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sábado, 25 de outubro de 2025

LIVROS: Maquiavel. A política como remédio

Nicolau Maquiavel em retrato de Santi di Tito preservado no Palazzo Vecchio em Florença | 30Giorni.

LIVROS

Arquivo 30Dias nº 01 - 2004

Maquiavel. A política como remédio

Nas obras do secretário florentino, ligadas aos tempos incertos e violentos da época, fica claro que a função essencial da política é fornecer remédios, reparar falhas e encontrar equilíbrios temporários e sempre precários. Entrevista com Giulio Ferroni.

por Paolo Mattei

As duas palavras-chave do último livro de Giulio Ferroni estão contidas no título: Maquiavel ou Incerteza . A Política como Arte do Remédio (Donzelli Editore, Roma 2003). Ferroni, ao explicar a centralidade desses dois termos, " incerteza " e " remédio ", na obra de Nicolau Maquiavel, parte do sentido de "contradição" inerente ao seu pensamento político, que espelha uma realidade que não pode ser dominada ou planejada por nenhum conhecimento, por nenhuma teoria filosófica ou política. É justamente esse sentido de contradição, segundo Ferroni, professor de Literatura Italiana na Universidade La Sapienza, em Roma, que torna o estilo eruptivo de Maquiavel propenso a "fazer explodir as palavras, a colocá-las em conflito com a realidade, a confrontar o interlocutor de frente, a desmascarar enganos e a denunciar erros, ilusões e mal-entendidos". E é sabido que muitos mal-entendidos estão presentes nas imagens que, ao longo do tempo, foram propagadas do pensamento político de Maquiavel (degradado em aforismos fáceis tão memoráveis ​​quanto vazios, resumidos em antologias críticas partidárias d usum delphini... ). Mas se abordarmos suas obras tendo em mente os conceitos de "contradição" e, de fato, "incerteza" e "remédio", e se respeitarmos o caráter remoto da obra do secretário florentino — sua intempestividade —, é possível, segundo Ferroni, derivar algumas diretrizes que, além de representarem um ponto de referência confiável para abordar o "enigma de Maquiavel", podem até constituir lembretes válidos para a ação política contemporânea.

Professor, na abertura do seu ensaio, o senhor oferece uma espécie de "panorama" das tentativas de modernização e das traições do pensamento político de Maquiavel.
GIULIO FERRONI: O debate político e ideológico sempre foi dominado por uma propensão variável a modernizar e distorcer Maquiavel, a torná-lo uma figura positiva ou negativa, a identificar sua obra como um paradigma de ação política para assegurar o poder. Biografias do secretário florentino continuam a ser produzidas, retratando a Itália renascentista, seu esplendor criativo e a predominância de uma dimensão "estética" antropocêntrica e secularmente imparcial; a imagem, em outras palavras, de um mundo inteiramente devotado à ideia de beleza, no qual o Estado é concebido como uma obra de arte... Nesse contexto, Maquiavel pode ser retratado como um de seus artistas supremos; e falando dele, pode-se discutir livremente sua consciência realista lúcida e seu espírito utópico apaixonado, seu despotismo absolutista severo e seu fervor republicano popular, suas intenções desmistificadoras e sua rendição ao chamado do mito, sua duplicidade sem fundo e a sinceridade da paixão, fazendo todos esses elementos coexistirem ou contrastarem. E, de uma forma ou de outra, reconhece-se nele o emblema da política inescrupulosa, identifica-se, no modelo que lhe é imposto, a garantia de uma ascensão vitoriosa ao poder, a justificação para usar todos os meios possíveis para atingir os objetivos do poder...

Uma espécie de manual para garantir o sucesso político, em suma. O habitual "maquiavelismo"...
FERRONI: Sim, e esquece-se frequentemente que o pensamento de Maquiavel certamente não provém da experiência do sucesso ou da fé em fortunas magníficas e progressivas. Muito pelo contrário. Ele parte, antes de mais nada, da consciência da transitoriedade dos corpos políticos, destinados, como os corpos naturais, à decadência. "Não há nada eterno no mundo", diz ele numa passagem dos Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio , e isto é verdade mesmo para os organismos políticos mais sólidos e seguros, continuamente sujeitos à ruína imediata e a resultados destrutivos à espreita. O seu pensamento não está ligado à euforia da expansão. Suas obras, escritas post res perditas, estão ligadas a situações de incerteza, às dificuldades em que, em sua época, se encontravam a República Florentina e a Itália, "sem cabeça, sem ordem, vencidas, despojadas, dilaceradas, encalhadas", como lemos no capítulo XXVI de O Príncipe .Maquiavel não é, portanto, um estrategista de sucessos políticos vitoriosos, mas, em sua trágica experiência como secretário da República Florentina e na teoria que posteriormente desenvolveu, pensa sobretudo em maneiras de se defender da ruína que paira sobre a sociedade contemporânea. É, portanto, movido, na articulação de seu pensamento, por um amor à sua pátria em perigo, e certamente não por angústia teórica, nem por um propósito abstrato de modelagem, nem pelo desejo de definir uma nova configuração do espírito humano.

Neste ensaio, você também tentou uma espécie de atualização de seu pensamento político...
FERRONI: Certamente. Trata-se, no entanto, de uma atualização baseada precisamente na consideração da natureza ultrapassada de Maquiavel. Isso não é feito de forma alguma proposital; está ligado a uma tendência implícita em alguns estudos contemporâneos mais profundos que tendem a vinculá-lo intimamente ao seu tempo. Maquiavel pode ser lido em chave contemporânea justamente por considerá-lo distante de nós, isto é, não fazendo dele um teórico abstrato do poder, do sucesso, do absolutismo, mas observando que mesmo os aspectos mais escandalosos de seu pensamento derivam de um estado de necessidade, sempre atual.

Capa do livro "Maquiavel, ou a incerteza: a política como arte dos remédios", Donzelli Editore, Roma 2003 | 30Giorni.

Um exemplo contemporâneo do pensamento maquiavélico?
FERRONI: Eu certamente diria que sua concepção de "política como arte do remédio", a expressão com a qual meu livro é subintitulado. É, antes de tudo, o realismo de Maquiavel — por exemplo, sua referência à violência original e sua perpétua continuação ao longo da história humana, entre homem e homem, povo e povo, Estado e Estado — que representa um ponto de referência até mesmo na política atual. A violência, afinal, é um fato que nunca foi negado ao longo da história. Assim, a função essencial da política, segundo Maquiavel, consiste em fornecer remédios, reparar falhas, encontrar equilíbrios provisórios e sempre precários. Em O Príncipe , nos Discursos e mesmo em A Arte da Guerra , uma sucessão contínua de problemas e remédios se desenrola. Pode-se dizer que toda a visão de Maquiavel sobre a política se enquadra no quadro de uma "antropologia do remédio".

A ideia de remédio também decorre da incapacidade do homem de prever os "movimentos" da fortuna...
FERRONI: A insondabilidade da "fortuna" é um elemento fundamental do pensamento de Maquiavel. Ele utiliza as figuras de "barragem" e "abrigo". A "virtude" do político é, em última análise, uma forma de receber o impulso das forças de natureza externa, a "fortuna" — cujos desígnios e propósitos são desconhecidos — de controlar sua alteridade irredutível e, se necessário, de "suportá-la". Sem forçar a situação ou se curvar a ela, mas buscando evitar o pior, mantendo sempre a esperança de salvação. Este aspecto da função do político também tem relevância para os dias de hoje.

Qual é a origem do realismo de Maquiavel?
FERRONI: Seu realismo se desenvolve na linguagem e nas exigências da prática cotidiana. É o resultado das questões colocadas por um homem "prático", que estuda os clássicos assiduamente, mas não profissionalmente. Um pensamento completamente assistemático, mas inteiramente "aberto" e contraditório, com raízes populares e burguesas enraizadas na cultura municipal florentina.

Você pode dar alguns exemplos de elementos do seu pensamento com origens populares?
FERRONI: A ideia do perene "descontentamento" dos homens, por exemplo, de sua malícia inerente, de sua ambição incontrolável, de seu desejo insaciável. O tema central da antropologia política de Maquiavel reside na dialética da ambição e do desejo. Em uma famosa passagem dos Discursos Ele escreve: "A natureza criou os homens de tal maneira que eles podem desejar tudo, mas não podem alcançar tudo: de modo que, como o desejo é sempre maior que o poder de adquirir, o resultado é o descontentamento com o que se possui e a pouca satisfação com isso." Desse estado, para Maquiavel, surge o erro no julgamento humano, a insegurança que pesa sobre toda interpretação da realidade. Essa concepção da incerteza, da precariedade dos assuntos humanos, certamente tem uma origem "baixa", popular.

Em suma, Professor, o que podemos aprender com Maquiavel?
FERRONI: Como eu disse antes, podemos primeiro ter em mente o conceito de política como a arte do remédio. Maquiavel nos diz, de certa forma, que a tarefa essencial da civilização e da política é estudar e implementar remédios para os males e desastres que surgem de dentro delas mesmas. Dessa premissa surgem outras considerações, como a consciência de que as ações dos contemporâneos "vieram depois": a importância, isto é, de sentir todo o peso do passado sobre o presente e, portanto, de ter em mente os erros. Isso pode nos ajudar a perceber a relatividade de cada objetivo e meta, sempre provisórios. Há também a referência à violência original, uma violência ainda presente hoje na trágica série de conflitos em curso: o realismo de Maquiavel pode servir de convite aos nossos políticos para que não subestimem essa inescapável "necessidade" antropológica.

Retrato de Cesare Borgia, conhecido como Valentino, e Niccolò Machiavelli em conversa com o Cardeal Pedro Loys Borgia e seu secretário Don Micheletto Corella, Mestre do século XVI, coleção particular | 30Giorni.

Permita-me uma pergunta de brincadeira, Professor: se Maquiavel estivesse vivo hoje, qual seria sua postura política sob uma perspectiva europeia e global?
FERRONI: Estou brincando, e diria que ele provavelmente seria um europeísta convicto. Ele tinha um forte senso da realidade europeia, embora seu objetivo principal fosse a defesa de uma entidade municipal, a de Florença. Além disso, Maquiavel era bem versado na política francesa e na do Imperador Maximiliano. Portanto, embora partindo de Florença, sua perspectiva era indubitavelmente europeia. É claro, ainda brincando, suspeito que ele não sentiria a necessidade de enfatizar a ideia das raízes cristãs do Velho Continente. E de uma perspectiva mais ampla, em vez de exportar a democracia para o mundo, ele provavelmente sentiria a necessidade de mantê-la e fortalecê-la onde ela já existe.

Fonte: https://www.30giorni.it/

O que esperar da Cúpula dos Povos em Belém? (Parte 2/2)

Belém recebe a Cúpula dos Povos (Revista Amazônia

O que esperar da Cúpula dos Povos em Belém?

Falta apoio e hospedagem ao evento que ocorrerá em paralelo à COP30, onde movimentos populares serão protagonistas. Lideranças contam como se organizarão, suas bandeiras, os entraves para receber cerca de 15 mil indígenas e ativistas e seu projeto de cozinha solidária.

A reportagem é de Brenda Taketa, publicada por O Joio e o Trigo, 21-10-2025.

Multilateralismo e internacionalização das lutas

Realizada pela primeira vez em paralelo à Rio-92 e, 20 anos depois, à Rio+20, cada edição da Cúpula dos Povos parte de um longo processo de debate e organização multilateral de povos e comunidades indígenas e tradicionais, assim como sindicatos, associações e coletivos de trabalhadores da América do Sul e de outras partes do mundo.

Os movimentos veem o processo de construção da Cúpula como um espaço para unificar e internacionalizar as lutas de base, pressionar governos a fazerem mudanças estruturais necessárias e para criar “constrangimentos necessários” aos causadores da crise climática.

Pablo Neri, da direção nacional do MST afirma que um dos fatores que impulsionam os movimentos a colocar mais força na Cúpula e na presença em Belém durante a COP30 “é que, nesse momento, com o fracasso do multilateralismo da ONU, o internacionalismo enquanto entendimento universal dessa relação dos povos, pode ser uma convocação global para construção de algo diferente”.

No plano nacional, as ameaças aos territórios combinam velhas e novas práticas e modelos de “desenvolvimento” e vão dos projetos de construção de rodovias, hidrovias e ferrovias, da ampliação das fronteiras agropecuárias e da exploração de combustíveis fósseis ao aumento da extração de minerais de transição e em parques de energias renováveis, como eólicas e hidrelétricas.

“Hoje, na Cúpula dos Povos, se concentram e se mobilizam os principais movimentos de base popular do Brasil, que ao mesmo tempo fazem a luta contrária à devastação e às agendas da extrema direita que têm sido impostas no país”, afirma Cleidiane Vieira, coordenadora do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB).

A entrevista foi concedida à beira do Rio Guamá, no final da tarde do dia 30 de maio, quando a Cúpula realizou um ato político na UFPA, com representações de diferentes movimentos e setores do Brasil e de fora. Na ocasião, diversas lideranças destacaram a articulação internacional como fator estratégico para as lutas estabelecidas em cada país. “A crise climática é algo que unifica todo mundo. Não é só uma questão do Brasil, mas nós vivemos, nos últimos anos, na pele, o aumento dos eventos extremos. Não é uma brincadeira, não é só falação, é uma realidade. Olha o que aconteceu no Rio Grande do Sul, olha o que está acontecendo na Amazônia todo ano. Secas e cheias”.

Defesa da terra, do território e da natureza

O coordenador do setor político da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Paulino Montejo, enfatizou que a aliança entre os diferentes povos passa, historicamente, pela defesa da terra, do território e da natureza.

Segundo ele, esse alinhamento só é possível porque vai além da compreensão da terra física como bem passível de compra e venda. Para esses povos e comunidades, montanhas, rios e florestas são entes vivos e autônomos, e possuem tanto uma dimensão sagrada quanto formas de uso e presença compartilhadas por espécies humanas e não-humanas.

“É um fracasso civilizatório essa compreensão de que o lucro, a acumulação imediata, consequentemente o consumo exacerbado, a exploração da natureza à exaustão, sem limite, não terá um custo cobrado pela própria natureza”, critica.

demarcação e a proteção dos territórios indígenas são, para o representante da Apib, medidas essenciais para a solução das crises climática, ambiental e social, além de uma forma de restituir direitos negados ao longo de 500 anos de genocídios, esbulhos, remoções forçadas, assassinatos e ecocídios impostos aos povos originários.

Montejo lembra que a participação indígena na construção do Brasil não foi secundária nem passiva. “Não é de agora que os povos indígenas dão sua contribuição à formação social do Estado brasileiro. Foi ao longo da história, inclusive com suas próprias vidas, e até protegendo as fronteiras tanto no Norte quanto no Sul do país”.

Diante da urgência em ampliar alianças, a Apib tem investido na campanha “A resposta somos nós”, que convoca a sociedade brasileira e internacional a se sentir corresponsável na tarefa de proteger as florestas, os direitos fundamentais e a vida, não apenas dos povos indígenas, mas de toda a população do planeta.

Nesse espírito, em junho deste ano, o movimento indígena realizou em Brasília a Pré-COP Indígena, coordenada pela Coalizão das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). O evento reuniu povos originários da Bacia Amazônica para formular a chamada NDC (sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada) Indígena. O documento reúne compromissos e soluções dos povos indígenas para combater as mudanças climáticas.

Entre outras exigências, as organizações indígenas querem que os governos nacionais considerem a demarcação e a proteção de territórios indígenas como política climática fundamental, implementem planos de adaptação baseados em saberes tradicionais, garantam acesso direto e proporcional ao financiamento climático para organizações e territórios indígenas e ponham fim às explorações minerais e de combustíveis fósseis em seus territórios.

Falsas soluções climáticas

Na mira de outros movimentos também se encontram as chamadas “falsas soluções climáticas”, representadas por programas, projetos e instrumentos que partem de lógicas de mercado por vias como a da financeirização da natureza e de iniciativas “sustentáveis” como o mercado de carbono – impostas aos territórios por governos e grandes corporações.

O entendimento geral é que, sem diálogo e reconhecimento de direitos dos povos e comunidades, as desigualdades de acesso a bens essenciais, como terra e água, e os conflitos históricos nos territórios tendem a se agravar.

Os movimentos, porém, não trazem apenas críticas. As falas assertivas contra o modelo de desenvolvimento vigente são acompanhadas de respostas concretas a problemas tratados como insolúveis por grande parte dos setores da sociedade brasileira.

Ayala Ferreira, liderança nacional do MST, relata as experiências do movimento na produção de alimentos saudáveis que são hoje referência no mundo, como o arroz agroecológico. A expectativa do MST é que, em breve, a transição para a agroecologia alcance o café e o cacau.

Além disso, o movimento tem investido em parcerias internacionais para adquirir e produzir máquinas que buscam ampliar a escala da produção do arroz, com produtividade do trabalho e do menor sofrimento de agricultores familiares e camponeses em atividades fisicamente extenuantes. Um exemplo disso será a adaptação de colheitadeiras de arroz para a realidade de Açailândia, região de baixada alagada no Maranhão, graças à parceria com parques tecnológicos da China. A ideia é que elas realizem em dois ou três dias o trabalho humano que, atualmente, demanda mais de um mês para colher cerca de um hectare de arroz.

Com potencial de solução para velhos problemas urbanos e rurais brasileiros, outra iniciativa do MST é a pesquisa para acelerar o tempo e aumentar a escala de produção de adubo orgânico, com base em novas tecnologias de tratamento do lixo.

Desenvolvida em colaboração com a Universidade de Brasília (UnB), a inovação usa elementos próprios dos ecossistemas brasileiros para permitir que grandes quantidades de resíduos, como os produzidos por uma cidade como Belém, sejam transformados em adubo orgânico em cerca de sete dias. Em outras circunstâncias, quantidades inferiores de resíduo levariam em média seis meses para virarem adubo.

Agenda internacional promove mercado de carbono

Em silêncio em relação ao apoio formal à realização da Cúpula, o governador paraense Helder Barbalho propagandeou durante a Semana do Clima em Nova York, na semana anterior à visita de Lula e sua comitiva a Belém, que o Pará pretende comercializar R$ 40 bilhões em créditos de carbono até 2028, segundo reportagem veiculada pela CNN.

A promessa é que o mercado de carbono traga muito dinheiro gerado pela redução do desmatamento. Os recursos, segundo o governo, serão divididos entre comunidades locais e em políticas de redução de emissões.

As altas expectativas em faturar com créditos de carbono esbarram, porém, na realidade dos territórios paraenses. Diversos projetos de Redução de Emissões de Gases do Efeito Estufa por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+) têm sido alvo de críticas e denúncias. No ano passado, O Joio e o Trigo, em parceria com o Sumaúma, publicou reportagem sobre conflitos gerados em torno de projetos de carbono assinados com pelo menos cinco comunidades da Ilha do Marajó.

Em abril deste ano, os Ministérios Públicos Federal (MPF) e do Estado do Pará (MPPA) recomendaram a anulação de um contrato de venda de créditos de carbono no valor de quase R$ 1 bilhão. O acordo envolve o governo, a Companhia de Ativos Ambientais do Pará (Caap) e a Leaf (sigla em inglês para Reduzir Emissões Acelerando o Financiamento Florestal), coalizão estrangeira de governos internacionais (como o dos Estados Unidos, Reino UnidoNoruega e República da Coreia) e de grandes corporações, que incluem AmazonBayerBCGCapgemini, H&M Group e Fundação Walmart.

Na época, os MPs argumentavam que o projeto de REDD+ no Pará ainda estava em fase de construção e os créditos ainda não existiam como patrimônio do estado no momento da negociação – o que violaria a Lei Federal nº 15.042/2024, que proíbe expressamente a venda antecipada de créditos referentes a períodos futuros.

Além da ilegalidade principal, a recomendação apontava uma série de problemas, como a falta de transparência, a ausência de consulta prévia, livre e informada às comunidades tradicionais e indígenas, e os riscos de especulação financeira.

Em maio deste ano, após requerimento feito pela Caap, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) suspendeu os efeitos da recomendação. A decisão permitiu que o processo de captação de recursos seguisse em curso, mas o caso ainda será analisado em definitivo pelo órgão.

Com direito a foto com o ex-governador da Califórnia e estrela de HollywoodArnold Schwarzenegger, a semana em Nova York foi, segundo declarações do governador à imprensa, uma oportunidade para fortalecer alianças, apresentar o Sistema Jurisdicional de REDD+ do estado e afirmar o protagonismo do Pará no mercado de carbono e na bioeconomia, tendo como horizonte a COP30.

Para os povos, a conferência será vivida de outros modos e terminará com um grande banquete para celebrar a partilha de alimentos produzidos nos territórios com a população de Belém, de outros estados e os estrangeiros que circularão pela cidade em novembro.

Ao servir comida e exemplo nas ruas, o objetivo da Cúpula dos Povos, além de ecoar as vozes que não chegam aos grandes salões e gabinetes blindados por vidros e outros materiais de luxo, é o de afirmar concretamente alternativas para que o planeta não apenas sobreviva, mas seja recriado pela via da solidariedade e da imaginação de outros mundos.

Segundo os participantes desse movimento, só assim os limites e ameaças impostos pela emergência climática e pelas graves desigualdades que a envolvem poderão ser ultrapassados pelas práticas de esperança realizadas por quem, de fato, mantém a floresta em pé: os povos e comunidades indígenasquilombolas e tradicionais.

Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/658880-o-que-esperar-da-cupula-dos-povos-em-belem

“Não temas, pequeno rebanho”. Evangelizar em uma época de mudanças (1) (Parte 2/3)

Combate, proximidade e missão (Opus Dei)

“Não temas, pequeno rebanho”. Evangelizar em uma época de mudanças (1)

É hora de mudar o olhar, de passar da nostalgia à audácia, de uma fé em posição defensiva a uma fé que propõe com confiança uma visão do mundo e da vida.

23/10/2025

Entrar em contato

Um “apóstolo moderno”[3] pode se sentir também, como um desses exploradores de baixa estatura, em um mundo de gigantes. Exploradores que desejariam levar ao coração do mundo a arca da aliança que iluminará todas as nações. “Filhos da luz, irmãos da luz: isso somos. Portadores da única chama capaz de iluminar os caminhos terrenos das almas, do único fulgor, no qual nunca poderão dar-se obscuridades, penumbras ou sombras”[4].

Como o povo que acompanhava Josué, gostaríamos de encontrar a confiança para passar do deserto a uma terra compartilhada com pessoas muito diferentes. Porque é essa imersão que nos permitirá converter-nos em luz para os povos. Para consegui-lo, no entanto, é preciso primeiro dar esse grande passo que o povo no deserto deixou pendente. É necessário decidir-se a entrar em contato. Nós, um povo eleito, mas bem consciente de nossa pequenez e insuficiência; e os outros, que são a verdadeira razão pela qual o Senhor nos escolheu. Esses outros, que parecem às vezes gigantes, e que podem dar a impressão de ser tão diferentes, mas que no fundo são como nós. Alguns deles ainda não conhecem o Deus vivo e verdadeiro, ou têm uma imagem equivocada d’Ele. E necessitam de nós, porque apesar de viver em uma terra rica, passam frequentemente por momentos difíceis.

Em todo caso, “não é verdade que toda a gente de hoje – assim, em geral e em bloco – esteja fechada ou permaneça indiferente ao que a fé cristã ensina sobre o destino e o ser do homem; não é verdade que os homens destes tempos se ocupem só das coisas da terra e se desinteressem de olhar para o céu. Ainda que não faltem ideologias – e pessoas que as sustentam – que permanecem fechadas, há em nossa época anseios elevados e atitudes rasteiras, heroísmos e covardias, idealismos e desenganos; criaturas que sonham com um mundo novo mais justo e mais humano, embora outras, decepcionadas talvez com o fracasso dos seus primitivos ideais, se refugiem no egoísmo de procurar apenas a sua própria tranquilidade ou de permanecer imersas no erro”[5].

Como sair ao seu encontro? Como decidir-se, não apenas a entrar em contato, mas a permanecer em um intercâmbio permanente com tantas pessoas que encontramos pelo caminho da vida? Em muitos lugares do mundo é evidente que nós, cristãos nos convertemos em um “pequeno rebanho” (Lc 12, 32), como eram os nossos primeiros irmãos na fé. Como é claro, lemos de vez em quando com alegria notícias alentadoras: por exemplo sobre o crescente número de batismos de adultos em alguns países ou sobre o aumento de vocações sacerdotais em outros continentes. Dá-nos também segurança ver tantos jovens celebrando o jubileu junto com o Papa. Tudo isso nos dá alegria, porém, não impede que, em alguns lugares, continuemos sendo uma minoria, às vezes silenciada por uma cultura que com frequência não assimila a fé cristã. As gerações mudam e a transmissão da fé torna-se mais difícil. Compreende-se o desconcerto de muitos pais e mães que, apesar de seus esforços, não conseguiram transmitir a fé cristã a seus filhos. Com frequência, tentaram fazer o que viram seus pais fazerem. Desta vez, no entanto, a transmissão não funcionou. Algo saiu mal. Entre outros fatores causados por este fenômeno, um deles é a mudança radical do contexto, que agora exige algo diferente.

Bento XVI explicava como “enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdo da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes sectores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas”[6].

Anos atrás o venerável Fulton Sheen já o havia anunciado também com grande lucidez, diante de um público atônito: “estamos no fim da cristandade. Não do cristianismo, não da Igreja, mas da cristandade. Pois bem, o que se entende por cristandade? A cristandade é a vida econômica, política e social inspirada nos princípios cristãos. Isso está chegando a seu fim, nós o vimos morrer”. No entanto, acrescentava, “estes são dias grandes e maravilhosos para estarmos vivos (...). Não se trata de um panorama sombrio, é simplesmente uma visão instantânea da Igreja em meio a uma oposição crescente por parte do mundo. Vivam, portanto, suas vidas com plena consciência desta hora de prova e apoiem-se no coração de Cristo”[7].


[3] São Josemaria, Caminho n. 335.

[4] São Josemaria, Carta 6, n. 3.

[5] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 132. Cfr. também F. Ocáriz, Carta pastoral, 14/02/2017, n. 1.

[6] Bento XVI, Carta apostólica Porta fidei, n.2.

[7] Fulton Sheen, citado em De la cristiandad a la misión apostólica, Universidade de Mary, Rialp, Madrid, 2025, p. 30.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/nao-temas-pequeno-rebanho-evangelizar-em-uma-epoca-de-mudancas-1/

Papa: mesmo que não tenhamos todas as respostas, temos Jesus!

Audiência Jubilar, 25/10/2025 - Papa Leão XIV (Vatican Media)

O grande pensador do século XV Nicolau de Cusa foi o tema da catequese do Papa Leão na audiência jubilar deste sábado. O Cardeal alemão ensinou que esperar é “não saber” e que as oposições podem encontrar em Deus a unidade. A “douta ignorância”, da qual ele falava, representa para a Igreja de hoje acolher os clamores dos que mais sofrem e que, muitas vezes, colocam em crise o seu ensinamento. Só assim ela pode se tornar especialista em humanidade.

https://youtu.be/hReTQlPQOz4

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

O Papa Leão acolheu milhares de fiéis e peregrinos na Praça São Pedro para mais uma audiência jubilar deste Ano Santo. Como a cada encontro quinzenal, em sua catequese o Pontífice apresenta um modelo de esperança. Desta vez, foi Nicolau de Cusa (1401-1464), cardeal alemão e grande pensador do século XV. Humanista convicto, viveu numa época conturbada, em que não se podia ver a unidade da Igreja, abalada por correntes opostas e dividida entre o Oriente e o Ocidente. Enquanto viajava como diplomata do Papa, ele rezava e refletia. Por isso, afirma o Santo Padre, os seus escritos estão "cheios de luz". 

Nicolau escolheu desde jovem frequentar quem tinha esperança, quem aprofundava novas disciplinas, relendo os clássicos e voltando às fontes. Compreendia que há opostos que devem ser mantidos juntos, que Deus é um mistério no qual o que está em tensão encontra unidade. Nicolau sabia que não sabia e, assim, compreendia cada vez melhor a realidade. O Papa Leão assim resume os seus ensinamentos: abrir espaço, manter os opostos juntos, esperar o que ainda não se vê. Para ele, inclusive, esperar é também “não saber”.

Papa saúda os enfermos ao final da audiência   (@VATICAN MEDIA)

Temos Jesus!

Nicolau falava de uma “douta ignorância”, sinal de inteligência. O protagonista de alguns de seus escritos é um personagem curioso: o idiota. É uma pessoa simples, que não estudou e faz perguntas elementares aos eruditos, que colocam em crise suas certezas. 

"O mesmo acontece na Igreja de hoje. Quantas perguntas colocam em crise o nosso ensinamento! Perguntas dos jovens, perguntas dos pobres, perguntas das mulheres, perguntas daqueles que foram silenciados ou condenados por serem diferentes da maioria", comentou o Papa. Para o Pontífice, estamos num tempo abençoado por termos tantas perguntas. Assim, a "Igreja torna-se especialista em humanidade, se caminha com a humanidade e tem no coração o eco das suas perguntas."

Mesmo que não tenhamos as respostas para todas as perguntas, prosseguiu Leão XIV, "temos Jesus. Seguimos Jesus. E então esperamos o que ainda não vemos". "Entremos como exploradores no mundo novo do Ressuscitado", concluiu o Papa.

“Jesus nos precede. Aprendamos, avançando um passo após o outro. É um caminho não só da Igreja, mas de toda a humanidade. Um caminho de esperança.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Serão beatos 11 sacerdotes mártires do nazismo e comunismo. Pe. Angioni será Venerável

Os nove mártires salesianos nos campos de concentração de Auschwitz e Dachau, entre 1941 e 1942

Trata-se de nove salesianos poloneses, mortos nos campos de concentração de Auschwitz e Dachau, e de dois sacerdotes diocesanos mortos por ódio à fé durante o regime comunista da tchecoslovaco. Também promulgados os decretos relativos a quatro novos Veneráveis: uma religiosa cisterciense espanhola, um sacerdote dominicano espanhol, um sacerdote sardo que exerceu seu ministério no Brasil e um frade carmelita da Ligúria.

Tiziana Campisi – Cidade do Vaticano

A Igreja terá onze novos beatos. Durante a audiência concedida na manhã desta sexta-feira, 24 de outubro, ao prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, o Papa Leão XIV autorizou a promulgação dos decretos relativos ao martírio de nove salesianos poloneses, mortos por ódio à fé entre 1941 e 1942, nos campos de concentração de Auschwitz e Dachau, e de dois sacerdotes diocesanos da antiga Tchecoslováquia, assassinados entre 1951 e 1952 em consequência da perseguição à Igreja Católica pelo regime comunista que passou a controlar o país após a Segunda Guerra Mundial. Também foram promulgados os decretos que reconhecem as virtudes heroicas de quatro Servos de Deus, que assim se tornam Veneráveis: Maria Evangelista Quintero Malfaz, religiosa cisterciense; Angelo Angioni, sacerdote diocesano, fundador do Instituto Missionário do Imaculado Coração de Maria; José Merino Andrés, sacerdote dominicano; Joaquim da Rainha da Paz, frade da Ordem dos Carmelitas Descalços.

Mártires nos campos de concentração nazistas

Os salesianos Jan Świerc, Ignacy Antonowicz, Ignacy Dobiasz, Karol Golda, Franciszek Harazim, Ludwik Mroczek, Włodzimierz Szembek, Kazimierz Wojciechowski e Franciszek Miśka, religiosos comprometidos em atividades pastorais e educacionais, foram vítimas da perseguição nazista durante a ocupação alemã da Polônia, iniciada em 1º de setembro de 1939, desencadeada com particular veemência contra a Igreja Católica. Alheios às tensões políticas da época, foram presos simplesmente por serem sacerdotes católicos. O tratamento  a eles reservado reflete a particular implacabilidade reservada ao clero polonês, que foi perseguido e ultrajado. Nos campos de concentração, os religiosos ofereceram conforto espiritual aos companheiros de prisão e, apesar da humilhação e tortura sofridas, continuaram a expressar a própria fé. Insultados em função de seu ministério, foram torturados e mortos, ou mesmo levados à morte pelas condições desumanas de prisão. Conscientes de que seu ministério pastoral era considerado pelos nazistas como uma oposição ao regime, continuaram seu trabalho apostólico, permanecendo fiéis à sua vocação, aceitando serenamente o risco de serem presos, deportados e mortos. 

Mártires sob o regime comunista da tchecoslovaco

Os sacerdotes da Diocese de Brno, Jan Bula e Václav Drbola, foram mortos em Jihlava por ódio à fé. Ambos, devido ao seu zelo pastoral, eram considerados perigosos pelo regime comunista que havia se instaurado então Tchecoslováquia desde 1948 e que havia iniciado uma perseguição aberta à Igreja. Preso em 30 de abril de 1951, vítima de uma conspiração da polícia secreta de Estado, Bula, apesar de estar preso, foi acusado de inspirar o assassinato de vários oficiais comunistas em Babice em 2 de julho de 1951. Julgado e condenado à morte, ele foi enforcado em 20 de maio de 1952, na prisão de Jihlava. Drbola, preso por fraude em 17 de junho de 1951, também acusado do assassinato de Babice enquanto estava detido na mesma prisão, foi condenado à morte e executado em 3 de agosto de 1951. Enganados e presos em uma armadilha armada por falsas testemunhas, os dois sacerdotes foram submetidos a violência e tortura que levaram a uma distorção dos acontecimentos e à assinatura forçada de falsas confissões de culpa. Portanto, vítimas de julgamentos de fachada, eles foram condenados à morte. Conscientes dos perigos que corriam no dramático contexto de aversão à Igreja, e apesar da dureza da prisão e das torturas sofridas, aceitaram o seu destino com fé e confiante abandono à vontade de Deus, como atestam as cartas escritas antes da sua execução e o testemunho do sacerdote chamado a ouvir a confissão de Jan Bula.

Jan Bula e Václav Drbola,, sacerdotes (Vatican News)

Os quatro novos veneráveis

Com os decretos promulgados nesta sexta-feira, são quatro os novos Veneráveis: Maria Evangelista Quintero Malfaz, que viveu entre os séculos XVI e XVII. Nascida em Cigales, Espanha, em 6 de janeiro de 1591, em uma família profundamente cristã. Órfã de ambos os pais, seguiu sua vocação religiosa e ingressou no Mosteiro cisterciense de Santa Ana, em Valladolid. Exemplar no cumprimento das tarefas que lhe foram confiadas, teve experiências místicas, que relatou por escrito, guiada por seus confessores, Gaspar de la Figuera e Francisco de Vivar. Em 1632, após a fundação de um mosteiro cisterciense em Casarrubios del Monte, na província de Toledo, foi enviada à nova comunidade e tornou-se sua abadessa em 27 de novembro de 1634, incentivando uma vida de oração e contemplação. Continua a ter experiências místicas, que deixam marcas visíveis em seu exterior. Em 1648, sua saúde piora. Acometida por uma doença grave, ela faleceu em 27 de novembro do mesmo ano. Sepultada na Sala Capitular do Mosteiro, cinco anos depois, após um exame, seus restos mortais foram encontrados incorruptos, enquanto sua fama de santidade crescia. O diálogo constante com Deus foi o elemento dominante de sua jornada espiritual, levando-a a perceber a necessidade de se oferecer como vítima com Cristo pela conversão de seus irmãos pecadores. Ela praticou ardentemente as virtudes teologais, confiando no Senhor para enfrentar as dificuldades da vida, e suportou pacientemente a adversidade e a fragilidade física. Ela também praticou a caridade para com Deus, comprometendo-se a cumprir Sua vontade em todas as circunstâncias com grande humildade.

Maria Evangelista Quintero Malfaz, monja cisterciense (Vatican News)

Pe. Angelo Angioni

Angelo Angioni, sacerdote diocesano, nasceu em 14 de janeiro de 1915, em Bortigali, Sardenha, em uma família numerosa. Passou a infância em um ambiente caracterizado por uma forte fé religiosa. Finalizados os estudos no seminário, foi ordenado sacerdote em 31 de julho de 1938. Após servir por 10 anos como vigário e depois pároco, em 1948 foi nomeado reitor do Seminário diocesano de Ozieri e trabalhou para estabelecer uma comunidade diocesana de sacerdotes oblatos, consagrados às missões populares e estrangeiras, seguindo o exemplo do Beato Paolo Manna.

Como sacerdote fidei donum é enviado a São José do Rio Preto, onde realiza seu ideal missionário, empenhando-se não apenas na pastoral, mas também nos campos social e educacional, favorecendo a criação de uma escola paroquial e fundando o Instituto Missionário do Imaculado Coração de Maria, formado por sacerdotes, diáconos, religiosas contemplativas e leigos.

Graças à sua iniciativa, foram construídas igrejas, capelas, casas de retiro, residências religiosas, espaços para idosos e para atividades paroquiais. Produziu também muitos opúsculos informativos, impressos na gráfica que havia organizado no Instituto Missionário por ele fundado. Entre suas últimas atividades apostólicas e missionárias, destaca-se a criação de um Instituto de Ciências Religiosas.

Sua intensa atividade pastoral foi interrompida por dois derrames, em 2000 e 2004, que o deixaram gravemente debilitado. Sua vida terrena terminou em 15 de setembro de 2008. Seu apostolado refletia seu amor ao Senhor e seu zelo em transmiti-lo àqueles confiados aos seus cuidados pastorais. Ao longo de sua vida, viveu a pobreza, segundo o exemplo evangélico, possuindo apenas o mínimo necessário.

Pe. Angelo Angioni (Vatican News)

José Merino Andrés

José Merino Andrés desenvolveu sua vocação por meio da vida paroquial e da Ação Católica. Nasceu em Madri, Espanha, em 23 de abril de 1905, e ingressou no convento dominicano de San Esteban, em Salamanca, em 22 de julho de 1933. Seis anos depois, foi ordenado sacerdote e enviado ao convento de La Felguera, nas Astúrias, e posteriormente ao convento de Nuestra Señora de Atocha, em Madri. Dedicou-se intensamente à pregação da Palavra de Deus e à celebração dos sacramentos e, em 1949, foi enviado ao México, onde se dedicou às missões populares. Chamado de volta à sua terra natal para assumir o cargo de mestre de noviços, estabeleceu-se em Palência e ali iniciou a fase mais longa e frutífera de seu ministério sacerdotal, formando mais de 700 jovens entre 1950 e 1966. Apesar de sua saúde cada vez mais precária, dedicou suas energias restantes à pregação popular. Faleceu em 6 de dezembro de 1968. Religioso exemplar, destacou-se nas missões por sua pregação vibrante e espiritualmente poderosa, além do tempo dedicado à oração. Em seu apostolado, sempre demonstrou firme esperança e constante confiança na misericórdia divina, demonstrando sua fervorosa devoção à Virgem Maria. Praticou a caridade para com os outros e sempre viveu a obediência aos seus superiores com humildade e espírito de pobreza.

José Merino Andrés, religioso dominicano (Vatican News)

Gioacchino della Regina della Pace (Joaquim da Rainha da Paz)

Batizado Leone Ramognino, Gioacchino della Regina della Pace, é originário de Sassello, província de Savona, onde nasceu em 12 de fevereiro de 1890. Seu nome de batismo foi dado em homenagem ao então Papa Leão XIII. Cresceu em uma família muito religiosa e se envolve bastante na paróquia. Trabalhou como carpinteiro e, mais tarde, serviu como cabo na Primeira Guerra Mundial, destacando-se na construção de pontes e canais nos rios Isonzo e Piave, o que lhe rendeu a honraria de Cavaleiro de Vittorio Veneto. Ao retornar a Sassello, colaborou com o pároco na fundação do Circolo San Luigi para a educação de crianças, tornou-se membro ativo da Sociedade de Socorros Mútuos de Santo Afonso Maria de Ligório e ajudou a fundar um grupo de exploradores católicos em sua cidade natal. Trabalhou na construção do Santuário em homenagem à Rainha da Paz no Monte Beigua e, em 1927, tornou-se seu guardião. Viveu aqui por cerca de dez anos como eremita, mas sempre disponível para acolher peregrinos, e foi aqui que sua vocação religiosa se desenvolveu. Em 1951, ingressou no convento dos Carmelitas Descalços do Deserto de Varazze e continuou a se dedicar ao Santuário da Rainha da Paz, onde permaneceu como custódio até sua morte em 25 de agosto de 1985, aos 95 anos. Passava muitas horas em oração e meditação diante do Sacrário e cultivava uma profunda devoção a Nossa Senhora, considerando uma bênção ser custódio de um santuário a ela dedicado. Caridoso para com todos, dava exemplo aos jovens noviços com sua intensa vida de oração, seu sorriso acolhedor e sua bondade, e o povo o chamava de "Ninu u santu".

Gioacchino della Regina della Pace, religioso carmelita (Vatican News)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Hoje é dia da beata Benigna Cardoso da Silva, heroína da castidade

Beata Benigna Cardoso. | Crédito: ACI Digital.

Por Redação central*

24 de out de 2025 às 00:01

A Igreja Católica celebra hoje (24) a memória litúrgica da beata Benigna Cardoso da Silva, conhecida como a “heroína da castidade”. Ela foi beatificada em 2022, com o reconhecimento do seu martírio pelo papa Francisco.

“Uma jovem mártir que, seguindo a Palavra de Deus, manteve pura a sua vida, defendendo a sua dignidade. O seu exemplo nos ajude a ser generosos discípulos de Cristo. A vida do mundo depende do nosso testemunho coerente e alegre do Evangelho”, disse Francisco dias depois da beatificação.

Benigna Cardoso da Silva nasceu em 15 de outubro de 1928, em Santana do Cariri (CE). Ficou órfã de pai e mãe muito cedo, e foi adotada junto com seus irmãos mais velhos pela família “Sisnando Leite”.

Religiosa e temente a Deus, desejava fazer a Primeira Eucaristia e seguir os mandamentos de Deus. Participava das missas diariamente e fazia penitência nas primeiras sextas-feiras, em honra ao Sagrado Coração de Jesus, do qual era devota.

Aos 12 anos de idade, Benigna começou a ser assediada por Raul Alves, por quem não tinha interesse. Benigna procurou o padre Cristiano Coelho para pedir conselhos sobre as investidas de Raul. O padre a aconselhou a ir estudar em Santana do Cariri (CE) e lhe deu de presente uma Bíblia, que foi o seu livro de cabeceira daí em diante.

No dia 24 de outubro de 1941, sabendo que Benigna iria ao poço pegar água, Raul ficou a sua espreita e na oportunidade que teve tentou violentar a jovem. Rejeitado, Raul pegou a faca que tinha consigo e a golpeou cortando-lhe os dedos da mão esquerda. Benigna continuou resistindo. Raul a feriu na testa, nas costas e lhe cortou o pescoço, matando-a aos 13 anos.

Na época do assassinato, padre Cristiano Coelho Rodrigues, que foi mentor espiritual da menina, escreveu a seguinte nota ao lado do seu registro de batismo: “Morreu martirizada, às 4 horas da tarde, no dia 24 de outubro de 1941, no sitio Oiti. Heroína da Castidade, que sua santa alma converta a freguesia e sirva de proteção às crianças e às famílias da paróquia. São os votos que faço à nossa santinha”.

Desde então, vem aumentando a devoção à menina. Em 2004, teve início a Romaria da Menina Benigna, que acontece de 15 a 24 de outubro e entrou para o calendário oficial do Estado do Ceará em junho de 2019. Milhares de pessoas se reúnem para celebrar a heroína da castidade, muitos usando roupas vermelhas com bolinhas brancas, como o vestido que a beata usava no dia do seu martírio

Anos depois o martírio, o algoz de Benigna, Raul Castro, se converteu e testemunhou sobre a morte da menina, dizendo que ela lutou com uma força incomum para sua idade, para manter sua pureza.

O martírio de Benigna foi reconhecido pelo papa Francisco em outubro de 2019. Ela foi beatificada em 24 de outubro de 2022 e se tornou a primeira beata do estado do Ceará.

*A Agência Católica de Informação - ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/56528/hoje-e-dia-da-beata-benigna-cardoso-da-silva-heroina-da-castidade

Por que você não deve imitar tudo o que fez um santo

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Philip Kosloski - publicado em 24/10/25

Os santos viveram vidas santas e alcançaram profunda união com Deus nesta terra, mas isso não significa que devamos imitar todos os aspectos de suas vidas.

Quando lemos um bom livro espiritual — especialmente um que descreve a vida e as práticas de um santo — às vezes podemos pensar que tudo deve ser imitado. Isso pode facilmente nos sobrecarregar, levando-nos a acreditar que esse é o único caminho para a santidade.

Podemos chegar a pensar que precisamos vender todos os nossos bensrezar 12 rosários por dia ou ficar sentados dentro de uma igreja por longas horas para sermos santos.

venerável Agostinho Baker, um monge beneditino do século XVII, deu orientações detalhadas sobre o que evitarao dedicar-se a esse tipo de leitura espiritual. Suas sugestões podem nos ajudar a enxergar livros e artigos espirituais sob outra perspectiva, reconhecendo que cada pessoa segue um caminho único rumo a Deus, e que o que funciona para uma pessoa não necessariamente funcionará para nós.


Os santos não foram feitos para serem imitados por completo

Shutterstock | PUWADON SANG

Baker adverte em seu livro Santa Sabedoria (Holy Wisdom, em inglês):

“Que [o leitor] não se apresse em aplicar [os conselhos da leitura espiritual] a si mesmo pela prática, baseando-se em seu próprio julgamento natural ou em suas inclinações, mas que observe seu próprio espírito, seu caminho e a orientação interior de Deus, e os utilize em conformidade; do contrário, em vez de obter benefícios, podem surgir inconvenientes tais que teria sido melhor nunca ter lido.”

Por exemplo, um santo pode ter praticado grandes mortificações que o ajudaram a se aproximar de Deus; mas se nós as imitarmos, podemos causar mais dano do que bem à nossa alma.

Baker reforça esse conselho ao escrever:

“De todos os erros, o maior e mais perigoso é imitar indiscriminadamente os exemplos e práticas dos santos — em particular as mortificações corporais extraordinárias, assumidas voluntariamente (ainda que por indicação especial de Deus), como trabalhos, jejuns, vigílias, disciplinas, etc.”


Todos somos diferentes

Sem dúvida, podemos nos inspirar nas vidas dos santos, mas precisamos “traduzir” suas experiências para a nossa realidade — com a ajuda de Deus e de um diretor espiritual de confiança. Deus pode querer que vivamos de modo semelhante, mas não exatamente igual.

Baker continua:

“O benefício que devemos — e podemos facilmente — obter da leitura das práticas extraordinárias dos outros é admirar os caminhos de Deus na condução de seus santos e aproveitar a ocasião para nos humilhar e desprezar a nós mesmos, ao vermos o quanto estamos distantes deles na prática das virtudes; mas sem imitá-los nessas coisas, a não ser quando estivermos certos de que Deus nos guia com uma luz sobrenatural e nos concede uma graça extraordinária — e ainda assim, somente depois de termos obtido a permissão e a aprovação de um diretor prudente.”

Cada um de nós é único e irrepetível, o que significa que nosso caminho para Deus será diferente do de qualquer outra pessoa.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/10/24/por-que-voce-nao-deve-imitar-tudo-o-que-fez-um-santo/

Quais aparelhos mais gastam energia e fazem a conta de luz subir?

Quais aparelhos mais gastam energia e fazem a conta de luz subir? — Foto: Freepik

Quais aparelhos mais gastam energia e fazem a conta de luz subir?

De chuveiro a geladeira: veja o que mais consome energia e como pequenas mudanças podem reduzir o valor da conta.

Por Laís Ribeiro, g1

24/10/2025 05h04

Mesmo sem grandes mudanças na rotina, muitos brasileiros notam que a conta de energia parece não parar de aumentar.

Parte dessa sensação vem de algo que vai além do consumo: o sistema de bandeiras tarifárias da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Desde setembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que a bandeira tarifária está vermelha, o que significa que a conta de luz está chegando nas residências com cobrança extra.

Em outubro, o país estava sob a bandeira vermelha nível 1 – mais barato que no mês anterior, mas ainda com custo adicional de cerca de R$ 4,46 a cada 100 quilowatt-hora (kWh).

Com as bandeiras em vigor, cada pingo de energia economizado faz diferença e entender quais hábitos e aparelhos mais consomem é o primeiro passo para evitar surpresas no fim do mês.

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), nem todos os equipamentos têm o mesmo peso na conta.

Segundo a EPE, um estudo mostrou que um número relativamente pequeno de equipamentos é responsável pela maior parte do consumo: somente 11 dos 51 aparelhos analisados representam 80% do consumo total.

Saiba quais são e veja dicas para economizar na conta de luz.

Os vilões do consumo: chuveiro, geladeira e ar-condicionado

O chuveiro elétrico lidera a lista da EPE como o principal vilão, consumindo 1.609 kWh por domicílio/ano, seguido da geladeira (368 kWh/ano) e do ar-condicionado (106 kWh/ano).

“Os equipamentos que mais consomem energia nas casas dos brasileiros são, em geral, os que ficam ligados por longos períodos”, corrobora o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec).

No geral, o Idec chama atenção aos equipamentos que têm o efeito de aquecer ou resfriar, como também os ferros de passar roupas, os fornos elétricos e as lava-louças.

Também vale ficar de olho em aparelhos com alto consumo agregado, ou seja, aqueles que gastam pouca energia por unidade, mas que, em abundância, acumulam o consumo. É o caso das lâmpadas, especialmente as que não são de LED.

🚿 Pequenos hábitos que pesam no bolso

Muitos dos erros que fazem a conta de luz aumentar estão ligados ao mau uso dos equipamentos. Segundo o Idec, alguns erros frequentes são:

  • Não substituir lâmpadas incandescentes ou fluorescentes por LEDs.
  • Tomar banhos longos ou em temperaturas altas mesmo no verão
  • Deixar portas e janelas abertas durante o uso do ar-condicionado
  • Usar o ar-condicionado em temperaturas abaixo de 23°C

Para a geladeira, que tem destaque no consumo de energia, o Idec dá dicas mais específicas:

  1. Siga as orientações do manual do fabricante quanto às distâncias recomendadas das paredes ou móveis, evitando também a proximidade com fontes de calor, como fogões e fornos.
  2. Evite a abertura frequente das portas sem necessidade e o armazenamento de alimentos ainda quentes, práticas que sobrecarregam o motor e elevam o consumo de energia.
  3. Ajuste o termostato para garantir a refrigeração adequada dos alimentos, sem manter a temperatura interna mais baixa do que o necessário

Por fim, o alerta vai para um detalhe muitas vezes esquecido: “é fundamental verificar as condições da vedação das portas, substituindo borrachas ressecadas ou danificadas para impedir a fuga de ar frio”, diz o Idec.

⚙️ Troque os aparelhos muito antigos

Aparelhos antigos também podem ser responsáveis por aumentos desnecessários na conta de luz.

“Os principais eletrodomésticos usados pelos brasileiros fazem parte de programas de eficiência energética”, afirma o Idec.

“Os níveis de exigência são revisados periodicamente, o que estimula a adoção de tecnologias mais modernas e econômicas”, conclui o órgão.

Sendo assim, os modelos mais novos são projetados para consumir menos energia.

Fonte: https://g1.globo.com/guia/guia-de-compras/casa/quais-aparelhos-mais-gastam-energia-e-fazem-a-conta-de-luz-subir.ghtml

“Não temas, pequeno rebanho”. Evangelizar em uma época de mudanças (1) (Parte 1/3)

Combate, proximidade e missão (Opus Dei)

“Não temas, pequeno rebanho”. Evangelizar em uma época de mudanças (1)

É hora de mudar o olhar, de passar da nostalgia à audácia, de uma fé em posição defensiva a uma fé que propõe com confiança uma visão do mundo e da vida.

23/10/2025

Um grupo de exploradores, com anos de experiência no deserto, penetra em territórios nunca vistos. Avançam entre colinas e vales exuberantes; encontram cachos de uvas que uma pessoa sozinha não consegue carregar, e figos que fariam empalidecer quaisquer outros no mercado oriental (cfr. Num 13, 17-24). O entusiasmo, quase a euforia, toma conta deles, vendo por fim essa terra tão esperada: a esperança se torna concreta, tangível. Tocam com a mão um mundo que parece oferecer-lhes tudo o que esperaram durante anos. A essa promessa, porém, mistura-se a ansiedade: será preciso conquistar esta terra. E paira no ar um não sei quê de hostilidade.

Exploradores num mundo de gigantes

Ao longe, divisam-se cidades fortificadas. Mais de perto, os exploradores descobrem habitantes altos como carvalhos, autênticos gigantes! Alguns esquecem a força de Deus, e semeiam a cizânia do pessimismo. De repente o povo começa a sentir falta do maná do deserto.... Seu entusiasmo desvanece como o orvalho ao primeiro raio de sol. O ambiente fica tenso, entre os que querem deixar tudo e voltar ao Egito e os que ainda têm um brilho no olhar e o espírito conquistador: alguns loucos, para dizer a verdade. A terra é mesmo formosa, mas o empreendimento parece titânico, em todos os sentidos. Cresce a consciência de não estarem à altura; a segurança que pensavam ter cambaleia (cfr. Num. 13, 27 - 14, 4). O coração fica dividido entre a confiança e a tentação de fugir, entre o desejo de aventurar-se e o medo de serem aniquilados. A alternativa é nítida: ou entrar em contato ou entrincheirar-se no deserto para sempre.

O povo permanecerá preso por esta escolha durante decênios. No fundo, o que os bloqueia é a pouca confiança em Deus. Ressoa ainda em seus ouvidos aquela parte do relato dos exploradores: “vimos até mesmo gigantes, filhos de Enac, da raça dos gigantes; parecíamos gafanhotos comparados com eles” (Num 13, 33). Paralisados pelo medo de novo desafio, quase todos acabarão envelhecendo. Só a uns poucos “loucos” – Caleb, da tribo de Judá, e Josué da tribo de Efraim – será concedido sobreviver com o passar do tempo. Não se trata dos maiores nem dos mais audazes, mas sabem que a vitória não depende de suas forças nem da resistência de suas armas, e sim do Deus vivo que caminha no meio deles.

Quarenta anos mais tarde, depois de um longo período de purificação dessa esperança vacilante, o povo se encontra de novo às portas da terra prometida. Ainda estão com eles Caleb e Josué, o líder que havia confiado em Deus e que guiará esse povo renovado para além do Jordão. São impelidos pelas palavras que o Senhor pronunciou pela boca de Moisés: “Escolhe a vida” (Dt. 30, 19). Deus lhes dizia e está dizendo a cada um de nós: “Olha, eu criei você para viver, para ser feliz... Você vai me escolher, vai escolher a Vida? Foi isso que os ‘pequeninos’ descobriram e escolheram: eles sabem que Deus é a fonte e o destino do desejo infinito de viver que carregam dentro de si. E eles não querem mais nada. Entenderam que triunfar na vida, alcançar a vida, é deixar que o amor de Deus os inunde e depois compartilhar este amor generosamente”[1].

Há, no entanto, um aspecto fundamental que os judeus à volta de Josué ainda não podem compreender. Falta-lhes a chave para interpretar corretamente esta entrada na terra prometida. Imersos em sua própria história de exílio e de libertação, não conseguem captar seu significado mais profundo. Ainda não compreendem seu papel dentro da grande história da salvação. No momento, estão orientados para a conquista, para o enfrentamento: sonham com uma vitória esmagadora, uma vitória que cantarão em todo o livro de Josué. Trata-se de enfrentar-se e de ganhar, de opor a própria força – embora comparativamente seja bem reduzida – e a própria cultura – que, na verdade, é ainda muito escassa – contra a das nações que têm pela frente. Trata-se de realizar uma conquista militar e cultural, empunhando as armas disponíveis.

Na verdade, o povo que entra com Josué na terra prometida só conseguirá, com muita dificuldade, abrir passagem entre aquelas nações. Embora se aferre a suas raízes, aprenderá a tecer relacionamentos com os outros povos. E pouco a pouco começará a compreender que o seu papel entre eles não é de domínio. A chave para interpretar isso é o Senhor que a vai dando por meio dos profetas: “Vou fazer de ti a luz das nações, para propagar minha salvação até os confins do mundo”. (Is 49, 6). Foram chamados a iluminar! E por isso, pouco importava seu número, pouco importava sua distinção ou a bagagem cultural de que dispunham. Não constituiria problema enfrentar terras desconhecidas ou povos de gigantes. A luz que levariam seria a de Deus que desejou habitar entre eles como “Príncipe da paz” (Is 9,5). Iluminariam as nações com a paz que o mundo não pode dar (cfr. Lc 10, 5-6; Jo 14, 27), “a paz de Cristo ressuscitado, uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante”[2].


[1] “Combate, proximidade, missão (1): Escolhe a vida”.

[2] Primeira saudação do Santo Padre Leão XIV, 8/05/2025.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/nao-temas-pequeno-rebanho-evangelizar-em-uma-epoca-de-mudancas-1/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF