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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

TEOLOGIA: Introdução à História da Teologia Ortodoxa (Parte 2/3)

Igreja Ortodoxa (FASBAM)

TEOLOGIA

Introdução à História da Teologia Ortodoxa

Capítulo 10 da Obra «Os Grandes Teólogos do Século Vinte» - Vol. 2 - Os Teólogos protestantes e ortodoxos.

Battista MONDIN

Teólogo católico

Os estudiosos não estão de acordo sobre a divisão da história da teologia ortodoxa. Segundo Jugie, não existem na teologia oriental escolas teológicas e sistemas que possam oferecer um “fundamentum divisionis”[1]. Segundo outros estudiosos, ao contrário, há razões de tempo, lugar e outros gêneros que justificam sua divisão em dois ou mais períodos. Também somos dessa opinião, parecendo-nos justo dividir toda a história bimilenar da teologia oriental em sete grandes períodos.

IV. O período de Gregório Palamas (séculos XIV-XV)

Por volta do fim da Idade Média, a teologia ortodoxa é dominada pela figura de Gregório Palamàs (+ 1359). Escritor muito fecundo e original, Palamàs efetuou uma síntese do pensamento patrístico na teologia da Glória de Deus. Suas teses mais características são três:

a) O homem não pode conhecer a essência de Deus transcendente;

b) Pode, porém, conhecer suas ações, suas operações, seus atributos;

c) Portanto, em Deus deve haver uma distinção real entre essência incognoscível e atributos cognoscíveis.

Em 1351, a doutrina palamita foi canonizada pelo Sínodo de Constantinopla como a expressão mais autêntica da fé ortodoxa.

Gregório Palamàs teve numerosos discípulos, entre os quais Nilo Cabasilas (+ 1363), sucessor de seu mestre na cadeira de Tessalônica e autor, entre outras coisas, de Regula Theologica, De Causis Dissentionum in Ecclesia e De Papae Imperio, e Filóteo Coccinus (+ 1376), primeiro abade do monte Athos e mais tarde patriarca de Constantinopla, autor de um Encomium sobre Gregório Palamàs.

Mas, Palamàs também teve muitos adversários. Os mais dignos de nota são: Nicéforo Gregoras (+ 1360), que escreveu Onze Orações contra Gregório Palamas, e Prócoro Cydones (+ 1368), cujo nome está ligado sobretudo às traduções em grego de santo Agostinho e são Tomás. Do Aquinense, ele traduziu parte da Summa Theologiae e toda a Summa Contra Gentes.

Durante esse período, nasceu a controvérsia em torno da Epíclese (a oração que se dirige ao Pai depois da consagração, para que ele mande o Espírito Santo para transformar os dons divinos do pão e do vinho no corpo e no sangue do Salvador). A historiografia recente pôde estabelecer que a fórmula “ea transmutans” foi introduzida na liturgia ortodoxa somente no século XV. De qualquer modo, a Epíclese torna-se um novo motivo de discórdia com os latinos. Com efeito, enquanto estes afirmavam que a consagração ocorre no momento em que se repete as palavras de Cristo “este é o meu corpo” e “este é o meu sangue”, os ortodoxos sustentavam que, além dessas palavras, é preciso também a Epíclese, ou então que a Epíclese basta por si só.

V. A Teologia da Diáspora (séculos XVI-XVII)

Em 1453, quando os turcos ocuparam Constantinopla, a teologia ortodoxa recebeu um golpe mortal: as escolas teológicas fechadas, muitas bibliotecas foram destruídas, muitos teólogos exilados.

Foi então que se constituiu a teologia ortodoxa da Diáspora. Essa teologia é marcada pelos sinais do ambiente em que se desenvolve: denota influência do catolicismo quando se desenvolve em países católicos e mostra influência do protestantismo quando se desenvolve em países protestantes.

No início, obviamente, é mais forte a influência católica (dado que os protestantes nasceriam somente no século XVI), mas depois a influência protestante também adquire um considerável peso.

Dentre os teólogos influenciados pelo catolicismo, podemos recordar Melésio Figas, um cretense que realizou seus estudos na Universidade de Pavia. Em 1590, foi nomeado patriarca de Alexandria. A formação católica não o impediu de protestar energicamente quando, em 1595, os ucranianos subscreveram a reunião com Roma. Então, escreveu um ensaio intitulado Sobre o Primado do Papa, em que conclamava os ucranianos a desfazerem o acordo com Roma. Em seu escrito, Figas repete sem grande originalidade os argumentos tradicionais dos ortodoxos contra o primado romano e contra os pretensos erros dos latinos.

Seguindo o exemplo de Figas, um outro teólogo, Máximo de Peloponeso, elaborou um Enchiridion Contra o Cisma dos Papistas.

Entre os teólogos mais sensíveis à influência protestante, podemos recordar Cirilo Lucaris (+ 1638), fervoroso promotor do calvinismo na Grécia. Em 1629, publicou em Genebra o seu Orientalis Ecclesiae Confessionem Christianae Fidei, uma obra profundamente impregnada de calvinismo. O Sínodo de Constantinopla de 1638 condenou as suas doutrinas.

Os desvios “catolicizantes” e “protestantizantes” não tardaram em provocar a reação de diversos teólogos, que, preocupados em salvaguardar a integridade da fé ortodoxa, marcaram seus escritos por uma forma fortemente polêmica.

Entre os polemistas ortodoxos, podemos ressaltar Melésio Syrigos (+ 1667), cuja maior obra é intitulada Confutação Ortodoxa dos Capítulos e das Questões da Confissão de Cirilo Lukaris, e Dositeu, patriarca de Jerusalém (+ 1707), autor do Enchiridion Contra os Erros de Calvino.

VI. A Escola de Kiev (séculos XVII-XVIII)

Enquanto a teologia da Diáspora se apagava lenta e fatalmente, o primeiro lugar no mundo da cultura ortodoxa passava para a Rússia, único país da Ortodoxia que conseguira furtar-se ao domínio turco. No século XVII, a Rússia torna-se o centro de gravidade da ortodoxia, sobretudo graças à escola de Kiev.

Esta fora fundada por Pedro Moghila (+ 1647), que a estruturara pelo modelo das universidades dos jesuítas: língua latina e método escolástico. O seu texto oficial, A Confissão Ortodoxa da Fé, era calcado no esquema do catecismo de Pedro Canísio. E mesmo na liturgia frequentemente eram imitadas as práticas católicas[7].

A obra-prima de Moghila, A Confissão Ortodoxa da Fé, muito embora refletisse uma clara romanização da ortodoxia, gozou de elevadíssimo prestígio durante uns dois séculos. Sobre ela o patriarca de Moscou, Adriano (+ 1700), escreveu:

“O reverendíssimo metropolita Pedro, dito Moghila, homem de grande inteligência e vasta erudição, elaborou esse livro inspirado por Deus… Tudo aquilo que corresponde ao juízo desse livro é indubitavelmente ortodoxo. Já aquilo que não concorda com ele, mas está em conflito, não faz parte da doutrina da nossa Igreja e, portanto, não merece ser escutado”[8].

Durante todo o século XVIII, A Confissão foi classificada entre os Livros Simbólicos da Igreja Ortodoxa, sendo-lhe atribuída a mesma autoridade dos decretos dos primeiros concílios.

A escola de Kiev produziu numerosos teólogos, entre os quais Lasar Baranovich (+ 1693) e Antônio Radivilovski (+ 1688).

Notas:

[1] M. JUGIE, Theologia Dogmatica Christianorum Orientalium ab Ecclesia Cathotica Dissidentium, Paris, 1926-1935, v. 11, p. 18, nota.

[7] G. Florovsky julgou muito severamente a orientação da escola de Kiev, acusando-a de “compromisso”, de “cripto-catolicismo romano”, de “barroquismo teológico”. Cf. FLOROVSKY, “Westliche Einflüsse in der Russischen Theologie” em Proces-Vetbaux du ler Congres de Théologie Orthodoxe à Athenes, 29 nov.-6 dez. 1936, Atenas, 1939, pp. 214-215; Puti Russkovo Bogoslovi; a (em russo), Paris, 1937, pp. 4ss.

[8] Citação de J. CHRYSOSTOMUS, “Die Tbeologie der Russisch-orthodoxen Kirche em Vorabend der Revolution von 1917” em Una Sanefa, 1968, p. 100.

Fonte: https://byblos.ecclesia.org.br/teologia/

Tutela dos Menores: segundo relatório propõe medidas corretivas contra abusos

O logotipo do Relatório Anual sobre Políticas de Tutela na Igreja Católica (Vatican News)

O documento publicado pela Pontifícia Comissão apresenta um manual com recomendações para uma "escuta informada" e para o apoio econômico, psicológico e espiritual às vítimas. Destaca a necessidade de uma comunicação mais transparente, de uma assunção pública de responsabilidade por parte da Igreja e de uma simplificação dos mecanismos de denúncia.

Edoardo Giribaldi – Vatican News

Um manual operacional, elaborado a partir da escuta de quem sofreu abusos. Estas diretrizes visam auxiliar as comunidades eclesiásticas na implementação de "medidas restaurativas", acompanhando passo a passo o processo de denúncia e buscando sua simplificação geral. Entre as recomendações: "escuta informada" inicial, acesso a informações sobre o caso e apoio financeiro, psicológico e espiritual. Tudo isso coadjuvado por declarações oficiais transparentes que "reconhecem o dano causado" e assumem publicamente a responsabilidade. Uma "peregrinação perpétua", como definiu dom Thibault Verny — presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, nomeado pelo Papa Leão XIV em julho passado — a missão que se concretiza no II Relatório Anual sobre Políticas de Tutela na Igreja Católica, publicado nesta quinta-feira, 16 de outubro.

Escuta direta das vítimas e organizações não eclesiais

Assim como o I Relatório Anual, o estudo também foi elaborado em consulta com o Grupo de Escuta de Vítimas/Sobreviventes do Relatório Anual (Annual Report Focus Group) da Comissão. Elaborado de forma voluntária, o estudo foi selecionado com base em critérios de diversidade em termos de idade, gênero e origem étnica, abrangendo quatro regiões globais. Esses dados são complementados por pesquisas coletadas por organizações não eclesiais. As questões críticas identificadas incluem a "necessidade de uma Igreja mais atenta" e a "falta de estruturas claras para denúncia e assinalação".

Medidas reparadoras

A primeira parte do Relatório concentra-se em medidas reparadoras para vítimas de abuso, baseadas na "escuta informada" e proporcionais aos danos sofridos. O manual para comunidades locais apela principalmente à criação de "espaços seguros" onde vítimas/sobreviventes possam partilhar as suas experiências, inclusive diretamente com autoridades eclesiásticas. Explora o conceito de "reparação", que a Encíclica Dilexit nos destaca não apenas como "um dever individual, mas como uma responsabilidade partilhada por toda a comunidade — com exceção das vítimas/sobreviventes —, com o objetivo de promover um ambiente de cuidado e respeito mútuo". A Igreja é então chamada a emitir declarações oficiais "reconhecendo o dano causado" e assumindo publicamente a sua responsabilidade.

Apoio completo

Depois, o tema do apoio — articulado em diversas áreas — com o objetivo de fornecer aconselhamento profissional e apoio espiritual às vítimas/sobreviventes, "com atenção especial ao longo prazo". Isso acresce uma ajuda financeira adequada para as despesas incorridas em decorrência dos abusos, incluindo assistência médica e psicológica. O manual também prevê o fortalecimento da tutela das vítimas por meio da imposição de sanções significativas contra quem cometeu ou facilitou o abuso. As vítimas "não devem ser deixadas na incerteza quanto à assunção de responsabilidade dos autores dos abusos e daqueles que os facilitaram ou encobriram ".

Transparência e conscientização

O Relatório enfatiza a necessidade "fundamental" de acesso à informação sobre o caso, um elemento essencial no percurso de cura, e apela à implementação de programas de conscientização destinados ao clero, aos religiosos e aos fiéis leigos, a fim de promover "um processo de cura coletiva".

Procedimentos simplificados e comunicação clara

Entre outras conclusões significativas, a Comissão reitera a importância de desenvolver um "procedimento simplificado" para a remoção de líderes eclesiásticos envolvidos em "ações administrativas passadas e/ou omissões que tenham causado mais danos às vítimas/sobreviventes". Recomenda também uma "comunicação clara" dos motivos das demissões ou remoções e uma avaliação eficaz dos progressos alcançados pelas Igrejas locais e ordens religiosas na implementação concreta de políticas de proteção. Para tal fim, propõe-se a criação de uma "rede acadêmica internacional" que envolva centros universitários católicos especializados em direitos humanos, prevenção de abusos e tutela, para coletar dados relevantes nos países objeto do Relatório.

Apoiar o "ministério da proteção"

Recomenda-se também a criação de um "mecanismo sistemático e obrigatório de denúncia/reclamação", que possa ser utilizado por diversos órgãos de proteção em nível local. A comunidade eclesial, observa o Relatório, tem a capacidade de "promover maior transparência e exercício de responsabilidade institucional", em linha com o pedido do Papa Francisco de fornecer "relatórios confiáveis ​​sobre o que está acontecendo e o que ainda precisa mudar, para que as autoridades competentes possam agir". Por fim, reafirma-se o papel fundamental dos núncios apostólicos nas Igrejas locais, que prestam apoio e orientação no "ministério da proteção".

As Igrejas locais examinadas

Na Seção 1, o Relatório examina as atividades de tutela das Igrejas locais em vários países, incluindo Itália, Gabão, Japão, Guiné Equatorial, Etiópia, Guiné (Conacri), Bósnia e Herzegovina, Portugal, Eslováquia, Malta, Coreia, Moçambique, Lesoto, Namíbia, Mali, Quênia, Grécia e a Conferência Episcopal Regional do Norte da África (que inclui Argélia, Marrocos, Saara Ocidental, Líbia e Tunísia). Os dados baseiam-se na análise de informações coletadas por meio do processo ad limina da Comissão e complementadas por outras fontes.

O caso italiano

Na Itália, foram visitadas as dioceses de Lácio, Ligúria, Lombardia, Sardenha, Sicília, Emília-Romanha e Toscana. Ao longo dos anos, afirma o Relatório, houve progressos significativos no desenvolvimento de "instrumentos e políticas abrangentes" para prevenção e proteção. A Comissão reconhece o trabalho realizado pela Conferência Episcopal Italiana (CEI) na criação de um sistema multinível (nacional, regional, diocesano e interdiocesano) de "coordenação, formação e supervisão", com o objetivo de apoiar as igrejas locais com pessoal profissional e adequadamente formado A Conferência relata a existência de 16 serviços regionais de proteção, 226 serviços diocesanos e interdiocesanos e 108 centros de escuta. Estes oferecem um serviço pastoral para acolher e receber denúncias. No entanto, alguns desafios permanecem: a Comissão observa que, embora algumas Igrejas locais tenham empreendido iniciativas pioneiras e colaborado com a sociedade civil, ainda existem "disparidades entre diferentes regiões" e a falta de um escritório centralizado para receber e analisar as assinalações, o que é necessário para garantir uma gestão uniforme e eficaz dos casos.

Igrejas continentais e práticas exemplares

No âmbito global, o documento observa que, embora algumas Igrejas nas Américas, Europa e Oceania mostrem um forte compromisso com as reparações, há uma "confiança excessiva" na compensação econômica, o que corre o risco de limitar uma "compreensão integral" do processo de cura. Além disso, muitas áreas da América Central e Latina, África e Ásia ainda carecem de recursos adequados para apoiar vítimas/sobreviventes. No entanto, práticas exemplares são destacadas, como: a prática tradicional de cura comunitária Hu Louifi, em Tonga; o relatório anual sobre serviços de apoio a vítimas nos Estados Unidos; os processos de revisão de diretrizes em andamento no Quênia, Maláui e Gana; e o projeto de busca da verdade "A coragem de olhar", na Diocese de Bolzano-Bressanone.

Cúria Romana e colaboração interdicasterial

A terceira seção do documento explora as responsabilidades da Cúria Romana em matéria de proteção, promovendo uma abordagem interdicasterial. O Relatório analisa especificamente a contribuição do Dicastério para a Evangelização – Seção para a Primeira Evangelização e Novas Igrejas Particulares, que apoia as comunidades eclesiásticas locais em diversos territórios, supervisionando não apenas a administração geral, mas também as iniciativas de proteção. Esta Seção auxilia aproximadamente 1.200 circunscrições eclesiásticas e participou ativamente da elaboração do Relatório.

Ministérios sociais e tutela

A Seção 4 do documento analisa as diversas dimensões da Igreja na sociedade, destacando as iniciativas que promovem os direitos de menores e adultos vulneráveis. A edição deste ano apresenta uma metodologia piloto aplicada à associação laical Obra de Maria – Movimento dos Focolares. A Comissão acolhe com satisfação as reformas recentemente adotadas pelo Movimento, como a criação de uma Comissão central independente para a gestão de casos de abuso; uma política de informação sobre abuso sexual; e diretrizes para apoio e reparação financeira às vítimas.

A Iniciativa Memorare

A seção final do documento concentra-se nos progressos da Iniciativa Memorare: instituída pela Comissão em 2022, a iniciativa arrecadou fundos provenientes das conferências episcopais, ordens religiosas e fundações filantrópicas para apoiar Igrejas com menos recursos no Sul Global. Atualmente, existem 20 acordos em vigor para apoiar as Iniciativas Memorare locais em todo o mundo, e uma dúzia está em negociação. Entre as entidades envolvidas estão: Ruanda, Venezuela, Arquidiocese da Cidade do México (México), AMECEA – Associação dos Membros das Conferências Episcopais da África Oriental, Província Eclesiástica de Chubut (Argentina), Honduras, Uruguai, Haiti, Província Eclesiástica de Mombasa (Quênia), Província Eclesiástica de San Luis Potosí (México), Tonga, República Centro-Africana, Maláui, Província Eclesiástica do Paraná (Argentina), Paraguai, IMBISA – Encontro Inter-regional dos Bispos da África Austral, Panamá, Província Eclesiástica de Santa Fé (Argentina), Costa Rica e Zimbábue.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A comunhão dos santos: mais unidos que nunca

Foto: Miltiadis Fragkidis, disponível em Unsplash

A comunhão dos santos: mais unidos que nunca

Trabalhar por dentro, acompanhar e velar pelas pessoas que amamos, que talvez estejam longe, mas muito perto de nosso coração cristão. E por todos. É um maravilhoso programa de vida espiritual para estes dias duros de confinamento e quarentena.

10/04/2020

“Não vos deixarei órfãos” (Jo 14, 18). São palavras carinhosas de Jesus a seus apóstolos – seus amigos, como gosta de chamá-los – em sua despedida terrena antes de dirigir-se a sua paixão. Não quer que se sintam sós nos momentos difíceis que vão chegar. É lógico que fiqueis tristes – parece dizer – quando presenciardes minha paixão e morte na cruz; será, porém, uma tristeza passageira. Logo “voltarei a ver-vos e vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará vossa alegria” (Jo 15, 11).

A melhor companhia

Nada, ninguém tira a alegria de um coração cristão que se sabe sempre acompanhado pelo maior amor que se pode imaginar. O amor infinito e incondicional de um Deus que me criou, redimiu e perdoou tantas vezes. Um Deus que, por amor, fez-se um de nós para ficar o mais perto possível, compartilhar a nossa história e morrer por pecados que ele não cometeu. Um amor que não conhece limites, mais forte do que a morte. Deus – Jesus Cristo, sempre vivo – está continuamente ao nosso lado. Ele o prometeu explicitamente: “Estarei convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28, 20).

Nesta situação peculiar, difícil – com tons dramáticos – que estamos vivendo com a expansão da pandemia da Covid-19, as verdades de nossa fé – como esta da contínua presença amorosa de Deus a nosso lado – enchem-nos de consolo e esperança.

Não estamos nunca sozinhos, Jesus Cristo vivo está ao nosso lado e nos acompanha sempre. É uma presença real, não imaginária. Uma presença poderosa, íntima, próxima. A presença de Jesus Cristo que, unido ao Pai no Espírito, se torna mais íntimo a nós do que a nossa própria intimidade: intimior intimo meo, dizia Santo Agostinho com a paixão da própria experiência.

Estes dias constituem uma ocasião preciosa para olhar para dentro, orar, descobrir – ou revitalizar – essa presença de Deus em nossas vidas. Junto ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, Três Pessoas muito próximas, que me chamam por dentro e por fora; que me procuram, que abrem em nossa intimidade – quando sabemos ouvir e aceitar livremente o dom – um diálogo apaixonante, cheio de luz e de consolo. Um diálogo que ressoa, às vezes de modo inefável, no mais profundo do nosso espírito.

Fomos criados para essa companhia. Deus é a melhor companhia: a que nos preenche de verdade, a que dá um sentido novo, pelo amor, a todas as situações, também a essas da dor e da morte que se apresentam com sua aparente falta de sentido dilacerante.

“Se conhecesses o dom de Deus” (Jo 4, 10), dizia Jesus à samaritana, convidando-a assim a não deixar de procurar. Se nestes dias de encerramento forçoso descobríssemos um pouco mais o dom de Deus... O convite ressoa sempre em nossas vidas, chamando-nos – mais ainda quando a dificuldade recrudesce – a procurar sem desfalecer. Como nos negará Deus seu dom se nos sentimos necessitados e o pedimos e o procuramos...

A comunhão dos santos

Deus nos acompanha sempre também através dos outros. Uma proximidade que vai além da presença física, para penetrar nos mistérios da nossa união com Deus. O amor nos une. Como entendemos bem isso quando não podemos estar fisicamente junto das pessoas que amamos. O amor supera os limites de espaço e tempo para unir as pessoas que estão longe e que se amam de verdade no Amor que tudo une, que tem um rosto de Pessoa do qual todos os outros rostos participam. Trata-se de uma das verdades de nossa fé que confessamos tantas vezes no Credo: “creio na comunhão dos santos”.

A comunhão dos santos é uma realidade maravilhosa – de certa forma é a própria Igreja – pela qual todos os crentes formam um só corpo com Cristo, que é a cabeça. A vida de Cristo no Espírito Santo se estende a todos nós que estamos unidos a Ele e unidos entre nós como membros do seu próprio corpo, explica o Catecismo da Igreja Católica (cfr. n. 947).

Lemos assim também que a expressão “comunhão dos santos” tem dois significados estreitamente relacionados: “comunhão nas coisas santas” e “comunhão entre as pessoas santas” (n. 948).

Os bens espirituais constituem um “fundo comum” que há na Igreja, dons universais e ilimitados porque vêm de Deus em Cristo. Cristo é a fonte inesgotável da qual procedem esses bens: a fé comum, a graça dos sacramentos e os dons, carismas e bens materiais que são distribuídos entre os membros do próprio corpo de Cristo ( cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 949-952).

O fruto dos sacramentos pertence a todos. A vida e a graça que qualquer membro do corpo recebe, repercute no corpo inteiro. Algo de bom que acontece a um é algo de bom que acontece a todos os outros.

Quanto pode nos ajudar esta verdade de nossa fé a sentir-nos unidos a todos, especialmente em situações difíceis. Minha oração é um bem para todos os meus irmãos na fé, para todos aqueles que amo, ainda que estejam longe fisicamente, inclusive ainda que não os conheça. Tudo o que une a Cristo, tudo o que vem dele, é compartilhado por todos, ajuda-nos a todos. Os sacramentos, que nestes momentos em muitos lugares estão limitados, estão atuando em todos. Ainda que só se celebrasse uma eucaristia no planeta, vivemos todos dela, porque nela se torna atual a fonte infinita da redenção: a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Meu amor a Deus com uma oração serena e confiada, minhas devoções a Santa Maria, a São José, aos santos; meu trabalho, meus deveres cotidianos realizados com amor, minhas contrariedades suportadas com paciência... tudo é um bem para toda a Igreja: para os meus familiares, amigos, seres queridos...; também para aqueles que passam necessidades, talvez desconhecidos, mas nunca ignorados; para os defuntos; para todos! Os doentes, moribundos, afetados pela situação, também estão recebendo a vida de Deus através da minha união com Deus: minha oração, minha penitência, meu trabalho, meu serviço em casa, meus detalhes cotidianos de amor, etc.

O amor que me leva a procurar ter espírito de serviço, a dar um consolo, a atender materialmente, é o mesmo amor que, com sentido sobrenatural, me leva a rezar e oferecer pequenos sacrifícios por pessoas talvez longe fisicamente, mas muito próximas no coração de Cristo. Trata-se de uma ajuda real e de um amor e de um carinho efetivo.

Mais juntos que nunca

“Nenhum de nós vive para si mesmo; como tampouco ninguém morre para si mesmo” (Rm 14, 7). “Se um membro sofre, todos os outros sofrem com ele” (1 Co 12, 26-27). O Catecismo afirma: “O menor de nossos atos realizado com caridade repercute em benefício de todos, nesta solidariedade em benefício de todos, vivos ou mortos, que se fundamenta na comunhão dos santos” (n. 953).

Todos estamos juntos pela participação na mesma vida de Cristo. Todos nos ajudamos, todos nos acompanhamos. Todos juntos: com os santos do céu aos quais recorremos como intercessores; com os defuntos que já nos deixaram e que ainda se purificam (pelos quais rezamos). Todos juntos, unidos a Cristo, nós que peregrinamos aqui na terra, às vezes em meio de dificuldades e sofrimentos. Todos juntos!

Com esta realidade de fundo de nossa fé, como nos sentimos acompanhados, com que força havemos de atuar, com que segurança e confiança. Sempre foi tradição na Igreja recorrer à intercessão dos santos aos quais temos devoção. E com a força da sua companhia e da nossa união com Deus, estar atentos uns aos outros, ajudando-nos por esta comunhão dos santos.

São Josemaría, em circunstâncias duríssimas de guerra e perseguição, teve que viver um isolamento forçoso – verdadeiro amontoamento – com alguns de seus filhos espirituais. Foi entre os meses de abril e agosto de 1937, em um minúsculo espaço da legação de Honduras em Madri, durante a guerra civil na Espanha. Conservam-se alguns textos de sua pregação durante aqueles dias.

Cheio de preocupação e dor por tantas pessoas queridas, fisicamente longe e espalhadas pelo território espanhol, sem poder ter contato algum com elas; e, ao mesmo tempo, cheio de serenidade e sentido sobrenatural e confiança em Deus, dizia: “Pela comunhão dos santos, nunca podemos sentir-nos sozinhos, pois nos chega constantemente alento espiritual... A consideração desta realidade nos impulsiona a um detido exame de nossa conduta neste lugar, que é como que uma prisão para nós. Porque aqui, nesta aparente inatividade, contamos com a possibilidade de trabalhar muito por dentro e acompanhar cada um de vossos irmãos em perigo, e velar por eles” (Notas da meditação de 8/04/1937).

Trabalhar por dentro, rezar, acompanhar e velar pelas pessoas que amamos, que estão longe talvez, mas muito perto do nosso coração cristão. E por todos. É um esplêndido programa de vida espiritual para estes dias duros de confinamento e quarentena. Não temos outro remédio senão diminuir as nossas atividades, mas... não diminuímos o nosso amor! Não cessamos de enviar, através desta comunhão de vida e de amor na Igreja, nossa ajuda a todos, a toda a humanidade. Manifestamos a nossa proximidade através dos meios a nosso alcance. Não diminuímos, pelo contrário, ampliamos a nossa oração diária por todos, verdadeira ajuda espiritual para os outros. E nos sentimos mais acompanhados e amados do que nunca.

Se os santos nos acompanham e nos ajudam do céu – dizia São Josemaría naquela mesma ocasião – com quanta mais razão se ocupará de nós nossa Mãe Imaculada. Que confiança nos dá a sua intercessão! E recorremos também a São José, que Deus pôs à frente de sua família na terra, para que cuide de nós e nos ensine a cuidar de todos com generosidade, vivendo esta companhia e união de todos no amor de Deus.

José Manuel Fidalgo Alaiz

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/a-comunhao-dos-santos-mais-unidos-que-nunca/

Livro inédito de Leão XIV chega às bancas em 2026

Robert Preecost em visita à Nigéria em 2016 (Vatican News)

O título é “Livres sob a graça. Escritos e meditações 2001-2013”, do autor é Robert Francis Prevost. Pela primeira vez serão reunidos em um volume os discursos do Papa Leão XIV escritos durante o período em que foi prior geral da Ordem Agostiniana. A obra será publicada em língua italiana pela Livraria Editora Vaticana (LEV) na primavera de 2026. A notícia foi dada no dia de abertura da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha.

Vatican News

Um livro em que o autor é indicado tanto como Robert Francis Prevost, ordo sancti augustini ou membro da Ordem de Santo Agostinho, quanto como Papa Leão XIV; uma ferramenta útil para conhecer mais de perto a sua espiritualidade, graças às páginas inéditas que reúnem reflexões, meditações, homilias e intervenções feitas durante encontros públicos, textos que têm em comum a espiritualidade agostiniana própria do futuro Pontífice.

Temas desenvolvidos ao longo dos anos

“Este livro, que reúne muitas das comunicações do então prior Prevost, oferece uma visão geral de alguns dos temas importantes desenvolvidos ao longo dos anos”, explica o Pe. Joseph Lawrence Farrell, prior-geral dos agostinianos desde 9 de setembro. O Papa Leão XIV também participou do Capítulo Geral durante o qual foi eleito, presidindo a missa de abertura na Basílica de Santo Agostinho e convidando os confrades a viver os dias capitulares sob o signo da escuta recíproca, para que o Espírito Santo fosse o verdadeiro protagonista do discernimento comunitário que eles eram chamados a exercer.

Feira de Frankfurt, na Alemanha

O Papa Leão XIV voltou então no dia 15 de setembro para se encontrar novamente com os padres capitulares e lembrar que a vocação religiosa é, antes de qualquer outra coisa, “uma aventura de amor com Deus”. “Estamos muito felizes por participar da Feira de Frankfurt, apresentando aos editores de todo o mundo este livro inédito”, disse Lorenzo Fazzini, responsável editorial da LEV, a Livraria Editora Vaticana. Aquela alemã é a mais prestigiada feira do livro da Europa e uma das maiores do mundo, realizada anualmente em outubro e que atrai editores, agentes literários, escritores e outros profissionais do setor. A edição deste ano começou nesta quarta-feira (15/10) e segue até domingo (19/10).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

TEOLOGIA: Introdução à História da Teologia Ortodoxa (Parte 1/3)

Igreja Ortodoxa (FASBAM)

TEOLOGIA

Introdução à História da Teologia Ortodoxa

Capítulo 10 da Obra «Os Grandes Teólogos do Século Vinte» - Vol. 2 - Os Teólogos protestantes e ortodoxos.

Battista MONDIN

Teólogo católico

Os estudiosos não estão de acordo sobre a divisão da história da teologia ortodoxa. Segundo Jugie, não existem na teologia oriental escolas teológicas e sistemas que possam oferecer um “fundamentum divisionis”[1]. Segundo outros estudiosos, ao contrário, há razões de tempo, lugar e outros gêneros que justificam sua divisão em dois ou mais períodos. Também somos dessa opinião, parecendo-nos justo dividir toda a história bimilenar da teologia oriental em sete grandes períodos.

I. Período Patrístico (séculos I-VI)

O primeiro período da teologia oriental coincide com o da teologia ocidental: é o período patrístico. Nessa época, as Igrejas do Oriente e do Ocidente ainda estão unidas, dando origem a um patrimônio teológico único, para cuja formação contribuem tanto os Padres latinos (Tertuliano, Cipriano, Agostinho, Hilário, Ambrósio etc.) como os gregos (Orígenes, Clemente, Basílio, Gregório Nazianzeno e de Nissa, João Crisóstomo etc.).

Durante essa primeira fase da história da ciência sagrada, as principais características da reflexão teológica são as mesmas tanto no Oriente como no Ocidente. Ela tem caráter bíblico (inspira-se diretamente nos textos sacros), apofático (coloca preferencialmente a ênfase na incognoscibilidade e na inefabilidade de Deus e dos seus mistérios), assistemático (estuda os problemas que são impostos pelas circunstâncias, não se preocupando em abordá-los ordenadamente em seu conjunto) e platônico (adota como instrumento conceptual a filo de Platão, aplicando à divisão entre mundo natural e mundo sobrenatural a ruptura que Platão coloca entre mundo sensível e mundo inteligível).

Essas características permanecem constantes em toda a história da teologia oriental e com o tempo tendem a se acentuar em favor do misticismo e do intuicionismo. Já na teologia latina, depois da época patrística, essas características se eclipsam pouco a pouco, cedendo lugar a características contrárias: menor contato com a fonte bíblica, preocupação catafática e sistemática, aristotelismo como instrumento conceptual. Daí ter ocorrido um progressivo afastamento entre as teologias oriental e ocidental durante a Idade Média e a Época Moderna, um afastamento destinado a se aprofundar em virtude do cisma, até estender-se não só à forma, mas também ao conteúdo da reflexão teológica.

“Os primeiros cinco séculos constituem a idade de ouro dos grandes Mestres, Padres e Doutores da Igreja, que transmitem às futuras gerações a herança da Paradosis, já formada em suas grandes linhas”[2]. Os nomes inesquecíveis daqueles que mais contribuíram para a formação da teologia oriental são: Justino, Clemente, Orígenes, Atanásio, Cirilo, Basílio, Gregório Nazianzeno, Gregório de Nissa, João Crisóstomo, Nestório, o Pseudo-Dionísio. 

II. A Era de Justiniano (séculos VI-VIII)

Na era de Justiniano (527-565), os teólogos empenham-se na luta contra dois excessos: o monofisismo e o nestorianismo.

A figura mais ilustre desse período é João Damasceno (+ 749), que supera a controvérsia através da explicitação dos conceitos de natureza e hipóstase. Sua principal obra é o De Fide Orthodoxa, uma grandiosa síntese da Tradição. Ela “encerra a era patrística e abre a época das cadeias enciclopédicas, em que a criação é substituída pelas citações e pelas justificações baseadas no consensus patrum”[3].

Outro teólogo de primeira grandeza foi Máximo, o Confessor (+ 638), que em suas viagens e seus contatos em Jerusalém e Roma, sobretudo com o papa Martinho I, combateu tanto o monofisismo como o monotelismo. O seu Florilegium revela visivelmente a influência do Pseudo-Dionísio e da filo neoplatônica, na qual são Máximo vê “o meio técnico mais apropriado para exprimir a ortodoxia”[4].

Durante a época justiniana foi que nasceu a famosa controvérsia do Filioqüe. Falando da processão do Espírito Santo, o III Concílio de Nicéia (787) utilizara a fórmula “ex patre per filium”. Essa fórmula não foi recebida favoravelmente pelos teólogos ocidentais (por exemplo: Alcuíno) que nela viam ambiguidade e o perigo de que o Espírito Santo fosse considerado uma criatura. Daí a áspera e longa disputa, que, como é sabido, foi uma das principais causas da separação entre as Igrejas de Constantinopla e de Roma.

III. Período de Fócio e Cerulário (séculos IX-XIII)

Fócio é geralmente recordado por sua participação no cisma do Oriente. Mas, frequentemente são ignorados os seus méritos no campo teológico, muito embora tenha sido o maior cultor da ciência sagrada em seu tempo.

O elemento que mais distingue a sua especulação teológica é o lugar absolutamente novo que nela ocupa a filo aristotélica. Ele utiliza a lógica do Estagirita com grande habilidade para defender a validade do “per Filium”. Geralmente, interpreta a Sagrada Escritura em sentido histórico e literal. Tem grande estima pelos Padres da Igreja (menos os latinos e João Damasceno), vendo neles os autênticos intérpretes do Evangelho. Antes da separação da Igreja latina (867), “não ensinou nada em contrário à fé da Igreja de Roma, mesmo ressaltando algumas diferenças nos usos litúrgicos e disciplinares (…)”[5]. A ruptura com Roma foi de breve duração, devendo-se mais a razões disciplinares do que dogmáticas.

No século X, a cena teológica é dominada pela figura de São Simeão, chamado o “Novo Teólogo”. Segundo Vladimir Lossky, ele merece amplamente tal título, porque foi ele quem impôs um novo rumo à teologia bizantina. Com efeito, ela, que antes tinha uma orientação essencialmente “cristológica”, passa a assumir uma orientação predominantemente” pneumatológica”: “Os problemas relativos ao Espírito Santo e à graça são agora o núcleo central em torno do qual gravita o pensamento teológico[6].

Nesse meio tempo, tornavam-se sempre mais tênues as relações de Constantinopla com Roma, em virtude das péssimas condições políticas em que se encontrava o Ocidente naquela época por causa das invasões dos húngaros, normandos e árabes. Por isso, quando Miguel Cerulário anatematiza o papa de Roma, em 1054, mais do que criar uma situação nova, ele está apenas selando o estado de fato de uma separação que já perdurava há alguns séculos. O exemplo de Bizâncio foi depois seguido pouco a pouco por todas as igrejas de rito bizantino.

Como Fócio, Cerulário também foi um dos maiores teólogos de seu tempo, tendo contribuído com seus escritos para escavar um fosso ainda mais profundo com a Igreja latina. Em duas cartas, Epistula ad Petrum Antiochenum e Epistula Leonis Achridensis, bem como nos Panoplia, acusa os latinos de se terem afastado da Tradição apostólica nos seguintes pontos: os ázimos, o jejum do sábado, a abstinência, o rito do batismo, o culto das imagens, o filioqüe e o primado romano.

Outro grande teólogo desse período foi Miguel Psellos (+ 1078), poeta, historiador e filósofo, além de teólogo. Como Fócio, utiliza tanto a filo platônica como a aristotélica. Entre as suas doutrinas, as mais dignas de nota são: a processão “ex patre tantum”, uma certa substância material nos anjos, a santidade da Mãe de Deus no momento de sua concepção, a sua função medianeira.

Psellos teve inúmeros discípulos de valor, entre os quais João Ítalo (+ 1084) e Teofilato, prelado da Bulgária (+ 1108).

No século XIII, a teologia bizantina se polarizou em torno do Concílio de Lião (1274), que se propunha a restabelecer a união entre Constantinopla e Roma. Mas os esforços daqueles que procuravam dissipar as razões do conflito não tiveram êxito. Os resultados positivos do Concílio não foram bem acolhidos pelos monges e pelo povo e o cisma continuou.

Notas:

[1] M. JUGIE, Theologia Dogmatica Christianorum Orientalium ab Ecclesia Cathotica Dissidentium, Paris, 1926-1935, v. 11, p. 18, nota.

[2] P. EVDOKIMOV, L’Ortodossia, Bolonha, 1965, p. 17.

[3] Ibid., p. 31

[4] Ibid., p. 19.

[5] V. MALANCZUK, “Byzantine Theology, I (to 1500)” em New Catholic Encyclopedia, v. lI, p. 1019.

[6] V. Lo SSKY, La Teologia Mistica delta Chiesa d’Oriente, Bolonha, 1967, p. 385.

Fonte: https://byblos.ecclesia.org.br/teologia/

Crianças com ansiedade: por que o diagnóstico precoce é tão importante

Shutterstock

Ricardo Sanches - publicado em 02/05/22 - atualizado em 16/10/25

Diante do aumento de casos de ansiedade entre os pequenos, uma instituição americana recomendou que crianças passem por avaliação profissional, mesmo sem sintomas.

Alguns anos atrás, um surto de ansiedade coletiva que atingiu adolescentes de uma escola no Recife, PE, deixou os pais em estado de alerta. Vinte e seis jovens que estavam na escola precisaram ser atendidos às pressas por profissionais do Samu. Os estudantes relataram sintomas como, tremor, crise de choro, taquicardia e falta de ar.

No interior de São Paulo, outro caso preocupante: nove adolescentes mutilaram os próprios corpos com lâmina de apontador. Eles se esconderam no banheiro da escola e se machucaram depois de relatar "solidão e tristeza". O caso também foi considerado como surto de "ansiedade coletiva".

Os números da ansiedade

Um levantamento feito pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo em 2021 mostra que dois de cada três estudantes do 5.º e 9.º ano do ensino fundamental e da 3.ª série do ensino médio das escolas estaduais apresentam sintomas de depressão e ansiedade.

O estudo ainda revelou que outros 18,8% dos entrevistados se sentem totalmente esgotados e sob pressão, enquanto outros 18% disseram perder o sono por conta das preocupações. Além disso 13,6% dos jovens afirmaram que não têm confiança em si mesmos.

Já um levantamento publicado pela revista científica JAMA Pediatrics mostra que, de janeiro de 2016 a março de 2022, o número de crianças diagnosticadas com ansiedade aumentou 29%.

A importância do diagnóstico precoce

O aumento do número de casos de ansiedade entre crianças e adolescentes levou a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos a recomendar que todas as pessoas entre 8 e 18 anos - mesmo sem sintomas - passem por uma avaliação com um profissional para se saber se elas têm ansiedade ou depressão.

Essa força-tarefa tem o apoio do governo americano, mas não tem poder regulatório. Mesmo assim, os médicos costumam seguir as recomendações da instituição.

"Felizmente, descobrimos que a triagem de crianças mais velhas para ansiedade e depressão é eficaz na identificação dessas condições", disse Martha Kubik à Reuters Martha é membro da força-tarefa e professora da Universidade George Mason.

Para a psicóloga clínica brasileira Thaís Ducini, o diagnóstico precoce da ansiedade infantil é fundamental. "O diagnóstico precoce de um transtorno de ansiedade, por exemplo, pode evitar um futuro diagnóstico por depressão. Como as crianças estão em um processo de desenvolvimento bastante acelerado, quanto antes for identificado e o tratamento começar, menores são as chances de elas levarem isso para a vida adulta", explica a especialista.

O papel dos pais

As pesquisas, portanto, só reforçam o que educadores, psicólogos e psiquiatras há muito vêm dizendo: nós, pais, precisamos prestar mais atenção na saúde mental dos nossos filhos.

Entretanto, a ansiedade dos filhos pode passar despercebida pelos pais. Trata-se de uma condição subjetiva, difícil de ser externada explicitamente pelas crianças. Por outro lado, também há uma certa resistência dos pais em relação ao diagnóstico. "Algumas famílias têm um estilo de vida muito corrido e os pais acabam não prestando atenção nos filhos, o que dificulta. Outra coisa é que muitas famílias reconhecem os sintomas, têm medo do diagnóstico e acabam não indo atrás do tratamento", afirma a psicóloga Thaís Ducini.

A profissional ainda dá dicas de como pais e mães devem voltar o olhar para crianças, de modo a perceber algum transtorno. "É preciso observar como a criança brinca, como ela interage com os colegas, como são as preferências, como estão as rotinas de sono, alimentação. Também é preciso observar se ela tem queixas de dores na barriga, suor excessivo, medo exagerado de alguma coisa, palpitação sem causa clínica aparente. Esses sintomas podem ser indícios de algum grau de ansiedade", explica a psicóloga.

Como sempre, a atenção dos pais e a procura de ajuda especializada farão a diferença na vida dos filhos!

Fonte: https://pt.aleteia.org/2022/05/02/criancas-com-ansiedade-por-que-o-diagnostico-precoce-e-tao-importante/

A 'explosão' de casos de câncer entre jovens

Aditivos alimentares e ultraprocessados — Foto: Freepik

Vacina, agrotóxico ou erro em dados? Veja respostas para dúvidas dos leitores sobre a 'explosão' de casos de câncer entre jovens

Após reportagem mostrar aumento de 284% nos diagnósticos entre pessoas de até 50 anos, especialistas esclarecem mitos e explicam o que se sabe sobre o fenômeno.

Por Talyta Vespa, g1

15/10/2025 03h01

Diagnósticos de câncer em jovens adultos cresceram quase quatro vezes em cerca de 10 anos, segundo dados do DataSUS apresentados em levantamento realizado pelo g1. Mas o que causa essa "explosão de casos"?

🗨️SUA DÚVIDA 📲Este texto responde às principais perguntas dos leitores nos comentários da reportagem "Casos de câncer em jovens adultos de até 50 anos aumentam 284% no SUS entre 2013 e 2024". Você também pode mandar sugestões pelo VC no g1.

Na reportagem sobre o tema, leitores enviaram perguntas sobre as possíveis causas, questionando desde um suposto papel de vacinas, dos agrotóxicos e dos adoçantes até os efeitos do estresse, da alimentação e do uso de tecnologias.

g1 reuniu as respostas com base em evidências científicas e dados oficiais. Veja abaixo:

💉 1. As vacinas podem causar câncer?

Não. Nenhuma vacina — nem contra a Covid-19, nem outras do calendário nacional — tem relação causal com câncer.

“Vacina não causa câncer”, enfatiza Stephen Stefani, oncologista do grupo Oncoclínicas e da Americas Health Foundation. “As pessoas podem ficar tranquilas — não há nenhum dado que relacione imunizantes à doença. Pelo contrário: a tecnologia desenvolvida para as vacinas da Covid-19 ajudou a impulsionar novas plataformas de terapias oncológicas.”

As vacinas contra o HPV, por exemplo, previnem um tipo de câncer, o de colo do útero.

Além disso, o aumento recente de tumores em adultos jovens começou anos antes da pandemia, e estudos internacionais, como o publicado na revista Nature Medicine (2022)não encontraram qualquer vínculo entre vacinas e aumento de risco oncológico.

☠️ 2. O uso de agrotóxicos está relacionado ao aumento de casos?

Há evidências de risco aumentado em exposições prolongadas, mas isso não explica sozinho o crescimento dos casos.

Sim, há dados que mostram que o consumo de alimentos com quantidade acima da recomendada de agrotóxicos aumenta o risco. Não é um aumento explosivo, mas ele está relacionado, estatisticamente, ao aumento de tumores”, explica Stephen Stefani.

O Instituto Nacional do Câncer (INCA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também reconhecem que a exposição a pesticidas pode elevar o risco de alguns tumores, sobretudo em trabalhadores rurais e populações vulneráveis.

No entanto, especialistas alertam que dieta, obesidade e sedentarismo têm peso muito maior na origem do câncer do que a contaminação química isolada.

Vale a pena substituir o açúcar pelo adoçante? Veja 5 benefícios dessa troca — Foto: Shutterstock

🧁 3. O aspartame causa câncer?

Em julho de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou os resultados da avaliação de perigo e risco do aspartame. O adoçante foi classificado como “possivelmente cancerígeno”, mas a própria OMS e a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) afirmaram que o limite atual de ingestão é considerado seguro.

“O aspartame é classificado como possível risco, mas não está bem estabelecido que vá aumentar o risco de câncer”, explica Stefani.

“É preciso calibrar esse debate para não gerar alarme e levar as pessoas a trocar o adoçante pelo açúcar — e o açúcar, sim, contribui para o ganho de peso, que é um fator de risco bem documentado.”

🌐 4. O 5G, o Wi-Fi ou o micro-ondas causam câncer?

Não.

“Não, 5G e Wi-Fi não têm como causar câncer. O conteúdo biológico é absolutamente inverossímil — essas ondas não têm energia suficiente para danificar o DNA, que é o que precisaria acontecer para gerar uma doença oncológica”, afirma Stefani.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há qualquer evidência de aumento de risco de câncer associado à exposição a redes sem fio, celulares, antenas ou aparelhos domésticos.

😣 5. O estresse pode causar câncer?

Não diretamente. O estresse não causa mutações genéticas nem danos celulares suficientes para iniciar um tumor.

“O estresse não é o causador, mas pode diminuir a imunidade em algumas situações e isso está relacionado ao crescimento de doenças existentes”, explica Stefani. "Eu gosto de colocar de forma prática: o estresse não é a semente; ele é o ambiente — a terra, a luz e a água para essa semente crescer.”

Ou seja, o estresse não cria o câncer, mas pode favorecer a progressão de uma doença já instalada, dificultar o tratamento e interferir no sistema imunológico.

🍔 6. A alimentação tem influência?

Sim, e muita. A alimentação é hoje um dos principais fatores modificáveis de risco.

Estudos do INCA e da IARC mostram que dietas ricas em ultraprocessados, bebidas açucaradas e carnes processadas estão relacionadas à maior incidência de tumores colorretais, de mama e de fígado.

“É uma doença de estilo de vida. Só 5% dos casos são hereditários; 90% têm relação com alimentação, sedentarismo e obesidade”, explica Samuel Aguiar, líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais do A.C.Camargo Cancer Center e diretor do programa de residência médica da instituição.

Segundo a médica nuclear Sumara Abdo, do INCA, a obesidade é um fator central, porque “a gordura abdominal é um tecido biologicamente ativo que produz substâncias inflamatórias capazes de estimular o crescimento celular e favorecer mutações”.

“O corpo é forçado a se regenerar o tempo todo num ambiente hostil. É um processo inflamatório silencioso, difícil de reverter”, conclui Stefani.

🧪 7. Os dados do SUS estão errados ou inflados?

Não. O Painel Oncologia BR – DataSUS usa a mesma metodologia de notificação desde 2013, com dados informados por hospitais e serviços de oncologia da rede pública de todo o país.

O crescimento de 284% reflete um aumento real na incidência.

“Toda política de saúde depende de dados, e hoje eles são frágeis”, disse Stefani. “Na saúde suplementar, a notificação não é compulsória. Então o país subestima a real dimensão do problema.”

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou que não é possível medir a incidência de câncer na rede privada porque, desde 2010, uma decisão judicial impede o uso da Classificação Internacional de Doenças (CID) nas bases das operadoras.

O Ministério da Saúde também afirmou não possuir dados completos que integrem todo o sistema de saúde.

🩺 8. O que realmente causa câncer?

Segundo especialistas ouvidos pelo g1, o risco está mais ligado a comportamentos e exposições acumuladas ao longo da vida, como:

  • consumo excessivo de álcool;
  • tabagismo;
  • alimentação ultraprocessada e obesidade;
  • radiação solar sem proteção;
  • poluição e exposição química crônica.

“Temos coisas que realmente agridem o DNA e o danificam ao longo da vida: álcool, cigarro, sol em excesso e poluição”, resume Stephen Stefani. “A bebida alcoólica, por exemplo, não tem dose segura — assim como o sol. Já o cigarro, com 7 mil substâncias e 300 delas cancerígenas, é o maior vilão conhecido.”

📊 Fontes: Painel Oncologia BR – DataSUS; entrevistas com Stephen Stefani (Oncoclínicas e Americas Health Foundation), Sumara Abdo Lacerda Matedi (INCA), Samuel Aguiar (A.C.Camargo Cancer Center); OMS; INCA; Anvisa; Nature Medicine (2022); IARC (2023).

Fonte: https://g1.globo.com/saude/noticia/2025/10/15/vacina-agrotoxico-ou-erro-em-dados-veja-respostas-sobre-casos-de-cancer-entre-jovens.ghtml

Papa Leão XIV na FAO: vencer a fome é semear a paz

Dia Mundial da Alimentação, 16/10/2025 - Papa Leão XIV (Vatican Media)

Durante a celebração dos 80 anos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Papa exortou líderes e nações a renovar o compromisso com a Agenda Fome Zero e com a segurança alimentar global. O Pontífice destacou que a luta contra a fome “é uma batalha de todos” e advertiu: “os slogans não tiram ninguém da miséria”.

https://youtu.be/KuNWI7q5uUs

Thulio Fonseca - Vatican News

O Papa Leão XIV deixou o Vaticano na manhã desta quinta-feira, 16 de outubro, e dirigiu-se à sede central da FAO, em Roma, para participar da cerimônia do Dia Mundial da Alimentação, que neste ano coincide com o 80º aniversário da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A data é celebrada com o tema “De mãos dadas por uma alimentação e um futuro melhores”.

O coração do Papa e o chamado à fraternidade universal

Em seu discurso, o Papa expressou profundo agradecimento pelo convite e recordou que seus predecessores sempre mantiveram uma relação de estima e proximidade com a FAO, e declarou que visita esta instituição como arauto e servo do Evangelho, levando uma mensagem de esperança a todos os povos:

“O coração do Papa, que não pertence a si mesmo, mas à Igreja e, em certo sentido, a toda a humanidade, mantém viva a confiança de que, se vencermos a fome, a paz será o solo fértil do qual nascerá o bem comum de todas as nações.”

Leão XIV afirmou que, oitenta anos após a fundação da FAO, a consciência da humanidade deve novamente se deixar interpelar pelo drama da fome e da desnutrição, lembrando que esse problema não é responsabilidade exclusiva de governos, empresários ou líderes políticos. “Quem padece de fome não é um estranho. É meu irmão, e devo ajudá-lo sem demora”, declarou. Segundo o Papa, “vencer a fome é uma condição essencial para a paz e o desenvolvimento integral das nações”.

Na mensagem enviada à 44ª Conferência da FAO, Leão XIV denuncia o uso da fome como arma de guerra, critica a polarização global e exorta a comunidade internacional a agir com ...

Fome: um escândalo que clama ao céu

Com voz firme e diante de uma grande assembleia composta de líderes políticos e agentes sociais, o Pontífice denunciou o escândalo de milhões de pessoas que ainda sofrem de fome em meio ao progresso tecnológico e científico. “Permitir que milhões de seres humanos vivam e morram vítimas da fome é um fracasso coletivo, uma aberração ética, uma culpa histórica.” Leão recordou que 673 milhões de pessoas no mundo vão dormir sem comer e que outras 2,3 bilhões não têm acesso a uma alimentação adequada: “Por trás de cada número há uma vida despedaçada, uma comunidade vulnerável; há mães que não podem alimentar seus filhos”, ressaltou.

O Papa também denunciou o uso do alimento como arma de guerra, condenando a prática que impede comunidades inteiras de terem acesso ao sustento. “A fome imposta é um crime contra a humanidade. O silêncio dos que morrem de fome grita à consciência de todos, mesmo que muitas vezes seja ignorado ou distorcido.” E com vigor profético, afirmou: 

“A fome não é o destino do homem, mas a sua ruína. É um grito que sobe ao céu e exige resposta rápida de todas as nações, de todos os organismos, de cada pessoa.”

Papa Leão recebe os aplausos da assembleia da FAO   (@Vatican Media)

Leão XIV convidou a humanidade a romper a indiferença e a agir de forma concreta. “Ninguém pode permanecer à margem dessa luta: é uma batalha de todos.” Segundo ele, o desperdício de alimentos é um insulto à dignidade humana. “Como podemos tolerar que toneladas de alimentos sejam jogadas fora, enquanto multidões buscam nos lixos algo para comer?”, questionou o Pontífice. “O mundo não pode continuar assistindo a espetáculos tão macabros”, destacou o Santo Padre, é preciso pôr fim a isso o quanto antes:

“Os responsáveis políticos e sociais podem continuar polarizados, gastando tempo e recursos em discussões inúteis e virulentas, enquanto aqueles a quem deveriam servir continuam esquecidos e usados em nome de interesses partidários? Não podemos nos limitar a proclamar valores. Devemos incorporá-los. Os slogans não tiram ninguém da miséria. É urgente superar um paradigma político tão acirrado, baseando-nos em uma visão ética que prevaleça sobre o pragmatismo vigente, que substitui a pessoa pelo lucro. Não basta invocar a solidariedade: devemos garantir a segurança alimentar, o acesso aos recursos e o desenvolvimento rural sustentável.”

Do slogan à ação: solidariedade que se torna compromisso

Ao comentar o tema do Dia Mundial da Alimentação: “De mãos dadas por uma alimentação e um futuro melhores”, o Papa sublinhou que não basta promover ideais ou slogans: é preciso transformar palavras em gestos concretos. “Somente unindo as nossas mãos poderemos construir um futuro digno, onde a segurança alimentar seja reafirmada como um direito e não um privilégio.”

O Pontífice destacou também o papel essencial da mulher na luta contra a fome. “As mulheres são as primeiras a velar pelo pão que falta, a semear esperança nos sulcos da terra e a amassar o futuro com as mãos calejadas pelo trabalho.” Reconhecer e valorizar esse papel, disse ele, “não é apenas uma questão de justiça, mas uma garantia de um modo de vida mais humano e sustentável.”

Papa durante sua visita   (@Vatican Media)

A omissão nos torna cúmplices

Por fim, o Papa defendeu o fortalecimento do multilateralismo e da cooperação entre as nações, especialmente em favor dos mais pobres. “Os países mais vulneráveis esperam ser ouvidos sem filtros, ter suas carências compreendidas e receber oportunidades reais, não soluções impostas de escritórios distantes.” Leão XIV lembrou que as consequências das injustiças recaem sobre toda a humanidade, e citou os povos que sofrem em regiões marcadas por guerra e pobreza, como Ucrânia, Gaza, Haiti, Afeganistão, Mali, República Centro-Africana, Iêmen e Sudão do Sul. “A comunidade internacional não pode virar o rosto. Devemos assumir a dor deles como nossa.” O Papa exortou a todos a não se acostumarem à fome como um “ruído de fundo” do mundo contemporâneo: “Com nossa omissão, tornamo-nos cúmplices da injustiça.”

Dai-lhes vós mesmos de comer

Encerrando sua visita, Leão XIV invocou a bênção de Deus sobre os funcionários da FAO e sobre todos os que trabalham em favor da segurança alimentar e da justiça social. “A fome tem muitos nomes e pesa sobre toda a família humana. Todo ser humano tem fome não apenas de pão, mas também de fé, de esperança e de amor.” E recordando o Evangelho, concluiu:

“O que Jesus disse aos seus discípulos diante da multidão faminta permanece um desafio atual para o mundo: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’. Não se cansem de pedir a Deus coragem e energia para continuar trabalhando por uma justiça que produza frutos duradouros e benéficos. Ao prosseguirem seus esforços, vocês sempre poderão contar com a solidariedade e o empenho da Santa Sé e das instituições da Igreja Católica, que estão prontas para sair e servir os mais pobres e desfavorecidos em todo o mundo."

Leão XIV na sede da FAO em Roma   (@Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Margarida Maria Alacoque

Santa Margarida Maria Alacoque (A12)
16 de outubro
Santa Margarida Maria Alacoque

Margarida Maria nasceu em 22 de julho de 1647, na Borgonha, França. Desde a infância, demonstrou intenso amor pelo Santíssimo Sacramento e preferia o silêncio e a oração às diversões infantis. Após a primeira comunhão, aos nove anos, ela praticou em segredo severas mortificações corporais, até que a paralisia a confinou à cama por quatro anos.

Aos dezessete anos foi convencida pela mãe de que o voto da infância não era obrigatório e que ela poderia servir a Deus em casa através da penitência e da caridade para com os pobres. Então, ela começou a participar dos prazeres do mundo. Uma noite, ao voltar de um baile, ela teve uma visão de Cristo repreendendo-a pela infidelidade depois de Ele ter lhe dado tantas provas de Seu amor.

Em 25 de maio de 1671, ingressou no Convento da Visitação de Paray, onde foi submetida a diversas provações para comprovar sua vocação. Margarida Maria foi inspirada por Cristo a estabelecer a Hora Santa e receber a sagrada Comunhão na primeira sexta-feira de cada mês.

Na primeira grande revelação, o Senhor designou a sexta-feira seguinte à oitava da festa de Corpus Christi como festa do Sagrado Coração; Ele a chamou de “Discípula Amada do Sagrado Coração”. A devoção ao Sagrado Coração é o refrão de todos os seus escritos.

Na sua última doença recusou todo alívio, repetindo frequentemente: “O que tenho eu no céu e o que desejo na terra, senão só a ti, ó meu Deus”, e morreu pronunciando o Santo Nome de Jesus.

Margarida faleceu com apenas 43 anos de idade, no dia 17 de outubro de 1690, em Paray, França. Foi canonizada, em 1920, pelo papa Bento XV.

Colaboração: Nathália Lima

Reflexão:

Esta santa recebeu a missão de espalhar pelo mundo a devoção ao Sagrado Coração ofendido pela ingratidão dos homens, que destruía a noção da misericórdia de Deus. Foi incompreendida e perseguida, tachada de visionária, histérica e alucinada, mas finalmente a força da fé venceu e a mensagem de Margarida Maria resplendece hoje no mundo.

Oração:

Senhor Jesus Cristo, que revelastes maravilhosamente as insondáveis riquezas de vosso Coração à Virgem Santa Margarida Maria, concedei-nos pelos seus merecimentos e à sua imitação que, amando-vos em tudo e sobre todas as coisas, mereçamos ter perpétua morada no vosso mesmo Coração, Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF