confusões prejudiciais entre identidades políticas, nacionais e religiosas”. Os signatários denunciam ainda a “infâmia de uma propaganda que, explorando a ingenuidade e a visceralidade, obscurece um discernimento saudável e banaliza o sentido profundo da nossa própria humanidade”, fomentando o antissemitismo, a islamofobia e a aversão ao cristianismo católico e às religiões em geral. “Nenhuma segurança será jamais construída sobre o ódio. A justiça para o povo palestino, assim como a segurança para o povo israelense, só passam pelo reconhecimento mútuo, pelo respeito aos direitos fundamentais e pela vontade de dialogar”.

Uma proposta concreta

Daí a proposta concreta de um encontro entre bispos, rabinos e imãs na Itália: “um encontro simples, direto, não convencional nem confessional, para testemunhar juntos uma responsabilidade comum”, com a esperança de que as comunidades religiosas possam promover atividades locais e nacionais com o envolvimento das instituições. “O dever de trabalhar por uma convivência responsável nos chama, como religiosos, à necessidade de promover a coesão social com base em valores compartilhados”, lê-se ainda no apelo, que termina com um agradecimento pelas testemunhas amadurecidas nas últimas semanas em Bolonha, Milão e Turim, como sinal de esperança em um tempo marcado pela violência.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Cinco grandes citações das Confissões de santo Agostinho

Santo Agostinho de Hipona. | Cathopic

Por Kate Quiñones*

28 de ago. de 2025

A Igreja celebra hoje (28) santo Agostinho de Hipona, um dos primeiros Padres da Igreja, doutor da Igreja e teólogo fundamental.

Santo Agostinho foi criado como cristão na infância, mas se afastou da Igreja, teve um filho fora do casamento e aderiu à heresia do maniqueísmo. Sua mãe, santa Mônica nunca deixou de rezar pela volta de seu filho à Igreja.

Das cerca de 5 milhões de palavras que santo Agostinho escreveu em sua vida (354-430 d.C.), suas Confissões tiveram uma influência particularmente duradoura como obra filosófica, teológica, mística e literária. Escritas por volta de 400 d.C., as Confissões detalham como Deus atuou na vida de santo Agostinho e podem ser lidas não só como uma história, mas como uma oração.

Seguem abaixo cinco citações poderosas das “Confissões” de santo Agostinho

1.    “Tu nos criaste para Ti, ó Senhor, e nosso coração está inquieto até que encontre descanso em Ti” (Livro I).

2.    “Cheguei a Cartago, onde cantava ao meu redor, em meus ouvidos, um caldeirão de amores profanos. Eu ainda não amava, mas amava amar, e por uma profunda carência, odiava-me por não desejar... Pois dentro de mim havia uma fome daquele alimento interior, Tu mesmo, Meu Deus” (Livro III).

3.    “Mas o que sou eu para mim mesmo sem Ti, senão um guia para minha própria queda?” (Livro IV).

4.    “Eu me lancei, não sei como, sob uma certa figueira, dando vazão total às minhas lágrimas; e as torrentes dos meus olhos jorraram um sacrifício aceitável a Ti” (Livro VIII).

5.    “Tarde te amei, ó Beleza sempre antiga, sempre nova, tarde te amei! Estavas dentro de mim, mas eu estava fora, e foi lá que Te procurei. Em minha falta de amor, mergulhei nas coisas belas que criaste. Estavas comigo, mas eu não estava contigo. As coisas criadas me afastaram de Ti; no entanto, se não estivessem em Ti, não existiriam. Chamaste, gritaste e rompeste a minha surdez. Iluminaste, brilhaste e dissipaste a minha cegueira. Sopraste Tua fragrância em mim; eu a inalei e agora anseio por Ti. Provei-Te, agora tenho fome e sede de mais. Tocaste-me e ardi por Tua paz” (Livro X).

*Kate Quiñones é redatora da Catholic News Agency e membro do site de notícias The College Fix. Ela já escreveu para o Wall Street Journal, para o Denver Catholic Register e para o CatholicVote, e se formou pelo Hillsdale College. Ela mora com o marido no Colorado, nos EUA.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/64283/cinco-grandes-citacoes-das-confissoes-de-santo-agostinho

Dom Vital: O Concílio de Nicéia e a unidade do Pai e do Filho

Concílio de Nicéia  (Vatican News)

O Concílio disse que o Filho é Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, é da mesma substância do Pai.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

O ano 2025 lembra os 1700 anos de Nicéia realizado em 325 em um grande Concílio, convocado pelo Imperador Constantino, onde foi reafirmada a divindade do Filho, diante da negação ariana que o Filho não fosse Deus. O Concílio disse que o Filho é Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, é da mesma substância do Pai. A doutrina ariana foi condenada pelos 300 bispos reunidos provenientes das diversas partes do Império, mas, sobretudo do Oriente, tendo presentes a unidade do Pai com o Filho e do Filho com o Pai e o Espírito Santo. Vejamos a seguir a visão em Santo Agostinho, bispo dos séculos IV e V em Hipona no Norte da África, a forma como ele desenvolveu a unidade entre as duas Pessoas divinas que reflete a unidade com o Concílio de Nicéia em 325.

O Pai mostra ao Filho as coisas feitas

O Bispo de Hipona teve como ponto fundamental o capítulo 5,19-26 de São João onde fala que o Pai mostra ao Filho tudo o que o Pai faz(cfr. Jo 5,19). A verdade é que o Pai faz tudo pelo Filho, por meio dele. Isto significa que o Pai mostra as suas obras ao Filho, antes de fazê-las. Desta forma, o Pai não faz nada sem o Filho, visto que o Filho de Deus é o Verbo de Deus e que “tudo foi feito por Ele (cfr. Jo 1,3)[1].

O Pai irá mostrar obras maiores

O Evangelista São João diz em seguida pela boca de Jesus que o Pai mostrar-lhe-á obras maiores do que estas (cfr. Jo 5,20). O texto está em unidade do milagre, sinal do Senhor, daquela pessoa que foi curada por Jesus, de uma doença havia trinta oito anos de sofrimento. Sem dúvida tratava-se das curas de doenças corporais e outras maiores. O Pai mostrará as obras para que as pessoas fiquem na admiração. É um linguajar que exige fé na Palavra de Jesus, como o Pai mostra, por assim dizer, temporalmente, certas obras ao Filho que é coeterno a Ele e sabe tudo o que é que está no Pai[2].

O Pai ressuscita mortos: O Filho também ressuscita mortos

Jesus disse “Como o Pai ressuscita mortos e dá-lhes a vida, assim também o Filho dá a vida aos que quer” (Jo 5,21). A obra maior é ressuscitar os mortos, feita pelo Pai e também feita pelo Filho. O fato é que o Filho dá a vida aquelas mesmas pessoas a quem o Pai a dá, lhes concede, visto que não faz obras diferentes do Pai, de modo que o Filho faz as mesmas obras que o Pai faz[3].

Dar a vida

Para Santo Agostinho, dado que provem do Evangelho do Senhor, o Filho dá a vida aos que quer, assim como o Pai dá a vida aos que quer (cfr. Jo 5,21). Nestas afirmações entendem-se que tanto o poder do Filho como a vontade do Pai são os mesmos. Em seguida vem a afirmação do Filho que “O Pai não julga ninguém, mas entregou o julgamento ao Filho, para que todos honrem o Filho como honram ao Pai” (Jo 5, 22-23)[4]. Santo Agostinho também afirmou que é impossível alguma pessoa honrar o Pai sem o Filho, porque o Pai está no Filho e o Filho está no Pai, e também pelo fato de que o Pai é assim chamado porque tem o Filho e o Filho é assim chamado porque tem o Pai[5]. A honra dada ao Filho não é menor daquela dada ao Pai, porque as duas Pessoas divinas merecem o mesmo louvor e glória de modo que o julgamento dado ao Pai é concedido ao Filho. Este argumento era visível no arianismo, pela negação divina do Filho, mas foi condenado em Nicéia, de modo que para Santo Agostinho que estava a favor do Concílio, o Filho está na mesma linha de eternidade do Pai e do Espírito Santo.

A unidade do Pai e do Filho

O bispo de Hipona afirmou a unidade do Pai e do Filho. “Quem escuta a palavra de Jesus e crê n’Aquele que o enviou, possui a vida eterna e não vai a julgamento, mas passou da morte para a vida” (cfr. Jo 5,24). A unidade é perfeita, é eterna entre o Pai e o Filho de modo que a pessoa que escuta a palavra de Jesus está em comunhão com a palavra do Pai, não existindo entre as duas Pessoas divinas nenhuma separação, mas somente unidade. O ponto fundamental é dado neste sentido de que crer n’Aquele que o enviou, o Pai, crê no Filho, pois o Filho é a Palavra, o Verbo do Pai (cfr. Jo 1,1)[6].

A ressurreição para a vida eterna

Jesus na sua condição de ser humano e divino afirmou que vem a hora e é agora (cfr, Jo 5,25) de que os mortos passarão da morte para a vida eterna. O poder de Jesus que é o mesmo do Pai fará a ressurreição dos mortos, das pessoas que viverem em unidade com o Senhor, com a Igreja, com as pessoas, ressuscitarem no fim do mundo[7]. A afirmação de Jesus de que vem a hora e é agora se referia à ressurreição dos mortos em que os ressuscitados viverão eternamente, ponto que se há de realizar na última hora[8], sendo o mesmo dom, a ressurreição que o Senhor dará aos seus seguidores e seguidoras, missionários, missionárias.

A vida em si mesmo do Pai também concedida ao Filho

A vida, o grande dom de Deus dado à humanidade, proveniente do Pai é concedida também ao Filho. “Com efeito, como o Pai possui a vida em Si mesmo, assim também Ele dá ao Filho ter a vida em Si mesmo” (Jo 5,26). O Filho não tem a vida proveniente de fora, mas em Si mesmo: seu ato de viver reside no Pai, não sendo alheio a Ele, não possuindo a vida por empréstimo, nem recebe como participação da vida, e de uma vida que não fosse o que Ele mesmo é, mas Ele possui a vida em Si mesmo, de modo que Ele mesmo é, para Si, a própria vida[9]. Para Santo Agostinho a prova máxima da igualdade do Pai para com o Filho e do Filho para com o Pai, está na afirmação de “Como o Pai possui a vida em Si mesmo, assim Ele deu ao Filho ter a vida em Si mesmo” (Jo 5,26), de modo que a vida é dada nas duas Pessoas divinas de o Pai ter a vida em Si mesmo, sem que ninguém Lha tenha dado, e o Filho ter em Si mesmo a vida que o Pai Lhe deu[10], não existindo nenhuma subordinação mas a sua plena igualdade entre as duas Pessoas divinas.

Santo Agostinho foi um fiel seguidor do Concílio de Nicéia colocando a comunhão das Pessoas divinas sobre o mesmo plano, afirmando a Unidade e a Trindade, não sendo três deuses, mas um único Deus em três Pessoas. Como o arianismo negava a divindade do Filho na eternidade, era preciso afirmar a sua plena comunhão de substância com o Pai, sendo Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado. Nós professamos a nossa fé em Deus Uno e Trino. Pelos sacramentos da Iniciação à vida Cristã, somos nós chamados a viver em comunhão em nossas comunidades, famílias, paróquias, Dioceses, para que o mistério de Deus Uno Trino seja louvado e amado através das obras boas que fizermos, sobretudo aos mais necessitados a fim de que um dia vivamos na plena comunhão com a comunidade dos santos e das santas e com o Deus Uno e Trino.

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[1] Cfr. Comentários a São João I Evangelho, Homilia 19,3. São Paulo: Paulus, 2022, pg. 441.

[2] Cfr. Idem, 19,4, pgs. 442-443.

[3] Cfr. Ibidem, 19,5, pg. 443.

[4] Cfr. Ibidem, 19,6, pg. 445.

[5] Cfr. Ibidem.

[6] Cfr. Ibidem, 19,7, pgs. 446-447.

[7] Cfr. Ibidem, 19,9, pg 448.

[8] Cfr. Ibidem, pg. 449.

[9] Cfr. Ibidem, 19,11, pg. 451.

[10] Cfr. Ibidem, 19,11, pg. 453. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF