Translate

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

A 'explosão' de casos de câncer entre jovens

Aditivos alimentares e ultraprocessados — Foto: Freepik

Vacina, agrotóxico ou erro em dados? Veja respostas para dúvidas dos leitores sobre a 'explosão' de casos de câncer entre jovens

Após reportagem mostrar aumento de 284% nos diagnósticos entre pessoas de até 50 anos, especialistas esclarecem mitos e explicam o que se sabe sobre o fenômeno.

Por Talyta Vespa, g1

15/10/2025 03h01

Diagnósticos de câncer em jovens adultos cresceram quase quatro vezes em cerca de 10 anos, segundo dados do DataSUS apresentados em levantamento realizado pelo g1. Mas o que causa essa "explosão de casos"?

🗨️SUA DÚVIDA 📲Este texto responde às principais perguntas dos leitores nos comentários da reportagem "Casos de câncer em jovens adultos de até 50 anos aumentam 284% no SUS entre 2013 e 2024". Você também pode mandar sugestões pelo VC no g1.

Na reportagem sobre o tema, leitores enviaram perguntas sobre as possíveis causas, questionando desde um suposto papel de vacinas, dos agrotóxicos e dos adoçantes até os efeitos do estresse, da alimentação e do uso de tecnologias.

g1 reuniu as respostas com base em evidências científicas e dados oficiais. Veja abaixo:

💉 1. As vacinas podem causar câncer?

Não. Nenhuma vacina — nem contra a Covid-19, nem outras do calendário nacional — tem relação causal com câncer.

“Vacina não causa câncer”, enfatiza Stephen Stefani, oncologista do grupo Oncoclínicas e da Americas Health Foundation. “As pessoas podem ficar tranquilas — não há nenhum dado que relacione imunizantes à doença. Pelo contrário: a tecnologia desenvolvida para as vacinas da Covid-19 ajudou a impulsionar novas plataformas de terapias oncológicas.”

As vacinas contra o HPV, por exemplo, previnem um tipo de câncer, o de colo do útero.

Além disso, o aumento recente de tumores em adultos jovens começou anos antes da pandemia, e estudos internacionais, como o publicado na revista Nature Medicine (2022)não encontraram qualquer vínculo entre vacinas e aumento de risco oncológico.

☠️ 2. O uso de agrotóxicos está relacionado ao aumento de casos?

Há evidências de risco aumentado em exposições prolongadas, mas isso não explica sozinho o crescimento dos casos.

Sim, há dados que mostram que o consumo de alimentos com quantidade acima da recomendada de agrotóxicos aumenta o risco. Não é um aumento explosivo, mas ele está relacionado, estatisticamente, ao aumento de tumores”, explica Stephen Stefani.

O Instituto Nacional do Câncer (INCA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também reconhecem que a exposição a pesticidas pode elevar o risco de alguns tumores, sobretudo em trabalhadores rurais e populações vulneráveis.

No entanto, especialistas alertam que dieta, obesidade e sedentarismo têm peso muito maior na origem do câncer do que a contaminação química isolada.

Vale a pena substituir o açúcar pelo adoçante? Veja 5 benefícios dessa troca — Foto: Shutterstock

🧁 3. O aspartame causa câncer?

Em julho de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou os resultados da avaliação de perigo e risco do aspartame. O adoçante foi classificado como “possivelmente cancerígeno”, mas a própria OMS e a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) afirmaram que o limite atual de ingestão é considerado seguro.

“O aspartame é classificado como possível risco, mas não está bem estabelecido que vá aumentar o risco de câncer”, explica Stefani.

“É preciso calibrar esse debate para não gerar alarme e levar as pessoas a trocar o adoçante pelo açúcar — e o açúcar, sim, contribui para o ganho de peso, que é um fator de risco bem documentado.”

🌐 4. O 5G, o Wi-Fi ou o micro-ondas causam câncer?

Não.

“Não, 5G e Wi-Fi não têm como causar câncer. O conteúdo biológico é absolutamente inverossímil — essas ondas não têm energia suficiente para danificar o DNA, que é o que precisaria acontecer para gerar uma doença oncológica”, afirma Stefani.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há qualquer evidência de aumento de risco de câncer associado à exposição a redes sem fio, celulares, antenas ou aparelhos domésticos.

😣 5. O estresse pode causar câncer?

Não diretamente. O estresse não causa mutações genéticas nem danos celulares suficientes para iniciar um tumor.

“O estresse não é o causador, mas pode diminuir a imunidade em algumas situações e isso está relacionado ao crescimento de doenças existentes”, explica Stefani. "Eu gosto de colocar de forma prática: o estresse não é a semente; ele é o ambiente — a terra, a luz e a água para essa semente crescer.”

Ou seja, o estresse não cria o câncer, mas pode favorecer a progressão de uma doença já instalada, dificultar o tratamento e interferir no sistema imunológico.

🍔 6. A alimentação tem influência?

Sim, e muita. A alimentação é hoje um dos principais fatores modificáveis de risco.

Estudos do INCA e da IARC mostram que dietas ricas em ultraprocessados, bebidas açucaradas e carnes processadas estão relacionadas à maior incidência de tumores colorretais, de mama e de fígado.

“É uma doença de estilo de vida. Só 5% dos casos são hereditários; 90% têm relação com alimentação, sedentarismo e obesidade”, explica Samuel Aguiar, líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais do A.C.Camargo Cancer Center e diretor do programa de residência médica da instituição.

Segundo a médica nuclear Sumara Abdo, do INCA, a obesidade é um fator central, porque “a gordura abdominal é um tecido biologicamente ativo que produz substâncias inflamatórias capazes de estimular o crescimento celular e favorecer mutações”.

“O corpo é forçado a se regenerar o tempo todo num ambiente hostil. É um processo inflamatório silencioso, difícil de reverter”, conclui Stefani.

🧪 7. Os dados do SUS estão errados ou inflados?

Não. O Painel Oncologia BR – DataSUS usa a mesma metodologia de notificação desde 2013, com dados informados por hospitais e serviços de oncologia da rede pública de todo o país.

O crescimento de 284% reflete um aumento real na incidência.

“Toda política de saúde depende de dados, e hoje eles são frágeis”, disse Stefani. “Na saúde suplementar, a notificação não é compulsória. Então o país subestima a real dimensão do problema.”

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou que não é possível medir a incidência de câncer na rede privada porque, desde 2010, uma decisão judicial impede o uso da Classificação Internacional de Doenças (CID) nas bases das operadoras.

O Ministério da Saúde também afirmou não possuir dados completos que integrem todo o sistema de saúde.

🩺 8. O que realmente causa câncer?

Segundo especialistas ouvidos pelo g1, o risco está mais ligado a comportamentos e exposições acumuladas ao longo da vida, como:

  • consumo excessivo de álcool;
  • tabagismo;
  • alimentação ultraprocessada e obesidade;
  • radiação solar sem proteção;
  • poluição e exposição química crônica.

“Temos coisas que realmente agridem o DNA e o danificam ao longo da vida: álcool, cigarro, sol em excesso e poluição”, resume Stephen Stefani. “A bebida alcoólica, por exemplo, não tem dose segura — assim como o sol. Já o cigarro, com 7 mil substâncias e 300 delas cancerígenas, é o maior vilão conhecido.”

📊 Fontes: Painel Oncologia BR – DataSUS; entrevistas com Stephen Stefani (Oncoclínicas e Americas Health Foundation), Sumara Abdo Lacerda Matedi (INCA), Samuel Aguiar (A.C.Camargo Cancer Center); OMS; INCA; Anvisa; Nature Medicine (2022); IARC (2023).

Fonte: https://g1.globo.com/saude/noticia/2025/10/15/vacina-agrotoxico-ou-erro-em-dados-veja-respostas-sobre-casos-de-cancer-entre-jovens.ghtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF