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domingo, 5 de outubro de 2025

Reflexão para o XXVII Domingo do Tempo Comum (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

No Evangelho, Jesus pede que o povo tenha mais fé em Deus, e seja mais fiel e leal ao Senhor.

Vatican News

“O justo viverá por sua fidelidade.” O Profeta Habacuc diz que o justo viverá por sua fidelidade, por sua lealdade à Palavra e à vontade de Deus, depois de ter dito ao Senhor que não concordava com a lentidão de Sua justiça diante dos tormentos sofridos pelo povo e suplicado ao Senhor que esses infortúnios cessassem.

No Evangelho, Jesus pede que o povo tenha mais fé em Deus, e seja mais fiel e leal ao Senhor.

Também nós elevamos preces a Deus pedindo pelo Seu povo e por todos os homens de boa vontade, cansados de sofrer agressões gravíssimas não apenas por parte de delinquentes, mas também por muitos daqueles que deveriam zelar pela justiça e pelo desvalido. Diante dessa situação clamamos a Deus: “até quando, Senhor, até quando?”

E o Senhor nos responde pedindo maior confiança, maior fé e fidelidade.

Mas como ter maior fé, se fé é crer ou não? A Fé cristã se traduz no seguimento de Jesus Cristo, por isso ela poderá aumentar ou diminuir. Dentro das comparações feitas por Jesus no Evangelho de hoje, a Fé poderá ser avaliada como a força que desenraiza uma árvore de grande porte, mesmo que ela - a fé - seja tão pequenina como o grão de mostarda.

Se pensarmos bem, não se trata da intensidade da fé, se grande ou pequena, mas de sua qualidade, se pura ou não.

Quando o Pe. Nóbrega, no Brasil Colonial, viu que os indígenas, após a conversão ao Cristianismo, estavam voltando aos antigos costumes, não os culpou, mas fez um exame de consciência para ver onde os missionários haviam errado. Ele chegou à conclusão de que o ardor e a fé missionária haviam perdido qualidade e vigor.

Foi feito um “mea culpa” e os jesuítas procuraram purificar sua fé, pondo apenas no Senhor sua confiança e esperança e agindo como colaboradores de Deus. Deixaram o protagonismo para o Espírito e permaneceram como agentes da Evangelização.

Portanto, não é o Senhor quem não escuta nossas súplicas, mas somos nós que não cremos em Seu poder e possuímos fé imperfeita. Creiamos em Deus, no poder de Seu Amor e façamos aquilo que Ele nos sugere e pede através da oração, da reflexão sobre a realidade, sem medo e sem receios. Se o Senhor está conosco, somos poderosos e poderemos mudar o mundo, ou melhor, nós não, mas o Espírito através de nossas ações iluminadas e guiadas por Ele.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 4 de outubro de 2025

SAÚDE: Do morango do amor ao pudim: por que brasileiros gostam tanto de açúcar (Parte 1/2)

Morango do amor, doce que combina leite condensado, morango e açúcar, se tornou uma sensação no último mês (Crédito: Getty Images)

Do morango do amor ao pudim: por que brasileiros gostam tanto de açúcar?

Autor: André Biernath

Da BBC News Brasil em Londres

14 agosto 2025

Do morango do amor aos brigadeiros gourmet, passando pelos bolos de pote e ovos de Páscoa recheados, o Brasil viveu sucessivas "febres" de doces.

Mas, afinal, por que os brasileiros gostam tanto de açúcar?

A história do açúcar no Brasil começa séculos atrás, bem antes dos doces modernos, e tem relação direta com a colonização portuguesa.

A cana-de-açúcar, de onde boa parte do açúcar utilizado no país é extraído, é originária da Papua Nova Guiné, na Oceania.

Pesquisadores acreditam que ela passou a ser cultivada pelos seres humanos há cerca de 10 mil anos e, aos poucos, se espalhou pela Polinésia, pela Ásia e pelo Mediterrâneo.

Mas, durante muito tempo, a oferta de açúcar era bem limitada e ficava restrita às farmácias, onde havia uso na formulação de remédios ou como tônico para dar energia.

Isso começou a mudar a partir do século 14, quando Portugal investiu nas suas primeiras grandes plantações de cana-de-açúcar na Ilha de Madeira, modelo que foi expandido para o Brasil — em uma escala ainda maior — a partir do século 16.

O açúcar, então, se tornou a grande commodity da então colônia portuguesa, que dependia da mão-de-obra dos escravizados nas lavouras e nos engenhos.

Brasil é o principal exportador de açúcar do mundo (Crédito: Getty Images)

Em seu livro História da Alimentação no Brasil, o historiador Luís da Câmara Cascudo estima que, entre 1583 e 1587, os 66 engenhos de Pernambuco produziram quase 3 mil toneladas de açúcar.

Ainda que boa parte dessa produção fosse exportada pra Europa, a facilidade no acesso ao açúcar no Brasil influenciou diretamente as receitas de bolos e outras sobremesas, além das conservas e compotas com frutas.

"No século 16, você já começa a perceber a alteração através dos livros de receitas das rainhas, principalmente, a alteração de receitas que eram feitas com mel ou tinham uma outra configuração. Por exemplo, o manjar branco, que antes era um prato que não era feito nem com açúcar nem mel, passa a ser feito com açúcar", explica a historiadora e professora da USP Vera Ferlini.

"Gradativamente, o açúcar vai entrando como um elemento da dieta e da constituição de um receituário, principalmente conventual, de doces, que são os que nós conhecemos: os fios de ovos, vários tipos de pasteis, esses doces com massas, o pão de ló e tudo aquilo que ainda encontramos na doçaria portuguesa. Então a doçaria brasileira vai ser uma herdeira dessa doçaria portuguesa", acrescenta.

Houve ainda a influência dos africanos e dos indígenas, que de acordo com a pesquisa de Câmara Cascudo, preferiam o gosto que vinha direto da cana, de frutas como o cupuaçu, o açaí, o guaraná e o caju, ou dos favos de mel das abelhas.

Mesmo hoje, séculos depois, o Brasil continua sendo o maior exportador de açúcar do mundo.

A revolução do leite condensado

A partir do século 20, a relação do brasileiro com o açúcar se diversificou. A industrialização dos alimentos trouxe novos produtos à mesa: refrigerantes, bolachas recheadas e o leite condensado.

Em 2021, em uma reportagem da BBC Brasil, a Nestlé disse — citando dados de uma pesquisa do Kantar Ibope, realizada em 2020 — que o leite condensado estava presente na casa de 94% dos brasileiros, que consomem em média 6 quilos e meio de leite condensado por ano.

A empresa, que é uma das maiores fabricantes do produto, afirma que o leite condensado é parte de cerca de 60% das sobremesas feitas no Brasil, um número sem paralelo em nenhum outro país.

A popularização deste produto, fabricado há mais de 100 anos, se reflete em inúmeras sobremesas no Brasil: no brigadeiro, nos mousses, pavês e, mais recentemente, no morango do amor.

"O leite condensado junta em um produto só vários atributos que o brasileiro ama. Porque a gente gosta de coisas doces, bem doces. E a gente gosta de doces molhadinhos. E o leite condensado é isso. Ele é úmido, ele é doce, ele traz textura. E ele é neutro, porque a base láctea permite esses acréscimos do pistache, do chocolate, do morango, do limão, do maracujá, do coco, do café, da laranja… Então você abre um leque de receitas com saborização enorme, com uma facilidade de uso imensa", explica a historiadora Débora Oliveira, autora do livro Dos Cadernos de Receitas as Receitas de Latinha : Indústria e Tradição Culinária (Editora Senac).

O brigadeiro, marca registrada da doçaria brasileira, usa uma lata de condensado, que tem 55 gramas de açúcar a cada 100g (Crédito: Getty Images)

Curiosamente, as primeiras campanhas de marketing promoviam o leite condensado como um alimento pra bebês e crianças, uma espécie de substituto do leite tradicional e das fórmulas infantis.

Uma marca famosa dizia para as mães: "Senhora, não se aflija com a falta de leite. Há um bom substituto, o único substituto, no qual você deve ter total confiança."

Não existe nenhuma evidência científica que sustente essas afirmações — e hoje o consumo de açúcar é desaconselhado antes dos dois anos de idade.

A BBC News Brasil entrou em contato com a Nestlé, que fabrica a principal marca de leite condensado no mercado, para que ela pudesse comentar o assunto, mas não foram enviadas respostas até a publicação da reportagem.

Alguns anos depois, o leite condensado passou a trazer fascículos com receitas, ou instruções de preparo de sobremesas nos próprios rótulos, que passaram a ser colecionados pelas donas de casa.

Segundo pesquisadores, essas campanhas acertaram ao mirar exatamente nas principais dores dos consumidores e oferecer uma solução prática, confiável e barata pra preparar alimentos ligados ao conforto e ao bem-estar de reuniões de família.

"O Gilberto Freyre tem essa frase no livro dele, que eu amo, que aqui no Brasil, o doce visita. O doce agradece. O doce dá as condolências. O doce celebra e tem um papel social. Então, quando nasce alguém, nasceu seu sobrinho, você vai visitar a criança e não leva um leitão à pururuca. Você leva um docinho. O doce tem uma função social de ser recompensa, de ser essa gratidão, onde ele simboliza muito do afeto", afirma Débora Oliveira, que tem mestrado pela USP.

O antropólogo Gilberto Freyre escreveu livros inteiros sobre a importância desse ingrediente para a formação da identidade nacional. É o caso da obra Açúcar: uma Sociologia do Doce, em que ele defende que, sem o açúcar, não é possível compreender o homem do Nordeste.

Leite condensado é usado em várias receitas brasileiras (Crédito: Getty Images)

O leite condensado também teve impacto em outros setores da vida pública, como a política.

O próprio nome de um dos doces mais populares do Brasil, o brigadeiro, teve origem nas eleições de 1945, quando o brigadeiro Eduardo Gomes candidatou-se à presidência da República. No contexto militar, brigadeiro é uma das mais altas patentes da força aérea brasileira.

Os apoiadores de Eduardo Gomes criaram o slogan: "Vote no brigadeiro, que é bonito e solteiro" e distribuíram um novo doce, que recebeu o mesmo nome, em festas e eventos de campanha.

O doce virou um sucesso, mas não foi suficiente pra garantir a vitória nas eleições, que sagraram Eurico Gaspar Dutra como o novo presidente.

Anos depois, o leite condensado voltou à cena política em uma polêmica, por representar gastos de R$ 15,6 milhões pelo Governo Federal.

Na época, o presidente era Jair Bolsonaro, que compartilhou diversos vídeos comendo esse ingrediente em um pedaço de pão.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cp3eqv91x1vo

EDITORIAL: “Nunca mais a guerra!” O grito inatendido e atualíssimo de Paulo VI

O discurso de Papa Paulo VI na ONU, em 4 de outubro de 1965 (Vatican News)

Sessenta anos atrás, a intervenção de Papa Montini nas Nações Unidas, vinte anos após o fim da imensa tragédia da Segunda Guerra Mundial. O mundo estava dividido em dois blocos e tinha apenas recentemente iniciado um tempo de diálogo e de distensão.

Andrea Tornielli

“Nunca mais a guerra, nunca mais a guerra!”. Passaram-se sessenta anos desde que Paulo VI, Bispo de Roma, elevou seu grito de paz no Palácio de Vidro das Nações Unidas. Era segunda-feira, 4 de outubro de 1965, o mundo, saído vinte anos antes da imensa tragédia da Segunda Guerra Mundial, estava dividido em dois blocos e havia apenas iniciado um tempo de diálogo e distensão, com as primeiras tentativas de acordo sobre o controle das armas nucleares.

LEIA AQUI O TEXTO COMPLETO DO DISCURSO DE SÃO PAULO VI

“A palavra que vós esperais de Nós – disse Papa Montini – e que Nós não podemos pronunciar sem estar conscientes da sua gravidade e da sua solenidade: jamais uns contra os outros, nunca mais. Não foi sobretudo com esta finalidade que nasceu a Organização das Nações Unidas: contra a guerra e para a paz?”. E acrescentava: “Escutai as palavras lúcidas de um grande desaparecido, John Kennedy”, que proclamava: “A humanidade deverá pôr fim à guerra, ou é a guerra que porá fim à humanidade”. O juízo de Kennedy revela todo o seu trágico realismo justamente na hora sombria que o mundo vive neste momento. A crise do multilateralismo e das instituições como a ONU está diante dos olhos de todos. Aquela Terceira Guerra Mundial iniciada em pedaços, que há mais de dez anos o Papa Francisco começou a denunciar, parece aproximar-se de maneira sinistra. A humanidade parece ter perdido a memória do passado recente: estamos cobertos por milhões de supostas informações da era digital que nos fazem sentir a geração mais consciente, mas estamos cercados por fake news, por propaganda de guerra, pelos interesses inconfessáveis dos fabricantes de armas e dos mercadores da morte.

A guerra fratricida no coração da Europa cristã, desencadeada pela agressão russa à Ucrânia, a guerra fratricida no coração da Terra Santa, provocada pelo ato terrorista desumano do Hamas e hoje perpetrada com violência injustificável pelo exército israelense, são apenas dois dos muitos conflitos que se combatem no mundo e permanecem esquecidos, fora dos radares. A tragédia de Gaza, a detenção e o assassinato de reféns, o massacre da população civil – de dezenas de milhares de crianças, mulheres, idosos – assim como as tantas vítimas civis da guerra na Ucrânia, representam uma afronta, um buraco negro para a consciência moral do mundo. O direito internacional e o direito humanitário são invocados e distorcidos de acordo com as conveniências do mais forte. Diante de governantes que falam de guerra, preparam a guerra, investem somas enormes em armamentos, o grito do inofensivo Pontífice de Brescia ressoa ainda hoje, mais dramaticamente atual do que sessenta anos atrás. São palavras em profunda sintonia com o sentimento dos povos, que ainda se indignam com os massacres diários aos quais assistimos e esperam que a diplomacia, a negociação, a criatividade na mediação, a capacidade de diálogo e de percorrer novos caminhos de paz, encontrem finalmente quem os trilhe em vez de se render à mais vulgar propaganda de guerra.

Para proclamar o fim das Nações Unidas, Paulo VI quis “recordar que o sangue de milhões de homens, os sofrimentos espantosos e inumeráveis, os inúteis massacres e as aterradoras ruínas sancionam o pacto que vos une, num juramento que deve mudar a história futura do mundo: nunca mais a guerra, nunca mais a guerra. É a paz, a paz que deve guiar o destino dos povos e de toda a humanidade!”. Não o esqueçamos, sobretudo hoje.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A amizade segundo Santo Agostinho

A amizade segundo Santo Agostinho (Frases Pequenas)

A AMIZADE SEGUNDO SANTO AGOSTINHO

03/10/2025

por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

A amizade é um dos grandes valores da vida humana e divina (cfr. Ecl 6,14). Ela condiz com o mandamento da lei do Senhor pelo amor a Deus, ao próximo como a si mesmo (cf. Mt 22,37-39). Jesus disse para os seus discípulos que não os chamaria mais de servos, mas de amigos, porque Ele deu a conhecer tudo o que ouviu de seu Pai(cfr. Jo 15,15). A amizade com Deus faz-nos mais humanos entre nós sempre em busca da paz e do amor, da necessidade de amigos e amigas em vista do Reino de Deus. Veremos a seguir a visão da amizade em Santo Agostinho como graça de Deus e como responsabilidade humana[1].

O fato do bispo usar a palavra amizade: conhecimento e amor

Santo Agostinho tinha presente o termo amizade para exprimir idéias múltiplas. Ele a utilizava para especificar os laços que unem duas pessoas numa mútua simpatia. É o sentido que ele encontrou num plano puramente natural: “O ano da nossa amizade era apenas terminado”[[2], porque na sua juventude descreveu a morte de um amigo. Ele teve presentes também a sua relação com os maniqueus nas quais ele queria aprofundar o sentido da amizade com eles mais do que com os outros homens. Era claro que tudo ocorreu num plano natural da amizade[3]. Mas Santo Agostinho estendeu o sentido da amizade na perspectiva de um ponto de vista muito mais amplo do que o simples conhecimento. A amizade não conhece limites estreitos porque ela se estende a todos aqueles com os quais devemos o nosso amor[4]. É claro também a visão que a amizade não pode ter ligação com o pecado[5]

A amizade cristã

Santo Agostinho especificou a importância da amizade proveniente da visão cristã. Para ele era uma forma particular da caridade fraterna. O amor a Deus passa pela pessoa do próximo[6]. A Palavra de Deus fala que a caridade apaga uma multidão de pecados (cfr. 1 Pd 4,8). O bispo falava da amizade com Deus que eleva o ser humano à participação da sua mesma vida, dizendo que diante dos perigos é preciso esperar com toda segurança com a amizade de Cristo[7].

Sentimento com outra pessoa

A amizade provoca na pessoa uma relação com outra pessoa, suscitando sentimentos bons. Os afetos que unem as pessoas amigas chamam-se caridade, amor[8]. O bispo de Hipona utilizou a realidade da amizade não sendo uma questão da razão, mas para amar a outra pessoa e a Deus[9].

O dom da amizade

A amizade tem o seu ponto principal vindo do Senhor Deus. Ela é um dom divino. Toda a pessoa deve pedir esta graça para vivê-la na realidade humana. Por isso Santo Agostinho disse que “Nenhuma amizade é fiel se não em Cristo. É somente nele que esta pode ser feliz e eterna”[10]. “Ama verdadeiramente o seu amigo aquele que ama Deus no seu amigo, porque Ele vive nele ou pelo qual vive nele”[11]. O bispo continuou a sua argumentação nesta mesma linha da amizade como dom ao afirmar que é potente a misericórdia do nosso Deus, dando a sua graça para a superação da tristeza através da oração[12]. A pessoa é conhecida pela amizade dada e recebida[13].

O conceito de amizade alargada

Santo Agostinho colocou o valor da amizade em unidade com o mandamento da lei do Senhor (cfr. Mt 22, 37-38). Desta forma ele alargou e enriqueceu o conceito clássico de amizade, passando do simples conhecimento em forma de amigo, amiga, para alcançar à uma definição como amizade por uma união entre as pessoas que amam a Deus com todo o seu coração, a sua alma, e a sua mente e amam a outra pessoa como a si mesmas, são unidas por toda a eternidade umas com as outras e a Cristo mesmo. O bispo de Hipona colocou a eternidade da amizade porque ela se refere a Deus como dom dado às pessoas neste mundo em vista da eternidade. O fato é que a amizade une as almas em Deus porque elas nunca conhecerão fim, por Deus ser infinito e imortal[14].

A união das pessoas

A amizade faz uma pessoa amar a outra pessoa. Isto é graça de Deus. Segundo Santo Agostinho só Deus une pessoas, porque só Ele realiza a união das mesmas. O vinculo que as une é a caridade difundida nos corações humanos por obra do Espírito Santo que foi dado aos seres humanos (cfr. Cl 3,14). Este amor é o ágape, é aquele que une Deus Pai a Cristo, Cristo aos seus discípulos e os cristãos entre eles. Pelo seu caráter divino, o amor ágape confere à amizade cristã um caráter de estabilidade, de fidelidade, de amor. Desta forma para Santo Agostinho todas as pessoas que estão unidas a Deus, são também ligadas pela amizade, tratando-se de caridade fraterna, porque a caridade une as pessoas a Deus e às pessoas entre si[15].

A amizade é conhecimento, é amor a Deus pelas pessoas, tornando-as capazes de amar como Deus ama a todas as pessoas. É preciso cultivar amizades que nos levam à vida eterna. Santo Agostinho colocou a importância da amizade para assim fortalecer os laços entre as pessoas e com o Criador, a fonte da amizade para ser vivida neste mundo e um dia na eternidade, com o Deus Uno e Trino.

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[1] Cfr. Marie Aquinas Mcmamara. L´amicizia in Sant´Agostino. Editrice Àncora Milano. Monza, 1970, pgs. 241-258.

[2] Cfr. Santo Agostinho. Confissões, 4,4,7. São Paulo: Paulus, 1997, pg. 94.

[3] Cfr. Idem, 5, 10,19, pgs. 133-134.

[4] Cfr. Ep. 130, 13. In: Marie Aquinas Mcmamara. L´amicizia in Sant´Agostino, pg. 242.

[5] Cfr. Serm. 20. Ibidem, pg 242.

[6] Cfr. Santo Agostinho. Confissões, 4,4,7, pg. 94.

[7] Cfr. En. in ps. 131,6: In: Marie Aquinas Mcmamara, pg. 243.

[8] Cfr. Ibidem.

[9] Cfr. Serm. 349. Ibidem, pg. 244.

[10] Contra duas ep. Pel. 1,1. In: Ibidem, pg. 245.

[11] Serm. 336,1. Ibidem.

[12][12] Cfr. Ep. 250, 3, ad Ausílio. Ibidem.

[13] Cfr. De Div. Quaest. 83, q. 71,5. In: Ibidem, pg 246.

[14] Cfr. Marie Aquinas Mcmamara. L´amicizia in Sant´Agostino, pg. 249.

[15] Cfr. Idem, pg. 251.

Fonte: https://cnbbn2.com.br/

Cântico das criaturas… oito séculos depois

Joa Souza | Shutterstock

Paulo Teixeira - publicado em 03/10/25 - atualizado em 03/10/25

Qual a mensagem de São Francisco para os fiéis de hoje?

Corria o ano de 1225 e São Francisco de Assis via o fim de sua vida. Quase cego e enfraquecido começou a compor um hino de louvor a Deus. Esses versos ficaram no coração de Francisco de maneira muito forte, não foi uma composição artística para “os outros ouvirem”, mas foi escrita dentro de si e alimentava seus sentimentos. A primeira parte fala sobre as criaturas e reconhece o sol e as estrelas como irmão e irmã, a água, a terra, enfim, reconhece a presença criadora de Deus nos elementos da natureza aos quais chama de irmão e irmã; no ano seguinte compôs mais um verso dedicado ao perdão e a paz devido uma disputa entre o bispo e o prefeito de Assis. Os versos trouxeram a paz; por último São Francisco incluiu o verso que tratava da nova irmã que ele via se aproximar, a irmã morte. 

Neste ano em que se celebra 800 anos da composição do Cântico os ministros gerais dos franciscanos menores, conventuais, capuchinhos e da terceira ordem regular, publicaram uma densa e profunda mensagem intitulada Canto da reconciliação. Nela os ministros afirmam que “composto gradualmente por Francisco entre 1225 e 1226, o Cântico não é apenas um texto poético, mas o testemunho de uma visão completa de Deus Criador, da criação, da fraternidade universal e da ecologia integral, temas que o Papa Francisco retomou com força em sua encíclica Laudato Si”’. 

Os ministros convidam revisitar o cântico com os olhos de hoje e com o olhar de São Francisco: “Este hino, percebido com o olhar puro de quem aprendeu a ver o mundo com os olhos da fé, não apenas recorda a harmonia primordial- na qual tudo o que foi criado era bom- mas proclama também o cumprimento definitivo do desígnio divino, quando cada realidade, transfigurada pela graça, retomará a sua unidade em Deus”. 

A mensagem de São Francisco corre o mundo em verso e canção, é repetida em assembleias e celebrações, e uma atualização importante foi realizada pelo Papa Francisco que se inspirou no santo de mesmo nome para debater o tema da ecologia integral. No Cântico, são as criaturas que emprestam suas vozes ao gênero humano. Essa é uma das grandes intuições de Francisco, retomada pelo Papa Francisco na Laudato Si’, quando aponta o Santo do Cântico como modelo de ecologia integral: “Acho que Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade [...]. Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo”(Laudato Si’, 10). 

Recitar o Cântico de São Francisco hoje é ter em conta os desafios do tempo presente. “Tempo em que as feridas da terra e o grito dos pobres se fazem ouvir com força, a voz de Francisco nos convida a redescobrir a beleza de sermos peregrinos e forasteiros neste mundo: custódios e não donos da criação, irmãos e irmãs de cada ser vivente. O seu canto nos impulsiona a tornar-nos artesãos da paz e do perdão, a viver a vulnerabilidade não como limite, mas como abertura ao outro, a integrar a morte no grande mistério da vida”. 

Este ano o centenário do Cântico das Criaturas é um convite para compreender melhor a espiritualidade franciscana e também o ensejo para uma preparação para os oito séculos da morte de São Francisco a ser celebrada no próximo ano.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/10/03/cantico-das-criaturas-oito-seculos-depois/

São Francisco de Assis

São Francisco de Assis (A12)
04 de outubro
São Francisco de Assis

Francisco Bernardone nasceu numa rica família na cidade de Assis em 1182. Alegre, jovial, simpático, era mais chegado às festas, ostentando um ar de príncipe que encantava. Mas, mesmo dado às frivolidades dos eventos sociais, manteve em toda a juventude profunda solidariedade com os pobres.

Francisco logo percebeu não ser aquela a vida que almejava. Chegou a lutar numa guerra, mas o coração o chamava à religião. Um dia, despojou-se de todos os bens, até das roupas que usava no momento, entregando-as ao pai revoltado. Passou a dedicar-se aos doentes e aos pobres. Tinha vinte e cinco anos e seu gesto marcou o cristianismo.

A partir daí viveu na mais completa miséria. Fundou em 1209 a Primeira Ordem dos frades franciscanos, fixando residência com seus jovens companheiros numa casa pobre e abandonada. Pregava a humildade total e absoluta e o amor aos pássaros e à natureza. Foi a imagem do Cristo no segundo século da igreja.

Hoje, seu exemplo muito frutificou. Fundador de diversas Ordens, seus seguidores ainda são respeitados e imitados. Franciscanos, capuchinhos, conventuais, terceiros e outros são sempre recebidos com carinho e afeto pelo povo de qualquer parte do mundo.

Morreu 4 de outubro de 1226, com quarenta e quatro anos.

De todos os santos da Igreja, Francisco é certamente um dos mais amados e conhecidos.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão:

A vida de São Francisco de Assis nos ensina o verdadeiro amor a Deus, ao próximo e à natureza. Ele entregou toda a vida por amor a Deus e aos outros. No mundo de hoje marcado pela indiferença e pelo individualismo, que a vida de São Francisco nos ajude a olhar os outros com amor, a criar sempre pontes para chegar ao coração e à vida de nossos irmãos, principalmente os mais necessitados.

Oração:

Senhor, Fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; Onde houver discórdia, que eu leve a união; Onde houver dúvida, que eu leve a fé; Onde houver erro, que eu leve a verdade; Onde houver desespero, que eu leve a esperança; Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; Onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

“Meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.” (Sl 121[120],2

Palavra de Vida - Outubro 2025 (Revista Cidade Nova)

“Meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.” (Sl 121[120],2) | Palavra de Vida Outubro 2025

por Organizado por Silvano Malini com a comissão da Palavra de Vida   publicado às 00:00 de 24/09/2025, modificado às 09:16 de 30/09/2025

Quem nunca, na vida, sentiu que não daria conta de certas situações?

Também o autor do Salmo 121 experimentou isso ao passar por circunstâncias difíceis, e perguntou a si mesmo de onde poderia vir a ajuda de que tanto precisava.

A resposta é a afirmação da sua fé em Deus, em quem confia. A convicção com a qual ele fala do Senhor sempre vigilante, que protege cada pessoa e todo o povo, expressa uma certeza que parece brotar de uma profunda experiência pessoal. 

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“Meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.”

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O que segue nesse salmo é, com efeito, o anúncio de um Deus poderoso e amoroso, que criou tudo o que existe e que cuida de tudo, dia e noite. O Senhor “não permitirá que teu pé vacile; não cochilará, aquele que te guarda1”, afirma o salmista, desejoso de convencer seu leitor. 

Cercado pelas dificuldades, o autor levantou os olhos2, buscou um sustento fora e além de seu âmbito mais imediato e encontrou uma resposta.

Ele experimentou que a ajuda vem Daquele que pensou cada criatura e lhe deu vida, que a sustenta continuamente, em cada momento, e que jamais a abandona3.

Ele acredita firmemente nesse Deus que vigia dia e noite sobre todo o povo: Deus é “aquele que guarda Israel4”. O salmista acredita nisso a tal ponto que não pode deixar de comunicá-lo aos outros.

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“Meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.”

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E os momentos de incerteza, angústia e suspensão – afirma Chiara Lubich – “Deus quer que acreditemos no seu amor e pede a nós um ato de confiança: […] Ele deseja que tiremos proveito dessas circunstâncias dolorosas para demonstrar-lhe que acreditamos no seu amor. Isso significa acreditar que Ele é nosso Pai e cuida de nós; significa, portanto, lançar nas mãos Dele todas as nossas preocupações, descarregá-las sobre Ele5”. 

Mas essa ajuda que vem de Deus, de que forma chega até cada um de nós?

A Sagrada Escritura narra muitos episódios em que isso se realiza por meio da ação de homens e de mulheres como Moisés, Elias, Eliseu ou Ester, chamados a serem instrumentos da solicitude divina para o povo ou para alguma pessoa em particular.

Também nós, se “levantarmos os olhos”, reconheceremos a ação de pessoas que, consciente ou inconscientemente, vêm em nosso auxílio. Seremos gratos a Deus do qual, em última análise, provém todo bem (pois Ele criou o coração de cada pessoa) e poderemos testemunhá-lo aos outros.

Claro que é difícil perceber isso se estivermos fechados em nós mesmos e, nos momentos difíceis, pensarmos no modo de superá-los apenas com as nossas próprias forças.

Mas, ao contrário, quando nos abrimos, olhamos ao nosso redor e levantamos os olhos, descobrimos também que nós mesmos podemos ser instrumentos de Deus que tudo provê para seus filhos. Percebemos as necessidades dos outros e podemos ser uma ajuda preciosa para eles.

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“Meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.”

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Roger, da Costa Rica, nos conta: “Um padre conhecido meu me avisou que alguém viria buscar um material de assistência médica que o grupo de solidariedade ao qual pertenço havia providenciado. Era para um de seus paroquianos. Enquanto eu esperava esse portador, vi passar na frente de casa uma vizinha que se encontrava numa situação muito difícil. Então eu resolvi dar a ela alguns mantimentos, junto com os últimos sete ovos que tínhamos em casa. Ela ficou surpresa porque de fato, naquele dia, ela, o marido e os filhos não tinham nada para comer. Lembrei-a do convite de Jesus: ‘Pedi e vos será dado’ (Mt 7,7), enfatizando que Ele está atento às nossas necessidades. Ela voltou para casa feliz, agradecendo a Deus.”

Mais tarde, chegou a pessoa mandada pelo padre. Ofereci-lhe um café. Ele era caminhoneiro. Durante a conversa, eu lhe perguntei o que estava transportando. ‘Ovos’, respondeu ele, e fez questão de me dar trinta e dois ovos”.

Organizado por Silvano Malini com a comissão da Palavra de Vida 

1) Sl 121 [120],3.

2) Cf. Id., versículo 1.

3) Cf. Id., v. 8.

4) Id., v. 4.

5) LUBICH, Chiara. Buscar as coisas do alto. São Paulo: Cidade Nova 1993, p. 23-24.

Fonte: https://www.cidadenova.org.br/editorial/inspira/4066-meu_socorro_vem_do_senhor_que_fez_o_ceu

Outubro Missionário: a esperança no centro do vídeo das POM

Campanha Missionária 2025 (POM)

"No nosso tempo, ainda vemos demasiada discórdia, demasiadas feridas causadas pelo ódio, a violência, os preconceitos, o medo do diferente, por um paradigma económico que explora os recursos da Terra e marginaliza os mais pobres. E nós queremos ser, dentro desta massa, um pequeno fermento de unidade, comunhão e fraternidade". (Leão XIV)

https://youtu.be/UWSR86lH8n4

Vatican News com Agência Fides

Com o início do mês de outubro, dedicado à missão, intensificam-se em todas as Direções Nacionais das Pontifícias Obras Missionárias (POM), as iniciativas de conscientização sobre a missio ad gentes, em preparação ao Dia Mundial das Missões, em 19 de outubro.

São propostas iniciativas de oração, incluindo novenas e terços, são organizadas em escolas e comunidades paroquiais atividades educativas e de aprendizagem, bem como iniciativas originais realizadas em praças e ruas. Acima de tudo, o objetivo é criar material para ser divulgado e distribuído por todos os canais possíveis.

Entre eles, o vídeo global, criado pelo sexto ano consecutivo pela Comissão Internacional para a Comunicação, Fé, Captação de Recursos e Transformação Digital das POM, representa uma ferramenta simples, porém valiosa, para "conectar" idealmente todas as 120 Direções das POM com uma única mensagem.

Desde a sua primeira edição, o vídeo tem se concentrado na mensagem do Papa para o Dia Mundial das Missões, ecoada pelas "vozes" de missionários, religiosos e religiosas, leigos, diretores e colaboradores das POM, que oferecem breves contribuições em seus próprios idiomas.

"Missionários da esperança entre os povos", o lema que o Papa Francisco escolheu para o Dia Mundial das Missões deste ano, é, portanto, o tema central deste vídeo, onde a esperança é protagonista nas imagens, nas palavras selecionadas e na escolha de começar com o alegre cântico zambiano de agradecimento a Deus, intitulado "Nakulakutotela".

No vídeo, ouvimos a voz do saudoso e amado Papa Francisco, exortando-nos a ser "não uma Igreja cega, mas uma Igreja iluminada por Cristo, que leva aos outros a luz do Evangelho. Não uma Igreja estática, mas uma Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas do mundo." (cf. homilia na Missa de encerramento da Assembleia Geral do Sínodo - 27 de outubro de 2024).

As imagens missionárias vindas de Zâmbia, Camboja, Índia, Timor-Leste e Mongólia se sucedem e se entrelaçam com as de missionários que tentam explicar o que significa levar esperança, criar esperança nos lugares e situações mais complexos.

Antes de ouvir as vozes da Irmã Alma, de Timor-Leste, dos diretores das Direções Nacionais das POM na Zâmbia, Colômbia, Filipinas e Fiji, do padre Matthew, do Malawi, de Thao, da Austrália, ou do Ir. Bahjat, da Síria, chegam as palavras e imagens do Papa Leão XIV, extraídas de seu primeiro discurso às Pontifícias Obras Missionárias, por ocasião da Assembleia Geral, em maio deste ano: "A própria Igreja, em todos os seus membros, é cada vez mais chamada a ser 'uma Igreja missionária que abre os braços ao mundo, que anuncia a Palavra... e que se torna fermento de concórdia para a humanidade'" (Homilia na Missa de Início do Pontificado, 18 de maio de 2025). O vídeo conclui com a exortação do Santo Padre Leão XIV a sermos missionários de esperança entre os povos, como preconiza o lema do Dia Mundial das Missões.

O vídeo está disponível em aproximadamente 20 idiomas e mais de 50 versões personalizadas, e pode ser assistido no canal das POM no YouTube.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

HISTÓRIA DOS JUBILEUS: Papas e Anos Santos do Século XX

Pio XI abre a Porta Santa de São Pedro em 24 de dezembro de 1924 | 30Giorni.

Arquivo 30Giorni nº 11 - 1999

Papas e Anos Santos do Século XX

No século XX, a Porta Santa foi aberta tanto para anos santos ordinários quanto para dois anos santos extraordinários: em 1933 com Pio XI e em 1983 com João Paulo II.

por Serena Ravaglioli

Enquanto no século XIX era possível celebrar apenas um Ano Santo completo, no século XX não só todos os jubileus ordinários foram proclamados de acordo com o ciclo tradicional de vinte e cinco anos, mas também houve dois jubileus extraordinários da Redenção, o primeiro em 1933 e o segundo em 1983. A prática dos jubileus extraordinários, proclamados para obter assistência divina especial em momentos difíceis ou delicados para a Igreja universal ou para as Igrejas locais, ou em ocasiões particularmente solenes, como o início de um pontificado, é antiga, remontando pelo menos ao século XVI. Igualmente remota é a origem dos jubileus extraordinários celebrados em alguns lugares, por exemplo, em Santiago de Compostela, nos anos em que o dia 25 de julho, festa do Apóstolo Santiago, cai num domingo. No entanto, em todos esses casos, esses jubileus são limitados no tempo e no espaço. Em vez disso, as duas Missas da Redenção, proclamadas respectivamente por Pio XI e João Paulo II para comemorar os 1900º e 1950º aniversários da Crucificação, tiveram valor universal, duraram um ano inteiro e foram acompanhadas pela abertura das Portas Santas. Em outras palavras, foram, para usar as próprias palavras de Pio XI, "extraordinárias entre as ordinárias".

O primeiro Ano Santo de Pio XI ocorreu em 1925. A Questão Romana aproximava-se da resolução e as atitudes mais intransigentes de ambos os lados haviam se atenuado. Desde o momento de sua eleição, o Papa deu um sinal claro desse novo espírito, aparentemente concedendo a bênção Urbi et Orbi da loggia externa de São Pedro, fechada desde 1870. 

Por outro lado, uma clara demonstração de boa vontade foi a transferência, para dentro do Coliseu, da cruz em memória dos mártires cristãos, que havia sido removida no início do século. Pio XI queria que os temas centrais do Jubileu fossem a construção da paz, a unidade entre os povos e o apostolado missionário. Um evento particularmente importante foi a realização de uma grandiosa exposição missionária no Vaticano, abrangendo 6.500 metros quadrados. A exposição foi inaugurada pelo próprio Papa, permaneceu aberta durante todo o ano e, ao seu término, foi transferida para o Palácio de Latrão, tornando-se um museu etnográfico e missionário permanente. Outro aspecto deste Jubileu de 1925 merece menção, pois estava destinado a perdurar e crescer nos Jubileus subsequentes: a facilidade com que, graças aos modernos meios de transporte, agora era possível chegar a Roma. 

Por um lado, isso significou uma redução no aspecto da penitência e do sacrifício individual, de modo que as peregrinações passaram a ser enfatizadas como uma homenagem coletiva ao papado; por outro, permitiu um crescimento exponencial no número de chegadas, necessitando de uma organização completamente diferente da anterior, e marcou o fim do antigo modelo de confrarias. Reuniões particularmente grandes foram realizadas por ocasião das canonizações: Pio XI criou nove novos santos, incluindo Teresa de Lisieux e o Cura d'Ars.

O progresso tecnológico também afetou a celebração dos Anos Santos de outras maneiras. Em 1933, a cerimônia de abertura da Porta Santa, realizada no Sábado Santo, foi transmitida por rádio: Marconi projetou e construiu especificamente a estação de Rádio Vaticano para transmissão em ondas curtas, a maior do mundo. Na noite do mesmo dia, Pio XI, usando um sinal de rádio de seu escritório, acendeu a iluminação da grande cruz erguida no Monte Senário, perto de Florença. A decisão do Pontífice de proclamar um Jubileu Extraordinário da Redenção foi acompanhada por uma série de eruditas disputas para estabelecer se aquele era o aniversário exato, isto é, se Cristo realmente havia morrido em 33. Mas o Papa interrompeu: "A incerteza da data não diminui em nada a certeza e a infinita grandeza dos benefícios que todos recebemos". O importante era aproveitar a oportunidade para exaltar "a Igreja, sociedade perfeita, suprema em sua ordem, que atualiza a soberania de Cristo no mundo". E, nesse sentido, o Jubileu foi ainda mais bem-sucedido do que o anterior. Também em 1933, realizaram-se as cerimônias mais concorridas para a proclamação de novos santos, em primeiro lugar João Bosco.

Um grande número de peregrinos — cerca de 3.500.000 — participou do Ano Santo de 1950, que marcou o auge do prestígio pessoal de Pio XII. Uma imensa multidão, que lotou a Praça de São Pedro e a Via della Conciliazione até o Tibre, esteve presente em 1º de novembro para o evento mais solene celebrado naquele ano: a proclamação do dogma da Assunção de Maria ao Céu. Ao proclamar o Ano Santo, o Papa havia enfatizado a importância do espírito de penitência que havia sido o fundamento dos jubileus anteriores: "As peregrinações não devem ser empreendidas com a mentalidade de quem viaja por prazer, mas com o espírito que animou os fiéis dos séculos passados, que, superando obstáculos de toda espécie, vieram a Roma para lavar seus pecados com lágrimas de dor." Em obediência a essa exortação, muitos peregrinos desejaram chegar a Roma a pé em 1950. Um veio até de Helsinque e outro de lugares tão distantes quanto Karachi.

Grandes números foram a marca registrada de 1975, o primeiro Ano Santo proclamado após a conclusão do Concílio. Foi uma clara refutação das teses daqueles que sustentavam que na Igreja pós-conciliar não havia mais espaço para tais demonstrações de piedade "medieval". As duas audiências públicas que Paulo VI realizava na Basílica de São Pedro e no Salão Nervi todas as quartas-feiras eram tão concorridas que logo foi necessário aumentá-las para três e até quatro, até que se decidiu realizá-las regularmente na praça: uma média de quarenta mil pessoas compareceu, atingindo um pico de cento e vinte mil em setembro.

Finalmente, o último Jubileu do século XX, o Segundo Jubileu da Redenção, proclamado com a bula papal Aperite portas Redemptori, foi inaugurado em 25 de março de 1983. João Paulo II falou das fortes motivações que o levaram a esta proclamação: por um lado, o desejo de sublinhar a centralidade do mistério da Redenção como força motriz da fé e, por outro, o desejo de abrir solenemente o caminho da Igreja rumo ao Grande Jubileu do Ano 2000.

O Ano Jubilar foi estendido a todas as dioceses do mundo e, enquanto a Porta Santa foi aberta em São Pedro, um rito especial de penitência e oração foi celebrado em todas as catedrais do mundo, simbolizando, nas próprias palavras do Papa, o fato de que em todos os lugares "de uma vez por todas a porta do túmulo de Cristo foi aberta. Aquele que é a Ressurreição e a Vida não aceita a lápide e não conhece portas fechadas". Por fim, uma nota curiosa: a Porta Santa de Santa Maria Maggiore foi aberta naquele Ano Santo, como no anterior, pelo Cardeal Confalonieri, o nonagenário decano do Sacro Colégio, que se gabava de ter participado dos cinco jubileus anteriores; na época do Jubileu de 1933, ele era secretário de Pio XI.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Leão XIV: os idosos são uma bênção, não devem ser descartados

Leão XIV: os idosos são uma bênção, não devem ser descartados (Vatican Media)

O Papa recebeu nesta sexta-feira, 3/10, no Vaticano, os participantes do II Congresso Internacional de Pastoral dos Idosos. O Pontífice afirmou que a velhice é parte da maravilha da vida, pediu que ninguém seja deixado sozinho e destacou o protagonismo dos anciãos na missão da Igreja.

Thulio Fonseca - Vatican News

Na manhã desta sexta-feira, 3 de outubro, o Papa Leão XIV recebeu cerca de 150 participantes do II Congresso Internacional de Pastoral dos Idosos, promovido pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. O encontro, que tem como tema “Vossos anciãos terão sonhos!” (Jl 3,1), conta com a presença de delegados provenientes de 65 países, em representação de 55 Conferências Episcopais, além de membros de associações e congregações religiosas empenhadas na pastoral dos idosos. Em seu discurso, o Santo Padre destacou a importância de superar visões negativas sobre o envelhecimento e afirmou que a presença dos idosos na sociedade e na Igreja é um sinal de esperança:

“Os idosos são um dom, uma bênção a ser acolhida, e o prolongamento da vida é um fato positivo, um dos sinais de esperança do nosso tempo.”

Aliança entre gerações

Comentando a profecia de Joel, Leão XIV recordou as palavras do Papa Francisco sobre a necessidade de uma aliança entre jovens e idosos, inspirada pelos sonhos de quem já percorreu longa estrada e pelas visões de quem inicia sua vida: “O Espírito Santo cria unidade entre as gerações e distribui a cada um dons diversos”, afirmou. O Papa também advertiu contra a mentalidade contemporânea que mede o valor da existência pelo poder, sucesso ou riqueza:

“É salutar perceber que o envelhecimento faz parte da maravilha que somos. Essa fragilidade, se tivermos a coragem de reconhecê-la, de abraçá-la e de cuidar dela, é uma ponte para o céu. Os idosos nos ensinam que a salvação não está na autonomia, mas em reconhecer com humildade a própria necessidade e em saber expressá-la livremente, de modo que a medida da nossa humanidade não é dada pelo que podemos conquistar, mas pela capacidade de nos deixarmos amar e, quando necessário, também ajudar.”

Papa Leão com os participantes do evento   (@Vatican Media)

“Que ninguém seja abandonado!”

O Pontífice denunciou a solidão como uma das grandes inimigas da vida dos idosos e exortou:

“Onde os idosos estão sozinhos e descartados, isso significará levar-lhes o alegre anúncio da ternura do Senhor, para vencer, junto com eles, as trevas da solidão, grande inimiga da vida dos idosos. Que ninguém seja abandonado! Que ninguém se sinta inútil! Até mesmo uma simples oração, recitada com fé em casa, contribui para o bem do Povo de Deus e nos une na comunhão espiritual. Esta tarefa missionária interpela todos nós, nossas paróquias e, de modo particular, os jovens, que podem tornar-se testemunhas de proximidade e de escuta recíproca com aqueles que estão mais adiantados na vida.”

O protagonismo dos “jovens idosos”

O Santo Padre, referindo-se aos chamados “jovens idosos”, aqueles que, após a aposentadoria, vivem um tempo de saúde, liberdade e disponibilidade, disse que “é importante envolvê-los não como destinatários passivos, mas como sujeitos ativos da evangelização”. Segundo Leão XIV, são eles, muitas vezes, que sustentam a vida das paróquias com sua presença na liturgia, no catecismo e nos diversos serviços pastorais.

O Santo Padre durante seu discurso   (@Vatican Media)

Anunciar o Evangelho em todas as idades

Por fim, o Papa Leão recordou que a pastoral dos idosos deve ser sempre evangelizadora e missionária, pois a Igreja é chamada a anunciar Cristo em todas as idades e circunstâncias:

“Tenhamos sempre presente que anunciar o Evangelho é o compromisso principal da nossa pastoral: envolvendo as pessoas idosas nesta dinâmica missionária, elas também serão testemunhas de esperança, especialmente com sua sabedoria, devoção e experiência.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF